à flor da pele - Visionvox · 2019. 5. 23. · À flor da pele Um brinde à insensatez! Sem ela...

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à flor da pele

poesias Selecionadas

walter teixeira

à flor da pele

poesias selecionadas

walter alberto pantoja teixeira

Walter Alberto Pantoja Teixeiraà flor da pele - poesias selecionadasDireitos Autorais ReservadosRio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil2008___________________________________________

Edição: Walter Alberto Pantoja Teixeira Design Gráfico: Walter Alberto Pantoja Teixeira

Fotos: Fernanda

Revisão: João Reguffe

Wt eixeira

Dedicatória I

À Fernanda, que, mesmo nas adversidades, nunca deixou faltar um suave sorriso em seu rosto... e assim a gente vai sendo feliz devagarinho.

Dedicatória II

Aos meus pais, que, como mágica, descobriram a arte de envelhecer juntos. Como disse o poeta: “...e pela estrada afora, de mãos dadas, vamos vivendo desse amor velhinho”.

Âmago

Tênue foi aquele olhar, aquele beijoe aquelas palavras naquela tarde de inverno...Faltou um olhar mais voraz, um beijo mais doce,palavras mais silenciosas.Eu queria um silêncio mais revelador,um momento mais íntimo - mais próximo -uma fragrância mais suave,uma bebida mais amarga,- um paradoxo -e uma justificativa não tão óbvia...que não deixasse rastros segmentados do nosso amorna unanimidade do nosso silêncio resignado.

6

À flor da pele

Um brinde à insensatez! Sem elanão existiriam essas paixões avassaladorasque nos fazem navegar num oceanode sonhos e de ilusões.Eu só preciso de uma tarde para ser feliz...nada além de uma tarde,nada além de você...mas eu preciso de uma noite inteira para sonhare deixar que a poesia invada a almae faça morada - eterna morada -e me desperte com um beijo seu no amanhecer.

7

A tua espera(ou eterna espera)

Eu não tenho vergonha em dizer que te amo...e que às vezes fico triste por te amar...e que esse amor é como um perfume que eu não toco,que eu não vejo, mas que eu sinto espalhado pelo ar.

Não confundas a minha tristeza com essas tristezas frias que andam por aí... cheias de lágrima e de dor.Eu te confesso: não é assim!Talvez melhor não tocar, não ver... apenas sentir!

Vou deixar o meu amor sentado no banco de uma praça,a tua espera... afinal de contas, os amores mais sublimesque eu conheço começaram no banco de uma praça.

E que a solidão, eterna companheira dos corações apaixonados,fique velhinha junto com meu amor, eternamente sentadano banco de uma praça.

8

Após o amor

Entre o sossego destas ruas vaziasdesfolho as pétalas dos teus segredos,e tudo é chuva que a tua alma decantagotejando na pele poesias adormecidas.

O tempo desdobra-se em instantes...no ar, o teu perfumee uma música triste vinda da harpade um anjo solitário.

No espelho do quarto os teus lábios refletidos,a espera do beijo da despedida.Fácil é trocar palavras...difícil é compreender o silêncio.

9

Amanhã

Uma lágrima perdidarola pela face da noite nua...e nas ruas, folhas de outono caídase um vulto de mulher numa esquina fria.

As ruas se fazem estreitas,vazias e solitárias...e uma lacuna parece existirentre o tempo e o espaço.

No cais, somente um barco solitárioesperando a hora de partir,e o soprar de um vento tristevirando as páginas do livro... do livro da vida.

Hoje uma chuva fina lentamente caimolhando as calçadas da velha cidade...despertando as sementes adormecidas na terra,deixando um aroma de saudades antecipadas de você amanhã.

10

Adormecer(enquanto as tuas mãos adormecem...)

Removo agora da terra áridaas sementes que não germinaram...enxugo as lágrimas da faceque ainda não caíram...fecho as janelas pra não entrar o sole deixo as minhas manhãse as minhas noitesmorrerem longe de ti.E assim, enquanto as tuas mãos adormecemcomeça uma outra história,porque, quando alguma coisa acabaoutra deverá começar... e as minhas ilusõestambém terão chegado ao fim.E ainda assim, sem palavras,volto novamente a amar.

11

A poesia perdida(os olhos daquela mulher)

Há uma poesia perdida nesta rua,agonizando entre as pedras...dançando no vento e na chuva,no meio dessas mulheres solitáriase batendo no cais.E tudo é silêncio, e tudo é saudade,que a noite recolhe em seus braços...e nos olhos daquela mulherapenas uma lágrima esquecida, perdida no tempo, refletida na alma...é como uma amarra no caisesperando a hora de recolhere deixar o barco partir...simplesmente partir.Ninguém nunca entenderáos olhos daquela mulher... os olhos daquela menina.

12

Ausência

Sobre a mesa...um pensamento antigo,uma folha de papel em branco,um livro qualquer... poesias perdidas.Uma xícara de café, um cigarro...a tua mais íntima beleza na fotografia!Sobre a mesa...uma rosa, uma carta, um cartão... um adeus,uma saudade, um passado, uma lembrança...e essa busca, essa busca incessante da expressãoque se perdeu na mecânica lógica dos fatos.Sobre a mesa...a ausência, a mecânica,a lógica... os fatos, mais nada.

13

Abandono

Volto com passos lentos e silenciososà rua dos nossos dias...Nenhuma luz e nenhuma música encontro agorana velha casa abandonada.Apenas migalhas dos bons momentosresplandecem naquele sombrio silêncio.Eis o que restou da felicidade: o silêncio,a rua, as migalhas... e uma velha casa abandonada,povoada de saudade.

14

Bri

Absorvo o teu olhar de criançarefletido na luz de um dia solitário...e parece que guardas contigoa beleza de alguma estrela perdidanuma noite que não tem mais fim.E quando te sentes sozinhatu procuras meus braços- tu conheces meus passos -deixando uma luz de esperançapara o dia que vem.E eu parto sozinhoprocurando a paz que um dia perdi.

15

Caminhos

E agora caminhas sozinha numa estrada que eu não conheço...Parece que buscas um sonho que estava escondidono fundo da alma, alguma estrela perdida,algum anjo solitário pra te fazer companhia.

Às vezes te recolhes no silêncio do teu quartoe ficas a navegar num oceano de sonhos e recordações,como um barco perdido à procura de um cais.

Trazes contigo um olhar de quem já sofreue a certeza de que a dor desse amornão acabará com a ternura da alma.

E assim eu te deixo livre para seguires algum caminho...Se voltares, é porque algum dia eu te conquistei...Se não voltares, é porque o nosso amor foi como uma poesiaque ficou esquecida na página de algum livro qualquer.

16

Denúncia

Denuncio este amor!...

que fragiliza as minhas defesas,

despe o meu sono

e me faz navegar no teu mar...

Feito um navegante errante me sinto

que traz tatuadas no braço

as iniciais do teu nome...

17

É tempo de solidão...

Agora que os olhos se despedem,as mãos não se tocam,os lábios não se encontrame os caminhos não se cruzam...fica apenas a saudade,a lembrança e a certezade que nada mais será como antes.A chuva que cai agoraé como uma ilustração da solidãovagando nas ruas da cidade...Deixemos que os ventos carreguem as mágoasque um dia ficaram perdidas na alma,e despertemos, então, para um novo amanhecer...

18

E a gente só queria ser feliz

Fala: onde anda o sonho de criança?Tão bom te ver aqui, beleza raraa vida num instante nos separae a gente só queria ser feliz.

Quero caminhar de novo de mãos dadasdormir e acordar com a tua risadaviver a vida sem pensar em nadaa luz do nosso quarto se apagou.

Quero viver só com você uns vinte anoseu sei que é um sonho, um desenganomeus passos se perderam nessa estradaque você me ensinou a caminhar.

Sabe, a noite sem você não tem mais graçao amor é mesmo assim e tudo passasomente a solidão é que não passanão quero mais brincar de ser feliz.

Quero tomar mais um café contigo eu querobeijar a tua boca é o que mais querotocar tua pele clara que eu venero...preciso de você comigo aqui.

19

Entardecer

Breve momento de inspiraçãoapós longas horas de ausência,que vão formando assimo resto dos meus dias.

Tento sugar em tão breve instantea seiva prodigiosa e puraque ainda parece me restar dentro d'alma...mas as minhas mãos vaziasrendem-se à marcha cruel das horas- que vão passando -no inexorável relógio da vida.

Faz frio em meu peito - eu sinto -apavora esse entardecer que me despe...que te despe!...iludo-me com o teu retorno - eu sei! -saudade?... certamente existe.

20

Eu e você

Eu já sabia que tudo terminaria assim:uma carta, um adeus... um olhar,duas lágrimas perdidase uma silenciosa saudade vagando dentro d'alma.E aqueles mais íntimos e reveladores momentosse perderiam - certamente - na fugacidade dos dias,para ocupar o seu devido lugar no passado.Eu já sabia!... você também sabia!...mas, mesmo assim, um dia,quando o envolvente e misterioso verde dos teus olhosfingiu-se perdido e foi ao encontro dos meus,e as minhas mãos - carentes -buscaram o afago das suas...os lábios ardentesousaram correr o risco de pronunciar:eu amo você!

Eu quis correr o risco de te amar mesmo sabendo que um dia eu ia te perder...

21

Estranhos

Ontem as delícias dos teus beijos,

o afago dos teus braços,

o brilho do teu olhar...

As cartas de amor e os cartões...

- os pactos - as promessas, a cumplicidade

e toda a tua beleza.

Hoje somente mais dois estranhos

perdidos na multidão...

boa noite!

22

Encantamento

De repente, eu te vejo surgirdentro da invisibilidade do meu chakra...e pela chama das velase pela fumaça do incenso egípcio do amor,tu me vens nua... límpida como os cristais,- despida de tudo e de todos -assim como a lua, como a lua crescente.

E nessa divinizaçãovocê se faz carne, você se faz vinho em meu cálice...você me perfuma... você me ilumina!......você se faz fogo, você se faz sal,você se faz símbolo...- você purifica -você já é luz...e eu a ostento em meu pentáculo.

Brindemos!... Cantemos!... Bebamos!Toquem-se os sinos,preparem-se as ervas sagradase tomemos o chá, para então purificar...

Saudemos, saudemos, saudemos... saudemos a Deusa!...que antes do nascimento do soltu deverás partir com todo o encantamento...desfazendo-se o círculo.Brindemos!... Cantemos!... Bebamos!Saudemos!

De repente, eu te vejo partirdentro da invisibilidade do meu chakra...e pela chama das velase pela fumaça do incenso egípcio do amor,tu partes nua... límpida como os cristais- despida de tudo e de todos -assim como a lua, como a lua crescente.

Toquem-se os sinos!...toquem-se três vezes os sinos!três vezes...Assim seja.

23

Exaltação

No cair desta tarde,

no nascer desta noite...

eu cantarei você na minha canção.

Para que a chuva não pare,

a poesia desperte,

a lareira se acenda...

e o vinho derrame

na brancura do tapete da sala.

Você está linda!

24

Face nua

No fim da noite caiu a máscara que cobria a tua facedeixando-a nua diante do espelho solidário,que absorve a imagem mais íntimae reflete uma face desconhecida.

Os teus olhos contemplativos fingiram-se perdidosna imagem revelada... sem máscara, sem nada!...e ficaram solitários na faceque já não era mais sua.

E partes sozinha!... deixando refletido no espelhoapenas um vulto de uma face ainda nua - ainda crua -e uma lágrima cristalizada na voragem do tempo e do caminho...

25

Fim

As portas se fecharam, apagaram-se as velas,os deuses dormiram...cessaram os ventos,os anjos partiram... o ritual terminou.Resta apenas uma lágrima no vazio da distância...Tenho saudades da língua, do beijo,do cheiro, do corpo molhado... do olhar!Agora procuro rastros que você não deixou.Um brinde à solidão!

26

Fragmentos de duas vidas

Aqui outra vez te espero...minha pobre menina adulterada,sem sonhos, sem ideais... sem nada,no vazio da distância abandonada.

Sou quem sabe a face da tua noite escura...sou quem sabe a noite que se mostra nua...sou quem sabe o brilho do teu olhar calado...sou quem sabe areia, que em tuas mãos escorre.

Sou quem sabe um porto, onde ficaram ancoradostodos os teus desejos...sou quem sabe um navio perdidono silêncio do teu mar solitário...

Sou mera abstração dos teus planos...sou nevoeiro, sou claridade!...sou silêncio, sou perguntas... sou respostas,sou saudades, sou passado... sou espera.

27

Hiato

As horas caminham a passos lentos...Enquanto anjos perdidos exibem uma dança estranha no céu,tu pulverizas a minha noitecom o brilho do teu olhar solitário.

Não deixes que eu te esqueça na distância de algum caminho...de algum caminho que não seja o teu,de algum caminho que não tenha volta.

Que saibamos interpretar o silêncio das nossas noitese deixemos que as nossas mãos cálidaspenetrem na essência de nossas almas...

E assim, quando não restar mais nada a dizer,que os olhos - ainda que amargurados -pronunciem o adeus já esperado.

28

Horas íntimas

O vinho derramadoO brilho no olharO corpo molhadoNo espelho embaçado...

O olhar derramadoO brilho do vinhoO corpo embaçadoNo espelho molhado...

A taça quebradaAs roupas jogadasA chuva de invernoNa janela da sala...

Um beijo suave, depois... se puder!...

29

Inspiração

Inevitável solidão que se aproxima,feito um pássaro negro de longas asasque pousa na alma fragmentada,enquanto a velha cidade dorme.

O papel absorve lentamente as palavras,ainda soltas e silenciosas.Uma chuva fina a bater na vidraçaparece ninar as crianças e despertar os amantes.

As horas caminham a passos lentos...o momento faz-se íntimo, faz-se raro...e a velha cidade ainda dorme.

O dia amanhece e a cidade se espreguiça...os amantes dormem e as crianças despertam,- a poesia nasce - a chuva pára...

30

Inquietude

Agora,quando essa chuva finainsiste em bater na vidraça...e a saudadeinvade o meu coração,sinto a poesiagritando dentro da alma.

Teu vulto,teu semblante... tuas palavras,me vêm à mente.Teu cheiro, meu incenso favorito,parece então invadir o quarto...e o teu gostomistura-se na xícara de café.

Risco, rabisco.Rabisco e risco...- AMASSO -Coloco fora a folha de papel!...e agoniza dentro de mimo que a caneta não quis mais te escrever.

31

Insignificância

Pequenas palavras

Pequenos instantes

Pequenas promessas

Pequenos beijos

Pequenas tardes

Pequenos carinhos

Pequenas poesias...

Como foi pequeno o nosso amor!

32

Liberdade

Agora não precisas mais das asas que um dia te deram...podes alçar teus próprios vôos,procurar a tua própria liberdade,seguir novos caminhos... quem sabeaté ser feliz.Mas ainda carregas nos olhosgotas cristalinas de indecisão,e ficas diante do abismosem saber se deves, sem saber se podes... voar, voar... voar.E te jogas mesmo assim- indecisa -no teu próprio sonho,com as tuas próprias asas,na eterna busca da felicidade...

33

Miragem

Nada além do que essa tristeza no olhar,do que essas ruas vazias,do que essa música antiga.

Tudo era falso! Teu olhar era falso!!Teus olhos mentiram como as miragens do deserto...e uma pálida ilusão - nada mais -fica agora vagando dentro da alma.

Tudo era falso! Teu beijo também era falso!!Teus lábios mentiram como as miragens do deserto...e uma lágrima fria rola pela minha face nuamorrendo em meus lábios ainda queimados dos teus.

Agora que as luzes se apagarame as ruas se fazem solitárias,preciso reconstruir caminhos - organizar as coisas -rasgar as cartas... e, quem sabe, ainda ser feliz.

34

Marina

Solitários foram seus dias...e a poesia dormia esquecida na página de um livro.Uma estrela solitária brilhava no céu pálidoe na estreita rua erma, apenas um vulto de mulhernuma janela entreaberta.

Marina foi dessas mulheres que cresceu crescida,não tinha sonhos... não tinha nome.Guardava no peito a ferocidade das noitese a ambigüidade dos dias...Seria Marina o seu nome?

Um vento frio soprava anunciando o instante da partidae apagando as velas de todos os altares...- O tempo é efêmero! -- A vida é utópica! -Seria mesmo Marina o seu nome?...

35

Máscaras caídas(ou faces perdidas)

Enfim, acho que tudo terminou...e me resta tão pouco agoraque não sei mais por onde recomeçar.Onde anda você agora,meu pequeno anjo azul?...O sonho de ser feliz acabou?...Era tão pouco o que se queria, tão pouco...e eu ainda procuro a tua faceno espelho quebrado da casa,ficam apenas cinzas perdidas de um incensoque um dia a gente acendeu.

As folhas foram levadas pelo vento... mas a árvore continua lá, fazendo companhia para a janela que você deixou abandonada.

36

Mural dos dias

Um beijo de chegadaum beijo de partida...Uma lágrima de tristezauma lágrima de alegria...Uma luz que acendeuma luz que apaga...A vida que chega, a vida que vai!Um barco no caispoesias perdidas...Verdades, mentiras... amor, paixão, solidão!Um sonho, uma realidade...Um cheiro de noiteum vento distante...Um rosto, um olhar... uma mão amiga!Uma cadeira vazia no canto da sala...uma lembrança, uma saudade!Um lugar distanteum lugar próximo...Uma casa cheiauma casa vazia...Um encontro, um desencontro... uma despedida!Uma mistura de cores, uma mistura de dias...e assim, bem devagarinho, são feitos os dias.

37

Navegante

Agora só me resta navegar nessa imensidão de mar...e buscar algum porto, algum cais,a luz de um farol...e nalguma taberna vulgarsorver goles de vinho barato,para esquecer teu corpo, teu porto,teus beijos, teu nome... tua rua.Talvez eu venha a tatuar teu nome em meu braçoe cantar tua canção preferidaem meio de bêbados, ladrões, mercenários...vagabundas...e nesses momentos fugitivos,fingir, então, que esqueci teu corpo, teu mar...tuas palavras, tua tarde... e toda a tua magia,assim como se levanta a âncora para partire nunca mais voltar...duma viagem sem fim.Mas a força do nosso amor- a eterna força do nosso amor -faz do encontro um tempo sem fim, sem fim...sem fim.

Prefiro o mar turbulento da tua presença do que o porto seguro da tua ausência.

38

Os olhos disseram adeus...

Os lábios não se tocaramno momento da despedida...apenas um olhar - um triste olhar -parecia querer dizer adeus...

Foram tantos momentos felizes,tantas palavras - tantos gestos -tantos beijos... quanta cumplicidade!...mas somente um olhar - um solitário olhar -parecia querer dizer adeus.

O ambiente fez-se triste,fez-se frágil... revestindo-se de um manto negroe a efígie de um anjo tristepairou no ar - entre os amantes -foi quando os olhos disseram adeusà luz de uma lâmpada sombria e abandonada.

39

O próximo cais

Invento um cais dentro de mime tudo é saudade, e tudo é amore tudo é paixão que a minha alma decanta...escondo-me de ti dentro de mim.

Antes que anoiteça e os lampiões se acendam,eu jogo as minhas palavras ao marpara se transformarem em poesiase fazerem companhia para algum pescador de estrelas solitário.

Minha alma é como um barco no caisperdida no silêncio do tempo, do teu tempo...que espera um próximo cais,lá, onde repousa a última esperança.

40

Palavras perdidas(mural dos dias)

chegada, partidatristeza, alegriaacende, apagavida que vaibarco no caisperdidassolidãorealidadenoitevento distanteamigasalasaudadedistantepróximocheiavaziadespedidamistura de dias...dias!

41

Palavras jogadas ao mar(o próximo cais)

invento tudoeu AMORe tudo é CAISde tudo minha mimANOITEÇA paixão SAUDADEjogo últimaLAMPIÕES transformarem-seantes palavras solitárioacendam MAR em companhiaALMA silênciobarco no TEMPOestrelas escondo-me onderepousa ESPERA perdidacais próximoESPERANÇApoesias...

42

Queixa

é muito pouco

esse VINHOessas CARTASessa TARDE

esses BEIJOSesse MARessa NOITEessa ESTRELA

(esse amor!)

AMORESTRELANOITEMARBEIJOSTARDECARTASVINHO

(é tudo muito pouco...)

quando só eu bebo o vinhoquando só eu escrevo as cartasquando só eu tenho a tarde....................é tudo muito pouco

quando só eu....................beijosquando só....................marquando....................noite....................estrela

(é tudo muito pouco!)

- amor -

43

Solitude

Das poucas brandas vezes que me lembro de titu me vens pálida...às vezes sorrindo, às vezes chorando!...e por toda a noitetu ficas velandoo meu sono tardio.E daquele amor inefável e misteriosorestaram somente rastros...restaram somente ruas, somente sonhos...somente marcas- somente cartas -e a ilusão e a magiada eternidade do primeiro amor,que se perdeu na solidão efêmera do caminhona busca errante da felicidade.

44

Segredos da alma

O tempo vai tecendo uma teia de saudade em minha almae alguma coisa ainda agoniza, ainda sangra e desespera...Uma fúlgida ilusão parece estar despida dentro de mim,e deixa expostos os meus sentimentos.

Propícia fica a noite para um beijo agora!Como um perfume envolvente que ficou no ar,você também ficou em mim... sem saber se podia,sem saber se era certo... sem saber se eu queria...

Resta apenas abrir as janelas para o jorro do tempoe esperar que as sementes germinem, que os olhos se encontrem,que os lábios se toquem... e que a magia do amor aconteça.

45

Saudade

E hoje...revirando as cinzas do passado,volto a te buscar,como inseto na teia, náufrago nas águase barco na areia.Me debato!... vou morrendo aos poucos nas redes,nas malhas desta saudade que agoniza,feito uma criança pedindo para nascer.E tudo aquilo...que ontem era felicidade,hoje não passa de saudade...revirando a minha noite, o meu sono,sangrando as minhas mãos,ferindo os meus pés...e caindo no mais profundo vaziodessas minhas loucuras inspiradas.Por favor!...ilumina a minha noitecom a tua luz de mulher.Espanta os fantasmas, as bruxas...prepara o teu ritual.Coloca uma roupa de festa,perfuma... ilumina o teu corpoe faze do amor a magia de um novo dia amanhecendo.

46

Simplesmente... viver

Não faça planos muito longos, pois poderá não ter tempopara concretizá-los; afinal, a vida é um grande ponto de interrogação.

Invista mais no presente, não esquecendo do futuro.Mas não faça do futuro a sua única mola propulsorae não deixe para ser feliz amanhã.

Saia mais com seus amigos, dê boas risadas com elese lembre-se que esses momentos são únicos, são raros...e que outros iguais não acontecerão, portanto viva-os intensamente.

Tenha o seu próprio conceito de Felicidade, não finja afeiçãoe sobretudo seja você mesmo, sem se importarcom essas felicidades prontas que andam por aí.

Leia um livro, escreva uma poesia, caminhe na praiacom quem você ama...são coisas simples, eu sei!... mas a felicidade às vezesse esconde nos pequenos gestos e nas pequenas coisas da vida.

Não tenha medo de arriscar e vá em busca dos seus sonhos...a vida sem sonhos é como um pássaro sem asas.

Sorria... mesmo nas adversidades.Um sorriso pode fazer toda a diferença...e lembre que a tristeza e a alegria são como as estações do ano:vão e vem.

Recomece quantas vezes for preciso!O que importa não é quantas vezes caímos,mas sim, quantas vezes levantamos e continuamos.

Não julgue nada nem ninguém por fragmentos,pense sempre na totalidade!...não podemos definir um livro por uma única página.

Não leve a vida tão a sério, mas também não seja irresponsável.Busque sempre o meio-termo das coisas...

Enfim, seja o escritor, o diretor e o personagem principalda história da sua vida!... cada dia é uma página a ser escritae cada ano um capítulo que foi vivido.

47

Tuas voltas

Voltas trazendo um perfume diferente, trazendo vícios diferentes,palavras diferentes... livros diferentes,anéis diferentes, chaves que eu não conheço.

ChavesAnéisLivrosPalavras VíciosPerfume... tudo tão diferente.

Não entendo essas tuas idas e vindas,simplesmente voltas e eu te aceito!...como sempre: bem-vinda.

48

Ternura

Quando derramas o teu olhar solitáriono ventre da noite,quando encontras a poesia perdidanuma gota de orvalho,quando abres as tuas asas de anjoe ficas voando no silêncio da alma...é nesses momentos que te encontras contigo mesmae libertas de vez a suavidade adolescente que existe dentro de ti...e te fazes criança num mundo adulto,misturando as cores da noitecom as cores do dia...tecendo um bordado de sonhosna estrada da vida.

49

Um certo mês de agosto(ou história de dois)

Há nestas noites perdidasa lembrança cruel do teu rostoe do teu sorriso que mais parecia uma canção,refletindo os acordesmais profundos da alma...Teus olhos, meu lampião,a luz que iluminava o meu caminhoe que me deixava ver através da escuridão.Há nestas noites perdidasa lembrança cruel do teu corpo,que ficará para sempre dentro de mim,refletida em meu olhar solitário.Eu ainda freqüento os mesmos lugares,ando pelas mesmas ruas,bebo a mesma bebidae às vezes escuto a nossa canção.Por anos eu te procurava,mas tão envolvido estava em meu pequeno sonho douradoque não percebi que a minha busca havia terminado,e te deixei partir... nas asas de um anjo tristee levando contigo a minha felicidade.

50

Vazio

E amanhã, quando a noite chegar,não restará mais nada a dizer...apenas os olhospronunciarão o adeus já esperado...e uma lágrima friaficará eternamente cristalizada, lá no céu,fazendo companhia para aquela estrela abandonada.

51

Sumário

6 Âmago7 À flor da pele8 A tua espera (ou eterna espera)9 Após o amor10 Amanhã11 Adormecer (enquanto as tuas mãos adormecem...)12 A poesia perdida (os olhos daquela mulher)13 Ausência14 Abandono15 Bri16 Caminhos17 Denúncia18 É tempo de solidão...19 E a gente só queria ser feliz20 Entardecer21 Eu e você22 Estranhos23 Encantamento24 Exaltação25 Face nua26 Fim27 Fragmentos de duas vidas28 Hiato29 Horas íntimas30 Inspiração31 Inquietude32 Insignificância33 Liberdade34 Miragem35 Marina36 Máscaras caídas (ou faces perdidas)37 Mural dos dias38 Navegante39 Os olhos disseram adeus...40 O próximo cais41 Palavras perdidas (mural dos dias)42 Palavras jogadas ao mar (o próximo cais)43 Queixa44 Solitude45 Segredos da alma46 Saudade47 Simplesmente... viver48 Tuas voltas49 Ternura

52

50 Um certo mês de agosto (ou história de dois)51 Vazio

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53

Contato com o autor

e-mail: aflordapelepoesias@yahoo.com.brblog: www.uniblog.com.br/muraldosdias

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Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil2 0 0 8

54

Resta apenas abrir as janelas para o jorro do tempoe esperar que as sementes germinem, que os olhos se encontrem,

que os lábios se toquem... e que a magia do amor aconteça.

Segredos da alma

Que saibamos interpretar o silêncio das nossas noitese deixemos que as nossas mãos cálidas

penetrem na essência de nossas almas...

Hiato

Sou mera abstração dos teus planos...sou nevoeiro, sou claridade!...

sou silêncio, sou perguntas... sou respostas,sou saudades, sou passado... sou espera.

Fragmentos de duas vidas

E assim, enquanto as tuas mãos adormecemcomeça uma outra história,

porque, quando alguma coisa acabaoutra deverá começar... e as minhas ilusões

também terão chegado ao fim.E ainda assim, sem palavras,

volto novamente a amar.

Adormecer