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7/26/2019 artigobentofinal
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Jornalismo e poltica: as faces de homens cordiais
Gilberto Mendes da Silveira Lobo1
Resumo
O objetivo desta comunicao mostrar, a partir da teoria das faces apresentada por Dominique
Maingueneau, como o stio de notcia G, da !ede G"obo de comunica#es, produ$, a partir de uma
reportagem reprodu$ida do te"ejorna" %om Dia %rasi", representa#es do e&'presidente (ui$ )n*cio
(u"a da +i"va, da presidente Di"ma !ousseff e do vice'presidente Mice" -emer com caractersticas
presentes na teoria do .omem /ordia" proposta por +rgio %uarque de .o"anda0
Palavras-chave:.omem /ordia", /orrupo, 1o"tica, 12b"ico
Introdu!o
O 3stado no uma amp"iao do crcu"o fami"iar e, ainda menos, uma integrao de
certos agrupamentos, de certas vontades, particu"aristas 4.O(56D5, 778, p0 9:0 6o scu"o
;;), sobretudo no %rasi", a frase de +rgio %uarque de .o"anda, a qua" abre o captu"o sobre o
.omem /ordia", do (ivroRazes do Brasil, cuja primeira edio foi pub"icada em 7p2b"ica, obrigatoriamente, teria que se orientar0
5 afirmativa de +rgio %uarque 4778: nesta comunicao ser* apresentada como efeito de
sentido da reportagem pub"icado pe"o stio de notcia G, reprodu$ida do te"ejorna" da !ede G"obo
de -e"evisoBom dia Brasil, na edio do dia ?>@9>?@=, intitu"adaA +-B inc"ui (u"a, Di"ma e
-emer no principa" inqurito da (ava Cato0
5 esco"a da reportagem em questo se justifica pe"o fato de citar o nome de trs figurasimportantes da po"tica brasi"eira e que ocupam "ugares distintosA (u"a, na condio de e&'
presidente da !ep2b"ica do %rasi", Di"ma !oussef, mu"er e atua" presidente, ambos do 1artido do
-raba"adores 41-:, e de ideo"ogia po"itico'partid*ria de esquerda0 1or 2"timo, Mice" -emer, vice'
presidente, membro do 1artido do Movimento Democr*tico 41MD%:, organi$ao po"tica de
direita0
Mestrando em (etrasA (inguagem e )dentidade, da Eniversidade Bedera" do 5cre0
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5"m disso, o artigo parte da ava"iao da discip"ina /u"tura e (iteratura, ministrada pe"o
professor Brancisco %ento0 1ara apro&imar do tema da dissertao, usamos a teoria do .omem
/ordia", mas usamos jorna"ismo no "ugar de "iteratura, mas entendendo que a diferena entre
"iteratura e jorna"smo apenas um discurso, posto que ambos produ$em narrativas e no se
desconectam da "inguagem, portanto, nenum dos dois produ$ a rea"idade, mas apenas signos,representa#es0
6essas trs figuras temos representantes de diferentes orienta#es po"tico'partid*rias,
autoridades, a"m de nas suas istFrias apresentarem certa afinidade com diferentes seguimentos
sociaisA (u"a 4/"asse oper*ria:, Di"ma 4Mu"eres:, -emer 4/"asse de empres*ria":0 3 quanto
esco"a do vecu"o de comunicao, "evamos em considerao ser integrante da !ede G"obo de
comunicao0 5 maior empresa de comunicao do %rasi"0
5 proposta mostrar que com base no que dito, e&c"usivamente, na reportagem, a ideiaque se pode depreender de que a teoria do .omem /ordia" pode ser uma representao
situaciona" do %rasi"0
6o entanto, necess*rio frisar que no estamos afirmando que o .omem /ordia" uma
viso egemHnica da po"tica no %rasi"0 O que queremos apenas identificar uma resumida viso de
mundo produ$ida pe"a imprensaI viso est* que no u"trapassa o campo da "inguagem e da
percepo0
1ara tanto, usaremos a teoria das faces, desenvo"vida desde o fina" dos anos J@principa"mente por 10 %roKn e +0 (evinson, que se inspiraram no sociF"ogo norte'americano 30
Goffman 4M5)6GE3635E, ?@@L, p0
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3m outras pa"avras, o .omem /ordia", no fa$ distino do p2b"ico e do privado0 .*
sempre uma forma de, como no dito popu"ar, dar um jeitino, bur"ando trmites burFcr*ticos para
favorecer os seus, desrespeitando os parmetros necess*rios para se viver em sociedade0 Dessa
forma, a cordia"idade no baseada no bem receber estrangeiros, no amig*ve", mas o agir com
base na emoo e no com impessoa"idade0 6enum povo est* mais distante dessa nooritua"stica da vida do que o brasi"eiro0 6ossa forma ordin*ria de convvio socia" , no fundo,
justamente o contr*rio da po"ide$ 4idem:0
!icardo (ui$ de +ou$a di$ queA OHomem Cordial um omem dado a atitudes e&tremas
NP atua fora dos meios "egais de coero, e e&trema porque a e&presso de um comportamento
incapa$ de mo"da'se a padr#es "egais e ordem p2b"ica 4?@@J, p0
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3nto tomamos neste artigo a ideia da informa"idade do .omem /ordia", para mostrar em
trecos da reportagem do stio G, citada anteriormente, como o jorna" cria representa#es
4narrativas: verossimi"antes com a proposta por +rgio %uarque de .o"anda0 1roposta baseada na
informa"idade do brasi"eiro, na averso de"e pe"as regras do servio p2b"ico e na transformao do
bem p2b"ico em bem privado, e&emp"ificado com as suspeitas de desvio de verbas investigados pe"aoperao (ava Cato da 1o"cia Bedera", cujo objetivo seria desvendar casos de apropriao
idenvida do dineiro p2b"ico por empresas privadas, par"amentares e servidores p2b"icos0
%s faces
Dominique Maingueneau, ana"ista do discurso, fa"a que o discurso tem suas "eis e, entre
e"as, e"e ressa"ta da preservao das faces, partindo da teoria das faces0 3ssa teoria pressup#e
que dentro da comunicao socia", * regras de po"ide$0 Ou seja, assim como em toda re"a#es
socia", preciso respeitar determinados padr#es0 1ara tanto, os sujeitos projetam vis#es de si0
6esse mode"o, considera'se que todo indivduo possui duas facesI o termo face deve aqui ser
tomado no sentido que este termo possui numa e&presso como Sperder a faceT 4?@@L, p0
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3rving Goffman pensa as faces como facadas, as quais so produ$idas para uma abstrata
audincia, uma imagem que dapode ser socia"i$ada, mo"dada dentro dos mo"des de determinadas
sociedades, como um padro a ser copiado ou evitado0 -rata'se de um dos modos como atravs
dos quais um desempeno? socia"i$ado, mo"dado e modificado de maneira a adaptar'se
interpretao e e&pectativas da so ciedade em que se apresenta0 477
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5s faces sF podem ser produ$idas no jorna"ismo por meio de acontecimentos0 3
acontecimento, segundo 1atricV /araudeau 4?@@=:, tem duas defini#esA numa de"as a proposta
de que seja a"go natura", noutra provocado0 )sso porque todas as ve$es em que * a tentativa de
codificador o mundo a partir da "inguagem, o resu"tado uma representao do rea" e no a
rea"idade05"m disso, a "inguagem no transparente, posto que est* sujeita a interpreta#es diversas,
de decodifica#es por parte dos receptores0 5ssim, afuni"ando a pesquisa para *rea de jorna"ismo,
possve" di$er que as mdias no tm condi#es de apresentar uma viso comp"eta do mundo,
porque a"m das "imita#es da "inguagem, * o que Mice" Boucau"t camou de motivao po"tico'
econHmica0 )sso norteia, determina, como, quando e com que objetivo determinados fatos so
apresentados ao p2b"ico0
5inda, a se"eo dos fatos determina vis#es de mundo, a partir de informa#es passadas pe"aimprensa0 3 para /araudeau 4?@@=:, informa#es so enunciados0 3nunciado , de forma simp"es,
o que foi dito0 6o entanto, os di$eres tm sua produo contro"ada0 6o possve" di$er qua"quer
coisa, a qua"quer momento, como nos afirma Mice" Boucau"t 477J:0
1ensando desse modo, jorna"istas, enquanto operadores de dispositivos de saber
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1ara /araudeau a imprensa age como espe"os deformantes, iguais aos dos parques de
divers#es, onde cada espe"o deforma a imagem de um jeito, produ$indo v*rias imagens distorcidas
cada um sua maneira, um fragmento amp"ificado, simp"ificado, estereotipado do mundo 4?@@=,
p0 ?@:0
Qa"ter (ippmann 4?@@
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1ara fa$er a an*"ise do discurso do te&to do G, precisamos comear pe"o ttu"o da
reportagemA O +upremo inc"uiu os nomes de (u"a, Di"ma e -emer no principa" inqurito da (ava
Cato0 Uua" a importncia dos trs nomes para receberem "ugar no ttu"o da reportagemX O primeiro
um e&'presidente0 O sergundo nome da atua" presidente e o 2"timo o vice'presidente0 Ou seja,
so as maiores autoridades p2b"icas do %rasi"0 Ba$endo uma "igao inicia" com o .omem/ordia", a cordia"idade agindo no mais a"to esca"o da vida po"tica brasi"eira0
5 prFpria forma de tratar os personagens j* uma forma de criao de faces0 /omo na teoria
de .o"anda, as informa"idades esto do "ado de (u"a e Di"ma, tratados pe"o prenome, diferente de
-emer, representado pe"o nome de fam"ia ou sobrenome0 )sso demonstra, dentro do te&to, o
cuidado em apresentar os dois primeiros como informa#es e o terceiro como dentro da "ei, forma",
mesmo dentro de uma investigao para apurar casos de corrupo0
5 ordem esco"ida segue uma suposta crono"ogiaA Di"ma sucede (u"a e -emer sucede Di"ma4caso aja impeacment:0 5"m disso, a frase principa" inqurito da (ava Cato demarca de
ambiente onde esto estas personagem0 3sto "ugar privi"egiado, digno de uma fase fundamenta" da
investigao, a qua" cabe a participao da mais a"ta corte naciona", o +upremo -ribuna" Bedera"
4+-B:0 .* um destaque a ao foro privi"egiado0
O treco seguinte, acentua mais anida a representao do .omem /ordia"A
Os investigadores consideram que essa investigao a mais importante sobre o
caso no +upremo0 porque e&p"ica como funcionava o mecanismo de desvios de
dineiro na 1etrobras0 3sse inqurito investiga a re"ao de )* polticoscom o
esquema de corrupo0 4G ?>@9>?@=, griffo nosso:
O te&to citado va"ora a fase da investigao destacando que a etapa mais importanteI
porque mostra a ierarquia dentro do esquema de corrupo, cujo o topo formado por (u"a, Di"ma
e -emer0 3 ainda, apresenta um cen*rio po"tico viciado que confunde o p2b"ico com o particu"ar06o destaque que fi$emos, consta que
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3mbora no tena sido citado desde o comeo, a importncia de (u"a, o que "egitima essa
informao com ostatusde notcia, passa a ser apresentada nesse enunciadoA
6a de"ao premiada, De"cdio afirmou que o e&'presidente (u"a deu ava" para
nomeao de 6estor /erverF para a diretoria internaciona" da 1etrobras e queDi"ma ava"i$ou a ida de /erverF para a %! Distribuidora0 4G ?>@9>?@=:
6o pode passar despercebido que mais uma ve$ as regras da vida p2b"ica so bur"adas, de
acordo com o recorte apresentado0 5o invs da presidente dar o ava" para nomeao de 6estor
/erverF, um e&'presidente que o fa$0 O que, oficia"mente, no tem nenum poder de mando
dentro do Governo Bedera"0 6o entanto, a situao inversaA Di"ma ava"i$ou, apenas0
O ento vice de Di"me aparece tambm com maior fora de deciso que a prFpria presidentenessa citaoA +egundo De"cdio, Mice" -emer referendou a nomeao de Corge Ye"ada para
suceder /erverF na diretoria )nternaciona" 4G ?>@9>?@=:0
-ambm interessante notar as tona"idades adotadas na reportagem0 1ara acentuar o c"ima
de /ordia"idade, o te&to comea acusando de forma indireta (u"a, -emer e Di"ma0 6o entanto,
ameni$a, como forma de fornecer certa imparci"idade em treco como esseA
O procurador'gera" da !ep2b"ica considera que De"cidio citou in2meros fatos que
representam desdobramentos diretos de crimes em apurao no +upremo, a"m de
ter indicado novos personagens0 3 que por isso necess*rio aprofundar as
investiga#es0 4G ?>@9>?@=:
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5inda de forma estratgica, dei&ado para o fina" da pub"icao esc"arecimentos que deem
a enteder que a notcia a"armante0 3sse treco quase um pedido de descu"paA )sso no significa
que Di"ma, (u"a e -emer sero a"vos de inquritos0 3ssa ava"iao ainda ter* que ser feita pe"o
procurador0 3 depois, submetida ao +upremo -ribuna" Bedera" 4G ?>@9>?@=:0
/omo dito anteriormente, os envo"vidos nos atos de comunicao produ$em suas faces0-anto a imprensa, quanto os retratados disputam a contruo imagtica0 5gora a ora de
apresentar a imagem 4face: que a equipe do (u"a pretende mostrar de"e, saindo em desvantagem
porque, passa ainda pe"o fi"tro do G, que pub"ica, c"aro, o que a editoria" acar necess*rioA
O )nstituto (u"a dec"arou que o e&'presidente j* depHs neste inqurito e prestou
todos os esc"arecimentos s autoridades0 3 que e"e sempre agiu dentro da "ei e a
favor do %rasi" antes, durante e depois da presidncia da !ep2b"ica0O advogado de (u"a dec"arou que o e&'presidente no tem nenuma re"ao com
os de"itos que esto sendo investigados0 4G ?>@9>?@=:
Do mesmo modo, a assessoria de imprensa de Mice" -emer funciona como sua construtora
de faces, como e&emp"ificado nessa citaoA
5 assessoria do vice'presidente Mice" -emer dec"arou que as men#es de De"cdiodo 5mara" esto equivocadas ' e que o vice'presidente no tem nenuma re"ao
com os casos citados pe"o senador0 4G ?>@9>?@=:
3m resumo, podemos di$er que a esco"a por mostrar casos de supostas corrup#es, posto
que ainda esto fase de investigao, e a opo por destacar figuras como (ui$ )n*cio (u"a da +i"va,
Di"ma !ousseff e Mice" -emer, representantes maiores do cen*rio po"tico brasi"eiro atua"mente,
no inocente0 -em uma inteno0
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3 a inteno produ$ir um cen*rio, mesmo que seja apenas no campo das sensa#es, de
cordia"idade, ou seja, com caractersticas que remetem ao .omem /ordia", teoria, como dito
v*rias ve$es aqui, apresentada por +rgio %uarque de .o"anda, no scu"o passado, ainda na dcada
de 7