Pancreatite Aguda Rose

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FACULDADE DE SAÚDE IBITURUNA-FASI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM 7º PERÍODO

Assistência de Enfermagem aos clientes com Pancreatite Aguda

MONTES CLAROS-MG

JULHO, 2012

Acadêmica:

Rosana Oliveira

FACULDADE DE SAÚDE IBITURUNA-FASI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM 7º PERÍODO

Assistência de Enfermagem aos clientes com Pancreatite Aguda

MONTES CLAROS-MG

JULHO, 2012

Acadêmica:

Rosana Oliveira

RESUMO

INTRODUÇÃO: A pancreatite aguda se apresenta na sua forma grave entre 10% e 15% dos casos e está associada com alta mortalidade. Na fase inicial da evolução caracteriza-se pelo aparecimento de disfunções orgânicas e posteriormente pela presença de necrose pancreática e suas complicações. MÉTODO: Foi realizada revisão da literatura com consultas feitas nas seguintes bases de dados: Pubmed, Scielo, Lilacs. Os descritores cruzados foram os seguintes: pancreatite aguda, infecção, necrose pancreática. CONCLUSÃO: O tratamento da necrose pancreática, apesar do advento de modernos métodos e técnicas, ainda continua desafiador. Devido à multiplicidade de aspectos que pode assumir, a análise de cada caso, tendo em vista a extensão, gravidade e meios existentes no local de atendimento do paciente, é que deverá orientar o tratamento possível, sendo ele sempre individualizado a cada caso.

Descritores: pancreatite aguda, infecção, necrose pancreática. 

INTRODUÇÃO

A pancreatite aguda, definida atualmente como um processo inflamatório agudo do pâncreas, com envolvimento variável de outros tecidos regionais ou sistemas de órgãos remotos, é uma patologia de espectro alargado, (SILVA, 2010).

O pâncreas é um órgão localizado atrás do estômago que produz substâncias químicas chamadas enzimas, bem como os hormônios insulina e glucagon. Na maior parte do tempo, as enzimas ficam ativas somente depois de atingirem o intestino delgado, onde elas são necessárias para a digestão dos alimentos. Quando essas enzimas ficam, de alguma forma, ativas dentro do pâncreas, elas comem (e digerem) o tecido do pâncreas. Isso causa inchaço, hemorragia e danos ao pâncreas e aos seus vasos sanguíneos. A pancreatite aguda afeta mais homens do que mulheres. Determinadas doenças, cirurgias e hábitos fazem com que você tenha mais probabilidade de desenvolver essa condição. A condição é mais frequentemente causada por alcoolismo e abuso de álcool (70% dos casos nos Estados Unidos). Em alguns casos, a genética pode ser um fator. No entanto, algumas vezes a causa não é conhecida, (SILVA, 2010).

Os mecanismos moleculares envolvidos na patogénese da pancreatite aguda e a forma como as diversas etiologias conduzem a um processo comum de inflamação são ainda pouco compreendidos . No entanto, a conversão do tripsinogénio em tripsina dentro das células acinares pancreáticas, em quantidade suficiente para ultrapassar os normais mecanismos de defesa, parece ser o passo central. É esta conversão que desencadeia o processo de auto-digestão pancreática, (SILVA, 2010).

O aumento da concentração intracelular de cálcio por libertação do retículo endoplasmático rugoso, o bloqueio precoce da secreção enzimática enquanto a síntese continua, a co-localização de enzimas digestivas e lisossômicas nos organelos pancreáticos e a disrupção da barreira entre as células acinares e ductais são os mais prováveis mecanismos de lesão. Uma vez ativada, a tripsina pancreática desencadeia uma cascata de eventos que inclui a ativação de outras enzimas pancreáticas, do complemento e do sistema quinina-calicreína, (MEKITARIAN, 2012).

A razão que leva a que estes eventos fiquem circunscritos nalguns doentes e sejam amplificados noutros permanece obscura. Esta amplificação, responsável pelas manifestações sistémicas da pancreatite, parece depender de diversos mediadores, que incluem citocinas inflamatórias (IL-1, TNF-a, IL-6, IL-8 e PAF). Por outro lado, lesões de isquémia-reperfusão e a produção de radicais livres de oxigénio são apontados como possíveis responsáveis pela progressão de pancreatite intersticial para necrosante, (MEKITARIAN, 2012).

A litíase biliar desencadeia a auto-digestão pancreática, provavelmente, por obstrução transitória do ducto pancreático, pela passagem de um cálculo através da ampôla de Vater. Esta obstrução levará a um aumento transitório da pressão no canal de Wirsung, com extravasamento de suco pancreático para o interstício glandular e conseqüente lesão, (SILVA, 2010).

Em relação ao álcool, o mecanismo de lesão é menos claro. As hipóteses propostas incluem: toxicidade pancreática direta, estimulação da secreção pancreática (secundária a um aumento de secreção gástrica) com aumento da pressão intra-ductal, espasmo do esfíncter de Odi, aumento da permeabilidade do ducto pancreático, aumento da concentração protéica no suco pancreático com precipitação nos pequenos ductos glandulares e hipoperfusão pancreática. As outras etiologias de pancreatite têm variados mecanismos, mais ou menos conhecidos, de lesão, (PACHECO, 2002).

METODOLOGIA

Foi realizada revisão da literatura com consultas feitas nas seguintes bases de dados: Pubmed, Scielo, Lilacs. Os descritores cruzados foram os seguintes: pancreatite aguda, infecção, necrose pancreática. 

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de pancreatite aguda (PA) habitualmente é feito pelo quadro clínico de dor no andar superior do abdome, aumento dos níveis séricos de amilase e/ou lipase e confirmado por achados sugestivos em exames de imagem, como ao ultra-som (US) e/ou tomografia computadorizada (TC) de abdome. No entanto, estes exames podem não definir a causa da PA, exceto se forem observados cálculos biliares, principalmente na ausência de outras causas conhecidas de PA. Em nosso meio, as causas mais comuns de pancreatite aguda e pancreatite crônica agudizada (PCA) são a litíase biliar e o alcoolismo, respectivamente. O reconhecimento da causa da pancreatite é importante para a abordagem terapêutica. O paciente com PA biliar (PAB) poderá, algumas vezes, se beneficiar com a esfincterotomia endoscópica e, sempre que possível, deverá ser submetido a colecistectomia antes da alta hospitalar para se evitar a recurrência de PA. O paciente etilista necessitará de aconselhamento e/ou outra forma de tratamento para não voltar a beber. Essas diferenças nas abordagens terapêuticas justificam a busca por exames não-invasivos que possam auxiliar a história clínica e os exames de imagem no diagnóstico diferencial destas duas causas de pancreatite, (PACHECO, 2002).

TRATAMENTO E COMPLICAÇÕES

Em termos terapêuticos, há que atual em duas vertentes: a correção de fatores precipitantes e a intervenção sobre o processo inflamatório. A primeira vertente inclui a CPRE nalguns casos de pancreatite litiásica (já referidos), a suspensão da ingestão de álcool e/ou fármacos e a correção da hipertrigliceridémia, por exemplo. No caso particular da pancreatite litiásica, a correção dos fatores precipitantes inclui também a colecistectomia, que deve, idealmente, ser realizada cinco a seis dias após a admissão hospitalar nos casos de pancreatite ligeira a moderada e, pelo menos, seis semanas após a recuperação clínica nos casos de pancreatite grave.

Em relação à pancreatite propriamente dita, o tratamento é, sobretudo, de suporte. Na pancreatite ligeira, a reposição de fluidos por via endovenosa (EV), o controlo da dor e a suspensão da ingestão oral são, na maioria dos casos, suficientes. A recuperação ocorre em 5 a 7 dias, podendo então iniciar- -se alimentação entérica. Até lá, os fluidos EV são essenciais para compensar as perdas por sudorese, vómitos e para o terceiro espaço, já que a hipovolémia conduz a isquémia pancreática, com agravamento da inflamação.

O controlo da dor pode requerer o uso de opiáceos, quando os analgésicos menos potentes não forem suficientes, mas a morfina deve reservar-se para os casos mais resistentes, já que esta aumenta o tónus do esfíncter de Odi e causa elevações da amilase sérica. A entubação naso-gástrica (ENG) é dispensável na pancreatite ligeira, reservando-se para os casos de íleus e/ou de náuseas e vómitos intractá-veis. A inibição da secreção ácida não está indicada, nem o uso de antibioterapia profiláctica, que deve reservar-se para os casos graves e com necrose identificada.

Na pancreatite grave, a necessidade de monitoriza-ção e suporte hemodinâmico, respiratório, renal e hepato-biliar implica o internamento em unidade de cuidados intensivos (UCI). Mais uma vez, a reposição de fluidos é essencial. Nos primeiros dias, podem ser necessários 5 a 10 litros de fluido isotónico por dia.

Considera-se a infusão de albumina quando a albumina sérica é inferior a 2,0 g/dL e a transfusão de concentrado de eritrócitos quando o hematócrito é inferior a 25%4. A hipoxémia (saturação periférica de oxigénio inferior a 90%) requer administração de oxigénio e, se refractária, ou se houver fadiga re spiratória, a entubação oro-traqueal e a ventilação assistida devem ser precoces.

Um catéter de Swan-Ganz ajuda a determinar se a hipoxémia é primariamente pulmonar ( pressão encravada na artéria pulmonar (PAWP) baixa ou normal) ou secundária a insuficiência cardíaca (PAWP aumentada). A síndrome de dificuldade respiratória aguda (SDRA) é a complicação respiratória mais grave da pancreatite aguda e requer ventilação mecânica, não existindo terapêutica específica eficaz. As complicações cardiovasculares da pancreatite aguda são variadas e, para além da correção da hipovolêmica e de terapêuticas específicas, podem requerer o uso de aminas vasoativas, nomeadamente

dopamina, que não afeta a microcirculação pancreática. Também muito importantes são a correção de desequilíbrios iónicos e a monitorização da função renal, cuja falência pode requerer terapêutica de substituição. Finalmente, é essencial prevenir a infecção. Enquanto a descontaminação intestinal seletiva não tem utilidade clínica demonstrada, a antibioterapia profiláctica é suportada por estudos científicos.

Está comprovada uma diminuição das taxas de infecção e uma tendência para a descida da mortalidade quando se usam antibióticos com boa penetração pancreática, mas apenas nos casos com necrose significativa (mais de 30%, demonstrada por TAC) e/ou colecções de fluido ou falências de outros órgãos. Embora as quinolonas tenham boa penetração pancreática e sejam ativas contra as bactérias mais frequentemente envolvidas.

O imipenem ( para uma função renal normal, 500 mg EV, de 8/8 h, durante, pelo menos, 10 a 14 dias), activo contra gram (-), gram (+) e anaeróbios, parece ser o mais eficaz dos antibióticos até hoje testados. Para evitar o desenvolvimento de resistências, pode optar-se, na profilaxia, por iniciar uma quinolona, reservando o imipenem para casos em que se confirma a infeção e/ou se suspeita de estirpes resistentes. Para obviar o risco de infeção fúngica associado à terapêutica poli-antimicrobiana com Imipenem, há autores que defendem a profilaxia anti-fúngica associada, embora não existam estudos suficientes para recomendar esta atitude como rotina. No que diz respeito à nutrição, os casos de pancreatite ligeira podem ser suportados apenas com hidratação EV, já que a recuperação, com retoma da ingestão oral, será rápida. Nos casos de pancreatite grave, com um estado de Hipermetabolismo catabolismo, e em que se espera uma evolução prolongada, torna-se imprescindível o suporte nutricional precoce. Este era, tradicionalmente, feito através de alimentação parentérica, mas, mais recentemente, ficou demonstrado que a alimentação entérica infundida no jejuno é praticável, bem tolerada, mais barata e está associada a menos complicações, nomeadamente infecciosas.

Na pancreatite ligeira, a alimentação oral pode, geralmente, iniciar-se entre o terceiro e o sétimo dia, enquanto nas formas graves pode ser necessário aguardar mais algum tempo. Considera-se que o doente pode iniciar alimentação oral quando não há dor abdominal espontânea nem à palpação, não há ileus, não há evidência de complicações e a amilase sérica desceu para valores próximos do normal. Não havendo recomendações claras quanto ao programa alimentar, uma abordagem possível consiste no iniciar da alimentação com 100-300 mL de líquidos sem calorias 4/4h nas primeiras 24h. Se estes forem tolerados, passa-se à mesma quantidade de líquidos já com nutrientes. Gradualmente, ao longo de três a quatro dias, introduzem-se então alimentos moles e, finalmente, os sólidos. O aporte calórico deve progredir, gradualmente, de 160 para 640 kcal por refeição, das quais mais de metade deve corresponder a hidratos de carbono (HC) (a secreção de enzimas pancreáticas é menor quanto maior for a percentagem de HC).

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Aferir sinais vitais

Administrar analgésicos prescritos

Encorajar o jejum

Observar a dieta (pobre em gorduras e rica em carboidratos)

Orientar o paciente quanto ao uso do álcool, que é totalmente tóxico para o pâncreas.

CONCLUSÃO

O tratamento da pancreatite aguda, apesar do advento de modernos métodos e técnicas, ainda continua desafiador. Devido à multiplicidade de aspectos que pode assumir, a análise de cada caso, tendo em vista a extensão, gravidade e meios existentes no local de atendimento do paciente, é que deverá orientar o tratamento possível, sendo ele sempre individualizado a cada caso.

REFERÊNCIAS

MATHEUS, André Siqueira  and  MACHADO, Marcel Cerqueira Cesar. Tratamento da pancreatite aguda grave: ainda um desafio. Arq. Gastroenterol. [online]. 2008, vol.45, n.3, pp. 179-180. ISSN 0004-2803.  http://dx.doi.org/10.1590/S0004-28032008000300001. 

MEKITARIAN FILHO, Eduardo; CARVALHO, Werther Brunow de  and  SILVA, Felipe Duarte. Pancreatite aguda em pediatria: revisão sistemática da literatura. J. Pediatr. (Rio J.)[online]. 2012, vol.88, n.2, pp. 101-114. ISSN 0021-7557.  http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572012000200002. 

PACHECO, Ricardo Custódio  and  OLIVEIRA, Luiz Carlos Marques de. Relação lipase/amilase nas pancreatites agudas de causa biliar e nas pancreatites agudas/crônicas agudizadas de causa alcoólica. Arq. Gastroenterol. [online]. 2007, vol.44, n.1, pp. 35-38. ISSN 0004-2803.  http://dx.doi.org/10.1590/S0004-28032007000100008. 

SILVA, Rodrigo Altenfelder; PACHECO-JUNIOR, Adhemar Monteiro; MORICZ, André de  and  CAMPOS, Tércio de. Quando e como tratar as complicações na necrose pancreática infectada. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2010, vol.23, n.4, pp. 270-274. ISSN 0102-6720.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-67202010000400013.