000918065
-
Upload
ronaldo-alves-ferreira -
Category
Documents
-
view
4 -
download
0
description
Transcript of 000918065
-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Faculdade de Arquitetura
Curso de Design Visual
CAMILA ROCKENBACH
A POESIA POP (UP) DE PAULO LEMINSKI: UM PROJETO EDITORIAL COM
TCNICAS DE ENGENHARIA DO PAPEL
Porto Alegre
2013
-
CAMILA ROCKENBACH
A POESIA POP (UP) DE PAULO LEMINSKI: UM PROJETO EDITORIAL COM
TCNICAS DE ENGENHARIA DO PAPEL
Trabalho de Concluso de Curso submetido ao curso
de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, como quesito parcial para a obteno do
ttulo de designer.
Professor Orientador: Airton Cattani
Porto Alegre
2013
-
CAMILA ROCKENBACH
A POESIA POP (UP) DE PAULO LEMINSKI: UM PROJETO EDITORIAL COM
TCNICAS DE ENGENHARIA DO PAPEL
Trabalho de Concluso defendido e aprovado como requisito parcial para a obteno do ttulo
de designer para a Banca Examinadora constituda por:
_______________________________
Prof. Airton Cattani
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Professor Orientador
________________________________
Prof. Fabiano de Vargas Scherer
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
______________________________
Prof. Lia Bruscato
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
______________________________
Carolina Filmann
Membro externo
Porto Alegre
2013
-
Em memria de Denila Kempf Massing.
-
em cima
da hora
tudo
piora
Paulo Leminski
-
RESUMO
Este Trabalho de Concluso de Curso consiste no estudo e desenvolvimento de um
projeto editorial utilizando tcnicas de engenharia do papel. A engenharia do papel explora os
atributos mecnicos deste substrato, criando dispositivos mveis como pop-ups, linguetas e
volantes rotatrios, entre outros. Estes dispositivos, alm de um bvio potencial pedaggico,
exercem atrao e encanto, alm de constituir um diferencial que apenas o suporte em papel
oferece, o que faz da engenharia do papel uma ferramenta valiosa para a valorizao do livro
impresso em um tempo em que as publicaes digitais comeam a se impor. A primeira etapa
do trabalho realizou um breve estudo do atual estado da arte da engenharia do papel no design
de livros, aplicando os conhecimentos adquiridos na execuo de um livro mvel baseado nos
poemas de Paulo Leminski na segunda etapa. O presente trabalho engloba conhecimentos
como histria dos livros mveis, processos de produo, tcnicas de engenharia do papel e
breve anlise de alguns exemplares de livros mveis e do material existente nas livrarias
brasileiras, seguido de um relatrio de desenvolvimento do projeto editorial proposto.
Palavras-chave: design de livros, livros mveis, engenharia do papel, pop-ups.
-
SUMRIO
1 Introduo ........................................................................................................................... 8
2 Justificativa ....................................................................................................................... 10
3 Objetivos .......................................................................................................................... 11
3.1 Geral .......................................................................................................................... 11
3.2 Especficos ................................................................................................................. 11
4 Metodologia ...................................................................................................................... 12
5 Fundamentao Terica .................................................................................................... 15
5.1 Histria da Engenharia do Papel em livros .................................................................. 16
5.2 Aplicaes .................................................................................................................. 27
5.3 Materiais e processos .................................................................................................. 29
5.3.1 Design de um livro mvel e engenharia do papel .................................................. 29
5.3.2 Prottipo .............................................................................................................. 30
5.3.3 Tipos de papel ...................................................................................................... 30
5.3.4 Aninhamento (nesting) ......................................................................................... 31
5.3.5 Impresso ............................................................................................................. 32
5.3.6 Outros materiais e acabamentos............................................................................ 32
5.3.7 Facas de corte e vinco .......................................................................................... 33
5.3.8 Corte a laser ......................................................................................................... 34
5.3.9 Montagem ............................................................................................................ 34
5.3.10 Encadernao ..................................................................................................... 34
5.4 Tcnicas de engenharia do papel ................................................................................. 36
5.4.1 Pop-ups ................................................................................................................ 36
5.4.1.1 Dobras desenvolvidas a partir da base: estruturas a 90 .................................. 38
5.4.1.2 Dobras desenvolvidas com abas ..................................................................... 39
5.4.1.2.1 Dobras paralelas ...................................................................................... 40
5.4.1.2.2 Plano flutuante ........................................................................................ 41
5.4.1.2.3 Cubo ....................................................................................................... 42
5.4.1.2.4 Dobras em V ........................................................................................... 44
5.4.1.2.5 Mecanismo giratrio ................................................................................ 46
5.4.1.2.6 Tira de ativao automtica ..................................................................... 46
-
5.4.2 Linguetas (pull tabs) e trilhos ............................................................................... 47
5.4.3 Volantes ............................................................................................................... 49
6 Pesquisa de campo ............................................................................................................ 52
6.1 Anlise de similares .................................................................................................... 52
6.1.1 ABC3D, de Marion Bataille .................................................................................. 52
6.1.2 One Red Dot: A Pop-Up Book for Children of All Ages, de David A. Carter ......... 58
6.1.3 Alices Adventures in Wonderland, de Robert Sabuda .......................................... 63
6.2 Levantamento em livraria: pblicos contemplados, aspectos formais e tcnicos dos
exemplares disponveis ..................................................................................................... 67
7 Conceito do Projeto ........................................................................................................... 74
8 desenvolvimento do projeto .............................................................................................. 75
8.1 Poemas escolhidos ...................................................................................................... 75
8.2 O design do livro ........................................................................................................ 78
8.2.1 Linguagem visual ................................................................................................. 78
8.2.2 Referncias visuais ............................................................................................... 79
8.2.3 Formato de pgina ................................................................................................ 79
8.2.4 Grid ..................................................................................................................... 80
8.2.5 Tipografia ............................................................................................................ 81
8.2.6 Ilustraes ............................................................................................................ 82
8.2.7 Capa e contracapa ................................................................................................ 83
8.3 As ilustraes mveis ................................................................................................. 84
8.3.1 Gerao de alternativas ........................................................................................ 84
8.3.2 Desenvolvimento das ilustraes mveis: ensaios................................................. 89
8.4 Peas finalizadas e instrues de montagem .............................................................. 108
8.5 Instrues de produo ............................................................................................. 115
8.6 Confeco do prottipo e verificao ........................................................................ 115
9 Consideraes finais ....................................................................................................... 122
Referncias ........................................................................................................................ 124
-
8
1 INTRODUO
Este trabalho de concluso de curso prope a execuo de um projeto de livro
empregando tcnicas de engenharia do papel. Mas o que a engenharia do papel? A
engenharia do papel consiste em explorar os atributos mecnicos do papel, criando
dispositivos mveis como pop-ups, linguetas e volantes rotatrios, entre outros dispositivos
que ativam a superfcie da pgina (BARTON, 2005). Estes dispositivos mveis adicionam
caractersticas normalmente no associadas bidimensionalidade esttica da pgina impressa,
como volumetria, movimento e interatividade, alterando desta forma a relao entre o leitor e
objeto impresso.
A faceta mais conhecida da engenharia do papel so os livros mveis e cartes pop-up,
e sobre os primeiros que deve recair o foco deste trabalho de concluso, dada a
complexidade exigida em um trabalho desta natureza. Livros mveis tm atrado leitores e
no-leitores, jovens e adultos, por mais de 800 anos (DYK, 2010).
Atualmente, pop-ups e dispositivos mveis so associados a livros infantis, mas o
gnero tem suas razes em textos cientficos antigos. Desde a Idade Mdia volvelles1 e
camadas desdobrveis de papel eram usadas para explicar conceitos de astronomia,
matemtica e anatomia (BARTON, 2005).
Segundo HASLAM (2010), os livros mveis enquadram-se numa rea editorial
especfica e qualquer designer que deseje trabalhar neste campo deve familiarizar-se com
alguns princpios bsicos de manipulao de papel. As decises de design incluem determinar
como as peas mveis se prendem pgina para que no arrebentem, quais pontos precisam
de cola e quanto, at que altura uma pea pode saltar da pgina, entre outros aspectos. O
ltimo passo para o engenheiro do papel distribuir ou aninhar todas as pginas e peas na
folha de impresso para evitar desperdcio de papel e viabilizar a produo (MONTANARO,
[s.d]).
Este setor do design editorial beneficiou-se grandemente de uma srie de avanos
tecnolgicos surgidos a partir dos anos 1990, como o design auxiliado por computador,
impressoras a laser e dispositivos de corte que tornaram possvel a produo em massa de
partes com cortes e dobras intricadas. Contudo, apesar da evoluo tecnolgica, livros mveis
ainda so montados mo e partilham muitos princpios de construo com as obras de
alguns sculos atrs (DYK, 2010).
1 Discos impressos sobrepostos, girando em torno de um eixo. Ver mais na pgina 16 deste trabalho.
-
9
Assim, partindo de uma primeira etapa de estudos dos fundamentos da engenharia do
papel, foi desenvolvido um projeto de livro mvel baseado nos poemas do paranaense Paulo
Leminski (1944-1989). Sua obra potica foi escolhida por preencher uma lacuna constatada
no mercado editorial brasileiro: a quase inexistncia de livros mveis voltados ao pblico
mais adulto. Com uma linguagem pop e acessvel, a poesia de Leminski dialoga bem com
leitores de diversas faixas etrias, o que permite que o projeto de livro proposto possa atender
tanto a um novo pblico como transitar no mercado mais consolidado. A execuo do projeto
tem um carter experimental, sendo fundamental a produo e aperfeioamento de prottipos
de teste para cada uma das ilustraes mveis desenvolvidas. O relatrio de desenvolvimento
do projeto detalha cada um dos testes realizados, assim como descreve as etapas de montagem
para cada uma das ilustraes mveis.
-
10
2 JUSTIFICATIVA
Utilizando apenas papel, cola e imaginao, livros mveis nos entretm e surpreendem,
proporcionando um prazer duradouro e oferecendo uma alternativa de interatividade desconectada
e autossuficiente, criada atravs de tcnicas mecnicas e artesanais relativamente simples
(UNIVERSITY OF VIRGINIA, 2000).
Porm, o prazer e o entretenimento no precisam ser um fim em si mesmo no caso dos
livros mveis. A mudana da pgina impressa esttica para um livro mecnico tridimensional
modifica a dinmica entre leitor, palavras e ilustraes. Ao acrescentarmos volumes, interatividade e
o elemento de surpresa experincia primariamente visual da leitura, conseguimos torn-la mais
rica, agradvel e memorvel. Ldico, dinmico, criativo e complexo, o livro animado tem, portanto,
bvios interesses educacionais. Ela coloca o leitor numa posio ativa, no apenas ao manipular o
livro, mas tambm por estimular a imaginao (DESNOUES, [s.d.]).
Alm de seu potencial para educar e entreter, a engenharia do papel constitui um
diferencial valioso na atual situao do mercado editorial. Em um mundo cada vez mais
conectado e virtualizado, em que textos, vdeos e animaes encontram-se cada vez mais inter-
relacionados e onipresentes, atualizados em tempo real, o objeto impresso passa a ser visto cada
vez mais como uma plataforma com possibilidades restritas. Por outro lado, o papel ainda possui a
dimenso fsica, a tridimensionalidade, o toque, uma relao diferenciada com os sentidos que
deve ser cada vez mais trabalhada e enfatizada medida que o papel perde sua primazia como
plataforma para disseminao de informaes e torna-se mais uma escolha de consumidores e
designers interessados em uma experincia de leitura mais envolvente e individualizada.
Todo esse fascinante potencial segue relativamente inexplorado no mercado brasileiro
se considerarmos a produo de contedos prprios, com design oriundo de nosso pas. A
maioria dos livros mveis encontradas em nossas livrarias constituda de obras
desenvolvidas em outros pases, especialmente nos Estados Unidos e Europa. Obras que
ensinem as tcnicas de engenharia do papel em portugus so praticamente inexistentes, assim
como cursos sobre o tema voltados a uma formao slida do profissional de design. Desta
forma, este trabalho de concluso pretende contribuir para fornecer subsdios para o designer
brasileiro interessado em conhecer as possibilidades da engenharia do papel.
-
11
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Fazer um levantamento terico de conhecimentos necessrios para o desenvolvimento
de um projeto de livro com tcnicas de engenharia do papel e executar um projeto prtico de
livro aplicando estes conhecimentos, adaptando parte da obra potica de Paulo Leminski.
3.2 ESPECFICOS
- Compreender a as funes e aplicaes das tcnicas de engenharia do papel,
contextualizando-as historicamente;
- Analisar o estado atual do mercado e da produo de livros mveis: pblico,
linguagens, tecnologias, locais de produo;
- Descrever as principais tcnicas utilizadas para conferir tridimensionalidade e
movimento ao papel;
- Descrever os materiais e processos envolvidos na produo de um livro mvel, suas
propriedades e limitaes.
- Selecionar contedos para a produo de um livro mvel, levando em conta a
situao atual do mercado brasileiro e propondo uma abordagem inovadora;
- Desenvolver e executar uma srie de dispositivos mveis de complexidade adequada
s limitaes de tempo e recursos existentes;
- Realizar o projeto grfico do livro, em uma linguagem visual apropriada ao contedo
da obra e ao pblico-alvo contemplado;
- Executar um prottipo funcional da obra e submet-lo a avaliao.
-
12
4 METODOLOGIA
H uma srie de metodologias voltadas ao desenvolvimento de projetos de design.
Estas costumam englobar o reconhecimento e definio de um problema, a compilao de
dados e informaes relevantes, uma fase de criao e uma de execuo/verificao. Estas
fases podem ser enumeradas, subdivididas ou organizadas de maneiras diferentes dependendo
do autor. Rodolfo Fuentes nos lembra que estes processos podem nos servir de guia, de ajuda
ou de memria (FUENTES, 2006), mas o designer deve estar preparado para encarar este
auxlio com a devida flexibilidade, uma vez que o imprevisto faz parte do processo criativo.
Bruce Archer (apud FUENTES, 2006), por exemplo, divide o processo de design em trs
fases:
a) Fase analtica
Recompilao de dados;
Ordenao;
Avaliao;
Definio dos condicionantes;
Estruturao e hierarquizao
b) Fase criativa
Implicaes;
Formulao de ideias diretoras;
Escolha ou ideia bsica;
Formalizao da ideia;
Verificao
c) Fase executiva
Valorizao crtica;
Ajuste da ideia;
Desenvolvimento;
Processo iterativo (reviso e correo das etapas anteriores);
Materializao.
-
13
Outra alternativa de encadeamento de etapas dada pelo prprio Fuentes (2006)2:
Problema;
Definio do problema;
Definio e reconhecimento de subproblemas;
Recompilao de dados;
Anlise de dados;
Criatividade;
Materiais e tecnologia;
Experimentao;
Modelos;
Verificao;
Desenhos construtivos;
Soluo.
Enquanto o encadeamento em trs macro fases de Archer proporciona uma
visualizao mais organizada do processo de projeto, ele tambm mais abstrato que o
segundo processo citado: deste, portanto, tomaremos emprestado as etapas mais concretas de
projeto (materiais e tecnologia, modelos, desenhos construtivos, etc.), alocando-as na fase
executiva do projeto.
Na primeira etapa do trabalho de concluso, que engloba a chamada fase analtica do
projeto, o processo de projeto se concentrou no levantamento e estudo de conhecimentos
necessrios para a realizao do projeto de design em etapa posterior. Para tanto, foram
realizados estudos tericos (histria, tcnicas, processos), estudo de campo em livraria
(levantamento da situao atual do mercado, linguagens, pblicos contemplados) e anlise de
similares (observando em detalhe trs exemplares de livros mveis).
As etapas subsequentes (fases criativa e executiva) foram executadas no TCC2. A
partir da definio da proposta do livro, foi realizada a seleo de contedo e gerao de
alternativas, passando-se ento para a fase de execuo do projeto. Antes de partir para o
design do livro propriamente dito, foram desenvolvidas as ilustraes mveis. Por se tratar de
um contedo que exige muitas experimentaes e ajustes, a fase executiva englobou muitas
2 Estas etapas so praticamente idnticas s detalhadas por Bruno Munari em seu processo de projeto (MUNARI,
2008), contudo Fuentes no o cita como fonte.
-
14
etapas de construo de modelos e correo de erros, possuindo um forte componente prtico.
Esta intensa experimentao fez com que as etapas de conceito, execuo das ilustraes
mveis e projeto grfico do livro se misturassem, de forma que os resultados obtidos em uma
determinada etapa acabassem influenciando processos anteriores e posteriores, em um
procedimento cclico de realizaes e revises.
-
15
5 FUNDAMENTAO TERICA
A engenharia do papel utiliza alguns termos prprios, que cabe esclarecer antes de
avanar na fundamentao terica deste trabalho. O prprio termo pede esclarecimentos
adicionais; assim, por engenharia do papel entende-se o conjunto de tcnicas que explora os
atributos mecnicos do papel, criando dispositivos mveis que podem ou no ser
tridimensionais. A engenharia do papel diferencia-se de outras tcnicas de trabalhar o papel,
como o origami, pois o movimento o seu objetivo bsico. Para atingir este objetivo, utiliza
princpios mecnicos, como alavancas, na construo de estruturas que podem ser entendidas
como mquinas simples de acionamento manual (BARTON, 2005).
Os livros que empregam tcnicas de engenharia do papel em sua confeco so
denominados livros mveis (termo que faz referncia ao movimento que estes dispositivos
proporcionam). Esta denominao mais ampla abarca o uso de quaisquer tcnicas de
engenharia do papel, sejam as do tipo pop-up ou no.
Por fim, pop-ups podem se referir tanto s tcnicas de engenharia do papel que fazem
uma imagem saltar da pgina quanto aos livros que empregam este tipo de tcnica.
comum no mercado editorial o emprego do termo pop-up para descrever livros mveis em
geral, mesmo que eles empreguem tambm outras tcnicas de engenharia do papel, como
linguetas ou volantes3. Isto pode causar alguma confuso, mas cabe esclarecer que, do ponto
de vista conceitual, pop-ups e livros mveis no so a mesma coisa. Para que um dispositivo
mvel seja definido como pop-up, duas condies devem ser atendidas: o acionamento
automtico do mecanismo com o abrir das pginas do livro e a tridimensionalidade da
estrutura resultante desta ativao. Os pop-ups so as tcnicas de engenharia do papel mais
populares, portanto muitos livros mveis disponveis atualmente no mercado so compostos
predominantemente desta tcnica. Do ponto de vista mercadolgico, isto justifica a adoo,
ainda que nem sempre estritamente correta, do termo pop-up para descrev-los.
Sendo assim, optamos pelo termo mais amplo livros mveis para descrever as obras
que envolvem engenharia do papel no corpo deste trabalho, mas o termo pop-up foi
empregado no ttulo do projeto, por ser um termo mais acessvel ao pblico mdio.
3 Para mais detalhes destas tcnicas e seu funcionamento, ver a seo 5.4 deste trabalho.
-
16
5.1 HISTRIA DA ENGENHARIA DO PAPEL EM LIVROS
Por tratar-se de um material frgil, o papel nem sempre sobrevive aos sculos de
manuseio e descarte, de forma que fica difcil traar a histria da engenharia do papel desde
os primrdios. De fato, o incio desta prtica se perde no tempo. Por sua importncia e
valorizao, o livro o objeto de engenharia do papel que melhor se presta ao estudo da
histria e evoluo destas tcnicas, pois muitos exemplares so cuidadosamente preservados.
Livros so, por definio, bidimensionais. Porm, por mais de 700 anos, artistas,
filsofos, cientistas e designers de livros tm tentado desafiar as fronteiras bibliogrficas do
livro, adicionando partes mveis para complementar e potencializar o texto (MONTANARO,
[s.d]). Assim, livros com mecanismos de movimento so uma inveno bastante antiga. A
audincia dos primeiro livros com esse tipo de mecanismo era adulta, e no crianas.
No se sabe quem inventou o primeiro dispositivo mecnico em um livro, mas um dos
primeiros exemplares conhecidos foi produzido por Matthew Paris, um monge beneditino
ingls, em seu Chronica Majorca (1236-1253). Nesta obra, Paris utilizou a volvelle para
calcular as datas dos feriados cristos nos anos subsequentes. Do verbo em latim medieval
volvere (girar), volvelles so discos impressos sobrepostos, girando em volta de um eixo. Ao
girar os crculos e alinhar as camadas de informao, dados podem ser coletados e novos fatos
extrados (RUBIN, 2005). Assim, volvelles se revelaram dispositivos muito teis, tendo sido
utilizadas para calendrios religiosos, clculos matemticos e cientficos, para auxiliar
navegaes e fazer previses astrolgicas.
Figura 1- Exemplo de volvelle renascentista encontrada no livro de Petri Apiani, Cosmographia (Anturpia, 1564).
Fonte: Thomas Fisher Rare Book Library4.
4 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de
julho de 2013.
-
17
A inveno dos tipos mveis por Gutenberg em 1450 possibilitou a impresso de livros
a preos mais baixos e uma maior proliferao do conhecimento. Em 1543, Andr Veslio
publicou o livro De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, um dos marcos do estudo de
anatomia, que inclua detalhadas ilustraes xilogrficas e o uso de abas conhecidas como
folhas fugitivas, desenhadas para serem separadas cuidadosamente e revelar as mltiplas
estruturas internas do corpo humano (MCNIFF e SCHULTZ, 2012). Veslio acreditava que
estas imagens mveis ofereciam aos leitores a oportunidade de participar na dissecao do
corpo humano. Embora estas folhas oferecessem apenas uma experincia virtual, elas
permitiam uma interao nica entre o leitor e o texto (MCNIFF e SCHULTZ, 2012).
Ainda que no tenha a relevncia de Veslio para a rea mdica, o Catoptrum
microcosmicum de Johann Remmelin (1619) destaca-se entre as obras de anatomia pelo uso
extensivo de abas com camadas de ilustrao. As trs lminas mveis presentes neste trabalho
so bastante complexas, podendo ter at 15 camadas diferentes que podem ser desdobradas
para revelar estruturas do corpo humano5.
Figura 2 - Catoptrum microcosmicum de Johann Remmelin (1583-1632), um dos livros de anatomia com
dispositivos mveis que surgiram no perodo.
Fonte: RUBIN, 2005 (foto por Carol Barton).
O uso de abas se presta bem para a explicao de temas que requerem imagens
tridimensionais, como anatomia e geometria. A traduo inglesa de Henry Billingsley para
The Elements of Geometrie de Euclides (Londres, 1570) tambm emprega o recurso. Nesta
5
Johan Remmelin. Iowa: University of Iowa, [s.d]. Disponvel em:
. Acesso em 04 de julho de 2013.
-
18
edio, os diagramas bidimensionais de pirmides e cubos so impressos em abas que o leitor
dobra para criar os slidos tridimensionais, permitindo aos leitores uma compreenso tangvel
da geometria dos slidos (MCNIFF e SCHULTZ, 2012).
Figura 3 - Os slidos desdobrveis de The Elements of Geometrie de Euclides.
Fonte: MCNIFF e SCHULTZ, 2012
Embora as partes mveis tenham sido usadas por sculos, seu uso se restringiu quase
unicamente aos trabalhos cientficos, pelo menos at o sculo XVIII, quando a Revoluo
Industrial na Inglaterra trouxe consigo uma evoluo e barateamento das tcnicas de impresso
que tornou o livro um objeto mais acessvel (MONTANARO, [s.d]). Outra consequncia da
Revoluo Industrial foi o surgimento de uma classe mdia com dinheiro para gastar em artigos
antes considerados suprfluos. Some-se a isso a expanso da alfabetizao na populao em
geral, e tem-se a explicao para o surgimento de uma indita demanda por livros,
particularmente por livros de entretenimento. Surge ento um mercado totalmente novo: livros
para crianas (HINER, 2002).
Um dos primeiros a explorar o mercado dos livros mveis para crianas foi o produtor
de livros Robert Sayer, de Londres, com a produo de livros metamorfose. Esses livros,
tambm chamados de harlequinades (em referncia ao personagem arlequim que aparecia nas
histrias), possuam abas no topo e na base da folha, que escondiam novas figuras e versos
embaixo (MONTANARO, [s.d]).
-
19
Figura 4 - Queen Mab or The Tricks of Harlequin, #6, Robert Sayer, 1771, um exemplo de harlequinade
Fonte: RUBIN, 2005.
Outros exemplos de livros mveis da primeira parte do sculo XIX eram os paper doll
books (livros de boneca de papel) produzidos pela editora londrina S. & J. Fuller a partir de
1810, os toilet books de Stacey Grinaldi dos anos 1820 (livros com abas para levantar) e
livros peep show, construes bastante elaboradas com cenas de histrias famosas ou eventos
que eram espiadas atravs de um pequeno furo na capa.
Figura 5 - The History of Little Fanny, S & J Fuller (1810): Um paper doll book com figuras que ficavam em p,
roupas e cabeas removveis.
Fonte: RUBIN, 2005.
Os primeiros livros verdadeiramente mveis publicados em maior quantidade foram os
produzidos pela empresa londrina Dean & Son a partir da metade do sculo XIX. Entre 1860
e 1900, a editora lanou cerca de 50 ttulos com essas caractersticas. Para produzi-los, a
empresa estabeleceu um departamento especial de artesos especializados que construam as
partes mecnicas mo. Os designers utilizavam o princpio dos livros peep-show, alinhando
cenas recortadas uma atrs da outra para dar um efeito tridimensional. Cada camada era
-
20
fixada prxima por um pedao de fita que emergia pelo alto da pgina, e quando esta fita era
puxada a cena inteira surgia em perspectiva (MONTANARO, [s.d]).
Figura 6 - Chapeuzinho Vermelho da Dean & Son com mecanismo mvel em ao.
Fonte: The Pop-Up Kingdom6
Dean tambm introduziu imagens que se transformavam baseadas no princpio da janela
veneziana. As ilustraes destes livros eram divididas em quatro ou cinco sees iguais por
cortes horizontais ou verticais. Quando uma lingueta ao lado ou na base da pgina era puxada, a
imagem se dissolvia em outra, que estava escondida embaixo (MONTANARO, [s.d]).
Figura 7 - As janelas venezianas em Dean's New Book of Dissolving Views (Londres: Dean and Son, 1860)
Fonte: Birkbeck University of London 7
6
Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013. 7 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de
julho de 2013.
-
21
Outros editores, especialmente Darton & Son, Ernest Nister de Nuremberg, Alemanha,
e Raphael Tuck & Sons, tambm comearam a produzir livros mveis e ilustrados (RUBIN,
2005). Na poca, Nuremberg possua a impresso a cores mais avanada do mundo e uma
indstria de brinquedos em rpido desenvolvimento, que fornecia mo de obra qualificada
para a manufatura de livros mveis. Essa qualificao fez com que a companhia de Nister se
tornasse o centro da produo de livros mveis poca (HINER, 2002). No fim do sculo
XIX, a quantidade indita de publicaes do gnero rendeu a este perodo o ttulo de Era de
Ouro dos livros mveis (RUBIN, 2005).
O engenheiro do papel considerado por muitos o gnio desta era de ouro foi o alemo
de Munique Lothar Meggendorfer (1847-1925). Diferente de seus contemporneos,
Meggendorfer no se satisfazia com apenas uma ao em cada pgina. Suas ilustraes
comumente continham vrias partes que se moviam simultaneamente em direes diferentes.
Ele desenvolveu alavancas intrincadas, anexadas por pequenos rebites de cobre, para que o
puxar de uma nica lingueta pudesse ativar todas as partes mveis da ilustrao, muitas vezes
com diversas aes que se descortinavam em tempos diferentes (MONTANARO, [s.d]).
Alm da tcnica elaborada, os livros de Meggendorfer se destacavam pela
apresentao satrica dos pequenos momentos da vida, em contraste marcante com os retratos
aucarados das crianas vitorianas encontrados nas ilustraes de Ernest Nister. Seu diorama
dimensional, International Circus, um dos livros mveis do sculo XIX mais cobiados por
colecionadores (RUBIN, 2005).
Figura 8 - Os painis tridimensionais do International Circus de Meggendorfer (1887).
Fonte: < http://lacasavictoriana.wordpress.com/2011/01/21/juguetes-victorianos-iii/>.
Acesso em 1 de dezembro de 2013.
-
22
A Primeira Guerra Mundial se encarregou de colocar fim a este perodo de esplendor
editorial. Os centros alemes de impresso e manufatura de brinquedos foram destrudos, e
recursos e mo de obra escassearam.
Estes livros voltam a conquistar espao somente a partir de 1929, com o editor britnico
Louis Giraud, criador de uma srie de livros dimensionais apresentando as caractersticas do
que hoje reconhecemos como livro pop-up. Suas ilustraes de pgina dupla se levantavam
automaticamente quando o livro era aberto e eram verdadeiramente tridimensionais
(MONTANARO, [s.d]). Acredita-se que o engenheiro do papel por trs destes livros tenha sido
Theodore Brown, um inventor ligado ao ramo do cinema (CARTER e DIAZ, 1999).
Diferentemente de seus predecessores alemes, os livros de Giraud tinham um custo
mais acessvel, produzidos com papis e tcnicas de impresso de qualidade inferior. Entre
1929 e 1949 Giraud produziu uma srie de 16 anurios, primeiro para o Daily Express e depois
como um editor independente, utilizando os nomes Strand Publications e Bookano Stories
(MONTANARO, [s.d]).
Figura 9 - Reproduo do Daily Express Children's Annual no.2 de Giraud, encontrada em A Celebration of
Pop-up and Movable Books: Commemorating the 10th Anniversary of The Movable Book Society (2004).
Fonte: The Pop-Up Kingdom8
8 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013.
-
23
Nos anos 1930, a Blue Ribbon Publishing de Nova York investiu em pop-ups com
personagens de Walt Disney e contos de fadas tradicionais animados. A Blue Ribbon foi a
primeira editora a utilizar o termo pop-up para descrever suas ilustraes mveis
(MONTANARO, [s.d]). Isto se deu em 1932, referindo-se a uma srie de livros criada por
Harold Lentz, artista de Ohio, EUA (CARTER e DIAZ, 1999).
Figura 10 - Reproduo do The Pop-up Pinocchio-with 'pop-up' illustrations by Harold Lentz (Blue Ribbon
Press 1932). Encontrada em A Celebration of Pop-up and Movable Books: Commemorating the 10th Anniversary of The Movable Book Society (2004).
Fonte: The Pop-Up Kingdom9
Durante a II Guerra destaca-se o trabalho de Julian Wehr, de Nova York. Ele
patenteou um painel com um oscilador de papel localizado atrs da pgina base e permitia
movimentos mltiplos como uma nica lingueta, semelhana do trabalho de Meggendorfer,
mas sem utilizar rebites (CARTER e DIAZ, 1999).
Na dcada de 1950 o grande nome dos livros mveis foi o artista Vojtch Kubata, da
ento Tchecoslovquia. Os pop-ups inovadores e vivamente coloridos de Kubata foram
traduzidos em 37 lnguas e distribudos pela Westminster Books of England com grande
sucesso na Europa, sia e Oriente Mdio.
9 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013.
-
24
Figura 11 Pop-up do livro How Columbus Discovered America, de Vojtch Kubata (1961).
Fonte: The Bowdoin College Library10.
No mercado norte-americano, contudo, o ressurgimento do livro pop-up como fora
editorial se deu apenas na metade dos anos 1960, com o empresrio americano Waldo Hunt.
Depois de ter recusada sua proposta de distribuir os livros de Kubata nos EUA, ele resolve
produzir seus prprios ttulos, contando com uma equipe de notveis engenheiros do papel,
entre eles Ib Penick, Tor Lokvig, and John Strejan (RUBIN, 2005). Sua editora, a Graphics
International, passa a produzir livros para o grupo editorial Random House. No fim da dcada
de 1970, a Graphics International comprada pela empresa de cartes Hallmark
(MONTANARO, [s.d]).
Os livros pop-up de Hunt eram criados em Los Angeles e Nova York e produzidos
fora dos EUA, o que permitiu a produo de designs complexos a preos acessveis. A
globalizao chegou aos livros mveis: usando autores, ilustradores e engenheiros de papel do
mundo todo, Hunt foi responsvel pela criao de milhares de livros pop-up publicados no
mundo inteiro (CARTER e DIAZ, 1999).
Nos anos 1980 atingiu-se um novo nvel de aceitao artstica e literria no campo dos
livros mveis, com a publicao de livros como Robot, de Jan Piekowski e de The Human
10 Imagem disponvel em: < library.bowdoin.edu/arch/exhibits/popup/practitioners.shtml>. Acesso em 1 de
dezembro de 2013.
-
25
Body, de Jonathan Miller e David Pelham (CARTER e DIAZ, 1999). O livro de Miller e
Pelham retoma o princpio dos livros medievais de anatomia, utilizando tcnicas elaboradas
de engenharia do papel para comunicar o funcionamento de rgos do corpo humano com
diagramas animados (HINER, 2002).
Figura 12 - The Human Body: um livro pop-up de anatomia
Fonte: Bowdoin College11
Enquanto isso, o holands Ron van der Meer percebeu que a fora dos papis e colas
modernos permitia a construo de livros pop-up elaborados, porm resistentes, para
crianas. Seu primeiro livro mvel, Monster Island, trazia mecanismos que no eram apenas
ilustraes passivas; a interao da criana com eles era necessria para desenvolver a
histria. Com as tcnicas e um mercado de livros pop-up moderno estabelecido, Meer
convenceu Waldo Hunt a publicar sua prxima ideia, o livro Sailing Ships (1984), uma obra
voltada ao pblico mais adulto (HINER, 2002).
11 Imagem disponvel em: .
Acesso em 04 de julho de 02013.
-
26
Figura 13 - Um dos modelos pop-up do livro Sailing Ships.
Fonte: The Pop-Up Kingdom12
Com um mercado norte-americano firmemente estabelecido, houve uma exploso de
editoras produzindo livros mveis (HINER, 2002). Entre os engenheiros do papel
contemporneos de destaque, encontra-se Robert Sabuda, com seus trabalhos de grande
complexidade. Em sua primeira obra do gnero, The Christmas Alphabet (1996), Sabuda
empregou apenas papel branco para salientar os aspectos esculturais do papel tridimensional.
Destaca-se ainda o trabalho de Andrew Baron e Paul O. Zelinsky no livro Knick-Knack
Paddywhack (2003), um livro mvel de grande complexidade, com mais de 200 partes mveis
acionadas por linguetas, ao estilo dos trabalhos de Lothar Meggendorfer (RUBIN, 2005).
Figura 14 - Os pop-ups elegantes de The Christmas alphabet de Robert Sabuda
Fonte: Blog bakedcottonstar13
12
Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de
julho de 2013. 13 Imagem disponvel em: .
Acesso em 04 de julho de 2013.
-
27
Figura 15 - Detalhe do mecanismo de lingueta do livro Knick-Knack Paddywhack, de Andrew Baron e Paul O.
Zelinsky.
Fonte: Flickr Smithsonian Libraries14
Nos ltimos anos, o nmero de ttulos mveis publicados vem diminuindo, mas as
razes desta diminuio ainda no so claras. Entre as hipteses para esta queda encontram-se
a instabilidade econmica, a reduo do nmero de editoras e o aumento de custos de
produo, largamente baseados em mo de obra artesanal, pontos de cola e uso de papel
(RUBIN, 2005). A popularizao da leitura por mdias digitais tambm pode ter sua parcela
de responsabilidade (HINER, 2002), mas acredita-se que as possibilidades de interao
digitais no devem suplantar plenamente o livro pop-up, dado o seu valor como objeto ttil.
5.2 APLICAES
Os livros e cartes pop-up so as formas mais conhecidas de engenharia do papel, contudo
as tcnicas podem ser empregadas a qualquer objeto impresso neste substrato. O custo e o tempo
necessrios para a confeco destes materiais so um grande empecilho para um uso mais
disseminado das tcnicas de engenharia do papel, porm o impacto provocado por estas peas
constitui um grande atrativo se o objetivo for criar um material realmente nico e marcante.
14 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013. Imagem recortada pela autora.
-
28
Assim, existem exemplos, embora raros, de materiais publicitrios que empregam estas tcnicas,
como brochuras e peas de mail marketing de carter mais exclusivo (HINER, 2002).
Figura 16 - Pea de mala direta com tcnicas pop-up, direcionada a um pblico seleto (engenharia do papel por
Mark Hiner, 1988)
Fonte: Mark Hiner15
Figura 17 - Brochura com pop-ups para promoo de servios da grfica Kall-Kwik (engenharia do papel por
Mark Hiner, 1987)
Fonte: Mark Hiner16
15 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013. 16 Imagem disponvel em: . Acesso em 04 de julho de 2013.
-
29
5.3 MATERIAIS E PROCESSOS
5.3.1 Design de um livro mvel e engenharia do papel
Alguns autores do ramo da engenharia do papel se notabilizam por conceber de
forma completamente individual suas obras, realizando desde o texto ao design do livro,
engenharia do papel e ilustraes. Entretanto, cada vez mais comum que o engenheiro do
papel trabalhe em conjunto com designers e ilustradores no desenvolvimento de obras do
gnero, concentrando-se mais detidamente na construo dos mecanismos mveis. No caso
de haver esta separao de papis, particularmente importante o trabalho conjunto entre
engenheiro do papel e ilustrador. O engenheiro do papel deve fornecer ao ilustrador os
layouts das diversas peas que compem o livro mvel para que este trabalhe dentro das
linhas definidas. As diversas peas planificadas podem no ser claramente compreensveis
ao ilustrador, ento o engenheiro do papel deve providenciar as explicaes com a mxima
clareza possvel (FOSTER, 2011). Este processo de conceber as partes mveis, ilustr-las,
test-las e refaz-las pode envolver diversas rodadas de ajustes tanto na engenharia do papel
quanto na ilustrao.
Figura 18 - Esboos de Bruce Foster para as partes que compem o drago Rabo-Crneo Hngaro no livro Harry Potter Um livro pop-up, com anotaes para o ilustrador.
Fonte: FOSTER, 2011 (captura de tela).
-
30
5.3.2 Prottipo
Apesar da existncia de diversas tcnicas para construo de um livro mvel, o processo
de desenvolvimento de uma ideia especfica ainda depende de um longo processo de tentativa e
erro. O engenheiro do papel constri diversos mock-ups para verificar encaixes, movimentos e
propores das peas do livro mvel. preciso verificar se as peas realizam os movimentos
desejados, se acomodam-se apropriadamente quando dobradas nas pginas, se a mecnica no
est demasiadamente complexa, se as partes mveis so suficientemente resistentes. Estes
ajustes finos precisam ser realizados pelo engenheiro do papel antes de definir a forma final das
peas do livro mvel. O resultado deste processo um boneco de consulta, um modelo
funcional que normalmente j contm alguns esboos da arte. Este boneco ainda passar por
uma srie de modificaes para que se torne economicamente vivel (HINER, 2002).
Aps a definio final do livro mvel, um prottipo funcional (sem arte) enviado
para a grfica especializada para realizao do oramento (HINER, 2002) e tambm para
servir de referncia no processo de montagem do livro. A grfica, por sua vez, tambm
confeccionar uma prova funcional no impressa antes de iniciar a produo, para verificar
junto ao engenheiro do papel se as peas esto corretamente montadas e coladas (FOSTER,
2011). Apenas aps aprovao das provas de impresso e de montagem dado o sinal verde
para produo do livro mvel.
5.3.3 Tipos de papel
Para que as estruturas mveis tenham resistncia, necessrio observar as propriedades
fsicas do papel, que deve possuir uma estrutura mais firme para sustentar as esculturas
tridimensionais, flexibilidade para as dobras e resistncia suficiente para realizar os movimentos
desejados repetidamente. Normalmente emprega-se papel de gramatura mais alta que os livros
comuns. O livro Elements of Pop-Up, de Carter e Diaz, impresso em um papel chamado
Carolina 10 point, um papel couch (CARTER e DIAZ, 1999). O 10 point (dez pontos) do nome
refere-se espessura do papel em micrometros. Uma gramatura equivalente a esta espessura seria
a de 240 g/m2 17
. Ainda que no exista um guia especfico de papis adequados engenharia do
papel, esta gramatura mais alta, na faixa conhecida como carto (acima de 180 g/m2)
(COLLARO, 2008) parece se adequar bem a este tipo de trabalho. Papis mais estruturados de
17 Aproximao baseada na tabela disponvel em: . Acesso em 04 de
julho de 2013.
-
31
diversos tipos e acabamentos (couch, offset, kraft, vegetal, texturizados, metalizados, etc.)
possuem potencial para atender s demandas necessrias, embora seja preciso realizar testes.
Contudo, a gramatura no o nico aspecto a se levar em conta na escolha do papel.
Por exemplo, papis fabricados a partir de pasta mecnica, como o papel jornal, possuem
menor resistncia (BAER, 1999), o que os torna menos adequados ao uso em trabalhos de
engenharia do papel. Papis produzidos a partir de pasta qumica produzem uma fibra mais
resistente, que pode ser mais longa ou mais curta dependendo da madeira utilizada. Fibras
mais longas resultam em um papel mais forte e duradouro (BAER, 1999).
5.3.4 Aninhamento (nesting)
O aninhamento refere-se disposio da arte das peas do livro mvel na folha para
impresso e corte. Este processo deve levar em conta fatores como o aproveitamento de papel e
a direo do gro da folha, que impacta na resistncia das peas.
A direo das fibras geralmente no a considerao primria no design de um pop-up,
mas um fator que impacta na facilidade de movimento e na durabilidade deste. A dobra
principal de uma pgina dupla deve sempre seguir a direo do gro. Na medida do possvel, as
dobras do pop-up devem acompanhar este princpio. Na produo de um livro, o gro das
pginas deve sempre acompanhar a lombada, para que as pginas no rachem ao longo da
juno da lombada quando viradas. Alguns papis tm um gro mais pronunciado que outros, e
coberturas de plstico, verniz ou minerais podem disfarar parcialmente esta propriedade
(BARTON, 2005).
Normalmente, o sentido de fabricao do papel, e, portanto, da fibra, corresponde ao
comprimento da folha, ficando paralelo aos eixos do cilindro da mquina impressora, pois isso
proporciona maior estabilidade dimensional durante o processo de impresso (BAER, 1999).
A organizao do processo de produo tambm deve ser levada em conta no processo
de aninhamento. Bruce Foster (2011) procura organizar o aninhamento de forma que todas as
peas de uma mesma pgina dupla estejam contidas na mesma folha de impresso. A pgina-
base inclusa nesta folha de impresso, sendo impressa junto com as partes mveis.
-
32
Figura 19 Uma das folhas de aninhamento do livro Harry Potter Um livro pop-up.
Fonte: FOSTER, 2011 (captura de tela).
5.3.5 Impresso
O processo de impresso de um livro mvel no difere de um livro tradicional. A
principal tcnica empregada em grandes tiragens a impresso offset. Peas com materiais
diferenciados, como acetato, podem ser impressas em serigrafia. Um cuidado a levar em
conta o planejamento dos pontos de cola. Recomenda-se que os pontos de cola da obra
no levem tinta, pois esta pode prejudicar a colagem. Contudo, David Carter menciona que
algumas grficas, particularmente na China, j contam com um novo tipo de cola, capaz de
adesivar partes impressas (CARTER, 2011).
5.3.6 Outros materiais e acabamentos
Os livros mveis, de uma forma geral, destacam-se pela variedade de materiais e
acabamentos empregados. Como so materiais de alto custo, devido ao processo de
montagem manual, a tendncia dos designers agregar valor ao produto lanando mo de
recursos diferenciados.
No processo de impresso, alguns dos recursos disponveis so: tintas especiais
(metlicas, fluorescentes, termocromticas, etc.), vernizes (brilhantes e foscos, aplicados em
folha inteira ou localizados, destacando parte da arte), hot stamping (processo de gravao a
quente que utiliza um clich para transferir uma imagem de um filme de polister para o
papel), relevo seco (processo que proporciona imagens impressas em relevo por meio de uma
forma encavogrfica e um contramolde), flocagem (colagem de finos flocos de nilon sobre
parte da imagem, conferindo-lhe um efeito aveludado), entre outros.
-
33
Na montagem do livro, diversos materiais alm do papel podem ser empregados. Por
se tratar de um processo artesanal, a montagem do livro mvel permite grande flexibilidade
no emprego e manipulao de materiais. O limite fica a cargo da imaginao do designer. Em
nossa anlise de similares, por exemplo, encontramos papis laminados, folhas de acetato,
linhas, barbantes, rebites de plstico e palitos de madeira. Estes materiais podem ter funo
estrutural na engenharia do papel ou exercer apenas um papel decorativo.
5.3.7 Facas de corte e vinco
Os livros mveis se caracterizam pelo uso de muitas peas com recortes diferenciados,
alm do uso de dobras. A produo em escala destas peas se d basicamente com o emprego
de facas de corte e vinco. As facas precisam ser criadas individualmente para cada trabalho. O
engenheiro do papel, aps ter definido o formato das peas que compem o livro mvel,
realiza o desenho final destas facas em um software de ilustrao vetorial, como o Adobe
Illustrator. A arte deve seguir o contorno das facas, com o cuidado de deixar alguns
milmetros de sangra para compensar eventuais deslocamentos da mquina. As facas so
desenhadas com linhas de corte (slidas) e linhas de vinco (pontilhadas) (FOSTER, 2011). As
facas so ento construdas a partir deste desenho. Sobre uma base de madeira, so inseridas
lminas afiadas (para o corte) e cegas (para o vinco) nos contornos definidos na arte.
Figura 20 - Ilustrao esquemtica de uma faca de corte e vinco.
Fonte: COLLARO, 2008.
-
34
5.3.8 Corte a laser
O corte a laser permite a execuo de designs complexos e altamente detalhados, alm
de prestar-se produo de materiais em pequenas quantidades. Seu custo, porm, inviabiliza
grandes tiragens. Assim como no caso das facas de corte e vinco, o padro de corte deve ser
desenhado em um programa de ilustrao vetorial (neste caso, apenas as linhas de corte, pois
o laser no vinca o papel). O arquivo enviado para a mquina de corte, que executa a
operao baseada nas instrues nele contidas. Os vincos e dobras devem ser feitos mo
(BARTON, 2012).
5.3.9 Montagem
Apesar de todos os avanos tecnolgicos no campo da produo grfica, o processo de
montagem de um trabalho altamente complexo e individualizado como um livro mvel ainda
precisa ser realizado mo, da mesma forma que se fazia sculos atrs. Os principais centros
de produo de livros mveis hoje encontram-se em pases que contam com mo de obra
especializada a baixo custo, como China e Tailndia. A montagem dos livros feita mo em
um esquema de linha de montagem, em que cada operrio realiza uma ou duas tarefas
(FOSTER, 2011). Estas pessoas dobram, inserem abas de papel em fendas, conectam pivs e
colam as peas. O alinhamento das peas inseridas na pgina impressa precisa ser exato e os
ngulos, precisos. Livros mais complexos podem exigir mais de 100 procedimentos manuais
individuais (MONTANARO, [s.d.]).
5.3.10 Encadernao
As pginas de um livro mvel com peas coladas no verso e mecanismos internos
precisam ser dupladas e coladas para esconder estas estruturas. Em livros mveis mais
complexos, as pginas duplas so montadas e impressas individualmente (FOSTER, 2011).
Elas precisam ento ser coladas umas s outras para formar o livro. Dependendo da espessura
resultante das pginas, em um pop-up de muitas peas, por exemplo, o miolo do livro no
poder ser colado ou costurado pelo processo industrial tradicional. Livros mais espessos
como o Alices Adventures in Wonderland, de Robert Sabuda, tm seu miolo montado com
dobras concertinas (sanfonadas) para acomodar essa variao de espessura.
-
35
Figura 21 - Detalhe do miolo da obra pop-up ABC3D, de Marion Bataille. Apesar das variaes de espessura em
algumas pginas, o miolo pde ser colado como nas obras de capa dura tradicionais.
Fonte: foto da autora
Figura 22 - Detalhe do miolo da obra Alices Adventures in Wonderland, de Robert Sabuda. As pginas so unidas entre si por pequenas dobras concertinas, formando um ziguezague. Este ziguezague flexvel e acomoda
as diferentes espessuras das pginas duplas do livro.
Fonte: foto da autora.
A colocao da capa feita mquina, porm os livros pop-up costumam requerer um
tipo de capa capaz de acomodar o volume diferenciado que as diversas camadas de papel
costumam imprimir a estas obras (HINER, 2002). Assim, comum a opo pela
encadernao de capa dura, com lombada rgida. Como estes livros so normalmente
impressos com papel mais rgido, eles costumam dispensar pginas separadas de guarda
(pginas de papel mais resistente, empregadas para unir o miolo do livro capa), de forma
que o leitor j se depara com o contedo do livro ao abrir a capa.
-
36
Figura 23 - Pginas de abertura da obra One Red Dot, de David Carter. A pgina de guarda ( esquerda) j faz
parte do contedo do livro.
Fonte: foto da autora.
5.4 TCNICAS DE ENGENHARIA DO PAPEL
Os principais recursos empregados na engenharia do papel so os pop-ups, linguetas e
volantes. Uma breve descrio das principais tcnicas empregadas na criao destes
dispositivos ser dada nas sees seguintes deste trabalho.
5.4.1 Pop-ups
So ativados pelo abrir e fechar das pginas do livro ou carto. H pop-ups que so
projetados para armarem-se quando as pginas opostas encontram-se a um ngulo de 90,
outros so projetados para serem vistos quando o livro est inteiramente aberto, a 180.
Ambos os tipos podem ser empregados combinados para obter diversos efeitos. A chave da
construo dos pop-ups est nas dobras empregadas.
BIRMINGHAM (2010) delineia trs regras fundamentais para o funcionamento dos
mecanismos pop-up:
1. Todo pop-up deve estar disposto atravs de uma fenda (gully). A primeira (e
principal delas) a fenda criada pela juno das pginas no livro aberto. a abertura desta
fenda, ativada com o abrir das pginas, que propulsiona o pop-up.
-
37
Figura 24 - Esquema das partes que compem o pop-up: a unidade central do livro pop-up a pgina base ou pgina
dupla. As fendas (gullies) so como Birmingham denomina as dobras capazes de ativar mecanismos pop-up.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010 (traduzido pela autora).
2. Os pop-ups devem ser balanceados nos dois lados da fenda. Isso significa que os
ngulos e as medidas dos lados do pop-up devem ser correspondentes em cada um dos lados.
Figura 25 - Esquema para pop-ups com dobras em V (em laranja, esquerda) e com dobras paralelas (em
amarelo, direita): Nas dobras em V, a soma dos ngulos A + B do lado direito da pgina deve ser igual soma
dos ngulos A + B do lado esquerdo; nas dobras paralelas, a soma das medidas A + B do lado direito da pgina
deve ser igual soma das medidas A + B do lado esquerdo.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
38
3. Cada pop-up cria novas fendas e novos pop-ups podem ser construdos sobre estas
fendas. Obedecendo este princpio, possvel criar pop-ups de complexidade crescente.
Birmingham assinala, contudo, que apenas fendas que se fecham (dobram para dentro)
quando o pop-up recolhido podem ser utilizadas como base para novos pop-ups. Afinal, so
estas que reproduzem o movimento de abrir e fechar das pginas do livro.
Figura 26 - Fendas e construo de pop-ups: Na dobra assinalada na figura, a face A (frontal) do pop-up dobra
para fora ao fechar a pgina e no serve para a construo de novos pop-ups. A face B (verso) da pea dobra para dentro com o fechar da pgina, ou seja, a face B fica em contato com a pgina base quando o mecanismo
recolhido. Assim, reproduz a estrutura da pgina base, podendo ser utilizada para construo de novos pop-ups.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010 (traduzido pela autora)
A seguir, uma breve explicao das principais tcnicas de construo de pop-ups.
5.4.1.1 Dobras desenvolvidas a partir da base: estruturas a 90
Estes so os pop-ups mais simples, visto que as dobras e os cortes so feitos diretamente
na pgina base e no necessitam ser colados. A folha cortada de modo a armar a estrutura
quando a pgina base est a um ngulo de 90. Com dois cortes paralelos, formam-se retngulos.
Com um corte nico centralizado na pgina dupla, possvel formar estruturas triangulares.
Mudando o comprimento dos cortes e a distncia que os separa, podem-se construir retngulos de
tamanhos diferentes. Este tipo de dobra tambm funciona bem como um complemento das
estruturas ativadas a 180, acrescentando dimenso e complexidade ao pop-up.
-
39
Figura 27 - Esquema para a montagem de um pop-up com dobras desenvolvidas a partir da base. As linhas
preenchidas denotam os pontos de corte e as linhas pontilhadas denotam as dobras no papel. Neste exemplo, as
medidas 2 e 4 so iguais, assim como as medidas 1 e 3.
Fonte: HASLAM, 2010.
Um pop-up cortado a partir da base pode ter mais de uma dobradia em cada lado, mas
importante frisar que estas dobradias devem estar alinhadas.
Figura 28 - Possibilidades de dobradias em um pop-up montado a partir da base: as linhas de dobra devem
sempre pertencer ao mesmo segmento de reta.
Fonte: BARTON, 2005 (traduzido pela autora).
5.4.1.2 Dobras desenvolvidas com abas
Estas dobras so feitas fixando-se peas pgina base nos pontos de colagem. O pop-
up se arma quando as pginas so abertas a 180. Pop-ups deste tipo contam com abas de
colagem fixadas em cada pgina, e o pop-up divide a lombada (HASLAM, 2010).
Existem dois tipos principais de dobras nesta categoria: dobras paralelas e dobras em
V. De cada uma delas BIRMINGHAM (2010) destaca algumas estruturas fundamentais, cujos
mecanismos sero detalhados a seguir.
-
40
5.4.1.2.1 Dobras paralelas
Estruturas que se caracterizam por terem suas abas de colagem paralelas fenda
central da espinha da pgina base. As estruturas principais so a dobra paralela simples, o
paralelogramo e a dobra paralela assimtrica. Formas mais complexas baseadas nas dobras
paralelas so os planos flutuantes e cubos.
Em uma dobra paralela simples, todas as dobras so paralelas espinha da pgina e
ambos os lados do pop-up so simtricos. Este tipo de pop-up cria uma crista estvel sobre a
espinha (BIRMINGHAM, 2010). Variaes desta estrutura permitem a construo de
pirmides, cones e prismas.
Figura 29 - Esquema de construo de um pop-up com dobra paralela: Todas as dobras so paralelas espinha.
As medidas A so menores que B. A soma das medidas A + B do lado esquerdo deve ser igual a A + B do lado
direito. B deve ser menor que C, para que o pop-up fique dentro dos limites da pgina base quando fechado.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
As dobras paralelas tambm podem ser assimtricas. Este mecanismo cria uma crista
no centralizada na pgina. Caracteriza-se por ter todas as medidas diferentes e todas as
dobras paralelas espinha. Na construo de pop-ups mais complexos, constitui uma boa
alternativa ao paralelogramo (ver a seguir), adicionando maior variedade.
-
41
Figura 30 - Esquema de construo de um pop-up com dobras paralelas assimtricas: Todas as medidas de
comprimento so diferentes e as dobras so paralelas espinha. A soma das medidas dos lados direito e esquerdo
deve corresponder, assim: A + C = B + D. C + D precisa ser maior que A + B.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Outra estrutura produzida a partir de dobras paralelas o paralelogramo. O
paralelogramo, assim como as dobras cortadas a partir da base, tambm se arma quando as
pginas se encontram abertas a 90. Segue o mesmo princpio, porm construdo com uma
pea separada colada pgina base. Os paralelogramos so estruturas importantes na
composio de pop-ups complexos, usados para criar camadas, que podem flutuar
paralelamente base ou estrutura de suporte por trs deles.
Figura 31 - Esquema de construo de um pop-up com paralelogramo: Todas as dobras devem ser paralelas
espinha. A medida de A deve ser menor do que C para que o pop-up no saia para fora do livro ao fechar. A
soma das medidas A + B do lado esquerdo deve ser igual soma das medidas A + B do lado direito.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
5.4.1.2.2 Plano flutuante
Este mecanismo, baseado em dobras paralelas, cria planos estveis que flutuam
acima da pgina. constitudo por uma dobra paralela simtrica central, que cria ma crista
estvel no meio da pgina, qual so acrescentados dois paralelogramos (um em cada face),
que servem de base para o plano que se deseja apoiar (BIRMINGHAM , 2010).
-
42
Figura 32 - Esquema de construo de um pop-up com plano flutuante: Para que o plano fique centralizado e
aberto a 180, as medidas de todas as faces das estruturas de apoio (D) devem ser iguais. Trocando a estrutura
central por uma dobra paralela assimtrica, tem-se um plano deslocado do centro da pgina. O uso de diferentes
medidas nos paralelogramos laterais gera planos que abrem a ngulos diferentes de 180.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
5.4.1.2.3 Cubo
Base de muitos pop-ups slidos e esculturais, o cubo uma expanso do princpio das
dobras paralelas. Com algumas alteraes na forma, tambm possvel criar cilindros.
A construo de um cubo necessita de quatro peas de papel em duas configuraes
diferentes (Figura 33). As duas peas 1a so fixadas uma outra pela face D - esta parte do
mecanismo arma a construo, e a dupla espessura lhe confere mais firmeza. Esta parte central
da estrutura deve ser montada na dobra do centro da pgina (abas C). As abas E so coladas
pgina base a uma distncia A da espinha. Para o fechamento do cubo, as peas 1b compem as
faces frontal e traseira, que precisam dobrar-se para fora quando o pop-up recolhido
(BIRMINGHAM , 2010).
Figura 33 - Esquema das peas que compem o pop-up em forma de cubo.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
43
Figura 34 - Esquema da colagem das peas que compem o pop-up em forma de cubo pgina base
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Figura 35 - Visualizao esquemtica dos paralelogramos que compem a estrutura do cubo pop-up.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Figura 36 - Esquema de funcionamento do pop-up em forma de cubo: Quando a pgina base aberta, o plano
central ergue-se e empurra o topo do cubo, o que por sua vez levanta as faces laterais. As faces frontal e traseira
conferem estabilidade estrutura, mantendo-a no lugar.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
44
5.4.1.2.4 Dobras em V
Assim so chamadas as estruturas pop-up que so coladas em ngulo em relao
pgina-base. A forma como estas estruturas se erguem da pgina conferem um grande efeito
dramtico ao pop-up (BARTON, 2012). Os ngulos da base da pea pop-up e da montagem
deste na pgina base resultam em diferentes efeitos. Abaixo segue a descrio dos principais
esquemas de dobras em V:
Figura 37 - Esquema de construo de pop-ups com dobra V em ngulo reto: Os ngulos A da pea pop-up so
de 90. Os ngulos B da pgina base so idnticos entre si, devendo ser menores que 90. A soma dos ngulos A
+ B do lado esquerdo deve ser igual soma dos ngulos A + B do lado direito
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Figura 38 - Esquema de construo de pop-ups com dobra V em ngulo agudo: Os ngulos A da pea pop-up so
idnticos entre si e maiores que os ngulos B da pgina base. Estes ltimos tambm so idnticos entre si,
devendo ser menores que 90. A soma dos ngulos A + B do lado esquerdo deve ser igual soma dos ngulos A
+ B do lado direito.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
45
Figura 39 - Esquema de construo de pop-ups com dobra V em ponta: Os ngulos A da pea pop-up precisam
ser maiores que os ngulos B de posicionamento na pgina. Todas as dobras convergem para o mesmo ponto na
linha da espinha. A soma dos ngulos A + B do lado esquerdo deve ser igual soma dos ngulos A + B do lado
direito.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Figura 40 - Esquema de construo de pop-ups com dobra V em ngulo obtuso: Os ngulos A da pgina base
precisam ser maiores que os ngulos B. Os ngulos B, idnticos entre si, precisam ser maiores que 90.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Figura 41 - Esquema de construo de pop-ups com dobra V assimtrica: Os quatro ngulos so diferentes entre
si. A soma dos ngulos de cada lado deve ser igual soma dos ngulos do lado oposto. Assim, E + G = F + H.
Os ngulos da pea pop-up so maiores que os da pgina base: E+F > G+H. F maior que G pelo mesmo
nmero que E maior que H. Por exemplo, se G = 25 e F = 40 (25 + 15), o valor de E deve ser H + 15.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
46
5.4.1.2.5 Mecanismo giratrio
Este mecanismo consiste em duas dobras em V opostas que erguem uma dobra paralela.
O resultado que, ao abrir a pgina, o elemento montado sobre este mecanismo faz um giro de
90. A base do mecanismo (representada em rosa na ilustrao abaixo) colada pgina base
nos planos F. O elemento giratrio, colado sobre esta base, est representado em laranja.
Figura 42 - Esquema de montagem do mecanismo giratrio: A pea base colada pgina base nos planos F,
sendo que o centro longitudinal da pea deve estar alinhado espinha. As medidas A + B devem ser menores que a
largura C da pgina, para que o pop-up seja perfeitamente recolhido. As medidas B + E do elemento giratrio
devem ser iguais ou maiores que as medidas A + D da base do mecanismo. As dobras em cada lado da dobra central so de exatos 45. O quadriltero pode ser construdo de forma assimtrica, respeitando que A + B = D + E.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
5.4.1.2.6 Tira de ativao automtica
Este mecanismo utiliza uma faixa de papel reforado que atravessa a espinha para
levantar um pop-up na pgina oposta. O pop-up em questo pode ser uma forma curva
(conforme o esquema ilustrado abaixo), uma aba ou um paralelogramo. Escondendo a faixa
sob a pgina base, o efeito pode ser ainda mais surpreendente (BIRMINGHAM, 2010).
Figura 43 - Montagem de um de tira de ativao automtica passando sob a pgina base: O pop-up colado
pgina base (linha B) com a lingueta atravessando-o por baixo. A ponta da lingueta (A) deve ser colada na
pgina oposta, a no mais que 25 mm da espinha. Ao abrir a pgina, a tira puxada, erguendo o pop-up pelo
lado oposto. Os cortes na pgina base que a tira trespassa (C) so em forma de colchetes, com leve expanso
horizontal (cerca de 13 mm), para permitir que a pgina se erga levemente e facilitar o movimento do pop-up.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
47
Figura 44 - Funcionamento do mecanismo de tira de ativao automtica: A ilustrao 1 demonstra a posio da
aba A em relao espinha com a pgina fechada. Quando a pgina aberta, A se desloca para a posio B na
pgina oposta, e esta distncia entre A e B que dita o deslocamento do ponto C oposto tira.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
5.4.2 Linguetas (pull tabs) e trilhos
Os mecanismos de linguetas so baseados em tiras reforadas de papel escondidas sob
a pgina base. A construo similar s tiras de ativao automtica, diferenciando-se pelo
mecanismo de ativao. Neste mecanismo, parte da tira aparece na borda da pgina, e
quando o leitor puxa esta lingueta que o movimento desencadeado. Assim, no o abrir das
pginas que realiza a ao, de forma que este no configura um mecanismo pop-up.
As linguetas so geralmente utilizadas em pginas simples, visto que no funcionam
de modo eficiente se ultrapassam a lombada. As linguetas so utilizadas como alavancas para
levantar planos, revelar imagens ocultas ou rotacionar objetos (HASLAM, 2010).
Figura 45 - Construo da tira do mecanismo de lingueta: (1) Uma tira de papel deve ser reforada, com
espessura dupla (denotada na ilustrao pela rea rosa) e colada, para evitar que a tira se curve ou ceda ao ser
empurrada de volta. Na maioria das vezes, uma pequena protuberncia (A) empregada como trava para
controlar a distncia mxima do movimento da tira. (2) Estas travas tambm podem ser construdas colando-se
uma pequena faixa de papel perpendicularmente tira.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
-
48
Trilhos construdos sob a pgina base e fendas no papel guiam o movimento da tira ao
ser puxada e empurrada. O posicionamento destes itens na pgina importante o encontro
destes com a trava da tira determina at onde o mecanismo se movimenta. importante que os
trilhos e fendas sejam um pouco mais compridos que a largura da tira (cerca de 3 mm), apenas o
suficiente para que o mecanismo se movimente com facilidade sem deslocar-se para os lados
(BIRMINGHAM, 2010).
Figura 46 - Construo dos trilhos e fendas no mecanismo de lingueta: trilhos (1) so construdos a partir de
pequenas tiras de papel coladas no verso da pgina base. (2) A poro central (A) colada pgina. (3) Os
braos (B) se sobrepem, fixados um ao outro por um pequeno ponto de cola. (4) A fenda por onde emerge a
lingueta sob a pgina base possui uma pequena inciso diagonal, de cerca de 3 mm, em cada ponta (C), o que permite que a tira se acomode melhor.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
Um uso popular deste mecanismo nas chamadas janelas venezianas imagens que se
dissolvem, revelando outras imagens escondidas sob a pgina base. Neste mecanismo, uma
janela recortada na pgina base, revelando uma imagem composta de uma ou mais partes de
mesma largura, impressas de forma intercalada em duas camadas uma delas atrelada tira e
outra em um painel sob ela. O deslocamento da tira deve ser igual distncia correspondente
a uma das partes da imagem, revelando assim a parte impressa escondida.
Figura 47 Sequncia de funcionamento de uma janela veneziana simples, com apenas duas divises.
Fonte: CARTER e DIAZ, 1999 (fotos da autora).
-
49
Outra variao do mecanismo de lingueta o deslizamento guiado por uma fina
abertura na pgina base. Este mecanismo utilizado para fazer uma ilustrao deslocar-se
atravs da pgina. A configurao desta construo dispensa o uso de trilhos, substitudos pela
fenda na pgina base.
Figura 48 - Construo do mecanismo: (1) A pgina base possui um recorte estreito, de cerca de 2-3 mm de
largura e uma fenda por onde emerge a lingueta. (2) Um pequeno pedao de papel colado na ponta da tira (A).
(3 e 4) Este pedao de papel dobrado de forma que os planos B se sobreponham ao plano A, ao qual so
colados. Os planos C permanecem soltos at que a tira seja encaixada pgina base, quando so puxados para
fora do recorte que age como trilho. Neste momento (5), as duas abas C so desdobradas e a elas colada a
imagem que ser posta em movimento.
Fonte: BIRMINGHAM, 2010.
5.4.3 Volantes
Elementos rotatrios na pgina permitem revelar novas informaes por meio de
aberturas cortadas e vincadas na superfcie da pgina. Volantes fixados na frente e no verso da
pgina base so o meio de produzir rotao. Os grficos, as ilustraes ou os textos na
superfcie da pgina e aqueles revelados por movimento rotacional precisam ser
cuidadosamente considerados quando a arte-final feita, de modo que ambos os elementos se
alinhem adequadamente durante a rotao (HASLAM, 2010).
-
50
Figura 49 - Esquema de construo de um volante: O volante encaixado pgina base atravs de um piv (em rosa),
pequena pea circular colada no ponto que corresponde ao centro do volante no verso da pgina base (ponto A). As
abas superior e inferior do piv so coladas pgina base e as abas laterais trespassam o volante, encaixando-se no
furo localizado no centro. A pgina base (em amarelo) pode conter uma ou mais janelas no formato desejado pelo
designer, onde se poder enxergar o contedo impresso no volante conforme ele se movimenta.
Fonte: HASLAM, 2010 (adaptado pela autora).
Figura 50 - Visualizao da montagem de um volante (frente e verso da pgina base).
Fonte: ilustrao da autora a partir dos elementos encontrados em HASLAM, 2010.
Excntricos podem ser fixados aos volantes para criar movimento adicional ou
permitir que pistes subam e desam. O comprimento do excntrico e a distncia ao centro da
engrenagem determinam a altura e a queda do brao, enquanto a largura da fenda atravs da
qual o pisto se estende ou prolonga determina o alcance do movimento (HASLAM, 2010).
-
51
Figura 51 - Esquema de peas de montagem de volante com pisto que sobe e desce: s peas originais do
volante, acrescenta-se um excntrico (em roxo) e um brao (em azul), que se projeta para fora da pgina atravs
de uma fina fenda em arco na pgina base. O comportamento do movimento do brao determinado pela
distncia entre o ponto B do excntrico e o centro do volante. As asas do brao passam atravs do furo do
excntrico (pontos B de ambas as peas), fixando-o na posio.
Fonte: HASLAM, 2010 (adaptado pela autora).
Figura 52 - Montagem do pisto, vista do verso da pgina base: o excntrico sobrepe-se ao volante, e o brao da
alavanca encaixado entre o volante e o excntrico, colado a este ltimo pelas asas B que atravessam o furo.
Fonte: ilustrao da autora a partir dos elementos encontrados em HASLAM, 2010.
-
52
6 PESQUISA DE CAMPO
6.1 ANLISE DE SIMILARES
A anlise de similares, no corpo deste trabalho, consiste em um exame mais
aprofundado das caractersticas tcnicas e formais de exemplares representativos que
empreguem tcnicas de engenharia do papel. Para esta anlise, foram escolhidos trs livros
pop-up, levando em conta a variedade e complexidade de tcnicas empregadas, a variedade de
linguagens grficas e a criatividade nas abordagens. Os livros escolhidos so:
- ABC3D, de Marion Bataille (2008), vencedor do Meggendorfer Prize de engenharia
do papel em 201018
;
- One Red Dot: A Pop-Up Book for Children of All Ages, de David A. Carter (2004),
vencedor do Meggendorfer Prize em 2006;
- Alices Adventures in Wonderland, de Robert Sabuda (2003), um dos mais
reconhecidos engenheiros do papel da atualidade.
6.1.1 ABC3D, de Marion Bataille
Comparado aos outros dois exemplares examinados, ABC3D apresenta a abordagem
grfica e a engenharia do papel mais minimalistas. A proposta do livro compilar as letras do
alfabeto de forma criativa e ldica, utilizando tcnicas de engenharia do papel e de design
grfico para realizar uma srie de trocadilhos visuais.
Aspectos grfico-visuais
A linguagem visual da obra sbria e minimalista, indicando que o pblico-alvo do
livro, mais que as crianas em fase de alfabetizao, inclua tambm adultos com interesses em
artes visuais, designers grficos e entusiastas de tipografia. Nas pginas internas, apenas duas
cores so empregadas para impresso: vermelho e preto. Muitas pginas consistem de um
pop-up liso em cor contrastante pgina-base.
18
Distino conferida a cada dois anos pela Movable Book Society, organizao americana de apreciadores de
livros mveis, para obras que se destaquem pela excelncia na engenharia do papel. Mais informaes e a lista
dos ganhadores de 1998 a 2012 pode ser encontrada em The Meggendorfer Prize. Disponvel em:
.Acesso em 04 de julho de 2013.
-
53
Figuras 53 e 54 - As formas geomtricas surpreendentes de ABC3D.
Fonte: fotos da autora.
As formas so geomtricas e a impresso geralmente chapada, embora haja um
trabalho grfico com linhas em algumas letras como a B, o pingo do I e do J e um jogo de
volantes com caractersticas op-art na letra S.
-
54
Figura 55 - Letra S. Os volantes sob a pgina giram quando o livro aberto.
Fonte: foto da autora.
O livro no possui texto; cada pgina dupla apresenta apenas uma ou duas letras com
um mecanismo interativo. A capa traz um efeito diferenciado, onde as letras A, B, C e D
podem ser vistas alternadamente conforme o livro movimentado. Este efeito obtido por um
processo conhecido como impresso lenticular.
Figura 56 - As diversas faces da capa.
Fonte: fotos da autora.
-
55
Aspectos tcnicos
O livro impresso em papel de alta gramatura, porm sem cobertura (no couch).
encadernado em capa dura, com uma lmina de impresso lenticular colada capa. Os dados
bibliogrficos encontram-se na ltima pgina do livro. Um aspecto curioso da produo da obra
que as pginas que continham pop-ups vieram com uma srie de tiras de papel soltas, colocadas
junto s bordas, provavelmente para proteger o pop-up do excesso de cola e evitar que este se cole
pgina-base. Este cuidado no foi observado nos outros livros mveis examinados.
Figura 57 - Uma das pginas do livro, antes e aps a remoo das faixas de papel protetoras.
Fonte: fotos da autora.
Engenharia do papel
O livro apresenta pop-ups com dobras paralelas e em V, mecanismo giratrio (na letra
G), abas (letras C-D) e transformaes baseadas em tiras de ativao automtica (letras E-F e
X-Y; o mesmo mecanismo ativa um pop-up da letra Z).
Figura 58 - O mecanismo giratrio da letra G em ao.
Fonte: fotos da autora.
-
56
Figura 59 - O mecanismo de abas das letras C e D.
Fonte: fotos da autora.
Figura 60 - A transformao da letra X em Y, realizada por um mecanismo de tira de ativao automtica.
Fonte: fotos da autora.
Figura 61 - Na letra Z, o pop-up ativado por um mecanismo de tira de ativao automtica. Desta forma, o pop-
up no precisa ficar centralizado na espinha da pgina.
Fonte: foto da autora.
-
57
Um mecanismo baseado em dobras a 45 responsvel por esticar e recolher partes
das ilustraes nas letras B e K, assim como por infundir o movimento giratrio aos volantes
que fazem parte da arte da letra S.
Figura 62 - A transformao da letra B.
Fonte: fotos da autora.
Figura 63 - Detalhe do mecanismo mvel da letra S. Quando a pgina aberta, a dobra de 45 sobre a qual o volante est colado se estica, realizando um movimento giratrio de 90.
Fonte: foto da autora.
Alguns jogos visuais chegam a dispensar tcnicas de engenharia do papel: nas letras O
e P, uma folha de papel vegetal sobreposta o suficiente para transform-las nas letras Q e R,
e a letra V se transforma em W ao ser espelhada em uma pgina com acabamento metalizado.
-
58
Figura 64 - Letras O, P, Q e R. Aqui, basta uma folha de papel vegetal sobreposta para denotar a transformao
das letras.
Fonte: fotos da autora.
Figura 65 - Letra V acompanhada de uma pgina com acabamento metalizado. Quando as pginas do livro esto
abertas a 90, o reflexo no papel metalizado produz a letra W.
Fonte: fotos da autora.
6.1.2 One Red Dot: A Pop-Up Book for Children of All Ages, de David A. Carter
Conforme o ttulo do livro sugere, a obra de Carter foi pensada para um pblico
amplo, abrangendo crianas de todas as idades. Em uma palestra sobre seu trabalho
(CARTER, 2011), o autor comenta que a inspirao inicial do livro foram algumas esculturas
experimentais, s quais ele acrescentou o conceito do ponto vermelho, que escondido em
locais diferentes das ilustraes mveis. A diverso do livro, assim, consiste em procurar o
ponto vermelho escondido em cada pgina.
-
59
Aspectos grfico-visuais
A linguagem visual do livro geomtrica e abstrata, trabalhando com formas puras,
mas com um grau maior de rebuscamento com relao a ABC3D. Assim como o livro
anteriormente examinado, One Red Dot trabalha com impresso chapada em cores puras,
porm agora o resultado mais vibrante, com uso das cores amarelo, ciano, preto e um
vermelho quase neon. O pequeno texto que acompanha cada escultura impresso em cinza,
em linhas curvilneas que no obedecem a um grid.
Figura 66 - O design colorido de One Red Dot.
Fonte: foto da autora.
Aspectos tcnicos
Encadernado tambm em capa dura, One Red Dot possui formato quadrado e uma
impresso hot stamping com acabamento hologrfico na capa. O papel empregado no livro
um couch de alta gramatura, porm, curiosamente, a impresso quase sempre feita na face
sem cobertura. O livro composto de nove pginas duplas, incluso as pginas de guarda. As
informaes bibliogrficas encontram-se na contracapa do livro. Algumas ilustraes mveis
empregam materiais diferenciados como rebites de plstico, fios, barbantes, papel ondulado e
palitos de madeira, tanto com funes decorativas como estruturais.
-
60
Figura 67 - Rebites de plstico (no centro dos crculos amarelos) e fios de linha empregados em One Red Dot.
Fonte: foto da autora.
Figura 68 - Escultura pop-up com papel ondulado e linha.
Fonte: foto da autora.
Engenharia do papel
As esculturas pop-up de One Red Dot so bastante elaboradas, muitas vezes
compostas de diversos planos entrecruzados. Uma das pginas traz trs cestas em chamas,
conforme a descrio do livro, que so inteiramente construdas de tiras de papel entrelaadas.
Os pop-ups se erguem das pginas atravs de dobras em V e de tiras de ativao automtica.
-
61
Figura 69 - Pop-up construdo a partir de tiras entrelaadas. As esculturas laterais so levantadas por tiras de
ativao automtica, e a escultura central utiliza uma dobra paralela simples.
Fonte: foto da autora.
Figura 70 - Elaborado pop-up composto de diversos planos entrecruzados. Uma base construda a partir de uma
dobra em V responsvel por ativar a escultura.
Fonte: foto da autora.
Outros mecanismos mveis encontrados no livro so abas e trilhos ativados por
linguetas (Figura 67) e um elaborado dispositivo que faz girar dois bonecos montados em
palitos de madeira. Sob uma plataforma de papel, uma linha enrolada base destes palitos e
-
62
colada a uma pea de papel com uma dobra em V simples nas extremidades inferior e
superior da pgina. O desdobrar destas peas de papel com a abertura da pgina puxa a linha e
faz os palitos de madeira girar. Contudo, o funcionamento deste mecanismo nem sempre
perfeito, e muitas vezes apenas um dos bonecos gira.
Figura 71 - Pop-up construdo com palitos de madeira. Escondido sob a plataforma em papel preto, um
mecanismo faz com que os bonecos girem ao abrir a pgina.
Fonte: foto da autora.
Figura 72 - Detalhe do mecanismo. Um fio de linha enrolado base dos palitos de madeira e fixado a uma
estrutura de papel nas extremidades da pgina. Esta estrutura se dobra para dentro quando o livro fechado e para fora quando o livro aberto. O movimento faz com que a linha se enrole e desenrole, gerando o movimento
giratrio.
Fonte: foto da autora.
-
63
6.1.3 Alices Adventures in Wonderland, de Robert Sabuda
A adaptao de Robert Sabuda para a histria de Lewis Carroll o livro com a
engenharia do papel mais elaborada e complexa dos livros mveis aqui examinados, e
tambm o mais tradicional em termos de linguagem grfica e narrativa. So livros como o de
Sabuda que compem grande parte do segmento dos livros mveis infanto-juvenis:
adaptaes de histrias infantis, muitas vezes clssicos consagrados, com ricas e elaboradas
ilustraes tridimensionais acompanhadas do texto original ou de uma verso resumida dele.
Aspectos grfico-visuais
Diferente dos exemplares analisados anteriormente, a linguagem visual de Alices
Adventures in Wonderland puramente figurativa. As ilustraes so fartas e coloridas, com
um trao bem marcado que remete a xilogravuras. Inspiradas no trao de John Tenniel para a
edio original inglesa de Alice no Pas das Maravilhas, as imagens adaptam esta antiga
linguagem aos recursos atuais de desenho auxiliado por computador ilustrao vetorial,
gradientes. O resultado vibrante, mas por vezes um tanto pesado.
Figura 73 - Pgina de abertura de Alices Adventures in Wonderland.
Fonte: foto da autora.
-
64
Diferente das outras duas obras, tambm, o livro de Sabuda contm pargrafos de
texto. Este texto sempre inserido em pequenos encartes colados em cada pgina dupla, como
pequenos livros dentro do livro. Estes encartes, com cerca de duas ou trs pginas duplas em
cada, tambm escondem pequenos pop-ups.
Figuras 74 e 75 - Alm d