A TEORIA DO CAPITAL HUMANO ECONOMIA DOS RECURSOS HUMANOS NOTAS DE AULA PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO...

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A TEORIA DO CAPITAL HUMANOECONOMIA DOS RECURSOS

HUMANOSNOTAS DE AULA

PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO

UFRGS/PPGEII/2004

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Definições de Capital Humano

Gary Becker (1962) - capital humano é qualquer atividade que implique num custo no período corrente e que aumente a produtividade no futura pode ser analisada dentro da estrutura da teoria do investimento.

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Definições de Capital Humano

O Capital Humano é definido como sendo todas aquelas características adquiridas pelo trabalhador que o tornam mais produtivo.

Filer, Hamermesh e Rees (1996, p.84)

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Atividades que constituem em investimento em capital humano

Educação (Gary Becker, JPE);Treinamento (Gary Becker, Walter Oi)Migração (Sjaastad, 1962, JPE)Saúde (Grossmam, 1972, JPE)Busca de Emprego (job search)

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As Origens da Teoria do Capital Humano

Adam Smith (1776, livro I - cap. 10) – Riqueza das Nações

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As Origens da Teoria do Capital Humano

Alfred Marshall (1920) - Principles of EconomicsThe most valuable of all capital is that invested in human beings.

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As Origens da Teoria do Capital Humano

A Escola de Chicago

Gary Becker (1960,1964)Jacob Mincer (1960)Theodore Schultz (1961)

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A CRONOLOGIA DOS INVESTIMENTOS EM CAPITAL HUMANO (Jacob Mincer)

Segundo Jacob Mincer as várias categorias dos investimentos em capital humano ordem ser descritas numa cronologia do ciclo-de-vida:

1- os recursos alocados nos cuidados das crianças e com o desenvolvimento infantil representados pelos investimentos em pré-escola;2- os investimentos na educação escolar formal;3- investimentos em job training, learning , job search e migração;4-investimentos em saúde e manutenção que continuam ao longo da vida (exercícios físicos);

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos básicos

(i) maximização da utilidade

Os trabalhadores adquirem um nível de habilidade que busca maximizar o valor presente dos rendimentos ao longo do seu ciclo de vida;Assim, temos que a educação e o treinamento são valorizadas somente porque elas aumentam. A educação também pode afetar a utilidade dos indivíduos de muitas maneiras, contudo, aqui, nós assumimos que estas externalidades dos investimentos em capital humano possam ser ignoradas e nos concentramos exclusivamente nas recompensas monetárias delas derivadas.

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

(ii) o trabalhador enfrenta um trade off associado a cada decisão de continuar a estudar ou não, que dependerá dos retornos obtidos, dos custos de educação que ele fará face e de sua taxa de desconto intertemporal.

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

- Visto que a universidade não tem valor intrínseco para o estudante, os empregadores que desejarem atrair um trabalhador altamente qualificado ( e presumivelmente mais produtivo) deve oferecer salários mais elevados, assim temos que:

Wcol > Whs

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

- Como nós assumimos que a decisão de estudar de um indivíduo maximiza seu valor presente dos rendimentos (salários) ao longo do seu ciclo de vida, temos que o trabalhador irá estudar (aqui no caso, cursar a universidade) se e somente se:

PVcol > PVhs

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

(iii) r é a taxa de desconto intertemporal dos indivíduos, que mostra como ele encara o presente e o futuro ou qual importância ele atribui ao presente e ao futuro.

Uma elevada taxa de desconto intertemporal implica que ele atribui pouco valor, por exemplo as renda futuras e mais as rendas presentes;

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

(iv) aqui assumimos, por motivo de simplificação que não há on the job training e que as habilidades obtidas na escola ou na universidade não se depreciam ao longo do tempo.

Este pressuposto implica que a produtividade do trabalhador não muda uma vez que ele deixa a escola ou a universidade, de modo que podemos considerar que seus rendimentos serão constantes ao longo do seu ciclo de vida.

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos básicos

(v) há aqui somente duas alternativas de educação que os indivíduos fazem face, o ensino secundário (High School) e o ensino Universitário (College);

(vi) o preço dos produtos vendidos pelas firmas é assumido ser igual a 1;

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

(vii) o ensino secundário implica que o individuo irá adquirir uma produtividade igual a PFMgEhs e que seu salário será igual a Whs.

Já no ensino universitário, temos que a produtividade adquirida é igual PFMgEcol > PFMgEhs, implica que ele irá receber Wcol > Whs.

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos básicos

(viii) o valor presente dos rendimentos dos dos rendimentos das duas alternativas de educação são a seguintes:

2

PVhs = Whs + [Whs/(1+r)] + [Whs/(1+r) ] + ... + 46

[Whs/(1+r) ] 2 3 4

PVcol = - H – [H/(1+r) ] – [H/ (1+r) ] + [H/ (1+r) ] 5 6

[Wcol /(1+r) ] + [Wcol /(1+r) ] + ... + 46

[Wcol /(1+r) ]

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

Como nós assumimos que a decisão de um indivíduo é maximizar o valor presente dos rendimentos ao longo do ciclo da vida, temos que ele desejará ir para a universidade se e somente se

Pvcol > PVhs [regra de decisão da tomada de

investimento]

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O modelo discreto de investimento capital humano - os pressupostos

básicos

0

Wcol

Whs

anos652218

-H

Custos diretos

Custos indiretosAge earning profile

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O modelo de investimento capital humano - o modelo básico em tempo contínuo

Seja:

Ci = custos marginais de uma unidade de educação e treinamento no período;Ri= retorno do treinamento no período;r = taxa de juros;t = período de aprendizado ou educação;T = período final.

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O modelo de investimento capital humano - o modelo básico em tempo contínuo

O indivíduo irá investir em capital humano até o ponto no qual os retornos marginais da educação sejam iguais aos custos marginais (benefícios marginais), isto é: t -rt T -ri

Ci e di = Ri e di 0 t

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O modelo de investimento capital humano - o modelo básico em tempo contínuo - implicações

(1) quanto maior o hiato entre T e t, maiores serão os retornos da educação – ceteris paribus;

(2) quanto menor for o sacrifício tem termos de custo Ci, envolvidos no investimento em capital humano, maior será o investimento;

(3) quanto maiores forem os retornos da educação [Ri], maiores serão os investimentos em educação;ceteris paribus;

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O modelo de investimento capital humano - o modelo básico em tempo contínuo - implicações

(4) quanto maior for a taxa de juros [r], menor será a demanda por educação, ceteris paribus;

(5) os investimentos em educação tendem a ocorrer à medida em que os benefícios marginais descontados excedem os custos marginais descontados. Em outras palavras, para haver investimentos em educação, os retornos devem ser positivos.

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Implicações da teoria do capital humano – com relação aos custos

(i) qualquer fator que reduza os custos da educação deve levar a um aumento das matriculas escolares;

Assim, bolsas de estudo, desconto, crédito educativo, cursos noturnos, cursos de fim de semana [mestrado profissional], curso com prazo de jubilamento estendido, devem tornar as matriculas mais atrativas.

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Implicações da teoria do capital humano – com relação a idade

(i) as matriculas nas escolas e universidade estão concentradas entre os jovens adultos.

Isto ocorre por duas razões principais:(1) as pessoas mais velhas permanecerão menos tempo no mercado de trabalho para recuperar os custos do seu investimento;

(2) a segunda razão pela qual as matriculas declinam com a idade são que os custos de oportunidade são maiores quanto mais velho fica o indivíduo.

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Implicações da teoria do capital humano – com relação a continuidade na força de

trabalho

(iii) Uma terceira predição da teoria do capital humano é que as pessoas que não esperam trabalhar de forma contínua na força de trabalho devem ter menores taxas de matriculas. A razão disto é que ela tem menos temo para recuperar seu investimento.

Esta predição é sustentada pela tendência da participação das mulheres no mercado de trabalho com carreira interrompida.

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O locus salário-escolaridade e a taxa de retorno da educação

O locus salário-escolaridade mostra o salário que um indivíduo iria ganhar se ele completasse um determinado nível de escolaridade.

O locus salário-escolaridade nos mostra quanto os empregadores estão dispostos a pagar por cada nível educacional dos trabalhadores.

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O locus salário-escolaridade (earning – wage profile)e a taxa de retorno da

educação

Os salários no locus salário-escolaridade são determinados no mercado de trabalho, ou seja, o salário para cada nível de escolaridade é determinado pela intersecção da oferta e demanda de trabalhadores para uma dada escolaridade.

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O locus salário-escolaridade (earning – wage profile) e a taxa de retorno da educação

0

w

Anos de estudo

30

O locus salário-escolaridade (earning – wage profile) - propriedades

(i) o locus salário-escolaridade é positivamente inclinado – para atrair os trabalhadores mais educados, os empregadores devem compensar aqueles trabalhadores pelos custos incorridos com a educação.

(ii) a inclinação do locus salário-educação nos mostra quanto o salário do trabalhador deveria crescer se ele obtivesse um ano a mais de escolaridade.

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O locus salário-escolaridade (earning – wage profile) - propriedades

(iii) o locus salário-escolaridade é côncava - os ganhos monetários para cada ano adicional de escolaridade declinam para cada ano adicional de educação. Há rendimentos marginais decrescentes na obtenção de educação.

A inclinação do locus salário-escolaridade nos mostra quanto os rendimentos aumentam se um indivíduo permanece estudando um ano a mais na escola.

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O locus salário-escolaridade (earning – wage profile) - propriedades

Percentagem de mudança nos rendimentos devido a educação:

(w/s)/w = taxa marginal de retorno da educação.

Visto que o locus salário-educação é côncavo, a TMgRE declina a medida em que o indivíduo obtém mais escolaridade.

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O locus salário-escolaridade (earning – wage profile) - propriedades

0 Anos de escolaridade

r

TMgRE

S*

rm

S” S’

E

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A estimação da earning function

(i) com zero anos de educação os rendimentos de um indivíduo são iguais a Yo se o investimento no primeiro ano de educação render Y1, teremos que a taxa de retorno da educação será igual a:

r1 = [(Y1-Y0)/Yo]Y1 = Yo ( 1+r)

r2 = [(Y2-Y1)/Y1]Y2 = Y1 (1+r2)

r2= Yo (1+r1)(1+r2)

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A estimação da earning function

Ys = Yo (1+r1)(1+r2)+...+ (1+rs)

(ii) se assumirmos que r1=r2=r3= ... = rs, temos que:

sYs = Yo (1+r)

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A estimação da earning function

Em logaritmos obtemos que:

log Ys = log Yo + sln (1+r)

log Ys = ln Yo + rs

r mede a taxa de retorno de um investimento em um ano a mais de educação.

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A estimação da earning function

Diferenciando-se logYs com relação ao tempo, obtemos que:

d[lnYs]/dt = r[ds/dt]

ou

{[d(Ys)/dt/]/Y}/ (dS/dt) = r

a mudança proporcional nos rendimentos anuais resultantes de um ano a mais de educação é igual a r.

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As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o

Brasil

Langoni (1970, 1972, 1974)Castro (1971)Levy, Campino & Nunes (1970)Gibbon (1975)

- cálculos da taxa de retorno da educação baseando-se nos modelos de Schultz (1963) e Becker (1964).

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As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o Brasil

Senna, José Júlio (1976). RBE, 30 (2)

- taxa de retorno de aproximadamente 14% a.a para um ano adicional de educação.- dados do Ministério do Trabalho para homens nas áreas urbanas no setor formal da economia em 1970.

40

As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o Brasil

Jallade, jean-Pierre (1982). World Development, 10 (3)

- retornos da escolaridade primária para homens fora do setor agrícola – 23,5%

41

As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o Brasil

Tannen, M.B (1991) – Economics of Education Review 10 (2)

- dados do censo de 1980;- taxa média privada de retorno da educação situou-se em torno de 13, 2% a. a- os retornos variam com as regiões brasileiras

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As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o

Brasil

Leal & Simonsen (1991), PPE, 21 (3).

Primário/Analfabeto – 16, 54%Secundário/primário2 – 18,15%Superior/Secundário - 16,28%Amostra - 14,29%

43

As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o

Brasil

Dabos & Psacharopoulos (1991). Economics and Education Review, 10 (4)

- taxa de retorno 15%

44

As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o Brasil

Griffin & Cox-Edwards (1993) – Economics and Education Review, 12 (3)

-taxa de retorno da educação situou-se entre 12,8% e 15,1% nos anos 1980.

45

As taxas de retorno da educação – evidências empíricas para o Brasil

Ueda & Hoffmann(2002) – Economia Aplicada, 6 (2)

- Dados: PNAD (1996)- Taxa de retorno: 9,8%

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Capital Humano e a facilidade da adoção de novas

tecnologias

Quando o capital humano facilita a adoção de novas tecnologias ou é visto como um insumo para o processo de inovação e difusão tecnológica, temos que a relação positiva entre o estoque de capital humano e o crescimento econômico.

O capital humano poderia afetar a velocidade da difusão e da convergência tecnológica entre as nações, pois a flexibilidade e a facilidade de aprendizagem dos indivíduos é afetadas pelo nível de educação, que os capacita a adaptar-se as mudanças tecnológicas.

47

Capital Humano e a facilidade da adoção de novas tecnologias

Uma mão-de-obra educada deve ser considerada como sendo um insumo tanto para os processos de inovação tecnológica (engenheiros, físicos, matemáticos, estatísticos, médicos, biólogos etc) como de difusão tecnológica.

A capacidade de uma nação de adotar e implementar uma nova tecnologia seria função de seu estoque prévio de capital humano.

48

Capital Humano e a facilidade da adoção de novas tecnologias

- Nelson & Phelps (1966), ERA- Finnis Welch (1970), JPE- Barro & Sala-i-Martin (1994)- Paul Romer (1990)

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Resumindo1- Os investimentos na aquisição de habilidades através da educação ou no emprego [on-the-job-training] podem ser vistas como um investimento (com custos correntes e benefícios futuros) pelo trabalhador e pela firma (ou por ambos).

2- Aumento nos custos [matrícula, mensalidades, custos de treinamento] reduzem o nível ótimo de investimento.

50

Resumindo 3 - Quanto mais longo a vida ativa no mercado de trabalho, maior serão os retornos do investimento em capital humano;

4- os investimentos em educação e treinamento tendem a ser feitos quando as pessoas são jovens;

51

ResumindoUma importante distinção com relação aos investimentos em capital humano é entre on-the-job-training e entre os investimentos gerais e específicos a firma:- o treinamento geral aumenta a produtividade dos trabalhadores tanto na firma corrente como em qualquer outra. Assim, de um modo geral, ele é pago pelo trabalhador;

- já o treinamento específico a firma somente aumenta a produtividade do trabalhador na firma corrente, sendo pago pela firma.

ECONOMIA DOS RECURSOS HUMANOS

A TEORIA DO CAPITAL HUMANO

PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETOUFRGS/PPGE

II/2004