O Ensino Superior de Administração Pública

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1 Ttulodotrabalho:OEnsinoSuperiorDeAdministraoPblica:PerspectivaHistrica, Caractersticas e Possibilidades Autoria: Ftima Bayma de Oliveira, Anderson de Souza Sant'anna, Daniela Martins Diniz Resumodotrabalho:Esteartigoapresentaumarevisotericaeempricasobreoensino superioremadministraopblicanoBrasil.Considerando-seosmovimentosde revalorizaodestecursonopas,ainvestigaodotemamostrou-seumalinhadepesquisa relevante.Nestestermos,oartigopretendeudiscutiraevoluo,osprincipaisdebates contemporneos e os rumos do ensino superior em administrao pblica no pas. Para tanto, afundamentaotericacontemplouatrajetriahistricadestecursonoBrasil,assuas caractersticasfundamentaiseosprincipaisdebatesedilemasquecircundamaspesquisas sobreotema.Dentrealgumascaractersticasdiscutidasnoreferencialterico,merece destaqueapoucaclarezanadefiniodoquesoasquestespblicaseosproblemasde identidadedaeducaodeadministraopblica(CASTRO,1981;BERTERO,KEINERT, 1994;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999;PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS, 2000;FISCHER;2001;PECI;FREITAS;SOBRAL,2007).Emtermosmetodolgicos, optou-sepelarealizaodepesquisaqualitativacomousodomtododeestudodecaso. Foramrealizadasentrevistasemprofundidadecomdozeprofessoresdeinstituies tradicionais em administrao pblica, pelo fato de terem sido as primeiras escolas no Brasil a implantarem cursos na rea, como a Escola de Administrao Pblica e de Empresas (EBAP), aEscoladeAdministraodeEmpresasdeSoPaulo,ambasdaFundaoGetlioVargas (FGV),aUniversidadeFederaldaBahia(UFBA),aUniversidadedeBraslia(UNB),a UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS)eaFundaoJooPinheiro(FJP), almdepesquisadoresvinculadosaentidadesimportantesnoensinoenapesquisanopas, comoaCoordenaodeAperfeioamentodePessoaldeNvelSuperior(CAPES).Os resultadosapontamqueemboraaofertadecursosdeadministraogenricos,isto,de administraodeempresas,sejapredominantenagraduaoenaps-graduaonopas, existemalgumasiniciativasfavorveisexpansodoensinonareapblica.Osachados revelamtambmqueestemovimentoderetomadadoensinoemadministraopblica requer,entretanto,umavanoeumaprimoramentodealgumasfragilidadesdestecampode conhecimento. Com relao ao contedo dos cursos, por exemplo, fundamental que se faa um resgate das temticas relevantes para a rea pblica e que devem necessariamente compor agradecurriculardosprogramas.Nestesentido,pretende-secontribuirparaodebateeo avano do ensino superior de administrao pblica no pas. 2 1. INTRODUO Este documento apresenta uma reviso terica e emprica sobre o ensino superior em administrao pblica. Foram abordados aspectos relacionados sua trajetria histrica e ao seu crescimento no Brasil; as caractersticas fundamentais deste campo; as diferenas entre o ensinodeadministraopblicoeoprivado;evidnciasdeentrevistascomprofessoresde instituiestradicionaisemadministraopblica,pelofatodeteremsidoasprimeiras escolas no Brasil a implantarem cursos na rea, como a Escola de Administrao Pblica e de Empresas (EBAP), a Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, ambas da Fundao GetlioVargas(FGV),UniversidadeFederaldaBahia(UFBA),UniversidadedeBraslia (UNB),UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul(UFRGS)eaFundaoJooPinheiro (FJP); os desafios para o seu fortalecimento enquanto rea de conhecimento. As caractersticas do ensino de administrao pblica discutidas neste referencial esto relacionadas aos principais debates presentes nas pesquisas da rea, quais sejam: (i) distncia entre o conhecimento terico e a gesto pblica na prtica; (ii) pouca clareza na definio do quesoasquestespblicaseosproblemasdeidentidadedaeducaodeadministrao pblica; (iii) baixa conexo entre as disciplinas que constituem o curso. Portanto, pretende-se contribuir para o debate sobre a evoluo do ensino superior de administrao pblica no pas.O foco deste artigo est voltado para os mestrados em administrao pblica. Todavia comoemvriosmomentosdaevoluodocampodeadministrao,osmestradossurgiram intimamentevinculadosaoscursosdegraduao,esteestudoabordatambmquestes comuns entre estes nveis de ensino. Alm disso, considerando-se que em diversas instituies de educao os cursos de administrao pblica passaram a ser ofertados juntamente com os deadministraodeempresas,isto,comoumnicocurso,esteartigoabordatemas relacionados a ambos os cursos. Para alm dessa introduo, o artigo est estruturado em cinco sees. A primeira e a segunda contemplam uma reviso terica sobre o ensino superior de administrao pblica no Brasil.Otpicoseguinteapresentaametodologiadepesquisa,seguidodadiscussodas evidnciasempricasdepesquisaobtidascombasenasentrevistasenosdocumentos.As consideraes finais encerram este artigo. 2.EVOLUODOENSINOSUPERIORDEADMINISTRAOPBLICANO BRASIL Diversosautoresdiscutiramoprocessohistricodecriaodoensinosuperiorde administraonoBrasil.Considerou-senestarevisotericaaspesquisasdeestudiososque deram uma contribuio relevante para esta problemtica (ver, por exemplo, CASTRO, 1981; BERTERO,KEINERT,1994;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999;FISCHER;2001). semelhanadoqueocorreunosEstadosUnidos(RUBIN;NEWMAN2009),oensinode administrao pblica no Brasil no teve incio nas instituies de ensino tradicionais, mas em rgos governamentais voltados para a formao do servidor pblico. Entretanto, a educao nesta rea no pas possui uma histria muito curta, sobretudo quando se compara com o seu desenvolvimento nos Estados Unidos, onde os primeiros cursos da rea se iniciaram no final dosculopassado(CASTRO,1981;BERTERO,KEINERT,1994;BERTERO;CALDAS; WOOD, 1999). O fato que o ensino de administrao pblica no Brasil teve sua origem com o surgimento da administrao pblica no pas, ganhando maior expresso aps 1930, durante o primeiro governo de Getlio Vargas (1930-1945), poca em que o Estado assumiu o papel de indutor do desenvolvimento nacional (BARROS; PASSOS, 2000; PIZZINATTO, 1999). Nesta poca, o governo pretendia conferir um carter de eficincia e racionalidade s atividadesadministrativasestatais,tendocomorefernciaosprincpiosdaAdministrao CientficaconcebidosporTaylor.Issoimplicou,dentreoutros,naprofissionalizaodos funcionriospblicos,apartirdetreinamentoseformao,eemmudanasnaformade 3 seleo destes profissionais, evitando que a escolha se baseasse em indicaes pessoais como eracomumentepraticado(PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS,2000;PECI; FREITAS; SOBRAL, 2007). Umainiciativafundamental,nestesentido,foiacriaopelogovernofederaldo Ministrio da Educao (1931), entidade que estabeleceu as diretrizes tericas e prticas que orientaramodesenvolvimentodoensinofundamental,mdioesuperiornopas.Assim,a educaonoBrasilfinalmenteemergiucomoumaprioridadenacional(CASTRO,1981; OLIVEIRA;SAUERBRONN,2007).Nestecontexto,surgemtambmoInstitutode Organizao Racional do Trabalho (IDORT), em 1931, e o Departamento Administrativo do ServioPblico(DASP),em1938.OIDORTumaassociaoconstitudaporempresrios brasileirospreocupados,poca,emconferiratributosderacionalizaodotrabalhoede formaoprofissionalsatividadesadministrativasbrasileiras.ODASP,porsuavez,foi incumbidodeorganizarecoordenarosrgosdogoverno,bemcomodefinirefiscalizaras questes oramentrias. Para tanto, o DASP iniciouummovimentode profissionalizao do funcionalismopblico,implantandoumsistemadeseleoporcompetnciatcnicaede promoopormerecimento(KEINERT,1994;PIZZINATTO,1999;BARROS;PASSOS, 2000; PECI; FREITAS). Estesrgosestimularamoestabelecimentodediversasparceriascominstituies estrangeiras,principalmentenosEstadosUnidos,comointuitodeenviarservidorespara capacitao, permitir a importao dos estudos j desenvolvidos nestes pases, bem como para subsidiaraimplantaodeescolas/cursosdeadministraopblicanoBrasil(KEINERT, 1994;FISCHER;2001).Frutodestesesforosfoiacriao,em1944,daFGV,enombito desta,foramcriadasaEscolaBrasileiradeAdministraoPblica-EBAP,em1952,ea EscoladeAdministraodeEmpresas-EAESP,em1954.Outrasescolasdeadministrao tambmcomearamaseconstituirnopas,comoadaUFRGS,em1951eadaUFBA,em 1959 (CASTRO, 1981; FISCHER; 2001; BAYMA de OLIVEIRA; SAUERBRONN, 2007).Nadcadade50e60,aeducaoemadministraopblicadeuumsalto significativo,favorecidapeloapoiogovernamental,conformeevidenciaesterelato:Na metadedosanossessenta,dos31cursosdeadministraonopas,doisteroseramde administrao pblica. (COELHO, NICOLINI, 2010, p.4). Os anos 70 e 80, por sua vez, so marcados por uma expanso expressiva de instituies, cursos de graduao e ps-graduao noBrasil,oquegerouimplicaesprofundasparaoensinoemadministrao(CASTRO, 1981;FISCHER;2001).Seporumladoestecrescimentosedeusemsubordinaoa parmetros de qualidade, por outro, gerou um processo de juno do curso em administrao pblicacomodeempresas,gerandoumprocessodeperdadeidentidadedoprimeiro (COELHO, NICOLINI, 2010). Outrapossvelcausadaunificaodoscursosemadministraofoiaresoluodo Ministrio da Educao que extinguiu as habilitaes em administrao e criou um currculo mnimoparaarea.Ouseja,noseriammaisreconhecidoscursosemadministraocom nomenclaturasdiferentes(administraofinanceira,bancria,hoteleira)etodasasofertas deveriamseremadministraovoltadasparaumaformaomaisgeneralista.Taldeciso atingiutambmoscursosdegraduaoemadministraopblica,masdevidoapresses juntoaoMECedaperplexidadedeseextinguirumareadetradio,oMinistrioda Educaoreconsiderouadecisoeem2006manteveAdministraoPblicacomonica exceo,devendoodiplomadegraduaoconstarbacharelemAdministraoou Administrao Pblica.Ento,observa-se,nadcadade90,umcenrioondeonmerodecursosem administraodeempresassuperouconsideravelmenteaquantidadedeofertasem administraopblica,oquecontribuiuparaacrisedeidentidadedesteltimo.Entretanto, nosepodedesconsiderarummovimentoderevalorizaodoensinonareapblica,em 4 funodeumciclodereformadoEstado(ps-1995),quetemfavorecidoaretomadada profissionalizaonoserviopblicoeaemergnciadecursosnarea(COELHO,1998; COELHO, NICOLINI, 2010), como evidenciam os dados do Instituto Nacional de Estudos e PesquisasEducacionaisAnsioTeixeira-INEP.Oscursosdegraduaoemadministrao pblica ampliaram de 2, em 2000, para 27, em 2005 e para 80, em 2009 e as matrculas, por sua vez, expandiram de 143, em 2000, para 1.873, em 2005 e para 6.273, em 2009, dados que refletem um crescimento importante do ensino na rea pblica (INEP, 2011). 2.1. Origens e Evoluo dos Programas de Ps-graduao em Administrao PblicaAlegislaoparaaps-graduaonoBrasilerabastanteambguaat1960.Os programas eram criados em diferentes formados e sem objetivos e critrios claros. Entretanto, comaimplantaoformaldoscursosdeps-graduaonoBrasilpeloConselhoFederalde Educao, em 1965, foram regulamentados formatosi, critrios e o currculo dos programas, o querepresentouumimportantepassoparaodesenvolvimentodestenveldeensinonopas (BAYMA de OLIVEIRA, 2011).Nestapoca,aCoordenaodeAperfeioamentodePessoaldeNvelSuperior (CAPES) j existia h quatorze anos (1951), mas a sua preocupao inicial era a formao de mestresedoutoresparaatendersnecessidadesdosempreendimentosquebuscavamo desenvolvimentodopas(CAPES,2011b).Apartirde1970,aCAPESganhanovas atribuieseem1976,implantouoSistemadeAvaliaodaPs-graduaocujopapel estabelecer as diretrizes e o padro de qualidade dos cursos, bem como realizar a avaliao e o reconhecimento dos mesmos (CAPES, 2011b). Este sistema avalia cursos j implantados e a criao de novos programas e dentre os critrios avaliativos, merecem destaque: (i) proposta doprograma(comoacoernciaeaatualizaodasreasdeconcentrao,daslinhasde pesquisaedaestruturacurricular);(ii)corpodocente(titulao,tempodededicao pesquisa);(iii)corpodiscente(defesasconcludas,participaodediscentesnaproduo cientficadoprograma);(iv)produointelectual(publicaesemperodos,revistas,livros, dentreoutros)e;porfim,(v)inserosocial(impactoregionaldoprograma).Oscursosque no atingirem os patamares mnimos de qualidade podem receber notas baixas ou no serem reconhecidos (CAPES, 2011). EstescritriosdaCAPESsocadavezmaisreferenciadoseseaproximamdaqueles adotadospelasAssociaesInternacionaisdeAcreditao,comoporexemplo:The Association to Advance Collegiate Schools of Business (AACSB) e a National Association of Schools of Public Affairs and Administration (NASPAA), no caso da Administrao Pblica. Entretanto, tomando como referncia tais rgos internacionais, a CAPES vem aprimorando e consolidando o seu processo de avaliao das instituies de ensino. Aps-graduaonoBrasilapresentouumcrescimentoconsidervelnasdcadas subseqentes,emboraempercentuaisinferioresaosobservadosnagraduao(BERTERO; CALDAS;WOOD,1999).Demodogeral,existiam1.259programasdemestradose doutoradosreconhecimentospelaCAPES,em1998,eem2009,estesalcanaram2.718. Considerando-seomesmoperodo,osprogramasemadministraoreconhecidoscresceram de18para77e,especificamente,emadministraopblica,ampliaramde4para7 programas.Emrelaoaosmestrados/doutoradosemadministraopblica,algumasinstituies nacionaismerecemdestaquepelofatodeteremsidoasprimeirasescolasaintroduzirem programasnareapblicanopas:aEBAPE(1967),aUNB(1976),UFBA(1983),a FGV/SP(1990)eaFJP(1999).Diferentementedealgumasescolasnopasquecriaram mestradosnareapblicaeseguiramalgicadegeneralizaroprogramapara administrao,oscursosdaEBAPE,UNB,UFBA,FGV/SPeFJPmantiveram-secomo foco na administrao pblica, oferecendo cursos de Mestrado especficos em Administrao 5 Pblica ou especializaes/concentraes em Administrao Pblica nos cursos de Mestrado emAdministrao,genricos,revelandooimportantepapeldestasinstituiesnoensino,na pesquisa e na produo cientfica na rea pblica. Analisando os dados da CAPES sobre os programas destas escolas, observou-se que h convergnciassignificativasemrelaoaosaspectosacadmicosdoscursos,oquesinaliza uma influencia da CAPES na regulao dos mesmos. Os programas em anlise possuem cerca de15crditosemaisdametadedocorpodocentetmdoutorado.Almdisso,hum percentualelevadoemtermosdenmerodeprofessorespermanentesnosprogramas,com destaque especial para a UFBA e a UNB, ambas com 94% e a FGV/SP com 91%. Em relao sreasdeconcentrao/linhasdepesquisadosprogramas,emborapossuamnomenclaturas distintas,ofocoeocontedodasmesmasassemelham-sebastante.Porfim,outrosaspectos comunsmerecemserdestacados:(i)todososcursos consideram a dissertao de mestrado uma exigncia para a concesso do ttulo de mestre aos alunos e (ii) a existncia de disciplinas de metodologia de pesquisa e mtodos quantitativos em todos os programas (CAPES, 2011a).A partir do histrico do ensino superior de administrao pblica no Brasil possvel delimitar as principais caractersticas desta rea de conhecimento e que representam os pontos mais debatidos nas pesquisas do campo. 3.DILEMASEMBUSCADEDEFINIESNOENSINOEMADMINISTRAO PBLICA: UMA REVISO DE LITERATURA Esta seo consiste numa reviso de literatura acerca dos principais debates e dilemas que circundam as pesquisas sobre a administrao pblica. Neste contexto, merecem destaque as seguintes temticas: (i) distncia ou inconsistncia entre o conhecimento terico e a gesto pblicanaprtica;(ii)poucaclarezanadefiniodoquesoasquestespblicaseos problemasdeidentidadedaeducaodeadministraopblica;(iii)baixaconexoentreas disciplinasqueconstituemocurso(KEINERT,1996;MADUREIRA,2005;FONSECA, 2008). Adiscussosobreadistnciaouinconsistnciaentreoconhecimentogeradona academia e a administrao pblica na prtica no recente. Diversos autores afirmam que o conhecimentoproduzidonasinstituiesdeensinoabstratoepoucorelevanteparaas questessociais.Ouseja,trata-sedeumsaberterico,semvinculaodiretacomos problemas cotidianos dos orgos do governo e, portanto, pouco utis para os profissionais da gesto pblica (VENTRISS, 1991; FONSECA, 2008).Abaixaaplicabilidadedoconhecimentodeadministraopodeserdecorrentedo antagonismocriadoentreoambienteacadmicoeoempresarial.Ondedeveriaexistir integrao, parecepredominarum clima de desprezoepreconceito.Resultadodissoofato de que o conhecimento gerado pelas universidades utilizado somente no contexto acadmico (CASTRO,1981;BERTERO;CALDAS;WOOD,1999).Nestesentido,duasaespodem serimportantes:(i)oestabelecimentodeumaagendaconjuntaentreacadmicose profissionaisdosrgospblicosparaumatrocadeexperinciaentreasparteseum alinhamentodeinteressesepropsitos;(ii)adefinioconjuntadostemasdeinteresseda administraopblicaparaumdirecionamentodapesquisacientfica(VENTRISS,1991; FONSECA, 2008).Emrelaoaosegundodebate,algumaspesquisassinalizamqueaadministrao pblica uma disciplina em crise, pois no h uma definio clara sobre o que so as questes pblicas,quaisassuntosdevemserobjetosdoensinonestecampoe,finalmente,quaisas habilidadesnecessriasaosfuncionriospblicos(MADUREIRA,2005;FONSECA,2008). Neste contexto, Bresser (2008) chama a ateno para as possveis causas dessa crise: (i) oferta gratuitadecursosdeadministraopblica;(ii)ausnciadeumgrupoexpressivode professoresinteressadosnareapblicaaolongodahistriaepoucoestmuloporparteda 6 escolaaosdocentesdocampo;(iii)vinculaodaadministraopblicaadministraode empresas (BRESSER, 2008). Primeiramente,algumasinstituies,comoaEAESP(FGV),comoapoio governamental, ofertaram cursos gratuitos de administrao pblica at os anos 1990. Embora tenha sido uma iniciativa nobre, a mesma gerou um efeito negativo ao estimular o ingresso de estudantesnocursoquenotinhaminteresseemestudarasproblemticaspblicas,masse matricularam em decorrncia exclusiva da gratuidade. Tal situao contribuiu para distorcer o sentido e o propsito do curso que era o de promover a formao qualificada na rea, ampliar aquantidadedepessoasinteressadasnainvestigaodastemticaspblicas,dentreoutros (BRESSER, 2008). Em relao ao segundo aspecto que pode ter contribudo para o declnio do ensino de administraopblica,Bresser(2008)enfatizaqueonmerodegruposdepesquisa interessadosemestudaraadministraopblicaaindareduzidoemcomparaocomos docentespreocupadoscomaadministraodeempresas.Ento,abaixaquantidadede docentes na rea tem reflexos importantes na graduao, ao reduzir a oferta destes cursos pela faltadepessoalespecializado.Soma-seaistoofatodequeaexpertisedosprofessoresque possuemhistriconareapblicanotemsidoaproveitadapelasinstituiesdeensino superior.Por fim, Bresser (2008) pontua que a vinculao do curso de administrao pblica administrao de empresas tambm contribuiu para o problema de identidade do primeiro. A maiorpartedasinstituiesnopastemoptadopelaofertaintegradadocursode administraopblicacomodeadministraodeempresas(nagraduaoenaps-graduao),oquesinalizaque(...)ouniversoempresarialteriaabsorvidoocursode administrao pblica. (BRESSER, 2008, p. 43).Todavia,estasinstituiesnegligenciaramasdiferenasexistentesentrea administraopblicaeadeempresasaobuscaremformarprofisssionaiscapacitadosnas modernas tcnicas gerenciais, de carter generalista e que poderiam trabalhar tanto no setor estatalcomonoprivado(BRESSER,2008).Desconsideraram,portanto,queosetorpblico estcondicionadoslegislaesgovernamentais,influenciadopeloambiente econmico/social/poltico e possui uma finalidade social muito importante. Por outro lado, as organizaesprivadasbaseiam-senumalgicamaiseconmico-financeira.Portanto,como cadacampopossuiassuaspeculiaridades,fundamentalqueoensinoconsidereestas diferenas,oquenotemsidoobservadonaprtica(MADUREIRA,2005;RUBIN, NEWMAN, 2009). Umadasimplicaesemseconsideraroscursosdeadministraopblicaede empresasdeformaintegradaqueasquestescentraisdagestopblicasocolocadasem segundoplano.Talsituaoprejudicialidentidadedoensinodeadministraopblica, poisasquestespblicasdevemseropontodepartidaecentraldestecurso,maisdoque tcnicasgerenciais,oquerevelaanecessidadedeseresgatarosignificadodopblico (VENTRISS, 1991; RUBIN; NEWMAN, 2009). Oproblemadeidentidadedaeducaoemadministraopblicapodeserresultante tambmdabaixaconexoentreasdiferentesdisciplinasquecompemocurso.Defato,a administraopblicaumcampoquerequercontribuiesdediversasreasde conhecimento (como da psicologia e do direito). O problema no est na interdisciplinaridade, massimnaausnciadeumfiocondutorouconstrutotericoqueintegreasdisciplinas. Assim, o ensino de administrao pblica se assemelha a uma coleo de partes, constitundo-se num campo ambguo e confuso (VENTRISS, 1991; KEINERT, 1996). Madureira (2005) sugere que a conexo entre os contedos possa ocorrer por meio da noodepblico.Ouseja,setodasasdisciplinaspartiremdasquestespblicaspara explicaremosconstrutosespecficosdecadaumamaisprovvelqueelaspossuampontos 7 convergentesecomuns.Entretanto,issonotemocorridonaprticadasinstituiesde educao superior. Areflexoacercadestasproblemticassobreoensinoemadministraopblica fundamental para o avano do campo, inclusive tendo em vista o movimento contemporneo de revalorizao da educao na rea. 4. METEDOLOGIA Considerando-seospropsitosdestainvestigao,optou-sepelarealizaode pesquisadenaturezaqualitativacomousodomtododeestudodecasos(GREENWOOD, 1973;BONOMA,1985;EISENHARDT,1989;YIN,2005).Estametodologiaconsistena anliseexaustivadeumoudepoucosobjetosempricos,sejamelessituaes,pessoasou organizaes,ascircunstnciasemqueseencontrameanaturezadosfenmenosqueo compem. muito indicado quando o fenmeno em estudo complexo, contemporneo e se inserenumcontextoreal(BONOMA,1985),comoocasodapresentepesquisaque investigouatrajetriadoensinosuperioremadministraopblicanoBrasil.Apartirdo estudodecasofoipossvelobterumaanliseprofunda,holsticaericadofenmeno pesquisado,bemcomoidentificarfatoresimplcitosepoucoevidentes(GREENWOOD, 1973; EISENHARDT, 1989).Aseleodocasoempesquisaqualitativaumadecisoimportante,poispode impactar a relevncia dos resultados do estudo. Portanto, essa escolha no deve ser aleatria, mas intencional, orientada para a riqueza com que o fenmeno se apresenta (EISENHARDT, 1989;YIN,2005).Combasenestaspremissas,optou-sepelarealizaodapesquisacom professoresdeinstituiestradicionaisemadministraopblica,pelofatodeteremsidoas primeirasescolasnoBrasilaimplantaremcursosnarea.Comisso,foramrealizadasdoze entrevistas em profundidade com professores vinculados a Fundao Getlio Vargas (FGV), a UniversidadeFederaldaBahia(UFBA),aUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul (UFRGS),aUniversidadedeBraslia(UNB)eaFundaoJooPinheiro(FJP),almde docentes vinculados a entidades importantes no ensino e na pesquisa no pas, como a CAPES. Apartirdasentrevistas,foipossvelcoletardadossobreaevoluo,osdesafioseas caractersticasdoensinonareapblica.Foramutilizadostambmoutrosinstrumentosde coleta, como a anlise documental e observao direta (EISENHARDT, 1989; YIN, 2005). Autilizaocombinadadevriasfontesdeevidnciasentrevistas,documentose observaopossibilitouoconfrontodasinformaesobtidasapartirdecadafonte, conferindomaiorconfiabilidadeaosresultadosdestapesquisa.Essatcnicadearticular mltiplasfontesdeevidnciasparaaanlisedeummesmofenmenoumdostiposde triangulao (GREENWOOD, 1973; EISENHARDT, 1989).Paraotratamentoeanlisedosdadosobtidosfoiutilizadoomtododeanlisede contedo.Estametodologiaconsistenousodetcnicasdesistematizao,interpretaoe descriodocontedodasinformaescoletadas,afimdecompreendermelhorodiscurso, aprofundar suas caractersticas e extrair os detalhes mais importantes. Com isso, foi possvel examinarasvriasdimensesdosrelatosdosentrevistadoseconstruirinfernciasapartir deles(BAUER;GASKELL,2002).Parafacilitaressaetapa,foramcriadascategoriasde anlisecombasenaliteraturaerevisadasluzdasevidnciasdapesquisa(EISENHARDT, 1989). 5.EVIDNCIASEMPRICASSOBREOENSINOSUPERIOREM ADMINISTRAO PBLICA NO BRASIL Estaseoapresentaapercepodeprofessoressobreaeducaosuperiorde administrao pblica no pas. Alm de relatar a viso de professores da rea pblica sobre o ensino neste campo, pretendeu-se comparar os dados das entrevistas com a literatura discutida 8 acima para levantar aspectos convergentes e que em funo disso, so muito relevantes para a temtica em questo. Umaspectobastantemencionadonasentrevistasqueamaiorpartedoscursosde graduaoemadministraonopasofertadadeformagenrica(simplesmente administrao)ouintegradaii(administraodeempresaseadministraopblica).Isso significaqueaquantidadedecursosdegraduaoespecficosemadministraopblica reduzida,comodiscutidonarevisotericadesteartigo.Emtermosdeps-graduao,este cenrio no se altera. A maioria dos cursos de ps-graduao no pas, sobretudo os mestrados e doutorados, em administrao, podendo ter uma rea de concentrao especfica no campo da administrao pblica. Opredomniodecursosgenricosemadministraonopas(tantonagraduao, como naps-graduao)podeser explicado por diversos motivos, dentre eles: (i) a escassez dacarreirapblicaparaadministradores;(ii)ademandamaiorparaoscursosde administraodeempresas.Emrelaoaoprimeiroaspecto,algunsentrevistadospontuam queascarreirasparaadministradorespblicosnoBrasilsoescassasepoucoreconhecidas, convergentecomaliteraturadiscutidaanteriormente.Ouseja,osestudantesseformamem administrao pblica e, muitas vezes, no exercem a profisso, pois existem poucas posies ou carreiras especficas para administradores pblicos (Entrevista 2).EsteaspectofoibastantemencionadonoSeminriopromovidopeloConselho NacionaldeEducaoemBraslia.Diversosparticipantespontuaramqueaomesmotempo em que no h carreiras especficas para o administrador pblico, as posies que existem no exigem qualquer qualificao na rea, o que desestimula a educao nesta rea. Neste sentido, humapercepodequeumfatordeterminanteparaademandaporcursosespecficosde administrao pblica a existncia de carreiras que absorvam as pessoas formadas.Abaixaofertadecursossuperioresdeadministraopblicapodeserexplicada tambm pela baixa demanda pelos mesmos, tanto na graduao, como na ps-graduao. H evidnciasdequeocursodeadministraodeempresaspossuiumnmerosuperiorde inscritos e matrculas do que as ofertas especficas na rea pblica, o que tem desestimulado a abertura e a manuteno de cursos desta natureza.Em relao aos mestrados/doutorados, a existncia de poucos programas (7 programas em2009)emadministraopblicareflexodabaixaquantidadedecursosdegraduao nesta rea no pas. Ou seja, mais provvel que a instituio de ensino realize investimentos naps-graduaoemdeterminadarea,seamesmapossuiexperincianagraduao,pois, assim,aescolapodecontarcomumcorpodocentequalificadoecomexpertisenocampo. Ento,ocrescimentodaps-graduaonumainstituiodeensinodependedo desenvolvimento da graduao. Emboraoquadrodeensinosuperiornopasindiqueumpredomniodecursos genricosemadministrao,verifica-seummovimentoderevalorizaodaeducaoem administrao pblica, assim como a reviso terica deste artigo revela. Isso porque o ensino nestareafrutodaconjunturadoEstadoNacional.ComoafirmaBresser(2008),asforas doambienteexternoeinternodeterminamocrescimentoouaestagnaodocursoem administraopblica.Nestaperspectiva,umconjuntodefatores(reformadoestado, mudana no modelo de gesto pblica, valorizao da democracia e do gerencialismo), que se intensificaramaps1995,temestimuladoealertadoparaanecessidadedeformaode administradores pblicos. Tais fatores, por sua vez, tm criado as condies favorveis para a emergncia de cursos na rea pblica (COELHO, 2008). Outros fatores que tem contribudo para este movimento a ampliao do mercado de trabalho para os gestores pblicos. Atualmente, profissionais com esta formao podem atuar eminstituiesde terceirosetorque cuidam de atividades de interesse pblico, as quais tm 9 crescidoconsideravelmente,almdeseprepararemmelhorparaconcursospblicos (COELHO, 2008). Finalmente,aimplantaodoProgramadeApoioaPlanosdeReestruturaoe ExpansodasUniversidadesFederaisREUNIpelogovernofederal,em2007,tambm podefavoreceracriaodecursosespecficosnareapblica.PormeiodoREUNI,cujo objetivoampliaroacessodealunosnaeducaosuperior,algumasescolaspblicastm sidoincentivadasaabrircursosemadministraopblica.Emboraacontribuiopossaser poucoexpressivaemtermosquantitativos,ummovimentoimportantequediversos entrevistadosentendemquedeveserestimulado,conformeevidenciaesterelato:Souum desses professores que acham que o campo pblico no est muito bem definido no Brasil e querealmentepodemosfazeralgumacontribuioparacomeardefinir,delinearumpouco melhor o que esse campo. (Entrevista 6). Arevalorizaodagraduaonareapblica,porsuavez,tendeagerarefeitos importantesnapr-graduaoaoestimularacriaodemestrados/doutoradosem administrao pblica. Alm disso, a regulamentao pela CAPES do mestrado profissional abrepossibilidadesparaocrescimentodoscursosnareapblicaerepresentauma oportunidade importante para a formao de profissionais que tenham experincia prtica na gesto pblica. Nestes termos, possvel identificar algumas experincias relevantes, como o MestradoProfissionalemGestoePolticasPblicasdaEAESP(FGV)eodaUFBAem AdministraoPblica,ambosjaprovadospelaCAPESetrsprogramasemfasede reconhecimento, dentre eles o da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Estemovimentoderetomadadaeducaonareapblicaconvergecomanoode separaodestaofertadocursodeadministraodeempresas.Analisandoahistriado ensino nesta rea, observa-se que algumas instituies passaram por processos de separao e fuso dos cursos de administrao pblica e de empresas, revelando certa ambigidade e uma indefinio sobre o que mais adequado: a oferta separada ou a integrada. H pesquisadores quedefendemaseparaoplenadoscursos,poisentendemqueasdiferenasentrearea pblicaeaprivadasosignificativasequeaintegraoentreelascontribuiparaaperdade identidade do curso de administrao pblica, como evidenciado por Bresser (2008). Ou seja, quandonohseparao,aadministraopblicaacabapegandoemprestadoda administraodeempresasconceitosquenoseaplicamaocontextopblicoemdetrimento desuastemticasfundamentais.Destaque-sequeasdiscussesquepredominavamh45 anos,quandofoicridooMestradoemAdministraoPblicanaFGV/EBAPE,continuam atuais. o que revela a passagem a seguir da ento Diretora da EBAPE: (...) h bem poucas possibilidades de xito ou talvez nenhuma para programas mistosouconjugadosdeAdministraoPblicaedeEmpresas,eissonos no Brasil como tambm nos Estados Unidos. (WAHRLICH, 1967) Poroutrolado,hprofessoresqueconsideramaofertaintegradadocursode administraomaisprodutiva,poisfundamentalqueoalunocompreendaosaspectos comunsdoscampos,sobretudonagraduao,cabendops-graduaocuidarda especializao dos alunos em uma rea de seu interesse. Outra questo bastante enfatiza pelos entrevistados foi em relao ao papel da CAPES na regulao e avaliao dos programas de ps-graduao nacionais. Assim como enfatizado narevisotericadesteartigo,osdadosdasentrevistasrevelamqueasdecisessobreas questesacadmicasdoscursosdeps-graduao(comoaestruturacurricular,aslinhasde pesquisaeocorpodocente)sofeitascombasenosregulamentoseexignciasdaCAPES. Nombitodosprogramasdeadministrao,porexemplo,adefiniodesecriarumcurso 10 genrico ou com nfase na administrao pblica depende de como a CAPES enxerga ou tem avaliado tais situaes. Dopontodevistadealgunsentrevistados,aCAPESumaentidadeimportantepara assegurarpadresmnimosdequalidadeparaosmestradosedoutorados.OEntrevistado1, porexemplo,afirmaqueimportanteatenderaosparmetrosdestaagncia,poismuitas associaesqueavaliamaps-graduaonoexteriortmindicadoressemelhantesaosda CAPES.Portanto,seguirestespadresumaformadeganharreconhecimentoeamplitude internacional. Poroutrolado,algunsprofessoresentendemqueestasexignciastornamoprocesso decriaoemanutenodocursodeps-graduaoburocrtico,poucocontribuindoparao aprimoramentodosmesmos.Almdisso,oscritriosutilizadospelaCAPESprivilegiam determinadosfatores,comoaqualificaodocorpodocente,emdetrimentodeoutros aspectos tambm relevantes, como a insero e o impacto regional das pesquisas cientficas. Porfim,algunsentrevistadosargumentamqueaCAPEScriacertasregrasambguasecom poucas orientaes precisas sobre como operacionaliz-las. A criao de dois formatos para o mestrado(acadmicoeprofissional)representaumadestasmedidas.Nohclarezaem relaosespecificidadesdestasclassificaese,naprtica,taldiferenanopassadeuma nomenclatura. Combasenoreferencialtericoenaanlisedasentrevistasquecompuserameste estudo,foipossveldelimitaralgumaspossibilidadesedesafiosparaoensinosuperiorde administrao pblica no Brasil, sintetizados na seo abaixo. 6. CONCLUSO Diantedoquadrohistricoecontemporneodoensinosuperiordeadministrao pblicapossveldelinearalgumaspossibilidadesedesafiosparaasuamelhoriae fortalecimentocomocampodoconhecimento.Primeiramente,importanteressaltarque foram encontradas muitas convergncias entre a reviso terica deste artigo com os dados das entrevistasrealizadascomdocentesdeinstituiesimportantesnarea.Talsimilaridade revela,portanto,queosachadosdesteestudorepresentamalgunsdosprincipaisdilemasda educao em administrao pblica. Umaconclusodesteartigoadeque,emboraaofertadecursosdeadministrao genricosnopassejapredominante(nagraduaoenaps-graduao),existemalgumas iniciativasemovimentosfavorveisexpansodoensinonareapblica.Dentreestes fatoresimpulsionadores,merecedestaqueonovoparadigmadegestopblicaculminando emprojetosdereformadoEstadoedemandandoprofissionaiscapacitadosnareaeo REUNI, programa que tem induzido as instituies federais de educao a ampliarem a oferta de cursos na rea pblica. Estesmovimentossofundamentaisparapreservaraidentidadedoensinoem administraopblicaquetemsidoprejudicadapelaofertaintegradadestecursocomode administrao de empresas. Entende-se que tal abordagem pode ser inadequada, pois o ensino de administrao pblica acaba tomando como referncia teorias e mtodos da administrao deempresasquepodemnoseradequadosnocontextogovernamental.Portanto,em decorrnciadasespecificidadesdareapblica,aseparaodasofertastendeaseruma alternativamaisadequada,posioqueapoiadapelamaioriadosentrevistadosdesta pesquisa e que converge com a tendncia de revalorizao do ensino na rea pblica. Ocrescimentodagraduaonareapblicanosltimosanos(conformerevelamos dados do INEP) e que tende a ser fomentado, certamente contribuir para o desenvolvimento demestrados/doutoradosnarea.Aoimplantaremcursosdegraduao,asinstituiesde ensinoformamgruposdeprofessoresinteressadosnosassuntospblicosecomexpertiseno campo.Comisso,humincentivoporpartedestesdocentesparaaaberturadecursosde 11 mestrado/doutoradoemadministraopblica,iniciativafundamentalparaoavanoda produocientficanarea.Almdisso,aregulamentaodomestradoprofissionalpela CAPESpoderepresentarumcaminhoimportanteparaocrescimentodecursosnarea pblica. Estemovimentoderetomadaecrescimentodoensinoemadministraopblica requer,entretanto,umavanoeumaprimoramento das questes especficas deste campo do conhecimento.Comrelaoaocontedodoscursosnagraduaoenaps,porexemplo, fundamental que se faa um resgate das temticas relevantes para a rea pblica e que devem necessariamentecomporagradecurriculardosprogramas.recomendveltambma delimitaodocampoemgrandestemasemfunodadiversidadedeassuntosque potencialmente podem ser abordados na rea e do risco de se investigar questes com pouca validadesocial.Taisiniciativaspodemserimportantesparaminimizarosquestionamentos acercadaidentidadedoensinoemadministrao pblica,paraampliaraintegraoentreas disicplinasquecompemoscursosefinalmente,parareduziradistnciaentreo conhecimentotericoeagestopblicanaprtica.Valesalientarqueasinstituiesde ensinotradicionaisnareapblica,osprofissionaisdosrgosdogovernoeasagncias nacionaisdeapoioapesquisacientficasoatorescruciaisnesteprocessodedefiniodos assunos relevantes no contexto governamental. Outras iniciativas que podem conferir mais consistncia ao curso e fortalecer o ensino na rea pblica a construo de um projeto poltico/acadmico que confira uma identidade aoensinonareaequeconsidereasexperinciasdosdocentesquepossuemhistriana prtica da gesto pblica. A soluo destas questes ora discutidas crucial para fazer face ao movimento de revalorizao da educao na rea. Aspossibilidadeseosdesafiosoradiscutidospretendem,portanto,contribuirparao debate sobre o ensino superior em administrao pblica, um campo de conhecimento repleto defragilidadesecontradies.Deve-seconsiderar,entretanto,queosestudoseaproduo cientficanestareasobastanterecentes,secompararmoscomoutroscamposde conhecimento, sendo necessrio o aprofundamento das pesquisas na rea. REFERNCIAS BERTERO, C. O.; CALDAS, M. P.; WOOD JR., T. Produo cientfica em administrao de empresas: provocaes, insinuaes e contribuies para um debate local. Revista de Administrao Contempornea, v. 3, n. 1, p. 147-178, 1999. 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