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    No restaurantesubmarino

    CONTOS

    FANTSTICOS

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    Copyright 2012 by os autores

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortogrfico da Lngua

    Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Capa e projeto grfico Retina78

    RevisoHuendel Viana

    [2012]Todos os direitos desta edio reservados EDITORASCHWARCZS.A.

    Rua Bandeira Paulista, 702, cj. 3204532-002So PauloSPTelefone (11) 3707-3500

    Fax (11) 3707-3501www.companhiadasletras.com.brwww.blogdacompanhia.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    No restaurante submarino : contos fantsticos. 1 ed.So Paulo : Boa Companhia, 2012.

    Vrios autores.ISBN978-85-65771-01-6

    1. Contos brasileiros Coletneas 2. Fico fantstica3. Fico brasileira.

    12-09906 CDD-869.930876

    ndice para catlogo sistemtico:1. Contos fantsticos : Coletnea : Literatura brasileira869.930876

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    Sumrio

    7 Inusitados, inesperados. Fantsticos

    MURILO RUBIO

    11 Brbara 18 Teleco, o coelhinho

    28 Os drages

    MOACYR SCLIAR

    37 No restaurante submarino

    40 Paz e guerra 44 Atlas

    LYGIA FAGUNDES TELLES

    51 As formigas

    60 Seminrio dos ratos

    76 Ano de jardim

    AMILCAR BETTEGA

    89 O crocodilo I

    97 Exlio

    105 Sobre os autores

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    MURILO RUBIO

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    BRBARA

    O homem que se extraviar do caminho da doutrina

    ter por morada a assembleia dos gigantes.

    (Provrbios, XXI, 16)

    Brbara gostava somente de pedir. Pedia e engordava.

    Por mais absurdo que parea, encontrava-me sempre disposto

    a lhe satisfazer os caprichos. Em troca de to constante dedicao,

    dela recebi frouxa ternura e pedidos que se renovavam continua-

    mente. No os retive todos na memria, preocupado em acompa-

    nhar o crescimento do seu corpo, se avolumando medida que se

    ampliava sua ambio. Se ao menos ela desviasse para mim parte

    do carinho dispensado s coisas que eu lhe dava, ou no engordas-

    se tanto, pouco me teriam importado os sacrifcios que fiz para

    lhe contentar a mrbida mania.

    Quase da mesma idade, fomos companheiros inseparveis na

    meninice, namorados, noivos e, um dia, nos casamos. Ou melhor,

    agora posso confessar que no passamos de simples companheiros.Enquanto me perdurou a natural inconsequncia da infncia,

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    no sofri com as suas esquisitices. Brbara era menina franzina e

    no fazia mal que adquirisse formas mais amplas. Assim pensan-

    do, muito tombo levei subindo em rvores, onde os olhos vidosda minha companheira descobriam frutas sem sabor ou ninhos

    de passarinho. Apanhei tambm algumas surras de meninos aos

    quais era obrigado a agredir unicamente para realizar um desejo

    de Brbara. E se retornava com o rosto ferido, maior se lhe tornava

    o contentamento. Segurava-me a cabea entre as mos e sentia-se

    feliz em acariciar-me a face intumescida, como se as equimosesfossem um presente que eu lhe tivesse dado.

    s vezes relutava em aquiescer s suas exigncias, vendo-a en-

    gordar incessantemente. Entretanto, no durava muito a minha

    indeciso. Vencia-me a insistncia do seu olhar, que transformava

    os mais insignificantes pedidos numa ordem formal. (Que ternura

    lhe vinha aos olhos, que ar convincente o dela ao me fazer to

    extravagantes solicitaes!)

    Houve temposim, houveem que me fiz duro e ameacei

    abandon-la ao primeiro pedido que recebesse.

    At certo ponto, minha advertncia produziu o efeito dese-

    jado. Brbara se refugiou num mutismo agressivo e se recusava a

    comer ou conversar comigo. Fugia minha presena, escondendo-

    -se no quintal, e contaminava o ambiente com uma tristeza que

    me angustiava. Definhava-lhe o corpo, enquanto lhe crescia assus-

    tadoramente o ventre. Desconfiado de que a ausncia de pedidos

    em minha mulher poderia favorecer o aparecimento de uma nova

    espcie de fenmeno, apavorei-me. O mdico me tranquilizou.Aquela barriga imensa prenunciava apenas um filho.

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    Ingnuas esperanas fizeram-me acreditar que o nascimento

    da criana eliminasse de vez as estranhas manias de Brbara. E sus-

    peitando que a sua magreza e palidez fossem prenncio de gravemolstia, tive medo de que, adoecendo, lhe morresse o filho no

    ventre. Antes que tal acontecesse, lhe implorei que pedisse algo.

    Pediu o oceano.

    No fiz nenhuma objeo e embarquei no mesmo dia, inician-

    do longa viagem ao litoral. Mas, frente ao mar, atemorizei-me com

    o seu tamanho. Tive receio de que a minha esposa viesse a engor-dar em proporo ao pedido, e lhe trouxe somente uma pequena

    garrafa contendo gua do oceano.

    No regresso, quis desculpar meu procedimento, porm ela no

    me prestou ateno. Sofregamente, tomou-me o vidro das mos e

    ficou a olhar, maravilhada, o lquido que ele continha. No mais o

    largou. Dormia com a garrafinha entre os braos e, quando acor-

    dada, colocava-a contra a luz, provava um pouco da gua. Entre-

    mentes, engordava.

    Momentaneamente despreocupei-me da exagerada gordura

    de Brbara. As minhas apreenses voltavam-se agora para o seu

    ventre a dilatar-se de forma assustadora. A tal extremo se dilatou

    que, apesar da compacta massa de banha que lhe cobria o corpo,

    ela ficava escondida por trs de colossal barriga. Receoso de que

    dali sasse um gigante, imaginava como seria terrvel viver ao lado

    de uma mulher gordssima e um filho monstruoso, que poderia

    ainda herdar da me a obsesso de pedir as coisas.

    Para meu desapontamento, nasceu um ser raqutico e feio, pe-

    sando um quilo.

    Desde os primeiros instantes, Brbara o repeliu. No por sermido e disforme, mas apenas por no o ter encomendado.

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    A insensibilidade da me, indiferente ao pranto e fome do

    menino, obrigou-me a cri-lo no colo. Enquanto ele chorava por

    alimento, ela se negava a entregar-lhe os seios volumosos, e cheiosde leite.

    Quando Brbara se cansou da gua do mar, pediu-me um bao-

    b, plantado no terreno ao lado do nosso. De madrugada, aps

    certificar-me de que o garoto dormia tranquilamente, pulei o

    muro divisrio com o quintal do vizinho e arranquei um galho

    da rvore.Ao regressar a casa, no esperei que amanhecesse para entregar

    o presente minha mulher. Acordei-a, chamando baixinho pelo

    seu nome. Abriu os olhos, sorridente, adivinhando o motivo por

    que fora acordada:

    Onde est?

    Aqui.E lhe exibi a mo, que trazia oculta nas costas.

    Idiota!

    gritou, cuspindo no meu rosto.

    No lhe pedi

    um galho.E virou para o canto, sem me dar tempo de explicar

    que o baob era demasiado frondoso, medindo cerca de dez me-

    tros de altura.

    Dias depois, como o dono do imvel recusasse vender a rvore

    separadamente, tive que adquirir toda a propriedade por preo

    exorbitante.

    Fechado o negcio, contratei o servio de alguns homens que,

    munidos de picaretas e de um guindaste, arrancaram o baob do

    solo e o estenderam no cho.

    Feliz e saltitante, lembrando uma colegial, Brbara passava as

    horas passeando sobre o grosso tronco. Nele tambm desenhava

    figuras, escrevia nomes. Encontrei o meu debaixo de um corao,o que muito me comoveu. Esse foi, no entanto, o nico gesto de

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    carinho que dela recebi. Alheia gratido com que eu recebera

    a sua lembrana, assistiu ao murchar das folhas e, ao ver seco o

    baob, desinteressou-se dele.Estava terrivelmente gorda. Tentei afast-la da obsesso, levan-

    do-a ao cinema, aos campos de futebol. (O menino tinha que ser

    carregado nos braos, pois anos aps o seu nascimento continuava

    do mesmo tamanho, sem crescer uma polegada.) A primeira ideia

    que lhe ocorria, nessas ocasies, era pedir a mquina de projeo

    ou a bola, com a qual se entretinham os jogadores. Fazia-me inter-romper, sob o protesto dos assistentes, a sesso ou a partida, a fim

    de lhe satisfazer a vontade.

    Muito tarde verifiquei a inutilidade dos meus esforos para

    modificar o comportamento de Brbara. Jamais compreenderia o

    meu amor e engordaria sempre.

    Deixei que agisse como bem entendesse e aguardei resignada-

    mente novos pedidos. Seriam os ltimos. J gastara uma fortuna

    com as suas excentricidades.

    Afetuosamente, chegou-se para mim, uma tarde, e me alisou

    os cabelos. Apanhado de surpresa, no atinei de imediato com o

    motivo do seu procedimento. Ela mesma se encarregou de mos-

    trar a razo:

    Seria to feliz se possusse um navio!

    Mas ficaremos pobres, querida. No teremos com que com-

    prar alimentos e o garoto morrer de fome.

    No importa o garoto, teremos um navio, que a coisa mais

    bonita do mundo.Irritado, no pude achar graa nas suas palavras. Como poderia

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    saber da beleza de um barco, se nunca tinha visto um e se conhe-

    cia o mar somente atravs de uma garrafa?!

    Contive a raiva e novamente embarquei para o litoral. Dentreos transatlnticos ancorados no porto, escolhi o maior. Mandei

    que o desmontassem e o fiz transportar nossa cidade.

    Voltava desolado. No ltimo carro de uma das numerosas

    composies que conduziam partes do navio, meu filho olha-

    va-me inquieto, procurando compreender a razo de tantos e in-

    teis apitos de trem.Brbara, avisada por telegrama, esperava-nos na gare da estao.

    Recebeu-nos alegremente e at dirigiu um gracejo ao pequeno.

    Numa rea extensa, formada por vrios lotes, Brbara acompa-

    nhou os menores detalhes da montagem da nave. Eu permanecia

    sentado no cho, aborrecido e triste. Ora olhava o menino, que

    talvez nunca chegasse a caminhar com as suas perninhas, ora o

    corpo de minha mulher que, de to gordo, vrios homens, dando

    as mos, uns aos outros, no conseguiriam abraar.

    Montado o barco, ela se transferiu para l e no mais desceu a

    terra. Passava os dias e as noites no convs, inteiramente abstrada

    de tudo que no se relacionasse com a nau.

    O dinheiro escasso, desde a compra do navio, logo se esgotou.

    Veio a fome, o guri esperneava, rolava na relva, enchia a boca de

    terra. J no me tocava tanto o choro de meu filho. Trazia os olhos

    dirigidos para minha esposa, esperando que emagrecesse falta de

    alimentao.

    No emagreceu. Pelo contrrio, adquiriu mais algumas dezenas

    de quilos. A sua excessiva obesidade no lhe permitia entrar nos

    beliches e os seus passeios se limitavam ao tombadilho, onde selocomovia com dificuldade.

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    Eu ficava junto ao menino e, se conseguia burlar a vigilncia de

    minha mulher, roubava pedaos de madeira ou ferro do transa-

    tlntico e trocava-os por alimento.

    Vi Brbara, uma noite, olhando fixamente o cu. Quando des-

    cobri que dirigia os olhos para a lua, larguei o garoto no cho e

    subi depressa at o lugar em que ela se encontrava. Procurei, com

    os melhores argumentos, desviar-lhe a ateno. Em seguida, per-cebendo a inutilidade das minhas palavras, tentei pux-la pelos

    braos. Tambm no adiantou. O seu corpo era pesado demais

    para que eu conseguisse arrast-lo.

    Desorientado, sem saber como proceder, encostei-me amu-

    rada. No lhe vira antes to grave o rosto, to fixo o olhar. Aquele

    seria o derradeiro pedido. Esperei que o fizesse. Ningum mais a

    conteria.

    Mas, ao cabo de alguns minutos, respirei aliviado. No pediu a

    lua, porm uma minscula estrela, quase invisvel a seu lado. Fui

    busc-la.