Post on 25-Jul-2015
À base de ''dor e sofrimento'' CRACOLÂNDIA | São Paulo enfrenta o vício sem respeitar direitos humanos elementares
nos municipal e estadual, a rede de saúde para tratamen-to. Em outras palavras, busca-se,pelatortura,umaeventual corrida do dependente às autoridades sanitárias, que ainda não possuem um posto de atendimento na Cracolândia.
É a segunda vez que São Paulo fere elementares
princípios de direitos humanos. Na primeira,
usuários foram conduzidos à força para desinto-
xicação. Agora usa-se a tortura indireta. Como
alerta o especialista Marcelo Ribeiro, a estratégia
não tem lógica. "A sensação de fissura provocada
pela abstinência impede que o usuário tenha
consciência de que precisa de ajuda. Ela causa
outras reações, a começar pela violência."
Na Europa e nos EUA, são utilizadas eficazes
políticas sociossanitárias com respeito a direitos
humanos. Por exemplo, os centros de acolhimento
e as salas seguras de uso, que facilitam as ações
dos agentes de saúde pública. Aliás, esse tipo de
política é aprovado por Barre Simousse,
vencedora do Nobel de Medicina.
Em resumo, a prefeitura começou com a in-
ternação compulsória e migrou para a tortura
disfarçada. O governo do estado e o Tribunal de
Justiça embarcaram na onda do sofrimento. Até o
fechamento da edição nem o ministro da Saúde
nem a secretária da pasta de Direitos Humanos se
manifestaram sobre o projeto. •
NA CAPITAL PAULISTA, O governador Geraldo
Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab deram sinal
verde a uma operação da Polícia Militar para
ocupar a região conhecida desde o início dos anos
90 como Cracolândia. O tal plano, como bem
sintetizou a Secretaria de Estado da Justiça e da
Cidadania de São Paulo, pela Coordenação de
Políticas sobre Drogas, está baseado "na dor e no
sofrimento" dos dependentes de crack.
Os dependentes, como se sabe, ocupam uma
área-alvo de reurbanização e objeto de espe-
culação imobiliária, com incentivos fiscais aos
interessados em investimentos. A Polícia Militar,
já nas ruas, terá a tarefa de evitar a oferta do crack
ao dependente e, caso escape o controle, não
permitirá o uso na Cracolândia.
Usuários sem acesso à droga entrarão na fase
conhecida no campo médico por abstinência,
produtora de sofrimentos e perturbações mentais.
Aí buscarão, na visão distorcida dos gover-
Arcaico. Para governo, a crise
abstinência jara
os viciados
procurarem ajuda