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EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE1
1- Definição de pH
Os possíveis valores da concentração de H+ e OH-, em uma solução aquosa, podem
ser de várias ordens de magnitude, variando de cerca de 101,3 a 10-15,3. Assim sendo, é
conveniente representá-los em uma escala logarítmica, reduzida e de mais fácil manuseio. Por
convenção é utilizada a escala pH para representar a concentração de íons hidrogênio.
Esta notação foi delineada pelo químico sueco Sørensen em 1909. O “p” usado em
pH, pOH, pKw etc. originou da palavra alemã Potenz a qual significa força no sentido de
expoente.
pH = - log [H+]
ou
[H+] = 10-pH
Também podem ser definidos:
pOH = -log [OH-]
[OH-] = 10-pOH
e
pKw = -log Kw
onde Kw é o produto iônico da água na reação:
H2 (l) + H O(l) ß H O (aq) -
2 ß H + OH
1 Arquimedes Lavorenti. Professor Associado do Depto. de Ciências Exatas, ESALQ/USP, Caixa Postal 9, 13418-900 – Piracicaba – SP. E-mail: alavoren@carpa.ciagri.usp.br – Publicação Destinada ao Ensino de Ciências - Química - 28/3/2002
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Esta reação é chamada de autoionização ou dissociação da água. As concentrações de + -
express
+ - c ------------------
[H O]
Na água pura a 25 C, [H O (
em cada mol = 1000/18 = 55,5 mols L 1
c 2+ -
c+ -
w
K é a c o - . Como [H ] = - + - = [OH ] a 25 C.
Através do produto iônico da água, [H ] [OH ] = 1,00 x 10 14 o
obtêm se:
pH + pOH = pK = 14 ( e o
-
solução aquosa, a concentração dos íons presentes no meio é igual a molaridad
figura abaixo representa de uma maneira esquemática o que acontece com um ácido forte em
-
solução em equilíbrio, calcula se o seu pH ou pOH, pelas
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Por exemplo: Uma solução aquosa 0,10 M de um ácido forte, ácido nítrico, HNO3,
[H+] = 0,10 M e [NO3-] = 0,10 M; a concentração de HNO3 é virtualmente zero. O pH desta
solução é: pH = - log [H+] = - log (0,10) = 1.
2.2. Ácidos e bases fracas
Em uma solução aquosa de ácidos e bases fracas existe o equilíbrio entre íons e
espécies químicas dos ácidos ou bases. Representado por HA um ácido fraco tem-se a seguinte
equação de ionização, com sua constante de dissociação ou ionização:
HA + H2O ßà H3O
+ + A-
[H3O+] [A-]
Ka = -------------------- [HA]
onde: Ka = constante de ionização do ácido fraco;
[A-] = concentração molar de íons A- presente no equilíbrio;
[H3O+] = concentração molar de íons H3O
+ presente no equilíbrio;
[HA] = concentração molar de ácido fraco não dissociado presente no equilíbrio.
HA
Antes da dissociação
H+ A-
Após a dissociação, no “equilíbrio”
Dissociação de um ácido forte
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De modo semelhante ao que foi feito com o ácido forte, também pode ser feito uma
representação esquemática da dissociação de um ácido fraco, como na figura abaixo.
Deve ser destacado que o estado “antes da dissociação” nunca existe realmente em
solução, porque a solução está sempre em equilíbrio. O lado esquerdo é apenas teórico.
Quanto menor o valor para a constante de equilíbrio Ka de um ácido, mais fraco é este
ácido. E o recíproco é verdadeiro, apenas em termos relativos.
Também não se deve confundir um ácido fraco com um ácido diluído. Um ácido
fraco tem um valor de Ka pequeno e um ácido diluído tem uma concentração baixa. É possível
termos ácidos forte diluídos ou um ácido fraco concentrado.
Considerando a seguinte reação geral de dissociação de um ácido fraco em solução
aquosa:
HA + H2O ßà H3O+ + A-
Chamando de Ca a concentração molar do ácido fraco inicialmente dissolvido na
solução e de Ci o número de mols L-1 que posteriormente se ioniza e dissocia, define-se grau de
ionização (αα) do ácido fraco a relação entre a concentração molar que sofreu ionização (Ci) e a
Antes da dissociaçãoApós a dissociação, no equilíbrio
Dissociação de um ácido fraco
HA
H+ A-
HAAA
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concentração molar inicialmente dissolvida (Ca), isto é, o número de mols L-1 que se ioniza por
mol L-1 dissolvido.
Ci α = ---------
Ca
No equilíbrio:
[HA] = Ca – Ci
[H3O+] = Ci
[A-] = Ci
Substituindo essas concentrações na equação de ionização do ácido fraco, a expressão
da constante de ionização do ácido fraco fica:
[H3O+] [A-] Ci Ci Ci
2 Ka = ------------------ = ------------ = ------------ [HA] Ca – Ci Ca - Ci
Sabendo-se que:
Ci α = --------- Ca
então, Ci = Ca α
Portanto:
(Ca α)2 Ca2 α2 Ca α2
Ka = --------------- = --------------- = ----------- Ca – Ca α Ca (1 - α) 1- α
Ca α2 = Ka (1- α) = Ka - Ka α
Ca α2 + Ka α - Ka = 0
- Ka + √(Ka2 + 4KaCa)
α = --------------------------------- 2 Ca
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Obs.: Nesta expressão, o sinal negativo na raiz não é usado porque, neste caso, o
resultado final seria sempre negativo, o que é um absurdo pois não existe grau de ionização
negativo.
Quando a ionização for pequena, isto é, α ≤ 5% ou ≤ 0,05, a diferença 1 - α é
considerada praticamente 1. Assim a expressão da constante de equilíbrio (Ka) fica:
Ka = Ca α2
então,
α2 = Ka/Ca
e
α = √Ka/Ca
Obs.: Tudo o que foi visto para uma ácido fraco é válido de maneira semelhante para
uma base fraca. Basta substituir Ka por Kb e Ca por Cb nas fórmulas anteriores.
O grau de ionização de ácidos e bases fracas aumenta com a diluição. Isto significa
que quanto mais concentrada for a solução, mais o equilíbrio se desloca para a esquerda e, quanto
mais diluído mais o equilíbrio se desloca para a direita (“Lei da diluição de Ostwald”).
HA + H2O ßà H3O+ + A-
ou
B + H2O ßà BH+ + OH-
Considere novamente o equilíbrio de ionização do ácido fraco HA:
HA + H2O ßà H3O+ + A-
Ácido 1 Base 2 Ácido 2 Base 1
De acordo com o conceito de Brönsted-Lowry, existem os seguintes pares
conjugados: par no 1: HA e A-
par no 2: H2O e H3O+
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A constante de ionização do ácido HA é dada pela expressão:
[H3O+] [A-]
Ka = ----------------- [HA]
A constante de ionização da base A-, conjugada do ácido HA é obtida do equilíbrio:
A- + H2O ßà HA + OH-
[HA] [OH-] Kb = ----------------- [A-]
Multiplicando entre si as constantes de ionização do ácido e de sua base conjugada:
[H3O+] [A-] [HA] [OH-]
Ka Kb = ----------------- ----------------- = [H3O+] [OH-] = Kw
[HA] [A-]
Assim sendo,
KaKb = Kw = 10-14 (25oC)
Invertendo e aplicando logaritmo: 1 1 1 1 log ----- + log ----- = log ----- = log ----- Ka Kb Kw 10-14
pKa + pKb = pKw = 14 (25oC)
2.2.1. Ácidos monopróticos e bases monoácidas:
Ácidos monopróticos são aqueles que doam apenas um próton. Bases monoácidas são
aquelas que recebem apenas um próton.
Considere o equilíbrio de uma solução aquosa de um ácido fraco monoprótico HA:
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HA + H2O ßà H3O+ + A-
[H3O
+] [A-] Ka = ----------------- [HA]
Chamando-se de Ca a concentração molar do ácido inicialmente dissolvido e de x o
número de mols L-1 que posteriormente se ionizam, tem-se no equilíbrio:
HA + H2O ßà H3O+ + A-
Ca – x x x
Substituindo na equação da constante de ionização do ácido:
x x x2 Ka = ----------- = ----------- Ca - x Ca - x
x2 = Ka (Ca – x) = Ka Ca - Ka x
x2 + Ka x - Ka Ca = 0
Como x = [H3O+] [H3O+]2 + Ka [H3O+] - Ka Ca = 0
- Ka + √(Ka2 + 4KaCa)
[H3O+] = --------------------------------
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Uma vez calculada a [H3O+], o pH é calculado pela expressão de sua definição, isto é,
pH = - log [H3O+].
No caso do grau de ionização do ácido ser menor que 5%, pode-se simplificar a
equação da constante de ionização no denominador, considerando-se Ca – x = Ca; assim a
equação de Ka fica:
x2 Ka = ------ à x2 = Ka Ca à [H3O+]2 = Ka Ca Ca
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[H3O
+] = √KaCa
Essa expressão simplificada pode ser colocada diretamente na forma de pH,
invertendo e aplicando logaritmo:
1 1 1 log ----------- = ------ + ------ [H3O+]2 Ka Ca
2 pH = pKa + pCa
pH = ½ (pKa + pCa)
Para as bases monoácidas o procedimento é idêntico; as expressões são semelhantes
bastando substituir pH por pOH, Ka por Kb e Ca por Cb. Então as expressões seriam:
- Kb + √(Kb2 + 4 KbCb)
[OH-] = -------------------------------- 2
[OH-] = √KbCb
pOH = ½ (pKb + pCb)
2.2.2. Ácidos polipróticos e bases poliácidas:
Ácidos polipróticos são substâncias ou íons capazes de doar dois ou mais prótons e
bases poliácidas são substâncias ou íons capazes de receber dois ou mais prótons. A ionização
desses ácidos e bases ocorre em etapas e assim sendo eles possuem duas ou mais constantes de
ionização.
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Seja uma solução aquosa de um ácido poliprótico de fórmula H3A, por exemplo:
Na 1a ionização à H3A + H2O ßà H3O+(I) + H2A-
Na 2a ionização à H2A- + H2O ßà H3O+(II) + HA2-
Na 3a ionização à HA2- + H2O ßà H3O+(III) + A3-
A [H3O+] total da solução será:
[H3O+] total = H3O+(I) + H3O+(II) + H3O+(III)
Normalmente o valor das constantes de ionização sucessivas caem abruptamente; isto
é explicado pelo efeito do íon comum H3O+, isto é, o H3O+ liberado na 1a ionização inibe as
demais ionizações.
Como por exemplo, tem-se as constantes de ionização do ácido fosfórico, H3PO4:
Ka1 = 5,9 10-3
Ka2 = 6,2 10-8
Ka3 = 4,8 10-13
Nestas condições pode-se considerar:
[H3O+] total = H3O+(I)
ou seja, os ácidos polipróticos podem ser considerados monopróticos no cálculo do pH de suas
soluções aquosas. O mesmo ocorre com as bases poliácidas, isto é, no cálculo do pOH de suas
soluções aquosas são consideradas monoácidas.
3- Cálculo do pH de soluções aquosas de sais
3.1- Sais que se comportam como ácidos ou bases:
O cálculo obedece às mesmas regras e fórmulas de ácidos ou bases fortes e ácidos ou
bases fracas, segundo o comportamento ácido-base dos componentes que compõem os sais.
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3.2- Sais que se comportam como ácidos e como bases (anfiprótico):
Considere um ácido diprótico H2A em solução aquosa, cujas constantes do ácido são
dadas por Ka1 e Ka2 , de acordo com a 1a e 2a ionização, respectivamente (supondo Ka1 = 10-3 e
Ka2 = 10-7 as ordens de grandeza das constantes deste ácido).
[H3O+] [HA-] H2A + H2O ßà HA- + H3O+ Ka1 = ------------------ = 10-3 [H2A]
[H3O+] [A2-] HA- + H2O ßà A2- + H3O+ Ka2 = ------------------ = 10-7 [HA-]
Seja uma solução aquosa de um anfiprótico MHA:
MHA à M+ + HA-
Considere o equilíbrio de HA- quando se comporta como ácido:
HA- + H2O ßà H3O+ + A2-
[H3O+] [A2-] Ka = ------------------- = Ka2 = 10-7 [HA-]
isto é, a constante desse equilíbrio corresponde a 2a constante do ácido H2A.
Considere agora o equilíbrio de HA- quando se comporta como base:
HA- + H2O ßà H2A + OH-
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[H2A] [OH-] [H3O+] [OH- ] Kw 10-14 Kb = ------------------- = -------------------- = --------- = --------- = 10-11 [HA-] [H3O+] [HA-] Ka1 10-3 ------------------ [H2A]
isto é, considerando o par ácido-base conjugado nessa equação, HA- e H2A, tem-se:
Kb (HA-) Ka1(H2A) = Kw à Kb = Kw/Ka1
Além desses equilíbrios pode-se considerar aquele em que HA- está agindo como
ácido e como base:
HA- + HA- ßà H2A + A2-
[H2A] [A2-] Ka2 10-7 K = ----------------- = -------- = -------- = 10-4 [HA-]2 Ka1 10-3
isto é, o produto:
[H3O+] [A2-] [H2A][OH-] [A2-] [H2A] Ka Kb = ----------------- ----------------- = ---------------- [H3O+] [OH-] = K Kw [HA-] [HA-] [HA-]2 Ka Kb Ka2 Kw/Ka1 Ka2 10-7 K = ----------- = ------------------- = -------- = -------- = 10-4 Kw Kw Ka1 10-3
A constante (K) do terceiro equilíbrio é bastante superior às constantes Ka e Kb dos
outros dois equilíbrios; isto mostra que esta terceira reação ocorre com muito mais intensidade do
que as outras duas. Por isso pode-se considerar: H2A = A2-.
Considerando-se novamente as constantes de equilíbrio do ácido H2A:
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[H3O+] [HA-] H2A + H2O ßà HA- + H3O+ Ka1 = ------------------ [H2A]
[H3O+] [A2-] HA- + H2O ßà A2- + H3O+ Ka2 = ------------------ [HA-]
e fazendo
[H3O+] [HA-] [H3O+] [A2-] [H3O+]2 [A2-] Ka1 Ka2 = ------------------ ------------------ = ------------------- = [H3O+]2 [H2A] [HA-] [H2A]
[H3O+] = √K a1K a2 à pH = - log [H3O+]
Generalizando, pode-se considerar: K a1 = constante de ionização do ácido; K a2 = constante de ionização do ácido conjugado da base
Observação: deve-se notar que o pH de uma solução de anfiprótico independe da
concentração do anfiprótico.
4- Cálculo do pH de soluções tampões
Soluções tampões são soluções que apresentam a propriedade de resistir à mudança
na sua concentração hidrogeniônica ou no seu pH, mesmo quando a ela se adiciona uma
quantidade razoável de ácido ou de base fortes.
A “ação tampão” dessas soluções reside no fato delas conterem um par conjugado
ácido-base em apreciável concentração, o que explica o poder neutralizante dessas soluções, tanto
para ácidos como para bases. O ácido constitui a reserva ácida e a base a reserva alcalina da
solução.
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Os tipos mais comuns de solução tampão são aqueles constituídos de um ácido fraco
e um seu sal ou uma base fraca e um seu sal.
O mecanismo da ação tampão está no equilíbrio presente na solução.
Seja uma solução tampão constituída de um ácido fraco (ácido acético = HAc, Ka =
1,8 10-5) e um seu sal (acetato de sódio = NaAc). Os equilíbrios presentes são:
HAc + H2O ßà H3O+ + Ac- Ka = 1,8 10-5
NaAc à Na+ + Ac-
Ac- + H2O ßà HAc + OH- Kb = 5,56 10-10
[H3O+] [Ac-] [HAc]
Ka = ------------------- à [H3O+] = Ka --------
[Hac] [Ac-]
Devido ao ácido (HAc) e a base (Ac-) serem fracos, suas concentrações são
significativas na solução (e considerando o efeito do íon comum Ac-, a ionização do HAc fica
mais diminuída ainda).
Adicionando a essa solução uma pequena quantidade de ácido forte, os íons H3O+
desta serão neutralizados pelos ânions Ac- para formar HAc, mantendo a concentração de H3O+
da solução praticamente constante:
Ac- + H3O+ ßà HAc + H2O
Por outro lado, se uma base forte for adicionada, os íons OH- desta serão
neutralizados pelos íons H3O+ presentes na solução: os íons H3O
+ necessários para a
neutralização dos OH- são fornecidos por ionização do HAc, de maneira que a concentração de
H3O+ da solução é praticamente mantida.
O mecanismo da ação tampão de soluções constituídas de uma base fraca e um seu
sal é semelhante.
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O cálculo do pH de uma solução tampão é relativamente simples e baseia-se nos
equilíbrios presentes.
Utilizando o exemplo da solução tampão constituída de ácido acético (HAc) e acetato
de sódio (NaAc), chamando de Ca a concentração de HAc e de Cb a concentração da base
conjugada Ac- na solução conforme a expressão:
[HAc] [H3O
+] = Ka ---------- [Ac-]
tem-se:
[HAc] ≅ Ca
[Ac-] ≅ Cb
devido suas ionizações serem extremamente pequenas; assim:
Ca [H3O
+] = Ka ------- à pH = - log [H3O+]
Cb
Cb pH = pKa + log ------ Ca
Esta fórmula é conhecida como a equação de Henderson-Hasselbalch
De maneira semelhante, o pOH de uma solução tampão constituída de uma base fraca
e um seu sal é calculado pela expressão:
Cb [OH-] = Kb ------- à pOH = - log [OH-] Ca
Ca pOH = pKb + log ------ Cb
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A eficiência de uma solução tampão é o grau de resistência à mudança no seu pH.
Esta resistência depende fundamentalmente da concentração do par ácido-base
conjugado em termos de concentração absoluta e relativa.
A eficiência da solução tampão é tanto maior quanto mais próxima da unidade estiver
a relação Ca/Cb.
Soluções tampão em que a relação Ca/Cb é maior que 10/1 ou menor que 1/10
apresentam baixa capacidade tampão.
Assim, o intervalo de pH em que uma solução tampão é considerada suficientemente
efetiva é:
10 [H3O
+] = Ka ------- à pH = pKa - 1 1
1 [H3O
+] = Ka ------- à pH = pKa + 1 10
A eficiência de uma solução tampão está condicionada a um intervalo de duas
unidades de pH, cujos valores são:
pH = pKa ± 1
A eficiência das soluções tampão constituídas de uma base fraca e um seu sal é
considerado de maneira idêntica. O intervalo de eficiência é:
pOH = pKb ± 1