(3-b) Dinâmicas demográficas: a natalidade · Factores explicativos do nível de fecundidade...

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Populações e Territórios

Prof. Doutor Miguel PadeiroProfessor Auxiliar

Universidade de Coimbra

(3-b) Dinâmicas demográficas: a natalidade

Conceitos e indicadores

Suécia

Noruega

Inglaterra &

País de Gales

México e Suécia

Portugal

A evolução da natalidade

• Diminuição da natalidade = ajustamento dependente de muitos factores (culturais, sociais, económicos), mais lento que a redução da mortalidade• Esse desfasamento é a razão do forte crescimento demográfico nos países em

desenvolvimento

• No geral, a taxa bruta de natalidade passa de 30-40 nascimentos (nados vivos) por mil hab., para cerca (ou menos) de 10

A evolução da natalidade

• O último século de evolução da natalidade na Europa e EUA: o baby-boom (1946-1964)• Fenómeno de curto prazo apenas

Principais indicadores

• Taxa bruta de natalidade: número de nados-vivos por mil habitantes (representar o símbolo ‰ alt + 0137)

𝑇𝐵𝑁 =𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑣𝑖𝑣𝑜𝑠

𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Expresso em ‰ (por mil habitantes) => tecla alt + 0137

Portugal:

24 ‰ em 1960

8,4 ‰ em 2016

Principais indicadores

• Relação de masculinidade: número de rapazes por cada 100 raparigas (à nascença) ou de número de homens por cada 100 mulheres• Normalmente à volta de 105 à nascença

• Normalmente à volta de 95 se considerarmos a população total (diminuição devida à mortalidade masculina mais elevada)

Principais indicadores

• Taxa de fecundidade: número de nados-vivos por mil mulheres em idade fértil (entre 15 e 49 anos)

En inglês: fertility rate

Atenção: neste sentido, fertility traduz-se por

fecundidade, não por fertilidade

Principais indicadores

• Índice Sintético (ou Conjuntural) de Fecundidade (ISF ou ICF): número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos de idade)• Corresponde ao inglês TFR (Total Fertility Rate)

• Valor resultante da soma das taxas de fecundidade por idades, ano a ano ou grupos quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num determinado período (habitualmente um ano civil).

Principais indicadores

• Índice Sintético (ou Conjuntural) de Fecundidade (ISF ou ICF): número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos de idade)• O número de 2,1 crianças por mulher é considerado o nível mínimo de

substituição de gerações:

• Cerca de 2,07 nos países desenvolvidos (melhores condições de saúde)

• Cerca de 2,35 nos países em desenvolvimento (piores condições de saúde + maior relação de masculinidade)

Principais indicadores

• Índice Sintético (ou Conjuntural) de Fecundidade (ISF ou ICF): número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos de idade)

PortugalISF

Idade média

da mãe ao 1º

filho

Diversidade dos níveis de fecundidade

• O potencial reprodutivo teórico de uma mulher é de 16 nascimentos ao longo do período reprodutivo (sensivelmente dos 15 aos 45-49 anos)• Nenhuma sociedade humana se aproximou desse número

http://www.guinnessworldrecords.com/world-records/most-prolific-mother-ever

Diversidade dos níveis de fecundidade

• O potencial reprodutivo teórico de uma mulher é de 16 nascimentos ao longo do período reprodutivo (sensivelmente dos 15 aos 45 ou 49 anos)• Nenhuma sociedade humana se aproximou desse número

• O máximo terá sido atingido pelos:

• Canadianos Franceses antes de 1660, com 11,4 filhos por mulher em média

• Hutteritas (Canadá): 8,5 filhos entre 1926 e 1931

Bangladexe: 2,05

Portugal: 1,3

Niger: 6,95

2019

2,1

filhos/mulher

Diversidade dos níveis de fecundidade

• Países desenvolvidos• Frequentemente abaixo de 2,1 (nível

da substituição de gerações)

• ISF mais baixo nos países do Leste europeu e na Península Ibérica

• Portugal (ISF ~1,36 em 2017, contra 3,20 em 1960)

• França e Suécia na frente (> 1,8) mas abaixo de 2,1

• EUA, UK ~1,80

Diversidade mundial dos níveis de fecundidade

Diversidade social a nível nacional

Diversidade dos grupos étnicos nos EUA, 1980-2013

A

Videographic: Are Asian fertility rates declining?

https://youtu.be/mrQDcxGJqmc

Fecundidade: factores explicativos

Factores explicativos do nível de fecundidade

• Diferença entre • número máximo teórico (16 filhos por mulher) e

• número real

• => existência de formas de controlo dos nascimentos

Factores explicativos do nível de fecundidade

• Estudo de Eaton & Meyer (1954)• Hutteritas 1880-1950: de 443 a 8 542 indivíduos (+ 4,12 % por ano)

• +4,12 % por ano = crescimento mais rápido do mundo

• Fecundidade máxima real => 10-12 filhos por mulher

• A religião é o primeiro factor de controlo dos nascimentos (casamento e ausência de filhos fora ou pré-casamento)

• África tradicional, pouco controlo dos nascimentos até um período recente• Necessidade de protecção face a conflitos com os vizinhos

• Forte cultura da reprodução familiar: ideia de linhagem e antepassados

Factores explicativos do nível de fecundidade

• Quatro grandes factores• % de pessoas casadas ou em união (normas sociais)

• % uso de contraceptivos

• % de pessoas inférteis

• Incidência do aborto (IVG – Interrupção Voluntária da Gravidez)

Todos relacionados com considerações culturais, económicas, sociais e de saúde

Quais as forças sociais, culturais e económicas por detrás da decisão de ter filhos?

Teorias da transição da fecundidade

• (1) O quadro de origem: o modelo da transição demográfica: • Melhorias das condições de vida

• Diminuição da mortalidade

• Percepção da natalidade como devendo ser relativamente limitada

• os filhos já não seriam concebidos para aumentar o rendimento familiar (força de produção)…

• … mas para serem um investimento através das oportunidades educativas

Teorias da transição da fecundidade

• (2) Teoria micro-económica de Easterlin (quadro oferta-procura)• A decisão individual (do casal) de ter filhos e quantos procede de um cálculo

racional de tipo custos/benefícios

• As famílias tentam manter um balanço positivo entre a oferta potencial de filhos (os que podem ter) e a procura de filhos sobreviventes (que podem não ser muitos nalguns países – ou não eram muitos em tempos idos)

• A resposta a uma elevada mortalidade é uma elevada natalidade, e corresponde ao desejo de filhos como fonte de segurança e trabalho, a preferência por um filho rapaz. Os filhos são mais tarde cuidadores, aparentando-se um plano de pensão nalguns países.

Teorias da transição da fecundidade

• (3) Teoria da difusão-inovação: relaciona os comportamentos com a difusão de ideias e normas no espaço• A preferência por famílias pequenas, por exemplo, difundiu-se das cidades para o espaço

rural, dos níveis de rendimentos altos para os mais baixos, de um país para o outro.

• O isolamento geográfico, por ausência de rede de transporte e por existência de barreiras geográficas importantes, reduz a capacidade de difusão de inovação, conhecimento, ideias, normas.

• Normas religiosas

• Nos países em que as mulheres têm poucos direitos, os níveis de fecundidade são elevados. A difusão de normas diferentes, ocidentais, mais igualitárias (igualdade de género), pode-se fazer através de mais educação, estatuto profissional, oportunidades económicas para as mulheres => que tem um efeito sobre a sua emancipação e portanto sobre os níveis de fecundidade

Consequências

A substituição de gerações

• Em inglês: replenishment/replacement level / replacement fertility rate

• Avaliada à luz do ISF (ou ICF): índice sintético (ou conjuntural) de fecundidade• Em inglês TFR: Total Fertility Rate

• Acima de 2,1, há substituição de gerações

• Abaixo de 2,1, provável diminuição da população (taxa de variação negativa)… a não ser que a imigração intervenha

Consequências de uma fecundidade elevada

• Demograficamente, significa:• Um aumento da população

• Problema sobretudo nos países em que a fiscalidade não é muita (não chega a ser fonte de receitas), em que as instituições, a educação, a saúde, não se encontram desenvolvidas

• Teoria malthusiana:• Pressão sobre os recursos, deflorestação, erosão dos solos…

• o aumento do PIB por exemplo é compensado pelo aumento da população, com consequente diminuição do PIB/capita e aumento da pobreza

• Teoria de Boserup:• Aumento da inovação e do investimento

Consequências de uma fecundidade baixa

• Demograficamente, significa:• Um envelhecimento da população: aumento da idade média da população, aumento da

% de pessoas idosas• Portugal IE e IDI

• Pressão sobre o SNS e Segurança Social + diminuição de recursos dedicados às crianças

• Consequências políticas: exemplo do Brexit

• Uma diminuição da população• Portugal: 1,35

• População total em 2018: 10 milhões de habitantes

• População projectada 2060: entre 6,3 e 9,2 milhões de habitantes, consoante o cenário

• Teoria malthusiana: possível redução da pressão sobre o ambiente

• Teoria de Boserup: redução do peso económico (quanto maior a população, maiores as inovações e o desenvolvimento económico), contracção do mercado e diminuição do investimento