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GESTO ESCOLAR:ENFRENTANDO OS DESAFIOS COTIDIANOS EM ESCOLAS PBLICAS

Maria Llia Imbiriba Sousa Colares Juracy Machado Pacfico George Queiroga Estrela(Organizadores)

GESTO ESCOLAR:ENFRENTANDO OS DESAFIOS COTIDIANOS EM ESCOLAS PBLICAS

Editora CRV Curitiba 2009

Copyright da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramao: Thas Mannala Capa: Roseli Pampuch Reviso: Os Autores

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

2009 Todos os direitos desta edio reservados pela: Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418 www.editoracrv.com.br E-mail: [email protected]

APRESENTAOEste livro, como sugere seu ttulo Gesto Escolar: enfrentando os desafios cotidianos em escolas pblicas, rene um conjunto de textos alguns dos quais resultantes de Trabalhos de Concluso de Curso de estudantes da Especializao em Gesto Escolar, modalidade EAD, vinculada ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica MEC/SEB, parceria com a SEDUC/RO e UNDIME/RO. H tambm textos elaborados por professores-pesquisadores vinculados a Fundao Universidade Federal de Rondnia/UNIR. Em todos eles o diferencial se encontra na abordagem que procura articular as reflexes tericas com as situaes concretas, e como este encontro deve ser proveitoso em prol do enfrentamento dos problemas com os quais se deparam os gestores escolares. Em 2007 a Fundao Universidade Federal de Rondnia firmou um convnio com a Fundao Rio Madeira (RIOMAR), com recursos do FNDE, para a execuo do Curso de Especializao em Gesto Escolar. Trata-se de um curso de ps-graduao lato sensu voltado para a formao continuada e psgraduada de dirigentes da educao bsica. Objetivou formar, em nvel de especializao, gestores educacionais das escolas pblicas da Educao Bsica e contribuir com a qualificao do gestor escolar na perspectiva da gesto democrtica e da efetivao do direito educao escolar bsica com qualidade social. O curso foi executado no perodo de junho de 2008 a junho de 2009. O curso previa a elaborao e apresentao de trabalho de concluso de curso (TCC). A carga horria de 400h foi distribuda da seguinte forma: a) Introduo ao Ambiente Moodle e ao Curso (40h); b) Salas Ambientes e TCC (360h), sendo seis salas: I - Fundamentos do Direito Educao (60h); II - Polticas e Gesto na Educao (60h); III - Planejamento e Prticas da Gesto Escolar (60h); IV - Tpicos Especiais (30h); V - Oficinas Tecnolgicas (30h), e; VI - Projeto Vivencial e TCC (120). Todas as disciplinas foram oferecidas ao longo de 12 meses, distribudas de tal forma que permitissem a dedicao e apropriao dos contedos curriculares por parte dos cursistas e o acompanhamento e a realizao de atividades didtico-pedaggicas e de avaliao por parte dos professores. Alm dos estudos por meio das Salas Ambientes, foram realizados encontros presenciais cujo objetivo foi integrar cursistas/docentes bem como orientar as atividades propostas nas vrias disciplinas e no Projeto-Interveno que foi realizado em estreita relao com o Projeto Poltico-Pedaggico das escolas.

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Este livro propicia a pesquisadores, professores e estudantes, o acesso aos projetos de interveno desenvolvidos por gestores escolares no decorrer do curso de especializao e ao debate em torno da gesto escolar. O livro aberto pelo texto Sala Ambiente Projeto Vivencial: aproximando teoria e prtica no enfrentamento de problemas cotidianos de autoria de Juracy Machado Pacfico e Maria Llia Imbiriba Sousa Colares, o qual apresenta uma reflexo sobre os resultados dos estudos efetivados a partir da Sala Ambiente Projeto Vivencial. Aponta os xitos e as dificuldades detectadas durante a fase de desenvolvimento do curso. Os resultados mostram a relevncia do Projeto-Interveno na construo da gesto democrtica da escola. Apresenta evidncias de aproveitamento, mas registra que h aspectos a serem melhorados para o desenvolvimento de novas turmas, principalmente no que se refere proposta norteadora da formao e os recursos tecnolgicos disposio dos gestores escolares. Ednia Maria Azevedo Machado, Doralice de Souza Pereira Santos, Ivanilda Colla Scheffer, Lucila de Arajo Crivelli so autoras do segundo captulo, denominado A Aplicao do Planejamento Sistematizado na Escola Municipal Multisseriada de Ensino Fundamental Flvio da Silva Daltro no Municpio de Pimenta Bueno-Ro, que relata um estudo sobre a Aplicao do Planejamento Escolar sistematizado na Escola Municipal Multisseriada de Ensino Fundamental Flvio da Silva Daltro no Municpio de Pimenta Bueno RO, a partir da implementao do Projeto PolticoPedaggico. Analisa o cenrio anterior e posterior ao projeto de interveno, estabelecendo um paralelo entre ambos. No captulo 3 A importncia da participao da famlia nas aes da escola, Eudeiza Jesus de Arajo, Gerry Salvaterra Lara e Maria das Neves Oliveira de Souza, abordam um dos princpios fundamentais da Gesto Democrtica: a participao. Buscam identificar como a equipe de gestores da E.E.E.F.M Casimiro de Abreu, de Nova Mamor-RO organizou-se para que a comunidade escolar (em especial as famlias), se percebesse no processo de Ensino e Aprendizagem. Analisam ainda as dificuldades decorrentes da concepo deste principio. No quarto captulo com a temtica A construo do projeto polticopedaggico da escola Edna Maria Cordeiro, Claudineia Ribeiro de Sousa e Jovina Benicio Coelho Rocha, apresentam os principais fundamentos para a construo coletiva do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) da Escola Estadual do Ensino Fundamental Waldemar Higino de Souza. Trabalharam

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com a pesquisa-ao, tomando por base reunies com a comunidade local e entrevistas, alm dos referenciais de alguns autores que defendem a importncia do PPP e a participao de todo cidado envolvido no contexto escolar. Sugerem alguns passos prticos que ajudaro gestores, equipe escolar e comunidade local na elaborao e execuo do PPP, objetivando traar os caminhos que se pretende percorrer, considerando o respeito diversidade que deve existir no contexto escolar. O quinto captulo tem como autoras Rosa Martins Costa Pereira, Adelma Bezerra do Nascimento Gomes e Sandra Alves da Silva Nogueira. Intitulase Novos rumos atravs do projeto poltico-pedaggico da escola. Faz uma reflexo acerca do processo de reconstruo do Projeto Poltico Pedaggico (PPP) da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Mdio Paulo Freire, localizada Rua Ayrton Senna no municpio de Itapu do Oeste, jurisdicionada ao municpio de Porto Velho, Rondnia. O objetivo da pesquisa foi a reconstruo do PPP da referida Escola com vistas a buscar sustentao para efetivar uma educao de qualidade. Esse estudo contribuiu no apenas para elaborar esse documento to importante para a escola, mas para perceber que ele deve estar disponvel para todos e que exige um acompanhamento sistematizado e teoricamente sustentado por meio de pesquisa. Irmgard Margarida Theobald, Aloir Ribolli, Gilvan vanconcellos, Jolar Vieira Lopes e Maria Aparecida Loss Uliana, no captulo e denominado Projeto poltico pedaggico da unidade escolar: princpio de democracia, apresentam os princpios tericos e prticos para a construo do projeto poltico pedaggico, entendido neste estudo, como a prpria organizao do trabalho pedaggico da escola, instrumento que tem sido objeto de estudos e debates entre os educadores, com o intuito de concretizar a democracia nas instituies de ensino. Destacam as dimenses polticas e pedaggicas implcitas nessa construo, ressaltando a necessidade de se planejar o desenvolvimento da escola como condio indispensvel para que os objetivos sejam alcanados. Enfatizam a urgncia de empreender um esforo coletivo para vencer as barreiras e entraves construo de uma escola que eduque de fato para o exerccio pleno da cidadania, espao que se aprende a aprender, a conviver e a ser com e para os outros. Loidi Lorenzzi da Silva e Sebastio Alves Filho Coutinho, no captulo A participao da famlia na vida escolar dos filhos, analisam a falta de envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos. A partir de ume estudo envolvendo os pais e professores apresentam possveis causas da falta da

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participao dos pais na escola. Observam que falta de tempo, de orientao e at mesmo a falta de compromisso apresentam-se como principais causas do pouco envolvimento dos pais nas atividades escolares das crianas. O captulo Melhoria da qualidade educativa na escola estadual de ensino fundamental samaritana, de autoria de Rosa Martins Costa Pereira, Carlson Jos Lima de Sousa e Lcia de Ftima Xavier Gonzlez, analisa o processo de reformulao do Projeto Poltico-Pedaggico daquela escola, elaborado em 2005. O trabalho foi desenvolvido a partir da pesquisa-ao, pois os autores consideram ser esta uma metodologia que melhor propicia a participao da comunidade escolar como colaboradores, visando melhoria do processo de gesto escolar. O trabalho contribuiu para a sensibilizao da comunidade escolar no sentido de envolver e aproximar os responsveis da vida escolar dos alunos. A diversidade tnico-racial na escola: Convivendo sem preconceito de autoria de Maria de Ftima Castro de Oliveira Molina e Ilse Kuns Drum, apresenta os resultados obtidos mediante a realizao do projeto-interveno elaborado em consenso com a comunidade escolar para desenvolver aes voltadas convivncia, sem preconceito, a partir do respeito diversidade tnico-racial na E.E.E.F. Margarida Custdio de Souza. A gesto escolar e o desafio da (in)disciplina na escola de autoria de Irmgard Margarida Theobald, Ivanete Coimbra da Silva e Lucilene Ugalde da Silva, aborda a atuao do gestor dentro das instituies de ensino, seja pblica ou particular e a administrao da indisciplina no cotidiano da escola atual, que tem sido vista como problema, desvio das normas disseminadas nos sistemas escolares, inviabilizando a prtica educacional. Associada desordem, ao desrespeito s regras de conduta e falta de limites, a indisciplina , freqentemente, centralizada no aluno, o que evidencia um modo individualizante de lidar com questes produtoras, produzidas do ou no cotidiano escolar. Coloca em discusso o prprio conceito de indisciplina, explorando, a seguir, algumas das suas causas. Destaca o enfoque preventivo como estratgia mais adequada para enfrentar o problema e enfatiza a necessidade de uma postura compartilhada em relao indisciplina, na forma de uma poltica definida em bases democrticas. Clarides Henrich de Barba, Alade Saraiva de Lima, Ana Maria da Nbrega e Eliane Maciel Souza Belarmino no captulo 10 intitulado Gesto democrtica e autonomia financeira na escola pblica: avanos e retrocessos, avaliam os avanos e entraves na qualidade dos recursos referentes ao programa di-

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nheiro na escola relacionados a construo da autonomia de gesto financeira. Destacam que os principais entraves so referentes ao grande controle da mantenedora na aplicabilidade dos recursos, falta de acompanhamento adequado na implantao dessa autonomia. No entanto, os avanos estabelecidos vm contribuindo para a melhoria do ensino e da aprendizagem. Apontam que o processo de autonomia financeira nas escolas do Estado de Rondnia vem se fortalecendo tendo como principais avanos a melhoria no aspecto fsico da escola, na qualidade da alimentao escolar e oportunidades de investimento na capacitao dos profissionais da educao. Tania Suely Azevedo Brasileiro e Anselmo Alencar Colares abordam o tema As NTIC na escola pblica: desafios para a gesto. Os autores fazem uma anlise acerca das ferramentas tecnolgicas que ajudam a sustentar o crescimento econmico, social, poltico e cultural de um pas, destacando que ningum pode ficar alheio a esse avano, pois quando aplicadas educao, as tecnologias podem contribuir no desenvolvimento das potencialidades humanas, fator essencial na formao e transformao de crianas e jovens em cidados crticos, autnomos, solidrios e competentes. Refletem ainda, acerca do processo de formao de gestores/as e professores/as da educao bsica quanto insero das Novas Tecnologias da Informao e da Comunicao (NTIC) no apoio s atividades gestora e pedaggica, assumindo o papel de mediadoras do processo de ensino e aprendizagem e da gesto democrtica da escola pblica inclusiva. Andria da Silva Quintanilha Sousa, no captulo Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica: gesto democrtica e polticas de formao de professores a distncia, analisa o modelo de gesto educacional proposto no Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica, tomando como fonte de pesquisa o Projeto curso de especializao em gesto escolar (Lato sensu) e as Diretrizes nacionais do programa escola de gestores da educao bsica pblica. Toma ainda como referncia de anlise a bibliografia existente sobre as polticas de educao a distncia na formao inicial e continuada de professores bem como, ao modelo de gesto proposta para o setor educacional a partir da dcada de 1990. As experincias vivenciadas, como professora da Sala Ambiente Poltica e gesto na educao, tambm iluminam o estudo. O captulo Gesto do trabalho escolar e a avaliao da aprendizagem numa perspectiva mediadora: o conflito entre o pensar em fazer e o querer fazer. de Carmen Tereza Velanga, aborda a gesto do trabalho escolar tendo a

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Avaliao da Aprendizagem como um de seus principais pilares. Destaca que numa perspectiva mediadora, a avaliao visa retomada das aes docente e da equipe gestora objetivando sempre o sucesso da aprendizagem do aluno. Defende que na construo das escolas o seu projeto poltico-pedaggico deve ser o instrumento primeiro para viabilizar o ideal democrtico, que ser confirmado em atitudes democrticas, na autonomia e participao de todos os segmentos da escola, ou seja, na vontade poltica anunciada e concretizada, ultrapassando o pensar em fazer para o querer fazer. Os captulos deste livro resultam de relatos dos projetos de interveno desenvolvidos e reflexes escritas por docentes e especialistas em gesto escolar que atuam como profissionais da educao no estado de Rondnia.Maria Llia Imbiriba Sousa Colares Juracy Machado Pacfico George Queiroga Estrela

SumrioCAPTULO 1 Sala ambiente projeto vivencial: reaproximando teoria e prtica no enfrentamento de problemas cotidianos.................................................................................................................................13 Juracy Machado Pacfico e Maria Llia Imbiriba Sousa Colares CAPTULO 2 A aplicao do planejamento sistematizado na escola municipal multisseriada de ensino fundamental Flvio da Silva Daltro no municpio de Pimenta Bueno-RO...............................................31 Ednia Maria Azevedo Machado, Doralice de Souza Pereira Santos, Ivanilda Colla Scheffer e Lucila de Arajo Crivelli CAPTULO 3 A importncia da participao da famlia nas aes da escola.....................................................43 Eudeiza Jesus de Arajo, Gerry Salvaterra Lara e Maria das Neves Oliveira de Souza CAPTULO 4 A construo do projeto poltico-pedaggico da escola.................................................................59 Edna Maria Cordeiro , Claudineia Ribeiro de Sousa e Jovina Benicio Coelho Rocha CAPTULO 5 Novos rumos atravs do projeto poltico-pedaggico da escola...................................................71 Rosa Martins Costa Pereira, Adelma Bezerra do Nascimento Gomes e Sandra Alves da Silva Nogueira CAPTULO 6 Projeto poltico-pedaggico da unidade escolar: princpio de democracia...................................83 Irmgard Margarida Theobald, Aloir Ribolli, Gilvan Vanconcellos, Jolar Vieira Lopes e Maria Aparecida Loss Uliana CAPTULO 7 A participao da famlia na vida escolar dos filhos......................................................................93 Loidi Lorenzzi da Silva e Sebastio Alves Filho Coutinho CAPTULO 8 Melhoria da qualidade educativa na escola estadual de ensino fundamental Samaritana................103 Carlson Jos Lima de Sousa, Lcia de Ftima Xavier Gonzlez e Rosa Martins Costa Pereira

CAPTULO 9 A diversidade tnico-racial na escola: convivendo sem preconceito..........................................117 Maria de Ftima Castro de Oliveira Molina e Ilse Kuns Drum CAPTULO 10 Gesto democrtica e autonomia financeira na escola pblica: avanos e retrocessos......................129 Clarides Henrich de Barba, Alade Saraiva de Lima, Ana Maria da Nbrega e Eliane Maciel Souza Belarmino CAPTULO 11 A gesto escolar e o desafio da (in)disciplina na escola..........................................................................141 Irmigardd Margarida Theobald, Ivanete Coimbra da Silva e Lucilene Ugalde da Silva CAPTULO 12 As NTIC na escola pblica: desafios para a gesto escolar ................................................155 Tania Suely Azevedo Brasileiro e Anselmo Alencar Colares CAPTULO 13 Programa nacional escola de gestores da educao bsica pblica: gesto democrtica e polticas de formao de professores a distncia.....................................171 Andria da Silva Quintanilha Sousa CAPTULO 14 Gesto do trabalho escolar e a avaliao da aprendizagem numa perspectiva mediadora: o conflito entre o pensar em fazer e o querer fazer.............................................................................183 Carmen Tereza Velanga SOBRe OS AUTOReS Organizadores..................................................................................................................................195 Autores.............................................................................................................................................196

Captulo 1SALA AMBIENTE PROJETO VIVENCIAL: reaproximando teoria e prtica no enfrentamento de problemas cotidianosJuracy Machado Pacfico Maria Llia Imbiriba Sousa Colares

INTROduOA educao brasileira tem passado por algumas mudanas significativas. Apontamos, aqui, aquelas ocorridas no campo legal, tendo como espinha dorsal a Constituio Federal de 1988. Esta possibilitou desdobramentos legais relevantes para a educao bsica que levaram, entre outras, a: mudanas na organizao e estrutura curricular, na sistemtica de financiamento, no processo de gesto dos sistemas de ensino e na ampliao do acesso escola bsica. Por tais conquistas a questo do direito educao, em termos de garantias na legislao, j no mais a questo central, pois todos os cidados e todas as cidads tm direito educao em qualquer tempo e idade. Isso est claramente definido, em mbito nacional, por exemplo, no artigo 6 e 205 da Constituio Federal de 1988 e nos artigos 4 e 5 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei n 9.394/1996). Alm, e anterior a estes instrumentos legais, em mbito internacional o direito educao j havia sido tambm assegurado no artigo XXVI da 77a Declarao Universal dos Direitos do Homem de 1948 e no artigo 13 do Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais de 1966. A grande questo que se coloca, portanto, no momento atual, no to somente assegurar, na Lei, o direito, mas garanti-lo de fato, na prtica social, o que implica o acesso, permanncia e aprendizagem na escola, problema ainda enfrentado pela educao brasileira, haja vista os resultados dos indicadores educacionais que tiram o sono daqueles e daquelas que sonham com uma educao de qualidade para todos e todas.

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No caso do Estado de Rondnia, apesar de vrios municpios terem atingido a meta definida pelo MEC para o ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica (IDEB), para o ano de 20071, os resultados dos indicadores no so muito animadores, at porque tais metas so baixas. Salientamos que no podemos ficar no Jogo do Contente, pois na medida em que nos conformamos com a misria, ou com o pouco, simplesmente porque vemos algum municpio ou estado em situao pior que a nossa, colocamos em risco a possibilidade de melhoria da educao. Sabemos, no entanto, e o prprio Ministrio da Educao (MEC) reconhece, que qualidade implica recursos, financiamento, investimento, e que, alm disso, a melhoria da qualidade da educao depende de muitos fatores, tanto internos quanto externos que, de maneira integrada, impactam no processo ensino-aprendizagem. Assim, no s o currculo, mas outras polticas precisam ser implementadas para que juntas e articuladas viabilizem melhores condies sociais e culturais para a populao. Pesquisas, estudos e implementaes de novas polticas nos parecem que caracterizam o momento atual. H inmeras respostas encontradas, mas tambm muitas perguntas para os problemas educacionais brasileiros, o que nos possibilita inferir que solues completas ainda no se tm. Temos, sim, tentativas e, em muitos casos, sem qualquer ironia, com as melhores das intenes e fundamentaes, mas que nem por isso necessariamente daro conta dos problemas ainda presentes, at porque no so problemas isolados, mas contextualizados. Mas precisamos ainda ter claro que, em contexto de crise econmica, de ajuste fiscal, de direitos educacionais para todos e todas, e com isso, de aumento de demanda por educao escolar, no podemos pensar em estratgias ou metodologias educacionais apenas por serem mais baratas. Prudncia e responsabilidade sero sempre fundamentais para se planejar e implementar qualquer que seja a poltica, mas principalmente as polticas sociais. Salvo melhor juzo, o Ministrio da Educao vem tentando encontrar sadas para as questes educacionais e, dentre os vrios fatores apontados como facilitadores de uma melhoria educacional, est a gesto da escola bsica. Esta considerada fundamental (mas, pelo que j foi dito, jamais a nica responsvel) para o desenvolvimento da educao escolar, quando realizada de forma democrtica, com a participao da comunidade1 Consultar dados disponveis na pgina http://ideb.inep.gov.br/ para informaes sobre as metas alcanadas no IDEB - Rondnia.

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em todas as fases, que vo do planejamento, execuo, acompanhamento at a avaliao. Mas como desenvolver uma gesto escolar democrtica? O que ser necessrio para sua efetivao? Que dimenses constituem o trabalho do gestor/gestora ou diretor/diretora escolar? Tais questes, entre tantas outras voltadas gesto escolar, foram tratadas no Curso de Ps-Graduao Lato Sensu em Gesto Escolar, implementado pelo Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pbica, em desenvolvimento, oferecido pela Secretaria de Educao Bsica (SEB/MEC), por meio da Diretoria de Fortalecimento Institucional e Gesto Educacional. A proposta de Educao a Distncia (EaD), com o auxilio das Tecnologias de Informao de Comunicao (TICs), quem vem possibilitando o desenvolvimento desse curso. Para Moran (2007, s.p.), a EaD em rede est contribuindo para superar a imagem de individualismo, de que o aluno tem que ser um ser solitrio, isolado em um mundo de leitura e atividades distantes do mundo e dos outros. Conforme o MEC (BRASIL, 2009), os dados do Censo Escolar/2007 apontavam para uma realidade da gesto escolar no Brasil bastante diversa no que se referia formao dos dirigentes. Do total de dirigentes escolares, 29,32% possuam apenas formao em nvel mdio, sobretudo nos estados das regies norte (onde estamos Estado de Rondnia), nordeste e centro-oeste. Registra que o percentual desses dirigentes com formao em nvel superior era de 69,79%, enquanto apenas 22,96% possuam curso de ps-graduao lato sensu/especializao. A partir dessa constatao, o Ministrio da Educao (MEC) vem desenvolvendo programas, projetos e aes de apoio gesto da educao bsica com o propsito de fortalecer a escola pblica brasileira. O destaque, nesse momento, o Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica, coordenado, a partir de janeiro de 2006, pela Secretaria de Educao Bsica, contando com a colaborao da Secretaria de Educao a Distncia (SEED) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE). (BRASIL, 2009). De acordo com o MEC (BRASIL, 2009), o Programa Nacional Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica faz parte das aes do Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE) e busca qualificar os gestores das escolas da educao bsica pblica, a partir do oferecimento de cursos de formao a distncia. A formao dos gestores feita por uma rede de universidades pblicas, parceiras do MEC, dentre estas a Fundao Universidade Federal de Rondnia

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(UNIR), que assumiu esse compromisso em 2008. O Programa visa formar, em nvel de especializao (Lato Sensu), gestores educacionais efetivos das escolas pblicas da Educao Bsica, includos aqueles de Educao de Jovens e Adultos, de Educao Especial e de Educao Profissional, bem como contribuir com a qualificao do gestor escolar na perspectiva da gesto democrtica e da efetivao do direito educao escolar com qualidade social. O MEC espera com esse investimento melhorar os ndices educacionais das escolas e municpios atendidos. (BRASIL, 2009). O MEC ressalta que o Programa teve incio, em 2005, com o Curso piloto de Extenso em Gesto Escolar (100h), ofertado pelo INEP. O projeto do curso piloto foi desenvolvido, segundo o MEC, por um grupo de especialistas em educao a distncia e notrio saber na rea de educao. A meta do projeto piloto - etapa 1 foi envolver 400 gestores, em exerccio em escolas pblicas. Mas foi em 2006 que o Programa passou a ser coordenado pela SEB/ MEC, e quando foi iniciado o Curso de Ps Graduao (Lato Sensu) em Gesto Escolar, com carga horria de 400 horas, realizado na modalidade EaD, voltado para a formao continuada de dirigentes da educao bsica, sobretudo a equipe gestora da escola, formada pelo diretor e vice-diretor. O projeto piloto do curso beneficiou 4.000 gestores, sob a responsabilidade de 10 Instituies Pblicas de Ensino Superior (IPES). (BRASIL, 2009). De acordo com a fundamentao legal proposta nas Diretrizes Nacionais do Programa Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica-2009, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (Lei n9.394/96) estabelece o propsito de formao continuada de professores e professoras. O artigo 63, inciso III, dispe s instituies formadoras de educao manter programas de educao continuada para os profissionais da educao dos diversos nveis. O caput do artigo 80 declara que o Poder Pblico incentivar o desenvolvimento e a veiculao de programas de ensino a distncia, em todos os nveis e modalidades de ensino, e de educao continuada. O artigo 87, inciso III, das Disposies Transitrias, prev que os municpios, e supletivamente o Estado e a Unio, devero realizar programas de capacitao para todos os professores em exerccio, utilizando tambm, para isto, os recursos da educao a distncia. Eis a base legal inicial para a proposio de cursos de EaD. A LDB faz referncia formao continuada, articulada com a EaD, sempre que necessria. As Diretrizes Nacionais do Programa Escola de Gestores da Edu-

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cao Bsica Pblica/2009 apontam que a proposio da LDB justifica-se pelo fato de que o sistema presencial de educao formal apresenta-se insuficiente para atender as novas demandas sociais de formao, bem como de democratizao do saber2. A formao continuada proposta no Curso de Especializao Lato Sensu em Gesto Escolar visa contribuir para o desenvolvimento profissional do professor gestor e a melhoria na qualidade dos processos de organizao e gesto da escola. Ressalta ainda que essa compreenso est pautada em uma concepo de formao de professores que contemple a tematizao de saberes e prticas num contexto de desenvolvimento profissional permanente. Nesse sentido, as Instituies Pblicas de Ensino, em nosso caso a Universidade Federal de Rondnia/UNIR, assumem um papel extremamente relevante na construo, implementao, acompanhamento e avaliao dos processos de formao continuada. Alm das Instituies Pblicas de Ensino, contribuem para o desenvolvimento do Programa, como parceiros, a Unio Nacional de Dirigentes Municipais de Educao (UNDIME) e o Conselho Nacional de Secretrios de Educao (CONSED). Um dos princpios bsicos defendidos no Programa o de que a gesto escolar traga consigo o aspecto pedaggico e, sendo assim, o gestor/gestora ou diretor/diretora antes de tudo um/uma educador/a e a gesto pedaggica um espao legtimo de aprendizagem democrtica. Por isso a gesto escolar precisa ser entendida no mbito da sociedade poltica comprometida com a prpria transformao social. (PARO, 2008). Ainda conforme o citado autor importante levar em conta os objetivos que se pretende com a educao. Dessa forma, o carter mediador da gesto escolar deve dar-se de forma a que todas as atividades-meio e a prpria atividade-fim estejam impregnadas dos fins da educao, pois no carter educativo da gesto democrtica encontraremos possibilidades de mudanas. Para a realizao do carter pedaggico da gesto escolar ser preciso no apenas a partilha do poder com o coletivo escolar, mas tambm a coresponsabilizao da gesto da escola e, co-responsabilizao diferente2 Nesse sentido ressaltamos que no defendemos a EaD como uma possibilidade pobre para oferecer educao aos mais pobres. preciso observar criticamente isso. Defendemos que a EaD seja mais uma oportunidade, mas que precisa a todo tempo ser avaliada e questionada se, de fato, est dando conta de formar bem, com qualidade seu pblico em potencial, j que no basta educao bsica o acmulo de certificados pelos sujeitos e ndices de gestores formados. preciso, evidente, que ao estudar os gestores e gestoras analisem melhor a sua realidade escolar e que nela possam intervir ou exigir interveno do poder pblico, de forma mais qualificada e impactante. A considerar esse curso, no temos crticas negativas a apresentar. Alis, nos pareceu uma boa oportunidade para os gestores, e consideramos bons os resultados imediatos referentes aos Projetos-Interveno desenvolvidos, o que poder ser melhorado em novas turmas do Programa no Estado/RO.

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de responsabilizao apenas de alguns sujeitos do processo educacional. O compromisso do professor e da professora, e consequentemente da escola, com a aprendizagem dos alunos e das alunas intrnseco natureza social da educao, j que esta, na condio de prtica voltada para seres em construo, tem como princpio fundamental o respeito dignidade humana desses sujeitos inacabados. Considerando os aspectos acima destacados, o presente texto objetiva apresentar uma reflexo sobre os resultados dos estudos efetivados na Sala Ambiente Projeto Vivencial do Curso de Especializao em Gesto Escolar, e destaca os xitos e as dificuldades detectadas nos percursos de aprendizagens dos cursistas naquele espao formativo.

PROjETO VIVENcIAl: POSSIbIlIdAdES dE ANlISE E INTERVENO NA REAlIdAdE EScOlAR

O Curso de Especializao Lato Sensu em Gesto Escolar orienta-se por dois eixos bsicos: a) a educao compreendida como direito social a ser suprido pelo Estado; b) a gesto democrtica da escola como meio indispensvel realizao da finalidade social da educao. Tais eixos foram orientadores do curso desde seu incio at o fim, em todas as disciplinas, e nos levaram a compreender que a escola, em sua forma concreta e especfica de ser objeto de anlise e interveno. Como o curso foi desenvolvido distncia, a internet trouxe a flexibilidade de acesso junto com a possibilidade de interao e participao. Fazemos uso fala de Moran (2007, s.p.), para dizer que o curso combinou o melhor do off line, do acesso quando a pessoa quiser com o on-line, a possibilidade de conexo, de estar junto, de orientar, de tirar dvidas, de trocar resultados. A estrutura curricular do curso contempla vrias disciplinas em salas ambientes virtuais e dentre elas apresenta a disciplina Projeto Vivencial, organizada na Sala Ambiente Projeto Vivencial (SAPV). Esta Sala Ambiente acompanhou os cursistas desde seu ingresso no curso, culminando na elaborao do Trabalho de Concluso de Curso (TCC), requisito final necessrio obteno de seu grau de Especialista em Gesto Escolar. Tratou-se, portanto, de um ambiente de aprendizagem que teve dois objetivos fundamentais: a) ser um espao de articulao entre e com as demais salas e componentes curriculares do curso; b) propiciar um movimento de reflexo terico-prtico entre os contedos e atividades propostos nos demais ambientes do curso, com a realidade cotidiana da escola real e concreta de cada cursista.

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Na SAPV o cursista, baseado em uma concepo democrtica de gesto escolar, pode discutir o papel do gestor escolar e do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP), principal instrumento da gesto democrtica da escola, abordando seus fundamentos terico-metodolgicos, etapas de elaborao, de implementao e de avaliao. O estudo ocorreu em estreita relao com a anlise da experincia da escola de cada cursista com o PPP. Dessa anlise resultou uma proposio para um projeto de interveno. Este foi fundamentado nos pressupostos da Pesquisa-ao que considera como premissa fundamental que a pesquisa deva necessariamente ter como funo a transformao da realidade. Nesse tipo de pesquisa, em que o Projeto-Interveno esteve fundamentado, os sujeitos, ao pesquisarem a prpria prtica, tm a possibilidade de produzirem novos conhecimentos. Nesse processo apropriam-se e ressignificam sua prtica, construindo laos e compromissos, de cunho menos contemplativo e mais crtico, com a realidade em que atuam. A prtica, nessa pesquisa, compreendida como prxis e tanto pesquisadores como pesquisados esto envolvidos em busca de mudanas da realidade. Para Thiollent (2005), a pesquisa-ao um tipo de pesquisa social com base emprica, no s concebida, mas tambm realizada em estreita relao com uma ao ou um problema que, por ser coletivo, envolve a todos na busca de sua compreenso e resoluo, de modo cooperativo e participativo. A SAPV do curso de Curso de Especializao Lato Sensu em Gesto Escolar foi organizada a partir das seguintes unidades temticas: Unidade I - Projeto-interveno e trabalho de concluso de curso (TCC). Nessa unidade foram abordados alguns aspectos relacionados ao Projeto-interveno e ao Trabalho de Concluso do Curso no sentido de fornecer informaes sobre a natureza e importncia do projeto-interveno, sua relao com a formao do/da cursista e com as possibilidades de mudana na realidade da escola em que ele ou ela atua. O Trabalho de Concluso do Curso tambm foi discutido nessa unidade evidenciando sua estreita vinculao com o projeto-interveno. A preocupao foi a de possibilitar que o percurso formativo possibilitasse ao/ cursista articular teoria-prtica, tendo como objeto de estudo e interveno na escola. Unidade II - O trabalho do gestor na escola: dimenses, relaes, conflitos, formas de atuao. Esta unidade teve como objetivos especficos: a) discutir a natureza do trabalho do gestor escolar, na perspectiva da gesto democrtica das unidades escolares e dos sistemas de ensino; b) analisar a atuao do gestor escolar, considerando-a em suas vrias dimenses relacionais, conflitivas, gestionrias e pedaggicas.

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Unidade III - O Projeto Poltico-pedaggico da escola: dimenses conceituais e metodolgicas. Nessa unidade foi discutido o Projeto Poltico-Pedaggico, abordando-o a partir de duas dimenses: a conceitual e a metodolgica. Na dimenso conceitual foram apresentados conceitos e concepes que visaram orientar a construo do PPP. J na dimenso metodolgica, o objetivo foi fornecer informaes, sugestes e indicadores para o desenvolvimento efetivo do PPP. Foi enfatizado, na Unidade, sobre a importncia do PPP para a gesto democrtica da escola, mas tambm lembrado sobre uma problemtica ainda muito presente, que a prpria prtica e as pesquisas tm demonstrado: a questo de que nem sempre este um documento vivo na escola, orientador de sua prtica pedaggica, espao de participao efetiva da comunidade escolar. Foi tambm contedo e objetivo mais especfico da unidade possibilitar ao/ cursista a reflexo de que mudar essa situao possvel e torna-se tarefa de todos aqueles e aquelas que almejam resgatar o potencial democrtico do PPP, compreendido como instrumento fundamental para a realizao efetiva da educao como direito social o que implica qualidade, democracia, autonomia e participao. A SAPV contou com textos bsicos e complementares relacionados aos contedos de estudo em cada unidade. Os/as cursistas encontraram ainda a indicao de atividades, cujo objetivo foi articular os contedos desta sala com aqueles das demais salas, alm de propiciar momentos de estudo e sntese sobre o material estudado. Essas atividades foram classificadas como obrigatrias ou complementares. Ainda contaram com indicaes de outros materiais (textos, livros, filmes e vdeos) que complementaram os estudos propostos. Tais atividades estavam organizadas no espao denominado Para saber mais. A Sala foi aberta dia 08 de agosto de 2008 e encerrada dia 20 de junho de 2009, e no dia 30 do mesmo ms foi realizado o ltimo encontro presencial, de encerramento do curso, com a apresentao oral dos TCCs que, em nosso caso, foram os artigos produzidos a partir dos estudos desenvolvidos nas escolas pelos gestores e gestoras, a partir do Projeto-Interveno desenvolvido. O Curso contou com a matrcula inicial de 200 gestores da rede municipal e 200 gestores da rede estadual selecionados pela Unio Nacional dos Dirigentes Municipais (UNDIME) e Secretaria Estadual de Educao de Rondnia (SEDUC), respectivamente. Porm durante o desenvolvimento do curso alguns gestores desistiram e o nmero ficou um pouco reduzido, mas mesmo assim tivermos mais de 50% de concluintes.

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Para a aprovao no curso o aluno ou aluna deveria responder s seguintes exigncias: atingir mdia 70 (setenta) em todas as disciplinas, ter elaborado e desenvolvido o Projeto-Interveno, elaborado e apresentado o TCC Artigo cientfico, com os resultados da pesquisa desenvolvida na escola por meio do Projeto-interveno. O cmputo da mdia foi feito por disciplina. Caso o gestor ou gestora tivesse sido reprovado em alguma disciplina, mesmo tendo sido aprovado nas demais, no poderia apresentar o TCC e no obteria aprovao no curso. O que caracteriza a SAPV e o que a diferencia das demais que a nica Sala Ambiente aberta do incio ao final do curso culminando com a elaborao do Trabalho de Concluso de Curso (TCC). um ambiente de aprendizagem que tem dois objetivos importantes: a) ser um espao de articulao entre e com as demais salas e componentes curriculares do curso; b) propiciar um movimento de reflexo terico-prtica entre os contedos e atividades propostos nos demais ambientes do curso com a realidade cotidiana das escolas, locais de trabalho dos gestores e gestoras. O corpo docente da SAPV foi composto por um professor e sete professoras, totalizando (08) integrantes, em sua maioria mestres e pertencentes ao quadro efetivo da UNIR. A coordenao da SAPV tambm ficou sob a responsabilidade de uma professora com mestrado, do quadro efetivo da universidade. O Projeto-interveno privilegiou situaes pedaggicas propostas para (re) elaborao do PPP e possibilitou aos gestores e s gestoras escolher o que melhor se adequaria s suas realidades, o que resultou no desenvolvimento de vrios projetos diferentes. Como o objeto do Projeto-interveno deveria estar estreitamente vinculado ao Projeto Poltico-Pedaggico da escola, foram sugeridas trs situaes orientadoras para o trabalho e os/as gestores/cursistas deveriam discutir com seus colegas de grupo e escolher uma das sugestes, sempre considerando aquela que melhor expressaria a situao de suas escolas. As propostas do projeto do Curso para os/as cursistas, foram: a) construo do Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) daquelas escolas que ainda no o tinham; b) a re-elaborao do PPP ou de partes do mesmo, no caso de escola que j o tinha; c) uma situao problemtica relevante na escola, vinculada ao PPP ou a gesto da mesma, caso no fosse possvel desenvolver as propostas a e b. Cada cursista/grupo deveria escolher umas das possibilidades, o que foi realizado. Os gestores/as cursistas fizeram as escolhas das temticas que melhor relacionaram-se com suas realidades e elaboraram e desenvolveram os projetos-interveno. O resultado foi interessante, pois tivemos projetos elabo-

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rados e desenvolvidos em todas as situaes propostas, o que ressalta a singularidade de cada escola quando o assunto levantar o que precisa ser melhorado. As dificuldades e problemas enfrentados pelas escolas, que aparentemente so iguais, guardam consigo especificidades que somente o estar presente, o olhar comprometido, e do lugar de quem vivencia tais situaes cotidianas emblemticas, poder detectar. Por isso a relevncia da pesquisa-ao para o estudo e interveno na realidade escolar. O TCC foi elaborado em grupos de, no mximo, trs componentes, porm com a obrigatoriedade de apresentao individual, com o envolvimento tambm de, no mximo, duas escolas por grupo. Tais aspectos levaram discusso do grupo para se chegar a um acordo sobre o foco do TCC, pois os membros do grupo tiveram que priorizar um foco que fosse comum s duas escolas envolvidas. Entendemos que o Projeto-interveno viabilizou a vinculao estreita entre teoria e a prtica com a realidade cotidiana da escola e do trabalho dos/das cursistas como gestores escolares. A avaliao da disciplina Projeto Vivencial foi desenvolvida processualmente pela coordenao, professores e professoras de turmas e assistentes, e pela coordenao da SAPV. medida que algumas dificuldades apareciam nos comunicvamos na tentativa de resolv-las. Foi a partir das trocas de informaes e encontros virtuais que novas oportunidades de envio ou reenvio de atividades pelos cursistas foram possveis. Aspectos mais especficos relacionados organizao, desenvolvimento, gesto e aspectos terico-metodolgicos do curso iremos apresentar no prximo item, j inserindo o olhar das professoras e professores das turmas da disciplina Projeto Vivencial, apresentados na avaliao final que os mesmos realizaram.

AVAlIAO fINAl dA SAPV REAlIzAdA PElOS PROfESSORES E PROfESSORASdAS TuRmAS

Os itens seguintes iro apresentar um resumo geral de alguns aspectos do curso a partir dos fragmentos dos textos dos professores e professoras da SAPV, escritos por ocasio da avaliao da Sala. Faremos acrscimos ao que no estiver, para o propsito deste texto, contemplado nos textos avaliativos das professoras e professores.

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ORgANIzAO dA dIScIPlINAA Disciplina Projeto Vivencial, integrada ao curso, contou com as ferramentas utilizadas na Plataforma Moodle, o que possibilitou a interao entre cursistas, professores de turma, professores assistentes e coordenaes, da Sala e do Curso. Alm da interao virtual, tivemos os encontros presenciais, considerados pelos professores e professoras e tambm por ns, da coordenao, como oportunidades valiosas de interao entre os vrios sujeitos do curso. As falas dos professores e professoras nos ajudam a pensar essa organizao: o curso foi organizado considerando o contato permanente entre cursistas, professores e assistentes, sendo que as orientaes para elaborao das atividades e as respostas s dvidas apresentadas no frum tiveram prioridade ao longo do curso. Tambm No que se refere s parcerias, destacam-se o auxlio das escolas, das APPs e outras instituies pblicas das localidades onde foram realizadas as intervenes e os encontros presenciais. Conforme os professores e professoras, os cursistas puderam, por meio do curso, e em especial, da SAPV, desenvolver habilidades referentes gesto democrtica, a pesquisa e produo de trabalhos acadmico-cientficos. Os encontros presenciais foram, ao todo, quatro (04), com durao de 08 horas cada, em diferentes datas. Destaca-se neste quesito que a carga horria por encontro presencial mostrou-se suficiente para atender s necessidades do curso, mas percebeu-se a necessidade de realizar mais encontros presenciais, especialmente, no incio do curso. Este aspecto foi apontado pelos alunos, em suas avaliaes, e tambm enfatizado pelas professoras e professores, o que evidencia no bastar as ferramentas das TICs conjugadas com a metodologia de EaD, mas o contato presencial ainda fundamental para o estabelecimento da afetividade, necessria na aprendizagem, e para a interlocuo movida, no s pela escrita e pela voz, mas tambm pelos gestos naturais e espontneos que s o contato presencial permite acontecer. Na fala de uma professora:Podemos afirmar que esses encontros foram fundamentais para estruturao do curso. Com isto, conseguimos resultados, pois os alunos puderam tirar suas dvidas e adquirir mais segurana na realizao das atividades. (PROFESSORA DA SAPV).

Para o desenvolvimento distncia e via Plataforma Moodle, com o auxlio da internet, foi fundamental o papel do professor e da professora de turma na criao de laos afetivos. Tambm para Moran (2007), os cursos que obtm sucesso, que tem menos evaso, do muita nfase ao atendimento do aluno e criao de vnculos afetivos.

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Quanto s parcerias, estas foram fundamentais para a realizao do curso, de modo geral, mas das atividades da SAPV, em especial, pois foi esta sala que, juntamente com a Coordenao Geral do Curso, coordenou os encontros presencias e percebeu a importncia das parcerias para a realizao dos mesmos. UNDIME, SEDUC, NTEs e outros parceiros locais foram fundamentais para, inclusive disponibilizar espaos e equipamentos para a realizao dos encontros.

dESENVOlVImENTO E gESTO dA SAPVDe modo geral a SAPV foi bem desenvolvida, mas um aspecto foi bem problemtico: os constantes atrasos na postagem das atividades por parte dos cursistas. Porm salientamos que as suas justificativas foram bem pertinentes, principalmente no que se refere s dificuldades de acesso a internet vivenciada por vrios cursistas, conforme escreveram algumas professoras em suas avaliaes, no sentido de lembrar que muitas escolas esto localizadas no campo, a quilmetros da cidade e sem acesso a internet, o que impossibilitou o acesso semanal, plataforma, pelos cursistas. Durante o desenvolvimento da disciplina vrias estratgias foram sendo construdas na tentativa de possibilitar aos cursistas prazos para que fizessem suas atividades no realizadas nos perodos definidos no cronograma que, em muitos casos, tal atraso foi justificado por problemas de acesso internet. As atividades pertinentes Sala foram plenamente realizadas pelos professores e professoras no atendimento aos alunos e alunas, mas tambm as que vieram por acrscimo:Recuperao paralela, levantamento de cursistas por atividade que deixaram de realizlas, envio de e-mails pela plataforma e para o e-mail pessoal do cursista, solicitao de ajuda aos professores assistentes para reforo do contato, inclusive via telefone. Correo de atividades por e-mail antes de postagem final. Possibilidade de reescrita de trabalhos. Avaliao de participao nos fruns. Realizao de chats de interao e discusso de textos e atividades. (PROFESSORA DA SAPV).

Os procedimentos de avaliao da aprendizagem foram bem adequados, uma vez que os cursistas tiveram vrias possibilidades e variedade de atividades avaliativas. De acordo com os professores e professoras, a relao pedaggica com a coordenao foi bastante produtiva, principalmente no que se refere aos encaminhamentos realizados. Segundo eles e elas, foram bem assistidos e puderam, com isso, orientar os cursistas de forma adequada.

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Tecendo uma anlise geral do curso, uma professora da SAPV destaca que a comunicao estabelecida entre todos os sujeitos envolvidos com o curso foi muito boa. Destaca que Em relao aos cursistas, algumas turmas tiveram maior participao do que outras. Destaque-se a importncia das reunies do colegiado e o excelente apoio oferecido pelos profissionais responsveis pelo suporte tecnolgico do curso. (PROFESSORA DA SAPV). Destaca-se que, em relao aos encontros presenciais, alguns alunos e alunas tiveram dificuldades de se deslocar at o local, ocasionando ausncias dos mesmos e no aproveitando as orientaes presenciais, que em um curso distncia, so fundamentais.

AcOmPANhAmENTO dOcENTE AOS cuRSISTASTodas as atividades foram dispostas na Plataforma com datas de abertura e de encerramento. Um problema vivenciado no curso, j apontado neste texto, e que implicou no acompanhamento qualitativo das atividades, foram os atrasos na postagem das mesmas. Mas ainda assim o acompanhamento foi realizado, no sentido informar aos cursistas de suas situaes, embora em alguns casos o retorno de mensagens fosse precrio. O acompanhamento foi realizado de vrias formas pelos professores e professoras: anlise dos acessos na plataforma, registro das atividades realizadas em um quadro de acompanhamento, comunicado aos cursistas de atividades pendentes, informes individualizados, via plataforma ou emails, sobre atividades pendentes, matrias complementares ou necessidade de maior acesso, entre outros. O uso das ferramentas interativas disponveis na plataforma foi mais difcil, tanto para cursistas quanto para os professores e professoras menos experientes com a modalidade, apenas no incio do curso. Dificuldades para postagem de atividades foram muito comuns logo no incio, e mais raras no final do curso. Isso para ns foi difcil, mas no estranho, considerando o pouco acesso a computadores e internet, mesmo quando se trata de cursitas/gestores das reas urbanas. Acreditamos que um objetivo bsico do curso, e em especial da SAPV, foi muito bem desenvolvido: a vinculao do curso do Curso de Especializao com a pesquisa, pois os projetos de interveno organizados geraram aes e parcerias realizadas nas escolas. Dessa forma, pelos trabalhos apresentados no encontro final, percebemos que os projetos realizados foram, se no todos, mas em sua maioria, de interveno pedaggica. Inferimos,

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portanto, que contriburam ou contribuiro efetivamente para a organizao do trabalho administrativo e pedaggico na escola. O Programa organizou a apresentao dos TCCs para o dia 30 de junho de 2009. Os artigos foram apresentados em formato de banner, e os resultados nos permitem concluir que os/as cursistas compreenderam a importncia do Projeto Poltico-Pedaggico da escola como elemento articulador de todas as suas aes como gestores escolares, na construo da gesto democrtica da escola. Quanto publicizao dos estudos desenvolvidos nas escolas, destacase que alguns projetos sero apresentados pelas Secretarias como exemplo para as demais escolas da rede e outros sero apresentados nas conferncias municipais e estaduais de educao. (PROFESSORA DA SAPV).

ASPEcTOS TERIcOS, mETOdOlgIcOS E TEcNOlgIcOS dO cuRSOTemos clareza de que os contedos que fundamentam o curso, e em especial a SAPV, foram e sero fundamentais para o crescimento intelectual dos gestores e gestoras escolares e possibilitaro o desenvolvimento de uma prxis mais alinhada s necessidades de cada escola, j que orientam a pesquisa, o estudo e a interveno na realidade. Tambm a metodologia de estudo/desenvolvimento utilizada no curso foi muito pertinente e possibilitou, sem dvida, a interao da SAPV com as vrias disciplinas e destas com a prtica e o cotidiano das escolas, locais de trabalho dos gestores e espaos em construo. Conforme os professores e professoras de turmas, quem mais diretamente relacionaram virtualmente com os cursistas, estes, deste o incio do curso demonstram a satisfao em estudar os textos e desenvolver as atividades, pois afirmam que o material de qualidade e os ajudou na reformulao de alguns conceitos relacionados a prtica dos gestores, principalmente referente s questes legais s polticas pblicas. (PROFESSORA DA SAPV). Outra professora destaca ainda que os contedos so atuais e coerentes com o debate nacional sobre gesto escolar democrtica, estando os mesmos fundamentados em autores de reconhecida competncia tcnica, terica e, sobretudo, poltica. Dentre as vrias ferramentas disponveis no ambiente virtual da plataforma do curso, os fruns no foram to potencializados, principalmente no incio do curso. Acreditamos que isso ocorreu pela falta de habilidade e familiaridade dos/das cursistas e dos professores e professoras com essa

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ferramenta. Porm, no relato das professoras que potencializaram o uso, e de forma adequada, pode-se verificar o potencial da ferramenta na promoo de debates sobre os vrios temas. A orientao geral aos professores e professoras da SAPV era a de que os textos produzidos pelos cursistas resultado do desenvolvimento de suas atividades deveriam ser sempre devolvidos para reescrita, caso fosse necessrio. Tal prtica possibilitou tambm a construo da competncia escritora por parte do/da cursista na medida em que foi dada a ele e ela a possibilidade de rever suas produes e refaze-las ainda no processo. Como vimos o modelo do Curso de Formao de Gestores foi o online com perodos pr-estabelecidos, conforme apresentados por Moran (2007): comeamos em datas previstas e fomos at o final com o mesmo grupo, com as mesmas turmas, como acontece em muitos cursos presenciais atualmente. Dentro desse formato, h dois modelos bsicos, com algumas variveis. Acreditamos que este curso combinou os dois modelos. Um dos modelos, conforme o citado autor, centrado em contedos, em que o importante a compreenso de textos, a capacidade de selecionar, de comparar e de interpretar idias anlise de situaes. Nesta varivel os contedos podem estar disponveis no ambiente virtual do curso e tambm em textos impressos ou em CD-s que os alunos recebem. Geralmente h tutores para tirar dvidas e alguma ferramenta de comunicao assncrona como o frum. Este foi o caso deste curso. Mas no s isso, pois a segunda varivel desse modelo on-line com perodos pr-estabelecidos, combinando leituras, atividades de compreenso individuais, produo de textos individuais, discusses em grupo, pesquisas e projetos em grupo, e acompanhamento bastante intensos, tambm fez parte do curso. Para o autor, uma das vantagens dos cursos que comeam e terminam com datas prestabelecidas a possibilidade de se potencializar os trabalhos em grupos, o que foi bem potencializado neste curso. Sabemos que algumas ferramentas ainda precisam ser melhor utilizadas. Por exemplo, a disponibilidade de novos materiais sobre os contedos tratados na disciplina foi um aspecto que tambm, no caso desta disciplina, no foi muito valorizado. Por um lado, consideramos ser muito bom o material j planejado para o curso e, por outro, tivemos a preocupao de no sobrecarregar os cursistas com tantos materiais para leitura. Mas percebemos que disponibilizar outros materiais cria outras possibilidades de leitura e, se para consulta, sem ser de leitura obrigatria, a viabilizao poderia ter sido muito interessante. Este aspecto certamente ser pensado caso seja aberta uma nova turma no Estado.

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cONSIdERAES fINAISUm projeto/curso dessa natureza, desenvolvido em um tempo em que muitos de ns ainda estamos em fase de construo de capacidades para lidar com os recursos tecnolgicos disponveis, somos forados a dizer que 100% de aproveitamento ser bem difcil conseguir, pois alm desses fatores ainda temos tantas outras variveis que interferem em seu desenvolvimento. Tais variveis estiveram presentes nesse curso, nessa primeira turma. Muitas dificuldades foram superadas, mas algumas estavam alm das possibilidades, pois extrapolaram os limites tericos, metodolgicos, avaliativos e de gesto do curso. No entanto o resultado foi positivo e nos possibilitou, ainda, a experincia. Aprendemos, todos e todas, com o processo. Tambm, grosso modo falando, ns coordenadoras, professoras, coordenadores e professores, fizemos a pesquisa-ao, de um outro lugar, fora da escola. Ao passo em que desenvolvamos o curso amos construindo, coletivamente, estratgias de interveno para o enfrentamento das dificuldades surgidas no desenvolvimento do curso. A experincia de planejamento dos encontros presenciais, de forma coletiva, tambm foi muito valiosa. Nessa atividade, a coordenao e/ou uma professora fazia uma proposta inicial qual as demais iam inserindo outras idias e propostas. Foi tambm coletivamente que discutimos alteraes na consigna de algumas atividades, oportunidade em que as professoras e professores puderam sugerir as mudanas com base nas dificuldades de compreenso que vinham sendo apresentadas pelos cursistas. Pensamos que fizemos um pouco, daquilo que talvez fosse possvel, mas foi o que conseguimos at aqui. Empreendemos cursistas, coordenadores de salas, professores, professoras de turmas e assistentes, coordenao geral, tcnicos e rgos envolvidos, um esforo comprometido com uma causa importante: a educao bsica. Valeu pelo vo, valeu pelas possibilidades que o curso ofereceu e oferecer para a melhoria da gesto escolar, para que esta possa se constituir em gesto democrtica, o que, temos clareza, no resolver totalmente os problemas da educao, mas certamente contribura para isso. Chegamos ao final com a certeza de que o curso, mesmo com as dificuldades j apontadas, contribuiu no apenas para formao continuada dos gestores cursistas, mas para motiv-los a desenvolver uma prtica permeada por um processo de planejamento coletivo no qual se insere a construo do Projeto

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Poltico-Pedaggico que um importante instrumento para a gesto democrtica da escola. Encerramos este texto lembrando que educar e, ser professora, coordenadora, gestor ou gestora, enfim, nas palavras de Freire (1997), ter a conscincia do inacabamento e, portanto, ter apenas uma certeza: a de que podemos fazer melhor, em outro tempo, aquilo que acreditamos ter sido a verso mais acabada e melhor delineada de um processo.

REfERNcIASBRASIL. Congresso Nacional. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia: Senado Federal, Centro Grfico, 1988. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n 9.394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 10.172, de 2001. Plano Nacional da Educao. BRASIL. Portaria Ministerial n. 4.361, de 2004. Trata do credenciamento e recredenciamento de IES, para oferta de cursos superiores a Distncia. BRASIL. Conselho Nacional de Educao. Resoluo CNE/CES n 1, de 2001. Trata das normas para o funcionamento da ps-graduao. BRASIL. Ministrio da Educao. Diretrizes Nacionais do Programa Escola de Gestores da Educao Bsica Pblica. Braslia: MEC/SEB, 2009. BRASIL. Ministrio da Educao. Orientaes Gerais. Rede Nacional de Formao Continuada de Professores de Educao Bsica. Braslia: MEC/SEB, 2005. BRASIL. Ministrio da Educao. Projeto do Curso de Especializao em Gesto Escolar. Braslia: MEC/SEB/CAFISE, 2006. BRASIL. Ministrio da Educao. Programa Nacional Escola de Gestores. Braslia: MEC/SEB/ DPR, 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 1997. MORAN. Jos Manual. Os modelos educacionais na aprendizagem on-line. 2007. Disponvel em: . Acesso em 19-07-2009. PARO, Vitor Henrique. Gesto democrtica da escola pblica. So Paulo: tica, 2008.

Captulo 2A aplicao do planejamento sistematizado na escola municipal multisseriada de ensino fundamental Flvio da Silva Daltro no municpio de Pimenta Bueno-ROEdnia Maria Azevedo Machado Doralice de Souza Pereira Santos Ivanilda Colla Scheffer Lucila de Arajo Crivelli

INTROduOEste artigo apresenta o relato da experincia de aplicao do Projeto de Interveno Pedaggica sobre o Planejamento escolar adotado na Escola Municipal Multisseriada de Ensino Fundamental Flvio da Silva Daltro no ano letivo de 2 009, com vistas a garantir a implementao de seu Projeto Poltico Pedaggico nos prximos dois anos letivos. O assunto analisado dentro do contexto em que a mesma estava situada nos anos letivos anteriores e assim definido como o principal proporcionador da melhoria da qualidade de ensino oferecida clientela da referida escola do campo. O projeto de interveno Pedaggica teve como objetivos reduzir o ndice de reprovao e minimizar o baixo rendimento diagnosticado na escola, nos anos letivos de 2007 e 2008. Na realizao da pesquisa foram utilizados instrumentos de avaliao de abordagem qualitativa e quantitativa. Os instrumentos utilizados nesta abordagem foram entrevistas, pesquisa bibliogrfica, pesquisas em stios virtuais, anlise documental e observaes de campo. A coleta de dados da pesquisa foi trabalhada em duas etapas: na primeira etapa procedeu-se anlise dos documentos escolares dos alunos, referentes aos anos letivos de 2007 e 2008. A segunda realizou-se a partir de entrevistas colhidas por meio de perguntas abertas e fechadas, realizadas com os atores ligados diretamente ao problema da reprovao escolar: o gestor, as coordenadoras pedaggicas e o professor.

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PlANEjAmENTO NO mbITO dA EducAO EScOlARAtravs da conceituao do termo Planejamento, apresentado no Dicionrio Aurlio, procurou-se esclarecer que o mesmo antecipa mentalmente a ao, ou um conjunto de aes que sero realizadas:Planejamento. S.m. 1. Ato ou efeito de planejar. 2. Trabalho de preparao para qualquer empreendimento, segundo roteiro e mtodos determinados; planificao: o planejamento de um livro, de uma comemorao. (AURLIO, 1996, p. 1097 ).

Esse pressuposto reafirma a idia de que o processo educativo exige um planejamento bem elaborado para nortear as aes dos atores deste cenrio. Em se tratando do planejamento escolar, diversos autores buscam o aprimoramento da conceituao. Assim,O ser humano age em funo de construir resultados. Para tanto, pode agir aleatoriamente ou de modo planejado. Agir aleatoriamente significa ir fazendo as coisas, sem ter clareza de onde se quer chegar; agir de modo planejado significa estabelecer fins e constru-los atravs de uma ao intencional.[...] planejamento, de um modo geral, diz respeito intencionalidade da ao humana em contrapartida ao agir aleatoriamente. (LUCKESI, 1992, p. 115-125).

Todas as aes realizadas pelo homem cotidianamente, desde os primrdios so produtos de planejamento, que podem ser sistematizados racionalmente ou no. As possibilidades de sucesso dessas aes esto diretamente associadas forma como se efetiva tal planejamento. No se admite mais a realizao de qualquer trabalho base de improvisos, principalmente quando se trata de Planejamento Escolar. Para Libneo, planejamento escolar :[...] o planejamento global da escola, envolvendo o processo de reflexo, de decises sobre a organizao, o funcionamento e a proposta pedaggica da instituio. um processo de racionalizao, organizao e coordenao da ao docente, articulando a atividade escolar e a problemtica do contexto social. (LIBNEO, 1992, p. 221).

Para que o planejamento escolar alcance a sua finalidade, deve explicitar suas diretrizes, os princpios e tambm os procedimentos do trabalho a ser realizado. Deve assegurar que as atividades da escola articulem-se com o contexto da comunidade e da sociedade. Enfim deve garantir que haja coerncia entre as suas diversas etapas na busca dos objetivos definidos, estabelecendo vnculo entre atividade escolar e os problemas que envolvem o contexto social. A harmonia entre as suas funes que garantir a sua execuo. Alm disso, deve conter na sua estrutura, instrumentos que possibilitem aes coordenadas, objetividade e tambm que seja flexvel, considerando as avaliaes e realinhamentos que possam se fazer dentro do horizonte temporal previsto.

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Na Lei 9.394/96 no est explcito o termo planejamento, mas traz conceitos associados ao mesmo. Os artigos 12, 13 e 14 manifestam circunstncias aliceradas em atividades de planejamento:Artigo 12 Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, tero a incumbncia de: I - elaborar e executar sua proposta pedaggica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; Artigo 13 Os docentes incumbir-se-o de: I - participar da elaborao da proposta pedaggica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedaggica do estabelecimento de ensino; Artigo 14 Os sistemas de ensino definiro as normas da gesto democrtica do ensino pblico na educao bsica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princpios: I - participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da escola; II participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Dos artigos apresentados, h indicaes da participao efetiva dos diversos atores afins na elaborao da proposta pedaggica. Gera a necessidade de um amplo debate prvio, com participao de todos e que se estrutura como um processo de planejamento. Atualmente inadmissvel que uma gesto no se paute no planejamento. Finalmente na mesma Lei, o Art. 67 assegura ao profissional o perodo para o planejamento:Art. 67. Os sistemas de ensino promovero a valorizao dos profissionais da educao, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistrio pblico: V perodo reservado a estudos, planejamento e avaliao, includo na carga de trabalho. (LDBEN 9.394/96).

Com base no artigo e devidamente assegurado o horrio para o planejamento dos professores da rede municipal. importante que sob a luz da Resoluo n. 3 do Conselho Nacional de Educao de 08/10/97, que assegura que a jornada deve incluir uma parte de horas reservada para a docncia e outra para atividades destinadas preparao e avaliao do trabalho didtico, colaborao com a administrao da escola, s reunies pedaggicas, articulao com a comunidade e ao aperfeioamento profissional, de acordo com o Projeto

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Poltico-Pedaggico da Escola, haja a adoo de procedimentos adequados ao exerccio do planejamento e sua prtica. O Projeto Poltico-Pedaggico (PPP) tem duas dimenses: a poltica e a pedaggica. Como explica Andr (2001, p.189): poltico no sentido de compromisso com a formao do cidado para um tipo de sociedade e pedaggico porque possibilita a efetivao da intencionalidade da escola, que a formao do cidado participativo, responsvel, compromissado, crtico e criativo. Tambm para Veiga (1998, p.12), a dimenso pedaggica a [...] que trata de definir as aes educativas da escola, visando efetivao de seus propsitos e sua intencionalidade. Ainda para a autora, A dimenso poltica se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prtica especificamente pedaggica. (VEIGA, 2001, p. 13). O PPP dever ser entendido como um instrumento eficaz, eficiente, efetivo e constante, sendo um guia da ao curricular. Para a sua exeqibilidade deve ser construdo coletivamente pela comunidade escolar, ser subsidiado pelos elementos constitutivos da proposta pedaggica da escola, que se evidenciam em: Plano de Curso: a organizao de um conjunto de disciplinas que vo ser ensinadas e desenvolvidas em uma instituio educacional, durante o perodo de durao de um curso. Segundo Vasconcellos (1995, p. 117), esse tipo de plano a sistematizao da proposta geral de trabalho do professor naquela determinada disciplina ou rea de estudo, numa dada realidade. Novamente se manifesta a necessidade da articulao entre o que vai se ensinar e o contexto social. Refora-se ento ser necessrio que as disciplinas tenham significao para o aluno e para a comunidade. O mesmo ter a sua execuo a partir da aplicao do Plano de Ensino. Plano de Ensino: segundo Sant Anna o plano de disciplinas, de unidades e experincias propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade. Situa-se no nvel bem mais especfico e concreto em relao aos outros planos, pois define e operacionaliza toda a ao escolar existente no plano curricular da escola. (SANTANNA, 1995, p.19). este o instrumento que orienta durante o decorrer do ano letivo, o cotidiano do professor de cada disciplina e que traz implcitos os ideais a que a escola se prope, juntamente com os seus profissionais, manifestados

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nos objetivos, contedos, estratgias, propostas de avaliao e busca de resultados junto aos alunos. Como forma de implementar o PPP e atuar nos entraves diagnosticados, apresentam-se a Proposta e o Projeto de Interveno Pedaggica. A Proposta de interveno pedaggica que uma pesquisa centrada na realidade da Escola, envolvendo sua comunidade com vistas a uma transformao, que direcionar a interveno a ser executada, apontando para os indicadores a serem alcanados. Para que se execute, com um horizonte temporal definido e com vistas aos resultados esperados elaborase o Projeto de Interveno Pedaggica, que se constitui num plano de inteno, num roteiro detalhado das aes, devidamente fundamentadas, a serem desenvolvidas, para que se consiga atingir os objetivos propostos, decorrentes do diagnstico da realidade escolar. Com vistas aplicao do Projeto de Interveno Pedaggica - objeto do presente artigo, caracterizase a Escola e a Clientela Escolar.

cARAcTERIzAO dA EScOlA E dA clIENTElA EScOlARA E.M.M.E.F. Flvio da Silva Daltro est localizada no Setor Dimba, BR 364, a aproximadamente 50 Km da sede do Municpio de Pimenta Bueno, Rondnia, com capacidade para atender 40 alunos por perodo / turno. A escola dispe de 01 bloco em alvenaria, telhado com estrutura de madeira e coberto com telha de fibrocimento, porta, vitrs de ferro com vidros, o piso revestido de cermica. Possui ptio coberto e rea livre gramada ao redor da escola. Est contemplada com energia eltrica e gua encanada, atravs do sistema de bombeamento. O Bloco nico contm 01 sala de aula, 01 conjunto de banheiros com 01 sanitrio masculino e 01 feminino, com lavatrio e torneira, 01 cozinha, 01 dispensa, 01 ptio coberto, 01 rea coberta na parte frontal da escola. Recentemente foi reformado, tornando-se um ambiente acolhedor e adequado para o desenvolvimento do processo educativo. A clientela constituda pelos filhos de agricultores que moram no entorno da escola, sendo que a maioria pertence classe mdia baixa. Muitos deles esto com atraso escolar, devido ao nmero de reprovaes ocorridas, principalmente nas sries iniciais.

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cENRIO dO PlANEjAmENTO NA EScOlA Em 2007 E 2008Objetivando contextualizar o objeto da interveno, passa-se a delinear o cenrio de planejamento, tal como se dava, antes da implementao do Projeto Poltico Pedaggico. O planejamento escolar na EMMEF Flvio da Silva Daltro nos anos letivos de 2007 e 2008 era realizado de maneira fragmentada, por um nico professor com acompanhamento pedaggico espordico de acordo com o agendamento da Coordenadora pedaggica que ia escola 01(uma) vez por ms, ou de acordo com as solicitaes. Nestas visitas verificava-se o progresso e o rendimento dos alunos, atravs da aplicao de exerccios, das atividades realizadas nos cadernos e livros didticos, testes orais e escritos para avaliao dos trabalhos realizados. Na ocasio tambm eram verificados os registros efetuados nos dirios de classe, no caderno de planejamento de aulas e as ocorrncias que porventura eram relatadas pelo professor. Alm disso, a coordenadora pedaggica procedia s orientaes didticas mais urgentes, tirando dvidas e sugerindo atividades especficas para corrigir distores detectadas. Todo esse trabalho teria que ser realizado num curto perodo de tempo, pois muitas vezes a nica coordenadora pedaggica, precisava visitar outra escola no mesmo dia para aproveitar a viagem, tendo em vista a dificuldade com o transporte, pois a viatura utilizada, teria que atender tambm outros setores. Com esse trabalho de modo inadequado, inevitavelmente estabeleceu-se a relao entre causa e efeito, ou seja a falta de estrutura material e humana com a manifestao no baixo rendimento do aluno. Observou-se que o ndice de reprovao era maior nas sries iniciais, pois os alunos eram mais dependentes das orientaes do professor, o qual precisava dispensar atenes a todos em fraes de tempo muito menores, j que as turmas eram multisseriadas e os contedos e objetivos de ensino muito diversos. Tal fato indicava que os resultados tambm poderiam estar relacionados metodologia de capacitao, pois a capacitao continuada oferecida era elementar e no vinculava a teoria prtica e nem realidade do campo. A freqncia por parte dos professores da zona rural durante as capacitaes, era muito baixa devido ao alto custo com despesas de locomoo, embora a Secretaria oferecesse alojamento e alimentao.

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No obstante o Planejamento anual fosse feito coletivamente, o mesmo baseava-se em Matriz Curricular e Ementas padronizadas e descontextualizadas, sendo que era feito no incio do ano, com os professores das escolas multisseriadas da rede municipal, sem atender as especificidades locais e at regionais. Embora o planejamento anual fosse coletivo, os planos de aula eram elaborados individualmente pelo professor, sem considerar os conhecimentos prvios dos alunos e a contextualizao da escola. As orientaes didticas e os materiais de apoio eram insuficientes, os espaos precrios, os perodos de planejamento no eram sistematizados e a aprendizagem nem sempre se concretizava em razo dos improvisos. Alm disso, havia acmulo de funes para o professor, como por exemplo, preparar a merenda, secretariar e executar servios de zeladoria. Todo esse conjunto de fatores, relacionados falta de estrutura, capacitao, conhecimento prvio e suporte poderia estar contribuindo para os resultados apresentados na escola quanto ao rendimento, conforme os ndices verificados.

PROjETO dE INTERVENO PEdAggIcADiante do cenrio diagnosticado em que se apontou que a deficincia na execuo do planejamento escolar, constitui-se numa das causas mais impactantes do alto ndice de reprovao verificado, e com vistas promoo de uma mudana significativa na reduo do nmero de reprovaes, elaborou-se o Projeto de Interveno Pedaggica. O Projeto de Interveno Pedaggica sobre Planejamento Escolar foi elaborado coletivamente pelos docentes das escolas multisseriadas da rede municipal de ensino e pelas coordenadoras pedaggicas da Secretaria Municipal de Educao e Cultura de Pimenta Bueno. O objetivo principal deste projeto sistematizar o Planejamento Escolar a fim de promover a melhoria do Aproveitamento Escolar, minimizar o nmero de reprovaes entre os alunos e elevar a qualidade do ensino oferecido na rede municipal de ensino. O projeto de Interveno sobre o Planejamento escolar foi estruturado e desenvolvido de acordo com as seguintes estratgias: Estruturao da ementa, selecionando-se contedos significativos, com introduo da prtica da interdisciplinaridade, para os alunos, levando-se em considerao o contexto e os conhecimentos prvios dos mesmos;

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A matriz curricular foi readequada: I. Os Procedimentos didticos foram determinados em consonncia com a metodologia do Programa da Escola Ativa considerando que a metodologia do programa voltada para a educao do campo; II. Incorporou-se tambm um rol de proposies de atividades a serem aplicadas aos alunos, considerando-se as TIs -Trabalhos Individuais dos cursistas do Programa Pr-Letramento, que so elaboradas pelos professores, analisadas em grupo, socializadas e aplicadas s salas de aula com acompanhamento das tutoras do programa; III. Definiu-se com clareza os objetivos e as habilidades a serem alcanadas; IV. Reorganizou-se os instrumentais de avaliao do Aproveitamento Escolar; V. Por meio de estratgia coletiva, organizaram-se os planos de ensino por disciplina, o que racionalizou a elaborao dos planos de aulas. Reorganizao do horrio de planejamento com base na LEI MUNICIPAL N. 1.380/2007, que estabelece em seu Art. 4 XI um perodo reservado ao professor, includo em sua carga horria, destinado a estudos, planejamento e avaliao do trabalho discente; Estabelecimento de um cronograma de capacitao para o professor; Monitoramento por parte da coordenadora pedaggica, do desempenho escolar do aluno e da interao da comunidade, alm do acompanhamento do planejamento das aulas ; Disponibilizao de recursos didtico-pedaggicos necessrios; Disponibilizao de viatura para o monitoramento das escolas rurais; Execuo de aes motivadoras para a participao da comunidade; Estabelecimento de metas progressivas de aprovao do aluno at o alcance da mdia do IDEB; Definio dos instrumentos de avaliao do Projeto de Interveno Pedaggica, por meio de indicadores quantitativos e qualitativos, tais como ndice de freqncia e aproveitamento escolar do aluno, de participao da comunidade e da qualificao profissional do professor.

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cONSIdERAES fINAISObservando a trajetria da execuo do Projeto de Interveno pedaggica desde a sua concepo, em 2008, at meados de maio de 2009, podem-se vislumbrar conquistas e dificuldades, pois uma interveno para se efetivar necessita, mais do que ideologia, de recursos humanos motivados, alm de financeiros, para atender instrumentalizao necessria, envolvimento e comprometimento dos atores do processo. A estruturao da ementa, selecionando-se contedos significativos, com introduo da prtica da interdisciplinaridade e a readequao da matriz curricular favorece que a interao escola-aluno resulte no alcance de objetivos afins. Esse trabalho tambm racionaliza o planejamento das aulas, pois os instrumentos esto contidos na matriz, e ao professor, cabe apenas a seleo do que vai trabalhar em cada aula, respeitando a sequenciao da prtica pedaggica, e caso seja necessrio, efetuar a implementao de procedimentos didticos. Alm do mais a adoo de metodologia voltada para a educao do campo, resultou na ressignificao para toda a comunidade, atendendo s expectativas da realidade. Outro benefcio constatado foi a incorporao da aplicao das atividades denominadas Tecnologias de Informao (TIs), do programa PrLetramento, do Ministrio da Educao, que so planejadas pelo professor e tem o acompanhamento das tutoras durante a capacitao, o que tem contribudo para a motivao dos alunos, pois as mesmas aliam a teoria pratica cotidiana dos mesmos. Ademais com a reorganizao do horrio de planejamento, os professores cujos contratos so de 40 horas, passam a trabalhar 20 horas em sala e 20 horas distribudas em 12 horas para planejamento, 4 horas para reforo escolar e 4 horas para formao continuada/capacitao. Alm disso, no perodo em que ocorrem as capacitaes ou planejamento escolar conjunto, cada professor recebe dirias para deslocamento e alimentao. H disponibilidade de alojamento para os que facultam pelo mesmo e mais uma coordenadora pedaggica para acompanhamento das atividades docentes. A partir do pressuposto de que a escola reflete no seu aspecto externo e no interno, as concepes de educao, reformou-se a escola, tornando-a mais atrativa e confortvel. A infra-estrutura necessria tambm foi melhorada. Organizaram-se espaos especficos para Cantinhos de aprendizagem. Para que o professor possa concretizar o planejado adquiriu-se

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um kit contendo 21 itens, como: Trax do corpo humano, globo, mapas, esqueleto desmontvel, dicionrio, jogos, pincis, tintas, material dourado, etc. e 01 mimegrafo. Como agente participativa do processo do planejamento escolar, a comunidade que se mantinha aptica e passiva diante da conduo do processo ensino-aprendizagem repetindo modelos preestabelecidos e prontos passa a atuar positivamente, enriquecendo o processo com os seus saberes. Posto que haja mais aspectos positivos do que negativos na interveno, h que se ressaltar que ainda se faz necessrio o aperfeioamento da prtica pedaggica e da busca permanente do envolvimento eficaz dos atores. Em virtude dos fatos mencionados, acredita-se que a interveno tem contribudo para a melhoria do planejamento escolar, oferecendo subsdios para a sua constante implementao.

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