Design Magazine #1

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Primeira edição da revista Design Magazine

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EDITORIALAqui está o número 1 da revista online portuguesa DESIGN MAGAZINE, a edição de Setem-bro/Outubro de 2011. É com optimismo e bastante determinação que pretendemos tornar esta revista num meio de comunicação direccionado para toda uma comunidade que parti-lha a língua portuguesa, divulgando temas relacionados com o design, arquitectura e outras expressões artísticas e culturais. Queremos dar uma visão variada sobre estes temas, privile-giando a nossa percepção do Mundo e criando sempre uma ligação com os leitores por uma via que, desejamos, muito para lá das tendências ou das modas. É também um dos nossos objectivos evitarmos a queda, sem propósito, em antevisões do futuro ou divagarmos numa linguagem fria e distante. Registamos a chegada de novos colaboradores, o artista plástico Rodrigo Costa, o arquitecto José Luís de Saldanha e o fotógrafo Rui Gonçalves Moreno. Queremos destacar neste número 1, a entrevista a Ludovica + Roberto Palomba, a dupla de arquitectos e designers italianos, que nestes últimos anos tem evidenciado uma qualidade e uma paixão notáveis pelo trabalho que faz. Rodrigo Vairinhos, um designer português que foi encontrar na Alemanha o meio propício para expressar a sua criatividade. Um elegante e inovador serviço de chá, dá-nos a conhecer o bom design de João Saldanha. A rubrica Food Design é uma participação exclusiva do chefe José Avillez, a quem agradecemos a sua esti-mada colaboração. Na arquitectura damos relevo ao trabalho do atelier MSB – Arquitectura e Planeamento, destacando dois projectos, uma construção de raiz e uma reforma, ambos na Madeira. Por fim, queríamos criar uma boa base de relacionamento com todos os designers e ar-quitectos que exercem por esse mundo fora, de forma a divulgarmos bons produtos, boas construções e fascinantes expressões artísticas e culturais. Há muito ainda por desvendar! Queremos deixar a porta aberta e provar que uma revista é tudo menos um monstro de sete cabeças no que aos critérios editoriais diz respeito.

Tiago Krusse

Esta revista não está redigida nos termos do novo Acordo Ortográfico.

CRIADA EM 2011PUBLICAÇÃO BIMESTRALELEMENTOS À SOLTA – DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS MULTIMEDIA, LDARUA ADRIANO CORREIA OLIVEIRA 153, 1B 3880-316 OVAR – PORTUGALNIPC 508 654 858geral@elementosasolta.pt

EDITORIALEDITOR E DIRECTOR EDITORIALTIAGO KRUSSE tiago_krusse@netcabo.ptCOLABORADORESJOSÉ LUÍS DE SALDANHARODRIGO COSTARUI GONÇALVES MORENOPRODUÇÃO GRÁFICA E PRODUÇÃO DIGITALJOEL COSTA joel@elementosasolta.ptCÁTIA CUNHA catia@elementosasolta.pt

CONTACTO EDITORIAL E COMERCIALDESIGN MAGAZINEJARDIM DOS MALMEQUERES 4, 2 ESQUERDO 1675-139 PONTINHA - PORTUGAL

designMAGAZINE

LOVE IS NOT A LOSING GAME

TEXTO: RODRIGO COSTA

... Guardo a tua voz como inebriante recordação, como algo que levaria, eremita, se, hoje ou amanhã —qualquer amanhã—, decidisse ignorar o caos das sociedades governadas por de-crépitos e perversos; se decidisse, eu próprio, refugiar-me num baú onde apenas coubessem eu e os meus pensamentos; desacreditado da viabilidade de tudo isto. Ficaria, quieto e cogi-tando, ouvindo-te. De canção em canção —entre canções, nas pausas—, proporia algumas alterações, alguns ajustamentos às ideias; porque, o modo como as pronuncias... não tem emenda. Começaria pelo título mais significativo. No fundo, o prenúncio da tua desistência; essa espécie de sinal de partida. E começaria por te dizer, Amy, que, no amor, só perde quem não ama, porque, pura e simplesmente, não se eleva nem mergulha nas profundezas, não se transcende; são seus, sem benefício nem dano, todos os espaços do vão da escada. Mas de que amor eu falo?... —pena que não pudesses ter-me perguntado! Podemos começar pelo amor entre pessoas e o não-correspondido, o que mais nos pode ensinar sobre a importância do amor-próprio —repara na coincidência do ponto comum, o hífen, que assinala a justaposição na formação das palavras; antes, separadas, e que, agora, se relacionam, não havendo, portanto, coincidências, mas a tal vigência do princípio de cau-salidade. No papel de Deus, eu mesmo O teria corrigido e te teria dito, ama-te, sobre todas as coi-sas; constrói a tua fortaleza e escreve e canta e serve-te das perdas para construíres as tuas vitórias. E, à medida que fores crescendo, perceberás que o que menos falta é onde perder; e acabarás por ter a consciência de que, sem derrotas, ninguém vence... Ver-te-ás, então, como o maior desafio; porque, de sofrimento em sofrimento, terás des-coberto que só podes amar e querer a lonjura dos teus limites; esse ponto longínquo, ainda ininteligível; lá, dos confins, de onde se ergue a monumentalidade da tua voz —por alguma razão, amar está no infinito.. Se eu pudesse, se as minhas mãos me obedecessem; se a luz, que, algumas vezes, me ilumi-na, me iluminasse, reuniria as tuas cinzas, quais partículas de barro seco que humedeceria, juntando-as e recuperando a massa com que te resgataria. Moldar-te-ia, animar-te-ia e levar--te-ia ao início; dir-te-ia que os dons são as ferramentas com que se constrói o equilíbrio; e, penso, poderia mostrar-te sinais do futuro... Será que me declaro?... Em parte. Sem estar apaixonado, não te teria escrito. Sem ter sido tocado pela perda da tua voz; sem que, também ela, viesse lembrar-me os meus limites —o meu longínquo, o meu amor-próprio—, não correria à procura das palavras certas, não en-traria, sequioso e aflito, na imensidão; não revisitaria as abóbadas que moldaram o teu can-to, sob as quais se elevaram as tuas inconfundíveis harmonias. Sim, o profundo apaixona-me; amo esse longe de onde os teus sons vieram, esse tecto pintado de orações e de delírios...

www.rodrigo-costa.net

PRODUÇÃO POLACATEXTO: TIAGO KRUSSE

FOTOGRAFIA: YOUNG CREATIVE POLAND

“Hidden”, design de Tomek Rygalik para a Iker.

“Maple”, design de Gernot Oberfell e Jan Wertel (Platform) para a Iker.

É pela acção de curadoria de Miska Mil-ler-Lovegrove e de Anna Pietrzyk-Simone que as indústrias criativas polacas têm vin-do, desde 2009, a expor as suas potencia-lidades nos diferentes campos do design. Estas acções de marketing têm sido pro-duzidas com o apoio financeiro da União Europeia e do governo polaco.A estratégia da Young Creative Poland foi posta em prática no início em 2009, com uma exposição no Reino Unido, pelo ar-ranque da London Design Week e que se estendeu durante um ano, de maneira a captar o interesse do mercado britânico. Nestes últimos dois anos os organizadores escolheram Milão como o palco privilegia-do para confirmar o potencial da Polónia, quer ao nível dos seus designers como das suas marcas.

“Mishell”, design de Piotr Kuchcinski para a Noti.

“Origono”, design de Piotr Kuchcinski para a Noti.

O projecto polaco deu a este ano um ên-fase exclusivo às boas parcerias existen-tes entre designers e marcas. Mais do que criar uma porta de esperança ou uma mera acção de marketing para as suas indústrias criativas, a presença polaca no Salão Inter-nacional do Móvel de Milão traduziu uma força industrial e uma real capacidade de inovação de produtos. A imagem de uma Polónia com processos antiquados de tra-balho fabril e incapaz de, ao nível empre-sarial, se afirmar em mercados mais com-petitivos, desfaz-se quando olhamos para estes produtos e neles percebemos força estética e consistência do design.Uma nota final para referir a importância que terão os novos valores do design pola-co podendo acrescentar valor à economia do seu país, como também um papel fun-damental na contribuição de um mais con-trolado recurso e uso das matérias-primas. Estes novos designers e estas empresas de-sempenharão um papel importante num crescimento sustentável e realista. Deve-rão ter em mente profundas preocupações com o meio ambiente, pois que a Polónia enfrenta uma série de problemas graves ao nível da poluição atmosférica, com reper-cussões graves na fauna e flora.

“Comma”, design de Renata Kalarus para a Noti.

“Kamm”, design de Oskar Zieta.

“Plopp”, design de Oskar Zieta

“Termo”, design de Tomek Rygalik para a Noti.

LUDOVICA + ROBERTO PALOMBAENTREVISTA: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA: MAX ZAMBELLI

Onde e quando se encontraram?Encontrámo-nos na universidade em Roma, no período de estudantes. Frequentávamos os dois a universidade de arquitectura.

Começou como uma amizade, uma parceria ou uma intenção de trabalharem em con-junto?Foi uma amizade que se tornou num relacio-namento e que cresceu desde então numa experiência profissional partilhada.

Eram colegas de universidade?Sim, eramos.

Qual é a vossa formação?Estudámos ambos arquitectura e design porque é de facto uma maneira de perce-bermos a sociedade em que vivêmos.

Mas porquê arquitectura e design?Para compreendermos os sonhos das pes-soas.

Como é que descrevem aquela atmosfera universitária?Anos cheios de vida, de coisas para fazer, para aprender, para ver e para descobrir. A curiosidade sempre nos guiou desde o pri-meiro momento.

Foram tempos estimulantes e de aprendiza-gem?Sem dúvida! Recordamos como anos em que estudávamos muito mas que ao mesmo tempo queríamos fazer alguma coisa nos-sa, fazer design. Para rirmos juntos. Tempos para viver.

De quem receberam a paixão para seguirem as vossas vidas profissionais como arquitec-tos e designers?Viajar foi sempre a nossa primeira fonte de inspiração e a paixão do nosso trabalho. Co-nhecer pessoas, visitar lugares longínquos, deixarmo-nos “contaminar” e por fim ser-mos surpreendidos. Sem dúvidas que é a melhor forma de não perder o desejo de trabalhar e de fazer design.

Por que razão decidiram abrir a Palomba Se-rafini Associati? Começámos por trabalhar juntos e descobri-mos que as nossas ideias se tornavam mais fortes e mais completas como uma dupla. Como as duas faces da mesma moeda, as nossas duas visões uniram-se na perfeição e com naturalidade.

O vosso trabalho apresenta sempre uma grande quantidade de referências culturais mas também uma excelência em trabalhar os materiais e um perfeito entendimento da inovação que advém da exploração de no-vas técnicas de produção e evoluções tec-nológicas. Como é que conseguem isso? É apenas trabalho da vossa pesquisa e do de-senvolvimento de ideias?O nosso trabalho é o resultado da nossa ex-periência, podemos dizer que vem directa-mente dessa experiência. É o resultado de influências culturais, de pesquisa tecnológi-ca – em que continuadamente nos assegu-ramos -, das inovações – que são essenciais em design e arquitectura –. Nós trabalha-mos misturando todas estas coisas porque é a melhor maneira de alcançarmos o melhor resultado.

Lab 03, design de Ludovica + Roberto Palomba para a Zuc-chetti.KOS. Premiado na 22ª edição do Compasso d’Oro.

A pesquisa em materiais é uma das chaves do vosso sucesso?Claro! Trabalhar com materiais diferentes, procurar novas soluções e esticando sem-pre os limites um pouco mais a frente. Esta é a forma correcta e a única maneira para nós trabalhamos. O sucesso vem como con-sequência, é o resultado de um trabalho feito com paixão, cuidado e elevado profis-sionalismo.

Trabalhando para diferente tipos de em-presas dá-vos a oportunidade de alargar a visão em distintos segmentos de produto. Como classificam esta infindável variedade de produtos que temos nos nossos dias?Como podem ver, no nosso dia-a-dia há mais e mais difusão, quer na arquitectura como no design. É a demonstração de uma sociedade que dia após dia é mais informal e progressiva. Noutras palavras, a socieda-de em si está à procura de coisas novas. Ao invés de descrever e de qualificar o que já existe, nós acreditamos que é sermos me-lhores, e certamente mais estimulante, pensarmos no que virá... e trabalhar para isso.

O vosso trabalho tem sido reconhecido por todo o mundo nestas últimas duas décadas. É realmente importante adquirir este reco-nhecimento ou aquilo que tomam como importante é o facto do vosso trabalho se encontrar sempre aos mais altos níveis de execução?Somos inspirados pela paixão pelo trabalho que fazemos. Sermos designers e arquitec-tos significa termos a possibilidade de me-lhorarmos a vida de outras pessoas através dos produtos que criamos. Por isso estamos saitisfeitos por recebermos prémios e é cla-

ro que eles são importantes. Eles são, antes de tudo o mais, o fruto do nosso trabalho como designers.

O que de facto representa para vocês este reconhecimento na XXII edição do Compas-so d’Oro pelo vosso trabalho no Lab 03 para a KOS e pela colecção Faraway para a Zuc-chetti.KOS?Uma grande emoção. Felicidade. O Com-passo d’Oro é o prémio de design mais an-

tigo do mundo. Estamos muito satisfeitos!

Na vossa opinião quais são as linhas orien-tadoras para futuros projectos de design e de arquitectura?Arquitectos e designers, graças às inovações tecnológicas ao nosso dispôr, estão já (e es-tarão no futuro) livres para expressar o seu próprio estilo de uma maneira mais fácil, in-dependentemente das linhas orientadoras ou das tendências. Contudo, acreditamos

que o que é fundamental são as proporções e o bom gosto, que permanecerão.

Haverá espaço e oportunidades para todos?Acima de tudo, acreditamos que haverá sempre espaço para aqueles que têm o de-sejo e a habilidade de contar histórias atra-vés de grandes emoções, com simplicidade, sem gritar.

Faraway Collection, conceito e design de Ludovica + Roberto Palomba para a Zucchetti.Kos. Menção honrosa na edição do Compasso d’Oro.

T4ONEJOÃO SALDANHA CRIOU ESTE SERVIÇO DE

CHÁ. UM PRODUTO BEM PENSADO, DE LINHAS ELEGANTES E ARRUMADO.

TEXTO: TIAGO KRUSSE

FOTOGRAFIA: JOÃO SALDANHA

João Saldanha, tem 37 anos, é licenciado em Design de Equipamento pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e recentemente fre-quentou o curso de Design Gráfico e New Media na Restart.O Tea4one é um serviço de chá em porce-lana, produto esse todo ele concebido e desenhado por João Saldanha. O serviço de chá é composto por chávena, bule, açuca-reiro e pires. Na memória descritiva do pro-duto, sobre o conceito, o designer diz-nos que este serviço resulta de uma abordagem pessoal à porcelana utilitária e adequada ao espírito da nossa época. O Tea4one foi pensado para ser utilizado por uma ou duas pessoas e teve em atenção o facto de po-der corresponder às expectativas estéticas do mundo de hoje, ao conforto do uso, à funcionalidade exigida e à sua original ca-pacidade de arrumação.O designer João Saldanha salienta que pro-cedeu a um acompanhamento de perto nas diferentes etapas ligadas ao produto na sua globalidade. Desde a fase incial do desenho

das peças à construção de protótipos em cerâmica, ao design gráfico no seu todo – logótipo, comunicação e embalagem –, e ao acompanhamento do processo pro-dutivo na empresa Andias & Bernardes, de Aveiro, o designer certificou-se que a transposição da sua ideia era toda ela bem sucedida.Desde o último trimestre de 2010 que o Tea4one tem merecido a atenção do mer-cado e dos meios de comunicação. Em Outubro de 2010, João Saldanha viu o seu serviço ser seleccionado num concurso de designers promovido pela empresa Tema Home, ligada ao evento Noites Claras / Príncipe Real Live, em Lisboa. Nos meios de comunicação o Tea4one tem mereci-

do destaque não só pela sua abordagem estética e funcional, mas também por ser um produto todo ele 100% nacional.Uma nota final para referir que a porce-lana e o consumo do chá são de facto as-suntos que dizem respeito ao imaginário do mundo português. A porcelana que os marinheiros portugueses foram descobrir em terras longínquas como a China ou o Japão. É curioso salientar que os historia-dores referem que o chá é mencionado em livros chineses do século IV. Da China, o uso do chá, partiu para o Japão no sé-culo XIII e coube aos sacerdotes da seita budista Sen a idealização da cerimónia japonesa de beber o chá, designada cha--no-yu. Só muito mais tarde, séculos XVII

e XVIII, é que o hábito de beber o chá é introduzido na Europa. E neste particular, foi D. Catarina de Bragança, rainha de In-glaterra, casada com Carlos II, a personali-dade que divulgou em primeira-mão este cerimonial, levando à corte inglesa a tra-dição de beber chá. Apesar da vida difícil que corte inglesa lhe deu, a verdade é que D. Catarina de Bragança deixou por lá um novo hábito. Nos nossos dias o chá volta uma vez mais a ganhar novos consumidores e este ser-viço Tea4one do designer João Saldanha surge como uma inovadora abordagem e consistente em todos os seus aspectos. Gostámos! www.joaosaldanhadesign.wordpress.com

FOOD DESIGN POR JOSÉ AVILLEZFOTOGRAFIA: VICTOR MACHADO

MERGULHO NO MAR

Ingredientes para 4 pessoas4 tranches de robalo com 170 g, cada

Para os bibalves12 unidades de mexilhão12 unidades de lingueirão20 unidades de berbigão

Sal marinhoÁgua mineral

Para a água do mar400 g de mexilhão bem limpo

100 g de água

Para as algas e plantas marinhas60 g de dilceia carnosa salgada

60 g de alface de mar40 g de salicórnia40 g de codium

Preparação

Coloque cada tranche de robalo dentro de um saco de vácuo e reserve até à hora de servir.

Para os bivalves

Coloque um tacho ao lume com água e sal (15 gr por litro de água). Deixe levantar fervura e coza separadamente os bivalves. Conte 30 segundos para os mexilhões, 13 segundos para o berbigão e 50 segundos para o lingueirão fechado a vácuo. Este últi-mo poderá ser cozido em água sem sal. Ar-refeça o saco do lingueirão em água e gelo e reserve no frio. Com a ajuda de uma faca pequena, retire os restantes bivalves das conchas e reserve no frio.

Para a água do mar

Coloque a água num tacho largo e levante fervura. Junte o mexilhão e conte 30 segun-dos. Retire do lume, passe num superbag e aproveite todo o caldo. Utilize os mexilhões utilize numa outra preparação. Arrefeça de imediato.

Para as algas e plantas marinhas

Demolhe a alga dilceia carnosa numa taça com água fria até retirar o excesso de sal. Reserve. Numa panela, ferva água, acres-cente a alface de mar e deixe cozer durante 30 segundos a 1 minuto. Retire e arrefeça na em água de mar bem fria. Sirva a salicór-nia e o codium ao natural.

Para finalizar

Coloque o robalo, ainda dentro do saco de vácuo, num banho-maria aquecido a 54ºC, du-rante 20 minutos. Aqueça os bivalves e as algas a vapor de água do mar e aqueça o caldo do mexilhão a 80ºC. Retire o robalo do saco de vácuo e coloque-o no tacho onde tem o caldo de mexilhão a 80ºC. Deixe ficar apenas 5 segundos. Retire e coloque no prato. Passe o caldo por um passador de rede e acrescente sumo de limão. Sirva o robalo com as algas e os bivalves.

RODRIGOVAIRINHOSCRIADOR DA NEO DESIGN, A VIVER E A TRABALHAR EM COLÓNIA, NA ALEMANHA.

ENTREVISTA: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA: RODRIGO VAIRINHOS / NEO DESIGN

A que idade percebeu que queria tirar um curso de design?Decidi tirar um curso de design um pouco antes de me inscrever na universidade. A decisão de enveredar pelo design não foi uma coisa que ponderei muito cedo, foi algo que fui interiorizando. Desde cedo que me sentia bem no campo criativo das artes e nos trabalhos manuais, mas para alguém muito jovem, o conceito de design era uma coisa muito complexa e indefinida. Mais tarde, foi-se solidificando durante a univer-sidade, a partir dos meus 19 anos. De qual-quer forma, a minha decisão não podia ter sido mais acertada. Estive a pender para o curso de arquitectura.

Que boas memórias guarda dos tempos de universidade?Guardo muito boas memórias da universi-dade, principalmente da sensação perma-nente de estar a aprender coisas novas e excitantes... da ingenuidade, da descober-ta, dos novos projectos, do convívio com os meus colegas e amigos, da vida “descontra-ída” sem compromissos, de momentos di-vertidos e de muitas outras coisas. Foi uma etapa da minha vida que desfrutei bem.

Que críticas faz hoje ao ensino que teve?Posso dizer hoje que o ensino que tive foi muito bom, deu-me as ferramentas essen-ciais para o meu desenvolvimento como profissional. Não tenho críticas negativas a fazer. Estudei numa universidade privada mas tive um ritmo de trabalho muito in-

tenso e exigente. Não foi fácil, ao contrário do que se possa pensar de uma instituição privada. As turmas de design eram relativa-mente pequenas e isso permitia-nos sem-pre o acompanhamento por professores, que nos conheciam bem. A relação e a troca de ideias entre alunos e professores eram constantes e muito positivas. Para além do mais, durante os 5 anos de curso, aprendi muitas coisas e tive a oportunidade de ex-plorar as diferentes áreas dentro do design.

Qual é o momento em que percebe que pretende ir para fora do País?Desde muito cedo que tinha a ideia fixa de ir para o estrangeiro, de conhecer o mun-do e aprender outras culturas. Penso que essa vontade já tinha nascido comigo, pois apesar de gostar do meu país, sempre me senti atraído pelo estrangeiro. De qualquer forma, a ida definitiva para fora só foi pos-sível com o finalizar dos meus estudos e de me ter apercebido do enriquecimento inte-lectual e profissional que essa decisão me poderia trazer.

A ida para a Alemanha foi programada?A ida para a Alemanha não foi de todo pro-gramada, simplesmente aconteceu! Nunca me passou pela cabeça que pudesse ir lá parar. Era um país muito distante, com uma cultura que desconhecia e com uma língua que não dominava. Mas a decisão foi rela-tivamente rápida, mais ou menos 6 meses antes. Esse é um exemplo das surpresas que a vida nos pode trazer, e que eu recebi

de braços abertos.

As experiências profissionais vividas foram relevantes para si?Sem dúvida que foram importantes para o meu trabalho. Todos os dias aprendo algo de novo e as vivências, boas ou más, são sempre importantes. Mas aqui na Alema-nha, apercebo-me que estou no centro dos acontecimentos e que as coisas ganham ou-tra dimensão.

A produção de sanitários foi algo que algu-ma vez pensasse abordar em termos criati-vos?A criação de sanitários surgiu inicialmente ao acaso. Tinha sido um tema que abordei enquanto estudante, mas nunca tinha pen-sado em trabalhar numa equipa de criati-vos de um produtor de louças para a casa de banho. O trabalho desenvolvido para a Keramag foi bastante interessante. Como primeira experiência profissional, aprendi muito estando inserido numa grande em-presa, tanto em termos criativos, como em termos de funcionamento de um atelier de design

Comparando a realidade alemã com a por-tuguesa, em termos de produção de sanitá-rios, quais são as diferenças que encontrou? Eu penso que hoje em dia não existem grandes diferenças de funcionamento en-tre empresas europeias. Certas normas internacionais têm que ser cumpridas. Eu nunca me inteirei a 100% de como as em-

presas produtoras de sanitários funcionam em Portugal, mas penso que todas operam de forma semelhante, o mercado global as-sim o exige. Talvez exista na Alemanha um orçamento maior para a pesquisa e investi-mento nos departamentos criativos, perce-bendo-se que eles trazem grandes receitas às empresas.

A abertura do seu próprio atelier foi um so-nho concretizado ou o início da concretiza-ção de vários sonhos?Foi sem dúvida o início da concretização de vários sonhos. Este foi um ponto de partida de uma aventura que não quero que tenha fim. Os meus sonhos vão-se concretizando com o lançamento de novos produtos e de novas ideias.

Foi simples arrancar com o negócio?Arrancar com o negócio foi simples. Aqui na Alemanha, a criação de uma empresa é muito fácil. Também tive a supervisão de pessoas experientes no campo empresarial, que me aconselharam. Por isso o investi-mento material inicial não foi muito grande e preferi apostar apenas na criatividade.

Como conciliou o trabalho de colaboração como uma empresa e o seu próprio atelier?Conciliar duas actividades ao mesmo tem-po foi bastante fácil. Estas eram actividades compatíveis. Eram quase a mesma coisa, pois na empresa que trabalhava também de-senvolvia mobiliário e acessórios. Nos meus tempos livres dedicava-me inteiramente ao

meu trabalho pessoal. Posso dizer que esta fase foi bastante produtiva, deu-me bastan-te prazer conciliar os dois trabalhos e apro-veitar todo o sumo da minha criatividade.

Quais as razões que o levaram a definir o seu atelier com o nome Neo Design?NEO é uma palavra grega que significa novo. Achei que seria um nome que iria resumir de forma objectiva todos os trabalhos saí-dos do atelier ou seja, produtos inovadores. NEO é também um nome curto, é um nome que fica.

Acid Lips

Longo

Que dificuldades encontrou logo de início?Foram as dificuldades normais de qualquer nova empresa que se lança no mercado. Tive que aprender a literalmente tudo. Foi mais ou menos aprendendo fazendo. Foi preciso lutar e ser muito persistente até ter encontrado espaço para mim no mercado. Demorou cerca de 3 anos até me posicionar no mercado e durante esse tempo existi-ram alguns altos e baixos. Existem também pessoas que tentam tirar partido de jovens designers. Apesar de já ter passado algu-mas más experiências, tive a oportunidade de aprender muitas coisas e de ganhar uma barreira protectora.

Que estratégias utilizou para mostrar o seu trabalho?Tentei participar nos grandes eventos inter-nacionais de design, onde pensei que o meu trabalho iria ser apreciado por um público variado, interessado e sensível aos meus produtos. Apostei sobretudo no mercado europeu, Colónia, Milão, Londres, Berlim, Copenhaga e em exposições diferentes por países europeus. Importante para o meu trabalho foi também o interesse por parte da imprensa, que possibilitou a difusão dos meus produtos um pouco por todo o mun-do

Quantas pessoas trabalham consigo?Comigo trabalham 3 pessoas, que gerem as finanças, que me aconselham e que opinam acerca do meu trabalho. As decisões e o de-sign dos produtos passam apenas por mim.

É mais fácil começar uma actividade destas na Alemanha?A diferente que existe entre Portugal e a Alemanha é que os alemães têm um país com uma cultura industrial muito grande. A importância do papel do designer é des-de há dezenas de anos reconhecida. Aqui é muito fácil trabalhar com os industriais e as empresas estão constantemente abertas a investir em coisas novas e a colaborar com designers. Existem também muitos eventos de design, sente-se que a produção é bas-tante fomentada. A localização geográfica possibilita também a deslocação de desig-

Frame Chair

ners e de gente interessada na disciplina. Por tudo isto penso que na Alemanha as condições para vencer no campo do design são bastante favoráveis, o mercado tam-bém é muito maior, em relação ao mercado português, e isso cria mais oportunidades de negócio.

Em que gamas de produtos apostou?Apostei numa gama de produtos bastan-te variada. A minha finalidade foi mostrar todo o meu potencial com produtos varia-dos com que as pessoas se pudessem iden-tificar. Inicialmente apostei em mobiliário, em cadeiras, sofás, puffs, passando pela ilu-minação e acessórios. As coisas básicas que as pessoas precisam em casa.

Deixa ideias na gaveta para mais à frente apostar nelas?Sim, sem dúvida. Acontece muitas vezes. Por vezes é bom deixar durante um tem-po as ideias a fermentar na gaveta. Iniciar um conceito, depois deixá-lo, e passado um tempo agarrar nele novamente. Isso faz com que tenha tempo para ponderar e ter a certeza absoluta se hei-de avançar ou não com o projecto. Ou também de reciclá--lo, ou seja, de uma antiga ideia surgir algo novo e inesperado que na altura não estava à espera.

Qual é a importância de expor em feiras?Sinceramente penso que expor em feiras é fundamental. Expomos os nossos produtos, temos o contacto directo com o público, e

com os compradores, ouvimos as suas críti-cas e tiramos partido de todas as reacções. O contacto é fundamental. Damos a cara pe-los nossos produtos e transmitirmos aquilo que pretendemos alcançar com as nossas coisas é muito positivo. E o mais importan-te é que nas feiras se criam as condições fa-voráveis ao negócio, onde se fazem as ven-das e se ganham novos clientes e contactos para mais projectos.

Quando destacam a qualidade do seu tra-balho comunica isso ao mercado? De que formas?A melhor forma de comunicar ao mercado a qualidade do meu trabalho é inspirar re-gularmente o público com novos produtos

Camping

e mostrá-los em projectos de interior, mos-trando as características práticas e as pos-sibilidades que cada produto oferece. Mas para comunicar todo o meu trabalho faço uso de todas as plataformas disponíveis na Internet, e imprensa, através dos meus sí-tios, do Facebook, do Twitter etc, o que me permite estar mais próximo do mercado que pretendo alcançar.

Esse reconhecimento tem a importância decisiva, a que possa significar o salto pro-fissional?É evidente que o reconhecimento por parte do público é muito importante para o meu trabalho, pois sem reconhecimento penso que não teria forças para continuar a tra-balhar nesta indústria. Eu vivo muito das reacções que as pessoas me dão, pois são elas que compram e usam os meus produ-tos. Para além do mais, o reconhecimento faz bem ao ego e incentiva a minha criati-vidade. Mas como comecei a carreira faz pouco tempo, não me preocupo muito com grandes saltos profissionais. Já tive muitas propostas de grandes empresas, que que-riam trabalhar comigo, mas não me deixei impressionar pelos nomes. Designers mais experientes do que eu aconselharam-me a seguir caminho. Uma vez que já consegui estabelecer-me como designer, continuarei primeiro a desenvolver trabalho para a mi-nha marca. O salto profissional é toda uma questão de trabalho e de persistência.

Que peso é que tem para si quando decide

arriscar numa gama de produtos?Apostar numa gama de produtos pode ser um investimento arriscado e por vezes um fracasso. Na maioria das vezes tento lan-çar uma gama por etapas, pois nunca sei ao certo se os produtos irão ter sucesso. Depois de os testar junto do público, pen-so então no próximo passo. Eu sou sempre muito cuidadoso neste aspecto.

Em que produtos tem feito mais aposta nos últimos tempos?Ultimamente tenho gostado muito de tra-balhar com iluminação. Penso que nos perí-odos mais próximos será um tema que irei abordar com maior frequência.

É um negócio arriscado ser-se designer por conta própria?Sem dúvida! Todos os negócios por conta própria são arriscados. Posso dizer que tive muita sorte e nem tenho passado muitos dissabores. O que é mesmo preciso é muita disciplina e saber transpor as adversidades normais que podem aparecer num negócio deste tipo. Agir com rapidez e precisão e ser-se firme nas decisões que se tomam.

O retorno financeiro tem sido o esperado?Nunca faço expectativas algumas em ter-mos do retorno financeiro que possa vir a ter. Felizmente, a gestão do dinheiro da minha empresa não sou eu que a faço. O importante mesmo é fazer aquilo que me dá mais prazer e de me sentir realizado. De qualquer forma, retorno financeiro é um

tema subjectivo, mas posso garantir que os saldos nas minhas contas são positivos.

Quais são os valores orientadores do seu trabalho enquanto designer?Enquanto designer tento que os meus pro-dutos sejam genuínos e que transmitam os valores de funcionalidade que defendo. Ori-ginalidade não tem que ser complicada nem fazer uso de materiais high-tech. A inovação consiste em pegar em coisas que a princípio nos são familiares e transformá-las em algo novo e inesperado. Eu oriento-me segundo a minha filosofia de simplicidade. Gosto da geometria básica que me possibilita criar objectos que se enquadram em qualquer ambiente de forma neutra, sem provocar

grandes contrastes com os espaços e onde as pessoas gostem de os colocar.

Que razões definem a escolha dos materiais para os seus produtos?Eu escolho os materiais para os meus pro-dutos de forma emocional. Os materiais que escolho para os projectos têm que ser materiais que eu conheça bem, aos quais eu tenha confiança e que sei que as pessoas se sentem à vontade para usá-los. Outro as-pecto também importante é a manutenção dos materiais que utilizo, ela tem que ser simples, rápida e económica, pois os meus produtos são destinados à hotelaria, res-tauração, espaços públicos e comerciais e também aos espaços domésticos. Os meus

Neon

materiais preferidos, com os quais eu ulti-mamente tenho trabalhado, são a cerâmi-ca e a madeira, por exemplo. São materiais que fazem parte do nosso quotidiano desde há séculos e com os quais as pessoas estão mais que familiarizadas.

Para além do designer vê o seu papel tam-bém como o de um artesão?Sim, vejo o meu papel também como o de um artesão. Apesar de não ser eu a fazer os meus produtos e de encaminhar os meus projectos a empresas competentes, a mi-nha forma de ser designer passa muito por mexer com materiais, de experimentar as formas e de sentir com as próprias mãos. Isso faz naturalmente parte de mim e da minha curiosidade, tal e qual como um ar-tesão.

Basta perceber como se comportam os ma-teriais ou é preciso ir além disso?É claro que perceber como os materiais se comportam é bastante importante mas também é preciso ir mais além explorando detalhadamente todas as suas potenciali-dades. É por isso que a pesquisa e a experi-mentação são tão importantes no trabalho do designer. De certos materiais pensa-se que já estão explorados mas existe sempre a possibilidade de descobrir algo novo.

A pesquisa e o desenvolvimento são apenas bandeiras apregoadas por empresas e de-signers ou são de facto etapas fundamen-tais no trabalho?

A pesquisa e o desenvolvimento, apesar de serem hoje em dia amplamente apregoadas por empresas nas suas campanhas publici-tárias e media, é realmente uma realidade que as marcas e os designers fazem questão de enunciar como produto do seu trabalho. Antes da criação de qualquer produto exis-te todo um trabalho de pré-projecto, que se baseia numa extensa pesquisa. É um pro-cesso que passa por várias etapas como por exemplo identificar novos nichos de mer-cado, novas necessidades, novos materiais, novas tecnologias, novas oportunidades, o desconhecido e aquilo que ainda está por explorar. O desenvolvimento é o resultado e o culminar de todos os pontos anterior-mente enunciados, que dão o valor e a ra-zão de ser dos novos produtos.

Sente muitas vezes que a grande maioria das pessoas não fazem a ideia do que é o design?Depende das gerações a que nos referimos mas acredito que hoje em dia a generalida-de das pessoas tem um conceito mais sóli-do do que é realmente o design. Elas estão também mais informadas e despertadas para este tema, até porque vivemos rodea-dos por ele, mesmo quando apenas adqui-rimos um novo telefone.

Quem é para si hoje um exemplo e uma re-ferência no campo do design?Eu sou uma pessoa muito atenta ao que se passa ao meu redor e as minhas referências no campo do design são bastante variadas.

É-me difícil enumerá-las mas sou fã de todo o design original, que não seja mainstream, que estimule a minha imaginação e que me inspire.

Que novidades podemos esperar da Neo Design? Da Neo Design podem esperar regularmen-te muitas novidades. Para o final do ano, princípio de 2012, estou a contar lançar uma nova colecção de iluminação e alargar a bem sucedida gama Small Light Collec-tion. Estou também a programar para breve o lançamento de uma marca irmã, a Neoe-ditions, à qual vou dedicar atenção especial na criação de acessórios e pequenas pecas de design e tabletop. Mais projectos de in-terior e também colaborações com desig-ners e outras empresas. Muitos projectos!

Small Light Collection

Chemistry

PARA LÁ DA ENVOLTURADESIGN: MICHAEL ANDERSEN

TEXTO: TIAGO KRUSSE

O produto chama-se Kork, foi criado pelo designer industrial Michael Andersen e tem uma função que vai para lá do simples efei-to de envolver o iPad. Estamos perante uma nova proposta de acessório para o produto da Apple, todo ele produzido com matéria--prima e engenho nacional. O molde que dá origem ao Kork foi pensado ao pormenor, tendo em conta comprimento, largura e es-pessura do iPad mas revela sobretudo uma preocupação pormenorizada ao garantir um acesso óptimo aos botões de comando e à existência das aberturas cirúrgicas para todas as portas do aparelho. Há no traba-lho do designer Michael Andersen a ideia clara de que o seu produto jamais poderia

interferir ou retirar qualidades funcionais ao iPad. A leveza e resistência da matéria--prima utilizada complementam os objeti-vos de conforto e de protecção. O iPad fica com um toque mais agradável ao tacto e resguarda-se dos inevitáveis riscos a que o alumínio se encontra sujeito. A característi-ca isolante térmica da matéria-prima é tam-bém uma mais-valia para o utilizador, que poderá funcionar com o aparelho durante longos períodos de tempo sem nunca sen-tir nas mãos o desconforto do aquecimento que é normal no iPad. A envoltura também permite que possamos colocar o aparelho noutro tipo de posições, como por exemplo encostado ao rebordo de uma mesa ou so-

bre um suporte ficando com a garantia que ele não deslizará com tanta facilidade.Referências finais para o facto da cortiça ser natural e reciclada, permitindo depois do fim do uso útil do Kork uma nova reci-clagem. Este trabalho de Michael Andersen está muito para além do mero objecto de-corativo e Kork evidencia de forma intuitiva as suas características sem nunca compro-meter o bom desempenho do iPad.

ILUMINAÇÃO

CLOVER Design de Brodie Neill para a Kundalini. As suas formas orgânicas foram inspira-das num imaginário floral. E intenção de esconder a fonte de luz e fazê-la atraves-sar essas espécies de pétalas foi a de pro-duzir reflexos e brilhos.Clover foi moldado em poliuretano com um acabamento opaco e um reflector em alumínio. O designer australiano a viver em Londres, Brodie Neill, volta a surpre-ender no catálogo desta marca.

HANOI Design de Federico Churba para a Pran-dina. Uma única folha de PMMA dá for-ma a um candeeiro de aparência simples. O seu aspecto tridimensional resulta de um complexo processo de dobragem. A estrutura, em metacrílico, foi moldada a quente. Hanoi é um candeeiro de mesa, disponível em dois tamanhos, que pro-duz uma iluminação difusa.O apelo estético é uma combinação en-tre oriente e ocidente.

ICARO Design de Brian Rasmussen para a Modo Luce. Uma peça produzida em aço, em quatro tamanhos diferentes e com ver-sões para interior e exterior. O produto foi concebido em modo de suspensão ou de candeeiro de mesa.O Icaro de Brian Rasmussen apresenta uma leveza visual apesar do peso da es-trutura, em fios de aço. A parte central do candeeiro pode ser utilizada com uma lâmpada à saliente.

MONEY Design da Tobias Grau. Uma nova rein-terpretação do bom e antigo candeeiro utilizando a tecnologia led. O baixo con-sumo energético e um quase inexistente aquecimento fazem deste peça um ver-dadeiro hino à sustentabilidade, do meio ambiente e dos recursos existentes.A gama apresenta-se nas versões de mesa, de chão e de tecto.Com uma boa difusão de luz, Money se-duz-nos também pela sua elegância.

MR. LIGHT Design de Javier Mariscal para a Nemo--Cassina. É uma presença bem-humora-da para a casa, uma espécie de herói de banda desenhada que nos acena com o seu chapéu metálico. Foi produzido em duas versões, uma de mesa e outra de chão. Por debaixo do chapéu com remi-niscências à Man Ray, Mr. Light apresen-ta o seu globo de luz.A sua forma de um homem cria o espaço para uma simpática companhia.

QUASAR Design de Tobia Scarpa para a Gregoris. É uma peça geométrica, com o corpo cen-tral em alumínio e seis braços. Corpo e braços vêm equipados com 6 ou 12 leds. É um candeeiro que privilegia a raciona-lidade do consumo. Um controlo remoto permite colocar os braços até uma posi-ção de 45 graus relativa ao corpo central. O corpo apresenta-se na versão a preto ou a cinzento. Existe a possibilidade de requisitar cores adicionais.

TWIN Design de Hans Karuga para a Serien Li-ghting. Candeeiro pendular com dois braços articuláveis, que permitem levar a luz a lugares diferentes.Produzido em alumínio cromado e com cabos finos, o candeeiro marca uma pre-sença agradável. A luz, directa ou lateral, é difusa e sai através do abat-jour sem criar qualquer tipo de sombras.A sua estética mecânica acaba por pro-duzir um efeito de harmonia.

WITCH Design de Marco Piva para a Leucos. Pro-duzido em vidro soprado, o produto fas-cina-nos pelos seus contornos e por essa luz vermelha no centro.O arquitecto e designer italiano, Marco Piva, deu a Witch diferentes tipos de aca-bamentos numa gama de versões toda ela marcada por uma forte componente estética. Salientamos também o recurso ao uso de vidro soprado, que recupera uma boa tradição artesanal.

CASA WALWORTHARQUITECTURA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO

TEXTO: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA: RUI GONÇALVES MORENO

A Casa Walworth tem uma localização fantás-tica sobre a cidade do Funchal, na Madeira. O projecto da MSB Arquitectura e Planeamento quis tirar o máximo proveito desta localização privilegiada, encaixando a casa num terreno marcado por um declive acentuado e harmo-nizando-a na sua envolvente natural. Os arqui-tectos Miguel Malaguerra, Susana Jesus e Bru-no Martins conseguiram construir uma casa que causasse o menor impacto visual, quer no sítio como na percepção que temos dela à dis-tância. No lote de terreno, com cerca de 2500 m2, revelam-se esses bons propósitos de uma integração suave, sem sobreposições ao terre-no, uma harmonia das formas e dos volumes, e um equilíbrio entre área construída e jardim.Do primeiro ao terceiro piso, a Casa Walwor-th foi pensada de forma a retirar proveito do terreno, no sentido de resguardar as áreas de

maior privacidade e dotar o segundo piso, o es-paço social da casa, de uma imensa janela aber-ta para a baía do Funchal.Os elementos importantes para o projecto fo-ram a topografia, o campo de golfe – a Norte – e a vista para o Funchal – a Sul. Estas foram as referências mais fortes para imaginar a casa, traçar o seu percurso e implantá-la. Ao nível do desenho, a Casa Walworth teve em conta to-dos os seus aspectos funcionais, que não foram entrave para algum experimentalismo. O grafis-mo do campo de golfe, existente a nascente, foi porventura o ponto de partida para as formas ortogonais da construção. Baseando-se num conjunto de regras construtivas, os arquitectos conseguiram criar uma inequívoca harmonia de proporções.

te entre a casa e o jardim. Mas a relva está também presente na cobertura, é como se fosse o seguimento de um novo buraco do campo de golfe a nascente.No interior da Casa Walworth são as madei-ras, faia e plátano, e a iluminação que dão um sentido de espectáculo a um ambiente tranquilo e inspirador. Os três pisos, com as corridas fachadas em vidro, permitem tirar total proveito das vistas.Em termos de isolamento térmico e acústico foram feitos um projecto que teve em conta a escolha do vidro para os perfis e os espa-ços foram devidamente isolados. Manteve--se assim a tranquilidade num local calmo e sossegado por natureza.

O lote apresenta um declive de 17 metros sobre a estrada e esse facto não demoveu os arquitectos de fugirem à tradicional aber-tura de um buraco com um muro de suporte para enfiar a casa. Para os três arquitectos essa seria uma solução simples e estetica-mente fraca, daí terem partido para um de-safio de construção mais exigente mas com um resultado mais elegante e ao mesmo tempo seguro.O experimentalismo referido está associado às assimetrias da casa e através delas perce-bem-se as engenharias adoptadas, que per-mitiram alcançar uma boa construção.Destaca-se a presença forte do elemento relva, que não só retira o impacto constru-tivo ao local mas também reforça o contras-

REFORMA NA CALHETAARQUITECTURA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO

TEXTO: TIAGO KRUSSE FOTOGRAFIA: MSB ARQUITECTURA E PLANEAMENTO

O atelier MSB Arquitectura e Planeamento

reformou, na Calheta, na Madeira, uma fá-

brica de manteiga e uma padaria desactiva-

das. Os arquitectos Miguel Malaguerra, Su-

sana Jesus e Bruno Martins puderam assim

concretizar um projecto que se enquadra

nos processos pelos quais têm mais afinida-

des, a construção de moradias. Aqui não se

trata de uma construção de raiz pura mas

antes uma reforma e uma nova construção

em dois edifícios, uma fábrica de mantei-

ga e uma padaria, que se encontravam ao

abandono, em avançado estado de degra-

dação e ruína. Falamos de reforma, pois o

atelier criou dois novos programas para os

edifícios, modificando os espaços antigos,

pensados para a produção e as actividades

laborais, em áreas habitacionais.

A reorganização dos edifícios levou em con-

ta o que ainda era possível reabilitar, refor-

çando e reparando estruturas – paredes e

tectos – e sempre com uma preocupação

de preservar o imaginário histórico das an-

tigas fábrica e padaria. Essa preservação é

garantida também pelo local e pelo fidedig-

no respeito às originais áreas de construção.

Em termos de percepção estética é notória

a evolução e a inovação a que os edifícios

foram sujeitos. Na antiga fábrica de man-

teiga, portas, janelas paredes e telhado, re-

cuperam a memória com novas soluções,

que melhoram o apelo estético do edifício.

O facto da pedra das paredes ser deixada à

vista, dá-lhe uma outra elegância. Já a pada-

ria cria um novo contraste, pois trata-se an-

tes de uma nova construção mas limitada às

áreas e aos volumes pré-existentes. A pada-

ria evidencia uma bonita aplicação de chapa

de madeira que, pela cor e a textura, produz

um novo diálogo entre edifícios, novo e re-

formado, e produz o efeito de atenuar um

pouco a percepção de proximidade entre

ambos. O tamanho das suas novas janelas

são maiores o que previamente existia, ga-

nhando a nova casa com mais entrada de luz

natural.

Recompondo um pouco da memória deste

lugar na Calheta, ao nível exterior, os arqui-

tectos puderam então reformar por dentro

a fábrica da manteiga. Aqui, a substituição

do programa interior é marcada pela intro-

dução de uma nova estrutura dentro da ou-

tra já recuperada. É interessante perceber-

mos, nos desenhos do novo projecto para

a fábrica, que as estruturas se complemen-

tam e criam uma espécie de fronteira entre

o antigo, recuperado e reabilitado, e o novo

que entra tal como uma jóia que se guarda

numa caixa.

A fábrica de manteiga dá lugar a um novo

programa composto por dois pisos, manti-

dos à mesma cota. No piso térreo as áreas

foram desenhadas para darem lugar a uma

cozinha, zona de arrumos e uma sala de es-

tar grande. No primeiro piso encontram-se 3

quartos de dormir, com casa de banho

A nova construção no espaço da antiga pa-

daria teve como desígnios preservar a sua

implantação, a sua volumetria e as caracte-

rísticas formais. De padaria transformou-se

numa casa pequena, com dois pisos. O piso

térreo foi pensado para uma sala pequena

e uma cozinha. No primeiro piso o espaço

foi organizado para albergar dois quartos de

dormir e uma casa de banho.

Uma nota final para referir que este pro-

jecto do atelier MSB Arquitectura e Planea-

mento mereceu uma atenção, interesse e o

prémio por parte de entidades nacionais e

estrangeiras, que reconheceram a qualida-

de da obra, quer ao nível do conceito como

ao nível da construção.

O MERCADO DE PEIXE

EM BESIKTAS

ARQUITECTURA: GAD & GOKHAM AVCIOGLUTEXTO: TIAGO KRUSSE

FOTOGRAFIA: GAD

O projecto do mercado de peixe de Besiktas, em Istambul, na Turquia, é uma obra do ate-lier GAD, liderado pelo arquitecto Gokham Avcioglu. O mercado de peixe de Beskitas traduz a vontade popular e política da câma-ra de Istambul em revitalizar alguns bairros da cidade. Em Besiktas vive-se uma atmos-fera muito próxima de uma vila, tendo esta zona de Istambul merecido atenção relativa a trabalhos de preservação e reabilitação

urbana, acções impulsionadas pelo facto da cidade do Bósforo ter sido nomeada Capital Europeia da Cultura no ano passado.O mercado de peixe de Besiktas foi recons-truído no coração comercial do bairro. O an-tigo mercado existente estava em péssimas condições, daí a municipalidade local ter de-cidido por uma nova reconstrução. A venda de peixe fresco em Besiktas representa uma actividade comercial de relevo, assim como

a pesca, daí a importância deste obra para a gentes locais como para os seus visitantes.Os elementos do atelier GAD e o arquitec-to Gokham Avcioglu iniciaram o processo de design do mercado elaborando uma série de manipulações da área triangular do local e da sua superfície. Preencher o local com uma área de construção total de 320 m2 foi um bom ponto de partida para o atelier, no sentido que abria uma boa oportunidade para criar uma estrutura dentro do espírito de bairro e ao mesmo tempo simbólica. Para atingir um sentimento de atracção e uma atmosfera acolhedora ao mercado de peixe, Gokham Avcioglu decidiu por uma estrutu-ra perfurada ao longo da sua periferia. Esta

técnica deu aso a uma concavidade, uma es-pécie de concha porosa. A decisão permitiu uma fluída interacção entre a estrutura e a circulação de pessoas.A construção desta estrutura côncava, em betão e aço, envolve toda a praça e apre-senta-se aberta nos seus lados. Este forma-to concha permitiu libertar o espaço interior do mercado da construção de colunas, opti-mizando assim a área das bancas e da circu-lação de pessoas e mercadorias. O interior do mercado foi dividido em 6 zonas, todas elas ligadas sem quaisquer tipo de barreiras para além das bancadas. Estas bancadas em aço inoxidável foram trabalhadas à mão por peritos locais. No que ao sistema de ilumi-

nação diz respeito, é a tradição que dita a conservação de lâmpadas de 150 watt pen-duradas no tecto, uma forma de iluminar que é comum na grande maioria dos merca-dos de peixe de Istambul.O novo mercado de peixe de Besiktas reve-la o pragmatismo da solução proposta pelo atelier GAD e pelo arquitecto Gokham Av-cioglu, não esquecendo também a abertu-ra de espírito dos responsáveis pelo pelou-ro urbano local. Esta peça de arquitectura transformou-se num sinal de orgulho para uma comunidade ciente da necessidade de melhorar as condições do bairro e da sua vi-zinhança.

PRÉMIO CARLO SCARPA PARA JARDINSTEXTO: TIAGO KRUSSE

O vencedor da 22ª edição do Prémio Carlo

Scarpa para Jardins 2011 foi Taneka Beri, uma

vila na região de Atakora, no Benim. Todos

os anos o centro de pesquisa da Fundação

Benetton promove, com este prémio inter-

nacional, uma campanha para despertar as

atenções para um lugar particular, rico em

valores naturais, históricos e criativos.

O júri do Prémio Scarpa premiou a vila de

Taneka Beri tendo em conta o lugar, a forma

e a vida. A comunidade Tangba é a responsá-

vel pela preservação deste lugar mantendo

as tradições dos conceitos e do que existe. É

uma comunidade com um sentido singular

de tempo e de espaço, que de uma forma

natural soube salvaguardar a memória pela

transmissão de conhecimento. As artes e os

ofícios desenvolvem-se nessa base de tradi-

ções e regista-se uma vizinhança ciente da

partilha de uma propriedade comum, em

que todos se revelam interessados em pre-

servar as suas casas. A comunidade sente-se

perfeitamente integrada no seu ambiente e

conceito natural.

Fotografia de Marco Tamaro

Fotografia de Patrizia Boschiero

Fotografia de Marco Aime

Fotografia de Massimo Venturi Ferriolo

A vila de Taneka Beri localiza-se no noroes-te de Benin, nos montes de Taneka e a sul da cordilheira de Atakora. É um local his-tórico em que os povos da região se cru-zaram e em que encontramos os mantos de água das bacias do Volta, do Niger e do Quémé, rio que atravessa o país de norte a sul indo desaguar no golfo da Guiné. O lugar faz parte de um grupo de vilas cujas origens datam do século XVIII, uma época em que elas serviam de refúgio aos escravos foragidos do sul. O nome da re-gião oscila entre o histórico Seserhà – ca-sas sobrepostas – e mais recente pela ter-minologia Taneka Beri – grande taneka –. É uma região dividida em quatro partes designadas Satyekà, Tyaklerò, Galorhà e

Fotografia de Luigi Latini

Fotografia de Marco Aime

Fotografia de Patrizia Boschiero

Fotografia de Marco Tamaro

Fotografia de Patrizia Boschiero

Pendoulou, cada parte habitada por núcleos familiares numerosos.O antropologista italiano Marco Aime fez uma recente excursão a Taneka Beri levan-do consigo um grupo de arquitectos paisa-gistas, que procurou recolher impressões e pistas que pudessem originar uma interpre-tação daquele lugar. No final da visita ficou claro para todos que aquele lugar tão distan-te e genuinamente preservado suscita um infindável conjunto de questões ao nosso conceito de cultura e à nossa mentalidade.O propósito do Prémio Carlo Scarpa é o de

aumentar a percepção e a prática no acom-panhamento da paisagem. O prémio foi concebido como um instrumento oportuno de chegar a um público mais amplo do que a comunidade de peritos na matéria. Através da observação e da divulgação são interiori-zados novos valores intelectuais e manuais, necessários para dar resposta aos requisitos específicos e particulares de cada lugar. O acompanhamento da paisagem pressupõe a identificação de uma paisagem específica e o levantamento das características des-se lugar. Para se compreender a verdadeira

Fotografia de Marco Aime

extensão do lugar e dos seus valores, é funda-mental uma abordagem criativa mas bastante sensível na aplicação de métodos rotineiros de observação, levantamento de dados e conclu-sões. O método consiste em pôr de lado os as-pectos efémeros e superficiais focando-se na medição do sucesso baseado na tradição natu-ral e na troca de experiências culturais vividas. Procura exemplos de equilíbrio entre conserva-ção e inovação aceitando a constante mudança de gostos e o papel de natureza e da história, que podem divergir de forma radical de um pe-ríodo civilizacional para o outro.Proteger e divulgar o lugar são objectivos fun-damentais deste prémio cujo nome presta ho-menagem a Carlo Scarpa (1906-1978), designer de jardins.

Fotografia de Luigi Latini

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grafi

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Fotografia de Marco Tamaro

Fotografia de Luigi Latini

JOGO DE ESPELHOSARQUITECTURA PAISAGISTA: PISO TERREO

TEXTO: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA E GRAVURA: PISO TERREO

As arquitectas paisagistas Marta Malheiro

e Francisca Figueira constituem a equipa da

Piso Terreo, que criou o projecto “Memórias

da Floresta” para a participação na 7ª edição

do Festival Internacional de Jardins de Ponte

de Lima. Com uma ideia simples, as arquitec-

tas pretenderam dar uma dimensão ao ter-

mo memória e através dele partir para uma

reflexão séria, colectiva e individual, sobre

a floresta. A ideia é percorrermos um cami-

nho designado e durante esse passeio irmos

percebendo as texturas ali presentes, o ciclo

da natureza e até mesmo a intervenção do

Homem. No final da passadeira somos con-

vidados a sentar num banco defronte para

um enorme espelho. Aí começa um jogo

de espelhos, um confronto entre o reflexo

do jardim e as lembranças que cada um de

nós guarda de uma floresta. Mas parece-nos

que o termo memória, utilizado no projec-

to de Marta Malheiro e Francisca Figueira,

remete para essa capacidade que o Homem

tem de conservar e reproduzir ideias e co-

nhecimentos previamente assimilados. Se já

temos definido e identificado os elementos

que compõem uma floresta, não será então

muito difícil agir de forma a respeitarmos a

conservação da mesma. E aquele espelho

no jardim, que nos permite observar e ter

diferentes perspectivas do que nos rodeia,

de pouco serviria se não nos sentássemos

no banco em frente dele e aí tivéssemos a

capacidade de desfrutar livremente o que a

instalação nos propõe no seu todo.

Para concluir, uma referência para o Festival

Internacional de Jardins de Ponte de Lima

que apresenta uma boa dinâmica como

evento, conseguindo atrair profissionais na-

cionais e estrangeiros sensibilizando o gran-

de público para as temáticas ligadas ao meio

ambiente.

www.pisoterreo.com

EM ROMAARQUITECTURA: ALVISI KIRIMOTO + PARTNERS

TEXTO: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA: ANNA GALANTE

A Casa-O é o resultado de um projecto de renovação levado a cabo pela Alvisi Kirimo-to + Partners, num apartamento localizado em Roma e com uma área de 150 m2. O es-paço encontrado apresentava uma tipologia típica do estilo de construção italiano dos anos 70. Todos os aspectos do antigo apar-tamento foram revistos e redefinidos para criarem o ambiente ideal para uma família com duas crianças pequenas. A reforma do apartamento esteve nas mãos de uma equi-

pa inteiramente feminina da Alvisi Kirimo-to + Partners, composta pelas arquitectas Junko Kirimoto, Arabella Rocca, Chiara Qua-draccia e Carolina Ossandon, que explorou o seu instinto feminino e a sua experiência, de forma a interpretar os requisitos e as neces-sidades de todos os elementos da família.O elemento principal desta reforma de in-teriores é uma clara divisão entre as áreas de dormir e de convívio. O soalho em car-valho branqueado expande-se por todo o

apartamento harmonizando com as paredes brancas, os tectos suspensos e a maioria do mobiliário, cuja grande parte foi trabalhado à mão – pela equipa de arquitectos –, e con-ceptualizado para cada lugar específico da casa. O resultado traduz um conceito visual de continuidade e harmonioso para as duas áreas divididas.A área de convívio desenvolve-se em torno de um paralelepípedo estruturado em cor-ten, tornando-se o elemento principal na casa através das nuances do seu impacto vi-

sual pelos dois ambientes que o envolvem. O paralelepípedo tem cinco metros de com-primento por metro e meio de largura. O lado voltado para a sala de estar apresenta um nicho forrado a vidro pintado a branco cortando a extremidade que contorna o en-fiamento da parede para a sala de jantar e revelando o que tem dentro. A asa do para-lelepípedo que se volta para a sala de jantar incorpora zona de arrumos. O lado voltado para a cozinha volta a revelar o visual bran-co do paralelepípedo. O quarto e último

Destaque para os puxadores de portas em corten, design da Alvisi Kirimoto + Partners, e para o volume do paralelepípedo que alberga a casa de banho para os convidados, com parede e chão revestidos a Corian, da Dupont, assim como o lavabo produzido em Corian.

lado desta estrutura dá para o hall e integra a casa de banho para as visitas.A presença do corten é também ela visível por todo o apartamento, nos puxadores de porta quadrados, design da Alvisi Kirimoto + Partners.A área de convívio é dominada pela espaço-sa sala de estar, na qual foram produzidos nichos e prateleiras nas paredes assim como estantes de livros suspensas. As linhas só-brias e a leveza destes elementos reforçam ainda mais a luminosidade presente. A sala

de estar faz ligação directa para a sala de jan-tar, equipada por uma grande mesa e rode-ada por três bancos corridos em suspensão. Esta ala, têm uma atmosfera ligeiramente nipónica e apresenta um grande aparador, também ele suspenso à mesma altura dos bancos corridos.Portas de correr com painéis de vidro opaco abrem o caminho para a cozinha, concebi-da como um volume branco mesmo ao lado do paralelepípedo em corten. A cozinha tem uma disposição na forma l e integra um con-

junto de armários altos.A área de dormir dispõe de um quarto prin-cipal e de dois quartos para as crianças, aos quais se juntam uma divisão para vestiário com arrumo para sapatos e lavandaria. O es-paço é marcado por uma sequência de por-tas brancas, em madeira branca lacada.A casa de banho para as crianças é marca-da por um contraste entre tons, chocolate e branco. Destaca-se a presença de uma estru-tura produzida em Corian, da Dupont, que produz um desenho vertical que se expande do tecto pelas paredes tornando-se numa

prateleira, lavabo e banheira. Um espelho de grandes dimensões cobre uma das pare-des chegando a entrar na área da banheira. A escolha dos sanitários e outros acessórios apresentam uma semelhante fluidez de for-mas.A casa de banho do quarto principal está-lhe directamente ligada. As paredes foram co-bertas por kerlite branca em contraste com o mármore preto africano que desenha o chuveiro e o lavabo.

APARTAMENTO PALMAARQUITECTURA: PEDRA SILVA ARQUITECTOS

TEXTO: TIAGO KRUSSEFOTOGRAFIA: JOÃO MORGADO

A reforma do apartamento Palma é um pro-jecto de 2011 do atelier Pedra Silva Arquitec-tos. O apartamento, localizado em Lisboa, tem uma área de 160 m2 e apresentava uma tipologia típica dos anos 80. Tal como os edifícios pombalinos, o apartamento apre-sentava uma divisão muito rígida nas suas diferentes áreas de habitação. À entrada, na planta original, o hall era o princípio para uma sequência de divisões separadas, com fronteiras muito bem delimitadas entre o que eram áreas sociais, privadas e de ser-viços. Cada espaço ia funcionando no seu conceito estipulado, autónomo, separado de uma lógica de convivência e designando que as tarefas diárias estivessem como que

fragmentadas pela casa.A nova proposta de reforma no programa do Apartamento Palma revela uma fluidez do espaço, que o afasta na totalidade da pesada formalidade existente. O objectivo foi tornar todo o espaço numa imensa área de convívio e salvaguardando a privacidade de cada área quando assim desejada. É um novo programa, que funciona a partir de uma grande e central área social tornando o espaço habitacional adequado aos hábi-tos de um espírito de viver a casa que é as-sumidamente mais aberto, livre. A casa foi reestruturada de uma ponta à ou-tra, da cozinha até a um recanto de estar criou-se uma área que congrega as zonas de serviço, social e a entrada do apartamento.

É uma nova dimensão de espaço, que atra-vés das suas paredes deslizantes permi-te ajustar a composição da casa, nas suas áreas sociais e privadas, de acordo com o desejo de quem nela habita. Centraliza-se o coração da casa e permite-se que se abram ou se fechem enfiamentos entre cada uma das áreas que constituem este centro. Em contraponto, a área dos quartos foi manti-da num espírito comum de privacidade res-guardando-a das restantes divisões.O trabalho do atelier Pedra Silva Arquitec-tos foi ao encontro de um ritmo de vida doméstico pautado por uma exigência de liberdade de movimentos e de uma flexibi-lidade espacial consoante diferentes inten-sidades quotidianas.

Em 1945, os industriais Marcel Bich e Edou-ard Buffard fundaram a sociedade PPA (por-te-plumes, portes-mines & accessoires), com o objectivo de fabricar canetas de tinta permanente e componentes para lapiseira na cidade de Clichy, França, iniciando com isso uma das mais notáveis e lucrativas das empresas mundiais do pós-guerra. 65 anos depois, a maioria das acções do grupo em-presarial estão ainda nas mãos dos seus fa-miliares: os Bich têm 40% da empresa; os Buffard têm 4,5% (valores arredondados).Marcel Bich nascera em Turim em 1914, em-bora a família fosse oriunda de Aosta – um dos mais curiosos mosaicos da realidade re-gional que Garibaldi unificou no século XIX, e que hoje conhecemos como Itália.Na região do Vale de Aosta, predominava historicamente um dialecto local de raiz franco-provençal (o “patois” Valdôitan) que ainda hoje é falado. O bisavô do criador da PPA, Emmanuel Bich, ocupara mesmo o cargo de «síndico» (um cargo administrati-vo) de Aosta – motivo pelo qual o Duque da Sardenha lhe concedera o título de «ba-rão», pelo qual o seu bisneto industrial será por vezes tratado. De Aosta, historicamen-

te, dava-se emigração para França, e em es-pecial para a região de Paris. 5 anos depois da criação da empresa PPA, Bich e Buffard lançam no mercado o artigo que irá imortalizar a sua empresa: a esfero-gráfica «Cristal». Em 1953, a PPA assume o nome BIC, marca entretanto registada por perda da letra H do apelido do «barão» Bich - um excelente nome comercial, pronunciá-vel em qualquer língua do Mundo.

A BIC CRISTALTEXTO: JOSÉ LUÍS DE SALDANHA

«The rib-edged cylinder of brittle transparent plastic, the curved pen top (always the same colour as the ink) with the clip that adorns shirt pockets and clipboards, the little curved stop-per on the end of the pen that inevitably succumbs to the ravages of bit and chewing: these traits are recognizable worldwide». (1)

A intuição para o negócio, e a persistência na investigação científica, fazem-se acom-panhar de um gosto vincado na divulgação da marca: quantos não recordam os anún-cios televisivos de recorte impecável de um abstraccionismo mecânicos e seco?!:- Bic laranja da escrita fina,- Bic cristal da escrita normal,- Bic, Bic, Bic,- Bic, Bic, Bic. A empresa de Marcel Bich investira durante anos na investigação em tintas que se ade-quassem às cargas das esferográficas que desejavam comercializar: havia que encon-trar a viscosidade adequada, de forma que a tinta «escorresse» da carga para a ponta metálica sem borrar o papel. Manda a verdade histórica que se esclare-ça que a invenção da esferográfica não é da BIC. Trata-se de uma criação do judeu hún-garo Laszló Biró. Nascido em Budapeste em 1899, deprofissão jornalista, apresentou a caneta es-ferográfica que desenvolvera com o irmão Georg após vários anos de aturadas investi-gações, na feira industrial dessa cidade, em 1931. Em ’38, patenteou o invento em Paris, para onde emigrara em fuga às leis anti-ju-daicas da Hungria. Em 1943, mudou-se para Buenos Aires (onde viria a morrer em 1985) juntamente com o irmão, tendo patentea-do a invenção da caneta de ponta metálica em esfera nessa cidade no dia 10 de Junho desse ano.Na Argentina produz esferográficas sob o nome comercial «Birome», que prenun-ciam o futuro arquetípico das criações de Bich e Buffard no plano internacional: «bi-

rome» é a marca comercial da caneta que Biró lança no mercado argentino, e esse é o nome que nesse país é dado à esferográfi-ca (qualquer que seja o fabricante). No vizi-nho Brasil, curiosamente, a universalização de expressões comerciais é ainda mais lata: xerox passa a designar, no «país irmão», qualquer cópia de um artigo. Não é invulgar que alguém faça um xerox de uma chave de porta…A PPA de Bich e Buffard toma conhecimen-to da invenção de Biró, e adquire a patente em 1950. Sobra ao argentino naturalizado a glória no país das Pampas, e sem dúvida uma fortuna confortável – ainda que muito aquém das somas astronómicas com que Bich e Buffard se verão envolvidos. Em todo o caso, o dia 29 de Setembro é consagrado a Biró na Argentina: o seu dia de anos é es-colhido como o «dia do inventor». Para além do sentido de oportunidade, a Bic tem também outros méritos: desenvolve o processo industrial de produção que per-mite baixar os custos consideravelmente. Assim, quatro anos depois da entrada em produção da Bic-Cristal, a marca internacio-naliza-se, com entrada no mercado italiano. 1956 vê-a entrar no Brasil. Em 1958, a Bic adquire a célebre «Waterman» americana, num prelúdio de aquisições sucessivas que ao longo dos anos acrescentam produtos e marcas ao portefólio do grupo empresa-rial, e de que avultam, a título exemplifica-tivo, os lápis «Conté» (em 1979); as canetas (igualmente americanas) «Sheaffer», em 1997; ou a marca alemã de tinta correctora «Tip-Ex» no mesmo ano (em ’92 já haviam comprado a americana «Wite-Out»).

No que se refere às esferográficas, que de momento são aquilo que nos interessa, há que referir que o brilhante logótipo surge logo no ano de lançamento da «Cristal» . O «designer» Raymond Savignac, contratado pela empresa em 1952, irá criar a figura do rapazinho de escola «estilizado» de cabeça de ponta metálica incluído numa campanha publicitária de 1961, que no ano seguinte será somado ao logo da Bic – aliança com a qual a empresa se acha pronta para a con-quista do mundo. Em 1961 dá-se a alteração da ponta esférica de 1 milímetro da «Cris-tal» em aço, para o uso do tungsténio. Em 1970, já vendem 6 milhões de unidades/dia no Mundo inteiro. Em 1991 – ano do 40º aniversário da caneta - a Bic havia já vendido 60.000 milhões de canetas de «Cristal»!!! Esta peça notável de «design» acha-se também consagrada no mundo das Artes desde 2005: ano em que tanto o MOMA de Nova Iorque como o Mu-seu Nacional de Arte Moderna/Centro Ge-orges Pompidou apresentam no seu acervo expositivo a singela canetinha transparente da Bic, que o fabricante anuncia em plena realidade «comunitária»: 3 km de escrita por 1,50€!Falta assinalar que a «Cristal» evidente-mente figura na enciclopédia «Phaidon De-sign Classics» - compilação em 3 volumes de 2006 (ela mesma, um clássico) onde se elencam as 999 obras mais notáveis do De-sign mundial. A esferográfica da Bic leva o número 380 (que se organizam por ordem cronológica, e não por critério qualitativo).Porém, aquilo que verdadeiramente no-tabiliza a produção da marca francesa é a

natureza arquetípica1 da caneta Bic. A om-nipresença da esferográfica no nosso quo-tidiano eleva-a, por banalização e abun-dância, a peça quase invisível aos olhos: tal como o Volkswagen Carocha, o Morris Mini, o ar que respiramos, o «God Save The King» (que há mais de meio século se conjuga no feminino) ou a supermodelo Claudia Schi-ffer, torna-se virtualmente impossível en-contrar quem goste, ou desgoste, da caneta Bic. Ela não é bonita nem feia: ela simples-mente É.Por outro lado, deve realçar-se o forte sim-bolismo que, no período do pós-guerra, re-veste a caneta: é a primeira do tipo descar-tável. Contrariamente à tradição no mundo das canetas, a sua vida termina inexoravel-mente no caixote do lixo. Uma caneta Bic é igual a outra, e o seu preço irrisório ajuda a sublinhar o sentido arquetípico. Perdê-la não custa, porque rapidamente a recupera-mos na loja da esquina. Afinal, a definição que nos é dada pela Porto Editora é incom-pleta, porque omite o facto de que «as coi-sas concretas são cópias» - mas sem dizer que elas o são de modo imperfeito, já que a sua matriz se acha fora do mundo real. No caso da Cristal isso não sucede porque «a Bic» como objecto «não existe»: o que identificamos é o arquétipo. A presença cristalina também não deixa de lhe conferir um ar de varinha-de-condão…Em 1972, a Societé Bic passa a ser cotada na Bolsa de Paris, para no ano seguinte con-seguir o impensável: repete a proeza no domínio dos arquétipos e lança o isqueiro descartável. «O Isqueiro Bic»!!! O assunto mereceu um estudo pelo menos

tão aturado quanto aquele que conduziu à produção maciça de esferográficas. A ênfa-se, desta feita, incidiu na segurança do ob-jecto. O que não surpreende: um isqueiro é uma pequena bomba de combustível. A via escolhida pela «Societé Bic» foi lúcida. Comprou um fabricante de isqueiros fran-cês (a «Flaminaire»), cuja equipa de Design tomou a responsabilidade de desenvolver o objecto.O desenho do isqueiro Bic segue os pre-ceitos parcimoniosos da sua irmã escrevi-nhadora: preço irrisório, materiais residu-ais, apresentação minimalista. O resultado, como anteriormente, resulta numa peça cuja perda só custa quando por perto não temos outra fonte de lume. Quem pode ar-rogar-se a clarividência de sentenciar quan-to à beleza do objecto?!... «O» Bic leva o número 766 na relação da Phaidon.Curiosamente, o isqueiro Bic segue as pisa-das da «Cristal» noutro aspecto: também aqui, não foi o clã Bich ou seus associados a inventar o conceito do isqueiro descartá-vel. Essa façanha coube a Jean Inglessi, em 1948. Um homem, também, de talentos: é nada menos que o inventor da bilha de gás doméstica – em 1934. Mais: em 1962, a também francesa «Cricket» já havia ini-ciado a produção e comercialização de is-queiros descartáveis – mas não conseguiu com qualquer dos seus artigos (o «Cricket Maxi Lighter» é o nº 792 da Phaidon) igua-lar a história de sucesso «do» Bic. No ano imediato ao seu lançamento, a Bic já vendia 290.000 isqueiros por dia. O historial da empresa francesa acha-se portanto repleto de façanhas. 1975 vê a che-

gada da lâmina-de-barbear da Bic, que não chega aos parâmetros da enciclopédia da Phaidon (sendo verdade que a única lâmina que figura nessa relação é a Gillette Trac-2, que só tem a «cabeça» descartável: (2). Além da linha de pequenos barcos de re-creio (com ou sem vela) que a Bic também produz, em 2008 é a vez dos telemóveis de marca Bic, desenvolvidos em parceria com a Orange e a Alcatel – mas contrariamente aos dados iniciais, o telefone não é verda-deiramente descartável, pois pode ser re-carregado. Nem todos os desenvolvimentos da Bic foram porém igualmente bem-suce-didos: fizeram por exemplo uma incursão muito mal sucedida no mundo dos perfu-mes em 1988, ao qual nunca regressarão…

Notas

Sara Manuelli para Phaidon Design Classics. Volu-

me 2. 2006.

2 Arquétipo – s.m. 1. Modelo, protótipo, paradig-

ma; 2. FILOSOFIA (Platão) tipo ideal e supremo de

que as coisas concretas são cópias […] Dicionário

da Lingua Portuguesa. Porto Editora, 2004.

Archetypum, ī – n. arquétipo, original, modelo.

Archetypus, a, um – adj. original, primitivo. Di-

cionário Latim-Português/Português-Latim. Porto

Editora, 2000.

3 Phaidon Design Classics. Volume 3. 2006. Artigo

741.

RITA PEREIRA, designerCom que idade começou a trabalhar?Aos 23 anos, quando acabei o curso.

Qual é a diferença entre um bom e um mau design?O bom design numa peça, seja de produto ou gráfica, reúne uma série de característi-cas que fazem com que a peça seja fácil de usar por parte do utilizador, fácil de gostar, e comunique de forma eficaz. Ser sustentá-vel também é muito importante. Mau de-sign é o oposto, mas esta resposta poderia ser muito mais longa, porque é um tema discutível e difícil de resumir.

Que inovações em design nacional destaca desta primeira década do século XXI?Gosto muito das peças do designer Rui Al-ves, que foram distinguidas no Festival In-ternacional de Design de Berlim 2010, e também dos projectos em cortiça que têm surgido, a Corque Design tem bons exem-plos. Tenho que mencionar o Colectivo Dra-ma, que está agora a começar - é importan-te divulgar os projectos nacionais que têm coragem de sair da casca, principalmente com as dificuldades económicas que o país atravessa.

Qual é o defeito da comunicação em Portu-gal?Pode haver em Portugal problemas de co-municação, mas cada vez mais há platafor-mas livres e disponíveis para quem melhor as souber aproveitar.

Sente-se tratada de forma diferente por ser uma designer?Não. Temos que saber conquistar o nosso espaço e respeitar o espaço dos outros, e tudo corre bem.

Com que projectos gráficos editoriais, na-cionais ou estrangeiros, mais se identifica?O Jornal i, que tem vindo a ganhar conse-cutivos prémios e distinções a nível nacio-nal e internacional (e que tem uma equipa magnífica com quem tive o privilégio de trabalhar), e a revista Edit, que é um pro-jecto nacional cheio de sangue na guelra e com quem estou actualmente a colaborar. Quando participamos nos projectos identi-ficamo-nos mais com eles porque fazemos parte deles. Também adoro a revista Egoís-ta, a Zoot... há tantas!

Quais são os seus ícones de design?Não tenho. Neste momento a informação chega-nos de forma tão contínua que é fácil encontrar surpresas também em designers anónimos.

As massas percebem de facto para que ser-ve o design?Penso que sim, mesmo que não seja uma percepção directa - se uma coisa não esti-ver bem concebida, as pessoas desistem de a utilizar, e sem se aperceberem trocam ideias em relação ao design dos objectos que utilizam no dia a dia.

Sim. Principalmente no início da carreira profissional, quando saí da faculdade. Faz parte, porque é difícil encontrar trabalhos, mas temos que ser pro-activos e dar a volta por cima.

Se pudesse fazer regressar alguns valores perdidos, quais é que seriam?Estas perguntas são difíceis. Acho que os valores não estão todos perdidos, felizmen-te, mas se houver alguém que deixa o valor da amizade para trás, que se lembre de a resgatar. É importante ter amigos.

Que julgamento faz da DESIGN MAGAZINE?Acho muito positivo que haja projectos na-cionais deste tipo, fazem falta referências em português, principalmente para pro-mover os nossos designers, arquitectos e artistas. Há ainda muito trabalho por fazer, muitos designers escondidos por divulgar, e estas bases online são óptimas rampas de lançamento e são muito boas para trocar ideias novas. Desejo boa sorte e agradeço muito a oportunidade de participar.

Quantas vezes pensou que tinha capacida-de para fazer um trabalho melhor do que alguns que foram feitos por putativas cele-bridades da sua área?Tenho mais tendência para reparar nas coi-sas muito bem feitas e pensar: “Uau, quem me dera ter feito aquilo.”

Como é que gosta que o seu trabalho im-pressione?É uma sensação muito boa ter um trabalho reconhecido por terceiros, às vezes o mais difícil é impressionarmo-nos a nós próprios.

O que não abdica para iniciar um trabalho?De concentração e uma ideia boa.

Dão-lhe o tempo que necessita para produ-zir?Às vezes mais, outras menos, temos que nos adaptar, mas regra geral tenho tempo.

Sente que o que faz é efémero?Sim. Cada vez mais. O consumo é rápido e as coisas esgotam-se. Estão sempre a apa-recer novidades, mas às vezes o que é mui-to bom volta. Não estou a falar do meu tra-balho, mas de grande ideias.

Os locais de trabalho são bons?Já trabalhei em vários sítios diferentes, uns melhores, outros menos bons, nenhum sem condições.

Alguma vez sentiu que é subaproveitada?

http://cargocollective.com/ritapereira Ilustração de Rita Pereira