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Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Universidade Técnica de Lisboa

PROJECTO DE DISSERTAÇÃO CO#DUCE#TE À OBTE#ÇÂO DO GRAU DE MESTRE EM RELAÇÔES I#TER#ACIO#AIS

Especialização de Segurança e Informações

Orientador: Professor Doutor Nuno Gonçalo Canas Mendes

As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão.

Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político.

Marco José Valente Mendes

Lisboa 2011

Dissertação de Mestrado As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

We could have talked about the science of intelligence, but . . . the science of intelligence is yet to be invented.”

Charles Allen

“By definition, intelligence deals with the unclear, the unknown, and the deliberately hidden.”

George Tenet

“Intelligence is a special category of knowledge.”

Sherman Kent

Dissertação de Mestrado As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

AGRADECIME#TOS

Gostaríamos de agradecer, em primeiro lugar, aos meus país pelo sacrifício, pela

ajuda e dedicação em mim empreendida. Pela paciência e compreensão de nove anos de

aleatória presença em suas vidas.

Em segundo lugar, gostaríamos de agradecer ao Professor Cat. Doutor António de

Sousa Lara, coordenador do Mestrado em Segurança e Informações, e ao Professor

Doutor Nuno Canas Mendes, meu orientador de Mestrado, pela sua paciência,

pedagogia, dedicação e, sobretudo, pela sua orientação nas “rotas” da procura da

verdade científica. Deixo ainda uma especial gratidão aos contributos do Professor

Heitor Barras Romana e Professor Pedro Borges Graça, que despertaram em mim este

gosto pelo estudo das Informações.

Aos amigos, apresentamos caros agradecimentos por todo o apoio e

encorajamento cedido nos tempos de maior dúvida e cepticismo, fazendo questão de

enumerar agradecimentos especiais para: Dr. Pedro Andrade, Dr.ª Riddhi Jamnadas,

Steven Romão, Dr. Paulo Soska, Dr. Adolfo Rututu. Para a Sr.ª Glória Ramalho pelo

apoio cedido na biblioteca do Instituto. Para todos os demais colegas da minha Pós-

Graduação e Mestrado pela presença e companheirismo, faço votos de sucesso para

todos nos seus planos profissionais e pessoais.

Por último, ao ISCSP, em especial ao corpo docente da Licenciatura em Relações

Internacionais, da Pós-graduação em Segurança e Informações e do Mestrado na mesma

área de estudos, por tudo o que nos ensinaram e pelo espírito académico que nos

incutiram.

“Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua

dívida”

Séneca

Dissertação de Mestrado As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

Conteúdo

JUSTIFICAÇÃO DO TEMA ........................................................................................ 6

METODOLOGIA E QUADRO CO#CEPTUAL DE A#ÁLISE .......................... 3

OBJECTO E OBJECTIVOS DA TESE....................................................................... 4

METODOLOGIA APLICADA .................................................................................... 5

Pesquisa Documental e Teórica..................................................................................... 5

E#QUADRAME#TO CO#CEPTUAL....................................................................... 6

Estado .............................................................................................................................. 6

Poder e Poder Político .................................................................................................... 7

Política ............................................................................................................................. 9

Informações................................................................................................................... 10

Informações de Segurança........................................................................................... 13

Informações Estratégicas ............................................................................................. 14

Os Elementos das Informações.................................................................................... 16

Instrumentos /Técnicas de Recolha de Informação em Intelligence........................ 20

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS I#FORMAÇÕES EM PORTUGAL.................. 24

A História das Informações em Portugal ................................................................... 25

MODELOS DE REFERÊ#CIA ................................................................................ 34

Modelos de Referência ................................................................................................. 35

Análise Comparativa dos Modelos de Referência com Sistema de Informações Português....................................................................................................................... 46

QUADRO DE ACTUAÇÃO DOS SERVIÇOS CIVIS DE I#FORMAÇÕES EM PORTUGAL................................................................................................................. 53

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As Informações na actividade do Estado.................................................................... 54

As Informações vs a Investigação Criminal ............................................................... 57

Os Serviços de Informações e o Sistema Integrado de Segurança Interna ............. 58

Relação Analista vs Decisor Político ........................................................................... 60

A Visão dos Intervenientes .......................................................................................... 62

CO#SIDERAÇÕES FI#AIS....................................................................................... 69

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 74

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

Justificação do Tema

A presente elaboração teórica ressalta da minha incursão, no ido ano de 2007, ano

de término da Licenciatura em Relações Internacionais, variante de Segurança e

Informações, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Fruto de um ano

lectivo muito rico e desafiador, dada a natureza da área académica, comecei

paulatinamente a envolver-me e a aprofundar a minha predilecção pelas matérias caras

às Informações. Seguiram-se muitas leituras, trabalhos académicos, participação em

seminários que me adensaram ainda mais a curiosidade.

Um ano volvido, em 2008, não satisfeito com o enquadramento teórico recebido

nos estudos de Licenciatura, decidi inscrever-me na Pós-Graduação de Segurança e

Informações, leccionada no mesmo Instituto. O resultado de três trimestres de aulas, de

trocas de pontos de vista, de relacionamento com professores e colegas afectos às

Forças de Segurança ou Forças Armadas foram os propulsores deste trabalho tendente à

obtenção do Grau de Mestre, com o tema: “As Informações e o Poder Político em

Portugal. Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e

o Decisor Político”.

Toda a tese é executada tendo por base a recolha, tratamento e análise de

informação em fontes abertas, tendo optado por este meio para demonstrar a

possibilidade de, com base em informação acessível em fontes abertas, se construir um

exercício consequente sobre a realidade das Informações em Portugal. Porém, confesso

que no percurso de construção do mesmo, dei-me conta da parca atenção que é

conferida a estas temáticas, ousando mesmo afirmar que a pouca que é digna de realce

nos Media, acaba por estar investida de conotação negativa. Este é o resultado de uma

profunda cultura de segredo que envolve as actividades dos Serviços em Portugal, com

a adjuvante das tutelas políticas que pugnam pelo alheamento da opinião pública face às

actividades dos serviços.

Ao longo de anos de estudo sobre estas matérias, deparei-me com um profundo

desconhecimento a respeito das mesmas por parte do cidadão comum. As actividades do

Intelligence continuam a ser vislumbradas como actos próprios de uma certa Polícia

Política, que pairou entre nós, até meados da década de 70. É portanto um exercício

feito por um curioso que pugna para que os menos curiosos entendam qual a verdadeira

razão de ser destes Órgãos, que contribuem para a construção e formulação da nossa

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

política de segurança interna e externa. Ao longo do meu percurso profissional sempre

tentei desmistificar junto de colegas qual a natureza destas actividades, qual o

enquadramento e suma finalidade, tentando, de certa forma, demonstrar que as

actividades de Intelligence não são exclusivas dos Entes públicos, mas também uma

realidade cada vez mais presente no tecido empresarial. É portanto um tímido acto de

evangelização dos leigos que me são mais próximos, alertando-os para a preponderância

inegável dos assuntos relacionados com a defesa dos interesses estratégicos da nossa

Pátria.

É com o fito acima descrito que me proponho a desenvolver ao longo de cinco

capítulos, um trabalho que ilustre uma parte da realidade das Informações em Portugal.

Deste modo, em primeira linha, depararemos com o devido Enquadramento

Metodológico e respectivo Quadro Conceptual de Análise. Nesta fase, ilustro qual o

meu objecto de estudo, ou seja, referencio as motivações para a determinação do alvo de

estudo, a forma e o método como me propus a estudá-lo. Para que tal seja possível

arvorei um Quadro Conceptual essencial para delimitar o espaço de actuação dos

Serviços de Informações, enquanto actores presentes no Sistema Político de um Estado

Democrático como Portugal. Assim, neste módulo serão desenvolvidos os Conceitos de

Estado, Poder e Poder Político, Poder, Informações e seu circuito de Produção e

respectivos elementos. Com base num enquadramento teórico claro e compreensivo,

avancei para uma abordagem histórica do fenómeno das Informações em Portugal.

Num segundo capítulo debruço-me sobre a evolução histórica das Informações em

Portugal, tendo para esse fim definido “milestones” que enuncio: Da Fundação da

Nacionalidade a 1415; de 1415 à Declaração da Independência do Brasil em 1822; de

1822 à queda do Regime do Estado Novo em 1974. As referências históricas que verto

neste exercício tiveram como principal “role model” o contributo do General Pedro

Cardoso, prolífico na análise histórica dos nossos Serviços de Informações.

O cuidado em delinear um friso cronológico para as Informações Portuguesas, é

no meu entender, indispensável para compreender as dinâmicas e condicionantes que

actualmente pautam o funcionamento destas estruturas, sendo, ainda essencial, a análise

cuidada dos desenvolvimentos ocorridos no século XX.

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Num terceiro momento, avanço para a construção do que denominei como

modelos de referência. Nesta sessão do trabalho elaboro sucintamente sobre alguns

marcos da História da Intelligence Community1 americana e da Intelligence Machinery 2britânica, da sua constituição aos dias de hoje. No seguimento do enquadramento

histórico é feita a descrição da Arquitectura dos Órgãos dos Serviços de ambos os

Países.

O capítulo termina com uma análise comparativa que delineei entre os modelos de

referência e o Sistema de Informações da República Portuguesa. Este exercício

apresenta como fito: compreender como é que Países regulados por um sistema

democrático monitorizam as actividades de uma componente do Estado pautada pelo

secretismo das suas actividades, métodos, orçamentos, empenhamento de meios, entre

outros. Para tal fim, delineei uma matriz que espelha, numa primeira instância, os

mecanismos de controlo governamental, e num segundo tempo, os mecanismos

externos de fiscalização, criados para dignificar e suportar os primeiros, criando assim

mecanismos de “public disclosure” para com a sociedade civil, que é a principal

tributária da investidura de poder aos representantes políticos com responsabilidade de

tutelar as actividades do Estado.

A quarta parte do estudo é dedicada, num primeiro momento, ao desenhar da

actual estrutura das Informações em Portugal, sobretudo a sua Orgânica Jurídica,

escalpelizando a Organização dos Serviços, o seu relacionamento com as Tutelas e os

Organismos de Supervisão e Controlo. Tenta-se construir um modelo que permita

entender as dinâmicas que ressaltam do Enquadramento Jurídico, que espartilham a

actuação dos Serviços de Informações face às Forças de Segurança e Investigação

Criminal.

Ainda no âmbito deste capítulo, proponho-me a analisar um conjunto de

testemunhos de actores chave na realidade das Informações Portuguesas para tentar

deslindar as constantes e linhas de força que pautam as actividades dos Serviços de

Informações. Análise essa feita com base em Entrevistas e Intervenções Públicas dos

responsáveis pelos serviços e, também, tendo por base a opinião que construí ao longo

destes quatro anos de labor em torno desta temática.

1 Terminologia utilizada para enquadrar todos os Serviços que colaboram para a Edificação do Sistema de Informações Americano. 2 Termo utilizado pelos especialistas de Intelligence britânicos para se referirem aos Serviços de Informações Britânicos

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

No quinto e último capítulo, apresento um conjunto de “leads” e considerações

sobre as tendências que se apresentam para a configuração futura dos nossos Serviços

de Informações, qual o quadro sistémico em que operam e operarão com a

complexificação das ameaças internas e externas ao nosso Estado, e de que maneira, no

meu entender, estes órgãos poderão colaborar com as Forças de Segurança e

Investigação Criminal para o mitigar do carácter evolutivo das ameaças a que o País

está exposto ao actuar como Actor num Sistema Internacional definido por uma

complexidade e indefinição crescentes.

I Parte

METODOLOGIA E QUADRO CONCEPTUAL DE ANÁLISE

“Todos têm o seu método tal como todos têm a sua loucura; mas só consideramos

sensato aquele cuja loucura coincide com a da maioria”

Miguel de Unamuno

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

Objecto e objectivos da Tese

Pretendemos com esta abordagem, oferecer uma reflexão concisa e precisa sobre a

realidade que configura o fenómeno d´ As Informações e o Poder Político em Portugal.

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor

Político.

É meu intento com esta elaboração teórica demonstrar como e de que maneira se

giza o relacionamento entre os Profissionais de Informações e os Decisores Políticos,

tendo como bases fundacionais do meu projecto de Estudo os legados teóricos do

General Pedro Cardoso, do académico e analista Sherman Kent de dalguns dos seus

acólitos, socorrendo-me, igualmente, da opinião de importantes actores portugueses no

campo da decisão política e das informações.

Proponho-me, ao longo dos cinco capítulos da Tese demonstrar quais as

condicionantes que delineiam a actuação dos Analistas de Informações enquanto

serviçais dos Decisores Políticos. Mais do que entender esta relação, de uma perspectiva

“bottom-down”, proponho-me, igualmente, a tentar analisar o fenómeno de uma óptica

“bottom-up”, conseguindo desta maneira enquadrar sistemicamente a dialéctica

relacional entre ambos os pólos. Aqui é meu intuito tentar dar resposta a uma primeira

questão de partida: O Trabalho do Analista de Informações contribui para a

formulação da decisão política. Adiante e seguindo a mesma lógica de levantamento de

hipóteses: Da interacção Analista – Decisor Político resultam sinergias para potenciar

a formulação da decisão. É com base nestas duas hipóteses que pretendo aferir se, no

caso Português, os Serviços de Informações e as Estruturas de Decisão Política são

cooperantes e compreensivas perante a actividade de ambos ou se, pelo contrário, há

uma matriz antagónica pautada pela incompreensão mútua.

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Metodologia Aplicada

Para a prossecução do presente trabalho seguimos a seguinte metodologia:

Pesquisa Documental e Teórica

Segundo o Professor Carlos Diogo Moreira, [A] pesquisa puramente empírica é

virtualmente impossível (...), o papel da teoria é tornar visível o invisível, definir

padrões e conferir significados aos tipos de observações que normalmente são

efectuadas pelos investigadores sociais quando estudam as sociedades e culturas [...]”3

Na realidade, para fruirmos da plena compreensão do tema a que nos propusemos

analisar, foi necessário recorrer a suportes documentais que nos permitissem uma total

percepção da praxiologia e conceitos utilizados. As fontes documentais mais utilizadas

foram os documentos escritos (dos quais salientamos as fontes escritas oficiais e

institucionais), de onde se destaca o recurso a documentos legais presentes e disponíveis

no Site da Assembleia da República; o recurso a publicações on-line da Janus, dos sites

institucionais do Ministério da Administração Interna, do Sistema de Informações da

República Portuguesa, dos seus braços SIS e SIED. De destacar a importância de

Publicações da Editora Diário de Bordo, nomeadamente a Edição Trimestral da Revista

Segurança & Defesa, cuja pertinência dos conteúdos se mostrou um preponderante

recurso para elaboração da minha tese, quer por um lado pelas entrevistas conduzidas a

Key-players das Informações em Portugal, quer por outro, pela excelência dos artigos

adstritos às temáticas da Segurança, Defesa e Informações, caras ao desenvolvimento

desta construção teórica.

Destaco ainda o recurso a um acervo bibliográfico vasto e conotado com as

matérias a aflorar, nomeadamente, obras com predomínio em temas da Ciência Política,

das Relações Internacionais, da Segurança e das Informações, recursos esses na sua

grande maioria em língua Inglesa dada a parca bibliografia existente na língua de

Camões sobre estes assuntos.

3 Moreira, Carlos Diogo, Planeamento e Estratégias de Intervenção Social, ISCSP, Lisboa, 1994, pp.19.

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Enquadramento Conceptual

O quadro teórico que se segue visa, sobretudo, dar o devido enquadramento ao

estudo que desenvolvo ao longo das cinco partes que se seguem. Desta maneira, perfilei

como conceitos vitais à compreensão do fenómeno estudado o Estado enquanto

realidade onde os fenómenos que afloro se verificam.

Como parte natural de uma Sociedade Organizada ressaltam os conceitos de

Poder e poder político, próprios de um povo socialmente constituído, que delega em

estruturas de poder competências funcionais conduzidas por aqueles que investimos de

poder político. Da relação destes três conceitos supra-mencionados decorre a Política,

entendida como a ciência que pilota os povos socialmente organizados, ou seja, o

conceito em causa é vital para a economia da tese, na medida em que o trabalho dos

Serviços de Informações são maioritariamente destinados à governação.

Em última linha, segue todo um constructo sobre Informações, essencial na minha

perspectiva para nos engajar no propósito da Tese, ou seja, o pleno entendimento das

actividades de Informações carece da sua definição nas vertentes interna e externa, no

explanar do ciclo que diz respeito à produção do Intelligence e, os não menos

importantes elementos que conduzem à sua elaboração.

Nas páginas que se seguem apresento definições para os conceitos caros a toda a

economia da Tese.

Estado

O conceito a aflorar é essencial para compreender o fenómeno que me proponho a

avaliar, sendo sob a lapela de um Estado social e juridicamente organizado, que surgem

corpos intermédios complexos que intermedeiam os processos decisionais. Desta

maneira, o Estado pode ser entendido como conjunto de instituições que regulam e de

apoio que têm soberania ao longo de um território definido e população. Um Estado é

uma Entidade organizada política, social e juridicamente, atendo-se a um determinado

território, onde usualmente a lei máxima é uma Constituição escrita e dirigida por um

governo que possui para ser reconhecido soberania tanto interna como externa, à boa

maneira Jean Bodin – “ O Estado é uma forma de organização da sociedade

estruturada de forma soberana num território bem definido, que se consolidou na

Europa a partir do séc.XV e que viria a atingir o modelo actual com a Revolução

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Francesa e o Estado-=ação no final do século XVIII (…) o Estado-=ação visa as

aspirações humanas fundamentais: a Segurança, a Prosperidade e o Bem-Estar ou

numa palavra, o Bem Comum´.”4

Segundo Marcelo Caetano, o Estado é constituído por um “povo fixado num

determinado território, de que é senhor, e que, dentro das fronteiras desse território,

institui, por autoridade própria, órgãos que elaborem as leis necessárias à vida

colectiva, e imponham a respectiva execução.”5

Indo ao encontro das ideias do Professor António de Sousa Lara, o Estado

Moderno “deriva da Polis da Antiga Grécia, da Cidade de Platão e de Aristóteles (…)

deriva inevitavelmente da matriz imperial da cidade de Roma, quer através do conceito

e da vivência da coisa pública, do seu Sistema fiscal, militar, administrativo e super

estrutural em geral, do estatuto de cidadania, do direito extensivo a uma comunidade

(…) da organização do poder político, administrativo e económico e social, da

utilização da Língua e da Cultura como complementos integradores da organização

política (…) 6 Ainda seguindo os ensinamentos do Professor Lara, tendo em mente o

teorizado por politólogos e constitucionalistas, o Estado é tido como “toda a população

de nacionais fixa num território, onde existe uma autoridade soberana que tem a missão

de assegurar a satisfação das necessidades colectivas, gerais e abstractas, de justiça,

segurança e bem estar material e espiritual”7

E é da existência de órgãos institucionais responsáveis pela segurança da vida

colectiva que surgem no aparelho de Estado Departamentos, Ministérios ou Secções

responsáveis pelo apoio à formulação da política quer, por um lado de cariz interno,

quer por outro a de matriz externa. É deste nível que ressaltam os Serviços de

Informações, desempenhando um papel importante à jusante da construção da decisão

política e de preponderante apoio iniciático à investigação criminal.

Poder e Poder Político Os conceitos supra seguem aglutinados na mesma deriva conceptual por se

tratarem de “almas gémeas”, ou seja, o poder é, de per si, a mater do

surgimento/afirmação de um povo que se apercebe da necessidade de se organizar em

4 In. Pensar a Segurança e Defesa, Coord. José Manuel Freire Nogueira, Ed. Cosmos, Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 2005, pp.28 5 Caetano, Marcello, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, 6.ª Edição, Coimbra: Almedina, 1996, pp.118 6 Lara, António de Sousa, Ciência Política, Estudo da Ordem e da Subversão, 3.ª Edição, Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2005, pps. 190 7 Op. cit, pp. 191

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prole de um bem entendido como comunitário sob a forma de uma direcção política,

consumando o designado poder político. Desta maneira o Poder é vislumbrado como

“habilidade ou capacidade de levarmos outros a fazer o que de outra forma não

fariam”8; seguindo a definição plasmada no dicionário de Relações Internacionais da

Editora Afrontamento, o fenómeno é descrito como o resultado “ de uma relação

desigual que permite a um actor obrigar outro a praticar uma acção que este não

realizaria sem a intervenção do primeiro.”9 É notório o carácter social do fenómeno, da

sua derivação relacional. O Poder é ainda descrito, segundo Adriano Moreira, como o

“objecto central da ciência política e que deve ser examinado com um critério

tridimensional: a sede do poder, a forma ou imagem, e a ideologia.”10 O saudoso

Professor Políbio Valente de Almeida descreveu o Poder como tendo “ muitas faces,

muitas componentes, como a cultura, a tecnologia, a economia, a força a fé.11” É neste

encalço que podemos dar outra perspectiva ao conceito, uma de maior alcance, falando

nos conceitos de Joseph Nye de Hard Power e Soft Power, também eles cambiantes do

poder com uma envolvente inter-estadual, com manifestações externas de poder

mediante a prática de actos internacionais pautados, por um lado pela violência/força,

por outro, através do diálogo e da negociação.

O poder político é entendido como a capacidade de um povo para constituir

órgãos próprios de governo e para exercer, nos quadros legalmente estabelecidos, a

autoridade num determinado território. O Professor Marcelo Caetano definia-o como “a

faculdade exercida por um povo de, por autoridade própria, instituir órgãos que

exerçam o senhorio de um território e nele criem e imponham normas jurídicas,

dispondo dos necessários meios de coacção”.12 Indo ao encontro do carácter funcional

do poder político acima já mencionado, ressalvo a minha afirmação com a asserção do

Professor António de Sousa Lara, que define o poder político dos Estados como

“fundamentalmente funcional, e como, um conjunto de meios destinados a coagir os

outros a dado comportamento (…)”13

8 Dahl, Robert, A Democracia, Lisboa: Temas e Debates, 2000, p.127. 9 In. Dicionário das Relações Internacionais, Dir. Fernando de Sousa, Ed. Afrontamento, Santa Maria da Feira, 2005, pp.143 10 Moreira, Adriano, A Ciência Política, 3.ª Edição, Coimbra, Almedina, 1997, p. 18 11 Almeida, Políbio F.A Valente de, Do Poder do Pequeno Estado. Enquadramento Geopolítico da Hierarquia das Potências, Lisboa, ISCSP-UTL, 1990, p. 87 12 Op. cit, pp.144 13 Lara, António de Sousa,

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Política

Uma das concepções de Política que abraço neste constructo é a defendida pelo

Professor José Adelino Maltez, que a menciona “como coisa cultural”14, como uma

realidade inventada, fruto do relacionamento do homem com o seu par. A política,

seguindo o entendimento de Hannah Arendt, “não resulta de uma necessidade da

natureza humana (…) nem sequer uma instituição indispensável para a comunidade

humana (…) ela começa precisamente onde o domínio das necessidades materiais e o

da força física acabam.” 15 É pois uma forma de despojamento dos cidadãos para algo

maior, para uma existência suprema, dotada de um qualquer poder funcional, que

regulará, com consentimento de homens e mulheres, a “res pública”.

A Politica é entendida como arte ou ciência da organização, direcção e administração de

nações ou Estados; Freitas do Amaral define-a como a “ actividade humana de tipo

competitivo, que tem por objecto a conquista e o exercício do poder.”16 Há também

quem afirme que a política representa a “arte da governação (…) ciência da

governação dos Estados (…)”17 “a governação surge como elemento estruturante e

objectivo da política”18. Muito mais que o corolário de todas as descrições acima

mencionadas, a Política é, subscrevendo Arendt novamente, o resultado de “ quando um

povo se une por meio de compromissos, pactos e garantias mútuas”19.

Sobre este controverso conceito muito mais se poderia elaborar, ainda assim, e

não deixando cair por terra a sua importância para esta elaboração teórica, é-nos

conveniente ressalvar que é da Política, dos seus intervenientes directos e indirectos, da

construção do Estado e dos seus órgãos e/ou organismos, que ressalta esta pulsão a que

me quero ater: o relacionamento entre Actores Políticos e os seus servidores: os

Analistas de Informações, sendo por isto de extrema importância aflorar sobre o

conceito de Política, sobretudo nas suas não menos importantes vertentes: Interna e

Externa, onde a actividade dos serviços alvo de escrutínio tem reflexo directo.

14 Maltez, José Adelino, Princípios de Ciência Política. Introdução á Teoria Política, Lisboa, ISCSP-CEPP, 1996, pp.109 15 Arendt, Hannah, Qu´est ce que la Politique?, Paris, Seuil, 1995, p. 59 16 Amaral, Freitas do, História das Ideias Políticas, Coimbra, Almedina, 1999, pp. 17 Duverger, Maurice, Les Partis Politiques, Paris: Armand Colin, 1976, pp.18 18 In. Dicionário das Relações Internacionais,Dir. Fernando de Sousa, Ed. Afrontamento, Santa Maria da Feira, 2005, pp.144 19 Arendt, Hannah, Sobre a Revolução, Lisboa, Moraes, 1971, p. 179

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A Política Interna tem vindo a ser objecto de construção ao longo desta

elaboração, sendo por isso considerada como a condução dos assuntos do Estado com

impacto no território consagrado como nacional. É nesta área que o Governo está

investido de actuar de maneira conforme com a defesa e dos seus nacionais.

A Política Externa é um conceito que ilustrarei fazendo minhas as palavras do

Embaixador José Calvet de Magalhães, que a define subliminarmente como “ (…)

actividade exercida por um Estado no domínio externo (…) sector de actividade do

Estado que se destina a obter um determinado resultado em relação a outro Estado

(…) pode definir-se como o conjunto de decisões e acções de um Estado em relação ao

domínio externo”20.

A destrinça parece-me pertinente, na medida em que, posteriormente, na terceira

parte do Estudo aflorarei os campos de actuação do SIS e do SIED, ambos com claro

impacto na esfera da Política Interna e Externa do Estado Luso.

Findo a elaboração teórica com a arriscada mas completa descrição de Quincy

Wright sobre o fenómeno ilustrado. Wright disparou a respeito da Política quatro

definições que passo a citar “a arte de governar um Estado, um governo ou um partido;

a arte de organizar o poder do grupo, ou vontade, ou unidade; a arte de alcançar os

objectivos dos partidos contra a oposição de outros grupos; e a arte de criar decisões

de grupo”21.

Informações

Entende-se por Informações, seguindo a lógica do pioneiro General Pedro

Cardoso, que não tendo forjado, strictu sensu uma definição, elabora sobre a actividade

da seguinte maneira: “ (…) a actividade de informações envolve um processo complexo

de pesquisa, avaliação, análise, integração e interpretação de informações (...) para

serem úteis devem ser adequadas, oportunas e bastante precisas. Devem ser ainda

muito bem coordenadas e integradas, e rápida, oportuna e apropriadamente difundidas

e consideradas pelos responsáveis pelas tomadas de decisões [...]22 . No trecho citado

do General, denotamos a preocupação deste em definir, precisa e concisamente, o que

compete aos serviços desenvolver, de que forma, apontando inclusive os tributários

directos do fruto do seu trabalho – os decisores políticos, aqueles investidos de poderes

20 Magalhães, José Calvet de, A Diplomacia Pura, Lisboa, Bizâncio, pp.22,23. 21 Wright, Philip Quincy, The Study of War, 2nd Edition, Chicago University Press, 1983,pp.185 22 CARDOSO, Pedro. As Informações em Portugal, Ed. Gradiva, Lisboa, 2004, pps 150

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

funcionais, que de acordo com a qualidade das Informações que recebem puderam

desenvolver a acção política. Pedro Cardoso enfatiza ainda, que a nível da participação

no processo denominado por decision making, caberá - “(…) Ao Serviço de

Informações a nível político (...) garantir ao Estado e aos órgãos de soberania uma

acção governativa global e eficiente, através da elaboração, em tempo oportuno, de

estudos, relatórios e elementos prospectivos e de previsão (...) para garantir o regular

do funcionamento das instituições democráticas com vista à defesa da independência

nacional e da unidade da segurança do Estado, pela detecção oportuna dos riscos,

vulnerabilidades e ameaças(...)”23 Ainda adentro desta linha de norteamento,

encontramos a posição do Professor Doutor Pedro Borges Graça, apontando que “[A]s

informações são um elemento vital de qualquer Estado-=ação, nomeadamente de uma

muito pequena potência como Portugal, face ao grau e variedade tanto de ameaças

como de desafios com que somos confrontados na evolução da conjuntura

internacional[...].”24

Afigura-se de extrema importância, gizar, concisamente, a destrinça entre

Informação e Informações, por modo a evitar possíveis faltas de clareza no que atine ao

carácter distinto de ambos os conceitos para os estudiosos destas matérias. Desta

maneira, e seguindo a construção de António de Jesus Bispo que se refere “ [A]

informação (...) como o conjunto de dados colocados num contexto, relacionados com

o espaço, o tempo, o cenário da acção. A informação, só por si, não dá a ideia da

forma como os actores irão agir, quais serão os modelos de actuação, os sentidos a

atingir [...].”25 Já o conceito de Informações para o Tenente General da Força Aérea [C]

onsistem na análise da informação no sentido da obtenção de conhecimento,

constituem-se como um patamar acima da informação, como o trabalho efectuado

sobre os dados para lhes dar sentido no quadro dos propósitos a quem ele serve, seja o

Estado, uma unidade militar ou uma empresa. É a compreensão da informação

relacionada, organizada e contextualizada [...]”26

23 Op.cit., pp. 151 24 GRAÇA, Pedro Borges. Metodologia da Análise nas Informações Estratégicas, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pps. 430 25 BISPO, António de Jesus, A Função de Informar, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord.). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pps. 78 26Bispo, António de Jesus,op.cit pp.78

Dissertação de Mestrado As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

A sistematização do conceito de Intelligence não ficaria completa sem olharmos à

Escola Anglo-Saxónica, precursora dos Intelligence Studies; britânicos e americanos

tidos como pioneiros na aplicação prática dos métodos e elementos que enformam a

acção dos Serviços de Informações.

Para Abram Shulsky e Gary Schmitt “[I] ntelligence refers to information

relevant to a government’s formulation and implementation of policy to further its

national security interests and to deal with threats from actual or potencial

adversaries[…]”27 Os autores supracitados precisam ainda que a actividade [M] ust be

some process by which it is systematically made available to government oficials in a

usable form[…], denote-se que à semelhança com o acima referido pelo General Pedro

Cardoso e o Professor Pedro Graça, às Informações, enquanto actividade e estrutura

organizativa encarregue de uma actividade legalmente reconhecida e regulada, compete

à jusante, contribuir para o processo de formação do decision making político, militar ou

empresarial.

Shulsky e Schmitt definem o escopo das informações de uma maneira

multivariada, ou seja, entendida como uma actividade passível de execução e aplicação

a domínios variados, por exemplo, e agora segundo as palavras dos autores “ [S] ome

researchers extend the concept to business corporations, treating intelligence as

“organized information”... designed to meet the unique policy-making needs of one

entreprise[...]”28. Os autores afloram aqui sobre o conceito de Business Intelligence,

cujo escopo será sucintamente avaliado no enquadramento conceptual a que me propus.

Para findar a já longa arquitectura do conceito de Informações, e continuando a

aflorar a lógica anglo-saxónica, remeto para um estudo da RA=D Corporation Europe –

“[I] ntelligence is a special kind of Knowledge, a special subset of information that has

been put trough a systematic analytical process in order to support a state’s decision

and policy makers It exists because some states or actors seek to hide information from

others (…) who in turn seek to discover hidden information by secret or covert

means.[…]”29 Os autores do mesmo estudo, num esforço para precisar o ónus da

actividade, apontam uma tríade de elementos, como sejam: “[a] process of gathering

27 SHULSKY, Abram, SCHIMITT, Gary, Silent Warfare. Understanding The World of Intelligence, 3.ª Ed. Potomac Books, Washington D.C, 2002. pps.1 28 Op. cit, pps. 3 29 RATHMELL, Andrew, HANNAH, Greg e O´BRIEN, Kevin, Intelligence and Security Legislation for Security Sector Reform, Ed. Rand Corporation, Cambridge, 2005, pps. 3-4

Dissertação de Mestrado As Informações e o Poder Político em Portugal

Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

and analysing information; an organization which undertakes the process; and a

refined product that is delivered to policy makers [...]”30

A presença de citações em língua inglesa justifica-se numa tentativa de manter

incólumes os significados e os significantes da terminologia específica e muito própria

das informações para evitar o risco de enviesar, por via da tradução, o verdadeiro

alcance dos conceitos.

Informações de Segurança

A variante das Informações que me proponho a analisar é a componente das

Informações de Segurança cujo ónus da actividade atine, segundo o Serviço de

Informações e Segurança (SIS) “[R]ecolher, processar e difundir informações no

quadro da Segurança Interna, nos domínios da sabotagem, do terrorismo, da

espionagem, incluindo a espionagem económica, tecnológica e científica, e de todos os

demais actos que, pela sua natureza, possam alterar ou destruir o Estado de direito

democrático, incluindo os movimentos que promovem a violência (designadamente de

inspiração xenófoba ou alegadamente religiosa, política ou desportiva) e fenómenos

graves de criminalidade organizada, mormente de carácter transnacional, tais como a

proliferação de armas de destruição maciça, o branqueamento de capitais, o tráfico de

droga, o tráfico de pessoas e o estabelecimento de redes de imigração ilegal[...]”31.

Na mesma linha, o Professor Heitor Romana define as informações de segurança

como aquelas que “ [D] izem respeito ao estudo e avaliação de riscos e à prevenção de

ameaças, com origem externa ou interna, à segurança dos Estados, e que se enquadram

na tipologia das ameaças assimétricas (terrorismo, crime organizado, subversão dos

pilares institucionais do Estado Democrático) [...]”32

As tarefas dos Serviços de Informações de Segurança, agora segundo as palavras

do actual Ministro da Administração Interna – Rui Pereira- atinem [E]m regime de

exclusividade (...) produzir informações tendentes a evitar actos de espionagem,

30 Op.cit,cit., pps. 4 31 In. http://www.sis.pt/pt/index.php, (12/07/10; 14:25) 32 ROMANA, Heitor, Terrorismo e “Intelligence”: un novo quadro analítco, in http://www.janusonline.pt/dossiers/dossiers_2005_4_1_11_d.html

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

terrorismo, sabotagem e quaisquer outros que atentem contra a segurança interna do

Estado [...]33

Para finalizar a conceptualização da variante das informações até este ponto

ilustrada, compulsar-me-ei sobre as palavras do actual Director Geral do SIS, Antero

Luís, que aponta como papel para a estrutura que dirige a defesa da “[S]egurança

interna assume-se como um eixo de promoção das liberdades do cidadão. O reforço da

vertente da prevenção de ameaças deve respeitar os princípios fundamentais dos

direitos humanos, semblante distintivo do espaço europeu de liberdade, segurança e

justiça em que nos inserimos.

A sociedade tendencialmente globalizada em que vivemos é caracterizada por

novas formas de radicalismo. As ameaças denotam crescentemente características

transnacionais como o terrorismo, a proliferação e o crime organizado, que nos

recordam, em cada dia, que cada vez mais a sociedade de risco se assume como

sociedade de perigo.

Ao SIS incumbe, no cumprimento da lei, prevenir essas ameaças e contribuir, em

estreita colaboração com as demais forças, para a segurança colectiva dos bens e

cidadãos [...]”34

Informações Estratégicas

Na determinação do conceito Informações Estratégicas, os teóricos dividem-se a

quando da determinação do seu escopo, por ora, e compulsando-nos sobre o ponto de

vista do Professor Doutor Heitor Romana – “ [A] s informações estratégicas políticas

têm duas componentes: defensiva e ofensiva. A componente defensiva é balizada pela

produção de informações que visam a identificação de vulnerabilidades, a prevenção e

neutralização de ameaças conduzidas por agentes e entidades contra interesses externos

permanentes ou conjunturais de um determinado Estado [...]”35 Como reparamos, esta

componente alicerça-se, essencialmente, na contra informação e na tomada de medidas

activas e passivas. Segundo o mesmo autor, agora no que respeita à componente

ofensiva, este refere que a última - “[A]ssenta, essencialmente, na produção de

informações que contribuam para a execução de estratégias visando projectar os

33 PEREIRA, Rui, A Produção de Informações de Segurança no Estado de Direito Democrático, 2002, pp.3 34 http://www.sis.pt/pt/index.php, (12/07/10;14:35) 35Op. Cit, pps. 5

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

interesses permanentes ou conjunturais, influenciar, determinar e condicionar o quadro

geopolítico, geoeconómico e geocultural de determinados espaços e áreas consideradas

como vitais. [...]36

No entender do já referido Professor Borges Graça, as Informações Estratégicas e

sua metodologia funcionam e funcionaram “[C]omo instrumento de apoio à primeira

linha da tomada de decisão (...) existe uma relação directa entre competitividade e

informação, e por consequência, as informações estratégicas, como metodologia de

apoio à tomada de decisão, carecem de ser investigadas [...]”37 Como denotamos, e é

notório o enfoque dado para a componente empresarial da aplicação das Informações,

esta é uma das muitas áreas passíveis de verem florescer a aplicação efectiva da lógica

metodológica das informações factor que contribuirá, em larga escala, para o alcançar

de efectivos ganhos de competitividade e celeridade na decisão, tanto das empresas

como dos Estados enquanto actores em continua competição por vantagens estratégicas.

Como não poderia deixar de ser, tivemos o cuidado de verificar, por intermédio a

world wide web, da definição dada a ás Informações Estratégicas por parte do nosso

Organismo público responsável pela produção da Strategic Intelligence, compulsando-

nos, igualmente nas suas funções – “ [A] valiação das ameaças transnacionais em que

confluem competências do SIS, o SIED assume a função de “defesa avançada” dos

Interesses Nacionais, característica dos serviços externos, por comparação com a

“defesa recuada”, igualmente relevante, desenvolvida pelos serviços internos. Neste

âmbito, e sob a condução superior do Secretário-Geral do SIRP, o SIED promove a

partilha de informações com o SIS e as forças de segurança nacionais na avaliação

permanente das ameaças à Segurança Nacional [...]38 É avatar do nosso Serviço de

Informações Estratégicas de Defesa – “ [...] Como Serviço incumbido da produção de

informação estratégica, o SIED visa contribuir para o processo de decisão política

através da produção de informação privilegiada, nomeadamente, a relacionada com:

1. a avaliação da ameaça terrorista, a identificação de redes transnacionais de

imigração clandestina, tráfico de seres humanos e de estupefacientes, de crime

organizado e de proliferação =BQR;

36 Op.cit, cit, pp, 5 37 GRAÇA, Pedro Borges, Emergência das Informações Estratégicas, in. Jornal de Negócios, dia 9/03/07 38 In. http://www.sied.pt/pt/mainframe.htm, (16/07/10; 15:15)

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

2. o acompanhamento permanente da situação de segurança das comunidades

portuguesas residentes no estrangeiro;

3. alerta precoce de situações onde haja um potencial comprometimento dos

Interesses =acionais;

4. matérias políticas e económicas que constituam prioridade da política externa

portuguesa[...]”39

Os Elementos das Informações

O Intelligence apresenta, como mecanismos que conduzem à sua prosecução, um

conjunto de instrumentos/ferramentas que permitem o desenvolvimento das actividades

das Informações. Esses elementos constaram, à priori, no esquema abaixo representado:

Fonte: http://www.intelligence.gov/2-business.shtml

39 Op.cit. pp.5

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

Fonte: Intelligence and Security Legislation for Security Sector Reform, Ed. Rand Corporation,

Cambridge, 2005

Como notamos nos esquemas supra representados os elementos do Intelligence

são, seguindo a nomenclatura anglo-saxónica:

→→→→ /Recolha de Dados/Informação – entende-se por recolha/colecta de

informação, o processo através do qual o analista obtém “raw data”, matéria essa

obtida por intermédio de várias técnicas. Passo a apontar algumas seguindo a

teorização de Abram Shulsky e Gary Schmitt – “ (...) trough espionage; technical

means (photgraphy, interception of electronic comunications, and other methods

involving technology; exploitation of open sources (for instance, publications,

and radio and television broadcasts)[...].”40 Sobre este elemento da metodologia

das Informações, atendendo, desta vez a um teórico luso, é entendida como “(…)

pesquisa de informação, o que deverá resultar de necessidades concretas e

legítimas para a realização de objectivos superiores da entidade que a determina,

é obviamente uma actividade discreta (...) é uma actividade de risco, e assim

sendo, torna-se necessário fazer a avaliação entre os benefícios esperados e as

consequências negativas prováveis que a própria actividade poderá envolver (...)

a informação obtida pelas fontes clandestinas ou não abertas deverá ser validada,

40 SHULSKY, Abram, SCHIMITT, Gary, Silent Warfare. Understanding The World of Intelligence, 3.ª Ed. Potomac Books, Washington D.C, 2002, pps. 8

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e não tomada à partida como verdade absoluta [...]” 41 Nesta asserção do Tenente

General são levantadas questões de especial relevo para a condução escorreita da

fase iniciática de qualquer actividade de recolha de informações, atribui

sobretudo realçe à proporcionalidade/adequação dos meios empregues para a

recolha de informação e, como não poderia de deixar de ser, alertando para os

hipotéticos erros provenientes dos erros de percepção induzidos pelos

informantes/“fontes cobertas”.

→Intelligence Analysis/ Análise em Informações – o elemento que se segue diz

respeito a fase crucial do processo da “criação” das informações, é esta que é definida

pelos académicos americanos como “ (…) the process of transforming the bits and

pieces of information that are collected in whatever fashion into something that is

usable by policy makers and millitary commanders. The result, or “intelligence

product”, can take the form of short memorandums, elaborate formal reports; briefings

(…) analysis does not have any standard categories […]”42 O mesmo conceito é

definido, pelos especialistas da CIA/Intelligence Community, da seguinte forma – “(…)

A process in the production of intelligence in which intelligence information is

subjected to systematic examination in order to identify significant facts and derive

conclusions (…)

A fase da análise, ou melhor, o processo da análise é a “(…) Componente base de

todo o esquema de “intelligence”. =esse processo, sempre incompleto, a construção de

análises resulta do estudo e integração de um conjunto de dados pesquisados com base

no recorte de notícias processadas a partir de fontes abertas e fontes encobertas [...]”43

No entender de Professor Pedro Borges Graça, a fase da análise em Informações,

ademais nas de carácter estratégico, “(…) possui uma identidade enquanto método de

aquisição de conhecimento e é o elemento final decisivo do processo de produção de

informações (...)”44

41 BISPO, de Jesus Bispo, A Funçaõ de Informar, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pps. 81 42 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps. 41 43 ROMANA, Heitor, O =ovo Framework do Terrorismo Internacional de Matriz Islâmica: Desafios ao Modelo de Análise em Informações Estratégicas, in Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pps. 264 44 GRAÇA, Pedro Borges, Metodologia da Análise nas Informações Estratégicas, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pps. 434

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

A análise em informações representa aos olhos dos académicos dos intelligence

studies e dos respectivos profissionais a fase mais preponderante do ciclo da produção

de informações45, sendo de “per si” a mais estimulante, mas também a mais

extunuante, por via das exigências que são postas a quem a desenvolve. O Analista é,

forçosamente, um indivíduo com uma formação ampla e multidisciplinar, detentor de

um vasto conhecimento e aprumo metodólogico de maneira a conduzir a bom porto a

análise da informação que lhe chega à secretária, sendo-lhe pedidas capacidades de

análise dessa mesma informação, por modo a tecer juízos prospectivos das entre linhas

da informação. O Analista é, segundo o Professor (…) um «técnico superior» dotado de

formação universitária ou «para universitária» como as instituições do ensino superior

militar, não podendo esta por academismo excessivo interferir no trabalho de análise

(…)46 É essa capacidade de prospectiva que metamorfoseia a outrora Informação em

Informações.

→Dissemination/ Projecção das Informações – A divulgação projecção/ das

informações obedece a critérios adstritos a uma lógica de cadeia de comando própria de

cada sistema de informações, variando, como é óbvio, de país para país, de acordo com

o legalmente preceituado. As Informações têm diferentes destinatários, variando a sua

classificação com a acuidade das matérias e, de certo modo, com a importância

hierárquica do receptor das mesmas. A Central Intelligence Agency define esta fase do

ciclo – “[T] he timely distribution of intelligence products (in oral, written, or graphic

form) to departmental and agency intelligence consumers in a suitable form (...)47

Quanto aos dados que constam nestes produtos das Informações puderam recair sobre -

“[I] ntelligence regarding foreign economic resources, activities, and policies including

the production, distribution, and consumption of goods and services, labour, finance,

taxation, commerce, trade, and other aspects of the international economic system.

taxation, commerce, trade, and other aspects of the international economic system

(...)”48 Esclareça-se que os elementos acima apontados como partes integrantes dos

relatórios de informações, daily briefing papers, entre outros produtos das actividades

45 Def. da CIA - intelligence cycle: The process by which information is acquired and converted into intelligence and made available to customers, in. http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml, 46Op Cit, pp. 435 47 In. http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml, 19/07/07 48 Op cit., cit pp.435

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

do “intelligence” puderam incorporar em si matérias de cariz militar e político,

estando o seu carácter e conteúdo muito dependente do destinatário.

Instrumentos /Técnicas de Recolha de Informação em Intelligence

Para a prossecução do trabalho em Informações são necessárias uma míriade de

técnicas, grande parte delas alicerçadas em tecnologia de ponta, servindo para a

obtenção de informação, dados, imagens, comunicações e outros “materiais” essenciais

para o escorreito desenvolvimento das actividades de Intelligence.

Dentro das variantes tecnológicas que concorrem para a Technical Intelligence

Collection, definida como - “[A] group of techniques using advanced technologies,

rather than human agents, to collect information (...) these techniques have for the most

part involved long-range photography and the interception of various electromagnetic

waves […]”49

Em primeiro lugar analisarei a componente do Intelligence alicerçada nas técnicas

de obtenção de imagens (IMINT/PHOTOINT50). Shulsky e Schmitt referem-se a esta

técnica – “(...) involves photography to collect intelligence (...) it uses long range

photography to obtain images of places or things to which direct access is not possible

(…)”51 Esta técnica de recolha de dados/material socorre-se de meios aéreos e satélites

para a obtenção de imagens necessárias à prossecução das actividades de Intelligence,

acabando a maior parte das vezes por funcionarem, no caso de operações militares,

como uma antecâmara de preparação para a entrada em teatros de operações.

A segunda técnica que aflorarei é designada por Signals Intelligence (SIGINT)52,

consistindo esta técnica na intercepção de sinais/ondas electromagnéticas,

genericamente intitulados sinais. A presente técnica é usada para as seguintes

finalidades:

49 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps. 22 50 Def. da Intelligence Community: The products of imagery and imagery interpretation processed for intelligence use, in. http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml, 51 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps. 22 52 Def. da Intelligence Community(IC) : Intelligence information derived from signals intercept comprising-either individually or in combination-all communications intelligence, electronic intelligence, and foreign instrumentation signals intelligence, however transmitted, in http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml,

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•••• “(...) Interception of signals, and the derivation of information from,

foreign communications signals (radio messages); também conhecida por

communication intelligence (COMINT);

•••• (…) The interception, processing, and analysis of foreign telemetry

(radio signals that relay to engineers information from sensors on board a test

vehicle concerning its flight and performance characteristics; estamos a falar da

técnica conhecida como telemetry intelligence (TELINT);

•••• (…) The interception, processing, and analysis of noncommunication-

related electromagnetic radiations coming from a piece of military equipment

(such as a radar)(…)”53 ; técnica denominada pelos especialistas como electronic

intelligence (ELINT)

Como denotamos pela descrição da técnica – a SIGINT – incorpora uma tríade de

técnicas, que apresentam como elemento unificador a intercepção de sinais advindos de

material electrónico utilizado ora para fins civis ou militares, com o propósito de

analisar, desencriptar e descodificar informação emitida pela via de sinais

electromagnéticos.

A já referida COMINT54apresenta-se como uma das primeiras técnicas

desenvolvidas para a obtenção de dados, apresenta-se como nos referem Shulsky e

Schmitt “ [O] f these varieties of signals intelligence, the oldest is comint, which is

pratically contemporaneous with the use of radio for military and diplomatic

communications (...)”55 Os mesmos autores apontam a referida técnica como muito

valiosa durante a I Guerra Mundial, em parelo com a criptoanálise, sendo uma das mais

valiosas fontes de obtenção de informações para as grandes potências.

Outra das modalidades que se nos apresenta da SIGINT é a Telint, mais recente

que a anterior, deriva da surpreendente evolução das tecnologias de comunicação

militares. Consiste na recolha e análise de dados telemétricos obtidos a partir de “[T]

arget's missile or sometimes (rarely) from aircraft tests. The data gathered is typically

53 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps. 27 54 Def, da IC, Information derived from the intercept of foreign communications by other than the intended recipients; it does not include the monitoring of foreign public media or the intercept of communications obtained during the course of counterintelligence investigations within the United States. COMI=T includes the fields of traffic analysis, cryptanalysis, and direction finding, and is a part of Signals Intelligence, http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml, (22.03.2010; 17:45) 55 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps. 27

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sent from the test vehicle in order for ground crews to analyze how the test vehicle is

performing and in the case of catastrophic failures provide very valuable information

on what may have caused the failure. TELI=T tells us a lot about our target's test

vehicles, and thus telemetry from test vehicles is now encoded. Thus the decoding of

TELI=T usually must take place after the TELI=T data is passed onto the decrypting

agency. In the U.S., this decrypting takes place at the =SA […]”56

A técnica da ELINT57 envolve a monotorização e respectiva análise de “(…)

noncommunication electromagnetic emanations from foreign military equipment (...)

elint enables a country to keep track of key elements of another country´s armed

forces[…]58 Esta técnica, à semelhança da anterior, visa dar resposta a aplicações de

foro militar, ou seja, o recurso a esta tem como finalidade, sobretudo, dar resposta a

exigências operacionais das forças militares, tentando por este intermédio determinar

capacidades, aferir hipotéticas vulnerabilidades do antagonista, por modo a conduzir

eficazmente as suas investidas aéreas, terrestres ou marítimas.

A miríade de técnicas existentes nos campos das tecnologias de ponta dariam, só

por si, para a redacção de monografias particulares para cada uma das técnicas, desta

maneira, e não ignorando e nem menosprezando técnicas como a MASINT59 e também

a OSINT60, dou por finalizada o conjunto de breves e sucintas definições das técnicas

que me propus avalizar, compulsando-me então sobre o ónus do Case Study que

estabeleci – a Human Intelligence- conhecida nos meios académicos e profissionais por

HUMINT.

56 In. http://www.milnet.com/telint.htm, 57 Def. da IC: Technical and intelligence information derived from foreign electromagnetic non-communications transmissions by other than the intended recipients, in. http://www.intelligen ce.gov/0-glossary.shtml, 58 Citação de Shulsky e Schmitt, Silent Warfare, pps.31 59 Def. Measurement and Signature Intelligence (MASI=T) is scientific and technical intelligence information obtained by quantitative and qualitative analysis of data (metric, angle, spatial, wavelength, time dependence, modulation, plasma, and hydromagnetic) derived from specific technical sensors for the purpose of identifying any distinctive features associated with the source, emitter, or sender and to facilitate subsequent identification and/or measurement of the same, in. http://www.fas.org/irp/program/masint.htm, 60 Def. da IC: open source-Information- that is publicly available (for example, any member of the public could lawfully obtain information by request or observation), as well as other unclassified information that has limited public distribution or access. Open- source information also includes any information that may be used in an unclassified context without compromising national security or intelligence sources or methods. If the information is not publicly available, certain legal requirements relating to collection, retention, and dissemination may apply, , in. http://www.intelligence.gov/0-glossary.shtml,

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No capítulo que se segue teremos a possibilidade de mergulhar nos referenciais

históricos da Formação dos Serviços de Informações lusos. Desde os primeiros espiões

militares com o foco de determinar o posicionamento dos inimigos, aos emissários

políticos junto da Santa Sé, aos navegadores e mercenários responsáveis por palmilhar

caminhos nunca antes conhecidos, todos eles com o intuito de informar e apoiar a

tomada de decisão dos seus Suseranos.

A análise irá da Fundação da Nacionalidade à Queda do Regime de Salazar.

Partamos então rumo ao conhecimento dos principais marcos da História das

Informações Portuguesas do Sec. XII ao século XX.

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Parte II

Evolução Histórica das Informações em Portugal

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A História das Informações em Portugal

A abordagem histórica que gizarei sobre a evolução dos nossos Serviços de

Informações terá como principal referencial a autoridade e conhecimento profundo dos

mesmos por parte do seu principal artífice, ou seja, o General Pedro Cardoso. Desta

maneira apontarei como referenciais três períodos históricos:

1. Da fundação da Nacionalidade 1143 à Conquista de Ceuta 1415;

2. De 1415 à Declaração da Independência do Brasil em 1822;

3. De 1822 até à Queda do Estado Novo 1974;

1 -Da Fundação da #acionalidade – 1143 à Conquista de Ceuta 1415

A actividade de informadores cedo se destacou no seio do mais antigo Estado-

Nação europeu, atendendo sobretudo ao contexto conturbado em que o Condado

Portucalense se encontrava envolto. A afirmação de “Portucale” como Entidade

Soberana no concerto das Nações da altura enfrentou fortes condicionalismos, por um

lado a forte oposição enfrentada por D. Afonso Henriques por parte do Reino de Leão e

Castela, e a Sul pelos opositores sarracenos.

Como aponta o General Pedro Cardoso “Em Portugal, embora sem estrutura

própria, as informações começam por apoiar as campanhas de conquista da

Estremadura e parte do Alentejo e a contenção a =orte do imenso poder de Leão e

Castela (…)”61Mais do que apoio no esforço de guerra é de notar o laborioso mister

junto das Ordens Religiosas: Cister e Templários, que permitiam ao Rei manter-se a par

da política da Igreja e o forjar de alianças com os Cruzados para o combate aos Mouros.

Ao longo de toda a Dinastia Afonsina a sobrevivência do reino foi matizada pela

condução de uma política de hábeis alianças com o Reino de Castela, Leão e Aragão e

com a Cúria Romana, sendo no primeiro caso o recurso a casamentos decididos com

base em argúcia diplomática e previsão estratégica e apoio no combate aos Mouros as

61 Cardoso, Pedro, As Informações em Portugal, 2.ªEd. Gradiva/ Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 2004, pp. 20

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principais moedas de troca, no segundo o reconhecimento por parte do reino Português

da importância da Igreja e suas actividades na Ordem Mundial da altura.

D. João I – O da Boa Memória, chega ao trono encontrando um país com uma

estrutura militar organizada e com bases lançadas para dar início a uma marinha de

guerra, uma economia agrária ao serviço da coroa e uma universidade ao serviço do

povo, tudo graças ao Reinados de D. Dinis, D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando.

É no reinado de D. João I que se revela, historicamente, a existência de um

serviço de Informações denominado por serviço de ligações, conduzido por Martim

Afonso de Melo e com o apoio militar de D. Nuno Alvares Pereira e de batedores de

cavalaria conseguiu antecipar os movimentos do exército castelhano, conduzindo à

vitória portuguesa na Batalha de Aljubarrota (1385).

De 1837 em diante, granjeada a paz com Castela e garantido o apoio diplomático

britânico através do casamento com D.ª Filipa de Lencastre, o rei começa a planear com

apoio dos seus colaboradores mais directos a política de expansão marítima.

O culminar desta política de expansão marítima tem na Conquista de Ceuta, a 21

de Agosto de 1415, o culminar da empresa do rei da Boa Memória que assim acrescenta

ao seu titulo de Rei de “Portugal e dos Algarves” o de “Senhor de Ceuta”.

2 - De 1415 à Declaração da Independência do Brasil em 1822

Os quatro séculos que medeiam entre estes referenciais cronológicos apresentam

um conjunto de acontecimentos que entendi como basilares para a análise histórico do

nosso Serviço de Informações, sendo que será somente sobre os mesmos que

compulsarei o esforço de análise.

Desta maneira seleccionei o Reinado de D. João II, O Príncipe Perfeito, como um

ponto nevrálgico para a compreensão histórica do nosso objecto de estudo.É visível o

reconhecimento atribuído ao reinado deste soberano, nomeado pelo General Pedro

Cardoso que o nomeia como o patrono do Serviço de Informações Português, menção

essa reforçada no site institucional do SIS, que o intitula como “Príncipe das

Informações”62. A mestria na prossecução dos interesses lusos no além-mar é espelhada

no secretismo e confidencialidade que D. João II atribui a todos os assuntos relativos à

navegação: desde mapas às actividades de marinharia a todo é atribuído o título de

62 In. http://www.sis.pt/hinfopt.html, (9.03.2011; 14:32)

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“património secreto do Estado.”63 Indícios históricos apontam, já na altura, para

práticas de contra-informação, nomeadamente através do forjar de Mapas Mundi e

Cartas Cartográficas que eram propositadamente disseminadas junto das potências que

nos eram antagónicas.

Em finais de do Século XV, ciente da importância estratégica de chegar por via

marítima à Índia, o Príncipe Perfeito encarrega Bartolomeu Dias de lá chegar por mar,

porém, e ciente da necessidade de deter alternativas, incumbe Pêro da Covilhã e Afonso

de Paiva de desbravar por via terrestre o caminho para as Índias e ainda avaliar as

potenciais relações comerciais existentes entre a África do Ouro e a Índia das

especiarias.

É com base no esforço de preservação de uma política de segredo, de colecta de

informações e de alguma deformação das mesmas que, em 1494, mais precisamente a 2

de Junho, Portugal firma em Tordesilhas o Tratado com o nome desta cidade,

garantindo, para a coroa portuguesa, o acesso ao caminho marítimo para a Índia e de

grande parte dos territórios do Brasil.

Com a morte de D. João II e a sua sucessão por D. Manuel I começou o paulatino

declínio do poderio português. Numa sequência de erros estratégicos a Coroa

Portuguesa deixa-se ficar refém da Igreja Católica com o apogeu da Inquisição, grande

responsável pela expulsão dos judeus detentores de profundos conhecimentos nas artes

do comércio, que rapidamente viram a sua mestria aproveitada pelos Holandeses e

Ingleses que depressa se tornaram pródigos na comercialização de bens oriundos das

Índias e do Continente Sul Americano. Pelo Oriente, aproveitando as palavras do

General Pedro Cardoso (…) “aqui não há um plano, tudo é deixado à iniciativa

pessoal, os portugueses deixaram de ter quem estudasse e planeasse a aplicação das

suas energias e a protecção das suas actividades da forma mais rendosa”64.

Já no reinado de D. João III há uma tímida tentativa de reorganizar o Império

Português do Oriente e instituem-se as primeiras tentativas de conferir ao Brasil

estruturas político-administrativas, contudo, com o crescente poderio da Inquisição em

território português e no Oriente, em 1557, o país começa a ir ao encontro da completa

ruína económica, acabando graças ao desvario de D.Sebastião por se quedar refém da

Coroa Espanhola entre 1581 e 1640.

63 Cortesão, Jaime, A Política de Sigilo dos Descobrimentos, Lisboa, 1960, pp.44 64 Cardoso, Pedro, op. cit, pp.39

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O jugo da Dinastia Filipina leva Portugal a ficar refém dos saques Holandeses e

Ingleses às possessões ultramarinas, para não falar dos planos de Filipe III e IV de

absorção do País. Portugal encontrava-se tolhido pela “(…) insipiência do Estado, os

interesses cruzados dos nobres, muitas vezes divergentes dos da coroa, e o poder da

Inquisição, levaram a que as informações fossem praticamente extintas.”65

De 1640 a 1822, na prática dois séculos decorridos, a alucinante politica do reino

não permitiu o alicerçar de uma estrutura sólida de informações. O mais próximo que

estivemos do retomar de uma estrutura dessa índole partiu de uma iniciativa de

Sebastião Pereira de Melo, ministro de D. José, que vê em 1760, o Marquês de Pombal

instituir a Intendência da Polícia da Corte e do Reino, empossada para a formação de

uma rede de espionagem com competência para trabalhar em crimes políticos e fiscais.

Esta estrutura duraria, até 1898, mas sempre limitada na sua acção e refém das intensas

convulsões políticas portuguesas da época as quais se adjuvam as ingerências Francesas

e Britânicas que tolhem o Estado Português os elementos essenciais para a práticas de

actos próprios de um Estado Soberano.

3- De 1822 até à Queda do Estado #ovo em 1974

Com o país dividido pelas refregas de poder entre Absolutistas e Liberais, cujo

foco de discordância ressaltava da Constituição de 1822, a lusa pátria fica refém de

lógicas de poder.

No plano interno, no que à Segurança interna diz respeito, a aprovada

Constituição prevê a instituição de uma Polícia Preventiva chefiada pelo juiz Francisco

Maria da Veiga, que exercera funções de juiz de instrução criminal na Polícia desde

1893. Desde a sua criação foi apelidada de "polícia secreta", pelos republicanos que a

tinham como encarregue de actividades de espionagem.

Nos últimos anos do século XIX, Setembro de 1899, reorganizou-se o Exército. Foi

criado o Estado-Maior General e o serviço do estado-maior. No Estado-Maior

funcionavam as 2ª e 3ª Repartições, encarregues de proceder à recolha de informações

militares.

À intensificação dos movimentos revolucionários e à crescente agitação social o

governo respondeu com a Lei de, 19 de Setembro de 1902, que decretou providências 65 Vegar, José, Serviços Secretos Portugueses. História e Poder da espionagem nacional, 2.ª Ed.Esfera dos Livros, Lisboa, 2007, pp. 87

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especiais, preventivas e repressivas, quanto aos crimes contra a segurança do Estado,

atentatórios da ordem social estabelecida e de moeda falsa.

Em Dezembro de 1907, Francisco Maria da Veiga renunciou ao cargo de juiz de

instrução criminal, que exercera desde 1893, e deixa novamente o país refém de

actividade minimamente organizada de informações.

No plano externo a debilidade do Estado Português acentuava-se na exacta

medida em que os seus competidores estratégicos fortaleciam as suas estruturas de

informações, falamos, nomeadamente de países como a Alemanha, Inglaterra, França,

Holanda e Espanha, cuja sede de expansão começava a apontar para o território

africano, tendo para isso informadores alocados nas capitais do nosso país, realidade

que à altura era ficção no caso do reino português.

A primeira evidência das fraquezas portuguesas no domínio político e diplomático

ressaltaram da Conferência de Berlim, em 1885, que evidenciou claramente o

desconhecimento português face aos avanços e capacidades efectivas dos seus

competidores, acabando por sair claramente perdedor.

Desta derrota diplomática ressaltou um facto positivo: o destacar de oficiais do

exército com a finalidade de cartografar as terras e, com apoio das populações locais,

desenvolver acções de vigilância aos movimentos das tropas inglesas e alemãs. São de

salientar, a este propósito, as campanhas de Gago Coutinho, Serpa Pinto, Capelo e

Ivens. Estes contribuíram para o instituir de uma prática sistemática de recolha de

informações por parte do militares, que recolhendo dados de cariz não estritamente

militar, acabam por lavrar uma actividade que permanece como prática dos serviços

militares muito pela inerência das suas actividades em missões no exterior, a título de

exemplo.

A Conferência de Berlim constitui somente um ponto de partida do que viria a

apresentar-se como um final de século desastroso para a monarquia portuguesa e para a

credibilidade da política externa do reino. Com o Mapa Cor-de-Rosa, da autoria do

Ministro dos Negócios Estrangeiros Barros Gomes, os Ingleses sentem acossados os

seus interesses em território africano, passando de imediato a um Ultimato a Portugal,

ameaçando com retaliações militares em terras de África. Com este dado precipita-se a

queda da já depauperada Monarquia que vê a sua credibilidade lançada por terra, dando

aos Republicanos uma janela de oportunidade para o derrube do regime.

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Desta maneira sucedem-se um conjunto de acontecimentos, em primeiro lugar o

Regicídio, em 1908, e em Outubro de 1910, o triunfo da República que graças à

complexa e bem montada estrutura das “Carbonárias”, faz as tropas fieis ao rei

capitular em favor de um novo modelo de Governação.

Os republicanos fiéis depositários do ideário francês da arquitectura do Estado,

depressa fizeram o levantamento do aparelho policial e de informações, desde logo

incumbiram o Estado-maior do Exército da recolha de informações militares de cariz

interno e externo. Em 1911, a criação da Guarda Nacional Republicana e, no mesmo

ano, desenvolvimentos Constitucionais incumbem a Presidência da República da gestão

dos assuntos caros à segurança interna e externa do Estado.

Sete anos volvidos de alguma instabilidade de tumulto político, com sucessivos

governos e sucessivos melindres na condução da política de segurança do Estado, em

1918, os republicanos compulsam-se na reorganização da Direcção Geral de Segurança

Pública, dando por consequência um novo impulso à Polícia Preventiva, cujo o escopo

se projecta para a vigilância de opositores políticos e dos nomeados “opositores do

Estado, nacionais ou estrangeiros.

Esta instituição com característica de Polícia Política mantém a sua actividade até

à tomada de poder de António de Oliveira Salazar, em 1933, as Polícias de Informações

do Porto e Lisboa, a quem estavam confiadas funções de segurança interna (combate à

ameaça comunista e anarquista), são fundidas e respectivas funções entregues à Polícia

de Segurança Pública. Funções desempenhadas a curto trecho, posto que, neste mesmo

ano, Salazar, consciente da necessidade de uma Polícia Política para garantir a

manutenção do regime, faz da Polícia Internacional a Policia de Vigilância e Defesa do

Estado (PVDE) com missões nos âmbitos: obtenção de informações; controlo de

documentação de nacionais e estrangeiros, vigilância e repressão de comunistas e

anarquistas. É portanto lançado o embrião da futura Policia Internacional de Defesa do

Estado (PIDE), instituída em 1946, esta é, segundo Fernando Rosas (…) um corpo

centralizado e especializado de informação e repressão política (…).66 Organizada para

operar interna e externamente, a PIDE apresentava-se com uma estrutura bicéfala, por

um lado a Secção de Defesa Política e Social com missão de conduzir acções de

espionagem interna, mormente para precaver a ocorrência de crimes político sociais,

66 Rosas, Fernando, História de Portugal, Dir. José Mattoso, volume 7, O Estado =ovo, pp.273

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que na essência tinham como fim perseguir e desmantelar organizações comunistas e

anarquistas. Por outro, a Secção Internacional, com a incumbência de controlar a

presença de estrangeiros em Portugal; tímidas missões de contra-espionagem, e ainda a

ligação com os serviços congéneres europeus.

A PIDE acaba por ser o fruto da complexidade dos tempos de tumulto que

varriam a Europa da década de 30 e 40, tendo Salazar de acautelar os desenvolvimentos

estruturais da sua Polícia Política de acordo com os riscos que advinham de um país

vizinho em Guerra e da participação, a partir de 1939, de aliados no Conflito Mundial.

Para concretizar uma política de forte controlo e repressão face aos impactos dos

movimentos que bramavam em Espanha, Salazar urde de imediato pelo estreitamento de

relações com a congénere espanhola Seguridad, ajudando os operacionais espanhóis na

detecção e captura de republicanos comunistas e anarquistas espanhóis em território

luso.

Consciente das fraquezas da PIDE, Oliveira Salazar enceta uma forte

reestruturação na Polícia Política, para esse fim, contrata operacionais da OVRA e da

Gestapo com intuito de formar os operacionais lusos em áreas como a técnicas de

informações relacionadas com a pesquisa no terreno e análise de dados, contributo da

Gestapo, do lado italiano são introduzidas aos portugueses as técnicas de tortura para

fins de obtenção de informações junto dos prisioneiros políticos, são delas exemplo: a

privação de sono, a posição de estátua, falso afogamento, entre outras técnicas

agressivas e atentatórias da integridade física e psicológica.

Entre a décadas de 30 e 50 o Estado Novo vê-se envolvido num imbricado

equilíbrio de gestão de alianças, equilíbrio esse nomeado pelo estadista Salazar como

“neutralidade colaborante”, deste modo o Presidente do Conselho afasta as Forças

Armadas do envolvimento directo na II Guerra Mundial, tendo presente o descalabro

que fora a participação no primeiro para os cofres do Estado. Hábil e serenamente o

Estado Novo perpetua a sua governação, internamente com a perseguição ou mesmo

suicídio dos seus opositores políticos, externamente através de uma governação com

pulso de ferro nas Colónias.

Todavia, com o final da Segunda Guerra Mundial os contornos geopolíticos e

estratégicos sofrem uma profunda guinada ideológica, chocando no essencial com o

ideário de uma ditadura de direita conservadora como a instituída em Portugal. Por ora,

e em simultâneo, o ímpeto do ideário democrático singra em toda a linha no Ocidente, e

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no Bloco Soviético, afirmam-se os ideais comunistas, ambos antagónicos com os

interesses de Salazar. Começam-se a lançar os dados de uma Realpolitik mascarada de

motivações políticas e ideológicas, mas nimbada no seu interior por uma vontade

expansionista de projecção de poder em áreas riquíssimas em recursos energéticos.

Á chegada de Marcelo Caetano ao poder, em 1968, a PIDE está dotada de 3207

homens, sendo que 50% deles estão afectos ao território Africano, são na sua maioria

indivíduos com instrução primária liderados por oficiais do Exército actuando, segundo

a historiadora Dalila Cabrita, com profundo conhecimento da África portuguesa

pensando-a a “(…) um nível geoestratégico e a usarem todas as «armas» ao seu

alcance (…) para além de uma poderosa rede de informadores que penetrou ao mais

alto nível todos os movimentos independentistas, a PIDE usou os inimigos destes (…)

para obter informações vitais para reprimir e eliminar os movimentos e seus dirigentes

(…)”67

A PIDE desenvolveu um trabalho notável para uma Agência de Informações a

operar no exterior, brilhante no sentido das operações e técnicas utilizadas, dos métodos

implementadas, sendo questionável o recurso à violência física e psicológica através das

prolíferas acções de propaganda e desinformação em territórios coloniais, porventura

todo o esforço acabou por ser assoberbado pelos ideais oriundos do Espírito de

Bandung, levando a um paulatino desmantelamento do Império Colonial Luso. Vontade

dos povos, fazendo minhas as palavras de Dalila Mateus, “ (…) a guerra colonial

estava perdida (…) lá onde se perdem os conflitos deste tipo: na consciência dos

homens (…) porque os africanos na sua maioria, estavam ganhos para a ideia da

independência.”68

Na esfera interna, a Primavera Marcelista soçobra perante o esforço de Guerra

exigido ao Povo Português e face às ondas democráticas propaladas do Ocidente e os

ventos de mudança provenientes da União das Repúblicas Soviéticas é, do choque

destas tendências, que ressalta a queda da mais longa ditadura vivida em território luso e

desponta um projecto de democracia em construção.

67 Mateus, Dalila Cabrita, A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961 – 1974, Terramar, Lisboa, 2004, pp.413 68 Mateus, Dalila Cabrita, op.cit., pp. 416

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Seguem-se tempos conturbados para as Informações que vêem o escopo da sua

actividade posto em causa, por um lado, pelos Partidos nascidos da Revolução,

identificando-os com o Fantasma da Polícia Política e respectivas práticas persecutórias

e atentatórias das liberdades civis, por outro, pela presença de uma elite militar

consciente da importância das informações para a manutenção e defesa dos interesses

nacionais.

É desta “tensão” que se começa a construir o que avaliaremos no Parte III deste

Exercício, ou seja, o caminho percorrido até ao estabelecimento da actual arquitectura

das Informações Portuguesas, porém e para poder fazer esse exercício com mais

amplitude entendi escalpelizar os Modelos Anglo-saxónicos por os considerar com a

Estrutura político-jurídica mais semelhante à portuguesa, havendo algumas nuances e

pontos de encontro, todos eles espelhados ao longo das páginas que se seguem.

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Parte III

MODELOS DE REFERÊ#CIA

O Modelo #orte-americano

O Modelo Britânico

Análise Comparativa dos Modelos de Referência com Sistema de

Informações Português

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Modelos de Referência

Na construção desta perspectiva de analogia aloquei como modelos de referência

para os nossos serviços de informações os arquétipos anglo-saxónicos. Pioneiros no

engenho das informações, os britânicos e, mais tarde, os americanos, cedem priorizaram

a necessidade da existência de órgãos de apoio ao sistema político. A existência destes

organismos está altamente “dependente de inúmeros factores marcantes do sistema

político: a relevância política em termos da priorização das matérias relacionadas com

a segurança nacional; o envolvimento da sociedade civil no debate sobre segurança e

informações; o relacionamento institucional entre governo e parlamento (…) o papel

desempenhado pelos media, enquanto fiscais da legalidade democrática ou promotores

da afirmação nacional no exterior (…).”69 Todos estes factores pautam e condicionam a

eficácia dos serviços de informações e é da consciência da existência destas camadas

que se conseguem desenvolver modelos mais capazes de zelar pelos interesses de

segurança tão caros aos cidadãos.

Modelo #orte-americano

Para um melhor entendimento da comunidade das Informações nos Estados

Unidos, decidi proceder à elaboração de um pequeno friso cronológico, que, segundo o

meu entendimento, nos ajudará a compreender a sua evolução. A história e as suas

condicionantes demonstram melhor como a sociedade americana e os acontecimentos

de natureza sociológica e política determinaram a evolução desta Organização desde os

seus primórdios à actualidade.

• Década de 40

Ao apogeu de um serviço organizado de Informações estão adstritas datas

referenciadoras e para melhor compreendermos esta realidade nada melhor que gizar

um pequeno intróito histórico. Destarte, o iniciar do exercício destes labores está

associada à Presidência de George Washington, sendo que o real arvorar de instituições

69 Esteves, Pedro, O Estado e as Informações: Uma Perspectiva Sistémica, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pp.439

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polity oriented nasceram no decurso da II Guerra Mundial. O Presidente Franklin D.

Roosevelt incumbiu, em 1942, William J. Donovan da função de Coordenador do

Serviço de Informações, à altura denominado Office of Strategic Services (OSS). Estes

OSS são considerados como a antecâmara para a constituição da CIA, que, em 1947,

por deliberação presidencial de Harry Truman (National Security Act), encarrega – a da

direcção dos destinos das informações nos Estados Unidos, substituindo a =ational

Intelligence Authority e a Central Intelligence Group.

• Década de 50

No alvorar da década de 50, Harry Truman, por recomendação de um painel de

especialistas liderado por George Brownell, estabelece a =ational Security Agency

(NSA). Esta agência viu consagrados como desígnios o controlo das comunicações

(Comint).

Com o avançar da década regista-se a eclosão do conflito na Península Sul-

Coreana, forçando a um reforço da actividade da Central Intelligence Agency (CIA).

Em consideração aos circunstancialismos e aos impactos do conflito na política externa

e de segurança americana, em 1955, o =ational Security Council (NSC) reforça as

competências da Agência nos âmbitos das acções encobertas tendo em vista o alcance

de objectivos de política externa para tempos de paz.

Em 1956 emerge a Presidential Board on Foreign Intelligence Activities e, dois

anos mais tarde, sob recomendação deste Comité e com o aval de Eisenhower formou-

se o US Intelligence Board, legitimado como o único fórum de assessoria ao

Directorate of Intelligence Community (DCI).

• Década de 60

A década em questão deixa uma profunda marca na credibilidade da Agência, o

desembarque na Baia dos Porcos, a 17 de Abril de 1961, num plano levado a cabo por

um grupo de cubanos expatriados, treinados por operacionais americanos, falhou e a

CIA viu a sua reputação posta em causa na praça pública.

Quatro meses volvidos, em Agosto de 1961, o Sec. de Estado da Defesa de

Kennedy, Macnamara, cria Agência de Informações de Defesa (DIA), atribuindo-lhe a

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competência de coordenar a produção e análise de informações de todos os ramos das

forças armadas, passando os militares a providenciar o intelligence para a Secretaria de

Estado da Defesa. Ainda nesta tendência de militarização das informações, em 1965, a

DIA cria e administra uma rede de Adidos de Defesa alocados a Embaixadas com a

responsabilidade de conduzir a obtenção de informações por meios abertos.

Todos estes esforços foram fortemente mitigados pela eclosão de conflitos um

pouco por todo o Globo, sendo de nomear a Guerra do Vietname a Guerra israelo-árabe,

conflitos em áreas caras aos interesses estratégicos da Potência norte-americana.

Com estes conflitos os Serviços vêem-se compulsados para a necessidade de

garantir informações para os envolvidos nos teatros de operações militares, acabando

por dispersar o esforço de organizar a arquitectura das Informações em território norte-

americano.

• Década de 70

A década de 70, nos Estados Unidos, foi marcada por diversos escândalos

políticos propalados pelos Media, abalando em grande parte a credibilidade da

Comunidade das Informações. Os rudes golpes desferidos na Credibilidade dos Serviços

por via de Casos como o Watergate e apoios cedidos pela CIA a movimentos

independentistas Africanos para fazer face aos avanços comunistas em território

africano.

A DCI tentou sobre o mandato de Nixon efectuar alterações cirúrgicas na

estrutura da Comunidade de Informações para garantir mais eficiência e eficácia na

produção de informações e potenciar um uso mais eficiente dos recursos. Em 1972

forma-se o Estado-maior da Comunidade de Informações que prematuramente se vê cair

pelo chão com o rebentar do Caso Watergate. De emenda a emenda, em 1974, a

Emenda Hughes-Ryan obriga, pela primeira vez, o Presidente a informar as Comissões

competentes sobre qualquer operação encoberta em países estrangeiros.

Em 1978, já com o Presidente Carter como presidente, o Congresso aprova

Foreign Surveillance Act que obriga, dai em diante, a existência de uma ordem judicial

a autorizar actos dos serviços que condicionem as liberdades fundamentais dos cidadãos

americanos.

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• Década de 80

Nos anos 80, com a Presidência de Ronald Reagan, os Serviços de Informações

vêem os seus orçamentos reforçados tal como os seus quadros. Reagan fez aprovar um

conjunto de legislação que faz equipar o DCI a um Gabinete Governamental e aponta

William Casey como Director da CIA.

Os primeiros quatro anos da década de oitenta são marcados por vários avanços

legislativos, nomeadamente: em 1980 é aprovada a Classified Procedures Act, tendo em

vista a protecção de informações classificadas em tribunais criminais. Em 1981, mais

precisamente em Dezembro, Reagan emite uma Executive Order (E.O.1233)70que mune

a CIA de maior liberdade nos actos concernentes à recolha de Informações Externas. A

mesma ordem executiva vem introduzir novos mecanismos de controlo para as acções

encobertas.

Em 1982,o Congresso atribui moldura penal ao crime de denúncia de agentes

envolvidos em acções encobertas. Mais tarde em 1986, a Lei Goldwater-Nichols, vem

reorganizar o Departamento de Defesa e faz com que a DIA e a Defense Mapping

Agency (DNA) passassem a dar assistência à NSA.

É também com Reagan na Presidência que se estabelece o dever de informação do

Presidente face ao Congresso sobre as actividades da Intelligence Community. Assim,

sob a forma de um relatório, respeitante a estratégia de segurança nacional, o Presidente

terá que explicar qual o papel desempenhado pelos Serviços na prossecução da mesma e

as necessidades destes para tal.

• Década de 90

Com o dealbar da década de 90 os paradigmas que orientavam os Serviços de

Informações são fortemente abalados, sobretudo com a dissolução do Império Soviético

que tem, em 1989, na cidade alemã de Berlim, o seu início. Dois anos mais tarde, em

1991, a União Soviética entra em processo de paulatina desintegração com o florescer

das independências de Ex-Repúblicas Soviéticas.

70 Consulta na íntegra do documento possível na seguinte hiperligação: http://www.fas.org/irp/doddir/army/r381_10.pdf (08.03.2011, 14:56)

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Ainda neste ano e cientes das profundas alterações em curso no xadrez da

Geopolítica mundial, os decisores da Comunidade de Informações começam por

realinhar estrategicamente o escopo das suas Agências, apontando para as denominadas

ameaças de cariz transnacional. É o início do combate ao Terrorismo Internacional, ao

Crime Organizado em toda a sua multitude de facetas, ao Tráfico Internacional de

Armas de Destruição massiva, todos fenómenos de grande complexidade e de impacto

variável.

• A importância de Robert Gates no Mandato de George Bush I

Robert Gates, homem forte do DCI, no mandato de George Bush pai, assumiu o

compromisso de dar um novo foco à Comunidade de Informações, tendo para isso

conduzido um processo alicerçado nos tópicos abaixo:

1. A análise passaria a ter como principal consumidor a classe política;

2. Padronização de um conjunto de procedimentos que regulassem o

processo de recolha de informações por meios humanos;

3. Criação de novos gabinetes da CIA para coordenar o uso da informação

pública disponível;

4. Cria o Gabinete Nacional de Imagens, sob os auspícios da DCI e do

Secretário da Defesa, para coordenar a recolha de imagens e estabelecer

critérios uniformes para a interpretação e distribuição de imagens no

terreno.

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• O virar do Século – o Pós 9´11

O início de um novo século veio transformar em toda a linha as competências dos

Serviços de Informações, quer dos Americanos quer de todos os países democráticos

munidos destes serviços. A complexidade crescente em que o ambiente internacional vê

os seus actores agir e reagir complexificou consequentemente o modo como se

relacionam, acabando por definir as linhas de força das suas políticas externas e

respectiva manifestação de interesses na esfera externa.

Deste modo será importante aperceber-nos que o foco da actividade da

Intelligence Community irradiou em diversas direcções, seguindo o pensamento de

Mark Lowenthal “numerous issues now jostle for pride of place on the US =ational

Security Agenda: international economics;proliferation of weapons of mass

destruction; narcotics;crime; terrorism; ecological and health issues; the post- Soviet

transition in Rússia; peacekeeping operations; and a variety of regional issues – the

Balkans, the Middle East, central África (…).” 71 É esta a agenda dos Serviços de

Informações Americanos e de grande parte dos Serviços de Informações Congéneres. A

teia de assuntos que se levantam marcam a agenda e obrigaram à redefinição que

ilustramos abaixo.

Deparamo-nos no organigrama abaixo, com a arquitectura mais recente da

Comunidade das Informações nos Estados Unidos. Este quadro organizativo ressaltou

do Intelligence Reform and Terrorism Prevention Act of 2004 (IRTPA), que institui a

figura Director =acional de Informações (ODNI) de forma a garantir a gestão unificada

dos satélites presentes na IC.

71 Lowenthal, Mark M., Intelligence. From Secrets to Policy, CQ Press, Washington D.C, 2000, pp.168

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Legenda: A Organização da IC pós 200472.

Nos dias que correm a Intelligence Community americana ressalta da “coligação”

de 17 agências e organizações que operam sob os auspícios do Director Nacional de

Informações. A estes organismos cabe a função de recolha de informações vitais para a

condução das relações externas americanas e, também, para aprouver as forças de

segurança com dados essenciais para a segurança nacional. A tarefa primordial desta

órbita de agências é garantir que o Presidente e sua equipa, as polícias e a comunidade

militar recebem as informações necessárias para a correcta execução das suas tarefas

diárias.

Fazem parte desta órbita:

• Air Force Intelligence • Army Intelligence • Central Intelligence Agency • Coast Guard Intelligence • Defense Intelligence Agency • Department of Energy • Department of Homeland Security • Department of State • Department of the Treasury • Drug Enforcement Administration • Federal Bureau of Investigation • Marine Corps Intelligence

72 In. http://www.intelligence.gov/about-the-intelligence-community/structure/ , (19:43, 20.02.2011)

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• National Geospatial-Intelligence Agency • National Reconnaissance Office • National Security Agency • Navy Intelligence

Para uma melhor compreensão deste Organigrama deixo uma breve descrição das

funções dos diferentes patamares de decisão. Assim, no topo temos o ODNI chefiado

pelo DNI, cuja função é organizar e coordenar a interoperabilidade existente entre as 16

agências sob sua responsabilidade. Num segundo nível encontramos os denominados

Program Managers, cabendo-lhe assistir e aconselhar o ODNI na identificação dos

requisitos das actividades de informações, no desenvolvimento dos orçamentos e sua

administração e, por último, avalizar a performance da Intelligence Community. No

terceiro patamar, encontramos órgãos que não estão sob a alçada do Departamento de

Defesa, que têm como principal fito “alimentar” com informações as agências com

actividade em território interno e externo. Por fim temos os serviços de intelligence

militar que trabalham em cooperação com a estrutura da IC, contudo tem como

principal fundamento garantir às Forças Armadas o intelligence necessário para a

prossecução das actividades militares.

Depois de todo este constructo histórico importa fazer realçar os aspectos mais

importantes do mesmo, cabendo-me, portanto apontar os pormenores que fazem do

Sistema Norte-americano um dos pioneiros no que diz respeito ao seu

comprometimento com as Estruturas Governamentais.

Desta maneira a Administração, o Parlamento, através do Senado (Senate

Comittee on Intelligence) e do Congresso (House of Permanent Select Comittee on

Intelligence), e os Tribunais, logo a partir da década de setenta, conferem à Intelligence

Community americana um pioneirismo fora do vulgar para a época, atendendo que só

em 1994 os serviços congéneres britânicos embarcam nesta deriva de compromisso com

as estruturas governamentais.

Apesar deste forte compromisso entre a Administração, sob a figura do Presidente

e seu Cabinet, há que atentar “que o sistema norte-americano contém uma forte

componente governamental através de diversos órgãos de controlo e direcção”73 : Esta

forte componente assenta, em primeira linha, no papel de assessoria do Conselho

73 Esteves, Pedro, O Estado e as Informações: Uma Perspectiva Sistémica, in. Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pp.446

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=acional de Segurança, em segunda linha, o órgão de Assessoria Presidencial para as

Informações Externas (President´s Foreign Intelligence Advisory Board), com um

controlo transversal das actividades de informações, ou seja, cabe-lhe acompanhar as

acções de analise e operações, a definição da política de informações norte-americana e

o controlo das práticas administrativas dos serviços ao nível do recrutamento de pessoal

e cooperação internacional com congéneres. Um terceiro nível formal respeita ao Órgão

de Supervisão de Informações (Intelligence Oversight Board), criado em 1976, com

intuito de supervisionar a legalidade das actividades dos serviços, sobretudo em

operações com recurso a Comint e Telint. O órgão em causa reporta, em primeira

instância ao Presidente, podendo, em segunda instância, dirigir-se ao Procurador-geral.

Por último, mas não menos relevante, destaco o papel Centro de Gestão e Orçamento

(Office of Management and Bugdet), afecto ao Gabinete Presidencial, e tem como

função supervisionar e aprovar o projecto de orçamento para os Serviços de

Informações sendo, posteriormente, alvo de aprovação pelo Senado.

O Modelo Britânico

Os serviços ingleses de informações, cujo pioneirismo é inegável, foram um dos

primeiros a possuir uma estrutura para efeito de recolha de informações, respectivo

tratamento e posterior disseminação para o decisor político. A estrutura é organizada

com um intuito e plano de acção bem definido. Reza a história que é no reinado de

Henrique VII que se encetam os primeiros esforços de criação de tais órgãos, tornando-

se num verdadeiro serviço nacional com a Rainha Isabel I, no século XVI, sob a batuta

de Sir Francis Walsingham (1530-1590), grande responsável pelo engendrar da teia de

informadores que conduziram ao reino de Inglaterra as informações vitais para levar de

vencida a Armada Invencível espanhola. Aponto ainda como momento importante para

o lançamento das Informações, a criação por John Turloe (1599-1658) do «Department

of Intelligence», na altura fortemente financiado por Cromwell, e considerado como o

embrião que deu azo, quatro séculos mais tarde, ao Secret Service Bureau, estabelecido

em 1909, criado para dar resposta à ameaça germânica, no duro combate que se

registava entre ambos para alcançar hegemonia naval.

O recurso à espionagem era frequente e constituía a principal fonte de recolha de

informações, sendo de notar a captura de um agente germânico, em posse de

documentos caros à armada britânica, o senhor Frederik Gould, caso registado, em

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Fevereiro de 1914, constituindo um precedente para consequente intensificação das

actividades de contra-espionagem britânicas.

A necessidade e afirmação das actividades desenvolvidas por serviços desta

natureza foram-se adensando, na exacta medida, em que as ameaças externas e internas

colocadas ao Reino Unido se foram complexificando e variando de natureza. Realce-se

a ameaça colocada por espiões Soviéticos e Alemães no decurso dos conflitos mundiais;

a nível interno com o cimentar da III Internacional na Rússia, o Partido Comunista

Britânico cimenta as suas actividades, escudando, na maioria das vezes, o papel a

desempenhar por operacionais russos em terras de Sua Majestade. Ainda a nível interno,

registam-se fortes movimentações de Movimentos Fascistas, sendo de notar a presença,

em território britânico, de um braço do Partido Nazi.

O combate ao poderio hitleriano foi a pedra de toque dos Security Services, quer

MI5 quer MI6, até 1945, desempenhando importante papel no plano da agenda de

segurança externa nos âmbitos da contra-informação e contra-espionagem, no plano

interno, conseguindo identificar espiões germânicos e outros leais à Coligação Fascista

derrotada no final do conflito mundial.

Com o estabelecimento de uma Ordem Mundial torneada pelas Potências que

saíram vencedoras da II Guerra Mundial, o Reino Britânico vê disparar, na componente

doméstica, o recrudescimento das actividades dos movimentos independentistas

Irlandeses como principal foco de insegurança interna e, na componente externa, a

necessidade de lidar com a imanente clivagem ideológica dos pólos de poder

antagónicos, de um lado, os Estados Unidos portadores da idiossincrasia ocidental

democrática, do outro, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, apologistas de

modelo comunista de Estado e Organização política e social. Podemos comprovar tal

realidade nesta transcrição presente no site do MI5 “ (…) Europe, and indeed that of the

Security Service, was dominated for the next thirty years by the ideological conflict

between the Soviet bloc and the Western democracies. Subversion and Soviet espionage

were key concerns during the Cold War, and from the 1970s onwards terrorism also

emerged as a serious threat to national security.”74

74 In. https://www.mi5.gov.uk/output/1960-to-1989.html, ( 11-03-2011; 13:12)

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Com o rematar da Guerra-fria, o escopo de actuação dos Serviços Secretos, um

pouco por todo o globo, força-os a um redireccionamento, partindo para um combate

mais complexo, diversificado e plurifacetado. A perspectiva bipolar em que o Sistema

Internacional fazia assentar as suas constantes e linhas de força cai e é substituída por

uma anarquia multipolar onde os actores estatais se confrontam com um conjunto de

ameaças de cariz difuso e de natureza diversa, parte-se para a denominada “War Against

Terror” que tem, no 11 de Setembro de 2001, o seu marco histórico de arranque. O MI5

e o MI6 redefinem as suas prioridades para o combate ao Terrorismo Internacional e o

Terror de cariz interno praticado pelo Irish Republican Army (IRA).

A Arquitectura Britânica do Sistema de Informações

No essencial deste levantamento irei somente dar relevo às alterações que, a meu

entender, são dignas de relevar ao longo dos últimos trinta anos de actividade dos Secret

Services, sendo estes no seu essencial que influem, embora com tímidos contornos, na

construção dos serviços civis de informações portugueses. Atrevo-me, correndo algum

risco, a afirmar que são quase paralelos os desenvolvimentos em Portugal e no Reino

Unido.

A legislação delineada pelos bretões, em muito se deve à paulatina pressão que os

Media britânicos e a opinião pública vão exercendo sobre as actividades dos Serviços,

destarte, em 1989, e dimanado sobre a forma de legislação, o Security Service Act

(SSA) vem escrutinar as actividades do Security Service (MI5). Com este acto

legislativo as operações cobertas passam a ser responsabilidade da tutela, o Ministério

do Interior, que nestas acções deve garantir o estabelecimento de um processo de

investigação pelo poder judicial. A amplitude desta reforma foi contestada e

considerada como minimalista por renomados académicos, sendo um deles Patrick

Birkenshaw, que considera que o Secret Intelligence Service (MI6) e Government

Communications Headquarters (GCGQ) não foram “tocados” neste acto de cosmética

legislativa.

Cinco anos volvidos, em 1994, por via do Intelligence Services Act o MI6 e

GCHQ são investidos de uma base estatutária e, consequentemente, passam a ser alvo

de regulamentação. É consagrada a participação parlamentar na actividade de

informações, atribuindo ao órgão legislativo capacidade participativa e fiscalizadora

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através do Comité de Informações e de Segurança (CIS, Intelligence e Security

Committee). Este Grupo é responsável pela administração, despesas e políticas dos três

principais serviços de informações. Composto por deputados, desvinculados do Cabinet,

apontados pelo Primeiro-Ministro, com conhecimento e aprovação do líder da oposição,

tem o foco da sua actividade limitada pelo incipiente números de activos e ainda pelo

poder discricionário atribuído aos directores dos Serviços que podem, ao abrigo da

tutela da sensibilidade das informações, agir sem o dever de comunicar a este órgão de

fiscalização. Cabe ainda a este Comité produzir relatórios dirigidos ao Primeiro-ministro

e a publicação do relatório anual de actividades.

No âmbito da actividade das Informações ressaltam dois órgãos de controlo e

direcção governamental o Joint Intelligence Organization (JIO) e o Joint Intelligence

Comittee (JIC), cuja existência precede em muito as estruturas de fiscalização,

existentes desde 1936. O JIC é constituído pelos Directores dos três ramos das

informações britânicas civis, pelo director dos Serviços Militares (Defense Intelligence

Staff) e pelo Presidente do JIO, funciona como órgão sénior de análise e de tratamento

da produção analítica. Ainda alvos do seu exercício constam funções de supervisão

sobre as actividades dos serviços, em linha de conta com as directivas produzidas pelo

Permanent Secretaries Commitee on the Intelligence Services (PSIS) e pelo Comité

Ministerial para os Serviços de Informações (MIS), delineando deste modo as

orientações políticas aos Serviços, submetidas ao Conselho de Ministros para

aprovação.

Com o final da elaboração de cariz histórico e, também, organizativo dos três

Serviços, que tomo como passíveis de análise comparativa, reservo para a última fase

desta parte da Tese, uma avaliação dos pontos de semelhança orgânica e funcional dos

Serviços de matriz anglo-saxónica com os lusos.

Análise Comparativa dos Modelos de Referência com Sistema de Informações Português

A análise que me proponho a gizar nesta sessão parte da minha leitura e análise da

arquitectura dos três Serviços de Informações cuja actividade histórica e orgânica

analisei, sendo que para chegar a estas conclusões me debrucei, quase exclusivamente,

nos desenvolvimentos ocorridos ao longo das últimas três décadas de existência de

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Controlo Governamental

Intra-Organização

Extra-Organização

Auditores Inspectores-gerais

Directo

Indirecto

Estruturas de direcção, autorização e coordenação

Comissário Coordenador Geral Inspector-geral

Serviços/Órgãos responsáveis, em Portugal, Reino Unido e Estados Unidos da América,

pela condução das actividades de suporte ao funcionamento das respectivas tutelas

políticas.

Ao abrigo desta lógica, vou apresentar estes quadros comparativos, à guarida da

paulatina integração e responsabilização dos Serviços de Informações, em primeira

linha junto dos órgãos políticos, e numa segunda linha, através da criação de

mecanismos de fiscalização externa próprios do advento de uma maior

consciencialização da sociedade civil e dos media perante as actividades dos Serviços

de Intelligence.

Quadro I: Controlo Governamental75

No quadro acima exposto conseguimos aferir, em todos os três sistemas

semelhanças inequívocas, todos os três dispõem de Mecanismos de Controlo

Governamental. Em primeira linha, debruçando-me sobre o caso Português,

encontramos como mecanismos de controlo governamental o Conselho Superior de

Informações (CSI), o Conselho Consultivo do SIRP e a figura do Secretário-geral do

SIRP, todos eles na dependência do Primeiro-Ministro.

75 Quadros construídos a partir do contributo de Pedro Esteves na Obra, Informações e Segurança. Estudos em Honra Do General Pedro Cardoso, (Coord). Adriano Moreira, Ed. Prefácio, Lisboa, 2004, pp.443

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Neste primeiro momento, identificamos claras semelhanças com =ational

Security Council Americano e com o JIC britânico, todos eles dependentes

funcionalmente das respectivas tutelas. O Presidente no caso dos Estados Unidos, dos

Primeiros-ministros no caso luso e britânico. Há pois uma notória tendência para uma “

(…) direcção unificada ou fusão de topo (…).”76Esta fusão de topo é mais clara,

quando nos focalizamos no caso americano e português, no primeiro, a figura do

Secretário Geral como o nexo veiculador das dinâmicas relacionais entre Serviços e

tutela política, no caso norte-americano, a figura do OD=I – Director =acional de

Informações garante a coordenação da intelligence community americana e é o principal

nexo de ligação ao Presidente.

A gestão de topo não é tão notória na orgânica dos serviços britânicos, havendo

sim o PSIS e MIS que garantem a barganha com o Primeiro-ministro e Ministros que

tutelam os Serviços. Ressalvem-se ainda as figuras dos Home Secretary e Foreign

Secretary britânicos, que acabam por fazer relevar alguns laivos de semelhança ao

OD=I Americano e ao SGSIRP lusitano, sendo sua incumbência, mediante o reporting

dos directores da Intelligence Machinery, estar ao corrente das actividades

desenvolvidas pelos seus ramos, autorizar missões de cariz mais sensível e informar o

Chefe de Estado das suas actividades. De relevar, no caso português a figura do

Secretário-geral de Segurança Interna (SGSI) dotado de competências de coordenação,

direcção e controlo, no âmbito da segurança interna, transversais a todas as forças de

Segurança portuguesas, é pois um claro exemplo das tentativas de direcção unificada

(Lei 53/2008).

Para manter esta lógica de paralelismo, continuemos a análise dos Órgãos

interministeriais de consulta e coordenação em matéria de informações, o CSI, que

apresenta como congéneres, no desempenho de funções de natureza análoga, nos

Estados Unidos, o denominado President´s Foreign Intelligence Board, com funções de

monitorização e gestão dos serviços. O Conselho Superior de Informações acaba por

estar investido, no quadro das suas competências de “Aconselhar e coadjuvar o

Primeiro-Ministro na coordenação dos serviços de informações; Pronunciar-se sobre

todos os assuntos que lhe forem submetidos em matéria de informações pelo Primeiro-

Ministro ou, com autorização deste, por qualquer dos seus membros; Propor a

76 Carvalho, Jorge da Silva, Segurança =acional, Serviços de Informações e as Forças Armadas, Intervenção na Faculdade de Letras de Lisboa, 28 de Maio de 2009, pp. 14

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orientação das actividades a desenvolver pelos serviços de informações.”77Entidade

que é, no caso britânico, o JIC, desempenha, no quadro das funções que lhe são

atribuídas tarefas de igual natureza aos seus congéneres.

Ainda parte destes mecanismos de controlo governamental há que salientar o

papel das instâncias responsáveis pela gestão dos recursos financeiros dos Serviços de

Informações. No caso Português, com a introdução da Lei n.º 9/2007, os Serviços viram

esta função centralizada no Departamento Comum de finanças e apoio geral compete –

“o desenvolvimento de actividades quanto a gestão e administração de pessoal, gestão

financeira e controlo orçamental, administração patrimonial e apoio instrumental”78.

No caso norte- americano esta monitorização compete ao Office of Management and

Budget, afecto ao Gabinete Presidencial, tendo por função aprovar o projecto de

orçamento para os Serviços de Informações, que em ultima análise segue para

aprovação no Congresso.

No Reino Unido estas funções são asseguradas pelo Accounting Officer

responsável pela elaboração do Single Intelligence Account (SIA), esta função é

desempenhada pelo Conselheiro de Segurança Nacional do Primeiro-Ministro, sendo a

sua actuação auditada, tal como de todos os outros ministérios, pelo =ational Audit

Office (NAO). O trabalho deste órgão é ainda conferido e aprovado pelo Intelligence

and Security Committee.

77 Artigo 18.º alínea 5, sub alíneas a)b) e C), da Lei de Quadro do Sistema das Informações Portuguesas, publicada no Diário da República 1 Série-A, n.º 261, de 6 de Novembro de 2004 78 Artigo 20.º, alínea 1, Estabelece a orgânica do Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) e do Serviço de Informações de Segurança (SIS), publicada no D.R, 1.ª Série, n.º 35, de 19 de Fevereiro de 2007

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Fiscalização Externa

Parlamentar

Judicial

Comissão Especializada

Procurador-geral Magistrados destacados

Autónoma Órgão ad-hoc

Directa

Indirecta Comissão não Especializada

Quadro II: Comissão Especializada de Fiscalização Externa79

Nesta análise comparativa de cariz tripartido, proponho-me, agora em segunda

linha, a avaliar os mecanismos externos de fiscalização, onde é notória a participação do

Parlamento que está imbuído “pela excelência do seu simbolismo político , de um papel

determinante como barómetro dos níveis de responsabilização política dos serviços de

informações.”80 Encontramos nos três países estudados participação dos respectivos

Parlamentos. No caso português destacamos Conselho de Fiscalização do Sistema de

Informações da República Portuguesa, que sob a dependência funcional da A.R,

escrutina as actividades do SGSIRP e dos serviços, velando pelo cumprimento da

Constituição e da Lei. Nos Estados Unidos esta fiscalização/monitorização é garantida

pelos Senate Select Commitee on Intelligence e House Permanent Select Commitee on

Intelligence. O primeiro encarregue de “ (…) oversee and make continuing studies of

the intelligence activities and programs of the United States Government, and to submit

to the Senate appropriate proposals for legislation and report to the Senate concerning

such intelligence activities and programs.”81 O âmbito do segundo é de supervisão das

actividades das dezassete agências que compõem a Intelligence Community, partilhando

responsabilidade com o Comité das Forças Armadas e do Departamento de Defesa. São

notórias as semelhanças em termos de tarefas do nosso Conselho de Fiscalização do

79 Op.cit, pp.444 80 Op. Cit., pp. 444 81 In. http://intelligence.senate.gov/jurisdiction.html, ( 12.03.2011, 12:00)

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SIRP e destes órgãos bicamerais de fiscalização das actividades do Intelligence norte-

americano. No Reino Unido, com semelhante teor de actividade, levanta-se o

Intelligence Security Commitee, que tem como primordiais competências: examinar a

administração, despesas e políticas dos três principais serviços e, ainda, garantir a

execução de relatórios dirigidos à tutela, e a publicação de relatórios de actividade

anuais, contendo guidelines para a actuação dos Serviços Britânicos de Informações.

No caso Português a Fiscalização Externa de dados, por parte das instâncias

judiciais é garantida pela da Comissão de Fiscalização de Dados “ (...) é fiscalizada, em

exclusividade, pela Comissão de Fiscalização de Dados do SIRP, constituída por três

magistrados do Ministério Público, designados e empossados pelo Procurador-Geral

da República que, entre eles, elegem o respectivo presidente”82 . No que diz respeito ao

escrutínio·judicial da política de registo, manuseamento e controlo de dados nos

serviços de matriz anglo-saxónica ressalta uma particularidade, que ao mesmo tempo é

uma similaridade entre ambos, comparativamente ao nosso quadro legal, a

monitorização dos dados está, nos Estados Unidos, sobre a tutela do Intelligence

Oversight Board, que tem a possibilidade de reportar as irregularidades dos Serviços

directamente ao Procurador Geral. Os britânicos a este respeito e abrangendo em toda a

linha a fiscalização quer de dados, quer das actividades “secretas”, legislou no sentido

de dar forma ao Regulation of Investigatory Powers Act (RIPA) que prevê a

consagração de um Tribunal – Investigatory Powers Tribunal- “(…)The Tribunal

superseded and amalgamated the Security Service Tribunal, the Intelligence Services

Tribunal and the Interception Tribunal. It is independent of the Government and is

made up of senior members of the legal profession or judiciary.”83 Há aqui uma clara

aposta na fiscalização externa dos Serviços, mas á laia de conclusão, após toda esta

análise sou forçado a salientar que é junto dos órgãos com cariz de Controlo

Governamental que se centra o ónus das acções que pautam a actividades dos Serviços

de Intelligence. Este fenómeno ressalta da natureza fortemente consultiva que estes

serviços assumem face aos dignitários do poder político. Na linha de McLaughlin “(…)

is at the nexus between intelligence and policy that we test everything from the

substantive merit of the product to the quality of our tradecraft to our efectiveness in

82 In. http://www.sis.pt/cfdsirp.html, (12.03.2011, 12:36) 83 In. https://www.mi5.gov.uk/output/investigatory-powers-tribunal.html, (13.03.2011, 20:37)

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training and managing analysts”84 As Informações são um meio para a obtenção de um

fim maior, de um interesse que se consubstancia na defesa do Estado e dos seus

cidadãos. O Estado “bem informado” é um actor com capacidade de actuar

estrategicamente face a potenciais ameaças que se levantem aos seus interesses

estratégicos, quer de foro interno ou externo, portanto um País em que um Governo se

regule por uma cultura de informações, que preze e não negligencie a importância do

trabalho efectuado à montante da decisão política conseguirá actuar preventiva e

coerentemente face aos desafios que se lhe levantem.

O que mais contribui para que estes três serviços se assemelhem é o actual

“milleu” internacional em que se inserem, todos se debatem com as questões da

complexificação das ameaças de cariz externo e interno, com a proliferação do

terrorismo internacional e do seu irmão financiador – o crime organizado transnacional.

Ambos ameaças de cariz assimétrico e difuso. Os Estados vêem-se confrontados com

um novo espectro de Actores no palco internacional com o qual travam uma luta de

cariz assimétrico, é portanto com base nesta matriz evolutiva complexa que o nosso

Sistema de Informações tem vindo a ser alvo de constantes reenquadramentos, cuja

profundidade e alcance avaliaremos na IV parte do Estudo.

.

84 McLaughlin, Jonh, Serving the =ational Policymaker, in Analyzing Intelligence, (Coord.) Roger Z. George e James B. Bruce, Ed. Georgetown University Press, Washington Press, 2008,pp 71

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Parte IV

QUADRO DE ACTUAÇÃO DOS SERVIÇOS CIVIS DE

I#FORMAÇÕES EM PORTUGAL

Relação Analista vs Decisor Político

“The mission of intelligence analysts is to aplly in-depth substantive expertise, all-

source information, and tough-minded tradecraft to produce assessments that provide

distinctive value-added to policy clients efforts to protect and advance security interests”

Jack Davis, Sherman Kent Center

“ (…) Garantir o regular do funcionamento das instituições democráticas com vista à defesa da independência nacional e da unidade da segurança do Estado, pela detecção oportuna dos

riscos, vulnerabilidades e ameaças”

General Pedro Cardoso

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As Informações na actividade do Estado

Chegado a este patamar passarei agora a cingir-me ao objecto de Estudo: o

Sistema de Informações Português. Já com noção dos contributos acolhidos pelo nosso

sistema da parte dos EUA e Reino Unido, feitos os devidos paralelismos, chega a altura

de me ater, em primeiro lugar, à arquitectura dos Serviços Lusos e ao Enquadramento

Jurídico-legal em que se alicerça.

Para fazer este exercício vamos debruçar-nos, somente no Quadro Jurídico actual,

posto que a sua entrada em vigor veio, de acordo com a letra da lei, revogar as

anteriores prerrogativas legais.

O nosso ponto de partida é a Lei n.º9/2007 que estatui a orgânica do Sistema de

Informações da República Portuguesa (SIRP), instituindo o cargo de Secretário Geral

do Sistema de Informações da República Portuguesa e outorgando aos serviços de

informações o encargo de assegurar, no respeito da Constituição e das Leis da

República, a produção de informações necessárias à salvaguarda da independência

nacional e à garantia da segurança interna.

Verificamos na Imagem infra a morfologia do SIRP:

Legenda: Organigrama do Sistema de Informações da República Portuguesa85

85 In. http://www.sirp.pt/cms/view/id/15,

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À imagem acima exposta segue-se uma curta explanação sobre a lógica de

funcionamento deste sistema complexo de “checks and balances” onde todos os órgãos

presentes desempenham uma tarefa específica e bem delineada na Lei supra-referida,

assim sendo:

• a Assembleia da República elege os membros do Conselho de

Fiscalização dos Serviços de Informações e ouve em sede de comissão

parlamentar, o indigitado para o cargo de Director Geral de cada um dos

serviços:

• O Secretário-geral do SIRP, do SIED e do SIS, dependem

directamente do Primeiro-Ministro;

• O Primeiro-Ministro dispõe de várias competências no âmbito do

SIRP: coordena a actividade dos Serviços, preside o Conselho Superior de

Informações e informa o Presidente da República;

• A acção do Primeiro-Ministro é coadjuvada pelo Conselho

Superior de Informações;

• O Conselho Superior de Informações é assessorado, em

permanência, por uma Comissão Técnica;

• a Comissão é presidida pelo Secretário Geral do SIRP e demais

Secretários Gerais do SIED e do SIS;

• o Procurador Geral da República escolhe os membros da

Comissão de Fiscalização dos Centros de Dados;

• as Forças Armadas são responsáveis pelas actividades de

informações, necessárias ao cumprimento das suas missões especificas e à

garantia da segurança militar.

Limites à actuação dos Serviços de Informação, no actual Enquadramento

Jurídico-legal

As actividades desenvolvidas no âmbito do SIRP obedecem a diversos

princípios norteadores:

• Principio do respeito pela Constituição e pela Lei;

• Principio do respeito pelos direitos, liberdades e garantias;

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• Principio da legalidade das atribuições e competências: as

finalidades do SIRP realizam-se exclusivamente mediante as atribuições e

competências dos serviços previstos na Lei-quadro do SIRP;

• Principio da especificidade das atribuições: cada serviço só pode

desenvolver as actividades de pesquisa e tratamento das informações

respeitantes às suas atribuições específicas;

• Principio da limitação do âmbito de actuação: os funcionários e

agentes do SIS ou do SIED não podem exercer poderes, praticar actos ou

desenvolver actividades no âmbito de competência dos tribunais ou das

entidades com funções policiais, sendo expressamente proibido procederem à

detenção de indivíduos ou à instrução de processos penais;

• Principio da exclusividade: é proibido que outros serviços

prossigam objectivos e actividades idênticos aos dos previstos na Lei-Quadro do

SIRP;

• Princípios de sigilo e do Segredo de Estado: os funcionários ou

agentes dos serviços de informações são obrigados a guardar um rigoroso sigilo

sobre as informações a que tiverem acesso; as informações relacionadas com a

actividade do SIS e do SIED são protegidas por segredo de Estado.

O Sistema de Informações da República Portuguesa e seus órgãos têm o seu

escopo de acção delimitado num “espartilho legal” que cerceia/delimita a capacidade de

actuação destes. No capítulo das limitações à actuação dos serviços, destacamos a

preponderância do articulado legal presente na Lei n.º 9/2007, estritamente nos Artigos

6.º e 7.º.

O primeiro artigo apresenta como Epígrafe – Limite das actividades – onde parte

dos princípios acima expostos se espraiam. Desta maneira há que salientar, em especial,

o facto de os agentes funcionais dos serviços “ (…) não podem desenvolver actividades

que envolvam ameaça ou ofensa aos direitos, liberdades e garantias consignados na

Constituição e na lei (…)”86 ponto n.º1 do artigo 6.º. No seu segundo ponto há menção

ao facto de estar vedado aos os funcionários o exercício

“ (…) De poderes, praticar actos ou desenvolver actividades do âmbito da

competência específica dos tribunais, do Ministério Público ou das entidades com

86 Lei 9/ 2007 de 19 Fevereiro de 2007, Diário da República, 1.ª Série – n.º 35- pp. 1239.

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

funções policiais.”87. Esta referência vai ao encontro da preocupação por mim expressa

ao longo da explanação presente no articulado do ponto 2.1. Já o terceiro ponto do

Artigo 6.º, vai novamente de encontro à destrinça/separação das actividades de

informações das de cariz policial e judicial, mencionando o seguinte “ (…) é ainda

expressamente proibido proceder à detenção de qualquer pessoa ou instruir inquéritos e

processos penais. (…)”88O quarto e último ponto deste Artigo, à semelhança do Ponto 1

e 2 do artigo 7.º, refere o quadro operativo das sanções a aplicar aqueles que

desrespeitem/prevariquem os trâmites legais adstritos aos que desempenham funções

nos Serviços.

As Informações vs a Investigação Criminal

Na tentativa de dissecar o sentido de actuação dos Serviços de Informações ao

labor do Estado, vamos ao encontro das palavras do nosso actual Ministro da

Administração Interna, Rui Pereira, que espalda a destrinça entre informações e a

investigação criminal com base na lei Quadro do SIRP e na Lei de Organização da

Investigação Criminal. Assim, “ (…) atribui ao Serviço de Informações Estratégicas de

Defesa e ao Serviço de Informações e Segurança a responsabilidade de produzir

informações tendentes a garantir a independência nacional e a segurança interna,

respectivamente, em regime de exclusividade, proíbe os serviços de informações de

praticarem quaisquer actos da competência da polícia criminal ou das autoridades

judiciárias (…)”89 Contudo, e na mesma linha funcional, Rui Pereira refere-se às

informações como antecâmara da investigação criminal, não esboçando portanto uma

total incompatibilidade entre a investigação criminal e as informações. Destarte, as

informações constituem-se como instrumentais da investigação criminal, posto que as “

(…) informações de segurança, em especial, constituem uma fase prévia da própria

prevenção criminal (…)”90 Na mesma linha de pensamento, encontramos a seguinte

asserção do actual Secretário Geral do SIRP, o Procurador Adjunto Júlio Pereira, que se

refere a esta dialéctica da seguinte forma “ (…) podemos dizer que as informações e a

investigação criminal são duas realidades que convivem na actividade da segurança

interna, que interagem na respectiva prossecução e que têm um ponto privilegiado de

87 Op,cit pp. 1239 88 Op cit, cit, pp. 1239 89 PEREIRA, Rui, Informações e Investigação Criminal, in Política Internacional n.28. ed. Noticias Editorial, Julho 2005, pp. 14 90 OP.cit, pp. 15

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

encontro no domínio da prevenção criminal (…) “ acabando o encontro destas duas

actividades coadjuvantes por constituir “ (…) o ponto de referência para os limites de

intervenção dos diversos operadores do sistema.”91

Á laia de conclusão determinamos então que às actividades de informações

compete avisar, ou seja, actuar à montante. Enquanto que às policias concerne evitar e

investigar, actuar à jusante, não sendo de todo esta lógica linear, posto que também as

policias são detentoras de Departamentos responsáveis pelo tratamento de informações,

cuja actuação preventiva é clara, podendo, ao contrário dos serviços, fazer uso coercivo

do poder de que estão investidos em caso de prevaricação da ordem/segurança. Assim

sendo, às primeiras estão adstritas actividades de determinar a identidade, capacidades e

intenções das organizações ou indivíduos hostis, que possam estar envolvidos em

terrorismo, espionagem, sabotagem ou subversão. A informação policial tem antes

como objectivo evitar, investigar, procurando munir-se de dados de delinquentes, seus

antecedentes, identificação, paradeiro, características físicas, mandados de captura,

interdições de saída, enfim, um conjunto de elementos úteis para a prevenção e

investigação criminais.

Os Serviços de Informações e o Sistema Integrado de Segurança Interna

Com a aprovação da Lei n.º 53/2008, de 29 de Agosto, o quadro de actuação das

Forças, que em conjunto formam o Sistema de Segurança Luso, viu introduzir no seu

âmago um conjunto de alterações dignas de reflexão. No caso concreto do Case Study a

desenvolver, achei que por questões de conveniente brevidade, deveria circunscrever a

análise ao impacto desta última no Sistema de Informações da República Portuguesa.

Por ora, e de forma a dar resposta ao acima exposto verificamos que no

Articulado da Lei 53/2008, mais estritamente no Capitulo III da Lei, no Artigo 12.º sob

a Epigrafe – Natureza e composição do Conselho Superior de Segurança Interna –

verificamos a menção no ponto 2 alínea f) à presença do Secretário Geral do SIRP neste

mesmo Conselho do SISI, factor que de per si demonstra o inter-

relacionamento/entrecruzamento de ambos os sistemas.

91 PEREIRA, Júlio, Segurança Interna: O mesmo conceito, novas exigências, in Segurança e Defesa n.3, Maio-Julho 2007, pp. 99

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Ao nível das competências do Secretário-geral do Sistema de Segurança Interna

(SG. SISI) acabam por se assemelhar, grosso modo, com o regime de direcção unificada

do SIRP, havendo, contudo, por parte do Sec. Geral do SISI um espectro de

competências mais amplo, tal como constatamos no Artigo 15.º “O Secretário -Geral do

Sistema de Segurança Interna tem competências de coordenação, direcção, controlo e

comando operacional.”92 Estas competências espraiam-se sob todas as forças de

segurança (vide em Anexo: Artigos 16.º Competências de Coordenação; 17.º

Competências de Direcção; 18.º Competências de Controlo; 19.º Competências de

Comando Operacional).

A criação do SISI leva-nos, forçosamente, ao esboçar de uma observação no que

atine à tentativa, por parte do legislador, de melhorar a articulação e cooperação entre as

diferentes Forças de Segurança, sendo de denotar o esforço de definir uma estratégia

abrangente, numa “ (…) lógica de complementaridade institucional, importando

contributos de outros sistemas e sub-sistemas diversos da segurança interna (…)

preconiza-se, assim, um conceito abrangente, porque interdisciplinar, de segurança

interna.”93 Neste âmbito há que mencionar, a igualmente importante menção, na

Resolução 45/2007 (antecâmara da lei 53/2008), que será competência do SG do SISI o

estabelecimento de adequados mecanismos de cooperação institucional entre o primeiro

e o SG do SIRP, por modo a, de acordo com os trâmites legais, beneficiarem respectivas

missões com a imprescindível gestão da partilha de informações. É notória então a

barganha entre ambos os Secretários Gerais, responsáveis portanto pelo escorreito

entrosamento entre o Sistema de Informações e o Sistema de Segurança Interna.

Conclui-se portanto que esta lógica do SISI consiste em “ (…) considerar o SIRP

no seu todo, e não apenas, o serviço de informações de segurança interna que o integra,

mas também o SIED, serviço de informações de “segurança externa”. Ressalta aqui a

(…) referida lógica abrangente e interdisciplinar (…)” do actual enquadramento legal

que norteia o SISI. Método que permite um melhor perspectivar das ameaças à nossa

segurança interna, em primeira linha, e aos nossos interesses externos, numa segunda

linha de acção, vectores que em conjunto permitiram ao Estado Português agir de modo

mais coerente para fazer face a eventuais ameaças à sua segurança e estabilidade sócio –

92 Lei 53/2008, Diário da República, 1.ª série — =.º 167 — 29 de Agosto de 2008,pp. 6137 93 Carvalho, Jorge Silva, O Sistema Integrado de Segurança Interna e a sua articulação com o Sistema de Informações da República Portuguesa, in Segurança e Defesa n.º 3, Maio-Julho 2007,pp.117

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

política, finalidade suma das Directrizes de Segurança e Defesa de qualquer Estado

Nação.

Analisado o actual quadro de actuação dos Serviços de Informações, quer no que

diz respeito às suas competências, quer no que lhe delimita as suas actividades, parto

para o estudo da relação que resulta do contacto entre os Profissionais das Informações

e os Decisores políticos que servem. Avance-se então para o último propósito deste

exercício.

Relação Analista vs Decisor Político

A relação que ressalta da interacção entre o agente político e o analista de

informações propala-nos para a necessidade de avaliar como ambos se relacionam, e de

que maneira a sua relação influi nos processos de formação da decisão. Na óptica do

General Pedro Cardoso “ [T] al serviço não deverá ser promotor de qualquer política,

não pode agir sem autorização das mais altas entidades e não pode tomar decisões a

nível quer da política interna, quer da externa. Limita-se a fazer estudos, análises

propostas sob o signo da previsão e com sentido prospectivo, que ajudem as entidades

competentes a tomar decisões e a conduzir a política”94

Em primeira linha convêm realçar que ao analista está confiada a tarefa de

desenvolver análise de acordo com directrizes que lhe são apostas pelas chefias,

nomeadamente, tutelas ao serviço ou da confiança da classe política. As últimas, de

acordo com as necessidades da sua política externa e interna, fazem chegar aos serviços

determinados inputs que reflectem as suas necessidades de informação. É aqui que se

apresenta o maior desafio, posto que, e como nos ressalta, será óbvio que o pretendido é

que as decisões políticas sejam as mais adequadas face às conjunturas presentes e

futuras. Ao analista é então exigido que consiga produzir relatórios, briefings ou estudos

prospectivos que respeitem cinco requisitos, tidos por John Mclaughlin como

essenciais:

1. a exactidão/capacidade de síntese é tida como uma virtude

inestimável para o analista, posto que confrontado com a panóplia de fontes de

informação e estímulos dela advenientes, terá que conseguir pautar o seu

esforço analítico pela precisão e capacidade de síntese;

94 Cardoso, Pedro, Op. Cit. pps. 153 e 154

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2. a perceptibilidade entendida como a capacidade de revelar o

desconhecido e a incerteza. Ser explícito é uma capacidade dita como crítica

num analista, isto para que o receptor da mensagem (decisor) compreenda o

teor da mensagem passada, evitando desta forma a denominada, por

Mclaughin e Shulsky, “intelligence failure”95;

3. a capacidade de dar resposta rápida às exigências do decisor

político assume-se como uma das mais importantes facetas do trabalho do

analista. Sobretudo quando lidamos com matérias tão fluidas e mutáveis. As

necessidades do decisor político são pautadas pelo ritmo das alterações

conjunturais, sendo, desta maneira, essencial dar resposta pronta e coerente, se

possível por antecipação;

4. a capacidade demonstrada pelo analista em rever as suas

posições e julgamentos presentes nos relatórios deverá ser apresentada ao

decisor político. Entenda-se pois que o analista deve mostrar ao decisor

político que o report que lhe apresenta não se trata de uma verdade absoluta,

mas sim um trecho capaz de o munir de informação para actuar no momento,

face a uma determinada realidade/ameaça. A informação é fluida, exigindo-se

assim a comunidade das informações uma busca contínua de respostas às

exigências colocadas pelo consumidor político;

5. a capacidade de mostrar pontos de vista alternativos, de

propor soluções multidimensionais. É nesta etapa que o analista se revela

capaz de apresentar alternativas, planos de contingência devidamente

enquadrados, para que o consumidor (decisor político) dimane o acto decisório

consciente das implicações decorrentes do acto decisório.

No entender de McLaughlin mais importante do que todos estes itens acima

expostos é que o “ [A] nalysts must do more than merely state their opinions. (…)

today´s intelligence analysts must understand the policymaker´s world better than the

policymaker understand the intelligence world; Deal with enourmously complex

subjects in a highly sophisticated manner, even when given only limited time, space,

and data.96”

95 McLaughlin, Jonh, Serving the =ational Policymaker, in Analyzing Intelligence, (Coord.) Roger Z. George e James B. Bruce, Ed. Georgetown University Press, Washington Press, 2008, pp. 79 96 Op.cit, cit., pp. 80

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A Visão dos Intervenientes

A estruturação desta parte da Tese terá como referenciais asserções retiradas de

Entrevistas, Exposições Públicas de (ex) responsáveis políticos e (ex) Oficiais de

Informações com cargos de chefia, testemunhos a partir dos quais vou extrapolar um

conjunto de indicações/pistas, que permitam aferir o que pauta o relacionamento entre

ambos.

Num primeiro momento, dou ênfase a uma resposta de Daniel Sanches ex-

Director Geral do SIS a uma questão levantada por Pedro Simões:

“Qual a sua opinião do SIRP?

(…) a opinião global sobre os Serviços de Informações em Portugal é negativa,

uma vez que não existe no país qualquer cultura de informações. Essa cultura começa

nos órgãos de poder, e os decisores não utilizam as informações em Portugal, ou

utilizam-na apenas na área negativa.”97

Denoto nesta resposta uma clara crítica do ex-responsável do SIS à falta de

sensibilidade da classe política à importância do trabalho dos funcionais de intelligence.

Daniel Sanches é liminar, mencionando a ausência de uma cultura de informações, isto

é, por outras palavras, assume que em termos das questões de Segurança Interna, os

políticos lusos actuam reactivamente ao invés de preventivamente, negligenciando a

necessidade de uma actuação proactiva e informada para fazer face a ameaças. É claro,

que atendendo a estas palavras, a resposta à primeira hipótese que formulo seria que não

há qualquer nexo entre a tomada de decisão e o trabalho do funcional de Intelligence.

Adiante com o exercício, face à mesma questão, o General Vizela Cardoso, ex-

Director Geral da DIMIL e ex-Director Adjunto do SIEDM responde “(…) o Estado

não pode viver sem Informações, mas tem de se ter em conta os direitos, liberdades e

garantias. Os Serviços de Informações têm de controlar as Informações.”98 O General

alerta para duas questões vitais. A primeira é o realce que dá à vitalidade da actividade

das Informações para uma coerente actuação do Estado. A segunda para a necessidade

de uma clara circunscrição das actividades a desenvolver pelos Serviços, deixando

entrever que o que se encontra fora do seu escopo é competência das polícias e órgãos

97 Simões, Pedro, Os Serviços Secretos em Portugal. Os Serviços de Informação e a Comunicação Social, Ed. Prefácio, Lisboa, 2002, pp.158 98 Op. Cit. Pp.159

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judiciais. Não menos importante, é a menção para o desconhecimento que o cidadão

comum tem das actividades levadas a cabo pelos serviços, que no meu entender, dada a

lógica de secretismo que está associada aos órgãos das Informações, acaba por ferir a

sua legitimidade junto da opinião pública e deslegitima as suas acções quanto estas

vêem a lume para a praça pública.

A mesma questão colocada a um ex-responsável político assume cambiantes de

resposta curiosos, ora vejamos a resposta de Dias Loureiro, ex-Ministro da

Administração Interna – “ Hoje em dia os Serviços de Informações são vitais (…) as

ameaças que têm a ver com segurança estão ligadas ao crime organizado e à violência.

=esse sentido não há possibilidade de ter uma luta eficaz nessa área sem possuir um

adequado sistema de recolha de informações”99·. Na mesma linha de raciocínio,

repesco o testemunho do General Azevedo Geraldes, ex Director da Autoridade

Nacional de Segurança, que frisa o seguinte – “ (…) as actividades de Informações em

geral são fundamentais para a defesa de tudo quanto se relaciona com o

desenvolvimento, bem-estar e a segurança das pessoas singulares e colectivas (…)

qualquer sociedade desenvolvida necessita de se proteger (…) é necessária a existência

de um serviço de Informações indispensável ao combate do terrorismo e crime

organizado”100

Perante estes dois testemunhos, aduz-se que os Serviços vêem a sua importância

reforçada ou diminuída de acordo com os pontos de vista de quem governa. Os

responsáveis políticos definem a maior ou menor preponderância a atribuir a esta

actividade, portanto é de salientar que não há de facto uma preocupação de fundo com

as acções desenvolvidas pelos Serviços, são fortemente instrumentalizados e reféns da

orientação estratégica de quem tutela os Ministérios a que estão afectos.

Destarte, as lógicas relacionais “bottom-down” assumem em Portugal primazia,

em claro detrimento das “bottom up”, querendo com isto dar a entender, que até este

momento, os testemunhos analisados revelam que são os detentores de

responsabilidades nos órgãos de soberania que pautam a dinâmica dos Serviços de

Informações. O que se infere, na realidade, é que para as Informações as políticas não

apresentam constantes nem linhas de força, acabando, por depender de programas

políticos ou de agendas de interesses, ou melhor, sem agenda actuando como um

organismo reactivo que responde a pedidos de informação da tutela e dá resposta. Neste

99 Op. Cit., cit., pp.160 100 Op.cit., cit. pp.161

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momento, mais uma vez, me socorro das palavras de Daniel Sanches que retorque (…)

os políticos têm de utilizar as Informações que lhe são fornecidas e darem o valor

próprio junto do público em geral e da comunicação social (…) dizer qual o papel do

Serviços (…) à custa de maiores investimentos por parte dos decisores políticos e de vir

dizer qual o papel dos Serviços de Informações no processo de decisão”101

A clara alusão à necessidade de os decisores estabelecerem uma relação com base

na confiança e cooperação com os Serviços de Informações é notória nesta asserção. A

classe política tem nestes profissionais servidores que conhecem, na maior parte das

vezes, o ambiente em que o “consumidor” vive, facultando-lhe dados de vital

importância para a modelação das suas decisões, para a formulação das suas estratégias

futuras, mitigando incertezas, enfim, são um garante para a consubstanciação da

decisão. O que mais realço ainda nesta intervenção – é a necessidade da construção de

uma lógica de suporte entre estes dois pólos, através da fundação de dinâmicas

tendentes ao aperfeiçoamento do produto do intelligence. O receptor do briefing, do

relatório de informações ou outra qualquer peça produzida pelos serviços, tem na sua

sensibilidade política, no conhecimento do ambiente estratégico em que se enquadra, e

muitas vezes no conhecimento dos actores em jogo, a possibilidade de contribuir para o

refinar do trabalho do analista de informações, que dentro da lógica cíclica da produção

de informações deve ter a capacidade de reformular e/ou adequar as suas análises face

aos inputs recebidos do “cliente final.”

Neste contexto é função do Oficial de Informações “ (…) reduzir as incertezas e

clarificar o que está em jogo, através da interpretação dos actos praticados tendo por

base uma informação tão depurada quanto possível.”102 Há aqui uma certa lógica de

negociação implícita entre o produtor de Informações e o seu receptor, de um lado o

funcional que pretende contribuir para aprimorar a decisão, e do outro o decisor que tem

na tomada de decisão presente a possibilidade do julgamento público das suas acções.

Portanto, ao analista, detentor de um capital de conhecimento arvorado na “fita do

tempo”103, cabe munir o decisor de dados que lhe permitam decidir de forma coerente e

consequente face as variáveis que se levantem pré e após a decisão. È um jogo de causa

e efeito, definitivamente.

101 Op. Cit., cit., pp.192 102 Bispo, António de Jesus, Op.cit., cit, pp.84 103 Expressão na linguagem das Informações que diz respeito ao profundo conhecimento de períodos históricos e suas condicionantes, para que com isso possa prever, antecipar e definir tendências de um determinado facto/fenómeno no futuro.

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Jorge da Silva Carvalho refere-se aos Serviços de Informações como (…) a

primeira linha de defesa e segurança dos países, em particular para os países de menor

dimensão e menos dotados em termos de recursos.”104 No entendimento deste expert

em Informações, os serviços constituem uma primeira linha de defesa dos interesses do

Estado – “ (…) a primeira e mais eficaz linha defensiva e ofensiva dos Estados

Democráticos de Direito, pela forma cirúrgica, preventiva e pré-emptiva, como podem

e devem actuar.”105 É nesta encruzilhada que o Estado Português se encontra, pequena

potência, parca em recursos, que tem na manutenção do seu prestígio o “mater” para

actuar na arena internacional. Destarte, os Serviços de Informações Estratégicas

funcionam como o garante de uma acção externa capaz de enquadrar os interesses

estratégicos portugueses junto das outras potências, mediante o acompanhamento das

acções dos seus parceiros estratégicos e dos seus competidores. Com uma acção pautada

pela busca da definição de tendências em fenómenos tão complexos e ardilosos como o

Terrorismo Internacional e o Crime Organizado Transnacional, os serviços contribuíram

claramente para reforçar a Segurança Nacional, melhor a imagem destes organismos

junto da opinião pública e, last but not the least, garantir que os políticos cumprem um

dever seu: garantir a segurança aos seus cidadãos.

Adiante debruço-me sobre o contributo do Professor Heitor Barras Romana, em

artigo publicado numa revista da especialidade, onde o académico faz jus à necessidade

da classe política alcandorar os seus processos de decisão tendo por base o Intelligence

de cariz estratégico106. O ex-dirigente do SIEDM menciona que “ (...) o decision-

making dos governos apresenta duas dimensões: a concepção e a execução (…) Em

ambas as dimensões são fulcrais a existência de informações que facilitem a pilotagem

do sistema de governo.”107

A opinião do Professor espelha o que é tido como desejável, da parte dos

decisores políticos, no acto de formação da decisão, acautelar o que lhes é transmitido

para efeitos da “ (…) escolha, regulação, orientação, monitorização e antecipação de

104 Carvalho, Jorge da Silva, Segurança =acional, Serviços de Informações e as Forças Armadas, in. Segurança e Defesa, n.º11, Setembro – Novembro de 2009, pp.22 105 Op.cit, pp.22 106 O académico define-as como “informações identificadas a partir do interesse político para o”décidiur”de determinados assuntos considerados sensíveis para os interesses políticos, económicos, diplomáticos, culturais e militares do estado”. 107 Romana, Heitor Barras, Informações: Uma Reflexão Teórica, in. Segurança e Defesa, n.º 6, Abril-Junho de 2008, pp.98

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medidas e acções consideradas como estruturantes ou axiais para o planeamento da

condução política (…)”108Com base na sua experiência, o Professor deixa patente que o

trabalho que resulta dos Serviços é parte integrante da tomada de decisão política em

momentos distintos da sua formulação. Perante isto não posso deixar de indagar se se

refere à realidade portuguesa ou a um espectro teórico mais vasto?

A realidade política portuguesa deixa antever o oposto, que as decisões são

construídas exclusivamente nos gabinetes dos agentes decisores ou nos das grandes

empresas, que conduzem suavemente a acção governativa, acabando por ser dos actos

estratégicos empresariais que se levanta a maior parte da “grande estratégia” do

“Leviathan”. São estereótipos desta realidade as estratégias da Portugal Telecom, EDP,

GALP e de parte dos grandes empreiteiros da construção civil, sempre presentes nas

comitivas empresariais do Estado, dando claras leads para a actuação dos nossos

decisores, ao invés de ser o Estado o motor da actuação estratégica o tecido empresarial

assume essa função.

Esta dialéctica Empresas – Estado ou Estado – Empresas é importante e deve ser

entendida como um contributo para o refinamento dos processos de decisão do

Governo, a colaboração entre Departamentos de Business Intelligence (BI) e Serviços

de Informações é fulcral para os desígnios estratégicos portugueses, ressaltando a

necessidade de uma dialéctica biunívoca deste relacionamento para que o País saia

vencedor nos palcos internacionais. O Estado e Empresários portugueses, munidos de

uma estratégia económica e empresarial coesa, tomarão decisões mais seguras para os

seus processos de internacionalização e, assim, garantir maior prosperidade para os seus

negócios e, concomitantemente, para o País.

O reduzido acesso, através de fontes abertas, a peças de qualidade sobre temas

relacionados com o Intelligence Português levou-me a reduzir o espectro da análise a

este conjunto de contributos. No meu entendimento, o recurso à imprensa

escrita/opinião publicada levar-me-ia a desviar do foco de atenção da tese, ou seja,

compreender se do relacionamento entre o Analista e o Político ressaltariam dinâmicas

de colaboração ou confrontação; de compreensão ou incompreensão. O carácter

iminentemente negativo das peças jornalísticas, contendo mais pormenores sobre a vida

pessoal dos actores envolvidos, sobre as suas conotações partidárias e pertenças a

comunidades pautadas pelo secretismo, levou-me a descolar de conteúdos jornalísticos 108 Op.cit, pp.98

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da imprensa diária e semanal. O meu critério para a construção desta secção ateve-se

aos conteúdos de obra publicada sobre o tema e artigos de cariz científico/académico

veiculados em revistas da especialidade. Segundo esta abordagem penso garantir a

imparcialidade dos juízos e contribuir para um perspectivar mais isento da temática

aflorada.

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Parte V

CO#SIDERAÇÕES FI#AIS

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Considerações Finais

O presente exercício teve como intuito traçar um quadro explanatório sobre o

relacionamento entre o Analista de Informações e o Decisor Político. Neste âmbito

tentei gizar, em primeira linha, uma exposição de cariz teórico sobre o enquadramento

histórico e institucional onde actuaram e actuam, sobre a arquitectura das Informações

em Portugal e a dialéctica que ressalta do relacionamento entre os agentes já

identificados.

Neste âmbito precisei o carácter interno das actividades do SIS, sobretudo no

que concerne à Segurança Interna, tentando evitar todo o tipo de perigo/ameaças à

segurança e estabilidade lusas. Já ao SIED tivemos o cuidado de apontar como escopo o

desenvolvimento de actividades de índole prospectiva, nomeadamente estudos, o

escalpelizar de dados, de informações que permitam criar uma faixa dupla de actuação.

Numa primeira linha defensiva e numa segunda ofensiva. A primeira faz-nos pensar na

lógica de Análise de Risco aplicada às empresas, ou seja, o gizar de estudos SWOT e à

prevenção e neutralização de ameaças conduzidas por agentes e entidades que ajam

contra os interesses externos permanentes ou conjunturais do Estado Português. Num

segundo tempo, caberá ao SIED a condução de estudos de carácter prospectivo que

permitam ao Estado Português actuar na arena internacional de um modo coerente e

oportuno, de forma a tomar posições estratégicas pertinentes e consentâneas com o

bem-estar da diáspora lusa e demais interesses político-económicos.

Com base neste quadro parti para uma perspectiva teórica que me proporciona

uma visão de quadro ampla sobre o meu objecto de estudo.

Das questões levantadas à partida pude chegar às seguintes conclusões:

1. O Trabalho do Analista de Informações contribui para a formulação da decisão

política. A infirmação desta hipótese é notória ao longo dos testemunhos que

analisei, dado que todos os intervenientes pugnam para a necessidade de

melhorar os processos de construção da decisão política. Todos deixam entrever

a existência de entropia na comunicação entre Serviços e os órgãos do Estado. A

política em Portugal é norteada por decisões de conjuntura, despida de insights

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prospectivos, as decisões são planeadas segundo necessidades imediatas de

informação, fazendo somente face a situações de emergência. Há uma

predilecção por planos de contingência, ao invés de uma acção estruturada e

pensada a longo prazo. A paulatina redução das dotações orçamentais para os

órgãos de Intelligence é um claro sinal que os decisores portugueses relegam

para um plano secundário a importância das actividades levadas a cabo pelo

SIRP, e por conseguinte, da importância que os seus contributos podem dar para

o definir de um rumo para o país quer interna quer externamente.

2. Da interacção Analista – Decisor Político resultam sinergias para potenciar a

formulação da decisão. A esta pergunta de partida deixo patente uma

corroboração parcial da sua evidência. Posto que alguns decisores são sensíveis

quando estão face aos produtos das informações. Um maior ou menor quadro de

sinergias entre os dois pólos depende, sobretudo, de quem tutela os Ministérios

afectos ao comando dos Serviços. De acordo com a importância que Ministros e

seus Secretários de Estado dão ao produto das Informações maior será a

dinâmica relacional entre ambos. Realço que o carácter recente do novo

enquadramento legal do SIRP e SISI leva a que seja prematuro vaticinar sobre a

coordenação entre tutelas e Serviços. O actual quadro de fusão de topo, que

consagra a figura do Secretário-Geral do SIRP, elevado a figura de quasi

Secretário de Estado, faz-me crer que o peso da sua nomeação contribua para

que o fruto do trabalho dos seus subordinados ecoe junto do Primeiro-Ministro e

seus subordinados.

Dos dois pontos acima mencionados conclui-se que Políticos e Analistas têm de

facto um relacionamento, mas que se encontra dependente da sensibilidade dos

representantes políticos face às actividades das Informações. A inexistência de uma

“Escola de Informações” fere os desígnios para o cimentar deste relacionamento. Seria

importante apontar para cargos como o de Ministro da Defesa, Administração Interna e

Negócios Estrangeiros, personalidades perfeitamente embebidas na cultura das

informações, conhecedores dos meandros que envolve a actividade, garantindo desta

forma uma relação mais próxima e cooperante com os Serviços. Caio quase numa lógica

de wishful thinking, mas para além disto haverá que garantir que os operacionais de

informações são indivíduos plenamente conscientes dos enquadramentos e

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condicionalismos da actividade política para que os seus inputs propalem a qualidade

das acções políticas. A verificação destes dois pressupostos contribuirá certamente para

melhorar o quadro de relacionamento destes pólos que se querem como cooperantes.

O papel da Universidade também não pode ser descurado no quadro da

compreensão das actividades desenvolvidas pelos Serviços de Informações, na minha

opinião, a comunidade epistémica tem um papel axial para a divulgação e estudo do

Intelligence. Há pois que cimentar os Intelligence Studies no meio académico. A

formação de quadros conscientes da existência desta actividade é uma importante mais

valia para o desenvolvimento social da nação portuguesa. Repare-se no impacto que os

Intelligence Studies têm nos Estados Unidos, acabando por aproximar os cidadãos das

actividades das secretas e minora a incompreensão perante as suas actividades.

A consequência natural de uma aposta nos estudos desta índole será perceptível

no curto prazo, quadros conhecedores destas dinâmicas garantiram um mais eficaz

escrutínio à legalidade das actividades levadas a cabo pelos Serviços, conduzindo

igualmente a que os conteúdos veiculados pelos Media tenham uma leitura mais lúcida,

evitando a queda nos sensacionalismos próprios do tratamento de folhetim dado a estas

matérias.

No domínio do desenvolvimento de políticas tendentes à melhoria da actuação

dos Serviços de Informações, concluímos que urge assumir e praticar uma cultura de

partilha de informações e passar à adopção de formas eficazes de articulação

institucional entre os vários serviços envolvidos, meio vital para evitar a duplicação de

recursos e a excessiva compartimentação da informação, garantindo assim a existência

de um fluxo contínuo e profícuo de informações entre os serviços competentes.

Realidade vital para a escorreita prevalência dos princípios de um Estado de Direito e

para a afirmação de uma Democracia operante e capaz de um salutar “convívio” com os

as Forças de Segurança e com os Serviços de Informações, pedras basilares para

funcionamento dos Estados Modernos.

Compulsado sobre a actual conjuntura o Intelligence, quer na sua vertente de

segurança interna quer na externa, conclui que enfrentam hoje tremendos desafios cuja

extensão obriga a uma abordagem multidisciplinar e cooperativa para o seu combate.

Desta forma, e tendo em linha de conta as palavras do Major Francisco Proença Garcia

“ (…) este novo paradigma deve ser cooperativo e, mais do que um simples modelo de

colecção de fontes abertas. =a verdade, trata-se de uma abordagem que privilegia o

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

sintetizar de conhecimentos encontrados em diversas organizações internacionais,

academias, empresas, e no sector privado. Este paradigma sugere, assim, gestão do

conhecimento, inovação e, também, o revisitar de ideias já existentes. Todo este

manancial de conhecimento deve ser combinado de novas formas ou usado por

especialistas, trazendo novas perspectivas”109

Da panóplia de meios ao dispor dos serviços de informações devem ser retiradas

as devidas sinergias, implementando-as do modo mais cabal possível. A integração de

todos os meios de recolha e tratamento de informações apresentam-se, cada vez mais,

como necessários para antecipar as intenções malévolas daqueles que lutam para

derrubar os princípios democráticos em que as sociedades ocidentais assentam. É de

todo conveniente que o elemento humano das informações seja um recurso frequente no

que atine ao combate ao terrorismo e crime organizado, debalde das ameaças que dele

ressaltam, sabemos de antemão que a imint, telint, massint, não serão eficientes que

baste para aferir riscos, debelar vulnerabilidades e prever intenções.

Assim, e de maneira a melhor servirmos os decisores políticos, aqueles que estão

na proa dos processos decisórios, há que lhes tentar mostrar que para um cabal

funcionamento das informações será vital acabar com “ (…) a rigidez dos processos

administrativos e burocráticos, pois a informação só interessa em tempo útil110”. Só

assim será possível melhor servir as populações e os interesses estratégicos da Nação

Lusa.

Na designada Era da Informação, assiste-se a uma necessidade cada vez maior de

obtenção de informação privilegiada por parte dos Estados, em domínios diversificados,

sinónimo de poder e capacidade negocial, aumentando assim o enfoque para a

actividade de Intelligence. O quadro actual das Informações, cujos traços

característicos diferem bastante do existente no decorrer da Guerra Fria – ambiente

clássico das informações – é caracterizado pela atomização dos agentes da ameaça e

pela multiplicação exponencial da informação, factores que têm contribuído para a

complexidade da actividade de intelligence agravada pela ausência de distinção entre

ameaça externa e interna (exercício apenas viável no plano teórico). Neste quadro,

109 Garcia, Francisco P., O que há de novo na “Intelligence? In http://www.jornaldefesa.com.pt/conteudos/view_txt.asp?id=560, pp. 8, (24.05.2009), 16:24 110 Carvalho, Jorge S. Segurança =acional e Informações, in Segurança e Defesa, Novembro 2006, pp. 95

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afigura-se vital para o SIRP, em apoio da função decisória do Estado, um

acompanhamento permanente do ambiente estratégico internacional, onde assume

particular importância o conhecimento que se obtém do Outro, atendendo à volatilidade

dos seus actores e à necessidade de decisões tomadas em tempo real. Nesta perspectiva,

assumem particular importância as ameaças potenciadas pelo uso indevido das novas

tecnologias de informação que, na ausência de um maior controlo, podem revelar-se

particularmente lesivas para os interesses dos Estados e para a sua segurança. O cenário

traçado de globalização tem impacto directo em Portugal, exponenciando as ameaças

tradicionais e simultaneamente projectando para o nosso território novas ameaças com

origem em actores externos – quer actuem fora quer dentro de portas. Decorre deste

quadro uma alteração comportamental dos SI que, se no passado apostavam na obtenção

de informação sensível para seu uso exclusivo, actualmente promovem uma partilha

gradual de informação e desenvolvem mecanismos comuns de gestão da mesma.

Importa salientar que a acção dos Serviços de Informações deve tentar corresponder, de

forma equilibrada, salvaguardando a essência da sua actividade, à pressão da sociedade

civil para uma maior transparência, desmistificando a sua actuação e contribuindo para

a consolidação de uma imagem dos SI como garante das instituições democráticas e

como a primeira linha de defesa dos cidadãos.

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Da Análise à Decisão: Estudo sobre a dialéctica relacional entre o Analista e o Decisor Político

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