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Ovídio - MetamorfosesRodrigo Tadeu GonçalvesPoiésis – Aventuras Literárias – 31/08/2013
+Ovídio, vida e obra
Nascido em Sulmona (em Abruzzo), em março de 43 a.C.
Exilado a Tomis (hoje, Costanza), no Mar Negro, em 8 d.C.
Morto em 17 ou 18.
+Obras Amores, cinco livros, mais tarde em três livros;
49 elegias, entre 20 e 100 versos
Heroides, 21 cartas de heroínas famosas a seus amantes, e algumas respostas
Medea, tragédia perdida
Ars Amatoria, entre 1 a.C. e 1 b.C.
Remedia Amoris
Medicamina Faciei Femineae
Metamorphoseon Libri, entre 2 e 8 d.C.
Fasti
Tristia (5 livros) e Epistulae ex Ponto (4 livros), elegias do exílio
+Um poeta moderno
Último dos grandes autores augustanos - Tradição da elegia: Propércio, Tibulo
Enorme variedade da produção poética
Atitudes diferentes sobre as escolhas literárias que refletem escolhas de vida
Autoconsciência literária poderosa
Atitude de extremo relativismo
Aceitação das novas formas de vida; anti-conservadorismo
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+Poeta da era da paz
Pax augusta traz novas aspirações de uma vida mais relaxada, moralidade menos severa, refinamento e tranquilidade
Ovídio torna-se o intérprete dessas aspirações, mas sem se opor necessariamente ao regime e sua ideologia
Poesia que reflete ao estilo de vida refinado
Concepção poética essencialmente anti-mimética e anti-naturalista, fortemente inovadora
Poesia independente da realidade, anti-aristotélica e anti-horaciana
Estilo moderno, vívido, musical
+Amores
Escrito na juventude
Modelos: Propércio e Tibulo
Inovação: ausência de uma figura feminina particular ou necessariamente existente: Corinna é algo estilizada, provavelmente fictícia
Pathos dissolve-se em ironia
A vida poética intensa de Catulo e Propércio converte-se em ludus
Ausência do servitium amoris
Afastamento intelectual
+Poesia didática Ars Amatoria, Remedia Amoris, Medicamina
Ars: manual de conquista Livro 1: conselhos para conquistar uma mulher Livro 2: conselhos para manter o amor delas Livro 3: como seduzir os homens
Exercício intelectual, não necessariamente um ataque à moralidade: lusus, sem propósito ético
Negação do impacto do amor como força motora do poeta, neutralização de seus impulsos agressivos
Inversão do tema da era de ouro com o entusiasmo pela modernidade, do consumo e dos estilos elevados da vida augustana
Medicamina: sobre cosméticos, técnicas de beleza
Remedia: o poeta ensina como resistir ao amor
+Heroides: poesia de lamento
Temas fundamentais: amor e mito
Cartas de Penélope, Dido, Ariadne, Medeia, Safo etc. a seus amantes
Novo gênero entre epistolografia e elegia
O modo elegíaco como filtro para matéria épica, trágica e mítica: Wetanschauung que seleciona e reduz a sua linguagem tudo
aquilo de que trata
Reescrita especial: O. toma a matéria mítica e a reescreve através de um deslocamento para as vozes femininas, normalmente apagadas na tradição antiga (cf. Eurípides)
+Fasti: poesia cívica
Plano: Doze livros, um para cada mês do ano, para ilustrar mitos e costumes do Lácio;
Interrompido na metade pelo exílio do poeta
Modelo: Aitia de Calímaco
Fonte de informações antropológicas
Ironia e questionamento da cultura latina (Rômulo, por exemplo)
+Obras do exílio: Tristia e Epistulae ex Ponto
Um homem dançando sozinho no escuro (Ep. 4.2.33)
Voz amargurada e desesperada
Compõe para si mesmo em meio a um povo bárbaro
Pedidos de ajuda aos amigos e familiares
+Metamorfoses: épica ampliada
Contra Virgílio, por um novo estilo épico
Forma épica, modelo hesiódico, poema de coleção, como as Aitia de Calímaco (etiologias em dísticos) e um poema hexamétrico perdido de Nicandro (séc II a.C.), coleção de histórias mitológicas
A poética calimaqueana havia banido a poesia épica, mas Ovídio junta as tradições
Obretivo: o poema universal
Abrangência: da criação do universo aos dias de hoje
+Metamorfoses: composição e estrutura
Cerca de 250 narrativas mítico-históricas
Princípio cronológico que quase se esfacela até aparecer novamente no fim
Critérios de ligação: contiguidade geográfica (e.g. ciclo tebano), paralelos temáticos (e.g. amores, ciúmes, vinganças dos deuses), contraste (e.g. piedade vs. impiedade), relação genealógica entre personagens, semelhança entre metamorfoses
+Metamorfoses: resumo da obra
Livro 1: Proema, nascimento do mundo, as quatro idades, titanomaquia, o dilúvio, regeneração da raça humana com Deucalião e Pirra, paixões dos deuses;
Livro 2: Faetonte, que cai da carruagem de seu pai e incendeia a terra
Livro 3: Acteonte transformado em cervo por Diana enfurecida, Narciso, Penteu;
Livro 4: Píramo e Tisbe, Perseu;
Livro 5: o rapto de Prosérpina;
Livro 6: Os ciúmes dos deuses, Tereu, Procne e Filomela;
Livro 7: Os encantos de Medeia, Céfalo e Prócris
Livro 8: Dédalo e Ícaro, Filêmon e Baucis;
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Livro 9: Os trabalhos de Hércules
Livro 10: Orfeu e Eurídice e histórias de amor de Cipreste, Jacinto, Pigmalião, Mirra, Vênus e Adônis;
Livro 11: Casamento de Peleu e Tétis;
Livro 12: Trabalhos de Aquiles, batalhe entre Lápites e Centauros;
Livro 13: disputa das armas de Aquiles entre Ájax e Odisseu, perdas troianas, amor de Polifemo por Galateia;
Livro 14: episódios da Odisseia, pequena Eneida, sem sobreposição com Virgílio, antiga Lácio e seus deuses rurais, Roma e seus reis
Livro 15: Pitágoras e o discurso filosófico sobre as metamorfoses e as leis do universo, apoteose de César, glória imperecível
+Variedade de conteúdo e técnicas narrativas
Dimensões das narrativas muito variáveis (do ultra-curto ao epílio);
Pausas e cenas dramáticas;
Metamorfoses descritas em minúcias
Justaposição de narrativas de tipos muito diferentes: catástrofes cósmicas e histórias de amor
Estilo mutante: épica solene, elegia lírica, poesia dramática e bucólica: galeria de artes dos gêneros literários
Cliffhangers
+Estrutura: fabula in fabula
Uma narrativa pode ser inserida na outra, gerando um efeito de moldura
Personagens tomam a voz narrativa e começam a contar outras histórias: possibilidade de adaptação do tom, estilo e cor ao personagem-narrador (e.g. rapto de Prosérpina narrado pela musa épica Calíope)
Labirinto narrativo
+Metamorfoses e o mundo do mito
Investigação erudita das origens e das causas (etiologia)
Pitágoras: omnia mutant, nil interit (15.165)
O mito nem sempre é o centro temático da obra: ele pode desaparecer, e o que efetivamente liga tudo tematicamente é o amor.
Mito como elemento decorativo
Mundo do mito = mundo das ficções poéticas; autoconsciência, intertextualidade, catálogo literário,
Autoironia e autoconsciência: intervenções narrativas, comentários ao leitor, compartilhamento da incredulidade
+Estilo fotográfico
ênfase nos momentos salientes;
Isolamento de cenas individuais;
Fixação de claridade visual;
Descrição do maravilhoso diante dos olhos, ênfase nas fases intermediárias do processo
+Leitura e análise: o livro X
Jean-Baptiste-CamilleCorot (1796-1875)
+O Hexâmetro datílico
– uu / – uu / – uu / – uu / – uu / – x
– uu = – –
Inde per inmēnsum croceō vēlātus amictūaethera dīgreditur Ciconumque Hymenaeus ad ōrās tendit et Orphea nēquīquam vōce vocātur.adfuit ille quidem, sēd nec sollemnia verbanec laetōs vultūs nec fēlīx attulit ōmen.fax quoque, quam tenuit, lacrimōsō strīdula fūmō ūsque fuit nūllōsque invēnit mōtibus ignēs.exitus auspiciō gravior: nam nupta per herbāsdum nova nāiadum turbā comitāta vagātur,occidit in tālum serpentis dente receptō.
+As traduções
Livro I: Bocage, decassílabos
Livro VII: Rodrigo Gonçalves, “prosa poética”
Livro X: Gonçalves et al., hexâmetros núnicos
+Bibliografia
CONTE, Gian-Biagio. Latin Literature: a history. Transl. Joseph B. Solodow. Baltimore and London: Johns Hopkins University Press, 1999.
GONÇALVES, Rodrigo Tadeu; FUJIHARA, A. K. ; RACHWAL, G. D. ; COELHO, L. M. R. ; CONTO, L. ; LEGROSKI, M. C.. Uma tradução coletiva das Metamorfoses 10.1-297 com versos hexamétricos de Carlos Alberto Nunes. Scientia Traductionis, vol. 11, 2011.
OVÍDIO. As Metamorfoses. Tradução de Antônio Feliciano de Castilho. Rio de Janeiro: Organização Simões Editora, 1959.
OVÍDIO. Poemas da carne e do exílio. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
OVÍDIO. Metamorfoses. Trad. de Bocage. São Paulo: Hedra, 2007.
PREDEBON, Aristóteles Angheben. Edição do manuscrito e estudo das 'Metamorfoses' de Ovídio traduzidas por Francisco José Freire. Dissertação de Metrado. São Paulo: USP, 2007.