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DANIEL Os jovens hebreus na corte de Nabucodonosor 1 1 No terceiro ano do reinado de Joaquim, rei de Judá, o rei de Babilônia, Nabucodonosor, marchou contra Jerusalém e pôs-lhe cerco. 2 O Senhor entregou-lhe nas mãos Joaquim, rei de Judá, assim como boa parte dos utensílios do Templo de Deus. Ele os transportou à terra de Senaar, depositando esses utensílios na sala do tesouro de seus deuses. 3 Depois, o rei ordenou a Asfenez, chefe dos seus eunucos, que escolhesse dentre os filhos de Israel alguns moços, quer de sangue real, quer de famílias nobres, 4 nos quais não devia haver defeito algum: deviam ter boa aparência, ser instruídos em toda sabedoria, conhecedores da ciência e subtis no entendimento, tendo também o vigor físico necessário para servirem no palácio do rei. Asfenez lhes ensinaria a escrita e a língua dos caldeus. 5 O rei lhes destinava uma parte diária das iguarias reais e do vinho de sua mesa. Eles seriam educados durante três anos, depois dos quais deveriam tomar lugar no serviço do rei. 6 Entre eles encontravam-se Daniel, Ananias, Misael e Azarias, que eram judeus. 7 O chefe dos eunucos deu-lhes outros nomes: Daniel se chamaria Baltassar; Ananias, Sidrac; Misael, Misac; e Azarias, Abdênago. 8 Ora, Daniel havia resolvido em seu coração não se contaminar com as iguarias do rei nem com o vinho de sua mesa. Por isso pediu ao chefe dos eunucos para deles se abster. 9 E Deus permitiu que Daniel alcançasse a benevolência e a simpatia do chefe dos eunucos. 10 Este, porém, disse a Daniel: "Eu temo o rei, meu senhor, que determinou vossa comida e vossa bebida. Se ele vier a notar vossas fisionomias mais abatidas que as dos outros jovens de vossa idade, poreis em perigo minha cabeça diante do rei". 11 Então Daniel disse ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia confiado Daniel, Ananias, Misael e Azarias: 12 "Por favor, põe os teus servos à prova durante dez dias: sejam-nos dados apenas legumes para comermos e água para bebermos. 13 Comparem-se depois, na tua presença, o nosso aspecto e o dos jovens que comem das iguarias do rei: conforme o que notares, assim procederás com os teus servos". 14 Ele atendeu-os nesse pedido e os submeteu à prova durante dez dias. 15 Depois dos dez dias, o aspecto deles parecia melhor e eles se apresentavam mais bem nutridos que todos os jovens que se alimentavam das iguarias do rei. 16 Desde então, o despenseiro passou a retirar os alimentos e o vinho que lhes eram destinados, fornecendo-lhes só legumes. 17 A esses quatro jovens Deus concedeu a ciência e a instrução nos domínios da literatura e da sabedoria. Além disso, Daniel era capaz de interpretar qualquer sonho ou visão. 18 Passado o tempo fixado pelo rei para a sua apresentação, o chefe dos eunucos os introduziu à presença de Nabucodonosor, 19 o qual se entreteve com eles. Entre todos os jovens não houve outros que se comparassem a Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Estes, pois, entraram para o serviço do rei. 20 Ora, em todas as questões de sabedoria e discernimento sobre as quais os consultava, o rei os achava dez vezes superiores a todos os magos e adivinhos do seu reino inteiro. 21 DanieI permaneceu assim até o primeiro ano do rei Ciro. O sonho de Nabucodonosor: a estátua compósita 2 O rei interroga seus adivinhos 1 No segundo ano do seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram o espírito. E isso a tal ponto que o sono o abandonou. 2 O rei ordenou que convocassem os magos e adivinhos, os encantadores e os caldeus, a fim de que interpretassem os seus sonhos. Eles vieram, pois, e se apresentaram diante do rei. 3 O rei lhes disse: "Eu tive um sonho, e o meu espírito está ansioso por

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DANIEL

Os jovens hebreus na corte de Nabucodonosor

11No terceiro ano do reinado de Joaquim, rei de Judá, o rei de Babilônia, Nabucodonosor, marchou contra Jerusalém e pôs-lhe cerco. 2O Senhor entregou-lhe nas mãos Joaquim, rei de Judá, assim como boa parte dos utensílios do Templo de Deus. Ele os transportou à terra de Senaar, depositando esses utensílios na sala do tesouro de seus deuses. 3Depois, o rei ordenou a Asfenez, chefe dos seus eunucos, que escolhesse dentre os filhos de Israel alguns moços, quer de sangue real, quer de famílias nobres, 4nos quais não devia haver defeito algum: deviam ter boa aparência, ser instruídos em toda sabedoria, conhecedores da ciência e subtis no entendimento, tendo também o vigor físico necessário para servirem no palácio do rei. Asfenez lhes ensinaria a escrita e a língua dos caldeus. 5O rei lhes destinava uma parte diária das iguarias reais e do vinho de sua mesa. Eles seriam educados durante três anos, depois dos quais deveriam tomar lugar no serviço do rei. 6Entre eles encontravam-se Daniel, Ananias, Misael e Azarias, que eram judeus. 7O chefe dos eunucos deu-lhes outros nomes: Daniel se chamaria Baltassar; Ananias, Sidrac; Misael, Misac; e Azarias, Abdênago. 8Ora, Daniel havia resolvido em seu coração não se contaminar com as iguarias do rei nem com o vinho de sua mesa. Por isso pediu ao chefe dos eunucos para deles se abster.9E Deus permitiu que Daniel alcançasse a benevolência e a simpatia do chefe dos eunucos. 10Este, porém, disse a Daniel: "Eu temo o rei, meu senhor, que determinou vossa comida e vossa bebida. Se ele vier a notar vossas fisionomias mais abatidas que as dos outros jovens de vossa idade, poreis em perigo minha cabeça diante do rei". 11Então Daniel disse ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia confiado Daniel, Ananias, Misael e Azarias: 12"Por favor, põe os teus servos à prova durante dez dias: sejam-nos dados apenas legumes para comermos e água para bebermos. 13Comparem-se depois, na tua presença, o nosso aspecto e o dos jovens que comem das iguarias do rei: conforme o que notares, assim procederás com os teus servos". 14Ele atendeu-os nesse pedido e os submeteu à prova durante dez dias. 15Depois dos dez dias, o aspecto deles parecia melhor e eles se apresentavam mais bem nutridos que todos os jovens que se alimentavam das iguarias do rei. 16Desde então, o despenseiro passou a retirar os alimentos e o vinho que lhes eram destinados, fornecendo-lhes só legumes. 17A esses quatro jovens Deus concedeu a ciência e a instrução nos domínios da literatura e da sabedoria. Além disso, Daniel era capaz de interpretar qualquer sonho ou visão. 18Passado o tempo fixado pelo rei para a sua apresentação, o chefe dos eunucos os introduziu à presença de Nabucodonosor, 19o qual se entreteve com eles. Entre todos os jovens não houve outros que se comparassem a Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Estes, pois, entraram para o serviço do rei. 20Ora, em todas as questões de sabedoria e discernimento sobre as quais os consultava, o rei os achava dez vezes superiores a todos os magos e adivinhos do seu reino inteiro. 21DanieI permaneceu assim até o primeiro ano do rei Ciro.

O sonho de Nabucodonosor: a estátua compósita

2 O rei interroga seus adivinhos — 1No segundo ano do seu reinado, Nabucodonosor teve sonhos que lhe perturbaram o espírito. E isso a tal ponto que o sono o abandonou. 2O rei ordenou que convocassem os magos e adivinhos, os encantadores e os caldeus, a fim de que interpretassem os seus sonhos. Eles vieram, pois, e se apresentaram diante do rei. 3O rei lhes disse: "Eu tive um sonho, e o meu espírito está ansioso por

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compreender-lhe o significado". 4Os caldeus responderam ao rei (em aramaico): "Ó rei, vive para sempre! Narra o sonho a teus servos e nós te daremos a interpretação". 5Retrucou o rei e disse aos caldeus: "Seja-vos conhecida a minha decisão: Se não me fizerdes conhecer o sonho, bem como a sua interpretação, sereis feitos em pedaços e vossas casas ficarão reduzidas a um amontoado de escombros. 6Ao contrário, se me descobrirdes o sonho e a sua interpretação, recebereis de mim presentes, gratificações e grandes honras. Portanto, relatai-me o sonho, com a sua interpretação". 7Eles tornaram a dizer: "Queira o rei contar o sonho a seus servos, e nós lhe daremos a interpretação". 8Mas o rei insistiu: "Vejo bem que procurais ganhar tempo, sabendo que minha palavra está dada. 9Se não me dais a conhecer o sonho, uma só sentença vos espera. Estais, pois, combinados para inventar explicações falsas e funestas diante de mim, enquanto o tempo vai passando. Portanto, relatai-me o sonho, e saberei que podeis dar-me também a sua interpretação". 10Os caldeus responderam ao rei: "Não há homem algum sobre a terra que possa descobrir o segredo do rei. Por isso mesmo, jamais nenhum rei, governador ou chefe propôs tal problema a um mago, adivinho ou caldeu. 11O problema que o rei propõe é difícil e ninguém pode resolvê-lo diante do rei senão os deuses, cuja morada não se encontra entre os seres de carne". 12A essas palavras encolerizou-se o rei furiosamente e mandou trucidar todos os sábios de Babilônia. 13Promulgado o decreto da execução dos sábios, procuraram também a Daniel e seus companheiros, a fim de executá-los.

Intervenção de Daniel — 14Mas Daniel dirigiu-se com palavras prudentes e sábias a Arioc, chefe da guarda real, que havia saído para executar os sábios de Babilônia. 15Assim falou ele a Arioc, oficial do rei: "Por que motivo promulgou o rei uma sentença tão premente?" Arioc explicou o caso a Daniel, 16o qual foi logo ter com o rei para pedir-lhe um prazo: ele mesmo daria ao rei a interpretação. 17Daniel voltou para sua casa e comunicou o fato a Ananias, Misael e Azarias, seus companheiros, "pedindo-lhes que implorassem a misericórdia do Deus do céu sobre esse mistério, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem junto com os outros sábios de Babilônia. 19Então foi revelado a Daniel, numa visão noturna, o mistério. E Daniel bendisse o Deus do céu, 20tomando a palavra nestes termos: "Que o nome de Deus seja bendito de eternidade em eternidade, pois são dele a sabedoria e a força. 21É ele quem muda tempos e estações, quem depõe reis e entroniza reis, quem dá aos sábios a sabedoria e a ciência aos que sabem discernir. 22Ele revela as profundezas e os segredos, ele conhece o que está nas trevas e junto dele habita a luz. 23A ti, Deus de meus pais, dou graças e te louvo por me teres concedido a sabedoria e a força: tu me fazes conhecer agora o que de ti havíamos implorado, e o enigma do rei no-lo dás a conhecer". 24A seguir, foi Daniel ter com Arioc a quem o rei havia incumbido de executar os sábios de Babilônia. E falou-lhe assim: "Não mandes matar os sábios de Babilônia. Faze-me comparecer diante do rei e eu darei ao rei a interpretação". 25Arioc apressou-se a fazer Daniel comparecer diante do rei, ao qual disse: "Encontrei, entre os deportados de Judá, um homem que dará ao rei a interpretação desejada". 26Dirigiu-se o rei a Daniel (que tinha o nome de Baltassar): "És realmente capaz de dar-me a conhecer o sonho que eu tive, e a sua interpretação?" 27Em resposta, diante do rei, Daniel falou: "O mistério que o rei procura desvendar, nem os sábios nem os adivinhos nem os magos nem os astrólogos podem dá-lo a conhecer ao rei. 28Mas há um Deus no céu que revela os mistérios, e que dá a conhecer ao rei Nabucodonosor o que deve acontecer no fim dos dias. Teu sonho, e as visões da tua mente sobre o teu leito, ei-los aqui: 29Enquanto estavas sobre o teu leito, ó rei, acorriam-te os pensamentos sobre o que deveria acontecer no futuro, e aquele que revela os mistérios te deu a conhecer o que deve acontecer. 30Quanto a mim, este

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mistério me foi desvendado, não porque eu tenha mais sabedoria que os outros viventes, mas para se manifestar ao rei a sua interpretação, a fim de que possas conhecer os pensamentos do teu coração. 31Tiveste, ó rei, uma visão. Era uma estátua. Enorme, extremamente brilhante, a estátua erguia-se diante de ti, de aspecto terrível. 32A cabeça da estátua era de ouro fino; de prata eram seu peito e os braços; o ventre e as coxas eram de bronze; 33as pernas eram de ferro; e os pés, parte de ferro e parte de argila. 34Estavas olhando, quando uma pedra, sem intervenção de mão alguma, destacou-se e veio bater na estátua, nos pés de ferro e de argila, e os triturou. 35Então se pulverizaram ao mesmo tempo o ferro e a argila, o bronze, a prata e o ouro, tornando-se iguais à palha miúda na eira de verão: o vento os levou sem deixarem traço algum. E a pedra que havia atingido a estátua tornou-se uma grande montanha, que ocupou a terra inteira. 36Tal foi o sonho. E agora exporemos a sua interpretação, diante do rei. 37Tu, ó rei, rei dos reis, a quem o Deus do céu concedeu o reino, o poder, a força e a honra;38em cujas mãos ele entregou, onde quer que habitem, os filhos dos homens, os animais do campo e as aves do céu, fazendo-te soberano deles todos, és tu que és a cabeça de ouro. 39Depois de ti se levantará outro reino, inferior ao teu, e depois ainda um terceiro reino, de bronze, que dominará a terra inteira. 40Haverá ainda um quarto reino, forte como o ferro, como o ferro que reduz tudo a pó e tudo esmaga; como o ferro que tritura, este reduzirá a pó e triturará todos aqueles. 41Os pés que viste, parte de argila de oleiro e parte de ferro, designam um reino que será dividido: haverá nele parte da solidez do ferro, uma vez que viste ferro misturado à argila de oleiro. 42Como os pés são parcialmente de ferro e parcialmente de argila de oleiro, assim esse reino será parcialmente forte e, também, parcialmente fraco. 43O fato de teres visto ferro misturado à argila de oleiro indica que eles se misturarão por casamentos, mas não se fundirão um com o outro, da mesma forma que o ferro não se funde com a argila. 44No tempo desses reis o Deus do céu suscitará um reino que jamais será destruído, um reino que jamais passará a outro povo. Esmagará e aniquilará todos os outros reinos, enquanto ele mesmo subsistirá para sempre. 45Foi o que pudeste ver na pedra que se destacou da montanha, sem que mão alguma a tivesse tocado, e reduziu a pó o ferro, o bronze, a argila, a prata e o ouro. O grande Deus manifestou ao rei o que deve acontecer depois disso. O sonho é verdadeiramente este, e digna de fé é a sua interpretação".

Profissão de fé do rei — 46Então o rei Nabucodonosor prostrou-se com o rosto por terra e inclinou-se diante de Daniel. Ordenou que lhe oferecessem oblação e sacrifício de agradável odor. 47A seguir dirigiu-se o rei a Daniel, dizendo-lhe: "Em verdade o vosso Deus é o Deus dos deuses e o senhor dos reis e o revelador dos mistérios, pois tu pudeste revelar este mistério". 48E o rei exaltou em dignidade a Daniel e o distinguiu com muitos e magníficos presentes, constituindo-o também governador de toda a província de Babilônia, além de chefe supremo de todos os sábios de Babilônia. 49Daniel pediu então que o rei designasse Sidrac, Misac e Abdênago para a administração dos negócios da província de Babilônia. Entretanto ele mesmo, Daniel, permaneceria na corte do rei.

Adoração da estátua de ouro

3 Nabucodonosor levanta uma estátua de ouro — 1O rei Nabucodonosor mandou fazer uma estátua de ouro com a altura de sessenta côvados e a largura de seis, e levantou-a na planície de Dura, na província de Babilônia. 2A seguir o rei Nabucodonosor ordenou aos sátrapas, magistrados, governadores, conselheiros, tesoureiros, juízes e juristas, e a todas as autoridades da província, que se reunissem e estivessem presentes à cerimônia

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de inauguração da estátua erigida pelo rei Nabucodonosor. 3Então reuniram-se os sátrapas, magistrados, governadores, conselheiros, tesoureiros, juízes e juristas, e todas as autoridades da província, para a inauguração da estátua que o rei Nabucodonosor havia levantado, e permaneceram de pé diante da estátua erigida pelo rei Nabucodonosor. 4O arauto proclamava em alta voz: "Povos, nações e línguas, eis a ordem que vos é dada: 5no instante em que ouvirdes soar a trombeta, a flauta, a cítara, a sambuca, o saltério, a cornamusa e toda espécie de instrumentos musicais, devereis prostrar-vos para adorar a estátua de ouro erigida pelo rei Nabucodonosor. 6Aquele que não se prostrar e não adorar será imediatamente atirado a uma fornalha acesa!" 7Assim, no momento em que todos os povos ouviram o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da cornamusa e de toda espécie de instrumentos musicais, prostraram-se todos os povos, nações e línguas, adorando a estátua de ouro levantada pelo rei Nabucodonosor.

Denúncia e condenação dos judeus — 8Entretanto, alguns caldeus se aproximaram para denunciar os judeus. 9E, pedindo a palavra, disseram ao rei Nabucodonosor: "Ó rei, vive para sempre! 10Tu, ó rei, promulgaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da cornamusa e de toda espécie de instrumentos musicais devia prostrar-se e render culto de adoração à estátua de ouro, 11e todos os que não se prostrassem e se recusassem a adorar seriam precipitados na fornalha acesa. 12Ora, aí estão alguns judeus, a quem confiaste a administração da província de Babilônia, a saber, Sidrac, Misac e Abdênago. Esses homens não tomaram conhecimento do teu decreto, ó rei: não servem a teu deus e não adoram a estátua de ouro que levantaste". 13Então, ardendo em cólera, Nabucodonosor ordenou que lhe trouxessem à presença Sidrac, Misac e Abdênago. Conduzidos esses homens imediatamente perante o rei, 14disse-lhes Nabucodonosor: "É verdade, ó Sidrac, Misac e Abdênago, que não servis a meus deuses e não rendeis adoração à estátua de ouro que eu erigi? 15Pois bem. Estais prontos, ao ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da sambuca, do saltério, da cornamusa e de toda espécie de instrumentos de música, a vos prostrar e a render culto de adoração à estátua que fiz? Se não a adorardes, sereis imediatamente precipitados na fornalha acesa. E qual é o deus que poderia livrar-vos das minhas mãos?" 16Em resposta, disseram Sidrac, Misac e Abdênago ao rei Nabucodonosor: "Não há necessidade alguma de replicar-te neste assunto. 17Se assim for, o nosso Deus, a quem servimos, tem o poder de nos livrar da fornalha acesa e nos livrará também, ó rei, da tua mão. 18Mas se ele não o fizer, fica sabendo, ó rei, que não serviremos o teu deus, nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste". 19Então Nabucodonosor encheu-se de cólera, e a expressão do seu rosto alterou-se contra Sidrac, Misac e Abdênago. E, tomando a palavra, deu ordem para que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume. 20Depois ordenou aos homens mais fortes do seu exército que amarrassem Sidrac, Misac e Abdênago e os precipitassem na fornalha acesa. 21Eles foram, pois, amarrados com suas túnicas, seus calções, seus barretes e suas outras vestes, e arremessados à fornalha acesa. 22Entretanto, porque a ordem do rei era peremptória e a fornalha estava excessivamente acesa, os homens que nela arremessaram Sidrac, Misac e Abdênago foram mortalmente atingidos pelas chamas. 23Quanto aos três homens, Sidrac, Misac e Abdênago, caíram amarrados no meio da fornalha acesa.

Cântico de Azarias na fornalha — 24Mas começaram a andar no meio das chamas, louvando a Deus e bendizendo o Senhor. 25Azarias, em pé, orava assim, abrindo a boca em meio ao fogo, nestes termos: 26Bendito és tu, Senhor, Deus dos nossos pais, tu és

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digno de louvor e o teu nome é glorificado eternamente. 27 Porque és justo em tudo o que nos fizeste e todas as tuas obras são verdadeiras, retos os teus caminhos e verdade todos os teus julgamentos. 28Tomaste decisões conforme a verdade em todas as coisas que fizeste cair sobre nós e sobre a cidade santa de nossos pais, Jerusalém. Pois é segundo a verdade e o direito que nos fizeste sobrevir todas estas coisas, por causa dos nossos pecados. 29Sim, nós pecamos, cometendo a iniqüidade ao afastar-nos de ti; sim, pecamos gravemente em tudo. Não obedecemos aos teus mandamentos 30nem os observamos, nem agimos segundo o que nos ordenavas para que tudo nos corresse bem. 31Por isso, tudo o que nos fizeste sobrevir, tudo o que tu mesmo nos fizeste, foi num julgamento verdadeiro que o fizeste. 32Entregaste-nos às mãos de nossos inimigos, gente sem lei, os piores dos ímpios, e a um rei injusto, o mais malvado sobre toda a terra. 33E agora, não podemos sequer abrir a boca: a vergonha e o opróbrio caíram sobre os teus servos e os que te adoram. 34Oh, não nos entregues para sempre, por causa do teu nome, não repudies a tua aliança; 35não retires de nós a tua misericórdia por amor de Abraão, teu amigo, e de Isaac, teu servo, e de Israel, teu santo, 36aos quais falaste, prometendo-lhes que a sua descendência seria tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia que se encontra à beira do mar. 37No entanto, ó Senhor, fomos reduzidos a bem pouco entre todos os povos, e encontramo-nos hoje humilhados em toda a terra por causa dos nossos pecados. 38Não há mais, nestas circunstâncias, nem chefe, nem profeta, nem príncipe, nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem lugar onde oferecermos as primícias diante de ti para encontrarmos misericórdia. 39Contudo, com a alma quebrantada e o espírito humilhado possamos encontrar acolhida, tal como se viéssemos com holocaustos de carneiros e de touros, e com miríadas de cordeiros gordos. 40 Tal se torne o nosso sacrifício hoje diante de ti, e se complete junto a ti, porque não serão confundidos os que confiam em ti. 41E agora, é de todo o coração que vamos seguir-te, vamos temer-te e procurar a tua face. 42 Não nos cubras de confusão, mas age conosco segundo a tua benignidade e segundo a abundância da tua misericórdia. 43Livra-nos segundo as tuas maravilhas e dá glória ao teu nome, ó Senhor! 44Sejam, ao contrário, confundidos os que demonstram maldade contra os teus servos; que eles sejam recobertos de vergonha, privados de todo o seu poder, e quebrantada a sua força. 45Saibam, assim, que tu, Senhor, és o único Deus, glorioso sobre toda a terra. 46Entretanto, os servos do rei que os haviam atirado na fornalha, não cessavam de alimentar o fogo com nafta, pez, estopa e lenha miúda. 47Tanto assim que a chama projetou-se para o alto até quarenta e nove côvados acima da fornalha 48e, estendendo-se, atingiu a quantos dentre os caldeus se encontravam perto da fornalha. 49Quanto a Azarias e seus companheiros, o Anjo do Senhor desceu para junto deles na fornalha e expeliu para fora a chama do fogo, 50fazendo soprar, no meio da fornalha, um como vento de orvalho refrescante. E assim o fogo não os tocou de modo algum, nem os afligiu nem lhes causou qualquer incômodo.

Cântico dos três jovens — 51Então todos os três, a uma só voz, puseram-se a cantar, glorificar e bendizer a Deus no meio da fornalha, dizendo: 52 "Bendito és tu Senhor, Deus de nossos pais, digno de louvor e sumamente glorificado para sempre. Bendito é o nome santo de tua glória, digno de sumo louvor e sumamente glorificado para sempre. 53Bendito és tu no templo de tua glória santa, digno de sumo louvor e sumamente glorificado para sempre. 54Bendito és tu sobre o trono do teu reino, digno de sumo louvor e sumamente glorificado para sempre. 55Bendito és tu, que sondas os abismos, sentado sobre os querubins digno de louvor e sumamente glorificado para sempre. 56Bendito és tu no firmamento do céu, digno de louvor e glorificado para sempre. 57 Vós, todas as obras do Senhor, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre!

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58Anjos do Senhor, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 59Ó céus, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 60E vós, todas as águas acima dos céus, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre!61 Vós, todas as potências, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 62Sol e lua, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 63Estrelas do céu, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 64Todas as chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 65 Todos os ventos, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 66Fogo e calor, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 67Frio e ardor, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 68Orvalhos e aguaceiros, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 69Gelo e frio, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 70Geadas e neves, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 71 Noites e dias, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre!72Luz e trevas, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 73Relâmpagos e nuvens, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 74Que a terra bendiga o Senhor: que ela o louve e o exalte para sempre! 75E vos, montanhas e colinas, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 76Tudo o que germina sobre a terra, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 77 Vós, ó fontes, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 78Mares e rios, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 79Grandes peixes e tudo o que se move nas águas, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! Vós, todos os pássaros do céu, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! Todos os animais, selvagens e domésticos, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 82E vós, ó filhos dos homens, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 83Tu, Israel, bendize o Senhor: louva-o e exalta-o para sempre! 84Vós, sacerdotes, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 85Vós, servos do Senhor, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 86Vós, espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor:louvai-o e exaltai-o para sempre! 87 Vós, santos e humildes de coração, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! 88E vós, Ananias, Azarias e Misael, bendizei o Senhor: louvai-o e exaltai-o para sempre! Porque ele nos livrou do Abismo e nos salvou da mão da morte, libertando-nos da chama da fornalha ardente e retirando-nos do meio do fogo. 89Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia é para sempre. 90E vós, todos os que adorais o Senhor, Deus dos deuses, bendizei-o: louvai-o e dai-lhe graças, porque a sua misericórdia é para sempre".

Reconhecimento do milagre — 24Então o rei Nabucodonosor ficou perturbado e levantou-se às pressas. E, tomando a palavra, perguntou a seus conselheiros: "Não foram três os homens que atiramos ao meio do fogo, amarrados?" Em resposta, disseram ao rei: "Certamente, ó rei". 25E ele prosseguiu: "Mas estou vendo quatro homens sem amarras, os quais passeiam no meio do fogo sem sofrerem dano algum, e o quarto deles tem o aspecto de um filho dos deuses". 26A seguir, Nabucodonosor aproximou-se da abertura da fornalha acesa. E, tomando a palavra, clamou: "Sidrac, Misac e Abdênago, servos do Deus Altíssimo, saí para fora e vinde!" Então Sidrac, Misac e Abdênago saíram do meio do fogo. 27Os sátrapas, os magistrados, os governadores e os conselheiros do rei acorreram logo para ver esses homens: o fogo não tinha exercido poder algum sobre seus corpos, os cabelos de sua cabeça não tinham sido consumidos, seus mantos não tinham sido alterados, e nenhum odor de fogo se apegara a eles. 28Exclamou então Nabucodonosor: "Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago, que enviou o seu anjo e libertou os seus servos, os quais, confiando nele, desobedeceram à ordem do rei e preferiram expor os seus corpos a servir ou a adorar qualquer outro deus senão o seu Deus. 29Eis, pois, o decreto que eu promulgo: Todo

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aquele que falar com irreverência contra o Deus de Sidrac, Misac e Abdênago, pertença ele a que povo, nação ou língua pertencer, seja feito em pedaços e sua casa seja reduzida a escombros, pois não há outro deus que possa libertar dessa maneira!" 30Então o rei constituiu em novas dignidades a Sidrac, Misac e Abdênago na província de Babilônia.

O sonho premonitório e a loucura de Nabucodonosor

31O rei Nabucodonosor, a todos os povos, nações e línguas que habitam sobre toda a terra: Que vossa paz se multiplique! 32Pareceu-me bem tornar-vos conhecidos os sinais e maravilhas que fez, em meu favor, o Deus Altíssimo: 33Quão grandiosos os seus sinais! Quão portentosas as suas maravilhas! Seu reino é um reino eterno e seu domínio vai de geração em geração!

4 Nabucodonosor relata seu sonho — 1Eu, Nabucodonosor, estava tranqüilo em minha casa, vivendo prosperamente em meu palácio. 2Tive, porém, um sonho que me aterrou. E as angústias, sobre o meu leito, e as visões de minha cabeça me atormentaram. 3Por isso decretei que trouxessem à minha presença todos os sábios de Babilônia, a fim de que me dessem a conhecer a interpretação do sonho. 4Acorreram magos, adivinhos, caldeus e astrólogos: eu lhes contei meu sonho, mas eles não me deram a interpretação. 5Apresentou-se então diante de mim Daniel, cognominado Baltassar, segundo o nome do meu deus, em quem está o espírito dos deuses santos. A ele narrei meu sonho: 6"Baltassar, chefe dos magos, eu sei que em ti reside o espírito dos deuses santos e que nenhum segredo é embaraçoso para ti. Eis, pois, o sonho que eu tive: dá-me a sua interpretação. 7Sobre o meu leito, ao contemplar as visões da minha cabeça, eu vi: Havia uma árvore no centro da terra, e sua altura era enorme. 8A árvore cresceu e tornou-se forte, sua altura atingiu o próprio céu e sua vista abrangeu os confins da terra inteira. 9Sua folhagem era bela, e abundante o seu fruto. Nela cada um encontrava alimento: ela dava sombra aos animais dos campos, nos seus ramos se aninhavam os pássaros do céu e dela se alimentava toda carne. 10Eu continuava a contemplar as visões da minha cabeça, sobre o meu leito, quando vi um Vigilante, um santo que descia do céu 11e que bradava com voz possante: 'Derrubai a árvore, cortai seus ramos, arrancai suas folhas, jogai fora seus frutos, fujam os animais do seu abrigo e os pássaros deixem seus ramos. 12Mas fiquem na terra o toco e as raízes, com cadeias de ferro e de bronze por entre a relva dos campos. Seja ela banhada pelo orvalho do céu e que a erva da terra seja a sua parte com os animais do campo. 13Seu coração se afastará dos homens, um coração de fera ser-lhe-á dado e sete tempos passarão sobre ela! 14Eis a sentença que pronunciam os Vigilantes, a questão decidida pelos santos,a fim de que todo ser vivo saiba que o Altíssimo é quem domina sobre o reino dos homens: ele o concede a quem lhe apraz e pode a ele exaltar o mais humilde entre os homens!' 15Tal é o sonho que eu, o rei Nabucodonosor, tive. Tu, Baltassar, dá- me agora a sua interpretação. Pois nenhum dos sábios do meu reino foi capaz de me fazer conhecer a sua interpretação; mas tu bem o podes, pois em ti se encontra o espírito dos deuses santos".

Daniel interpreta o sonho — 16Então Daniel, cognominado Baltassar, ficou desconcertado por alguns instantes e seus pensamentos o perturbaram. O rei, tomando a palavra, falou-lhe: "Baltassar, não te perturbe o sonho nem a sua interpretação!" Baltassar, porém, respondeu-lhe: "Meu senhor, que este sonho seja para os que te odeiam e a sua interpretação para os teus adversários! 17Esta árvore que viste, grande e vigorosa, cuja altura chegava até o céu e cuja vista abrangia a terra inteira, 18com uma bela folhagem e frutos abundantes, e com alimento para todos, sob a qual se acolhiam

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os animais do campo e em cujos ramos se aninhavam as aves do céu, 19esta árvore és tu, ó rei, que te tornaste grande e poderoso, e cuja grandeza cresceu até chegar ao céu, estendendo-se teu império até os confins da terra. 20Quanto ao fato de o rei ter visto um Vigilante, um santo, descido do céu, que dizia: 'Derrubai a árvore e destroçai-a, mas deixai o toco e as raízes na terra, com cadeias de ferro e de bronze por entre a relva dos campos, e que ela seja banhada, pelo orvalho do céu, e sua parte seja a dos animais dos campos até que passem sete tempos sobre ela' 21 — eis aqui a interpretação, ó rei, eis o decreto do Altíssimo que se refere ao rei, meu senhor: 22Expulsar-te-ão de entre os homens, e com os animais dos campos será a tua morada. Alimentar-te-ás de erva como os bois e serás banhado pelo orvalho do céu. Passarão, enfim, sete tempos sobre ti, até que tenhas aprendido que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens e ele o dá a quem lhe apraz. 23Quanto à ordem de deixar o toco e as raízes da árvore, ela significa que o teu reino será preservado para ti até que hajas reconhecido que os Céus é que detêm o domínio de tudo. 24Eis por que, ó rei, aceita meu conselho: repara teus pecados pelas obras de justiça e tuas iniquidades pela prática da misericórdia para com os pobres, a fim de que se prolongue a tua segurança".

O sonho torna-se realidade — 25Tudo isto aconteceu ao rei Nabucodonosor. 26Doze meses mais tarde, passeando sobre o terraço do palácio real de Babilônia, 27o rei tomou a palavra, dizendo: "Não é esta a grande Babilônia" que eu construí, para fazer dela a minha residência real, pela força do meu poder e para a majestade da minha glória?" 28Essas palavras estavam ainda na boca do rei, quando uma voz caiu do céu: "É a ti que se fala, ó rei Nabucodonosor! A realeza foi tirada de ti; 29serás expulso da convivência dos homens e com as feras do campo será a tua morada. De erva, como os bois, te nutrirás, e sete tempos passarão sobre ti até que reconheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens e ele o dá a quem lhe apraz". 30No mesmo instante cumpriu-se a palavra em Nabucodonosor: ele foi expulso da convivência dos homens; comeu erva como os bois; seu corpo foi banhado pelo orvalho do céu; seus cabelos cresceram como penas de águia e suas unhas como garras de pássaros. 31"No tempo marcado, eu, Nabucodonosor, ergui os olhos para o céu. A razão voltou-me e eu então bendisse o Altíssimo, louvando e glorificando aquele que vive para sempre: seu domínio é um domínio eterno e seu reino subsiste de geração em geração. 32Todos os habitantes da terra são contados como nada, e ele dispõe a seu bel-prazer do exército dos céus e dos habitantes da terra. Não há ninguém que possa deter-lhe a mão ou perguntar-lhe: 'Que estás fazendo?' 33Nesse instante, pois, a razão me voltou. E, para honra de minha realeza, voltaram-me também a glória e o resplendor. Meus conselheiros e dignitários vieram procurar-me; eu fui restabelecido em meu reino e minha grandeza foi ainda acrescida. 34E agora, eu, Nabucodonosor, louvo, exalto e glorifico o Rei do céu, cujas obras todas são verdade, e cujos caminhos são justiça, ele que sabe rebaixar os que procedem com soberba".

O festim de Baltazar

5 1O rei Baltazar deu um grande banquete a seus altos dignitários, que eram em número de mil, e diante desses mil pôs-se a beber vinho. 2Sob o influxo do vinho, Baltazar ordenou que lhe trouxessem as taças de ouro e prata que seu pai Nabucodonosor havia tirado do Templo de Jerusalém, para nelas beberem o rei, seus dignitários, suas concubinas e suas cantoras. 3Trouxeram-lhe, pois, as taças de ouro e prata arrebatadas ao santuário do Templo de Deus em Jerusalém, e nelas beberam o rei e seus dignitários, suas concubinas e suas cantoras. 4Eles bebiam vinho e entoavam louvores aos deuses de

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ouro e de prata, de bronze e de ferro, de madeira e de pedra. 5De repente, apareceram dedos de mão humana que se puseram a escrever, por detrás do lampadário, sobre o estuque da parede do palácio real, e o rei viu a palma da mão que escrevia. 6Então o rei mudou de cor, seus pensamentos se turbaram, as juntas dos seus membros se relaxaram e seus joelhos puseram-se a bater um contra o outro. 7E logo, aos gritos, mandou chamar os adivinhos, os caldeus e os astrólogos. E disse o rei aos sábios de Babilônia: "Aquele que souber ler esta inscrição, e dela me der a interpretação, será revestido de púrpura, receberá um colar de ouro ao redor do pescoço e ocupará o terceiro lugar no governo do meu reino". 8Então acorreram todos os sábios do rei, mas não conseguiram sequer ler a inscrição nem muito menos dar a conhecer a sua interpretação ao rei. 9O rei Baltazar ficou ainda mais perturbado, mudou de cor e seus dignitários ficaram consternados. 10A rainha, ao ouvir as palavras do rei e de seus dignitários, entrara na sala do banquete. E, tomando a palavra, disse: "O rei, vive para sempre! Que teus pensamentos não te perturbem e não se mude a tua cor! 11Há um homem, no teu reino, no qual habita o espírito dos deuses santos. Nos dias de teu pai, nele encontrou-se luz, inteligência e sabedoria igual à sabedoria dos deuses. O rei Nabucodonosor, teu pai, nomeou-o chefe dos magos, adivinhos, caldeus e astrólogos. 12Portanto, uma vez que nesse Daniel, que o rei cognominou Baltassar, constatou-se um espírito extraordinário, conhecimento, inteligência e arte de interpretar os sonhos, de resolver os enigmas e de desfazer os nós, manda comparecer Daniel e ele te dará a conhecer a interpretação". 13Assim foi Daniel introduzido à presença do rei. E disse o rei a Daniel: "És tu Daniel, um dos exilados de Judá, que o rei meu pai trouxe de Judá? 14Ouvi dizer que o espírito dos deuses habita em ti e que em ti se encontra luz, inteligência e sabedoria extraordinária. 15Já foram introduzidos à minha presença os sábios e adivinhos, para lerem esta inscrição e me darem a conhecer a sua interpretação, mas eles são incapazes de me oferecer o significado da coisa. 16Ouvi, porém, dizer que tu és capaz de dar interpretações e de desfazer os nós. Se, pois, és capaz de ler esta inscrição e de me propor a sua interpretação, serás revestido de púrpura e trarás um colar de ouro ao pescoço, e ocuparás o terceiro lugar no governo do meu reino". 17Daniel tomou a palavra e falou, diante do rei: "Fiquem para ti os teus presentes, e oferece a outrem os teus dons. Quanto a mim, vou ler esta inscrição para o rei e dar-lhe-ei a sua interpretação. 18Q rei, o Deus Altíssimo concedeu o reino, a grandeza, a majestade e a glória a Nabucodonosor, teu pai. 19Por essa grandeza que Deus lhe dera, tremiam de medo diante dele todos os povos, nações e línguas: ele tirava a vida a quem queria e deixava viver a quem queria; a quem queria exaltava, a quem queria humilhava. 20Mas, quando seu coração se exaltou e seu espírito se endureceu até à arrogância, ele foi deposto do seu trono real e arrebataram-lhe a glória 21Foi expulso do convívio humano e seu coração tornou-se igual ao dos animais; passando a conviver com os asnos, ele se alimentou de erva como os bois; e seu corpo foi banhado do orvalho do céu até ele reconhecer que o Deus Altíssimo é quem tem o domínio do reino dos homens, no qual ele estabelece a quem lhe apraz. 22Mas tu, Baltazar, seu filho, não humilhaste o teu coração, embora tenhas sido ciente de tudo isso: 23tu te levantaste contra o Senhor do Céu, tu mandaste buscar as taças do seu Templo e tu, teus dignitários, tuas concubinas e tuas cantoras nelas bebestes vinho e entoastes louvores aos deuses de ouro e de prata, de bronze e de ferro, de madeira e de pedra, os quais não vêem, não ouvem e não compreendem; mas o Deus que detém teu respiro entre suas mãos e de quem dependem todos os teus caminhos, tu não o glorificaste! 24Por isso, foi por ele enviada a extremidade dessa mão e traçada esta inscrição. 25A inscrição, assim traçada, é a seguinte: Mane, Mane, Tecel, Parsin." 26E esta é a interpretação da coisa: Mane — Deus mediu o teu reino e deu-lhe fim; 27Tecel — tu foste pesado na balança e foste

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julgado deficiente; 28Parsin — teu reino foi dividido e entregue aos medos e aos persas". 29Então Baltazar ordenou que revestissem Daniel de púrpura o lhe pusessem ao pescoço um colar de ouro e proclamassem que ele ocuparia o terceiro lugar no governo do seu reino.

630Nessa mesma noite, o rei Baltazar foi assassinado e Dario, o medo, tomou o poder, estando já com a idade de sessenta e dois anos.

Daniel na cova dos leões

Inveja dos sátrapas — 2Aprouve a Dario estabelecer sobre o seu reino cento e vinte Sátrapas, os quais se distribuiriam por todo o reino 3e estariam submetidos a três ministros — um dos quais era Daniel — a quem os sátrapas deveriam prestar contas. Isso, a fim de que o rei não fosse defraudado. 4Ora, Daniel distinguia-se tanto entre os ministros e os sátrapas, porque nele havia um espírito extraordinário, que o rei se propôs colocá-lo à frente de todo o reino. 5Então os ministros e os sátrapas se puseram a procurar um motivo de acusação contra Daniel nos negócios do Estado. Mas não puderam encontrar motivo ou falta alguma, porque ele era fiel e nada de faltoso ou repreensível se encontrava nele. 6Foi quando esses homens começaram a dizer: "Não encontraremos nenhuma falta contra Daniel, a não ser nalguma coisa referente à lei do seu Deus". 7Ministros e sátrapas dirigiram-se então em grupo à presença do rei e assim lhe falaram: "Ó rei Dario, vive para sempre! 8Os ministros do reino e os magistrados, sátrapas, conselheiros e governadores, reuniram-se em conselho para estabelecer um decreto real e dar força de lei ao interdito seguinte: Todo aquele que, no decurso de trinta dias, dirigir uma prece a quem quer que seja, deus ou homem, exceto a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões. 9Agora, pois, ó rei, dá força de lei ao interdito assinando o documento, de sorte que nada se mude no seu teor, de acordo com a lei dos medos e dos persas, a qual não pode ser alterada". 10Diante disso, o rei Dario assinou o documento com o intérdito.

Oração de Daniel — 11Ao saber que o documento havia sido assinado, Daniel subiu para sua casa. As janelas do seu aposento superior estavam orientadas para Jerusalém, e três vezes por dia ele se punha de joelhos, orando e confessando a seu Deus: justamente como havia feito até então. 12E aqueles homens, acorrendo apressadamente, encontraram Daniel orando e suplicando a seu Deus. 13Então, introduzindo-se na presença do rei, recordaram-lhe o interdito real: "Porventura não assinaste o interdito segundo o qual todo aquele que, no decurso de trinta dias, dirigisse uma prece a quem quer que seja, deus ou homem, exceto a ti, ó rei, seria lançado na cova dos leões?" Respondeu o rei: "A questão está decidida segundo a lei dos medos e dos persas, a qual não pode ser revogada". 14A essas palavras eles retrucaram, dizendo ao rei: "Este Daniel, um dos deportados de Judá, não tem consideração por ti, ó rei, nem pelo interdito que promulgaste: três vezes por dia continua a fazer a sua oração". 15Então o rei, ao ouvir essa informação, ficou muito contristado consigo mesmo e decidiu, no seu coração, salvar Daniel. De fato, até o pôr-do-sol esforçou-se por livrá-lo. 16Mas aqueles homens reuniram-se em tumulto junto do rei e disseram-lhe: "Lembra-te, ó rei, que a lei dos medos e dos persas determina que nenhum decreto ou interdito, promulgado pelo rei, pode ser revogado".

Daniel atirado aos leões — 17Então o rei deu ordem de trazerem Daniel e de o lançarem na cova dos leões. Disse, porém, o rei a Daniel: "Teu Deus, a quem serviste com

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perseverança, ele te salvará". 18Trouxeram uma pedra, que foi colocada à entrada da cova, e o rei lhe apôs o seu sinete e o dos seus dignitários. Desse modo, nada poderia ser modificado a respeito de Daniel. 19O rei voltou para o seu palácio, onde passou a noite sem comer. Também não quis que lhe trouxessem as concubinas, e o sono o deixou. 20De madrugada, ao raiar da aurora, o rei levantou-se e dirigiu-se ansiosamente à cova dos leões. 21Aproximando-se da cova, gritou a Daniel com voz angustiada: "Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus, a quem serves com tanta constância, foi capaz de te livrar dos leões?" 22Daniel respondeu ao rei: "Ó rei, vive para sempre! 23Meu Deus enviou-me seu anjo e fechou a boca dos leões, de tal modo que não me fizeram mal. Pois eu fui considerado inocente diante dele, e também diante de ti, ó rei, não fiz mal algum". 24Então o rei sentiu uma grande alegria por sua causa e ordenou que retirassem Daniel da cova. E Daniel foi retirado da cova, nele não se encontrando ferimento algum, porque tinha tido fé em seu Deus. 25O rei mandou então trazer os homens que tinham caluniado Daniel e os fez precipitar na cova dos leões: eles, seus filhos e suas mulheres. E antes mesmo que tocassem o fundo da cova, os leões já se tinham apoderado deles, esmagando-lhes os ossos.

Profissão de fé do rei — 26E o rei Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que habitam sobre toda a terra: "Que a vossa paz se multiplique! 27Eis o decreto que eu promulgo: Em todo o domínio do meu reino, todos devem tremer e temer diante do Deus de Daniel: Ele é o Deus vivo, que permanece para sempre — seu reino não será jamais destruído e seu império nunca terá fim — 28ele salva e liberta, e realiza sinais e maravilhas no céu e sobre a terra; ele salvou Daniel das garras dos leões". 29Foi assim que Daniel prosperou durante o reinado de Dario e também no reinado de Ciro, o persa.

Sonho de Daniel: os quatro animais

7 A visão dos animais — 1No primeiro ano de Baltazar, rei de Babilônia, Daniel, estando em seu leito, teve um sonho, e visões lhe assomaram à cabeça. Ele redigiu o sonho por escrito. Eis o começo da narrativa: Tomou a palavra Daniel, dizendo: Eu estava contemplando a minha visão noturna, quando vi os quatro ventos do céu que agitavam o grande mar. 3E quatro animais monstruosos subiam do mar, um diferente do outro. 4O primeiro era semelhante a um leão com asas de águia. Enquanto eu o contemplava, suas asas lhe foram arrancadas e ele foi erguido da terra e posto de pé sobre suas patas como um ser humano, e um coração humano lhe foi dado. 5Apareceu um segundo animal, completamente diferente, semelhante a um urso, erguido de um lado e com três costelas na boca, entre os dentes. E a este diziam: "Levanta-te, devora muita carne!" 6Depois disso, continuando eu a olhar, vi ainda outro animal, semelhante a um leopardo, que trazia sobre os flancos quatro asas de ave; tinha também quatro cabeças e foi-lhe dado o poder. 7A seguir, ao contemplar essas visões noturnas, eu vi um quarto animal, terrível, espantoso, e extremamente forte: com enormes dentes de ferro, comia, triturava e calcava aos pés o que restava. Muito diferente dos animais que o haviam precedido, tinha este dez chifres. 8Enquanto eu considerava esses chifres, notei que surgia entre eles ainda outro chifre, pequeno, diante do qual foram arrancados três dos primeiros chifres pela raiz. E neste chifre havia olhos como olhos humanos, e uma boca que proferia palavras arrogantes.

Visão do Ancião e do Filho de Homem 9Eu continuava contemplando, quando foram preparados alguns tronos e um Ancião sentou-se. Suas vestes eram brancas como a neve; e os cabelos de sua cabeça, alvos como a lã. Seu trono eram chamas de fogo com

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rodas de fogo ardente. 10Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Mil milhares o serviam, e miríades de miríades o assistiam. O tribunal tomou assento e os livros foram abertos. 11Eu continuava olhando, então, por causa do ruído das palavras arrogantes que proferia aquele chifre, quando vi que o animal fora morto, e seu cadáver destruído e entregue ao abrasamento do fogo. "Dos outros animais também foi retirado o poder, mas eles receberam um prolongamento de vida, até uma data e um tempo determinados. 13Eu continuava contemplando, nas minhas visões noturnas, quando notei, vindo sobre as nuvens do céu, um como Filho de Homem. Ele adiantou-se até ao Ancião e foi introduzido à sua presença. 14A ele foi outorgado o império, a honra e o reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. Seu império é um império eterno que jamais passará, e seu reino jamais será destruído.

Interpretação da visão — 15Eu, Daniel, fiquei inquieto no meu espírito, e as visões de minha cabeça me perturbavam. 16Aproximei-me de um dos que estavam ali presentes e pedi-lhe que me dissesse a verdade a respeito de tudo aquilo. E ele me respondeu, fazendo-me conhecer a interpretação dessas coisas: 17"Esses animais enormes, em número de quatro, são quatro reis que se levantarão da terra. 18Os que receberão o reino são os santos do Altíssimo, e eles conservarão o reino para sempre, de eternidade em eternidade". 19Quis, então, saber a verdade acerca do quarto animal, que era diferente de todos os outros, extremamente terrível, com dentes de ferro e garras de bronze, que comia e triturava, e depois calcava aos pés o que restava; 20e também sobre os dez chifres que estavam na sua cabeça — e outro chifre que surgiu e diante do qual três dos primeiros caíram, esse chifre que tinha olhos e uma boca que proferia palavras arrogantes, e cujo aspecto era mais majestoso que o dos outros chifres... 21Estava eu contemplando: e este chifre movia guerra aos santos e prevalecia sobre eles, 22até o momento em que veio o Ancião e foi feito o julgamento em favor dos santos do Altíssimo. E chegou o tempo em que os santos entraram na posse do reino. 23E ele continuou: "O quarto animal será um quarto reino sobre a terra, diferente de todos os reinos. Ele devorará a terra inteira, calcá-la-á aos pés e a esmagará. 24Quanto aos dez chifres: são dez reis que surgirão desse reino, e outro se levantará depois deles; este será diferente dos primeiros e abaterá três reis; 25proferirá insultos contra o Altíssimo e porá à prova os santos do Altíssimo; ele tentará mudar os tempos e a Lei, e os santos serão entregues em suas mãos por um tempo, dois tempos e metade de um tempo.26Mas o tribunal dará audiência e o domínio lhe será arrebatado, destruído e reduzido a nada até o fim. 27E o reino e o império e as grandezas dos reinos sob todos os céus serão entregues ao povo dos santos do Altíssimo. Seu império é um império eterno, e todos os impérios o servirão e lhe prestarão obediência". 28Aqui termina a narrativa. Eu, Daniel, fiquei muito perturbado em meus pensamentos, e a cor do meu rosto mudou. E conservei tudo isto em meu coração.

Visão de Daniel: o carneiro e o bode

8 A visão — 1No terceiro ano do reinado do rei Baltazar, tive uma visão, eu, Daniel, depois daquela que já tivera anteriormente. 2Eu contemplava a visão. E enquanto contemplava, encontrava-me em Susa, a praça forte situada na província de Elam; enquanto contemplava a visão, encontrava-me na porta do Ulai. 3Levantando os olhos para ver, deparei com um carneiro, de pé, diante da porta. Ele tinha dois chifres: os dois chifres eram altos, mas um era mais alto que o outro, e esse mais alto foi o que apareceu por último. 4E eu vi o carneiro dar chifradas para oeste, para o norte e para o sul. Nenhum animal podia resistir-lhe, e ninguém conseguia livrar-se do seu poder. Ele fazia

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o que bem lhe aprazia e tornou-se grande. 5Eu estava considerando com atenção quando vi um bode que vinha do ocidente e havia percorrido a terra inteira, sem sequer tocá-la. E o bode tinha um chifre "magnífico" entre os olhos. 6Ele aproximou-se do carneiro de dois chifres, que eu tinha visto de pé diante da porta, e atirou-se contra ele no ardor de sua força. 7Eu o vi aproximar-se do carneiro e afrontá-lo com fúria. Ele feriu o carneiro e quebrou-lhe ambos os chifres, sem que o carneiro tivesse a força de resistir-lhe. E atirou-o por terra e o calcou aos pés, sem que ninguém pudesse livrar o carneiro de sua mão. 8Então o bode tornou-se muito grande. Mas, embora estivesse em pleno vigor, seu grande chifre se quebrou e em lugar dele ergueram-se quatro outros "magníficos" na direção dos quatro ventos do céu. 9De um deles saiu um pequeno chifre que depois cresceu muito, tanto na direção do sul como na do oriente como na do país do Esplendor. 10Ele ergueu-se até contra o exército dos céus, derrubando por terra parte do exército e das estrelas e calcando-as aos pés. 11E chegou mesmo a exaltar-se contra o Príncipe do exército, abolindo o sacrifício perpétuo e arrasando o lugar do seu santuário 12e o exército; sobre o sacrifício ele pôs a iniqüidade; derrubou por terra a verdade, e teve êxito naquilo que empreendeu. 13Então ouvi um santo a falar. E outro santo disse àquele que falava: "Até quando irá a visão do sacrifício perpétuo, da desolação da iniqüidade, e do Santuário e da legião calcados aos pés?" 14E ele respondeu-lhe:"Até duas mil e trezentas tardes e manhãs." Então será feita justiça ao Santuário".

O anjo Gabriel explica a visão — 15Enquanto contemplava esta visão, eu, Daniel, procurava o seu significado. Foi quando, de pé diante de mim, vi uma como aparência de homem. 16E ouvi uma voz humana sobre o Ulai gritando e dizendo: "Gabriel, explica a este a visão!" 17Ele dirigiu-se para o lugar onde eu estava. A sua chegada, fui tomado de terror e caí com a face por terra. Então ele me disse: "Filho de homem, fica sabendo que a visão se refere ao tempo do Fim". 18Ele falava ainda quando desmaiei, com a face por terra. Mas ele me tocou e me fez reerguer no lugar onde eu estava. 19E disse-me: "Vou dar-te a conhecer o que acontecerá no término da ira,i porque isto diz respeito à época fixada para o Fim. 20O carneiro que viste, com seus dois chifres, são os reis da Pérsia e da Média. 21O bode petudo é o rei de Javã, e o grande chifre que havia entre seus olhos é o primeiro rei. 22Quebrado este, os quatro chifres que surgiram em seu lugar são quatro reinos que saíram de sua nação, mas não terão a sua força. 23E no fim do seu reinado, quando chegarem ao cúmulo os seus pecados, levantar-se-á um rei de olhar arrogante, capaz de penetrar os enigmas. 24Seu poder crescerá em força, mas não por sua própria força; ele tramará coisas inauditas e prosperará em suas empresas, arruinando a poderosos e ao próprio povo dos santos. 25Por sua habilidade, a perfídia terá êxito em suas mãos. Ele se exaltará em seu coração e, surpreendendo-os, destruirá a muitos. Opor-se-á mesmo ao Príncipe dos príncipes mas, sem que mão humana interfira, será esmagado. 26A visão das tardes e das manhãs, tal como foi dita, é verídica. Mas tu, guarda silêncio sobre a visão, pois ela se refere a dias longínquos". 27Então eu, Daniel, desfaleci e fiquei doente por vários dias. Depois levantei-me, para ocupar-me dos negócios do rei. E guardava silêncio sobre a visão, ficando sem compreendê-la.

A profecia das setenta semanas

9 Oração de Daniel — 1No primeiro ano de Dario, filho de Xerxes, da raça dos medos, que assumiu o controle do reino dos caldeus, 2no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, esforçava-me por entender, nas Escrituras, o número dos anos que, segundo a palavra do Senhor ao profeta Jeremias, haveriam de completar-se sobre as ruínas de Jerusalém, isto é, setenta anos. 3E voltei minha face para o Senhor Deus, implorando-o

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em oração e súplicas, no jejum, no cilício e na cinza. 4Então, suplicando a Iahweh, meu Deus, fiz minha confissão nestes termos: "Ah, meu Senhor, Deus grande e terrível, que guardas a Aliança e o amor para os que te amam e observam os teus mandamentos. 5Nós pecamos, cometemos iniquidades, agimos impiamente e rebelamo-nos, afastando- nos dos teus mandamentos e normas. 6Não atendemos a teus servos, os profetas, que falavam em teu nome a nossos reis, nossos príncipes, nossos pais, e a todo o povo da terra. 7A ti, Senhor, a justiça; e a nós a vergonha no rosto, como acontece hoje para os homens de Judá, para os habitantes de Jerusalém e para todo Israel, os de perto e os de longe, em todos os países para onde os dispersaste por causa das infidelidades que cometeram para contigo. 8Sim, ó Iahweh, a nós a vergonha no rosto, a nossos reis, a nossos príncipes e a nossos pais, porque pecamos contra ti. 9Ao Senhor, nosso Deus, a compaixão e o perdão, porque nos rebelamos contra ele 10e não escutamos a voz de Iahweh, nosso Deus, para andarmos segundo as leis que ele nos deu por meio de seus servos, os profetas. 11Na verdade, todo Israel transgrediu a tua lei e desviou-se para não escutar a tua voz. Por isso derramaram-se sobre nós a maldição e a imprecação inscritas na lei de Moisés, o servo de Deus — porque pecamos contra ele. 12E ele pôs em execução as palavras que havia proferido contra nós e contra os chefes que nos governavam: de fazer vir sobre nós uma calamidade tão grande, que não se verificaria outra igual debaixo de todos os céus, como a que de fato sucedeu a Jerusalém. 13Segundo o que está escrito na lei de Moisés, toda esta calamidade veio sobre nós. E, apesar de tudo, não nos empenhamos em aplacar a face de Iahweh nosso Deus, convertendo-nos de nossas iniquidades e aplicando-nos à tua verdade. 14Iahweh esteve atento a esta calamidade e atraiu-a sobre nós. Porque ele, Iahweh nosso Deus, é justo em todas as obras que faz, ao passo que nós não temos atendido à sua voz. 15E agora, Senhor nosso Deus, que por tua mão poderosa fizeste sair o teu povo da terra do Egito, e assim adquiriste uma fama que perdura até hoje, nós pecamos, nós cometemos o mal. 16Senhor, por todos os teus atos de justiça, afasta, por favor, a tua ira e a tua indignação de Jerusalém, tua cidade e tua montanha santa! Pois é por causa de nossos pecados e das culpas dos nossos pais, que Jerusalém e o teu povo tornaram-se alvo do escárnio de todos os nossos vizinhos. 17E agora escuta, ó nosso Deus, a prece do teu servo e as suas súplicas. Faze brilhar a tua face sobre o teu Santuário devastado, em atenção a ti mesmo, Senhor! 18Inclina o teu ouvido, ó meu Deus, e escuta! Abre os teus olhos e vê nossas desolações e a cidade sobre a qual é invocado o teu nome! Não é em razão de nossas obras justas que expomos diante de ti as nossas súplicas, mas em razão de tuas muitas misericórdias. 19Senhor, escuta! Senhor, perdoa! Senhor, fica atento e entra em ação! Não demores mais, ó meu Deus, por ti mesmo, porque teu nome é invocado sobre a tua cidade e o teu povo!"

O anjo Gabriel explica a profecia — 20Eu estava ainda falando, proferindo minha oração, confessando meus pecados e os pecados do meu povo, Israel, e apresentando a minha súplica diante de Iahweh, meu Deus, pela santa montanha do meu Deus; 21eu estava ainda falando, em oração, quando Gabriel, aquele homem que eu tinha notado antes, na visão, aproximou sede mim, num vôo rápido, pela hora da oblação da tarde. 22Ele veio para falar-me, e disse: "Daniel, eu saí para vir instruir-te na inteligência. 23Desde o começo da tua súplica uma palavra foi pronunciada e eu vim para comunicá-la a ti, porque és o homem das predileções. Presta, pois, atenção à palavra e recebe a compreensão da visão: 24Setenta semanas foram fixadas para o teu povo e a tua cidade santa para fazer cessar a transgressão e lacrar os pecados, para expiar a iniqüidade e instaurar uma justiça eterna, para sigilar visão e profecia e para ungir o santo dos santos. 25Fica sabendo, pois, e compreende isto: Desde a promulgação do decreto 'sobre o

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retorno e a reconstrução de Jerusalém' até um Príncipe Ungido, haverá sete semanas. Durante sessenta e duas semanas serão novamente construídas praças e muralhas,embora em tempos calamitosos. 26Depois das sessenta e duas semanas um Ungido será eliminado, embora ele não tenha... E a cidade e o Santuário serão destruídos por um príncipe que virá. Seu fim será no cataclismo e, até o fim, a guerra e as desolações decretadas. 27Ele confirmará uma aliança com muitos durante uma semana; e pelo tempo de meia semana fará cessar o sacrifício e a oblação. E sobre a nave do Templo estará a abominação da desolação até o fim, até o termo fixado para o desolador.

A grande visão

O TEMPO DA CÓLERA

10 Visão do homem vestido de linho — 1No terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia, uma palavra foi revelada a Daniel, cognominado Baltassar. A palavra era verídica, e referia-se a uma grande luta. Ele compreendeu a palavra, e teve dela o entendimento em visão. 2Nesses dias, eu, Daniel, mortifiquei-me por três semanas: 3não comi nenhum alimento saboroso, carne e vinho não entraram em minha boca, nem me ungi de maneira alguma até se completarem três semanas. 4No vigésimo quarto dia do primeiro mês, estando às margens do grande rio, o Tigre, 5levantei os olhos para observar. E vi: Um homem revestido de linho, com os rins cingidos de ouro puro, 6seu corpo tinha a aparência do Crisólito e seu rosto o aspecto do relâmpago seus olhos como lâmpadas de fogo, seus braços e suas pernas como o fulgor do bronze polido, e o som de suas palavras como o clamor de uma multidão. 7Somente eu, Daniel, vi esta aparição. Os homens que estavam comigo não viam a visão, e no entanto um grande tremor se abateu sobre eles, a ponto de fugirem para se esconderem. 8Fiquei, pois, sozinho a contemplar esta grande visão: não restou força alguma em mim, a bela cor do meu rosto mudou-se em lividez, perdi todo o vigor.

Aparição do anjo — 9Ouvi, então, o som de suas palavras. Ao ouvir o som de suas palavras, desfaleci sobre o meu rosto, meu rosto contra a terra. 10Mas eis que uma mão me tocou e me fez levantar, tremendo, sobre os joelhos e as palmas de minhas mãos. 11E ele disse-me: "Daniel, homem das predileções, compreende as palavras que vou dizer-te. Põe-te de pé no teu lugar, porque é para ti que fui enviado". Ao dizer-me ele essas palavras, levantei-me, todo trêmulto. 12E prosseguiu: "Não temas, Daniel. Pois desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender, mortificando-te diante do teu Deus, tuas palavras foram ouvidas. E é por causa de tuas palavras que eu vim. 13O Príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias, mas Miguel, um dos primeiros Príncipes, veio em meu auxílio. Eu o deixei afrontando os reis da Pérsia 14e vim para fazer- te compreender o que sucederá a teu povo, no fim dos dias, porque há ainda uma visão para esses dias". 15Tendo-me ele falado essas coisas, inclinei meu rosto para o chão e emudeci. 16Foi quando alguém, com a semelhança de um filho de homem, tocou meus lábios. E abri a boca para falar, e disse ao que estava diante de mim: "Meu senhor, angústias me sobrevieram por causa da aparição e não tenho mais forças. 17Como, pois, este servo do meu senhor poderá falar com o meu senhor, quando não há mais força em mim e sequer me resta o próprio alento?" 18De novo uma como aparência de homem tocou-me e me reconfortou. 19E disse: "Não temas, homem das predileções! A paz seja contigo! Toma força e coragem!" Enquanto ele falava comigo eu me senti reanimar e disse: "Que fale o meu senhor, pois tu me reconfortaste!"

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O anúncio profético — 20aEntão ele disse: "Sabes por que vim ter contigo? 2laMas vou anunciar-te o que está escrito no Livro da Verdade. 20bTenho de voltar para combater o Príncipe da Pérsia: quando eu tiver partido, deverá vir o Príncipe de Javã. 21bNinguém me presta auxílio para estas coisas senão Miguel, vosso Príncipe,

11 1meu apoio para me prestar auxílio e me sustentar. 2E agora, vou anunciar-te a verdade.

Primeiras guerras entre Selêucidas e Lágidas — Surgirão ainda três reis na Pérsia. Depois o quarto acumulará mais riquezas que todos eles. E, quando se tiver tornado poderoso por suas riquezas, levantar-se-á contra todos os reinos de Javã. 3Surgirá então um rei guerreiro, o qual dominará um vasto império e fará o que bem lhe aprouver. 4Logo, porém, que se tiver estabelecido, seu reino será destroçado e dividido entre os quatro ventos do céu, e não em proveito de sua descendência. E não será mais governado como ele o havia feito, porque seu reino será extirpado e entregue a outros, e não a seus descendentes. 5O rei do sul tornar-se-á poderoso. Mas um de seus príncipes o ultrapassará em poder e seu império será maior que o dele. 6Alguns anos mais tarde eles celebrarão uma aliança, e a filha do rei do sul virá para junto do rei do norte para se ratificarem os acordos. Mas a força do seu braço não a sustentará, nem a sua descendência subsistirá; ela será entregue, ela com os da sua comitiva e o seu filho, bem como o que teve poder sobre ela. A seu tempo, 7um rebento de suas raízes se levantará em seu lugar. Ele marchará contra o exército e penetrará na fortaleza do rei do norte; e, agindo contra eles, os vencerá. 8Até seus deuses, suas estátuas e seus objetos preciosos de ouro e prata, serão o espólio que ele arrebatará para o Egito. Depois, por alguns anos manterá distância do rei do norte. 9Este, por sua vez, virá contra o reino do rei do sul e depois retornará para o seu território. 10Seus filhos levantar-se-ão e reunirão uma multidão de forças poderosas, e um deles avançará, desdobrar-se-á, passará e levará o ataque até a sua fortaleza. 11Então o rei do sul, exasperado, partirá em guerra contra o rei do norte, o qual recrutará imensa multidão; mas a multidão será entregue em suas mãos. 12Sendo aniquilada essa multidão, seu coração se exaltará: ele fará cair dezenas de milhares, mas não crescerá em força. 13O rei do norte voltará, depois de recrutar multidões mais numerosas que as primeiras: após alguns anos ele irromperá, com um grande exército e abundante equipamento. 14Nesses tempos, muitos se insurgirão contra o rei do sul, e os violentos dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a visão, mas, eles hão de cair. 15Virá então o rei do norte, o qual construirá terraplenos e se apoderará da cidade fortificada. As forças do sul não o deterão, e nem mesmo a elite do seu povo terá a força de resistir-lhe. 16O invasor fará o que bem quiser, pois ninguém poderá detê-lo; e se estabelecerá no país do Esplendor, levando em suas mãos a destruição. 17Ele terá em mente conquistar todo o seu reino: fará um pacto com ele e lhe oferecerá uma dentre suas filhas para arruiná-lo, mas isto não dará resultado e ele não o conseguirá. 18Então se voltará para as ilhas e conquistará diversas delas. Mas um magistrado porá fim à sua arrogância, sem que ele possa revidar-lhe o ultraje. 19Ele voltará ainda seus olhares para as cidades fortificadas do seu próprio país, mas vacilará, cairá e não mais será encontrado. 20Em seu lugar surgirá um outro, o qual fará passar um exator pelo Esplendor do seu reino: em poucos dias ele será eliminado, mas não à vista de todos nem na guerra.

Antíoco Epifanes — 21Em seu lugar levantar-se-á um miserável, a quem não se dariam as honras da realeza. Mas ele se insinuará sorrateiramente e, à força de intrigas, apossar-se-á do reino. 22As forças de guerra serão dispersadas diante dele e até aniquiladas, o

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mesmo sucedendo a um príncipe da Aliança. 23 A despeito de pactos firmados, ele agirá com perfídia. E irá crescendo e fortificando-se, embora com poucos partidários. 24Sorrateiramente penetrará nas regiões mais férteis da província e fará o que não haviam feito seus pais nem os pais de seus pais: distribuirá despojos, lucros e riquezas entre os seus, maquinando planos contra as cidades fortificadas, mas isto até certo tempo. 25Dirigirá então sua força e o seu coração contra o rei do sul, com um grande exército. O rei do sul por sua vez entrará na guerra com um exército extremamente grande e poderoso, mas não poderá resistir, porque se urdirão conjurações contra ele. 26Os que comem à sua mesa o arruinarão; seu exército será destroçado, e muitos cairão mortalmente feridos. 27Ambos esses reis, com o coração voltado para o mal, falarão mentirosamente à mesma mesa. Mas nada conseguirão, porque ainda há um prazo antes do tempo marcado. 28Ele voltará para o seu país com grandes riquezas, tendo no coração más intenções contra a Aliança sagrada. Ele as realizará, e então retornará à sua terra. 29No tempo fixado voltará em campanha contra o sul, mas o fim não será como o começo. 30Pois navios dos Cetim virão contra ele, tirando-lhe a coragem. Por isso, ao voltar, ele enfurecer-se-á contra a Aliança sagrada e, de novo, agirá de acordo com os que abandonam a Aliança sagrada. 31Tropas enviadas por ele virão profanar o Santuário-cidadela e abolirão o sacrifício perpétuo, ali introduzindo a abominação da desolação.32Os que transgridem a Aliança, ele os perverterá com suas lisonjas; mas o povo dos que conhecem o seu Deus agirá com firmeza. 33Os homens esclarecidos dentre o povo darão a compreensão a muitos; mas serão prostrados pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pela pilhagem — durante longos dias. 34Ao serem oprimidos, pequeno será o auxílio que de fato receberão; muitos, porém, pretenderão associar-se a eles por intrigas.35Entre esses homens esclarecidos alguns serão prostrados a fim de que entre eles haja os que sejam acrisolados, purificados e alvejados — até o tempo do Fim, porque o tempo marcado ainda está por vir. 36O rei agirá a seu bel-prazer, exaltando-se e engrandecendo-se acima de todos os deuses. Ele proferirá coisas inauditas contra o Deus dos deuses e no entanto prosperará, até que a cólera chegue a seu cúmulo — porque o que está decretado se cumprirá. 37Sem consideração para com os deuses de seus pais, sem consideração para com o favorito das mulheres ou para com qualquer outro deus, é a si mesmo que ele exaltará acima de tudo. 38Mas cultuará em seu lugar o deus das fortalezas; cultuará com ouro e prata, pedras preciosas e jóias, um deus que seus pais não conheceram. 39Como defensores das fortalezas tomará o povo desse deus estrangeiro. E dará grandes honras àqueles que ele reconhecer, conferindo-lhes autoridade sobre a multidão e concedendo-lhes a terra em arrendamento.

O TEMPO DO FIM

Fim do perseguidor — 40No tempo do Fim, entrará em luta com ele o rei do Sul, contra o qual o rei do Norte se lançará com seus carros de guerra, seus cavaleiros e seus numerosos navios. Ele entrará em suas terras e, transbordando, as atravessará. 41E penetrará no país do Esplendor, onde muitos cairão. Estes, porém, hão de escapar de suas mãos: Edom, Moab e os sobreviventes dos filhos de Amon. 42Ele continuará a estender a mão sobre outras terras, e a terra do Egito não lhe escapará. 43Ele se tornará dono dos tesouros de ouro e prata e de todas as preciosidades do Egito, e os líbios e cuchitas por-se-ão a seus pés. 44Mas virão perturbá-lo notícias provindas do Oriente e do Norte, e ele partirá com grande furor para destruir e exterminar a muitos. 45Armará as tendas do seu palácio entre os mares e a montanha do santo Esplendor. E chegará a seu termo, sem que ninguém lhe venha em auxílio,

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12 1Nesse tempo levantar-se-á Miguel, o grande Príncipe, que se conserva junto dos filhos do teu povo. Será um tempo de tal angústia qual jamais terá havido até aquele tempo, desde que as nações existem. Mas nesse tempo o teu povo escapará, isto é, todos os que se encontrarem inscritos no Livro.

Ressurreição e retribuição — 2E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio, para o horror eterno. 3Os que são esclarecidos resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que ensinam a muitos a justiça hão de ser como as estrelas, por toda a eternidade. 4Quanto a ti, Daniel, guarda em segredo estas palavras e mantém lacrado o livro até o tempo do Fim. Muitos andarão errantes, e a iniqüidade aumentará".

A profecia reservada — 5Estava olhando, eu, Daniel, quando vi dois outros que se mantinham de pé, um sobre um lado, à margem do rio, outro do outro lado, também à margem do rio. 6E um deles disse ao homem vestido de linho, que se achava contra a correnteza do rio: "Até quando o tempo das coisas inauditas?" 7Ouvi o homem vestido de linho, que se achava contra a correnteza do rio, o qual ergueu para o céu a mão direita e a mão esquerda, jurando por Aquele que vive eternamente: "Será por um tempo, tempos e metade de um tempo. E quando se completar o esmagamento da força do povo santo, essas coisas todas hão de consumar-se!" 8Eu ouvi, mas sem compreender. Então perguntei: "Meu senhor, e como será a consumação dessas coisas?" 9Ele respondeu: "Vai, Daniel, pois estas palavras estão fechadas e reservadas até o tempo do Fim. 10Muitos serão purificados, alvejados e acrisolados. Os maus agirão com maldade, e todos os maus ficarão sem compreender. Os que são esclarecidos, porém, compreenderão. 11A contar do momento em que tiver sido abolido o sacrifício perpétuo e for instalada a abominação da desolação, haverá mil duzentos e noventa dias. 12Bem-aventurado aquele que perseverar, chegando a mil trezentos e trinta e cinco dias. 13Quanto a ti, vai tomar o teu repouso. Depois te levantarás para receber a tua parte, no fim dos dias".

Susana e o julgamento de Daniel

13 1Havia um homem que morava em Babilônia, chamado Joaquim. 2Ele tinha desposado uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, muito bela e temente ao Senhor. 3Seus pais também eram justos e haviam educado a filha na lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico e possuía um jardim contíguo à sua casa. A ele acorriam os judeus, porque era o mais ilustre deles todos. 5Naquele ano haviam sido designados como juízes dois anciãos do povo, a respeito dos quais falou o Senhor: "A iniqüidade saiu de Babilônia, dos anciãos, que só aparentemente guiavam o povo". 6Esses dois freqüentavam a casa de Joaquim, e todos os que tinham alguma questão a julgar vinham a eles. 7E acontecia que, ao retirar-se o povo pelo meio- dia, Susana costumava entrar para um passeio no jardim do seu esposo. 8Os dois anciãos, que a observavam diariamente enquanto ela entrava e passeava, puseram-se a desejá-la. 9Perverteram assim a sua mente e desviaram seus próprios olhos, de modo a não olharem para o Céu e não se lembrarem dos seus justos julgamentos. 10Ambos ardiam de paixão por causa dela, mas não comunicavam um ao outro o seu tormento. 11Eles sentiam vergonha de revelar a própria paixão, isto é, o fato de quererem juntar-se com ela. 12Mas diariamente se escondiam, com avidez, procurando vê- la. 13Certa feita, disseram um ao outro: "Vamos para casa, pois é hora do almoço". De fato, saindo, separaram-se. 14Mas, tendo ambos retrocedido, encontraram-se no mesmo lugar e, perguntando um ao outro o

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motivo, confessaram a própria paixão. Então, de comum acordo, combinaram o momento em que poderiam encontrá-la sozinha. 15E sucedeu que, enquanto esperavam um dia favorável, ela entrou, certa vez, como fizera nos dias anteriores, acompanhada apenas de duas meninas. E pensou em tomar banho no jardim, porque fazia calor. 16Não havia ninguém ali, exceto os dois anciãos que, escondidos, a espreitavam. l7Ela disse então às meninas: "Trazei-me óleo e bálsamo, e fechai a porta do jardim, porque vou banhar-me". 18Elas fizeram como lhes fora dito: fecharam cuidadosamente as portas do jardim e saíram por uma porta lateral a fim de buscar o que lhes fora ordenado. E não perceberam a presença dos anciãos, que se achavam escondidos. 19Apenas saíram as meninas, levantaram-se os dois anciãos e correram para ela, 20dizendo: "As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê, e nós te desejamos. Por isso, consente conosco e junta-te a nós! 21Se recusares, testemunharemos contra ti que um moço esteve contigo, e que foi por isso que afastaste de ti as meninas". 22Susana gemeu, dizendo: "Estou cercada por todos os lados: se eu fizer isso, aguarda-me a morte; e se eu não o fizer, não escaparei de vossas mãos. 23Mas é melhor para mim, não o tendo feito, cair em vossas mãos, do que pecar diante do Senhor". 24Gritou então Susana em alta voz, mas os dois anciãos também gritaram contra ela, 25enquanto um deles corria para abrir as portas do jardim. 26Ao ouvirem a gritaria no jardim, os familiares precipitaram-se pela porta lateral para ver o que acontecera com ela. 27Quando, porém, os anciãos deram a sua versão dos fatos, os empregados sentiram-se profundamente envergonhados, porque jamais se dissera algo semelhante a respeito de Susana. 28No dia seguinte, ao reunir-se o povo na casa de Joaquim, seu marido, vieram também os dois anciãos, cheios de iníquo propósito contra Susana, pretendendo condená-la à morte. 29E assim falaram, diante do povo: "Mandai chamar Susana, filha de Helcias, a que é mulher de Joaquim". Chamaram-na, pois, 30e ela compareceu. Vieram também seus pais, seus filhos e todos os seus parentes. 31Ora, Susana era muito delicada e bela de rosto. 32Como estivesse velada, aqueles malvados ordenaram que lhe retirassem o véu, a fim de poderem fartar-se da sua beleza. 33Entretanto, choravam os que estavam com ela e todos os que a viam. 34Então, levantando-se no meio do povo, os dois anciãos impuseram-lhe as mãos sobre a cabeça. 35Ela, chorando, olhava para o céu, porque o seu coração tinha confiança no Senhor. 36Falaram então os anciãos: "Enquanto passeávamos sozinhos no jardim, esta mulher entrou com duas servas. Depois, fechou as portas do jardim e despediu as servas. 37Nesse momento aproximou-se dela um jovem, que estava oculto, o qual deitou-se com ela. 38Nós, que estávamos em um canto do jardim, ao vermos a iniqüidade, corremos sobre eles, 39chegando a vê-los juntos. Quanto a ele, não conseguimos agarrá-lo porque era mais forte do que nós e, tendo aberto as portas, saltou para fora. 40A ela, porém, agarramos e perguntamos quem era o jovem, 41mas não quis dizê-lo para nós. Disto somos testemunhas". A assembléia creu neles, pois eram anciãos do povo e juízes. E julgaram- na ré de morte. 42Susana clamou então em alta voz, dizendo: "Ó Deus eterno, que conheces as coisas ocultas, que sabes todas as coisas antes de sua origem, 43tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim. Eis, pois, que vou morrer, não tendo feito nada do que estes maldosamente inventaram a meu respeito". 44E o Senhor escutou a sua voz. 45Enquanto a levavam para Fora, a fim de ser executada, suscitou Deus o espírito santo de um jovem adolescente, chamado Daniel, 46o qual clamou em alta voz: "Eu sou inocente do sangue desta mulher!" 47Voltou-se então todo o povo para ele, dizendo: "Que palavra é esta, que acabas de proferir?" 48E ele, de pé no meio deles, respondeu: "Tão insensatos sois vós, ó filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento claro vós condenastes uma filha de Israel? 49Voltai ao lugar do julgamento, pois é falso o testemunho que esses homens levantaram contra ela". 50E o povo todo voltou, apressadamente. E os outros anciãos lhe disseram:

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"Senta-te no meio de nós e expõe-nos o teu pensamento, pois Deus te deu o que é próprio da ancianidade". 51Disse-lhes então Daniel: "Separai-os bastante um do outro, e eu os julgarei". 52Tendo sido separados um do outro, chamou o primeiro deles e disse-lhe: "Ó tu que envelheceste no mal! Agora aparecem os teus pecados, que cometeste no passado: 53fazendo julgamentos injustos, condenavas os inocentes e absolvias os culpados, apesar de o Senhor dizer: 'Tu não farás morrer o inocente e o justo!' 54Agora, pois, se é que a viste, dize-nos debaixo de que árvore os viste entretendo-se juntos". E ele respondeu: "Debaixo de um lentisco". 55Retrucou-lhe Daniel: "Mentiste perfeitamente, contra a tua própria cabeça! Pois o anjo de Deus, já tendo recebido a sentença da parte de Deus, te rachará pelo meio". 56Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro. E disse-lhe: "Raça de Canaã e não de Judá, a beleza te extraviou e o desejo perverteu o teu coração.57Assim procedíeis com as filhas de Israel, e elas, por medo, se entretinham convosco. Mas uma filha de Judá não se submeteu à vossa iniqüidade. 58Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste entretendo-se juntos". E ele respondeu: "Debaixo de um carvalho". 59Retrucou-lhe Daniel: "Mentiste perfeitamente, tu também, contra a tua própria cabeça. Pois o anjo de Deus está esperando, com a espada na mão, para te cortar pelo meio, a fim de acabar convosco." 60Então a assembléia inteira prorrompeu num clamor em alta voz, bendizendo ao Deus que salva os que nele esperam. 61E levantaram-se contra os dois anciãos porque Daniel, por sua própria boca, os havia convencido de falso testemunho. E fizeram com eles da maneira como haviam maquinado perversamente contra o próximo, 62agindo segundo a Lei de Moisés. Mataram-nos, portanto, e assim foi poupado o sangue inocente, naquele dia. 63Então Helcias e sua mulher elevaram um hino a Deus por causa de sua filha Susana, com Joaquim seu marido e todos os seus parentes, porque nada de torpe havia sido encontrado nela. 64Quanto a Daniel, desse dia em diante tornou-se grande aos olhos do povo. Bel e o dragão

14 Daniel e os sacerdotes de Bel — 1O rei Astíages reuniu-se a seus pais, e Ciro, o persa, tomou posse do seu reino. 2Daniel vivia na intimidade do rei e era o mais honrado entre os seus amigos. 3Ora, os babilônios tinham um ídolo, chamado Bel, em honra do qual eram consumidas diariamente doze artabas de flor de farinha, quarenta ovelhas e seis metretas de vinho. 4Também o rei o venerava e ia diariamente prostrar-se diante dele. Daniel, porém, prostrava-se diante do seu Deus. 5Disse-lhe, um dia, o rei: "Por que não te prostras diante de Bel?" E ele respondeu: "Eu não adoro ídolos feitos por mão humana, mas sim o Deus vivo, que criou o céu e a terra e tem o senhorio sobre toda carne". 6Perguntou-lhe então o rei: "Não te parece que Bel seja um deus vivo? Acaso não vês tudo o que ele come e bebe dia por dia?" 7Retrucou Daniel a rir: "Não te enganes, ó rei! Por dentro ele é de barro e por fora é de bronze, e jamais comeu ou bebeu coisa alguma!" 8Encolerizado, o rei fez chamar seus sacerdotes e lhes disse: "Se não me disserdes quem é que consome estas provisões, morrereis. Ao contrário, se provardes que é Bel que as consome, será Daniel quem morrerá, pois ele blasfemou contra Bel". 9Disse Daniel ao rei: "Seja feito segundo a tua palavra!" Ora, os sacerdotes de Bel eram em número de setenta, sem contar as mulheres e as crianças. 10O rei dirigiu-se então com Daniel ao templo de Bel, 11e os sacerdotes de Bel disseram: "Vê, nós vamos sair daqui. Tu, porém, ó rei, oferece os manjares e apresenta o vinho misturado. Fecharás depois a porta, lacrando-a com o teu sinete. Quando vieres amanhã cedo, se não constatares que tudo foi consumido por Bel, morreremos nós. Caso contrário, é Daniel quem morrerá, por estar mentindo contra nós", 12Falavam eles com tal despreocupação, porque haviam feito uma entrada secreta debaixo da mesa: por ela introduziam-se diariamente e surripiavam as coisas. 13Sucedeu, então, que eles saíram e

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o rei depositou os alimentos diante de Bel. 14Daniel ordenou então a seus servos que trouxessem cinza e salpicassem com ela todo o santuário, tendo só o rei por testemunha. Depois saíram, fecharam a porta à chave e lacraram- na com o sinete do rei, e retiraram-se. 15Os sacerdotes vieram durante a noite, segundo o seu costume, eles com suas mulheres e filhos, e comeram e beberam tudo. 16O rei levantou-se muito cedo, e Daniel com ele. 17E o rei perguntou: "Estão intactos os sinetes, Daniel?" — E este respondeu: "Intactos, ó rei!" 18Ora, tendo lançado um olhar sobre a mesa logo que abrira as portas, o rei prorrompeu num clamor em alta voz: "Tu és grande, ó Bel, e não há em ti engano, nem sequer um só!" 19Daniel, porém, sorriu. E, detendo o rei para que não entrasse mais para dentro, falou: "Olha, pois, o pavimento e reconhece de quem são estas pegadas!" 20E o rei disse: "Eu vejo as pegadas de homens, de mulheres e de crianças". 21Encolerizado, o rei mandou então prender os sacerdotes com suas mulheres e seus filhos, os quais lhe mostraram as portas secretas por onde entravam e consumiam o que estava sobre a mesa. 22E o rei mandou-os matar, enquanto entregou Bel ao arbítrio de Daniel. Este o destruiu, assim como ao seu templo.

Daniel mata o dragão — 23Havia também um grande dragão, que os babilônios veneravam. 24E o rei disse a Daniel: "Acaso irás dizer que também este é de bronze? Olha! Ele vive, come, bebe: tu não dirás que este não é um deus vivo. Portanto, adora-o!" 25Mas Daniel respondeu: "É ao Senhor meu Deus que adorarei, porque ele é o Deus vivo. Tu, porém, ó rei, dá-me a licença e eu matarei o dragão sem espada nem bastão". 26E o rei lhe disse: "Concedo-te a licença". 27Daniel tomou pez, gordura e pêlos, e cozinhou tudo junto. Depois fez uma espécie de bolos e atirou-os à boca do dragão. E o dragão, tendo-os engolido, estourou. Então Daniel pôs-se a clamar: "Vede os objetos do vosso culto!" 28Quando os babilônios souberam disso, ficaram extremamente indignados e revoltaram-se contra o rei, dizendo: "O rei se tornou judeu! Bel, ele o deixou destruir; o dragão, deixou que o matassem; e os sacerdotes, mandou-os trucidar!" 29Dirigiram-se então ao rei e disseram-lhe: "Entrega-nos Daniel! Se não, mataremos a ti e à tua família!" 30O rei viu que o pressionavam gravemente e, cedendo à necessidade, entregou-lhes Daniel.

Daniel na cova dos leões — 31Eles o atiraram na cova dos leões, onde esteve durante seis dias. 32Ora, havia na cova sete leões, aos quais se davam diariamente dois corpos e duas ovelhas. Então, porém, não se lhes deu nada, a fim de que devorassem a Daniel. 33Entretanto, o profeta Habacuc estava na Judéia. Ele havia acabado de cozinhar um caldo e de dividir pães em pedaços numa cesta, e se dispunha a ir ao campo a fim de os levar aos ceifeiros. 34Disse então o anjo do Senhor a Habacuc: "Leva a refeição que tens até Babilônia, à cova dos leões, para Daniel". 35Retrucou Habacuc: "Senhor, nunca vi Babilônia, e não conheço essa cova!" 36Mas o anjo do Senhor, segurando-o pelo alto da cabeça, transportou-o pela cabeleira até Babilônia, à beira da cova, na impetuosidade do seu espírito. 37Gritou então Habacuc, dizendo: "Daniel, Daniel, toma a refeição que Deus te enviou!" 38E Daniel disse: "Tu te recordaste de mim, ó Deus, e não abandonaste os que te amam". 39Depois, levantando-se, Daniel comeu. Entretanto, o anjo do Senhor imediatamente reconduziu Habacuc ao seu lugar. 40No sétimo dia, o rei veio chorar Daniel. Chegou à beira da cova e olhou, e eis que Daniel estava sentado. 41Clamando então com voz forte, exclamou: "Tu és grande, ó Senhor, Deus de Daniel, e não há outro além de ti!" 42E mandou retirá-lo. Quanto aos culpados pelo perigo em que incorrera, ele os fez precipitar na cova. E foram devorados num instante, diante dele.