BAHIA · árias, como Ilhéus (BA); ` retenção de sedimentos em cabos inconsolidados, como é o...

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BAHIA José Maria Landim Dominguez CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Abílio Carlos da Silva P. Bittencourt CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Adeylan Nascimento Santos CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Ana Claudia da Silva Andrade UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - ILHÉUS Ana Amélia de Oliveira Lavenere-Wanderley UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - ILHÉUS Iracema Reimão Silva CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Isaac Góes de Queiroz CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Leonardo Maximiliano Bittner de Freitas CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Lucas Nascimento CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Rian Pereira da Silva CPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

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José Maria Landim DominguezCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Abílio Carlos da Silva P. BittencourtCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Adeylan Nascimento SantosCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Ana Claudia da Silva AndradeUNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - ILHÉUS

Ana Amélia de Oliveira Lavenere-WanderleyUNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - ILHÉUS

Iracema Reimão SilvaCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Isaac Góes de QueirozCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Leonardo Maximiliano Bittner de FreitasCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Lucas NascimentoCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Rian Pereira da SilvaCPGG – INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

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JOSÉ LANDIM DOMINGUEZ | ABÍLIO DA SILVA BITTENCOURT | ADEYLAN NASCIMENTO SANTOS | ANA CLAUDIA DA SILVA ANDRADE | ANA AMÉLIA DE OLIVEIRALAVENERE-WANDERLEY | IRACEMA REIMÃO SILVA | ISAAC GÓES DE QUEIROZ | LEONARDO BITTNER DE FREITAS | LUCAS NASCIMENTO | RIAN PEREIRA DA SILVA

Resumo

Este trabalho apresenta um diagnóstico da Erosão Costeira no Estado da Bahia,totalizando cerca de 1054 km de extensão. Este diagnóstico mostrou que a maiorparte da linha de costa encontra-se em equilíbrio. Os principais casos de erosãoestão associados à dinâmica de desembocaduras fluviais (migração lateral no casode pequenos cursos d’água, mudanças na configuração das barras de desemboca-dura e variações naturais da vazão sólida e líquida). Outros casos de erosão severaestão associados à retenção de areia por instalações portuárias (Ilhéus) e em cabosinconsolidados (Caravelas). Adicionalmente diferentes trechos de falésias na regiãosul do Estado da Bahia encontram-se em erosão, devido a uma tendência de longoprazo para um balanço negativo. Os casos mais significativos de progradação fo-ram verificados nas desembocaduras dos rios Jequitinhonha e Contas.

Abstract

This paper presents a diagnostic of coastal erosion for the state of Bahia, totaling about

1054 km of shoreline. The results obtained show that the majority of the shoreline can be

considered as in a state of equilibrium during the last 40 years. Major cases of severe erosion

are associated with the dynamics of river mouths (lateral migration in the case of small

rivers, changes in the configuration of river mouth bars and natural variations in liquid and

solid discharge). Other cases of severe erosion are associated with trapping of littoral sands

at major man-made structures (port of Ilhéus) and at unconsolidated capes (Caravelas).

Additionally several sectors of the southern Bahia state are characterized by active retreating

cliffs related to long term negative sediment budget. The most significant examples of

shoreline progradation are located at the Jequitinhonha and Contas river mouths

Agradecimentos

Este trabalho não teria sido possível sem o apoio das agências nacionais de fomen-to à pesquisa e ensino (CNPq, CAPES), assim como a CBPM, UFBA, UESC eMMA-PGGM, por meio de recursos financeiros e de utilização de suas infra-estru-turas. Diversas pessoas estiveram envolvidas ao longo deste trabalho, particularmentealunos de graduação e pós-graduação, sem cujo entusiasmo o mesmo não teriasido concluído.

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INTRODUÇÃO

A erosão costeira é um tema que tem despertado a atenção de um grande númerode pesquisadores em todo o mundo, em virtude dos danos materiais que este fenô-meno tem gerado. A tendência, muitas vezes simplificadora de atribuir este processoa uma possível elevação do nível relativo do mar durante as últimas décadas, deveser em uma primeira abordagem evitada, pois pode constituir um empecilho à umamelhor compreensão do fenômeno, particularmente na costa do Brasil.

A partir de um esforço integrado envolvendo recursos aportados pelo CNPq, CBPM(Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), MMA-PGGM (Programa de Geologia eGeofísica Marinha), UFBA, UESC e CAPES, que possibilitaram a realização de tra-balhos de campo e de teses e dissertações junto ao Curso de Pós-Graduação emGeologia, foi concluído o mapeamento detalhado, na escala 1:100.000, da linha decosta dos estados da Bahia e Sergipe cujos resultados são aqui apresentados.

MÉTODOS

O diagnóstico do comportamento da linha de costa do Estado da Bahia foi realizadoutilizando–se os seguintes procedimentos:

a linha de costa foi percorrida, quando possível, a pé ou com veículo tipo buggy,ou no caso de algum impedimento,utilizando-se embarcação ou sobrevôo.

sempre que possível foi coletada uma amostra do sedimento da face da praia emintervalos que na grande maioria dos casos se situou em torno de 1 km. Em cadaponto amostral foi preenchida uma ficha padrão com quesitos sobre inclinaçãoda face da praia (medida com um clinômetro), altura e número de rebentações,estágio da maré, presença de feições indicativas de erosão ou progradação, pre-sença de obras de engenharia e outras feições culturais, além de realizada adocumentação fotográfica.

durante os trabalhos de campo a posição da linha de costa foi marcada com umreceptor GPS, utilizando como critério o início da vegetação no pós-praia. Estaposição da linha de costa foi depois confrontada com a linha de costa traçadaem fotos aéreas e imagens de satélite para diferentes anos, compreendendo umperíodo de aproximadamente 40 anos (1960-2000).

uma modelagem dos padrões de refração de ondas para todo o trecho de costainvestigado foi realizada utilizando-se diferentes pacotes de software. Nesta mo-delagem foram utilizados parâmetros de onda extraídos da literatura e tambémdeterminado o sentido da deriva litorânea associada a cada frente-de-onda as-sim como a deriva efetiva.

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Figura 1. Tendências de comportamento da linha de costa para o Estado da Bahia

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todas as informações geradas foram integradas em um sistema de informaçõesgeográficas, utilizando-se como base de referência as cartas plani-altimétricas daSUDENE-IBGE.

RESULTADOS

Em função da metodologia empregada acima os trechos de linha de costa, compraias arenosas foram enquadrados em quatro categorias (Figura 1):

Linha de Costa em Erosão

Inclui todos os trechos caracterizados por evidências notáveis de recuo continuadoda linha de costa tais como vegetação com raízes expostas, falésias, propriedadesameaçadas etc. Estas evidências de campo foram depois confrontadas e confirma-das por meio do exame de fotografias aéreas verticais, imagens de satélite e entrevistascom moradores. Os casos mais severos de erosão encontrados podem ser assimcategorizados:

retenção de sedimentos por obras de engenharia associadas a instalações portu-árias, como Ilhéus (BA);

retenção de sedimentos em cabos inconsolidados, como é o caso da porção sul daplanície de Caravelas;

balanço sedimentar negativo de longo prazo, como é o caso do recuo de falésiasesculpidas na formação Barreiras na região sul do Estado da Bahia;

redução de descargas sólidas e líquidas decorrentes de processos naturais ouintervenções humanas;

migração lateral de pequenas desembocaduras fluviais.

Linha de Costa em Equilíbrio

Inclui todos os trechos de linha de costa que nas últimas quatro décadas não apre-sentaram modificações significativas da posição da linha de costa, embora variaçõessazonais possam ser verificadas. Nesta categoria normalmente estão incluídos ossetores de linha de costa caracterizados por amplos segmentos de traçado retilíneo(litoral norte do Estado da Bahia, península de Maraú) ou formando grandes arcos(planícies costeiras de Guaibim, Pratigi, e porção norte de Caravelas no Estado daBahia, com exceção das desembocaduras fluviais).

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JOSÉ LANDIM DOMINGUEZ | ABÍLIO DA SILVA BITTENCOURT | ADEYLAN NASCIMENTO SANTOS | ANA CLAUDIA DA SILVA ANDRADE | ANA AMÉLIA DE OLIVEIRALAVENERE-WANDERLEY | IRACEMA REIMÃO SILVA | ISAAC GÓES DE QUEIROZ | LEONARDO BITTNER DE FREITAS | LUCAS NASCIMENTO | RIAN PEREIRA DA SILVA

Linha de Costa em Progradação

Inclui os trechos que nas últimas quatro décadas experimentaram expressivaprogradação da linha de costa, conforme verificado em campo e por meio de com-paração de fotografias aéreas verticais e imagens de satélite.

Em toda a área investigada o trecho que apresentou os valores mais expressivos deprogradação da linha de costa se situam imediatamente a norte e a sul do rioJequitinhonha, onde valores da ordem de até 500 metros de progradação foramverificados. O mesmo ocorreu com a margem baiana do rio Real, que se estendeupara norte por cerca de 500 metros.

Linha de Costa com Elevada Variabilidade

Inclui aqueles trechos onde a posição da linha de costa apresenta grande variabili-dade temporal e espacial associada ao transporte e deposição de sedimentos. Destaforma, trechos experimentando progradação e erosão se alternam ao longo dalinha de costa. Os processos associados a este tipo de comportamento podem serassim categorizados:

dinâmica sedimentar de pequenas desembocaduras fluviais controladas pelaação de ondas e marés que resultam em mudanças nas barras de desembocadura(deltas de maré vazante), com reflexo direto na linha de costa.

dinâmica sedimentar de entradas de baías e estuários.

DISCUSSÃO

A figura 2 sumaria as tendências de comportamento da linha de costa para oEstado da Bahia. Os resultados apresentados neste trabalho mostram que a erosãoda linha de costa (26% do trecho estudado) não apresenta qualquer relação comuma possível subida do nível relativo do mar nas últimas décadas, podendo serexplicada por processos tipicamente associados à dispersão e acumulação de sedi-mentos ao longo da linha de costa, à dinâmica de desembocaduras fluviais, ainterferências humanas e a tendências de longo prazo para um balanço negativo desedimentos.

A maior parte da linha de costa (60% do trecho estudado) encontra-se em equilí-brio, pelo menos na escala de tempo das últimas quatro décadas, utilizada nestetrabalho.

Os casos mais significativos de progradação (6% do trecho estudado) estão associ-ados a um número limitado de desembocaduras fluviais.

Desta forma podemos concluir que são alarmistas e inadequados para o Brasil, osdiagnósticos publicados na literatura segundo os quais 70% das linhas de costa do

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Figura 2. Síntese das tendências decomportamento da linha de costa para oEstado da Bahia. O trecho estudado tem umaextensão de 1054 km.

Equilíbrio

Erosão

Progradação

Estabilizado por obra de engenharia

mundo encontram-se atualmente em erosão (Bird 1985). Para a área estudada osvalores são significativamente menores (26%).

Não queremos dizer com isto, que erosão costeira não é um aspecto significativo aser considerado na gestão das zonas costeiras, merecendo um tratamento específi-co. A identificação de áreas de risco de erosão e sua inserção nos zoneamentosecológico-econômicos é de fundamental importância para evitar danos materiais epara manter a qualidade recreativa das praias arenosas.

Referências bibliográficas

BIRD, E.C.F. 1985. Coastline changes. A global review. Chichester J Wiley. 219p.