Número 0
Estudo apoiado (Pag 3): por Eloisa Semedo,
técnica do Projecto Formar Inserir
Dinamização Comunitária (Pag 5): por Paula
Tavares, técnica do Projecto Formar Inserir
ENTREVISTA
Grupo de Dança «Nu Ta Kaba Ku Ês» (Pag 6)
Zé Barros simboliza o orgulho do Bairro
Data: Abril 2011
Uma janela com vista para a Amadora em movimento
por Carlos Tavares Pina, técnico do
Projecto Formar Inserir (Pag 8)
O Newsletter BSF terá uma
edição mensal, com duas ver-
tentes – impresso e em for-
mato digital. Pretende-se que
o mesmo seja um canal de
comunicação local e positivo,
capaz de acelerar no bairro a
apropriação de conhecimento e informação de alcance global.
EDGAR: bio (Pag 7)
DJAGAS
Canto Hip-hop por gosto (Pag 4)
Sentes-te confortável quando estás com a farda das Forças Armadas?
José Barros (JB): Sim, confortável e orgulhoso
Orgulhoso porquê?
JB: Porque sinto que estou a ser útil para o meu país e para o mundo, e este senti-
mento eleva a minha auto-estima e faz-me sentir capaz de enfrentar e vencer desa-
fios e de sonhar com grandes glórias.
A vida militar faz-te feliz?
JB: Sim faz-me muito feliz. Mas, como tudo na vida há momentos bons e maus.
Quando surgiu o bichinho pela vida profissional militar?
JB: Tenho amigos que já lá estavam e fiquei curioso. Mas a maior influência foi
nosso cabo Ferreira mais conhecido por Guedes aqui mesmo do Bairro Santa Filo-
mena, também comando e também com várias missões.
Qual é o nome da missão da NATO que participaste recentemente?
JB: A missão em que participei foi missão de OMLT-QUARNIÇÃO
Porquê este nome?
JB: É esse nome por ser uma missão de escolta e protecção a militares portugueses e não só. Desde praças a oficiais
Conta-nos como é que correu a missão no Afeganistão?
JB: Foi uma experiência nova e única onde aprendi muito e vi muita coisa boa, mas também vi coisas arrepiantes. Nestas mis-
sões que os nossos mais íntimos sentimentos se revelam.
Qual é a vossa margem de improvisação numa missão dessas? Ou, tudo
que fazem são milimetricamente trienados?
JB: A improvisação é evitada ao máximo porque seguimos ou tentamos seguir sem-
pre as naipes em vigor, mas caso aconteça algo de muito arriscado e que ponham
em causa a vida humana e consoante a situação, a improvisação poderá ser inevitá-
vel e importante para salvar vidas.
Treinam muito?
Sim treinamos imenso
Numa missão destas têm tempo para fazerem
outras coisas que a vida nos proporciona?
JB: Se a missão assim o permitir, sim [riso].
Na tua vida militar qual foi o momento ou acção
que mais prazer te deu?
JB: O curso de comandos e a entrega da boina Coman-
do.
Porquê?
JB: Porque não tinha a noção do que iria fazer nem o
que me esperava, e com o curso adquiri conhecimentos
e competências que me permite enfrentar e superar os
mais diversos desafios da vida.
Tens alguma figura no mundo que te inspira? JB: Tenho! O meu pai.
Cresceste no BSF. Gostas de viver no BSF? JB: Sim, nascido e criado. Sempre gostei de viver aqui.
José Domingos Fernandes Barros, 27 anos, nasceu em Portugal, na Freguesia de São Jorge de Arroios, filho de pais cabo-verdianos, cresceu no Bairro Santa Filomena — Amadora.
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Sim, nascido e criado em
Portugal e sempre gostei
de viver aqui no BSF
Preocupa-te o olhar dos outros e a ideia que têm de ti? JB: Não! Agora não, mas já me preocupou…
Consideras-te uma referência para os jovens do BSF?
Digamos que sim [riso].
Vives à procura de sonhos ou da fama? JB: Fama não, mas já passei por fases em que procurava sonhos e
fama. Agora penso em ser apenas feliz e quero ser muito feliz, mas
sem pisar os outros, é claro.
Qual é o teu grande sonho? JB: Ser jogador de futebol profissional.
Quais são os projectos para o futuro depois desta missão
arriscada no Afeganistão?
JB: Não sei só o futuro dirá
Como é que te imaginas daqui a 5 anos?
JB: Também não sei, mas espero estar de bem com a vida e vou fazer por isso.
Estudo Apoiado: Retrospectiva sobre acções implementadas e perspectivas
parques naturais, Monumentos históri-
cos, quintas pedagógicas, cinemas etc.
E também dentro desta
actividade, Estudo Apoia-
do temos algumas activi-
dades lúdicas pedagógi-
cas, jogos pedagógicos,
trabalhos manuais, dese-
nhos (livres ou temáticos),
contos e entre outras que
os próprios jovens/
crianças propõem, etc.
De momento já temos um
espaço próprio para reali-
zar o Estudo Apoiado,
adequado e mais atractivo para realiza-
ção dessa actividade, envolvendo mais
jovens/crianças.
Para concluir, vou referenciar que para
além desta actividade temos Acompanha-
mento Escolar Personalizado e Ocupação
dos Tempos Livres, realizada por mim e
outras realizadas pelos meus colegas na
Associação Espaço Jovem.
Para finalizar, saliento o facto muito
importante que é: dos 32 jovens/crianças
que teve Estudo Apoiado e foi acompanha-
da no seu percurso escolar, transitaram de
ano 30 e somente 2 desses jovens que não
conseguiram ter sucesso ou seja só tivemos
6% de taxa de insucessos escolares compa-
rando com os 94% do caso de sucessos esco-
lares.
Neste ano lectivo
2010/11 estamos
acompanhar 43
jovens que são do 2º
ciclo (do 5º até 9º
ano); 15 crianças do
1º ciclo; e alguns
(não tenho números
exactos) que estão a
fazer RVCC e
outros jovens ainda
que estão a fazer cursos profissionalizados,
que me procura para realizar e pesquisar
para trabalhos. A perspectiva para este
ano lectiva é alta, tanto por parte dos
jovens como também da minha parte para
alcançar o sucesso escolar. Deste modo
temos nos esforçado e trabalhando muito
para conseguir este êxito.
E também não menos importante,
quero-vos convidar e dizer-vos que as
actividades realizadas com a Equipa do projecto Formar Inserir na Asso-
ciação Espaço Jovem são muito fixe
e divertidas e que se pode e dá para
conciliar o lazer com o escolar.
Eloisa Semedo (Isa)
Técnica do Projecto Formar Inserir
O Estudo Apoiado tem como objectivo a inclu-
são social de
crianças e jovens
provenientes de
contextos socioe-
conómicos mais
vulneráveis, tem
em vista a igual-
dade de oportu-
nidades e o refor-
ço da coesão
social e reduzir o
absentismo e
insucesso escolar
desses mesmos
jovens/crianças,
Assim sendo, essa actividade é desenvolvida
com intuito de dar respostas a uma das áreas
estratégicas de intervenção do Programa
Escolhas que é área de inclusão escolar e edu-
cação não formal. Esta actividade é frequenta-
do pelos com os jovens/crianças do 1º, 2º e 3º
ciclo, dos 6 aos 24 anos.
Os Pontos positivos dessa actividade, é por ser
uma actividade não formal em que opta por
trabalhar competências não manifestadas,
enquadrar os jovens numa dinâmica escolar
mais interactiva, prática esta, que trabalha a
dinâmica do grupo, solidariedade, inter-ajuda,
e auto-confiança tendo sempre como foco acti-
vidades de âmbito culturais/sociais realizadas
fora do espaço físico da Associação com
jovens /crianças que estão inscritos no projec-
to, fazendo com que eles se deslocam para
outro meio social diferente do seu meio fami-
liar/vizinhança que eles estão costumado a
frequentar na sua vida social. Essas activida-
des extra académicas englobam a ida ao tea-
tro, aos concertos (como por exemplo ida ao
concerto do jazz), visitas aos museus e aos
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A perseverança associada à extraordinária capacidade de resiliência, e a pai-
xão pelo futebol e pela música fazem do Lucílio Manuel Moreira Almeida
(Djagas) um jovem referência para o projecto Formar Inserir. “Adoro o nome
que tenho e a minha família tem orgulho no nome que me deram [riso]”.
Sente-se muito orgulho na família que tem, apesar de lembrar com desagrado
que quando era criança não teve muito apoio dos pais nos trabalhos de casa.
Mas, sempre compreendeu a situação dos pais, e explica que para além deles
serem analfabetos, sobravam-lhes muito pouco tempo para os filhos entre as
azáfamas para manter o emprego e o nível de rendimento familiar e as lides
domésticas. Entretanto, recorda com
agrado que estudou numa boa escola e
sentia-se muito feliz com os colegas e
que nunca teve ilusões, sempre vestiu
as roupas que os pais puderam comprar.
Como maioria das crianças, o Djagas
sonhava ser jogador de futebol, até por-
que para ele, praticar futebol foi sempre
um refúgio a muitos problemas que
enfrentou durante a infância e principalmente durante a fase da adolescência.
Acho que o futebol continua a ser um bom mecanismo de defesa
para as crianças com dificuldade de integração social. “Tomemos o
Nani como referência! Ele foi do BSF! [riso]. Precisamos promover
mais prática de futebol no BSF!”
Na escola procurei sempre jogar bem a bola todos os dias e tive
muito apoio dos professores. Aliás, recordo sempre com alegria e dá
-me um certo gozo falar nos bons momentos que o futebol me pro-
porcionou. Por exemplo, não esqueço da primeira vez que fui jogar
no torneio inter-escolas e o professor demonstrou muita confiança
em mim, apostou em mim e chegamos até a final do torneio. Foi
pena termos sido derrotados no final. Éramos melhor [riso]. Aha!
Mas, depois fomos jogar no torneio no Complexo Monte da Galega e
fomos campeões.
É claro que também recordo de coisas menos boas na escola. Por
exemplo, recordo-me de uma professora na primária que reprovou-
me, eu e uma colega de raça negra, ainda hoje e com algum distan-
ciamento continuo a achar que não havia nenhuma razão objectiva
para o nosso chumbo, a não ser o facto de éramos dois negros da
turma - estávamos no terceiro ano, foi injusta a professora, ela
aprovou todos os colegas cau-
casianos, tendo eu esforçado muito para conseguir o meu objectivo, mas enfim,
consegui ultrapassar aquele momento difícil e a prática do futebol ajudou-me e
muito naquela altura. É claro, conjuntamente com o apoio da minha família. Por
isso, procuro relacionar bem com a minha família, de uma forma alegre, evito
prejudicá-la quando estou em dificuldade, isto é evito fazer da minha família
bode expiatório, para que essa alegria da minha família nunca acabe.
FUTURO: espero e trabalho para que corra tudo bem ao longo do meu percurso.
Estou a fazer um esforço para alcançar os meus objectivos, neste momento conti-
nuo a estudar, canto Hip-hop por gosto, e tive recentemente um filho que adoro.
O meu filho vai me obrigar a um esforço redobrado para poder atingir os meus
objectivos escolar e profissional, e poder ser um bom pai e uma referência para o
meu filho e para as outras crianças.
Um abraço amigo para todos os que gostam, mas também para aqueles que even-
tualmente não gostam de mim.....
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Lucílio Manuel Moreira
Almeida (DJAGAS) um
dos jovens referência
no projecto Formar
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veio realizar
nas vésperas
da Pascoa de
2010. O evento
“Viva o Hip-
Hop” foi um
grande sucesso
no BSF!
Com a chegada
do verão de
2010 promove-
mos e incenti-
vamos várias
actividades, nomeadamente através do
grupo de Futebol Feminino, do grupo
comunitário, dos grupos de dança, da
comemoração do Dia da Criança com a
visita a Kidzania que foi um dia bem
passado com as nossas crianças na
presença de dois dos ídolos do futebol
Português (Luís Figo e Sá Pinto).
Também promovemos a participação
na marcha contra a fome com 10 dos
nossos jovens.
Iniciamos o campo de férias com as
idas a praia, museus, teatro e muitas
diversões. As idas a praia foram inte-
ressantes, pois fazemo-las quase sem-
pre de transporte publico. A ida a pis-
Logo na primeira
sessão de esclare-
cimento com os
jovens sobre o
Projecto Formar
Inserir, a primei-
ra questão que me
ocorreu foi: o que
é que os jovens
achavam dos dias
passados no BSF,
(e a resposta foi
unânime – “muito
parados”). Então
perguntei, que tal uma festa de convívio?
Algo descontraído só para começar a dinâ-
mica? Com a concordância de todos organi-
zamos um pequeno convívio no dia 6 de
Março de 2010, onde apareceram um grupo
significativo de jovens (destinatários e bene-
ficiário do projecto), foi bastante profícuo e
constituí o inicio das várias actividades rea-
lizadas.
A seguir surgiu o DESAFIO LIMPAR POR-
TUGAL. A realização desta actividade dei-
xou-nos completamente sensibilizada com a
atitude dos jovens. Para começar falamos
com eles na rua e de forma muito informal
em que explicamos o porquê da actividade,
depois pedimos que se reuníssemos na
Associação, e a resposta foi daqui a 10min
vamos lá. Mas, estávamos convencidos de
que não iriam, mas para o nosso espanto
cerca de 5 minutos depois vimos subir as
escadas mais de 15 jovens quando só tínha-
mos falado com 3. [Foi um momento mar-
cante na nossa actividade].
Entusiasmados com a ideia surgiu do meio
daquela conversa animada dois comentários
que me chamou atenção. “Assim
não ficamos aqui sem fazer
nada!”. “Assim não temos que ir
para a zona dos outros em que as
vezes podem sair confusão!”. Até
ao dia da actividade estava um
pouco receosa porque combinei
encontrarmos às 10h30. Entre-
tanto, devo confessar que tive
algum receio de que os jovens
não pudessem levantar àquela
hora. Mas, no dia 20 Março de
2010 às 10h30 da manhã chegou
o primeiro grupo e assim sucessi-
vamente e demos inicio à activi-
dade de limpeza do nosso bairro. Estiveram
presentes cerca de meia centena de jovens,
entre eles estavam alguns cantores de Hip-
Hop e no meio daquela agitação e festa,
surgiu a ideia do evento de Hip-Hop, que
cina de Santarém também foi divertida e dife-
rente dos passeios habituais (tivemos 55 parti-
cipantes), e tivemos o prazer de reunir alguns
pais para que participassem nesta actividade
no intuito de pais e filhos convivessem um pou-
co mais, tendo em conta que hoje em dia é cada
vez mais difícil devido a carga horária de quem
trabalha.
Enfim, durante o ano de 2010, dinamizamos e
participamos com os nossos jovens em vários
intercâmbios, promovemos encaminhamento
dos jovens para os cursos profissio-
nais onde se efectuou várias inscri-
ções, obviamente que nem todas elas
foram bem sucedidas, porque o maior
problema aqui é que as respostas são
demoradas e estes jovens desmoti-
vam-se facilmente e até voltar a con-
vencê-los de que é esse o caminho
que devem seguir temos que percor-
rer um longo caminho novamente. É
de facto lamentável que o sistema de
reintegração escolar e de formação
profissional seja lento e muito buro-
crático.
As ideias vão surgindo para novas acções que
enquadram nas actividades do projecto, como
por exemplo: alargar as nossas sessões cívicas
para as nossas crianças e os nossos idosos, e
envolver estes últimos nas nossas actividades
de ocupação de tempos livres; disseminar e
desenvolver de uma forma mais consistente e
rica as actividades desportivas, culturais e
lúdicas com os destinatários/beneficiários etc.
Mas, deparamos sempre com uma enorme bar-
reira, isto é, a inexistência de infra-estruturas
mínimas no bairro. A única infra-estrutura
(Associação Mãos Unidos) que existia no bairro
e que o projecto usufruía para as suas activida-
des, embora informalmente, foi demolida
recentemente depois da sua apropriação pela
Câmara Municipal da Amadora. Por isso, um
dos grandes desafios que nos coloca é transfor-
mar o espaço agora limpo no âmbito da campa-
nha limpar Portugal num ringue multi-uso,
pelo que deixamos aqui um repto para todos os
residentes do BSF e a todos aqueles que real-
mente se interessam pelo BSF para envolver e
nos ajuda a superar este nosso/vosso grande
desafio.
Dinamização comunitária e novos
desenvolvimentos a promover
Paula Tavares técnica do Projecto
Formar Inserir
Onde é que ensaiam?
J: já chegamos a ensaiar nas nossas casas,
na rua e só depois das pessoas verem o nosso
talento é que finalmente tivemos um espaço
em condições.
K: Costumávamos ensaiar em casa, um “dia
aqui outro ali”, mas depois o Espaço Jovem
ofereceram-nos um espaço onde podíamos
reunir para ensaiar.
L: Na escolinha “ex-Espaço Criança”
Têm algum grupo de dança ou artista
que vos inspiram?
J: Sim como todos os outros grupos é o grupo
do “Blak Gold”.
K: Eu também acho que é “Blak Gold”
L: Eu não
Dos espectáculos que já produziram
qual foi aquele que mais prazer vos
deu?
J: Foi em Lagos (Algarve)
K: Concordo, foi quando fomos actuar em
Lagos
L: Também acho
Porquê?
K: Pela primeira vez dançamos num palco a sério e conse-
guimos sentir aquela vibração e também tinham boas condi-
ções “fumos, luzes”…
L: Também tinha um público espectacular!
Sentem-se confortáveis
quando estão no palco?
Jessica (J): sim.
Katia (K): Sentimos muito
confortável
Leila (L): Sim, muito
A dança faz-vos feliz?
J: sim.
Quando surgiu o bichi-
nho pela dança?
J: Eu acho que o bichinho
surgiu dentro de mim não
sei porque mas a dança para
mim é algo que quando eu
estou em cima do palco tudo
muda tudo é feliz na vida.
K: Bem, eu acho que o bichi-
nho surgiu dentro da barriga
da minha mãe ou seja desde
pequena.
L: É verdade, desde de
pequenas
Qual é o nome do vosso grupo?
J: Nu Ta Kaba Ku Es.
Porquê este nome?
J: Porque temos orgulho, confiança e prazer naquilo que
fazemos.
K: O nosso grupo tem esse nome porque como o nome diz “
Vamos acabar com eles” e achamos um nome comovente e
adequado para nós.
Contam-nos como é que surgiu o Grupo?
J: Juntamos todas um dia e resolvemos fazer um grupo de
dança porque achamos que temos talento.
K: Desde de pequenas que assistíamos grupos a dançar
em festas etc. Até que um dia resolvemos criar o nosso
próprio grupo e mostrar as pessoas àquilo que sabemos
fazer e que também existem coisas boas no nosso bairro.
L: Como éramos únicas que não tínhamos um grupo deci-
dimos formar um grupo de dança também.
Qual é a vossa margem de improvisação no palco?
Ou, tudo que apresentam nos palcos são milimetri-
camente ensaiados?
J: claro que são milimetricamente ensaiados.
L: É todo ensaiado antes dos espectáculos.
Ou se tem o dom ou não se tem para dança?
J: é preciso trabalhar e muita força de vontade
K: Temos que ter dom
Ensaiam muito?
J: sim
Entrevista: Grupo de dança “Nu Ta Kaba Ku Ês”
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Contam-nos um episódio engraçado que se tenha passado convosco num dos espectáculos de dança?
K: Acho que o episódio mais engraçado foi quando fomos actuar em Lagos, em frente ao palco havia um prédio e
enquanto estávamos a dançar víamos as nossas figuras na sombra e como só haviam lá algarvios não percebiam
claramente o que é que estávamos a dançar e quando reparei estavam imitar a nossa coreografia até que uma pes-
soa do público subiu ao palco e dançou connosco [risos].
Como é que te sentiram?
K: “Credo” muita emoção!
L: Bem, rimos e divertimos muito
Cresceram no Bairro Santa Filomena. Gostam de viver no BSF?
J: Gosto do Bairro
K: Sim crescemos no bairro. Eu adoro viver no BSF.
L: Sim, nascemos aqui…
Preocupam o olhar dos outros e a ideia que têm de vocês?
K: Não
Consideram-se, jovens seguras?
K: Yeess **
Vivem à procura de sonhos ou de fama?
J: Ambos
K: Sim
L: Pois, as duas coisas
Qual é o vosso grande sonho?
K: Conseguirmos alcançar a fama …
L: Ter muita fama e um grande grupo de dança
Quais são os projectos para o futuro do vosso grupo?
K: Muito bons porque agora fomos para um grupo com mais condições e onde nos apoiam mais.
Como é que cada uma de vocês se imagina daqui a 5 anos?
K: Só o tempo nos dirá…
L: Num grupo de dança profissional, com uma ensaiadora profissional e um ginásio para os ensaios
Sou Edgar Semedo de Almeida, tenho 16 anos, nasci no dia 16-02-1995, no hospital
de São Jorge de Arroios em Lisboa, Portugal.
Não sei porquê que me chamo assim. Talvez por não ser um nome assim tão usado
pelos portugueses. Por ser um nome muito raro, não vejo assim tanta gente a gri-
tar por esse nome nas ruas do país.
Recordo-me com alegria o que passei na minha vida escolar primária e até gostava
de lá regressar para sentir mais uma vez o gosto de aprender tudo de novo e voltar
a passar um dos melhores momentos da minha vida. É um sítio que nunca irei
esquecer, principalmente dos meus “melhores” amigos que encontrei nessa parte
da vida. São saudades da infância e do começo de uma vida como estudante.
(Cont. Pag 8)
Jogo na Outorela- Fotball By Carlos
Queiroz, e o meu grande objectivo é
jogar no BENFICA
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Uma janela com vista para a Amadora em movimento por Carlos Tavares Pina, técnico do Projecto
Formar Inserir
O Bairro Santa Filomena (BSF) fica
situado na freguesia da Mina, concelho
da Amadora e existe há mais de 30
anos, é constituído na sua maioria por
habitações degradadas nas quais habi-
tam imigrantes (cabo-verdianos e os
seus descendentes na sua maioria) de
várias gerações.
Mais de 50% da população do BSF tem
menos de 30 anos. Uma comunidade
marcadamente jovem e em constante
renovação, mas altamente vulnerável,
com falta de infra-estruturas de supor-
te à infância, jovens e aos idosos, onde
a Associação Espaço Jovem tem sido motora de grande parte do traba-
lho desenvolvido com esta população.
Neste contexto, o Projecto Formar Inserir, promovido e gerido pela Asso-
ciação Espaço Jovem e que constitui um dos 130 projectos da 4ª geração
do Programa Escolhas espalhados pelo país, cujo lema (“promover a
igualdade de oportunidade para uma escolha com futuro”) não deixa
ninguém indiferente, poderá ser uma grande oportunidade para trans-
formação e desenvolvimento das capacidades individuais, mas sobretu-
do um excelente veículo para mobilização colectiva das pessoas a parti-
ciparem na sua comunidade e sentirem que são úteis.
Formar Inserir é um projecto de continuação (vindo da geração anterior
do Programa Escolhas), mas estamos convencidos de que se forem bem
implementadas as cinco áreas estratégicas de intervenção definidas no
regulamento desta 4ª geração: i) Inclusão escolar e educação não formal;
ii) Formação profissional e empregabilidade; iii) Dinamiza-
ção comunitária e cidadania; iv) Inclusão digital; v)
Empreendedorismo e capacitação, de certeza que elas pode-
rão catapultar o tão propalado
sentimento de pertença para o
da diversidade e da cidadania
activa.
Este Newsletter, é uma iniciati-
va que se enquadra na medida
iv), uma medida transversal a
todas as actividades do projec-
to, na qual se propõe desmistifi-
car as novas tecnologias junto
dos jovens e suas famílias, tra-
balhar competências pessoais e
profissionais através da disse-
minação e desenvolvimento da
literacia digital no âmbito do
Centro de Inclusão Digital,
dinamizando e potenciando em
simultâneo ateliers de multimédia e de Internet.
O Newsletter BSF terá uma edição mensal, com duas ver-
tentes – impresso, e em formato digital disponibilizado em
http://formarinserir.programaescolhas.pt e futuramente no
site BSF em construção, e pretende-se que o mesmo seja um
canal de comunicação local e positivo, capaz de acelerar no
bairro a apropriação de conhecimento e informação de alcan-
ce global, permitindo simultaneamente divulgar os talentos
e as variadíssimas realizações que diariamente acontecem
no bairro.
Por isso, apelamos aqui a participação e o envolvimento de
toda a população do bairro, porque excepcionalmente ocupa-
mos este espaço que está reservado exclusivamente aos des-
tinatários e beneficiários do Projecto (crianças, jovens e os
seus familiares).
Recordo-me do professor que tive logo no meu primeiro ano na escola. Chamava-se Paulo,
era um professor muito rígido em termos de comportamento e de notas. Este professor
marcou-me de duas formas, isto é pela positiva como pela negativa. A positiva é que ele
era um professor que metia “medo” aos alunos, apertava connosco para estudar porque
conhecimento é um dos mais importantes factores para mais tarde podermos ter o que
sempre sonhamos. E pela negativa, é que ele era um professor muito mau. Quando não
faziam os trabalhos de casa ele dava-nos carolos e muitos “calduços”. Não podíamos falar
que éramos logo alvos de levar com o apagador.
Estou no último ano do 3º ciclo, e já se nota em mim alguma ansiedade para frequentar o
ensino secundário, mas está para breve só falta mais este ano para completar o ensino
básico e ir para o ensino secundário. Tenho um grande ideal, mas de momento não quero
revelar porque é um sonho que estou a tentar realizar da melhor forma possível esforçan-
do-me todos os dias para concretizá-lo.
Neste momento, nesta fase da minha vida esta a correr tudo bem com o que eu mais gosto
de fazer que é jogar futebol. Estou a esforçar ao máximo para atingir um dos meus objec-
tivos - jogar no Benfica, e se tudo correr bem … vou conseguir! Com a escola é que preciso
de aplicar mais para superar algumas deficiências, mas vou conseguir porque não é nada
que não se supere.
A relação que tenho com a minha família é uma relação que muita gente gostava de ter,
apesar de haver algumas discussões, mas é normal haver discussões numa família. Tenho uma relação muito próxima com os
meus familiares, dou-me bem com todos e sinto-me muito feliz ao lado deles.
Quero agradecer ao meu Pai por me ter posto neste mundo, a minha Tia que me “aturou” durante este tempo todo, as minhas
irmãs e às pessoas que eu mais amo neste momento.