Post on 10-Jan-2017
BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA REFORMA AGRÁRIA
1. DADOS DA INSTITUIÇÃO:
Nome: Cooperativa de Trabalho Prestadora de Serviços e Assessoria Técnica -
COPASAT LTDA.
Endereço: Rua Jaime Benévolo, 1915 – Bairro de Fátima – CEP: 60.411-130 – Fortaleza-
Ceará.
Executora de chamada pública de ATER – 01/2013 – NOP Ocara – INCRA-CE.
2. DADOS DO AGENTE DE ATER:
Nome: Josimar Galdino da Silva – Técnico em Agropecuária – CREA-CE 53.407.
Endereço: Assentamento Lagoa do Serrote II, Zona Rural, Ocara-CE.
Telefone: (85) 992809572
E-mail: josimar.galdino@bol.com.br
3. DADOS QUE IDENTIFIQUEM A PRÁTICA:
Nome do Agricultor: Raimunda Inez Souza Silva
Comunidade: Assentamento Lagoa do Serrote II (Denir)
Telefone: (85) 3322-1165
E-mail: josimar.galdino@bol.com.br
Georeferenciamento: F 04º34’45,5” e W 38º33’48,7”
4. CATEGORIA:
I – Ater e Desenvolvimento Sustentável
a) Sistemas sustentáveis de produção de base agroecológica.
IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR
ASSENTAMENTO LAGOA DO SERROTE II (DENIR)
MUNICÍPIO DE OCARA – CE
OUTUBRO / 2015
INTRODUÇÃO
No Assentamento Lagoa do Serrote II, situado no município de Ocara,
atualmente existem 30 famílias assentadas, as principais atividades agrícolas
exploradas por elas são: o cultivo de cajueiro, da mandioca, do milho e do feijão, tendo
como principais fontes de renda o cultivo e a comercialização do cajueiro anão
precoce e do milho. Na pecuária, foram observadas que a criação de bovinos e
abelhas são atividades que vem sendo trabalhadas por 70% dos assentados visitados,
sendo a atividade apícola destacada como a mais importante.
A equipe técnica de ATER da COPASAT, após vários meses de convívio nos
assentamentos, conhecedora da realidade de cada um dos sete assentamentos do
NOP Ocara, a partir de conversas e reflexões realizadas nas atividades individuais e
coletivas, convidou representantes dos sete assentamentos para uma reunião. Na
ocasião, a equipe técnica expôs aos assentados presentes às várias tecnologias de
convivência com o Semiárido na perspectiva agroecológica. Numa apresentação em
forma de slides, os presentes puderam conhecer uma casa de sementes, um banco de
proteínas, um viveiro para produção de mudas e de defensivos naturais, um sistema
agrosilvopastoril e um biodigestor. Em seguida, iniciou-se um debate para escolha do
local.
Após a realização desta reunião, os assentados retornaram para seus
respectivos assentamentos com a missão de socializar com os/as demais
assentados/as tecnologias vistas e também os possíveis locais.
Posteriormente, a equipe de ATER realizou mais uma reunião para que as
lideranças dos assentamentos apresentassem o resultado das discussões realizadas.
Nessa ocasião, após breve debate e reflexões, por unanimidade, os representantes
dos assentamentos escolheram por unanimidade, a implantação de um biodigestor
como a melhor e mais adequada tecnologia agroecológica a ser implantada nesse
momento. Nesse momento também foi escolhido o assentamento Lagoa do Serrote II
e a família da assentada Raimunda Inêz como guardiões e responsáveis pela
manutenção do biodigestor. Para registro das decisões tomadas, foi lavrada uma ATA.
OBJETIVO
Implantar uma Unidade com inovação relativa às atividades produtivas,
organizativas, ambientais e gerenciais, baseada em tecnologias agroecológicas e/ou
convivência com o semiárido para superação dos pontos críticos dos sistemas de
produção.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Após receber autorização do INCRA para realizar o serviço, a COPASAT
comprou o material de construção e a equipe técnica de ATER passou a orientar e
acompanhar a construção do biodigestor realizada com mão de obra voluntária dos
próprios assentados do PA Lagoa do Serrote II. Para construção do biodigestor foram
necessárias 40 horas, distribuídas nas várias etapas apresentadas a seguir:
Etapa 1 e 2 – Escolha e marcação do local e escavação do buraco
Fonte: COPASAT, 2015
Dando continuidade nesse processo produziram-se as placas para iniciar a
construção da alvenaria.
Etapa 3 e 4 – Produção das placas e construção da alvenaria
Fonte: COPASAT, 2015
As próximas etapas realizadas foram à fixação do cano guia e a construção
da caixa de carga e descarga.
Etapa 5 e 6 – Fixação do cano guia e construção da caixa de carga e
descarga
Fonte: COPASAT, 2015
Em seguida, a parte de alvenaria foi concluída, conforme demonstrado na foto
abaixo.
Etapa 7 – Finalização da alvenaria (placas e tijolos) e cano guia
Com a finalização da construção da alvenaria, realizaram-se as perfurações na
caixa de fibra de 1000 litros para preparar a câmara de biocombustão.
Etapa 8 – Perfurações na caixa de fibra - câmara de biocombustão
Fonte: COPASAT, 2015
Com a conclusão desta etapa de construção/implantação do biodigestor a
equipe de ATER começou a pensar e a preparar um momento de capacitação para
os/as assentados/as. Sendo assim, nos dias 07 e 08 de abril de 2015, no
assentamento Lagoa do Serrote II foi realizada a capacitação sobre todo o processo
de montagem do biodigestor, bem como sua finalidade, funcionamento, usos e
benefícios.
No primeiro dia de capacitação com 8 horas de atividade, trabalhou-se a
parte teórica apresentando através de slides em Power point o que é um biodigestor,
as etapas da construção, quais os produtos (biogás e biomassa), apresentando os
benefícios sociais, econômicos e ambientais desta tecnologia de convivência com o
semiárido para as unidades de produção familiar. Josimar Galdino, profissional de
ATER, apresentou iniciou explicando que o Biodigestor é um equipamento que, por
meio da ação de microrganismos (bactérias anaeróbicas), transforma o esterco animal
(de curral) em gás (Biogás) inflamável, que pode substituir o gás de cozinha comprado
em botijões (Gás Liquefeito de Petróleo - GLP). O biodigestor ainda produz
biofertilizante, que pode ser usado nas áreas de cultivo, ou dependendo da produção,
poderá gerar renda através da comercialização.
Em seguida, passou a explicar o passo a passo para a construção e
instalação da Unidade Demonstrativa, conforme citado a seguir:
Passo 1: realizar a escolha do local, pois não deve ser sombreado, já que
o calor é um importante fator na eficiência da produção de biogás. Por isso não
são recomendados locais próximos a árvores;
Passo 2: fazer a escavação do buraco central com 1,40 m de profundidade
e 1,30 de raio que abrigará o tanque principal e escavar os locais para
instalação das caixas de carga e descarga;
Passo 3: confeccionar as placas (mesmo método adotado para construir
cisternas de placa).
Passo 4: construir a alvenaria, assentando as placas sobre o círculo já
demarcado;
Passo 5: instalar o cano guia e construir os batentes do fundo;
Passo 6: preparar a caixa que servirá de câmara para biocombustão;
Passo 7: fazer a base do cano guia;
Passo 8: colocar a caixa de combustão dentro da alvenaria e instalar a
trave de segurança no cano guia e iniciar a alimentação do biodigestor.
Vale ressaltar que, antes de fixar com cimento, as placas foram alinhadas para
formar a circunferência. Isto permite que sejam conferidas as suas medições e
dimensões. Só então é que fixam as placas com cimento.
Para preparar a caixa que servirá de câmara para biocombustão. No centro,
com o auxilio de uma furadeira elétrica e serra-copo, foi realizado um furo com 50 mm,
onde será colocado um flange. Neste flange será instalado um cano de PVC que
servirá de guia para a caixa. Ao lado desse furo foi feito outro, também com auxilio de
uma serra-copo com 20 mm. Nele será instalada a flange para a tubulação de gás. O
flange de 60 mm deverá ser instalado com a rosca virada para fora da caixa, para
permitir a instalação do cano guia por dentro. Por sua vez, a flange de 20 mm para a
tubulação de gás fica com a rosca virada para dentro da caixa, permitindo a instalação
do cano por fora. Contudo, em ambos os flanges, recomenda-se que as borrachas de
vedação sejam instaladas na parte de dentro da caixa. Isto diminui a degradação e o
ressecamento pelo sol, aumentando a vida útil.
Para fazer a base do cano guia, utiliza-se uma tábua de madeira (0,14 m x 0,04
m) com 1,60 m de comprimento. No centro da madeira deve ser feito um furo onde o
cano guia se acomoda. Em um lado usa-se a serra-copo 50 mm até a metade. E no
outro se usa a serra-copo de 40 mm. Por fim o furo fica com dois tamanhos em cada
lado da madeira. A tábua deve ser fixada na caixa de fibra usando-se quatro parafusos
franceses 3” x 3/8” com porca e arruela, dois em cada extremidade da tábua. A
abertura de 40 mm deve ficar virada para fora da caixa e a de 50 mm para dentro da
caixa, onde se acomoda ao cano guia que deve ser instalado no momento em que a
tábua é fixada.
O biodigestor precisa de um lastro sobre a caixa de fibra para que o biogás
mantenha uma pressão constante, evitando assim falhas na condução até o fogão.
Para isso, instala-se uma cinta de zinco com 30 cm de largura sobre a caixa de fibra.
Assim será possível preencher com terra ou esterco para aumentar o peso e promover
uma pressão uniforme no biogás.
Logo os passos de construção estejam concluídos, a caixa de combustão deve
ser colocada dentro da alvenaria e instalada a trave de segurança no cano guia e o
inicio da alimentação.
Fotos: Capacitação teórica - finalidade, funcionamento, usos e benefícios de um biodigestor
Fonte: COPASAT, 2015
No segundo dia da
capacitação, houve uma prática
de campo, onde foi realizado o
processo de montagem da
câmara de biocombustão, o
abastecimento do biodigestor e como será o funcionamento, ficando certo que após o
abastecimento, Raimunda Inez, com orientações do Técnico em Agropecuária Josimar
Galdino, vai acompanhar o processo de produção do biogás, bem como realizar o
controle da produção de gás e de biomassa.
Fotos: Prática de campo – montagem da câmara de biocombustão e abastecimento do
biodigestor
Fotos: Prática de campo – montagem da câmara de biocombustão e abastecimento do
biodigestor
RESULTADOS
Em geral, nas condições do semiárido, a adição de 20 kg de esterco bovino por
dia é suficiente para gerar todo o biogás necessário a uma família média de 5
pessoas. Isto requer que a família possua entre 2 e 3 vacas no curral.
Podemos salientar também que a biomassa produzida pelo biodigestor pode
ser utilizada nas lavouras da família e/ou comercializada, gerando trabalho e renda
para os membros da unidade de produção familiar.
POTENCIALIDADES E LIMITES
Vale ressaltar também que essa tecnologia dialoga com a realidade enfrentada
pelas famílias assentadas do município de Ocara, uma vez que essas possuem
criação de bovinos, ovinos, suínos e aves e muitas vezes os dejetos são pouco
utilizados como adubação orgânica e não é aproveitado como fonte de energia. Diante
dessa realidade, o biodigestor será uma alternativa para realizar o aproveitamento
desses dejetos, evitando que este seja desperdiçado, diminuindo o consumo de lenha
e/ou carvão vegetal e derivados de petróleo, fontes de energia não renováveis e que
causam grandes impactos ambientais.
REPLICABILIDADE
Várias ciências devem ser utilizadas na resolução dos problemas ambientais
de qualquer atividade humana. Dentre essas ciências devemos considerar a História
(estudo da ação humana ao longo do tempo paralelo ao estudo dos processos e dos
eventos ocorridos no passado). Entre os tipos de História, os que mais nos interessam
é a Pragmática (objetiva mudar os costumes políticos e corrigir os contemporâneos,
utilizando o caminho de mostrar os erros do passado) e a Científica (há uma
preocupação com a verdade, com o método, com a análise crítica de causas e
consequências, tempo e espaço).
A utilização de biodigestores é algo muito antigo, tão antigo, que eles já foram
até confundidos com fenômenos sobrenaturais e manifestações de seres místicos ou
folclóricos. Então temos uma riquíssima quantidade de informações para analisarmos
e aprendermos.
DEPOIMENTOS
A agricultora Raimunda Inez diz “...biodigestores são equipamentos de
funcionamento simples que chamam cada vez mais atenção por promoverem a
preservação ambiental...”.
O agente de ATER Josimar Galdino cita que “a lama residual produzida pelo
biodigestor passará por tratamento e secagem e será transformada em adubo. A água
limpa será despejada nos rios; e o gás metano liberado, resultante da ação anaeróbica
das bactérias, será empregado na geração de energia como biogás (gás de cozinha)”.
O agricultor Domingos Linhares cita que “deve - se realizar estudos, detectar
parceiros e implementar projetos que objetivem a produção de energia a partir dos
dejetos de animais.
AUTORES E COLABORADORES
NOME FORMAÇÃO REG. DO
CONSELHO ÁREA NIVEL
Etalina Pereira de Matos Economista
Doméstico CRED I: 0411 Social Médio
Renata Bezerra Felix Assistente Social CRESS: 6379 Social Superior
Francisco Wescley
Alcântara de Freitas
Engenheiro
Agrônomo
CREA-CE:
46207 Agrária Superior
Maria Vandevânia
Carneiro do Nascimento
Técnica em
Agropecuária
CREA-CE:
52195 Agrária Médio
Sebastião José de Souza Técnico em
Agropecuária
CREA-CE:
46.560 Agrária Médio
Josimar Galdino da Silva Técnico em
Agropecuária
CREA-CE:
53.407 Agrária Médio