Post on 30-Nov-2018
volume 2, 2007 6
Texto de Apoio: Tecendo Saberes
Maria Stela da Costa Gondim e Gerson de Souza Mól
1
Saberes que se entrelaçam
Cores que surgem com um novo aprender... Misturas, tinturas
Linhas que se cruzam compondo novas formas
Mãos e pés num vai-e-vem
Vidas que escondem muitos segredos... Velar, revelar segredos
Vozes que contam toda uma vida de luta, de sofrimento, de trabalho, de alegria
Sustentar, vestir, cobrir... Plantar, colher... Criar, crescer, cortar
Procurar, achar, guardar
Relembrar, repassar, transmitir, ensinar, aprender
VIVER!!!
2
APRESENTAÇÃO
Durante toda a nossa vida, aprendemos uma infinidade de saberes que nos são ensinados pelos nossos pais, tios, avós.
Aprendemos a tomar aquele chá para curar a gripe, aprendemos o momento certo de colocar o pão para assar, a bordar, a plantar
em determinado período. Isso faz parte de nossa formação como seres humanos: o convívio com pessoas que transmitem,
oralmente, seus saberes. Entretanto ao chegarmos na escola, todos estes saberes parecem desnecessários e inferiores aqueles
que nos são apresentados por ela. Mas, muitas vezes, o saber formal que a escola tenta nos ensinar não parece ter sentido. Será
por que não se consegue relacioná-los com a nossa realidade? Será que nossa aprendizagem não teria mais significado se
pudéssemos inter-relacionar os vários saberes e, dentre eles, os saberes formais e os informais? Inter-relacionar saberes
populares, saberes escolares e saberes científicos? Trazer para a escola nossos pais, avós e tantos outros que aprenderam muito
com a vida? Ou levar a escola até eles?
Além disso, ainda temos as questões atualmente debatidas sobre a necessidade de contextualizar em sala de aula e
também de se buscar a interdisciplinaridade para a melhoria da aprendizagem. Nesse sentido, nos propusemos a apresentar, para
você, professor, um material paradidático que possa servir de referência para trabalhos pedagógicos que inter-relacionem saberes
populares e saberes formais na escola. Tais trabalhos enchem de significado a aprendizagem se os saberes populares forem
buscados em sua comunidade, onde a sua escola e os seus alunos estão inseridos.
Compreendemos que, para realizar tais trabalhos, o espaço físico da escola se expande (ou suas fronteiras se alargam) e
inserimos nossos alunos e a nós mesmos em um universo já conhecido por nós, mas, de alguma forma, deixado de lado. E os
nossos colegas professores de outras áreas também são convidados a trabalharem juntos.
Buscando um saber popular presente na vida daqueles que moram na região do Triângulo Mineiro, trabalhamos aqui com a
tecelagem manual em quatro pedais. Para compreender o processo de tecelagem, coletamos depoimentos das artesãs dessa
região e também acompanhamos seu trabalho. Foi um re-descobrir a todo momento, um movimento de “ir e vir” constante. Desse
3
contato com as artesãs foi possível buscar vários outros conhecimentos que poderiam auxiliar a compreender melhor algumas
etapas da tecelagem, a compreender as relações de trabalho existente, as mudanças que passaram a nossa sociedade, a
participação da ciência nestas mudanças.
Assim, esse material foi se constituindo. Primeiramente, fizemos um breve relato sobre a tecelagem manual. Depois,
apresentamos cada uma das artesãs. Ou melhor, elas se apresentam. Daí, passamos a descrever cada uma das etapas realizadas
na tecelagem, a partir de uma breve contextualização sobre qual assunto será abordado. Em seguida, as artesãs falam sobre o
assunto para, depois, virem as problematizações. Essas são questões que poderiam ser levantadas com os nossos alunos para se
compreender melhor, evoluir conceitualmente, teorizar, modelizar. Buscar explicações, correlações, argumentações. Pequenos
textos tratam das questões levantadas, na seção denominada “Tecendo outros saberes”. Tais textos pretendem servir como
referência para a procura de outras fontes para o trabalho em sala de aula, como reportagens de jornais, filmes, livros, artigos de
revista de divulgação científica, músicas, etc. Depois, para você, professor de química, que pode se perguntar quais os conceitos
químicos poderiam ser abordados com aquele assunto ou tema, demos algumas sugestões. E também sugerimos algumas
atividades, alguns experimentos. Não são receitas de bolo, assim como não são os textos que colocamos na seção “Tecendo
outros saberes”. Nossa pretensão é formar nosso aluno como um indivíduo capaz de tomar decisões em nossa sociedade. Ser
cidadão ativo, participante.
Agora é a sua vez! Tente buscar, com seus colegas de trabalho na escola, quais seriam os saberes populares de sua região.
E arrisque-se a fazer algo mais próximo à sua comunidade e aos seus alunos em sua escola.
4
INTRODUÇÃO
Tecer significar fazer o cruzamento de dois sistemas de fios que se encontram perpendiculares, para compor um tecido. A
tecelagem é um processo milenar originado no Oriente Médio, no qual se fazia uso de várias fibras têxteis naturais, como o
algodão, a lã, o linho e a seda e também de corantes naturais para o tingimento das fibras ou do próprio tecido. Os portugueses do
norte deste país tinham tradição em tecelagem doméstica e, quando vieram para o Brasil, difundiram a tecelagem manual no tear
de quatro pedais nas regiões de Minas Gerais – sul e Triângulo Mineiro –, Goiás e norte de São Paulo. Essa tecelagem tinha como
finalidade a fabricação de roupas de cama, mesa e banho (colchas, mantas, lençóis, toalhas) e também roupas de vestir. Assim, os
saberes, práticos, da tecelagem, foram transmitidos de mãe para filha. Saberes de tradição, que podem se perpetuar ou serem
esquecidos.
A técnica de tecelagem com tear de quatro pedais era realizada apenas por mulheres tecelãs e, até meados do século
passado, fazia parte dos muitos de seus afazeres domésticos. As tecelãs, normalmente, moravam na zona rural ou na periferia das
cidades e realizavam a tecelagem para três finalidades básicas: o uso da própria família, o uso da vizinhança ou a comercialização.
Mesmo com finalidades diferentes, pode-se dizer que todas tinham um único propósito: auxiliar no sustento da família.
Com o desenvolvimento científico e tecnológico, nossa sociedade viu-se frente a uma industrialização rápida. Os tecidos
feitos no tear foram substituídos por tecidos industriais, as colchas por cobertores ou edredons. Por isto, hoje é muito raro
encontrar senhoras que ainda tecem roupas e colchas para a sua família. No entanto, esse trabalho começou a ser valorizado
culturalmente, sendo que várias dessas tecedeiras de outrora foram levadas para pequenos centros de preservação de tradições
populares.
Para a realização da tecelagem propriamente dita, são necessárias várias etapas anteriores ao processo de produção do
tecido. Tais etapas compreendem: tosquiar o carneiro para a retirada de lã; colher, descaroçar e limpar o algodão; cardar a lã e/ou
o algodão; fazer o fio; fazer a meada; tingir os fios; fazer o novelo; urdir o fiado (algodão) e/ou a lã e, enfim, tecer no tear de quatro
5
pedais. No Triângulo Mineiro era comum as mulheres participarem da realização de todas as etapas. Em alguns casos, elas se
especializavam em partes do processo: umas teciam, outras cuidavam da fiação e tingimento dos fios de algodão ou de lã. São
desses processos todos que falaremos daqui em diante, ouvindo quem os conhece muito bem. Com a palavra, as artesãs da
região do Triângulo Mineiro.
6
D. Geralda: O nde que eu nasci? E u nasci na Ponte A lta, no m unicípio de L agoa F orm osa. N a zona rural. A h! A gente fazia de tudo. A m esm a coisa que eu aprendi com a m inha m ãe, então a gente casou e continuou fazendo a m esm a coisa, né? M exia com o algodão, fazia o fio, ticia, fazia a ropa pro m arido e os fios vesti pra trabaiá na roça.
D. Sebastiana: E u? Sou do m unicípio de Paineiras. M inha vida toda eu m orei na roça, né? E ntão, só depois que nóis m udano prá U berlândia que tá com trinta e... trinta e um anos. N óis ainda tá aqui. M as, sem pre eu m orava é só na roça. A h! L á eu prantava, capinava, cu ía e eu ainda ticia ainda!
D. Maria: E u sou de m unicípio de A baeté. E la fica pertinho de Paineira. L á agora Paineira já é cidade. M as, quando a gente m orava assim , em fazenda, era perto, m ais perto da Paineira, m ais m unicípio dentro de A baeté, né? L á era a fazenda do m eu pai m esm o. E u aprendi (a tecer) foi com a m inha m ãe, m esm o. E la tinha os apreparo todo.
7
D.Fiica: M inha m ãe m orreu eu tinha dois anos. E u fiquei com a m inha vó m aterna, que ficou m e criano. Tecer, fiar eu aprendi com a m inha tia. E la tocou a roda ca m ão pra m im poder fia até eu treinar cas m ãos, porque eu num tava conta de fazer as duas coisas. Com seis anos de idade eu aprendi a fiar.
Celina: E u aprendi com a m inha m ãe. A h, deusde criança. M inha m ãe trabalha, m exe com isso até hoje. A gente nasceu e cresceu naquilo ali, né? E ntão, a gente fom o aprendeno. E la m e fala que com sete anos eu já sabia fiar. E u não tenho m uita lem brança não. N a época o que a gente gostava m uito era de brincar, né? E ntão...M as aí a gente foi aprendeno e quando eu tava com os m eus doze anos m ais ou m enos eu já com ecei a tecer e por aí fu i. Tô até hoje.
Terezinha: A prendi com a m inha m ãe. (Ela) m ora na fazenda até hoje. (Seu nome é) B enedita, m as lá ela é conhecida com o D . F iica. L á na fazenda, lá a gente aprendeu a tecer, fazer o fio, tosquiar os carneiro.
8
Sueli: E u aprendi com a m inha m ãe tam bém . Q ue inclusive nós som os três irm ãs pra falar de um a m ãe só: a D . F iica. E u aprendi com ela o básico m esm o, né? A s colchas, m ais o tear, fazer o fio tam bém . N a roda m anual. E la colocava a gente pra segurar as tram a pra ela e ia ajudar, né? D esde pequenininha ela colocava a gente ajudar. E tinha que fazer, né? A í a gente foi fazeno, fazeno, até que no final, três vieram parar aqui.
D. Maria Luísa: (Eu) m orava na fazenda. A prendi a fiar (e a tecer) com dez anos tam bém . E , da m oda, eu e m inha irm ã, nois tecia os dois tear juntinho assim , ó. U m a num , a outra noutro, né? O dia inteirinho nois teceno!! Conversando... cantano.
D. Valdivina: (Nasci) na Serra da M oeda. A prendi a tecer com a m am ãe, tingir. E sse ano que nóis tecem o, que a m am ãe ensinou nóis a tecer, o povo tudo vestia só fiado de algodão. P lantava a sem ente, colhia o algodão, eu ajudava a coier nas lavouras, depois levava pra casa, escaroçava e cardava, tecia, fiava. teci
9
D. Liósia: A (minha) idade é sessenta... setenta e um .E u num sei tecer. E u só sou fiadeira! T ingir, da m oda, eu tingia assim , pra m im , né? Porque eu m exia com corte de calça... E u fiava e ia tingir, né? O fiado. Ih! E u era pequena. E u era pequena quando eu aprendi a fiar. A í, da m oda, a gente já ia cresceno e... trabalhava pros otros, né?
Atualmente a D.Liósia deve estar junto
ao Senhor, ensinando a fiar e a tingir os
fios do Céu. Ela faleceu em julho de
2008, na cidade de Perdizes, Minas
Gerais.
Agradecemos e homenageamos a
D.Liósia, que nos ensinou a tingir e a
reconhecer as plantas usadas no
tingimento.
D.Liósia: D idale, boizinho, as foia, né? Q ue sai tinta. A gente encharca a ropa ali, daí passa barro na ropa e põe esquentá. Põe esquentá no sole.
D.Liósia: A quaresm inha é só pra lá... Porque tem da pequena. D e tingir lã, ela é da pequena... E ela é preguenta. A gora, aquela do brejo dá arvona grande, um a flor roxa.
D.Liósia: M as o anil é só pra esquadrejar, né? Prá fazer os quadrinho... É éé... F aiz riscado assim . D.Liósia: Tem um a casca. E u esqueci o nom e dessa casca, m enina! A tinta ficava assim m eio roxa.
D.Liósia: O s ferro su jo, né? Pono os ferro ali de m oio, né? M uitos dias. D eixa aquilo lá, né? D e m oio.
10
TOSQUIANDO O CARNEIRO
As artesãs, normalmente, moravam na zona
rural ou próxima a elas. O sustento da família
era obtido das criações de porco e galinha, da
produção da roça e da horta e também da
tecelagem. Dela eram obtidas as roupas de
cama, de banho e de vestir. Para fazer a
tecelagem, são necessárias fibras. Uma das
fibras usadas na tecelagem manual é a lã. Ela
é cortada do carneiro, quando possui
aproximadamente 10 cm de comprimento. O
processo, denominado tosquia, era feito duas
vezes ao ano, nos bimestres fevereiro/março
e outubro/novembro. As artesãs e sua família
reuniam os carneiros, eles eram lavados e
depois cada animal era amarrado pelas pernas
e colocado em uma mesa. Em seguida, sua lã
era escovada para a retirada de sujeira, para
depois praticar a tosquia com uma tesoura
apropriada. Hoje, algumas artesãs ainda
fazem a tosquia, embora seja mais difícil
encontrar criações de carneiro na região do
Triângulo Mineiro.
www.mun-guarda.pt D. Valdivina: A lã cortava do carneiro. A lã, lavava o carneiro prim eiro, né? D epois cortava, deixava secar, cardava, fiava. Sueli: G eralm ente, é abril e setem bro. D uas vezes por ano. A gente tinha que am arrá ele na árvore, por exem plo, na cerca de aram e farpado, sei lá onde, né? M arrava porque senão eles rolava na terra de novo, perdia todo o trabalho... M ais pra lavá o carneiro era m ais com plicado ainda. Porque ele é terrível pra lavá, ele não gosta de água. N em pensar, né? A í, era divertido! M as era m uito com plicado pra lavá o carneiro. E les ficava lim po e a gente su ja. A gente term inava de
lavá ele, tinha que tom á banho porque tava m ais su jo do que o carneiro. Celina: E até um tem po atrás, quando a gente ainda tinha – m inhas irm ãs daqui ainda era solteira – tinha carneiro. A í, depois que foram todo m undo m udando, ela acabô com os carneiro, m as tem um vizinho lá que tem criação de carneiro, dá a lã pra ela. E la vai lá ainda, tosquia o carneiro, é poquinho, né? Porque ela faz m esm o assim : poquinho. A í, por lá m esm o que ela consegue as coisas. D. Fiica: E u possuía carneiro em casa, depois que eu casei, eu tinha os carneiro em casa. Tosquiava os carneiro. L evava no rego, tinha bica d’água lá , dava banho no carneiro. E le ficava clarinho! Punha, am arrava ele no sol pra aquilo secar. E cortava a lã lim pinha. Porque hoje em dia tosquiava su jo m esm o, né? D epois é que lava a lã. D. Sebastiana: A lã tem treis cor, né? Tem branca, tem preta, e tem ... B ranca e ganga e preta. D. Geralda: Carneiro? N ão. A lã nóis com prava. Com prava a lã pura. N óis fiava e tingia.
11
Ao tocarmos a lã do carneiro com as mãos, temos a sensação
de maciez. O que torna a lã macia?
farmakognozja.farmacja.pl
Tecendo outros saberes: a lanolina
O ser humano faz uso de vários
materiais provenientes de animais e
plantas. Dentre estes, temos os óleos
vegetais e animais. Estes últimos são
extraídos dos animais para o uso nas
indústrias alimentícia, cosmética,
farmacêutica, de produtos de limpeza e
até na indústria de perfumes. O óleo
obtido a partir do veado almiscareiro, por
exemplo, é usado na fragrância almíscar.
Na indústria de cosméticos, o ingrediente
básico utilizado é a lanolina, um material
extraído da lã do carneiro, formado por
uma mistura de ácidos graxos e ésteres
que lhe confere maciez e suavidade. A
lanolina é encontrada na suarda, um
material produzido pelas glândulas
sebáceas e sudoríparas do animal,
responsável pela proteção da fibra da lã
contra a ação dos agentes externos
como o sol, a chuva e o vento. A suarda
possui uma parte solúvel em água e
outra insolúvel, na qual se encontra a
lanolina, que é obtida como subproduto
da limpeza da lã bruta, para depois ser
refinada, desodorizada, descorada e
seca. A hidratação da pele obtida pelo
uso desses cosméticos deve-se às
propriedades hidrofílicas da lanolina.
Conceitos químicos relacionados
- Materiais e substâncias.
- Forças intermoleculares.
- Funções orgânicas.
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que tragam
para a escola embalagens de
cosméticos para que, em grupos, eles
analisem quais as substâncias presentes
e suas finalidades nos mesmos. Buscar
explicações na estrutura da substância
para a finalidade a ela atribuída.
- Produzir, com os estudantes,
cosméticos na escola, a fim de
sedimentar as idéias já levantadas para
as finalidades de cada substância.
- Debater questões relativas à busca do
ser humano pela estética e longevidade
e o uso que a indústria de cosméticos
faz disto.
12
É HORA DE COLHER O ALGODÃO!
Outra fibra muito utilizada na tecelagem
manual é o algodão. Ele era plantado no
período das chuvas, muitas vezes entre as
plantações de milho, e sua colheita era
realizada manualmente entre os meses de
maio e junho. Após a colheita, os chumaços
de algodão eram colocados ao sol para secar
e facilitar a retirada das sementes.
Atualmente, são utilizadas colheitadeiras e a
produção de algodão é alta. Entretanto, as
artesãs que trabalham com o algodão colhido
pela colheitadeira reclamam que ele vem
muito sujo.
D. Fiica: O algodão a gente cuía nas roça. A té aqui na horta a gente coi, ocê que vê? A judava a colhê o algodão, ajudava a descaroçá... E m deusde pequena m esm o, deusde essa época de seis anos que eu aprendi a fiar. D. Geralda: N óis plantava e nóis m esm o cuía o algodão. A gente panhava e catava e escaroçava, cardava, fiava e ticia. N óis plantava na época que plantava roça, sem pre era m ês de outubro, novem bro... A í, a gente plantava e plantava sem ente de algodão no m eio do m ilho, da roça de m ilho. E aí a gente cuía lá, no m eio do m ilho. P lantá um canteiro só de sem ente de algodão nóis num prantava não. T inha gente que plantava.
O nde plantava algodão, plantava algodão só. N óis nunca plantou assim não. D. Maria Luísa: O algodão, antigam ente nóis tinha roça. N óis prantava, né? Prantava e colhia e fiava e fazia. M as tam bém , quando não fiava, nóis com prava o fiado pronto. Já, já prontinho, era só. T into ou... Se quisesse tinto dum a cor com prava, doutra, com prava, né? E ra só tecer. N um tinha que tingir, né? D. Sebastiana: Tem uns algodão ganga. Tem tam bém o algodão ganga, com o tem a lã ganga, tem a lã preta. D. Geralda: E le é m eio verde, porque a Ione, quando... E la que arranjô desse algodão. D iz que foi lá naquela fazenda do Capim B ranco, fazenda da M onsanto. Parece que ele é cruzado com algum . E le é diferente. E le parece que tem seda.
13
Como se obtém um algodão colorido? Ele é natural? São feitas modificações em sua
estrutura?
transgenicos.vilabol.uol.com.br
Tecendo outros saberes: os organismos geneticamente
modificados (OGM) O algodão é uma planta do gênero
Gossypium, família Malvaceae utilizado,
principalmente, na indústria têxtil e de
fiação. Os incas e algumas outras
civilizações muito antigas cultivavam
variedades de algodão com fibra
colorida, que ocorrem naturalmente.
Entretanto, a partir da Revolução
Industrial, a tecelagem manual foi
substituída pela máquina, exigindo-se
fibras mais longas e resistentes, como as
do algodão branco. Daí, o algodão
colorido foi descartado.
Atualmente, a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
desenvolve um método para a obtenção
de algodão colorido como produto
diferenciado para a região nordestina. A
empresa afirma que o uso do algodão
colorido reduz os custos de produção
para a indústria têxtil e o lançamento de
efluentes químicos e tóxicos, por
dispensarem o uso de corantes.
O desenvolvimento de algodão colorido
pela Embrapa é realizado utilizando-se
métodos de melhoramento genético
convencionais e sua pluma tem tido
crescente demanda no mercado, sendo
encontrados algodão de cor marrom,
verde, rubi. Um organismo é
geneticamente modificado quando seu
quando seu DNA é alterado em
laboratório. A utilização de OGM
(organismos geneticamente modificados)
traz questões polêmicas, já que existe
uma dificuldade em prever, testar e
monitorar os efeitos diretos e indiretos do
cultivo de plantas transgênicas.
Conceitos químicos relacionados
- Química orgânica.
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar, os
professores (biologia, química,
sociologia, história) podem solicitar aos
estudantes que tragam reportagens
sobre OGM e promover um debate sobre
o uso de alimentos transgênicos, os
movimentos sociais e as ONG criadas
para proteção ao meio ambiente, etc.
14
- Pode-se também realizar um júri, no
qual os participantes (estudantes)
deveriam se posicionar a respeito dos
OGM, com argumentos prós e contra.
RETIRANDO A SEMENTE DO
ALGODÃO
Para retirar a semente do algodão, as artesãs
utilizam o descaroçador. Ele consiste em dois
cilindros giratórios, acoplados a manivelas
em um suporte que os prende a um banco de
madeira. Em cada lado do banco assenta-se
uma pessoa. Coloca-se o chumaço de
algodão com as sementes em um dos lados e,
em seguida, movimentam-se as manivelas em
sentido horário, fazendo com que de um lado
passe o algodão, enquanto do outro fiquem
retidos os caroços (sementes).
D. Sebastiana:::: D iscaroçador de algodão! É éééé, pra tirá a sem ente, né? D. Fiica: (Eu) ajudava a colher o algodão, ajudava a descaroçar... E m deusde pequena m esm o, deusde essa época de seis anos que eu aprendi a fiá. O descaroçador tá ali na cozinha. É isso aqui. Tá ru im de descaroçar. Q uando tá choveno assim o algodão fica ru im de descaroçar. (É) de dois. Porque um sozinho num descaroça. A í, ó. N um fica nenhum a sem ente. Terezinha: O algodão quase não fazia não. F azia tam bém , m as era m enos que a lã. O algodão eu num gostei m uito de m exer com ele não. A h! E u achava m ais com plicado m exer com ele do que a lã. Cê tinha que tirá os carocinhos, aí eu não gostava m uito de
m exer com o algodão não. P referia m ais a lã m esm o.
Todas as plantas possuem sementes? Elas podem ser
classificadas de acordo com o tipo de semente?
curlygirl.no.sapo.pt/imagens/sementedicot.jpg
Tecendo outros saberes: as angiospermas
Originárias das plantas pteridófitas, as
primeiras plantas com sementes
pertencem ao grupo das espermatófitas.
15
A semente protege o embrião da planta
contra a perda de água e ajuda na
dispersão. As espermatófitas se dividem
em dois grupos: as gimnospermas, que
não possuem fruto e as angiospermas,
que possuem fruto. As angiospermas
apresentam características especiais
como sementes, flores, frutos e um ciclo
de vida distinto de todas as outras
plantas. Elas podem ser divididas em
duas grandes classes: as
monocotiledôneas e as dicotiledôneas.
Cotilédone é a primeira folha que surge
quando a semente germina e sua função
é nutrir a planta desde o início do seu
crescimento.
As monocotiledôneas possuem folhas
com nervuras paralelas, raiz fasciculada
(sem raiz principal), flores trímeras e
incluem famílias de plantas como as
gramíneas, orquídeas, liliáceas e
palmeiras.
As dicotiledôneas possuem folhas com
nervuras ramificadas, raiz axial (com raiz
principal), flores tetrâmeras e são mais
diversificadas, incluindo desde arbustos
e plantas herbáceas (não lenhosas) até
grandes árvores. No caso, o algodão é
uma angiosperma dicotiledônea.
Atualmente, existe um grupo de
pesquisa denominado APG (Grupo de
Filogenia das Angiospermas), que
propõe uma nova forma de classificação
para as angiospermas, baseando-se em
análise de certas proteínas e do DNA.
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que tragam
amostras de caule, folhas, frutos,
sementes para se realizar montar uma
carpoteca e lâminas das amostras
identificadas de acordo com a
classificação botânica.
DEIXAR O ALGODÃO LIMPINHO
O algodão vem sujo da colheita. Para limpá-
lo e também abrir (destrinçar) as suas fibras,
as artesãs utilizam o batedor. Ele consiste de
um arco feito de madeira (normalmente
bambu) e cordão que, ao ser vibrado
sucessivamente junto às fibras de algodão, as
mesmas prendem-se ao cordão do arco e se
abrem e a sujeira presa cai no chão.
D. Fiica: A quele de bater? A quele eu num tenho não. E u já possuí, m as num tenho agora não. Já colhe ele (o algodão) lim pinho. A lgum cisquinho que tem , a gente cata assim , ó. D epois descaroça ele,
16
descaroça ele lim pinho. (Bater é) só o algodão.
O algodão foi separado da sujeira? Como podemos separar
os materiais e substâncias?
www.american.edu/TED/images4/cachac
a_alambique.jpg Tecendo outros saberes: processos de separação
Na natureza é encontrada uma grande
variedade de materiais. Estes materiais
são formados por diferentes substâncias.
Para se obter separadamente as
substâncias presentes em um material,
podem ser utilizados diferentes métodos
de separação, dependendo das
propriedades físicas e químicas das
mesmas. No caso da limpeza do
algodão, temos também um método de
separação, pois o algodão é separado
das impurezas (ciscos). Outros exemplos
de métodos de separação são a filtração,
a extração e a destilação.
A filtração consiste em se separar um
sólido de um líquido ou de um partir da
utilização de um meio filtrante. Ela é
empregada nos tratamentos de água e
também em nossas casas, quando se
coa o café ou se aspira o pó.
A extração é a retirada de uma ou mais
substâncias de um material adicionando-
se uma outra substância (solvente) na
qual uma das substâncias é solubilizada.
Para se realizar a purificação de minério,
faz-se uso da extração, bem como para
ser feito o café (a água é o solvente que
extrai algumas substâncias presentes no
pó de café).
A destilação é utilizada para separar
misturas homogêneas (soluções)
constituídas de duas ou mais
substâncias líquidas ou de sólidos
totalmente dissolvidos em líquido. Ao se
aquecer a solução, o componente mais
volátil (menor temperatura de ebulição)
se vaporiza primeiro e depois, quando
entra em contato com uma superfície fria
de um condensador, passa ao estado
líquido novamente (é condensado). Para
se fabricar o etanol e também a cachaça,
as indústrias utilizam da destilação. A
indústria petrolífera também faz uso da
destilação (fracionada) para obter os
diferentes componentes do petróleo
(gasolina, querosene, gás natural).
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que
proponham e executem a separação de
17
diferentes substâncias ou materiais
(areia e água, sal e água, outros).
Conceitos químicos relacionados
- Processos de separação.
- Interações intermoleculares.
- Propriedades físicas.
PENTEAR AS FIBRAS
Para que as fibras fiquem mais paralelas,
destrinçadas e retirar o restante de sujeira das
fibras, formando uma fita ou pasta
homogênea, a lã e o algodão são penteados
ou cardados. O processo chama-se cardação e
é realizado com um par de cardas, que são
compostas de uma tábua de madeira
retangular com um cabo localizado no maior
lado da mesma. A sua parte interna é forrada
com um tecido, donde se encontram presos
centenas de pontas de aço recurvadas
dispostas paralelamente. Para cardar, segura-
se uma das cardas com uma das mãos,
recobrindo-a com o algodão ou lã. Esta carda
é atritada na outra carda, que permanece
imóvel, enquanto a primeira é movimentada
no sentido de encontro ao corpo da pessoa
que está usando. Tal movimento, em sentido
único como o ato de escovar os cabelos,
repete-se até que a carda imóvel fique cheia
de fibras. Quando isto acontece, esfregam-se
as fibras na carda móvel e continua-se o
procedimento até que as fibras formem uma
pasta de fios paralelos. Nesse momento a
pasta é depositada em um balaio e outro
chumaço de algodão ou lã é colocado na
carda. Atualmente, este processo é feito
eletronicamente na indústria.
D. Sebastiana: E u cardava o algodão de noite, aquela balaiada de algodão, assim . D ebaixo da lam parina! Sueli: V em (a lã) su jo da fazenda, a gente tem que lavá, pô pra secar, cardar. U ns fala cardá, outros fala pentiá a lã. E aquele processo todo de cardar a lã, fazer as pastas, fazer os fio, e ir ou pra tintura ou natural. D. Maria Luísa: A qui, ó . O s dente delas é m olinho. E u tenho as outras, m as elas sum iu ali naquela bagunça. A gente faz com ela assim , o dente vai tom bando, sabe? A ssim , ó. Sueli: A gente com pra ela (a lã) do R io G rande do Sul. Já vem assim cardada. É industrializada. Só que eu não conheço. Já m e falaram que é feita num a cardadeira elétrica. Só que eu num conheço não. N ão
18
tive a oportunidade. A qui n inguém conhece a cardadeira elétrica. Como e por que ocorreram as
mudanças de processos artesanais para os industriais? Quais os fatores que levaram a
elas? Quais as suas conseqüências em nossa
sociedade?
paginas.terra.com.br
Tecendo outros saberes: a revolução industrial
Até o século XI, a civilização européia
vivia em um sistema feudal. Entretanto,
com a intensificação do comércio, o
crescimento das cidades e a expansão
marítima, que proporcionou o contato
com outras civilizações, as relações
estabelecidas no sistema feudal
sofreram um processo de modificação
que, ao poucos, levou ao sistema
capitalista. Novas técnicas foram
implementadas e, dentre elas, o
aperfeiçoamento da roca e do tear,
ambos usados na tecelagem. As formas
de produção modificaram-se cada vez
mais. Se antes uma única pessoa era o
realizador de todas as etapas de um
determinado processo (no nosso caso, a
tecelagem), agora ela exercia apenas
uma das etapas. Os meios de produção
não pertenciam mais àquele que
executava o trabalho, mas a um
proprietário. O trabalhador vendia a sua
força de trabalho. A divisão de tarefas
aumentava a produção e diminuía o
tempo gasto para confecção de
determinado produto, caracterizando o
sistema de manufatura. Aos poucos,
este sistema já não satisfazia as
necessidades de lucro do proprietário. A
ciência desenvolvia máquinas a vapor e
motores elétricos e a industrialização
aumentava. As mãos do trabalhador
eram substituídas por máquinas, como a
carda elétrica e o tear mecânico.
A industrialização levou a uma produção
em massa e uma não-diferenciação dos
produtos, em contrapartida à produção
artesanal que, embora mais lenta e cara
(comparativamente ao produto
industrial), oferecia um produto com
características próprias, personalizado.
As mudanças ocorridas durante este
período foram responsáveis por
revoluções sociais e agrícolas que
afetaram toda a nossa sociedade.
19
Conceitos químicos relacionados
- Termoquímica (calor, entalpia).
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar
(ciências humanas e naturais), debater
as mudanças ocorridas nas relações de
trabalho a partir da reprodução do filme
“Tempos Modernos”, de Charles Chaplin,
e analisar o papel da ciência e da
tecnologia neste período.
- Visitar uma indústria têxtil com os
estudantes e solicitar que os mesmos
façam um paralelo entre os processos
artesanais e industriais.
FAZER O FIO
Na hora de fazer o fio, utiliza-se a roda de
fiar. Antigamente, era comum serem
realizados mutirões de fiação. Uma fiandeira
convidava aquelas que moravam próximas
para fiar. Cada uma levava a sua roda e elas
fiavam (e cantavam) o dia inteiro. Para fiar, a
pasta obtida na carda é alongada e retorcida
utilizando-se os dedos da mão direita,
enquanto a mão esquerda puxa o fio, dando-
lhe a espessura e fazendo-o “crescer”. A
torção faz com que a fibra adquira maior
resistência à tração. À medida que o fio vai
aumentando, ele é enrolado em um fuso, que
gira rapidamente, preenchendo uma
canelinha. Para que o fuso se movimente, ele
é preso por fios em uma roda, que é girada a
partir de um pedal acionado pela fiandeira.
Na indústria, são utilizados tipos diferentes
de máquinas de fiar. Elas preenchem
rapidamente os denominados filatórios de
linha.
D. Sebastiana: E las levava a lã delas pra fiar à m eia e eu fiava. M eus fios foi tudo ropa deles foi feita de lã. E u fiava fin iiiim , fin iiiim e tingia, fazia palitozinho pra eles, fazia paninho, que eles fala flanela hoje, fazia pano pra eles. Tudo assim . D. Liósia: A m inha m ãe fiava linha de costurar assim , m enina, ó. E la fazia turcida. O povo pagava ela pro m ode fiar linha pra rem endar roupa. E ra igual cabelo. M as, eu já num tinha essa paciência igual ela não. Sueli: M inha m ãe só faz do fin inho. Tem que ser a m esm a espessura pro fio ficá da m esm a grossura, né? Senão fica um m ais grosso e um m ais fino. Se eu pegá a lã e fô puxando ela, ó, ela vai ficano m ais fina. A í os fios fica fin inho, ó.
20
D. Sebastiana: M inha m ãe, ela era, ela num gostava de ensinar a gente de jeito nenhum . E la ficava brava. E la ia fiar, quando ela ia passá a m ão ... prá busca água, eu corria lá pra roda e ia fiá, né? E la chegava: “U ai, pára com isto aqui, cadê m inha linha da m inha roda? Cê vai fiá a linha ru im ”. A h, m ais eu gostava, eu queria, num tinha roda pra m im aprendê, né?
Como a roda de fiar se movimenta? A sua velocidade
varia?
futebol.incubadora.fapesp.br
Tecendo outros saberes: aceleração
A velocidade de um objeto em
movimento pode variar em intensidade,
direção e sentido e o vetor velocidade
instantânea é sempre tangente à
trajetória. Para indicar a variação da
velocidade em relação a certo intervalo
de tempo, usamos a aceleração. Para o
movimento retilíneo, a direção da
velocidade não varia. Se a resultante de
todas as forças atuando em um objeto
em movimento retilíneo for nula,
segundo a primeira lei de Newton – lei
da inércia: na ausência de forças
externas, um corpo mantém seu estado
de movimento –, sua velocidade
permanecerá constante e não haverá
aceleração. Entretanto, quando o
movimento é circular, a velocidade varia
pelo menos na direção. Existirá uma
força atuando: a força centrípeta, que é
dirigida para o centro da curva eixo de
rotação. Sendo assim, sempre existirá
uma aceleração. Se esta variação da
velocidade dever-se apenas à mudança
de direção, a aceleração instantânea é
um vetor que aponta também para o
centro da curva, sendo denominada
aceleração centrípeta. Se a variação for
também em intensidade, a direção da
aceleração instantânea não será voltada
mais para o centro. Ela será composta
por duas parcelas: uma voltada para o
centro e outra tangente à curva num
certo ponto.
Sugestão de atividade para o
professor - Relacionar o manuseio da roda de fiar
com o movimento circular.
FAZER A MEADA E O NOVELO
Para que o tingimento das fibras, a ser
realizado a posteriori, seja homogêneo e
21
também para evitar que o fio se arrebente ou
embarace, os fios são reunidos em meadas.
Para se fazer a meada, as artesãs utilizam um
instrumento denominado dobradoura,
dobradeira ou ainda meadeira. O fio é
enrolado na dobradoura, que gira em sentido
anti-horário enquanto é preenchida até formar
uma meada. O mesmo instrumento é utilizado
para se fazer o novelo, utilizado
posteriormente na etapa de urdição. Porém, a
dobradoura gira em sentido horário, contrário
aquele usado para se fazer a meada.
D. Valdivina: A gente colocava, fazia as m eada na dobadeira...
D. Fiica: A dobadeira é pra fazer as m eada e dobrar, né? Q uando tinge, usa a dobadora, do m odo do povo. D. Maria Luísa: F az m eada, né? N a dobradora. D. Maria Luísa: F az a m eada e depois na hora de dobrar, torna a por na dobradora, né? Pra fazer o novelo. D. Sebastiana: Cê sabe, tem que... a linha, ela é novelada, né? F eito os novelo.
Por que o sentido de rotação da dobradoura muda quando se
quer fazer um novelo e quando se quer fazer uma meada?
cienciahoje.uol.com.br
Tecendo outros saberes: a conservação do momento
angular “Um, dois, três e quatro, dobro a perna e
dou um salto, viro e me viro ao revés...”
A bailarina, para girar sobre si mesma
com maior rapidez, fecha seus braços.
Isto significa que sua velocidade de
rotação aumenta. Se os seus braços
permanecerem abertos, haverá uma
inércia rotacional, que é denominada
momento de inércia (I). Assim como a
massa é uma medida de resistência ao
movimento de translação, o momento de
inércia é uma medida de resistência ao
movimento de rotação. Esta grandeza
física é dependente da distribuição de
massa em relação ao eixo de rotação e
da massa do corpo. Isto significa que o
momento de inércia varia não só de um
objeto para outro, como também em um
mesmo objeto, dependendo de seu eixo
de rotação. Para relacionar o momento
22
de inércia com a rotação de um corpo,
usamos a grandeza física momento
angular, matematicamente, definida
como o produto do momento inércia pela
velocidade angular do corpo. Quando
nenhum torque (ou momento de força)
externo atua sobre um corpo, existe a
conservação do momento angular. A
partir desta teoria, podemos
compreender porque dois objetos
acoplados um ao outro, quando entram
em movimento de rotação, giram em
sentidos opostos. Existe uma
compensação. Esta teoria também
explica o controle que a bailarina exerce
sobre a sua rotação ao abrir e fechar
seus braços: o momento angular se
conserva!
Sugestão de atividade para o professor
- Realizar uma atividade para discutir o
princípio da conservação do momento
angular utilizando duas latinhas
(refrigerante, extrato de tomate)
acopladas por um fio (barbante) e
relacionar a atividade com a etapa de
enovelamento na dobradoura.
AGORA, O TINGIMENTO
O tingimento das fibras, antigamente, era
realizado utilizando-se ramos e cascas de
plantas, normalmente provenientes do
cerrado, ou ainda pedaços de ferro velho para
a obtenção da cor ferrugem. O anil (ou
anileira), algumas vezes, era plantado
juntamente com a roça. As outras plantas
eram encontradas naturalmente próximas à
moradia das artesãs. Elas voltavam de seu
trabalho de coleta carregando um saco cheio
de ramos e cascas de árvores. Normalmente,
o tingimento era realizado utilizando-se
tachos de cobre, ferro, ou alumínio ou ainda
potes de barro. Dependendo do utensílio
utilizado, pode-se ter uma variação na
tonalidade da cor ou até mesmo na própria
cor.
D. Geralda: A gente tingia no anil, tingia de ferruge, tingia de casca de pau. D. Sebastiana: Tingia de toda cor! T ingia de anil, que é de azul. T ingia de ferruge. D. Valdivina: A hora de tingir, m uita gente deixava pra tingir o pano. A gora, nóis não. N óis tingia o fiado no anil pra num desbotar. D. Geralda: (fiado) é de algodão, né? É a linha de algodão.
23
O que são as cores? Por que só enxergamos cor em ambientes
iluminados?
www.revistaparadoxo.com
Tecendo outros saberes: as cores
Um dos produtos da interação da luz
com a matéria é a reflexão da primeira
em uma determinada faixa de energia.
As substâncias presentes nos materiais
refletem a luz que chega ao olho
humano. Newton, dentre os seus vários
estudos, pesquisou a propagação da luz
e a formação das cores e conseguiu, a
partir de um prisma, fazer a separação
das mesmas.
A luz é uma forma de energia e
apresenta caráter de onda e de partícula.
As ondas da luz são eletromagnéticas e,
para cada comprimento de onda,
associa-se uma quantidade de energia e
uma cor. Assim, pode ser obtido o
espectro eletromagnético da luz.
O sistema visual do ser humano só
consegue detectar as ondas que estão
na faixa de 400-700 nm, denominada
região do visível. Como o ser humano só
pode perceber a cor nesta região do
visível, as substâncias que causam
sensação de cor também devem agir
absorvendo e refletindo comprimentos
de onda em tal região. Substâncias cujas
moléculas possuem ligações duplas
conjugadas (muitos elétrons
deslocalizados), como as aromáticas,
têm esta característica, pois, parte da luz
é absorvida por suas moléculas, e o
restante da luz refletida e pode ser
detectada pelo sistema visual humano.
Embora grande parte dessas
substâncias seja orgânica, podemos
também observar a cor em substâncias
inorgânicas, como os sais de cobre.
Conceitos químicos relacionados
- Substâncias orgânicas.
- Modelos atômicos de Bohr e atual.
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar (física e
química), os professores podem solicitar
aos estudantes que tragam cartões
coloridos (cores primárias, preto e
branco) e papel celofane para investigar
a interação da luz com os objetos a partir
do uso de lâmpadas coloridas. Também
24
pode-se proceder a uma cromatografia
de papel utilizando canetinha hidrocor.
PARA TIRAR A SUJEIRA
Antes de realizar o tingimento e para garantir
que o mesmo fosse mais homogêneo e a tinta
“pegasse”, as meadas são lavadas com água e
sabão para a retirada da sujeira. O sabão era
feito por elas a partir da gordura do porco
(sebo) e do uso de cinzas.
www.naturlink.pt
D. Fiica: U ai, pra tingir a gente com prava a tinta e lavava a m eada. L avava com sabão, bem lavadim para num ficar su jinho nenhum . D. Geralda: E , toda, toda tinta que... Isso aí eu não falei! Toda a tinta que a gente vai tingi, prim eiram ente a gente ensaboa o fiado
com o sabão, rum a ele de m oio na água de sabão pra ele incharcá. Se rum á ele assim sequim , se a gente rum á ele assim , m ancha tudo. É , num pega, num presta. A í a gente tem que rum á ele de m oio, depois pra rum á na tinta. R um a, depois só enxágua na água pra tirá o sal que pôs na tinta, sabe? N um passa sabão traveis não. Sabão a gente passa só prele incharcá. Só prele ficá de m oio. D. Maria Luísa: Tem que lavar prim eiro com sabão pra tirar a su jeira das m ãos da gente. Por exem plo, se for quem fia, né? T irar as m anteiga pra depois tingir. P ra poder pegar a tinta bem , né? E nxágua bem enxaguado e chucha na, na tinta. M olhada. Como e por que o sabão limpa?
O que é o sabão?
www.cdcc.sc.usp.br
Tecendo outros saberes: o sabão
Antigamente, o sabão era obtido a partir
do cozimento de sebo de animais com
cinzas de madeira. Todavia, foi só no
século XIX que se compreendeu o
processo químico envolvido na
fabricação do sabão. Qualquer reação
de um éster com uma base para produzir
um álcool e o sal de ácido é chamada
reação de saponificação. É desta forma
que obtemos o sabão, ou seja, o sal de
um ácido graxo. Ele é constituído por
moléculas anfipáticas, que são aquelas
que possuem uma porção polar solúvel
em água (hidrofílica) e uma porção
apolar que se dissolve em gordura
(lipofílica). E como o sabão limpa? O que
acontece é que o sabão, ao ser colocado
em água, separa-se em dois íons: o
cátion do metal e o ânion carboxilato.
Este ânion é formado pela parte
25
hidrofílica (polar: COO-) e a parte
lipofílica (apolar: cadeia carbônica). A
sujeira, geralmente, possui quantidades
de gordura, que solubilizam a porção
lipofílica do sabão, formando micelas.
Elas são agregados esféricos com a
porção externa voltada para as
moléculas de água, enquanto a porção
interna volta-se para o centro, na qual
encontra-se a parte lipofílica,
“aprisionando” a sujeira. Assim, as
micelas passam a se repelir mutuamente
por estar revestida por uma camada de
cargas. Como elas estão em suspensão,
podem ser removidas pela água. Ou
seja, o sabão é um agente umectante
que diminui a tensão superficial
observada nos solventes (como a água),
permitindo maior contato dos corpos com
os líquidos, que realmente limpam.
Conceitos químicos relacionados
- Forças intermoleculares.
- Colóides.
- Reações orgânicas (saponificação).
- Funções orgânicas.
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que tragam
resíduos de óleo de fritura (óleo
comestível) e preparar com os mesmos
um sabão caseiro.
- O professor pode trazer reportagens
que abordem o descarte de sabões e
detergentes nos rios (desequilíbrio
ecológico) e promover um debate sobre
questões ambientais.
TINGIR DE FERRUGEM “PRA
FICAR BONITO”!
Para que o tecido fosse mais colorido,
principalmente aquele usado para se fazer
calças masculinas, fazia-se o riscado de
ferrugem. Esta cor era obtida do
enferrujamento de materiais de ferro velho
comuns naquela época, como as ferraduras
de cavalo. Elas eram colocadas em um banho
com água, sal e rapadura, juntamente com as
meadas, que permaneciam ali por vários dias
até obter a cor desejada. O sal aumenta a
condutividade da água, acelerando a
transformação química.
26
Sueli: E u num sei te falar é de todo o processo, porque é igual eu te falei, eu não interessava m uito, m as tem toda um a técnica que coloca pedaços de ferro enferru jado e coloca a lã e dá a cor ferrugem . F ica um a cor m uito bonita, m as é usado, é feito com ferrage, cura de ferragem . D. Maria Luísa: D a ferrugem , é de ferro. Junta tudo quanto é ferro velho, né? E põe dentro dum a vasia e deixa a ferrugem sair aí, depois põe o fiado. É éé. D epois eu acho que passa a dicuada tam bém . E ssa dicuada de cinza nele prá ele ficar um am arelo clarim , bunito, sabe? Põe pra secar. A ntigam ente, o povo fazia m uito ropa era com fer... essas. T ingia, quando não tinha o fiado ganga. Porque tem o algodão ganga, né? D. Geralda: E de ferrugem rum a os ferro de m oio. A quela água enferru jada que fica a gente passa naquela água e dali passa na dicuada. N aquele tem po era dicuada, hoje, se quisé m exê com essas coisa tem que passá é num a água com um pouquinho de soda, né? Prá fazê o m esm o efeito da dicuada e põe no sol. A í ele dá a cor. D. Sebastiana: T ingia de ferruge. Cê conhece o que é ferruge? Conhece, né? U ai, eu punha uns caco de m oio dentro dum a vasia... E u
gostava de por num a vasia de barro. N um pote. U m potão grande assim ! A í, eu punha coisa de ferro. Tudo de ferro lá dentro e pegava um punhado de sal, punha lá e punha os ferro e o sa l só! A li o sal ia enferru jano os ferro e sortano aquela tinta m arelinha, né? A í, a hora que tivé, tivé bem tinto, dava aquela escum a am arelim , cê podia panhá c’a m ão, assim , ó! A í, tava no ponto! A í, se fazia as m eada e sortava as m eada e deixava as m eada de m oio lá um dia pra outro, depois cê tirava elas e passava elas na barrela de cinza. A í, elas ficava am arela. M arelinha! Porque a ferruge, quarquer ferro que ocê pô, num sorta de jeito nenhum ! N um desbota! N ada tira! F icava m arelim ... D. Liósia: Põe os ferro, põe a rapadura, deixa m uitos dias, né? A hora que fica aquela água am arelinha, daí põe a dicuada e bate, né? E põe o fiado. E deixa uns dois dias ali. É . D aí, tira ele, põe esquentá no sol, torna a por ele na... naquela água de tinta ali.
Como ocorre a ferrugem? Pode-se evitá-la?
Tecendo outros saberes: a oxidação do ferro
Um dos problemas que a indústria
siderúrgica possui ao utilizar o aço é a
corrosão do ferro, caracterizada pela
formação da ferrugem, constituída de
óxido de ferro III e outras substâncias.
Ela é formada devido a uma reação
química de oxi-redução entre o metal
ferro e o oxigênio do ar. Essa oxidação
do ferro é catalisada pela umidade do ar
27
e sal. O óxido formado possui cor
amarelada.
Uma reação de oxi-redução consiste em
uma transferência de elétrons entre dois
átomos de substâncias diferentes. A
substância que recebe elétrons é
denominada agente oxidante (é
reduzido), enquanto aquela que perde
elétrons é o agente redutor (é oxidado).
Para retardar ou até mesmo evitar a
formação de ferrugem, é produzido na
indústria o aço inoxidável, que contém no
mínimo 10% de cromo. Outra opção
comum é pintar ou engraxar os materiais
metálicos. Pode-se também galvanizar o
metal, ou seja, recobri-lo com um filme
compacto de zinco, mais resistente à
exposição ao ar e água. Entretanto,
quando se trata de grandes estruturas,
como os navios, a galvanização não
pode ser realizada. Então, o
procedimento adotado na construção
naval é a proteção catódica, na qual são
utilizados metais de sacrifício, como o
magnésio. Ele é corroído antes do ferro,
protegendo-o.
Conceitos químicos relacionados - Eletroquímica.
- Óxidos.
- Reações químicas.
- Cinética química.
Sugestão de atividade para o
professor
- Solicitar aos estudantes que
investiguem a ferrugem a partir da
observação do enferrujamento de um
prego colocando-o em tubos de ensaio
nas seguintes condições: com água, com
água fervida, com água salgada, sem
água, com o prego envolvido em fios de
cobre, de magnésio e de zinco.
- Em um trabalho interdisciplinar
(Química e Artes), solicitar aos alunos
que levem uma pequena tela de pintura
e diferentes materiais metálicos,
colocando todos os materiais sobre a
tela embebida em solução de vinagre e
observar a sua oxidação
(http://www.sbq.org.br/ensino/).
“DICUADA”? O QUE É ISTO?
No processo de tingimento, as artesãs
utilizavam a decoada. Ela é uma solução
aquosa alcalina que contém substâncias
químicas como sais inorgânicos (carbonatos
de potássio, de cálcio). Ela é obtida a partir
do filtrado das cinzas da queima de plantas.
Existem plantas que possuem uma maior
concentração dessas substâncias químicas,
como a casca de feijão e as folhas de assa-
peixe, uma planta do cerrado brasileiro. Por
isso, pode-se obter uma decoada “forte”, com
alta concentração de sais e que proporciona
um pH mais alto (mais alcalino). A decoada
altera o pH do meio em que se está
28
realizando o tingimento e pode, também,
alterar a cor, já que, muitas vezes, tem-se
uma reação química.
Fundação Pró-Memória (1984, p. 27)
D. Maria Luísa: Cê sabe o que é cinza de dicuada? É éé cinza de fogão de lenha! A í, a gente põe ele num a vasia, soca bem assim , num a lata. E põe água e deixa pingar. D. Fiica: D icuada ainda faço até hoje! U ai, eu pego a cinza, coloco num a, num a lata véia ou num balaio. A ntigam ente eu fazia num balaim . Cê põe as foia de bananeira forrano, punha a cinza lá, põe água. E põe um pouco de cinza, um pouco d’água, um poco de cinza, um poco d’água e depois aperta aquilo lá bem apertado e tá pronto o
barrilero de fazer dicuada. U ai, (eu faço a cinza) de lenha assim , no fogão de lenha, fornalha. A ssim , essas fornalha da gente m esm o de tingir a lã m esm o. Põe fogo lá, fritar capado, fazer sabão. Porque sabão eu ainda faço sabão de torresm o assim com dicuada até hoje. U so soda tam bém , m as ponho um pouco de dicuada tam bém . D. Geralda: Todo m undo quando cuía, quando cuía feijão, queim ava aqueles m onte de paia e guardava a cinza. E ela guardada assim , ela fica boa. A gente queim a, vai lá na roça, pega a cinza, nóis punha num balaio, e ia rum ano um poco dágua, e carcano ela. M ais ficava forte. F icava um a dicuada boa m esm o. D essa assim num precisava de por m ais nada pra batê. D. Maria: A dicuada era de, fazia... F azia com vara de assa-peixe, queim ava, tirava as cinzas, das cinzas fazia o barrileiro, pingava, batia com dicuada. D. Valdivina: T inha que por a dicuada! U ai, fazia um barrileiro. E nchia um balaio veio, qualquer um a coisa, né? A gente punha a folha de banana e depois enchia de, de cinza. A í, punha um a vasia debaixo e punha, m oiava. D eixava um colo assim e aí destilava. M ais tinha que ser os prim eiro
pra, pra ser bão. T inha que por a dicuada. Se punha a soda, apodrecia a linha tudo.
De onde vêm as substâncias presentes na decoada?
www.aquahobby.com/articles/b_nutricao_vegetal.
php Tecendo outros saberes: os nutrientes minerais
As plantas são seres autótrofos, ou seja,
que produzem sua substância energética
alimentar (a glicose). A produção da
glicose ocorre por meio do processo de
fotossíntese. Entretanto, a planta realiza
vários outros processos como a ativação
29
de enzimas e a produção de substâncias
orgânicas complexas. Para a realização
dos mesmos, as plantas retiram
substâncias do solo, da água e do ar. Do
solo, as plantas retiram os nutrientes
minerais, classificados como
macronutrientes – absorvidos em maior
quantidade por elas – e micronutrientes
– absorvidos em menor quantidade. Os
macronutrientes principais são o
nitrogênio, o fósforo e o potássio; os
macronutrientes secundários são o
cálcio, o magnésio, e o enxofre. Os
micronutrientes são o boro, o cobalto, o
cloro, o cobre, o ferro, o manganês, o
molibdênio, o zinco e o níquel. Tais
nutrientes são integrados aos tecidos
vegetais e retornam ao solo pela
decomposição e mineralização da
matéria. O nitrogênio é o principal
constituinte das proteínas e estimula o
crescimento vegetativo; o fósforo
concentra-se principalmente nas flores e
frutos, acelerando a formação e
maturação dos frutos e também estimula
a formação e crescimento das raízes; o
potássio age como co-fator nas reações
das enzimas respiratórias e atua na
formação de ligações peptídicas na
síntese de proteínas. Alguns deles, como
o nitrogênio, são controladores da
absorção de outros (no caso do
nitrogênio, ele controla a absorção do
potássio e do fósforo). Os outros
nutrientes minerais possuem funções
variadas, como: fortalecer as raízes e
paredes das células (cálcio), ativar
enzimas na fotossíntese (manganês),
auxiliar o metabolismo das proteínas e
dos carboidratos (cobre). A ausência dos
nutrientes para as plantas prejudica o
seu desenvolvimento. A compreensão
das funções de cada nutriente auxilia no
desenvolvimento de tecnologias para
melhorar a produtividade agrícola.
Conceitos químicos relacionados
- Sais inorgânicos.
- Tabela periódica e elementos químicos.
- Ligação química.
- Ácidos e bases.
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar
(química e biologia), solicitar aos
estudantes que investiguem a ação dos
vários elementos químicos (Cl-, Ca2+, K+)
no desenvolvimento de plantas como o
feijão, a partir do seu cultivo hidropônico
em solução com estes íons.
30
O TINGIMENTO COM O ANIL É
“ENGUIÇADO”!
Uma das cores mais apreciadas pelas artesãs
era o anil ou índigo. Ele também era utilizado
para se “riscar” as calças dos homens. A
obtenção do corante anil se dava a partir da
fermentação das folhas da planta Indigofera,
das quais podem ser extraídas substâncias
incolores que, quando maceradas em água, se
decompõem, a partir de hidrólise enzimática.
Ao se agitar vigorosamente a água, as
moléculas da substância incolor, na presença
do oxigênio do ar, reagem e forma o índigo
(anil), a substância de coloração azul.
D. Geralda: E o de an il é m ais difícil. D e anil tinha que rum á o ram o de m oio, deixava ele curti, depois tirava, batia aquela cochada de água verdiinha. D aí cuava num pano, a tinta m esm o ficava azulinha. A í a gente lavava aquele pano que cuô, a gente rum ava num pote, num a coisa assim e tingia, ficava azulim . M inha avó tingia tanto pros oto! Ih! É en joado! Leva m uitos dias! D. Maria: Ih! E ra... E la gastava assim . E u m esm o fiz m uito. E ra três dias pra fazê. Panhava um pouco assim . A li tinha um potão assim de barro, dessa cabeça aqui, ó . E
era de barro! A gora punha, panhava um bocado do anile e punha lá e punha água e deixava dum dia pra outro. Q uando era no outro dia que interava aquelas 24 horas que ele tava de m olho, aí ela ia lá trucia aquela bucha de anile, jogava fora, panhava m ais e punha ali. Punha três veis. A í, quando interava, quando era os quatro dia, tirava aquilo, aquela bucha, jogava fora e punha dicuada. A dicuada era de, fazia... F azia com vara de assa-peixe, queim ava, tirava as cinzas, das cinzas fazia o barrileiro, pingava, batia com dicuada. F icava azulim , m uito bonito. A gora, num tem esse negócio m ais, né? D. Valdivina: A gente usava o anil dentro de um pote, posto a cam ada... D entro de um pote. Punha três dias seguido. D epois, quando tirava, deixado tam pado m ais três. D aí, batia. Punha dicuada da cinza, né? E ra com um copo. Puxano e bateno assim . Ia bateno com um a vasilha, né? O pote era ...tinha um a boca grande, né? A gente puxano e bateno. D epois a gente colocava, uns oito dias m ais ou m enos que ele ficava tam pado. C inco ou oito dias, eu num m e lem bro bem não.
31
D. Sebastiana: A í, pra fazê ele, cê tinha de pô é... é quatro cam ada dentro ou de um pote... Igual um pote de barro. N óis usava aqueles potão grandão assim , porque a lata enferru ja. A í, punha a água lá dentro e enchia... Punha ele pra cim a do m eio de água, depois cabava de encher de anil. A í, deixava o dia inteiro e a noite inteira. N o outro dia, pelas m esm as hora, cê turcia aquele anil, jugava aquele fora e pegava outro até inteirar treis vez, treis dias. E no fim dos treis dias, que cê ia joga fora, aí se pegava. A í tava azuliiiiim , azulim . Ce batia a água assim , tava azulim m esm o. A í se pegava e punha o barrilero pingá, né? Ce arrum ava a dicua...a cinza, aí cê carcava assim bem carcado assim dentro de um balaio e ce punha fazia um buraco nele assim , ce punha água e ia filtrano, né? E saía aquela dicuada pretinha. A í, se punha a dicuada lá e cê ia bateno... A té a unha da gente ficava azuliiim . Custava a rançar. D epois que punha a dicuada, deixava ele lá oito dia que... É ! Pra depois pô lá as m eada. Pô as m iada de m oio lá. D epois deixava as m eada de m oio lá m ais ou m enos assim um as quatro hora. D epois tirava ela, turcia ela, punha no sol. Ia fazeno assim .
Por que é necessário agitar a água com o anil? É para aerar?
cdcc.sc.usp.br
Tecendo outros saberes: a importância do oxigênio
O oxigênio é uma substância essencial à
manutenção da vida. Ele é altamente
oxidante e participa de reações de
combustão, que geram energia para a
realização de diversas atividades
humanas, como o cozimento de
alimentos, a locomoção por meios de
transporte automotivos (automóveis,
aviões, trens), o aquecimento doméstico.
Foi Lavoisier que percebeu que o
oxigênio era uma substância que
participava ativamente da reação de
combustão. Isto provocou mudanças
significativas na ciência Química. Três
fatores são essenciais para que a reação
de combustão ocorra: a presença de um
agente oxidante – o oxigênio –, a
presença de um material combustível –
gás de cozinha, vela – e uma fonte de
ignição, que é o agente iniciador da
reação. Além de participar da reação de
combustão “externa”, o oxigênio também
participa de reações em nosso
organismo, por meio da respiração
celular. Nesta ocorre uma seqüência de
reações intermediárias que culminam na
transferência de energia para as células,
mediante o consumo do oxigênio e
produção do gás carbônico. Porém,
existem reações químicas nas quais o
oxigênio participa que são prejudiciais às
atividades humanas. Dentre elas, a
degradação dos alimentos e a oxidação
32
de metais, que acarretam muitos
prejuízos. As gorduras, presentes em
muitos alimentos, podem reagir com o
oxigênio e alterar o sabor e o odor dos
alimentos, formando o que comumente
denominamos ranço. As frutas
escurecem devido à reação de
substâncias fenólicas com o oxigênio.
Mas, quando o mesmo reage com o
vinho, pode produzir o vinagre. Como
“mocinho” ou “bandido”, o oxigênio é
uma substância presente em grande
parte das reações químicas.
Conceitos químicos relacionados
- Gases (lei dos gases ideais, teoria
cinética, difusão de gases, etc.).
- Reação química (combustão).
- Cinética química.
- Termoquímica.
Sugestão de atividade para o professor
- O professor poderá realizar com os
estudantes o experimento de eletrólise
da água e coletar o gás oxigênio para
fazer testes para identificá-lo.
MAIS SOBRE O ANIL...
CRENÇAS, CRENDICES
Como as artesãs nem sempre conseguiam
obter o corante da planta do anil, era comum
elas justificarem isto fazendo uso de crenças.
Tais crenças fazem parte do seu senso
comum e são as tentativas de explicação que
elas encontram para situações adversas do
seu cotidiano. Uma das crenças muito
comum refere-se à influência da lua no
crescimento das plantações, na fertilidade da
mulher, no crescimento do cabelo.
D. Maria: É porque ele (o anil) é sistem ático. E le é igual ao azeite. É só um a pessoa que pode fazê isso. Pode assim , vou com parar: eu sei fazê o anil e ocê tam bém sabe. Se eu for pô ele de m olho, am anhã, se eu num pude trocá a cam ada, se ocê fô trocá, ele num presta. E le é sistem ático. É um a pessoa só, um a m ão só! B urrecidim , que só veno! E u punha a panela. E u punha a panelona de barro pra fazê o anil longe de casa pra n inguém num fica oiano. O trem m ais esquisito! Pode se um a pessoa que sabe fazê, se m exeu, num presta. D. Sebastiana: Só num pode fazê quando a m uié tá ... (menstruada) N ão pode! ... A m inha m ãe falava que não precisava teim á. D iz que num pega de jeito nenhum . A água pode tá azulim . E o anil tem um a coisa: cê
33
num pode panhá ele verde tam bém não. U ai, quando ele com eça... se ele tiver m uito verde, ele num dá aquele arom a, aquele sum e, né? Q uando ele com eça a am arelar e ele tiver m uito cheio de sem ente tam bém não é bão. Porque ele dá sem ente. D. Geralda: E les fala. M inha vó falava. M inha vó tinha m uita ciência pra m exer com anil, sabe? Porque o anil é inguiçado! A h, num sei. E la escolhia a lua. E ra a lua nova que ela batia o anil pra... E le é danado prá zangá. Se ele zangá num pega. Se ele ficá verdim , ele pega. E se ocê m exe com ele assim e ele ficá aquela cor feia, assim m arrom , num precisa pô tinta, num precisa pô linha que num pega. N um precisa pô fiado não. D. Maria Luísa: É , tem a lua m esm o. A gora, a lua eu num sei que lua que é não. D. Valdivina: P ra bater era na m inguante. Cê ia panhar m esm o na nova, né? Ia pono pra curtir. T irava as três cam ada que ocê punha três dias. T inha um cheirinho desagradável! D. Liósia: E ra bom era na nova. U ai, da m oda, a nova porque... tem m uitas coisas que a nova com anda m uito, né? Igual o sabão. É engraçado. A lua é... igual pra prantá assim , ram a de m andioca... tem que ser na ...Com o é
que é? T rem de raiz tem que ser é na m inguante, né? E se prantá na nova, fica bonito os pés, m ais num dá raiz.
A lua influencia em algum fenômeno da natureza?
Tecendo outros saberes: as marés
Aqueles que moram a beira-mar,
presenciam todos os dias as marés. Elas
são um fenômeno resultante da atração
gravitacional exercida pela Lua sobre a
Terra e, em menor escala, da atração
gravitacional exercida pelo Sol sobre a
Terra. A explicação para a formação da
maré causada pela Lua é que a atração
gravitacional sentida por cada ponto da
Terra devido à Lua depende da distância
deste à ela. Sendo assim, a atração
gravitacional sentida no lado da Terra
que está mais próximo da Lua é maior
do que aquela sentida no centro da
Terra e a atração gravitacional sentida
no lado da Terra que está mais distante
da Lua é menor do que a sentida no
centro da Terra. Se analisarmos o centro
da Terra, um lado está sendo puxado na
direção da Lua e o outro lado está sendo
puxado na direção contrária. Como a
água flui com muita facilidade, ela vai
“formar montes” nos dois lados da Terra,
um na direção da Lua e outro na direção
contrária. Enquanto a Terra faz o seu
movimento de rotação, o monte de água
continua sempre apontando
aproximadamente na direção da Lua.
Considerando um determinado ponto da
Terra, em um certo momento, ele estará
exatamente embaixo da Lua e terá maré
alta. Seis horas mais tarde, a rotação da
34
Terra terá levado este ponto a 90o da
Lua, e ele terá maré baixa. Há cerca de
seis horas depois, o mesmo ponto estará
a 180o da Lua e terá maré alta
novamente. Portanto, o ciclo das marés
acontece duas vezes a cada 24 horas e
50 minutos, que é a duração do dia
lunar.
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar
(filosofia, sociologia, química, física),
solicitar aos estudantes para
pesquisarem, a partir de entrevistas,
quais as atividades e os fenômenos que
as pessoas da comunidade acreditam
ser influenciadas pela lua e fazer um
estudo sobre a visão da ciência sobre o
assunto, as manifestações da cultura, os
mitos etc.
TINGIR A LÃ COM
QUARESMINHA
A quaresminha é uma planta que as artesãs
utilizavam apenas para tingir a lã. Elas
amarravam um cordão de algodão para
segurar as meadas de lã e, enquanto a lã
ficava com uma coloração amarela, o
algodão não tingia. Isto pode ser explicado
devido às interações mais fortes entre a fibra
da lã e o corante da quaresminha ou ainda
por não ocorrer uma reação química entre a
fibra do algodão e o corante da quaresminha.
D. Geralda: A lã pra tingi de am arelo é tingido na quaresm inha. É um ram o. E ssa aí
tinge de am arelim , m ais bonito m esm o. V ai rum ano ela lá na vasilha assim , rum a um a cam ada, rum a um a cam ada de m eada, rum a m ais pro cim a e rum a a fervê... o trem fica bunito m esm o! R um a a fervê junto com a tinta. D eixa fervê, vai ferveno, ferveno, aí ela fica am arelinha. F ica dos m ais bonita! A í, essa num tinha que passá em nada não. A h! A quaresm inha é só pra lã. E la num pega. A gente faz m eada, rum a aqueles cordãozinho am arrano a m eada de fiado m esm o, ele fica branquinho... a hora que tinge. A s m eada fica am arelinha e o cordão fica branco. N ão pega! D. Maria Luísa: L inha não! U m a cam ada de lã, um a cam ada de ram o, outra cam ada de lã e vai e depois por cim a. A í, deixa ferver. A í, pega a tinta. D. Liósia: É , só pra lã. F ica am arelinha. M as fica bonita, né? D. Sebastiana: Cê ferve as foia e depois cê tira aquelas foia fora, joga fora e aí cê vai m oiano as m iada lá dentro e pono secar. D. Fiica: A quaresm inha, ela é um ram o. E le dá baixinho assim , ó. E le é m elento, m eio m elento. A gente pega ele assim , ele é m eio preguento na m ão. A í, então, tam bém . M as tem que panhar ele lim pinho tam bém . Se
35
tiver m eio su jo, tem que lavar. A í, coloca lá um pouco de ram o. Põe na água tam bém dentro do tacho. U m a cam ada de ram o, um a cam ada de m eada, outra cam ada de ram o, outra de m eada. A í, punha fogo e deixava ferver lá bastante.
Por que a quaresminha só tinge
a lã?
physics.bu.edu
Tecendo outros saberes: forças intermoleculares
Por que a água é líquida na temperatura
ambiente? Por que o óleo comestível
dissolve-se em gasolina e não se
dissolve em água? Como a forma de
dupla-hélice é mantida no DNA dos
seres humanos? A resposta para tais
questionamentos encontra-se nas forças
intermoleculares. Elas são forças que
unem uma molécula a outra e são
originadas devido à atração eletrostática
entre as mesmas. O primeiro cientista a
formular a idéia de forças
intermoleculares foi o físico alemão van
der Waals, por meio do seu estudo sobre
os gases. Visando “corrigir” a equação
dos gases ideais para que a mesma
pudesse representar o comportamento
dos gases reais, van der Walls introduziu
parâmetros que levam em consideração
o tamanho das moléculas e as forças
intermoleculares. Este estudo garantiu
ao cientista o prêmio Nobel. As forças
intermoleculares podem ser de três tipos:
forças dipolo-dipolo (aquelas formadas
entre moléculas polares), forças dipolo-
dipolo induzido (aquelas formadas entre
moléculas polares e apolares) e dipolo
induzido-dipolo induzido ou forças de
London (aquelas formadas por
moléculas apolares). A ligação de
hidrogênio é um tipo especial de forças
dipolo-dipolo, pois só acontece quando
um dos dipolos interagentes possui
átomos de hidrogênio ligados a átomos
muito eletronegativos. Se um átomo da
molécula vizinha (ou da mesma
molécula, caracterizando uma interação
intramolecular) estiver na extremidade
negativa de uma ligação polar e tiver
pares de elétrons livres, ele interagirá
fortemente com o átomo de hidrogênio.
Este tipo de ligação é responsável pela
alta temperatura de ebulição da água e
seu estado líquido na temperatura
ambiente e também pela dupla-hélice do
DNA.
36
Conceitos químicos relacionados
- Geometria molecular.
- Propriedades físicas das substâncias
(temperaturas de ebulição e fusão,
solubilidade, etc.).
- Ligação química.
Sugestão de atividade para o professor
- O professor pode solicitar aos
estudantes que busquem explicações
para as questões colocadas no texto
“forças intermoleculares” antes de
trabalhar tal conceito e testar com os
estudantes a solubilidade de alguns
corantes naturais como o coloral e o
açafrão em água e álcool.
USANDO AS CASCAS DAS
ÁRVORES: A SANGRA D’ÁGUA
A sangra d’água é uma árvore utilizada pelas
artesãs para tingir de vermelho ou ganga.
Para se extrair o corante da sangra d’água, as
artesãs retiravam cascas do tronco da mesma
e as trituravam. Em seguida, as cascas
trituradas eram colocadas para ferver com
água e as meadas (de lã ou de algodão).
Depois de um determinado tempo
(aproximadamente duas horas), as meadas
eram retiradas e passadas na decoada para
serem secas ao sol. O corante da sangra
d’água modificava a sua coloração
dependendo da acidez do meio.
D. Geralda: Sangra d’água a gente tirava é a casca do pau e m assava ela assim e rum ava a fervê no tacho junto com as m eada. M as,
esse leva dicuada! A ssim ... num coloca lá não! A hora que tira as m eada lá que caba de tingi, passa ela na dicuada, antes de lavá, passa na dicuada. N a dicuada pode passá ela lá só assim e pode estendê lá no sol. E sse é bom rum á é no sol. D epois que assecá lá, a gente lava. Cê lavá ela m oiada, discora m uito, né? Cê sabe, né? A í, deixa secá. É , daí depois passa na casca, no chá, na casca de bananeira, im bigo de bananeira ou então na foia de goiaba! É ! Pra segurá a tinta. A dicuada era só para dá a cor. F ica assim um ... um m eio ganga, m eio cinza, sabe? D. Maria Luísa: A sangra d’água tam bém tinge, né? E u acho que é a casca, deve ser a casca dela. Põe de ... ferve junto, né? O u ferve prim eiro e depois põe o fiado, né? A qui tem sangra d’água, m as eu nunca fiz não. N a beira do corgo, né? E la solta um a nódia roxa. A gora, deve ficar é roxa, né? D. Fiica: E u tinha um a tia que tingia. A h! E la punha tam bém as casca lá ferver e o fiado lá. F icava, ficava m arronzinho m esm o. F icava bonito! Celina: É um a árvore que dá lá na beira do corgo. F ica, tipo terra. U m a cor assim , sabe? T inge no algodão.
37
Por que o corante da sangra d’água muda de cor?
Tecendo outros saberes: os indicadores ácido-base
Substâncias ácidas e básicas são
comumente encontradas no nosso
cotidiano. Elas afetam o sabor dos
alimentos, fazem parte de várias reações
químicas, controlam a atividade de
microrganismos, etc. Várias teorias
foram elaboradas para explicar o
comportamento ácido e básico das
substâncias. Dentre elas, temos a teoria
de Arrhenius, a teoria de Brönsted-Lowry
e a teoria de Lewis. Para identificarmos
qualitativamente substâncias ácidas e
básicas, fazemos uso de indicadores,
que são substâncias orgânicas que se
alteram conforme a acidez do meio em
que elas se encontram. A compreensão
da alteração de cor dos indicadores está
de acordo com a teoria de Brönsted-
Lowry, que prevê pares conjugados
ácido-base em uma reação química em
equilíbrio, como representado pela
equação química:
-32 IndOHOHIndH ++
+
→
←
A diminuição ou aumento da acidez no
meio faz com o equilíbrio desloque-se
para a esquerda ou direita e a cor
resultante vai depender das
concentrações relativas das espécies
IndH e Ind-, que têm estruturas com
menor ou maior conjugação estendida.
Dependendo destas estruturas, podem
ser absorvidos comprimentos de onda de
maior ou menor energia, enquanto
outros são refletidos. As cores vermelho
e violeta são os dois extremos de
energia da luz visível e correspondem às
faixas de comprimento de onda de 780-
630 nm e 400-420 nm. No caso do
indicador fenolftaleína, em pH menor do
que 8,3, a sua estrutura absorve luz na
faixa invisível, enquanto em pH maiores
do que 10, a sua nova estrutura absorve
luz na faixa de 552 nm, refletindo a cor
rosa, que é a que enxergamos.
Conceitos químicos relacionados
- Equilíbrio ácido-base.
- Solubilidade.
Sugestão de atividade para o
professor
- Solicitar aos estudantes que tragam
repolho roxo e beterraba, preparem
38
extrato de repolho, beterraba ou sangra
d’água e observem e expliquem as
mudanças de coloração do meio de
acordo com o pH, fazendo uso de
diferentes materiais (suco de limão,
vinagre, pasta dental, cinzas, etc.) para
acidificar ou basificar o meio.
OUTRAS PLANTAS, NOVAS
CORES, OUTROS MÉTODOS
As plantas utilizadas pelas artesãs são
provenientes do cerrado brasileiro. Com estas
plantas, as artesãs obtinham uma variedade
de cores. Algumas vezes, elas misturam
galhos ou cascas de uma planta com outra
planta, para obter uma nova coloração, como
no caso de se misturar os ramos da congonha
(cor amarela) com as cascas do vinhático (cor
marrom claro), obtendo-se a cor laranja.
www.ipef.br
D. Valdivina: O urucum nóis nunca m exeu não. N óis tingia no vinhático e no coitezinho do cam po. T ingia de m arrom . É um ram o do cam po. F icava m arrom . Q uebrava ele assim , sabe? Q uebrava e ferventava ele. F erventava ele bastante m esm o, num tacho bem grande. D epois é que, quando a gente via que ele tinha sortado toda a cor dele, né? A í que a gente tirava os ram o e ia tingir. Jogava as cinzas do fogão em riba das m eada e estendia. M oiava no, na água do cafezinho, estendia as m eada. F alava quarar, né? M inha m ãe falava quarar. E quando ela com eçava a secar, nóis voltava lá novam ente, m olhava de novo e tornava a estender e tornava a jogar cinza
até que ela dava a cor que a gente queria. E ssa m arrom . D. Sebastiana: E quando que queria tingi de erva de passarinho, erva de passarinho tam ém fica m arelo igualzim a ... E la é um a, um negócio que, dize eles que o passarinho que com e a fruta, eu num sei não! E rva de passarim , ela dá num a arve. Q ualquer tipo de arve. E la enraíza lá e vai cresceno. E la dá um a folha assim gordona. A í cê panha aquilo, soca no pilão... É ! A folha! E la dá a folha com o cipó! A í cê soca ela no pilão, põe ela fervê e depois dali a m esm a coisa. P ra ela ficá am arela, cê tem que pô ela na dicuada. D. Geralda: B arbatim ão tam bém é a m esm a coisa da... da sangra d ’água. Porque nóis tingia essas coisa assim , sangra d’água, barbatim ão, era só pra... N óis num tingia pra fazê ropa de cam a não. E ra só pra fazê ropa de vestir. E ntão, a gente m exia m ais poco. Celina: E ntão, eu sei que ééé ... no ipê. N o ipê am arelo fica am arelo, acho que no roxo parece que deve ficá pro lado do roxo né? Ia lá, descascava na árvore e tinha um a outra árvore tam bém que ela tirava a casca dela. D. Valdivina: D epois, nóis pegava, quando queria que a...ficasse cor laranja, né? N óis
39
tingia no vinhático a lã, e pouco, m as pouca coisa e depois passava pro am arelo, ela ficava cor laranja. Passava na congonha e ficava cor laranja.
Aonde encontramos esta variedade de plantas para realizar o tingimento?
www.wwf.org.br
Tecendo outros saberes: o cerrado
O cerrado é o segundo maior Bioma da
América do Sul, ocupando quase 20%
do Brasil, perdendo em tamanho
somente para a Floresta Amazônica.
Sua flora é muito rica, com cerca de
1000 espécies de árvores, 3000
espécies de ervas ou arbustos e quase
500 trepadeiras. A topografia do cerrado
é praticamente plana e sua vegetação é
esparsa, com árvores baixas e retorcidas
(devido à presença de íons alumínio no
solo).
O cerrado vive sob uma oscilação entre
a época das chuvas e a época da seca.
Durante a estação da seca, a grama e a
vegetação rasteira secam
progressivamente, podendo ocorrer
grandes queimadas, principalmente no
final da seca. A vegetação sofre, mas
rebrota rapidamente, pois as plantas do
Cerrado têm muitas adaptações para
agüentar as secas e as queimadas,
como os bulbos e rizomas das plantas
rasteiras, que resistem dormentes
durante a seca e depois rebrotam com
as primeiras chuvas de primavera
(geralmente em setembro) e também as
suas cascas grossas e corticentas, que
protegem os troncos da ação do fogo. A
maioria das árvores do Cerrado tem
raízes extensas, que buscam a água
presente nas profundezas do solo, e
suas folhas são sempre verdes, mesmo
no auge da seca.
Conceitos químicos relacionados - Sais inorgânicos.
- Trocas iônicas.
- Solubilidade.
Sugestão de atividade para o professor
- Em um trabalho interdisciplinar
(biologia, geografia, química) os
professores podem programar uma
pesquisa de campo no horto florestal ou
em regiões nas quais possam ser
encontradas plantas nativas do Cerrado,
na qual os estudantes deveriam observar
as plantas e tentar identificar as suas
40
características (frutos, folhas, troncos) e
coletar amostras do solo para análise
posterior.
- O professor de artes pode estudar os
pigmentos e corantes e as diferentes
tonalidades de cores obtidas com a
mistura dos mesmos.
PARA SEGURAR A TINTA
Para que a roupa não descorasse ao ser
lavada, as artesãs faziam uso de algumas
substâncias ou materiais que ajudam a fixar a
cor no tecido. Estes materiais são
denominados mordentes e eles facilitam a
fixação do corante na fibra, fazendo com que
o mesmo seja absorvido e conservado,
podendo também modificar a cor. Os
mordentes mais comumente utilizados pelas
artesãs eram o alúmen e o tanino. Este último
era obtido da folha de goiabeira ou de
barbatimão ou ainda do umbigo da bananeira.
D. Sebastiana: O sal não deixa desbotá! O sal firm a a tinta. Q ualquer cor se for tingir, cê pô sal, não disbota. O u senão, põe na folha de goiaba. A folha da goiaba aperta tam bém e não desbota. O u senão no im bigo da banana. E sse sabãozim eu fazia com ele é com essas coisa. M uita gente tingia, desbotava, porque eles num tinha o segredo que eu tinha. E u ensinava pra eles. D. Geralda: Pra segurar a tinta, ééé. U sa casca de pau de goiaba tam bém . A casca não, a folha. A perta. T rem de bananeira tam bém aperta. Cozinha e antes de rum á a m eada no sol, passa naquele negócio, é bom pra segurá a tinta. Porque quais que toda tinta desbota um bocado. A gora a de anil, desbota poco, m ais descora. M ais num pega em nada! Pode ferve com ropa branca!
D. Sebastiana: A casca de goiaba, ela não é tinta. A casca de goiaba é de apertar a tinta pra não desbotar. É , a folha e a casca. Porque ela não dá cor. E la só firm a a tinta. E ssas aí é pra firm á a tinta pra não desbotar. Porque se ocê... Porque a tinta, a única tinta que não desbota, que ocê não precisa de tanto coisa, é a tinta de anil e a tinta de, de ferrugem . Porque o coisa quando ele é de tingir, ocê corta nele assim , a faca que ocê cortá nela fica escura. P rincipalm ente se for faca de folha, né? A í, ela fica aquela faca escura assim , fica pareceno que ocê passou ela no carvão.
41
O que tem na folha de goiabeira e no umbigo de bananeira que
“segura” a tinta?
Tecendo outros saberes:
o tanino Quando comemos uma banana ou caqui
ainda verdes, temos a sensação de
constrição na língua, como se a fruta
“amarrasse na boca”. Esta sensação
adstringente é devido a uma reação do
tanino presente nestas frutas com
proteínas da saliva. Tanino é o nome
técnico utilizado para um material
encontrado em árvores de grande e
pequeno porte, pertencente a um grupo
de substâncias polihidroxidofenólicas
diferentes, constituído por polifenóis
simples, carboidratos, aminoácidos e
gomas hidroxicoloidais. No Brasil,
árvores do Cerrado como a goiabeira, o
barbatimão, a aroeira e também a
bananeira possuem uma grande
quantidade de tanino. Uma de suas
aplicações na indústria é no curtimento
de peles de animais, já que ele evita o
apodrecimento destas ao reagir com as
proteínas da mesma. Outra aplicação
atualmente explorada é a extração de
metais da água a partir do uso de tanino
para que a água se torne potável. O
principal mecanismo de ação do tanino
no tratamento de água é a sua atuação
como coagulante e floculante. Ele forma
sais complexos com praticamente todos
os metais (cromo, ferro, cádmio, cobre,
etc.). Estes complexos metálicos –
denominados quelatos – se agrupam
formando flocos que podem ser
eliminados posteriormente. Outra
vantagem no uso dos taninos vegetais é
eliminar ou diminuir a toxidez existente
na água devido a cianofíceas (possuem
o pigmento ficocianina, composto por
ferro e magnésio) ou bactérias
clorofiladas (possuem magnésio).
Quanto ao caqui e à banana, elas têm
que amadurecer para evitar a sensação
adstringente, pois o tanino degrada-se
com o amadurecimento das frutas.
Conceitos químicos relacionados
- Metais.
- Métodos de separação de substâncias.
- Funções orgânicas.
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que tragam
folhas de goiabeira e realizar o
42
tingimento de pedaços de algodão com
corantes sintéticos utilizando, em uma
amostra, as folhas de goiabeira e em
outra, não. Comparar os resultados
obtidos e discutir. Pode-se fazer uso de
outros mordentes, como o alúmen.
A TINTA COMERCIAL
Quando não eram utilizados corantes naturais,
as tecelãs faziam uso de corantes comerciais,
procedimento muito comum na atualidade. Os
mesmos são normalmente comercializados na
forma de pó, dissolvidos em água, fervidos
(cocção) e depois se acrescenta as meadas de
lã ou de algodão, dependendo do corante
utilizado. As meadas devem permanecer
mergulhadas no líquido, tendo-se o cuidado
de não manchá-las, até que se perceba que o
mesmo está “perdendo a cor”. Daí, retiram-se
as meadas, enxágua e depois faz-se a
secagem.
D. Sebastiana: E tam bém eu tingi de verm elho com o tal do sabãozim . E ra um as caxinhas desse tam anho assim . Sabãozim verm eio, sabãozim azul e ele, quem num subé, desbota. M as, quem subé, num desbota! F azia a tinta e não desbotava! Porque depois que ocê põe ele fervê lá, que ele derrete. Cê põe ele fervê junto c’a linha. E depois, aí cê tira ele de lá, aí cê põe ele fervê cum sal. D. Geralda: E , o que não era tingido nesse ram o, a gente tingia... Cham ava a tinta que a gente com prava cham ava anelina. R um ava no tacho junto c’a a água e as m eada e fervia tam bém e pegava. A gora, prá tecê cocha a gente tingia de sabãozim . Sabãozim é um a latinha que vem assim , ó. Q ue é com prado nas loja e vem num a latinha assim . É , um
pó! A gente rum a fervê na água, rum a um pouco de ... de sal na água, junto com a tinta. D. Maria: E u rum ava a lãzinha assim , ó, pra tingi a lã era o anilino m esm o! E ra um vidro, um vidrim com a tinta. A gora, ela disse que com prou, diz que num pegô di jeito n inhum ! E la veio foi atrás de m im (perguntar) com o é que fazia! E u falei: “U ai, deve se a tinta que tá errada, né? Punha... M olhava a linha, punha em tacho assim pra frevê, né? Punha a tinta, derretia, punha a linha, tingia que ficava um a beleza! M ais, agora, diz que a lã num quis pegá a tinta dela m ais.
43
Como surgiram os corantes sintéticos? Quais as mudanças que estas sínteses trouxeram
para a nossa sociedade?
www.lcwbrasil.com.br
Tecendo outros saberes: os corantes sintéticos
Os corantes são materiais ou
substâncias extremamente utilizados
pelas indústrias. Antes do século XIX, os
corantes utilizados eram obtidos de
plantas ou animais. Mas, em 1856, o
químico inglês William Henry Perkin
conseguiu sintetizar o corante mauveína
a partir da reação química entre a anilina
e o dicromato de potássio. Esta
descoberta causou tanto impacto na
indústria têxtil que, até hoje, fazemos
uso do termo anilina para designar um
corante sintético, embora tal substância
seja incolor e simplesmente ponto de
partida para a obtenção de corantes.
Após esta primeira síntese, outros
cientistas conseguiram sintetizar o índigo
e desde então, a indústria de corantes
não parou de crescer. A estrutura básica
encontrada nos corantes sintéticos são
os anéis benzênicos, sendo que os
primeiros corantes sintéticos derivavam
do trifenilmetano (obtido da anilina ou
toluidina) e de derivados da
antraquinona. A indústria de corantes
sintéticos foi responsável por impactos
na agricultura, na biologia e na medicina.
Na primeira, porque as áreas nas quais
se cultivavam plantas tintoriais passaram
a ser ocupadas por plantações de
alimentos. No caso da biologia e da
medicina, os corantes como a eosina
propiciaram observar nos microscópios
estruturas biológicas antes não-
identificáveis por serem incolores ou
translúcidas.
Conceitos químicos relacionados
- Funções orgânicas.
- Reações químicas.
- Cinética química (efeito da
temperatura, da superfície de contato,
etc.).
Sugestão de atividade para o
professor - Solicitar aos estudantes que tragam
camisetas brancas e realizar com os
mesmos o tingimento delas com
corantes sintéticos.
- Realizar com os estudantes a síntese
de um corante azo (ex.: vermelho do
congo).
44
- Fazer uma visita técnica a uma
indústria de corantes ou de tintas para
paredes.
A QUANTIDADE PARA USAR
Para realizar o tingimento com os corantes,
as artesãs tinham uma medida para seguir.
Elas sabiam que era necessária uma
quantidade certa de corante sintético para
cada quilo de meada.
D. Valdivina: Até ocê pegar, levantar, oiar a cor... Porque tam pa tudo com a congonha, né? A í ocê raleia e oia e vê se ela tá am arela do jeito que ocê quer. A gora, se num tiver tem que fazer novam ente, porque foi pouca congonha. D. Maria: É só seis m eada num a lata. L á eu tava fazeno (anil) era na lata. É só seis m eada. A tinta num dá pra m ais de seis m eada. D. Valdivina: Só que a tinta da lã é diferente. A lã vem uns tubinho assim . E ocê punha ela, cê bate ela na água, bastante água e bate. Sem pre é um quilo. U m tubinho é um quilo de... um quilo de m eada de lã, né?
Por que precisamos usar uma quantidade certa de corante e
meada para realizar o tingimento?
www.santateresa.g12.br
Tecendo outros saberes: estequiometria
No século XIX, os químicos já sabiam
que as substâncias reagem em
proporções definidas. Sabiam também
que as substâncias são constituídas de
átomos. Eles concluíram que essas
proporções definidas deveriam
representar uma relação entre as
quantidades de átomos. Segundo o
modelo de Dalton, isto acontece porque
os átomos dos reagentes são os
mesmos dos produtos, apenas
rearranjados de forma diferente. Para
indicar a conservação da quantidade de
átomos numa reação química, é feito um
acerto (balanceamento) do número
desses átomos na representação da
transformação, que é a equação
química. Nela, representamos pelas
fórmulas químicas as substâncias que
irão reagir e as que serão formadas.
Assim, a quantidade total de átomos de
cada elemento químico que é
encontrada nos reagentes da equação
química tem que ser igual à quantidade
do mesmo elemento químico encontrada
nos produtos da equação, já que estes
são os mesmos átomos.
Conceitos químicos relacionados
- Proporções definidas.
- Modelo atômico de Dalton.
- Lei de Lavoisier.
- Estequiometria.
45
Sugestão de atividade para o professor
- Exercitar com os estudantes o
balanceamento de equação química a
partir de modelos de bolas (adquiridos
ou feitos com massas de modelar ou
outro material) ou ainda utilizando
simulação computacional.
URDIR
Antes de realizar a tecelagem, as tecelãs
precisam determinar qual a metragem do
tecido, tanto em relação à largura, quanto ao
comprimento do mesmo. Para isto, elas
realizam a urdição, um procedimento feito na
urdideira. Ela assemelha-se a uma moldura
de quadro, no qual em cada lado têm-se os
tornos de metal por onde os fios passam, em
um formato de zigue-zague. A medida de
comprimento utilizada é a vara, que
corresponde a aproximadamente um metro de
fio e é a distância entre dois tornos
seqüenciais, em cada um dos lados. Os
novelos que serão utilizados são colocados
no casal. Para se definir a seqüência de fios
que serão tecidos, de acordo com o efeito
escolhido (listras, faixas), os mesmos passam
pelos buracos do casal ou da espadilha. Em
seguida, os fios são agrupados dois a dois em
forma de cruz, completando um agrupamento
de 12 fios chamado cabrestilho. Ele define a
largura do tecido. Os fios cruzados passam
pela urdideira, fazendo um zigue-zague, de
acordo com a quantidade de varas a ser
tecida. Repete-se o mesmo procedimento até
se obter a quantidade de cabrestilhos
definida. Os fios são cruzados no início e no
final da urdidura a cada novo cabrestilho
urdido. A cruz permite que os fios
permaneçam paralelos, não se embaracem e
mantenham a seqüência a ser tecida. Ao final
da urdição, amarram-se os fios cruzados para
depois cortá-los. Faz-se uma trança, que se
inicia no lado superior da urdideira para,
enfim, os fios do urdume serem levados ao
tear.
D. Valdivina: D epois punha tudo na dobadeira. D epois de tinto, novelava, punha no casal, urdia, punha na urdideira. D. Fiica: A gente urde aqui. Pega o fiado e urde aqui, ó. Isso aqui cham a urdideira. D epois a gente enrola aqui, ó. D. Maria Luísa: D ois quilo, três quilos pra urdir duas colcha, né? A í, três, seis, nove. D á pra tecer seis colcha. D. Fiica: A qui a gente pega doze novelos de fiado. A qui a gente envia os fiadinhos aqui,
46
ó. Cham a espadilha. D oze! D oze fiadinho aqui. A m arra de cá e coloca aqui. A qui a gente junta as doze pontinha aqui e am arra tudo junto. D epois coloca aqui, ó . A í traz cá, traz cá, traz cá. A qui traz cá, torna trazer cá, torna a trazer cá. O tanto, o tam anho que for pra fazer. Isso aqui faz até quinze m etros dum a vez, se quiser. F az tam bém até dois m etros só. D.Valdivina: A gora, na urdideira que ocê conta quantos que... F ica tudo um tam anhim só. Q uantos que ocê põe. Q uantos cabrestios cê põe na urdideira. A í, todos eles fica desse tam anhim .
Vara? O que é isto? Por que precisamos medir?
www1.folha.uol.com.br
Tecendo outros saberes: pesos e medidas
Desde os primórdios da humanidade, o
ser humano sentiu a necessidade de
determinar medidas. Primeiramente, era
uma “mão cheia disto”, um “cesto
daquilo”, um “pote daquele outro”. Aos
poucos, o ser humano percebeu que
haveria a necessidade de estabelecer
um sistema comum de pesos e medidas
para as grandezas. Uma grandeza pode
ser definida, resumidamente, como
sendo o atributo físico de um corpo que
pode ser determinado qualitativa e
quantitativamente, como massa,
comprimento. No princípio, o ser humano
fazia uso de seu próprio corpo para
estabelecer medidas. Assim, tinha-se o
cúbito, que era a distância entre o
cotovelo e o dedo médio, medida usada
pelos antigos egípcios; o pé e a
polegada. Na Idade Média, os reis
adotavam medidas diferentes, a seu bel-
prazer. Para evitar toda esta confusão,
no século XVI a Academia Francesa de
Ciências foi incubida de criar um sistema
de pesos e medidas que pudesse ser
usado internacionalmente. Baseando-se
no metro como unidade de comprimento
e no grama como unidade de massa, a
Academia Francesa criou o sistema
decimal. Mas, somente em 1954, a
Conferência Geral em Pesos e Medidas
(CGPM - Conférence Générale de Pois
et Mesures) adotou como unidades de
grandeza o comprimento (m), a massa
(kg), o tempo (s), a intensidade de
corrente elétrica (A), a temperatura
termodinâmica (K) e a intensidade
luminosa (cd) e criou o Sistema
Internacional de Unidades (SI),
estabelecendo regras para os prefixos,
para as unidades derivadas e as
unidades suplementares. A definição de
47
quantidade de matéria (mol), uma
grandeza química, só foi introduzida
posteriormente em 1969. No Brasil, até
1862 eram utilizadas as unidades e
medidas de Portugal (vara e braça para
extensão e quintal para massa). Com a
adesão do nosso país ao CGPM, em
1961, ele passou a adotar o SI e foi
criado o INPM (Instituto Nacional de
Pesos e Medidas, hoje INMETRO –
Instituto Nacional de Metrologia,
Normatização e Qualidade Industrial),
que se responsabiliza por este assunto.
Conceitos químicos relacionados
- Unidades de medida.
- Quantidade de matéria.
Sugestão de atividade para o professor
- Realizar com os estudantes um
experimento para determinação da
constante de Avogadro utilizando
solução de hidróxido de sódio e
eletrodos (http://www.sbq.org.br/ensino/).
COLOCAR NO TEAR
É importante que todos os fios, tanto do
urdume quanto do tecido estejam bem
esticados, tensionados. Para isto, utilizam-se
dois cilindros de madeira com manivelas,
chamados órgãos (um fica na parte inferior
do tear, próximo aos pedais e o outro na parte
superior), onde o urdume e o tecido são
enrolados. É nesta hora que a artesã precisa
da ajuda de outra pessoa: na montagem dos
fios no tear. Para tensionar o tecido na
transversal, algumas artesãs utilizam o
tempereiro.
D. Valdivina: D epois eu ia por no tiar, não tinha ninguém pra ajudar, eu punha sozinha. F azia serviço de três, eu fazia sozinha. E nrolar o pano no tear e ficava durinho porque tem que ficar o pano duro pra hora que ocê bater a queixa pra poder ele tam par, porque se ele ficar m ole o pano não tam pa. D. Maria: Isso aqui é o órgão, né, do tear. A qui agora passa, estende os pano e passa por cim a pra enrolar aí. P ra ficar enroladinho igual tá lá assim nos dela.
48
Para que utilizar o órgão para esticar o tecido? Fica mais fácil?
www.uryu.com.br
Tecendo outros saberes: Torque
Quando uma força aplicada em um
determinado objeto fixo a um eixo faz
com que o mesmo entre em movimento
de rotação, podemos definir uma
grandeza física: o torque ou momento de
força. Torque é uma palavra originada do
latim “torcere”, que significa torcer. Da
mesma forma que a força pode ser
entendida como a causa para a
aceleração linear, o torque pode ser
explicado como o “causador” da
aceleração angular. Para que um objeto
entre em movimento de rotação, é
necessário que uma força seja exercida
sobre o mesmo em um ponto que não
coincida com o seu eixo de rotação e em
uma direção que não coincida com a do
raio do giro. Quanto mais distante e mais
perpendicular ao eixo de rotação for
aplicada a força no objeto, maior será a
facilidade para fazê-lo girar. É por este
motivo que temos a localização das
maçanetas de portas o mais distante
possível das dobradiças (o seu eixo de
rotação). E é desta forma que as artesãs
conseguem, sem fazer tanto esforço,
esticar o tecido e o urdume no tear,
usando o órgão inferior e o superior,
respectivamente.
Sugestão de atividade para o professor
- Solicitar aos estudantes que tentem
abrir uma porta utilizando só um dedo a
diferentes distâncias das dobradiças.
O REPASSO
O repasso é uma combinação de passagem de
fios nas quatro folhas de liço, sendo
finalizado na pedalagem, que segue a mesma
seqüência descrita para os liços. É, portanto,
um esquema de concepção que contém as
indicações necessárias tanto para a passagem
dos fios do urdume nos liços, como também
para a seqüência de pedalagem durante a
tecelagem. Ele define o desenho a ser tecido.
Para cada tipo de repasso tem-se um desenho
diferenciado. As artesãs trocavam repasso
entre elas. Algumas conseguiam copiar o
repasso observando uma colcha já feita.
49
D. Valdivina: A h! E ra o tal de, a gente falava repasso. O desenho é no liço que ocê faz. A quele pano que é feito de cordão... O repasso só ju lga lá naquele... O jeito que põe o repasso, cê tem que m udar o pé. D. Sebastiana: A gente vê o desenho, aí a gente rum a. O m elhor que tem que vê é o repasso. É o desenho. Porque no desenho ele exprica tudo, né? O s risquinho lá. Só se errá um a linha... É , por exem plo: aqui dois risquim , então tem que repassar quatro linha, porque é duas de cá e duas de cá. A qui já é seis linha, três daqui, três daqui. D á seis linha. A qui já é cinco, daqui dez linha. É com pricado! Se não prestá bem a atenção... D.Valdivina: Porque o jeitinho que ocê repassou que ocê tem que tecer.
Dá para fazer muitos tipos de repassos? Tem como determinar
isso?
www.expoente.com.br
Tecendo outros saberes: análise combinatória
Qual é a chance que temos de ganhar
um prêmio na loteria? Qual a chance de
um time de futebol se classificar para a
Copa do Mundo de Futebol de 2006, se
existirem 198 seleções e 32 vagas?
Quantos tipos de repasso podem ser
realizados, se este é definido pelas
quatro folhas de liço? Estas questões
são estudadas por uma área da
matemática denominada análise
combinatória. Dentre os tipos de análise
combinatória, encontramos três tipos: a
permutação, o arranjo e a combinação. A
primeira é mais simples delas, pois nela
analisamos quantas vezes podemos
organizar um grupo de elementos,
considerando todos os elementos. Já no
arranjo tem-se um subgrupo do grupo e
não se pode haver a repetição dos
elementos do subgrupo e a ordem em
que estes são organizados é levada em
consideração. Na combinação linear,
esta ordem não é importante. Um
fenômeno de permutação, o crossing-
over, ocorre em nossas células, durante
a formação das células sexuais para a
reprodução. Os genes de um mesmo
cromossomo podem trocar a sua
posição, formando-se, após a meiose,
cópias opostas do cromossomo. Tal
fenômeno garante a variabilidade
genética.
50
Sugestão de atividade para o professor
- Realizar com os estudantes um estudo
sobre a possibilidade de isômeros de
algumas substâncias orgânicas.
- Exercitar com os estudantes um
exercício matemático com quantidade
diversificada de copinhos plásticos,
questionando-os sobre a possibilidade
de combinações de copinhos virados de
cabeça para baixo.
OS TIPOS DE REPASSOS
Os repassos formam desenhos e, por isso,
muitas vezes eram batizados de acordo com
as representações que as tecelãs faziam dos
mesmos. Assim, tinha-se o “doce-de-leite”, o
“tamborete” ou o “xis”. Algumas tecelãs
mais habilidosas utilizavam-se do bordado,
feito no próprio tear, para produzir peças
mais diferenciadas, como a colcha de pavão.
D. Fiica: A h, esse tecido aqui cham a roda de engenho. E ssa aqui nóis cham a de carrapicho. D. Maria Luísa: E cochinil, né? D e por no arreio. D eixano os capuchim . D. Geralda: É , esse é com o algodão e tira, né. E essas tira é tudo de pano novo. E ssas costelinha é de pano. D. Maria Luísa: E ssa aqui é xis. Pode falar xis ou tam borete, né? A gora, essa aqui uns fala m am oninha. M am oninha, outros fala dadinho. A gora, essa aqui é doce de leite. O lha o pedaço de doce aí. D.Valdivina: Tecia corte de calça, pano liso pra fazer lençol, fazer toalha, fazer de fustãozinho. D. Liósia: Porque eu m exia com corte de calça.
D. Maria: T inha o fustãozim que falava assim dois oinho. A queles dois oim assim , ó. A queles dois oim assim . E la repassava, a gente fazia, ficava bonitim que só veno! Pra fazê calça. Terezinha: E la tecia colchas, tapetes, toalhas. U m a colcha que antigam ente falava pavão, que era m uito bonita. Q uase que não tem aqui. É um dadinho com o esse aqui, ó, que eu tô fazeno. A í tinha o dado m aior e o dado m enor. A í fazia o desenho, né? F azeno aqui o desenho, cham ava pavão.
Os desenhos nas colchas
parecem se repetir... há um padrão?
cinderella.lmc.fc.ul.pt
Tecendo outros saberes: geometria
Ao observarmos a natureza, podemos
distinguir vários padrões geométricos,
51
como os hexágonos dos favos das
colméias, os espirais dos caracóis, as
formas arredondadas de várias frutas,
etc. A geometria, ciência matemática que
trata de formas, de suas propriedades e
das suas relações, surgiu há vários
séculos no Antigo Egito, devido à
necessidade do ser humano de medir
terrenos. Por isto, etimologicamente, a
palavra geometria é originária de duas
palavras gregas: geos (terra) e metron
(medida). Além de ser utilizada na
divisão de terras de cultivo, a geometria
era também empregada em aplicações
práticas como a drenagem de pântanos,
a irrigação, a construção de
monumentos (como as pirâmides), a
construção de vários objetos e utensílios
e os desenhos que enfeitavam os
tecidos. Na Antiguidade Clássica, três
problemas matemáticos originados na
geometria estimularam o pensamento
dos geômetras gregos a duplicação do
cubo, a trissecção do ângulo e a
quadratura do círculo. Foi neste período
que foram desenvolvidas demonstrações
matemáticas rigorosas a respeito da
geometria pelos gregos Tales de Mileto,
Pitágoras e Euclides, sendo este último
quem primeiro definiu conceitos como
ponto, reta e superfície.
Conceitos químicos relacionados
- Geometria molecular.
- Sais e metais (sistemas cristalinos).
Sugestão de atividade para o
professor - Em um trabalho interdisciplinar
(matemática e artes), os professores
podem estudar as formas geométricas e
suas relações a partir do uso dos
padrões geométricos encontrados na
natureza e também nos tecidos, além de
fazer dobraduras com os estudantes.
TECER
Para iniciar a tecelagem, as artesãs
preenchem a canelinha da lançadeira com as
linhas da trama. Então, elas pisam os pedais
de acordo com o repasso. Quando os mesmos
são pisados, as folhas de liço também se
movimentam, separando-se os fios do
urdume. A abertura criada pelo movimento
dos pedais permite que se passe a lançadeira
entre os fios do urdume, da esquerda para a
direita e vice-versa, formando-se o tecido. As
folhas de liço são suspensas por fios que
passam por roldanas fixas presas na parte
superior do tear.
52
D. Fiica: A gente enrola nessa canelinha aqui para poder jogar aqui pra poder tecer. D. Valdivina: É , duas lançadeira porque se não for. N ão! N ão é. É um a lançadeira só. M as tem que encher com linha junto porque senão as lã acaba e as linhas fica. D. Sebastiana: A lançadeira, por exem plo, ela tá daqui, né. A li na hora eu tenho que coisar do lado que ela tá. P isar. Se eu pisar de cá, dá tudo errado. Para que servem as roldanas?
Tecendo outros saberes: máquinas simples
"Dêem-me um ponto de apoio e eu
levantarei o mundo". Esta frase famosa
creditada a Arquimedes remete ao uso
das máquinas simples. Elas são uma
peça ou dispositivo que permite ao ser
humano, a partir da alteração da direção,
intensidade ou sentido de aplicação de
uma determinada força, fazer um esforço
muscular menor. Como exemplo de
máquinas simples, temos o martelo, a
alavanca, a roldana (ou polia) e o plano
inclinado. Para determinarmos a
eficiência de uma máquina simples,
fazemos uso da vantagem mecânica. Ela
é a relação entre a intensidade da força
transmitida pela máquina ao objeto e a
força aplicada pelo ser humano. No caso
de polias, elas podem ser de dois tipos:
fixas e móveis. As primeiras não
diminuem a intensidade da força a ser
aplicada, ou seja, a sua vantagem
mecânica é igual a 1. A vantagem em
seu uso refere-se à mudança de sentido
da força. Isto quer dizer que, na tentativa
de erguermos um objeto, podemos usar
uma polia fixa presa ao mesmo. A polia
móvel com cordas paralelas oferece uma
vantagem mecânica igual a dois. Pode
ser realizada a associação de polias
(móveis e fixas).
Sugestão de atividade para o professor
- Realizar com os estudantes um estudo
experimental para se levantar um peso
qualquer (ex: saco de açúcar) utilizando
associação de polias.
HOJE É MAIS QUENTE?
Um artigo muito confeccionado pelas artesãs
era a colcha de lã, “quente” e pesada. Estas
colchas eram tecidas entrelaçando fios de
algodão e de lã. Os fios de algodão davam
mais firmeza à colcha. Como a lã é um bom
isolante térmico, as colchas eram utilizadas
nos períodos de inverno. Atualmente, elas
foram substituídas por cobertores e edredons.
53
D. Geralda: Por isso que eu tô te falando. Parece que não tá fazendo m uito calor, o povo não gosta deste trem m ais não. D e prim eiro, fazia m uito frio, caía m uita geada. E ntão essas cocha era um a beleza pra em bruiá. M as hoje em dia não é não. H oje em dia faz calor.
Por que está acontecendo esta mudança de temperatura em
nosso planeta?
www.seed.slb.com
Tecendo outros saberes: o aquecimento global
Atualmente, fala-se muito sobre o efeito
estufa, que é a retenção de calor, na
forma de radiação infravermelha com
comprimentos de onda entre 4 e 50 µm,
por certos gases na atmosfera terrestre.
Esse efeito aquece a Terra como se a
envolvesse em uma estufa. Sem esta
estufa natural, não haveria vida em
nosso planeta. O vapor d’água, o metano
e o gás carbônico (dióxido de carbono)
são os principais gases-estufa. Devido
ao aumento das atividades humanas,
como a utilização de combustíveis
fósseis e a queimada de grandes áreas
arborizadas, a concentração de gás
carbônico tem se elevado e isto causou
uma elevação anormal da temperatura
da atmosfera do nosso planeta. Como a
velocidade de mudança da temperatura
na Terra foi muito rápida, muitos
ecossistemas terrestres não conseguem
se adaptar. Então, essas mudanças
climáticas podem provocar a modificação
da fauna e da flora na superfície terrestre
e, além disso, ainda levar à destruição
cidades localizadas no nível do mar e à
alteração do perfil dos continentes.
Algumas hipóteses levantadas sobre o
efeito estufa apontam que a temperatura
média global da atmosfera terrestre em
torno do ano de 2030 pode elevar-se de
1,5 a 5,5oC, caso o teor de dióxido de
54
carbono duplique até este ano.
Alternativas para os combustíveis fósseis
têm sido estudadas pela comunidade
científica e acordos internacionais como
o Protocolo de Kioto foram realizados a
fim de diminuir a emissão de gás
carbônico na atmosfera terrestre.
Conceitos químicos relacionados
- Gases (lei dos gases, difusão, etc.).
- Reação química.
- Termodinâmica.
Sugestão de atividade para o professor
- Realizar com os estudantes um
experimento que simule o efeito estufa
utilizando garrafas pet, terra,
termômetros e tinta preta. As garrafas
são preenchidas com terra e uma delas
é pintada com a tinta preta. Fixam-se os
termômetros nas garrafas e observa-se a
temperatura das duas garrafas quando
colocadas ao sol.
UMA PROFISSÃO: ARTESÃ
D. Sebastiana: E u nunca trabaiei de carteira assinada. Q uando teve esse serviço, assinou a carteira, o m édico falou assim : “_ M ais cê com 69 ano, agora que vai assiná a carteira? Prim eira vez?” E u falei: “_É , agora que eu tô nasceno de novo!” E u fiquei tão feliz! Pois eu sonhava direto de trabaiá com carteira assinada. Por isso que sonho, o sonho pode esperar que um a hora ele realiza. E u sonhava direto de tá trabaiano de carteira assinada! Q uando assinô m inha carteira, uai, m eu sonho realizou, uai! Tá
bom ! U m ano m esm o já serve, né? Pra num dizê que nunca trabaiou de carteira assinada. A inda m ais eu que num tive estudo, né? F oi um a bênção, né? E u num esperava... D. Valdivina: Tudo o que eu tenho, pouca coisa que eu tenho, m as tudo que eu tenho foi ganhado com esse tiar. P ra m im , era o m elhor serviço que tinha. A dorava tecer e bordar a m áquina. E sses dois. D. Geralda: E u gosto. E u sem pre falo pros m eus m enino: a tecelagem é um pedaço da m inha vida!
55
Glossário de termos relacionados à tecelagem
- Casal: caixa de madeira com doze
compartimentos presa a estacas paralelas de
madeira. Estas estacam prendem-se a outra
estaca colocada na horizontal, perfurada com
doze buracos.
- Espadilha: espécie de estaca de madeira em
forma de espada, com doze furos, por onde
passam os fios que serão urdidos.
- Fios da trama: fios que passam na
“horizontal” do tecido, colocados na
canelinha da lançadeira.
- Lançadeira: peça de madeira em formato de
barco que faz passar os fios da trama pelos
fios do urdume.
- Liço: conjunto de quatro folhas de madeira
separadas por uma trama de algodão, donde
passam os fios urdidos.
- Queixa: moldura de madeira que se prende
ao alto do tear e na qual encaixa-se o pente.
Ela movimenta-se em sentido horizontal,
juntando os fios da trama após a passagem
entre os fios do urdume.
- Tempereiro: instrumento de ferro ou de
madeira utilizado para manter paralelas e
regulares as orlas do tecido.
- Urdume: conjunto de fios preparados na
urdideira.
Glossário de algumas palavras ou expressões próprias do
linguajar das artesãs - Bate: agita, mistura.
- Carcano: apertando, fazendo pressão.
- Chucha: coloca.
- Cochada: grande quantidade.
- Cochinil: pelego, espécie de manta de lã
que cobre a sela do cavalo.
- Da moda: quer dizer.
- Do modo do povo: como diz o povo.
- Em deusde: desde.
- Pro mode: para poder (fazer alguma coisa).
- Rego: córrego.
- Ruma: coloca.
- Sume: sumo, suco.
Referências Bibliográficas ANDERY, M.A. et al. Para compreender
a ciência: uma perspectiva histórica.
15. ed. Rio de Janeiro: Garamound, 2006.
ARAGÃO, R.M.R. ; SCHNETZLER, R.P.; CERRI, Y. L.N.S. (Org.) Modelos de
ensino: corpo humano, célula,
reações de combustão. Piracicaba: UNIMEP/CAPES/PROIN, 2000.
ATKINS P.W.; JONES, L. Princípios de
Química: Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001.
BLACKWOOD, O.; HERRON, W. B.; KELLY, W. C. Física na escola
secundária. Tradução de José Leite Lopes e Jayme Tiomno. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. Disponível em: <http://www4.prossiga.br/Lopes/prodcien/fisicanaescola/indice.htm.>. Acesso em: set. 2007.
CORANTES: A química nas cores. QMCWEB: Revista eletrônica do
56
Departamento de Química da UFSC, Florianópolis, ano 4. Disponível em: <http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/dye/corantes.html.> Acesso em: nov. 2004. DUARTE, Cláudia Renata. A tecelagem manual do Triângulo Mineiro: uma contribuição para a história da cultura material em Minas Gerais. História &
Perspectivas, Uberlândia, nos 25 e 26, p.121 a 146, Jul./Dez 2001-Jan./ Jul. 2002. EMBRAPA algodão. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O
Algodão. Disponível em: <http://www.cnpa.embrapa.br/produtos/algodao/index.html>. Acesso em: 19 dez. 2006. FACHIM, I. M. et al. Investigando a
identidade da planta:
monocotiledônea e eucotiledônea. In: XVI SEMANA DE BIOLOGIA, Unioste. Disponível em: <http://www.unioeste.br/eventos/xvisembio/trabalhos/INVESTIGANDO_A_IDENTIDADE_DA_PLANTA.pdf>. Acesso em: set. 2007.
FERRAZ NETTO, L. Máquinas
Simples: Parte 1 - Conceitos Gerais. Feira de ciências. Disponível em: <http://www.feiradeciencias.com.br/sala06/06_RE01.asp>. Acesso em: 03 out. 2007.
FUNDAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA. Secretaria da Cultura, Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tecelagem Manual no Triângulo Mineiro – uma abordagem tecnológica. Brasília, 1984.
GOUVEIA-MATOS, J.A. Mudança nas cores dos extratos de flores e do repolho roxo. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 10, p. 6-10, nov. 1999.
Grupo de reelaboração do Ensino de Física (GREF). Física 1: mecânica. São Paulo: EDUSP, 1990.
HOBSBAWM, E. J. A era das
revoluções (1789-1848). 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
GEPEQ. Interações e transformações
I. Química – Ensino Médio. 6. ed. São Paulo: EDUSP, 2000.
JARDIM, W. R. Os ovinos. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1977. 196 p. (Biblioteca Rural). LACHTERMACHER-TRIUNFOL, M.; POSSIK, P. A., MAIA, R. A. O DNA vai à
escola: crossing-over e meiose, 2001. Disponível em: <http://www.odnavaiaescola.com/topicos.htm>. Acesso em: 22 nov. 2007.
LINHARES, S.; GEWANDSZNAJDER, F. Biologia hoje: os seres vivos. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997. v. 2 (Livro do professor). LUTFI, M. Os ferrados e os cromados:
produção social e apropriação privada do conhecimento químico. Ijuí: Unijuí, 1992. (Série ensino de 2o grau). MATEUS, A. L. Química na cabeça. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. MÓL, G. S. et al. Constante de avogadro: é simples determiná-la em sala de aula. Química Nova na Escola, São Paulo, n. 3, p. 32-33, mai. 1996.
MÓL. G.S.; SANTOS, W.L.P. dos (Coord.). Química na sociedade. V. 1, mód. 2 Brasília: Editora UnB, 1998.
57
OLIVEIRA FILHO, K. S.; SARAIVA, M. F. O. Marés. Disponível em: < http://astro.if.ufrgs.br/fordif/node3.htm>. Acesso em: 19 dez. 2006.
PALMA, M. H. C.; TIERA, V. A. O. Oxidação de metais. Química Nova na
Escola, São Paulo, n. 18, p. 52-54, nov. 2003.
PROENÇA, C. E. B.; OLIVEIRA, R. S.; SILVA, A. P. Flores e Frutos do
Cerrado. 2. ed. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, v. 1, 2006. RETONDO, C. G.; FARIA, P. Química
das sensações. Campinas: Átomo, 2006.
RODRIGUES, T. P. Física: o torque e as alavancas – 1. Folha on line. 28/11/2002. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u11712.shtml>. Acesso em: 03 out. 2007.
SANTOS, W.L.P.; MÓL. G.S. (Coord.) Química & Sociedade. Módulo 3. São Paulo: Nova Geração, 2004. (Coleção Nova Geração).
SANTOS, W.L.P.; MÓL. G.S. (Coord.) Química & Sociedade. Volume único,
ensino médio. São Paulo: Nova Geração, 2005.
SILVA, T. S. S. da. Estudo de
tratabilidade físico-química com uso
de taninos vegetais em água de
abastecimento e esgoto. 1999, 88 p. Dissertação. (Mestrado) - Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1999.
TOLENTINO, M.; ROCHA-FILHO, R. C.; SILVA, R. R. A atmosfera terrestre. 2. ed. reform. São Paulo: Moderna, 2004. VANIN, J.A. Alquimistas e químicos: o passado, o presente e o futuro. São Paulo: Moderna, 1994. (Coleção polêmica).
VIEIRA, L.G.E. Organismos geneticamente modificados: uma tecnologia controversa. Ciência Hoje, São Paulo, v. 34, n. 203, p. 28-32, 2004.