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Fundamentos Epistemológicos da Medicina SISTEMATICIDADE DAS TEORIAS Luiz Salvador de Miranda Sá Jr. Não basta que uma ciência ou qualquer outra produção científica, disponha de uma massa crítica razoável de conceitos e categorias verossímeis; nem é suficiente que reúna e possa construir proposições científicas razoavelmente válidas e fidedignas, também é indispensável que possa reunir estes conceitos e proposições em um estrutura lógica e harmônica para explicar seu objeto e prever os fatos que lhe devem acontecer, como com as teorias da ciência. Este último requisito, configura a sistematicidade da ciência. Qualidade reconhecida como uma exigência essencial de todo conhecimento científico. A exigência de sistematicidade científica impõe que os conceitos da ciência estejam suficientemente estruturados aptos a construir proposições; que disponha de um corpo de leis que lhe permita construções teóricas. No início deste capítulo, os sistemas lógicos (sistemas doutrinários, teorias ou sistemas teóricos) foram definidos como estruturas unitárias de conceitos, categorias , leis e princípios que configuram uma unidade sistêmica coerente, tanto do ponto de vista interno quanto externo, naquilo que refere ao objeto de uma ciência ou a um segmento bem definido dele. Ali também se propõe designar de sistemas teóricos ou teorias aos sistemas lógicos incompletos, nos quais nem todos os componentes estejam comprovados, mas possam ser razoavelmente inferidos. Embora muitos prefiram designar sistemas lógicos aos sistemas teóricos formais e sistemas teóricos às teorias factuais.

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epistemologia médica e gnosiologia da medicina

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Fundamentos Epistemológicos da Medicina

SISTEMATICIDADE DAS TEORIAS

Luiz Salvador de Miranda Sá Jr.

Não basta que uma ciência ou qualquer outra produção científica, disponha de uma massa crítica razoável de conceitos e categorias verossímeis; nem é suficiente que reúna e possa construir proposições científicas razoavelmente válidas e fidedignas, também é indispensável que possa reunir estes conceitos e proposições em um estrutura lógica e harmônica para explicar seu objeto e prever os fatos que lhe devem acontecer, como com as teorias da ciência. Este último requisito, configura a sistematicidade da ciência. Qualidade reconhecida como uma exigência essencial de todo conhecimento científico. A exigência de sistematicidade científica impõe que os conceitos da ciência estejam suficientemente estruturados aptos a construir proposições; que disponha de um corpo de leis que lhe permita construções teóricas. No início deste capítulo, os sistemas lógicos (sistemas doutrinários, teorias ou sistemas teóricos) foram definidos como estruturas unitárias de conceitos, categorias , leis e princípios que configuram uma unidade sistêmica coerente, tanto do ponto de vista interno quanto externo, naquilo que refere ao objeto de uma ciência ou a um segmento bem definido dele. Ali também se propõe designar de sistemas teóricos ou teorias aos sistemas lógicos incompletos, nos quais nem todos os componentes estejam comprovados, mas possam ser razoavelmente inferidos. Embora muitos prefiram designar sistemas lógicos aos sistemas teóricos formais e sistemas teóricos às teorias factuais.

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Os sistemas teóricos são sempre construções intelectuais que resultam do trabalho intelectual ou científico. De um ponto de vista mais atual e rigoroso, uma teoria é um sistema dedutivo de conceitos, categorias, leis e princípios obtidos a partir de fatos observados e tendo, ao menos, suas hipóteses fundamentais comprovadas por uma metodologia cientificamente aceitável e reprodutível. Uma teoria é uma configuração que busca circunscrever a totalidade de um sistema teórico provável. Sistema teórico ou teoria são conceitos sinônimos da Filosofia do Conhecimento Científico que podem ser definidos, de maneira suficientemente exigente para satisfazer aos requisitos científicos, como conjunto de doutrinas que formam um todo organizado e, na maior parte dos casos, perfeitamente harmônico como configuração teórica, ainda que permaneça inacabado e incompleto, ao menos, do ponto de vista de suas possibilidades de desenvolvimento e da comprovação de todos os seus elementos. A existência de um corpo de conhecimentos sobre seu objeto que possa ser reconhecido como suficientemente amplo e coerente para que seja denominado um sistema lógico ou um sistema teórico é um componente essencial à exigência de sistematicidade para tipificar a atividade científica no plano das teorias. O que vai se delinear na estrutura da linguagem daquela ciência: sua terminologia, sua sintaxe e a consistência de seus enunciados particulares e sistemas teóricos. De certa forma, uma ciência é a sua linguagem, especialmente a estrutura do seu vocabulário e a organização de seus juízos e raciocínios. Contudo, esta exigência formal da ciência para a formulação das teorias não acontece na Psicologia e na Psiquiatria, por diversas razões, como já se mencionou. E, parece certo, o primeiro passo para atender a esta exigência de sistematicidade científica será a construção de uma

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terminologia, um vocabulário que expresse, ao menos, os conceitos psicológicos e psiquiátricos mais elementares e mais significativos de modo a permitir a elaboração de teorias comprováveis. Uma deformação da atividade científica que denota grave comprometimento da sistematicidade em seu arcabouço doutrinário com evidente prejuízo de cientificidade de sua produção. Neste caso, o sistema teórico costuma ser bem organizado, seus conceitos estão hierarquizados, bem estruturados e a coerência interna do corpo doutrinário pode ser impecável; seu defeito reside, principalmente, na elaboração do raciocínio. Que consiste no seguinte: num primeiro momento, levantam-se algumas hipóteses, dispensando-se de comprová-las naquele momento; um pouco ou muito adiante, estas hipóteses são invocadas, como se fossem fatos comprovados. A invalidade das premissas fundamentais (hipóteses, suposições ou especulações tomadas como fatos) compromete as conclusões resultantes de sua elaboração. Consiste em interessante exercício, avaliar muito do que se publica em psiquiatria e psicologia buscando diagnosticar estes recursos infratores do princípio da sistematicidade da produção científica. E uma das finalidades deste trabalho, talvez a mais importante, seja instrumentar o estudante para permitir-lhe fazer isto. Por tudo isto, por mais que se possam fazer objeções aos programas nosográficos (como os DSM e as CID), restam-lhes a inegável vantagem de permitirem a unificação da linguagem dos psiquiatras e lhes permitir melhor conhecimento da realidade epidemiológica e necessidades assistenciais. Neste terreno, com em outros trabalhos deste autor, denuncia-se outro tipo de infração técnica à exigência de sistematicidade muito praticada em textos técnicos de Medicina (mas, muito especialmente de psicologia

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e psiquiatria), que consiste no seguinte: conceitos mais ou menos definidos, mais ou menos comprovados, mas também mais ou menos preconcebidos, são misturados a assertivas sem qualquer evidência de realidade, reunidas ao sabor dos interesses, imaginação ou crenças de seus autores; estes, findam por utilizar tal amontoado de dados para fundamentar conclusões que não poderiam deixar de ser insubsistentes e, frequentemente, sem qualquer compatibilidade mesmo entre sí ou com a realidade, guiados unicamente pela intenção pré-estabelecida de comprovar” suas opiniões pré-existentes. Este amontoado de ideias resulta em um aglomerado que não pode ser chamado sistema, porque desarmônico, mal-estruturado e, frequentemente, inestético (além de aético) mas que é invocado muitas vezes, sem qualquer consideração pela inteligência, pelo bom gosto, pelo conhecimento ou, até mesmo, pelo senso comum do leitor; apresentado como se fosse coisa séria, como se fosse produção científica. Muita literatura psicológica, muito do que se escreve ou se propaga acerca de numerosos aspectos da psicologia (incluindo a psicoanálise), da psiquiatria e da antipsiquiatria, padece deste defeito original, que não pode e não deve ser minimizado em nome de possíveis boas intenções originais, mesmo quando este for o caso.

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O CONHECIMENTO: SISTEMA COGNITIVO OU SISTEMA

LÓGICO DE INFORMAÇÕES

Em geral, o processo de construção, aperfeiçoamento e conservação dos conhecimentos não se dá de maneira casual ou aleatória. Tão pouco, se adquirem conhecimentos de modo mecânico, como a acumulação e armazenamento de objetos em um recipiente, o registro de informações em uma folha de papel, a gravação de dados em meio magnético como um disco de computador ou o reflexo da realidade em um espelho. Os conhecimentos, mesmo os menos complexos, se estruturam como sistemas ativos e dinâmicos, lógicos e psicológicos, sujeitos, como quaisquer outros sistemas, às suas próprias regras e às leis genéricas dos sistemas. (von Bertalanffy, L., Teoria Geral dos Sistemas, Ed. Vozes, Petrópolis, 1977.) O conceito de sistema não é, na verdade, pacífico ou tão simples como se mostra aqui em uma versão deliberadamente simplificada. O conhecimento científico se organiza como um grande sistema lógico, com seus sub-sistemas. A sistematicidade é uma exigência geral a toda estrutura de conhecimento que possa ser chamada de científica. Todo conhecimento, sobretudo o conhecimento científico, pode, sempre, ser estudado como um sistema lógico. Quer se trate de uma estrutura de obter saber, quer se trate do resultado produzido, o saber obtido. Uma estrutura de produzir conhecimento ou um sistema de conhecimentos.

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A ideia de conhecimento como um sistema simultaneamente lógico e psicológico impõe a necessidade de uma breve revisão acerca dos elementos mais essenciais do conceito de sistema, de modo a permitir sua aplicação tanto no entendimento dos procedimentos cognitivos, quanto no estudo da estruturação do resultado destes procedimentos. Como o conhecimento comum e, mais ainda, o conhecimento científico podem ser tidos como sistemas de ideias, parece importante fazer uma breve revisão da noção de sistema e verificar sua aplicabilidade ao processo de conhecimento. O estudo dos sistemas e da teoria geral dos sistemas é dos aspectos mais fascinantes e mais importantes do conhecimento atual, tão grande é sua influência no saber contemporâneo. Tão importante tem se tornado sua influência que há quem divida o mundo do conhecimento em dois momentos: antes e depois da teoria geral dos sistemas. Ainda que se saiba que a noção de sistema é bastante anterior à formulação da Teoria Geral dos Sistemas, em meados da primeira metade deste século, como há de se ver logo adiante.

Sistema e Sistematicidade O desenvolvimento da noção de sistema e o reconhecimento de sua utilidade para o conhecimento científico são das maiores conquistas

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cognitivas deste século e propiciador de recursos conceituais essenciais para o desenvolvimento científico. Por isto, merece atenção especial aqui. Sistema é a organização de um conjunto mais ou menos complexo de elementos que mantêm conexões entre si por meio de interações recíprocas de suas características essenciais; os sistemas e seus componente em interação se integram em uma unidade hierarquizada e interdependente, obedecendo, todos, a uma única lei. Cada componente de um sistema qualquer pode ser um subsistema com identidade própria, coordenado com outros que se situem em seu nível hierárquico ou congregando outros sistemas que lhe sejam subordinados como elementos seus. A noção de sistema parece tão importante para o estudo do conhecimento científicos da atualidade que é cada vez maior o número daqueles que dividem a ciência em dois momentos qualitativamente diferentes: antes e depois da teoria geral dos sistemas proposta por von Bertalanfy nos anos trinta, mas só divulgada depois da Segunda Guerra Mundial. Os componentes dos sistemas podem ser extremamente simples ou muito complexos, integrando diversos níveis de subsistemas; também podem apresentar variados grau de estabilidade temporal. Sistematicidade é a qualidade de tudo aquilo que é sistêmico, do que se configura como um sistema de qualquer natureza. A sistematicidade que está implícita nos processos naturais, sociais, lógicos e psicológicos estruturados impõe a todos os cientistas e a todas as pessoas cultas a necessidade de se estudar e entender cada vez mais sobre a teoria dos sistemas. (Bertalanffy, L. von, Teoria Geral dos Sistemas, Ed. Vozes, Petrópolis, 1968.)

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A noção de sistematicidade interessa a todas as áreas do saber, uma vez que os sistemas podem ser classificados em sistemas naturais (físicos, químicos e biológicos), sistemas sociais e sistemas lógicos. Na interseção destes, situam-se os sistemas psicológicos e os sistemas teóricos factuais. O conhecimento inteligente é, por sua própria natureza, uma estrutura lógica e dinâmica de ideias, por isto, pode ser caracterizado como dotado de sistematicidade. Os sistemas teóricos das ciências factuais são estruturas lógicas construídos pela integração intercomplementar de conceitos, categorias, juízos e leis, organizados como uma estrutura de informações acerca de um objeto específico e que devem refletir, em seu âmbito e o mais exatamente possível, as leis que regem a organização dois sistemas em geral, sobretudo aquela que afirma que todo sistema se caracteriza por obedecer a uma única lei geral que o alcança inteiramente. @DEF2 = Um sistema pode ser composto por um número bastante variável de estruturas interdependentes que se organizem segundo uma certa ordem de sucessão ou obedeçam a uma localização espacial particular. A natureza é um sistema extremamente complexo, composto por imensa rede de subsistemas de níveis e ordens infinitamente decrescentes; o organismo também é um sistema complexo, contendo subsistemas compostos por outros sistemas (análogos aos sucessivos níveis e as ordens de organização dos sistemas da natureza, por exemplo). Os menores sistemas possíveis contêm dois elementos. O par (conjunto interativo de dois elementos sistêmicos) é, pois, o menor dos sistemas sociais conhecidos; como o juízo é o menor dos sistemas lógicos (relação asseverativa de dois conceitos, o sujeito e o objeto do juízo).

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Sabe-se que os sistemas naturais obedecem às leis gerais dos sistemas, além de estarem subordinadas às leis naturais de seu nível de organização da natureza; também se sabe que os achados específicos referentes a cada um destes níveis de sua organização não podem ser transpostos para os demais, sem grave risco de distorção e de invalidade para suas conclusões. Mas que as leis gerais dos sistemas são aplicáveis em todos os níveis de organização natural. Isto é, no mundo, tudo aquilo que é sistêmico, pode ser explicado e previsto a partir das leis dos sistemas. Inclusive que cada segmento da natureza deva estar submetido às mesmas leis e que estas não possam ser transpostas mecanicamente para outros estratos. O conhecimento das propriedades heurísticas dos sistemas inspirou e norteou a instituição da classificação como instrumento de investigação científica, como foi a classificação biológica de LINEU, que considerava a natureza como um grande sistema composto por subsistemas de níveis cada vez menos elevados. PLATÃO, ARISTÓTELES e KANT descreveram o conhecimento como se fosse um sistema estruturado, ainda que este conceito científico de sistema só tenha surgido no século XX. No entanto, é preciso saber que o conhecimento sobre a teoria dos sistemas, bem como o conhecimento filosófico, são incapazes de substituir os estudos científicos específicos. A sistematicidade assinala a forma do conhecimento científico. A noção de sistematicidade deve ser considerada hoje como uma das exigências essenciais para a caracterização do conhecimento científico. O conceito de sistema interage e se confunde com a noção de estrutura. O conceito de sistema parece ser necessário para entender a noção, mesmo pré-estruralista (anterior a LEVY-STRAUSS), (Câmara, J.MJr., O Estruturalismo Linguístico, Revista Tempo Brasileiro, 15/16, Rio, s/d, p.

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5.) de estrutura com o qual frequentemente se confunde (pois, todo sistema é uma estrutura dinâmica). Por isto, a noção de estrutura necessita do conceito de sistema. Uma estrutura pode ser definida como disposição ordenada dos elementos interdependentes que compõem uma totalidade organizada; (Thines, G. e Lempereur, A.G., op. cit.) ou a elementos organizados no interior de um sistema que constituem uma unidade de conexões estáveis, assim como das leis que regem estas conexões; (Dicionário de Filosofia. op. Cit.) ou, ainda, a configuração das relações dos elementos que estejam situados no interior de um sistema. O método de classificação utilizado por PLATÃOcomo instrumento do conhecimento científico e adotado pelas ciências naturais no século passado, evidencia o emprego da sistematicidade (de fato, o grau de sistematicidade contido em um sistema lógico) como critério de cientificidade (Prado, C. Jr., Dialética do Conhecimento, 6a. edição, Ed, Brasiliense, S.Paulo, 1980, p. 168.) e como procedimento avaliador de um instrumento da metodologia científica. Porque presume a unidade sistêmica do ente classificado e, por isto, a possibilidade de descobrir a explicação de sua essencialidade e conteúdo a partir do rearranjo de suas partes e da identificação das principais interconexões internas que intermediam as relações estáveis entre seus componentes. O grau de sistematicidade de um conjunto taxonômico é um dos elementos lógicos mais importantes para caracterizar sua cientificidade, isto é seu significado para explicar e prever acontecimentos com certa segurança. A credibilidade científica de uma classificação é dada por sua sistematicidade. E sua sistematicidade, em todos os casos, resulta da presença das três características gerais de todos os sistemas.

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Conhecem-se três características essenciais de todos os sistemas. Para CORBISIER, (Corbisier, R., Enciclopédia Filosófica, Ed. Vozes, Petrópolis, 1974, p. 182) o conceito de sistema é composto por três noções essenciais, sendo todas indispensáveis ao seu entendimento: a totalidade, a unidade e a interdependência. = a noção de totalidade, pressupõe a existência das partes, que são seus elementos componentes, mas sua função integrada é sempre mais que a soma de suas partes integrantes; = a noção de unidade pressupõe sempre um certo grau de organização e hierarquização dos seus componentes numa configuração única que garante a individualidade ou a identidade da coisa a que se refere; e = a noção da interdependência se encontra estreitamente vinculada à interação e interrelação de todas as suas as partes, como se relacionam seus componentes. Estes três elementos fundamentais contidos no conceito de sistema e que se estruturam na configuração de todos os sistemas reais, quando considerados do ponto de vista da teoria do conhecimento e da teoria geral dos sistemas, apontam para três pares de categorias lógicas que estão sempre presentes no núcleo do conceito de sistema e que vão ser importantes quando se tiver que considerar a sistematicidade de um sistema teórico como índice de cientificidade. Tais categorias lógicas presentes em todos os sistemas são: o todo e a parte, a unidade e a pluralidade, a dependência e a autonomia. Sendo importante considerar cada uma delas quando se promover a avaliação do grau de sistematicidade de uma teoria científica (o que não abrange apenas sua coerência ou consistência interna, mas sua compatibilidade com a realidade que pretende retratar.

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Totalidade Sistêmica

O conceito de totalidade sistêmica não pode ser entendido senão como um aspecto particular da totalidade como conceito da filosofia da ciência. A totalidade deve ser entendida, sempre, como a configuração do todo completo resultante da reunião de suas partes em sua ordem; a totalidade dos elementos que compõem um todo integral; também presume a intercomplementação e a perfeita disposição de todas as partes que a compõem, mas a configuração completa de todos os elementos é sua característica mais importante. Todo sistema possui leis próprias que determinam sua totalidade. Não há sistema sem isto. A noção de totalidade se identifica com a categoria filosófica de todo, do que é geral. Enquanto que a categoria filosófica de parte abrange as particularidades (subconjuntos ou subsistema homogêneos) e os elementos específicos individuais. Tudo que tem partes diferenciáveis se configura como uma totalidade, mas num sistema, a totalidade segue as mesmas leis. A noção de totalidade é completamente indispensável para quem lida com conceitos, objetos ou fenômenos que possam ser subdivididos em partes constituintes. O entendimento da totalidade sistêmica como característica essencial de um sistema é essencial para seu entendimento, mesmo que ele integre outro sistema de nível mais elevado, constituindo-se em subsistema como parte de uma outra totalidade situada em um nível superior da organização natural, social ou lógica; pois cada sistema há de ser entendido como uma totalidade particular.

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No entanto, deve-se ter presente que o conceito de totalidade aplicado a um sistema, o que se chama totalidade sistêmica, não se resume a uma noção quantitativa de soma das partes, ou sua reunião mais ou menos casual no espaço, mas de uma organização hierarquizada delas em razão de suas funções, porque o conceito de totalidade sistêmica implica na noção de comunidade entre as partes em interação, e se refere à ação recíproca que se dá entre os elementos que compõem a totalidade sistêmica. Uma da mais importantes contribuições do conhecimento dos sistemas à ciência, sobretudo à Psicologia Social, é o conhecimento estabelecido de que o valor da totalidade sistêmica ultrapassa a importância da soma de suas partes, exatamente em função das relações que existem entre elas. Esta noção da importância desempenhada pelas relações objetivas que se estabelecem entre os elementos de um sistema ou de um processo em sua finalidade e em seu desenvolvimento é uma das dimensões mais importantes e mais pertinentes da Filosofia da ciência, mas não cabe nos limites postos pelos propósitos deste trabalho. A totalidade sistêmica inclui a noção de que ele é sempre mais ou menos fechado (ainda que possa se alimentar de matéria ou energia proveniente do exterior e excluir os resultados de sua atividade), mas se configura sempre como uma estrutura de limites definidos. A noção de sistema aberto é uma referência a esta abertura para o exterior. Um sistema aberto é aquele que efetua algum tipo de troca com o exterior. A melhor sistematização dos sistemas é a que os apresenta como estáveis e instáveis, considerando a duração de seu funcionamento mais ou menos regular.

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Unidade Sistêmica Outra característica essencial dos sistemas é a unidade sistêmica. A unidade de qualquer coisa, como conceito da Filosofia da ciência, pode ser entendida como uma configuração completa obtida pela reunião de suas partes, seus componentes ou suas sub-unidades. A questão da unidade das coisas (principalmente das mais ou menos complexas) é uma das mais importantes da filosofia do conhecimento, sobretudo, quando se considera sua implicação na teoria dos sistemas. Quando se estuda os sistemas, é preciso saber que sua unidade não deve resultar apenas da coexistência, casual ou intencional, de seus elementos (ou componentes) em um mesmo lugar do espaço, como acontece na linguagem comum. A simples reunião de diversas coisas em um local não caracteriza uma unidade sistêmica porque a unidade sistêmica resulta sempre da configuração de elementos interdependentes articulados. @DEF = A noção de unidade se confunde com a de individualidade ou, mesmo, de identidade garantida pela articulação dos elementos da totalidade. Todo sistema muda apreciavelmente se sua unidade é comprometida, isto é, quando dele é retirado algum componente ou este é substituído por outro, diferente. O conceito de unidade pode ser entendido de três maneiras diferentes: = a) de uma maneira mecanicista, pode-se entender uma unidade como mera justaposição mecânica de componentes em uma totalidade (como os passageiros de um ônibus, os passantes em uma calçada, os assistente de um espetáculo artístico ou esportivo); = b) um segundo sentido consiste em considerar a unidade como a completa identidade, excluindo-se todas as diferenças (como a unidade fundamentalista de natureza política ou religiosa);

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= c) de uma maneira sistêmica e dialética, pode-se considerar a unidade como a vinculação dinâmica e interior da identidade e da diferença (a interdependência decorrentes de atributos essenciais dos componentes). O estudo da unidade sistêmica obriga a considerar a questão das categorias lógicas de qualidade e quantidade. Não é possível fazer ciência para além da descrição se na forem usadas estas categorias. Nas totalidades não-sistêmicas apenas quantitativas, como os livros arrumados em uma biblioteca ou uma lista de enfermidades em uma tabela nosográfica, sua unidade não é determinada por algo que é interior ao próprio conjunto, não depende de sua estrutura ou da configuração interna de seus elementos; mas resulta de algo que lhe é exterior, porque os elementos ou partes que constituem estas totalidades não estão articulados em função de características essenciais e internas em relação à estrutura considerada, sua unidade depende unicamente de qualidades mais ou menos acidentais, exteriores e contingentes em relação à sua essência. Nestes conjuntos, diz-se que sua unidade é contingente; não é uma unidade necessária. @DEF = Nos conjuntos que não têm unidade necessária, mas uma unidade contingente, sua reunião espacial (ou outra) quase sempre é arbitrada exclusivamente pelo interesse de quem os reuniu e não por características essenciais suas. Nos sistemas a unidade de seus elementos é sempre necessária. Necessário é aquilo que não pode ser de outra maneira, que é indispensável e se refere à essência e ao conteúdo de uma coisa; um acontecimento inevitável; algo que tem que acontecer. Contingente é tudo que é concebido como podendo ser ou não, acontecer ou não, tudo o que não se refere à essência ou pode ser algo que se não refira ao

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conteúdo de uma coisa, mas apenas à sua forma ou aparência; tudo o que se opõe ao necessário. Um objeto ou fenômeno qualquer pode ser necessário em um processo (ou em um determinado momento de um processo) e contingente em outro processo ou outras circunstâncias. Por esta razões, existem totalidades e conjuntos que não são sistemas. A unidade, embora seja indispensável ao conceito de sistema, tampouco lhe é essencial, porque, se bem que todo sistema seja necessariamente uma unidade, nem toda unidade é um sistema. Pois, quando a unidade de um conjunto não é derivada de uma característica que lhe seja interior e necessária, mas resulta de atributos exteriores e contingentes, como a conjugação espacial de seus elementos, e não é determinada por alguma característica essencial de sua natureza ou de sua essência, mas de algo que lhe é exterior, como a vontade, o senso estético, a utilidade ou algum outro interesse de quem a organizou, ela poderia muito bem ser outra, se aquilo que foi sua motivação assim o determinasse. Por tudo isto, as noções de totalidade e de unidade, embora essenciais ao conceito de sistema, não bastam, por si mesmas, para caracterizar e possibilitar definir o que é um sistema. A unidade e a totalidade sistêmica configuram seus limites espaciais ou funcionais e o grau de continuidade ou descontinuidade que existem entre os componentes dos sistemas. @DEF = Os sistemas processam qualquer combinação destes três elementos: energia, matéria e informação. Os sistemas podem ser chamados abertos (quando necessitam manter algum tipo de intercâmbio com o meio, principalmente em termos de troca de matéria, energia ou informação) ou fechados, quando não necessitam receber matéria, energia ou informação do exterior.

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Outra forma de classificar os sistemas, segundo o grau de enticidade real de seus componentes, pode ser ordenando-os em sistemas reais ou sistemas concretos (quando os sistemas correspondem a entidades existente na realidade, como acontece com os organismos, as células, as nosologias que agrupam enfermidades); sistemas nominais (quando correspondem a sistemas lógicos, entes que existem apenas no campo conceitual, não tendo existência real, como as nosografias que agrupam conceitos, diagnósticos); e sistemas combinados que reunam características dos dois primeiros. Muitos dos sistemas psicossociais podem ser considerados enquadrados neste último grupo. Entre os sistemas reais, é possível reconhecer: fisiossistemas, quimiossistemas, biossistemas, sociosisstemas, tecnosistemas.

Interdependência Sistêmica

Os conjuntos só formam um sistema quando seus elementos componentes, além de configurarem uma totalidade e uma unidade, forem interdependentes por estarem reciprocamente articulados e interdependentes, uns em relação aos outros. Todos os sistemas se configuram a partir da organização interdependente de seus elementos (que pode ser linear unidirecional ou recíproca). A noção de interdependência sistêmica obriga, preliminarmente, ao reconhecimento do carácter dinâmico da estrutura a que se aplica. Todo sistema deve ser reconhecido como uma estrutura dinâmica. Por causa desta exigência necessária, a lista dos livros de uma biblioteca, um rol de roupa para a lavanderia, uma lista nosográfica ou, mesmo uma lista de nosologias agrupadas em razão de características

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acidentais ou uma lista de compras para o supermercado, apesar de serem totalidades, de configurarem uma unidade, não são sistemas porque lhes falta a necessária interdependência que deve existir entre os elementos para que se caracterize a unidade sistêmica. Nem basta haver unidade e totalidade estrutural para que se reconheça ali um sistema. Os sistemas devem ser estruturas dotadas de unidade e totalidade, mas também devem ser estruturas dinâmicas nas quais se reconheça a indispensável interdependência entre seus elementos. Num sistema, cada elemento singular ou subsistema, deve guardar, obrigatoriamente, uma relação de interdependência com os demais e não serem totalidades apenas quantitativas. A noção de interdependência sistêmica ultrapassa a de interação. Interação e interrelação são dois conceitos diversos, mas que muitos confundem indevidamente em seus raciocínios. Ainda que haja totalidade e unidade, não há sistema no qual não se dê interdependência entre seus componentes. A estrutura de um sistema é definida pela relação de seus componentes entre si e pela relação entre estes componentes e o ambiente. Interação é a ação que exercem mutuamente entre si duas ou mais coisas. Inter-relação (ou interconexão) é o relacionamento ou a mútua influência entre duas ou mais coisas ou componentes de uma estrutura. A interpelação pode ser apenas espacial e não influir na ação, como a interação. O ambiente de um sistema é o conjunto de coisas concretas que não integram o sistema mas se relacionam com ele de alguma maneira.

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@DEF = A interação e a interrelação estão contidas no conceito de interdependência (dependência recíproca necessária) que se exterioriza nas categorias de dependência x autonomia dos sistemas, essenciais a este conceito porque configuram sua organização interna, a estrutura do sistema. Na psiquiatria moderna ninguém pode evitar o bombardeio de noções como sistema classificatório e classificações nosológicas, por exemplo, para mencionar os DDSSMM e, atualmente, a CID/10. Esta atribuição de carácter sistêmico a estes instrumentos nosográficos resulta de um equívoco ou de uma tentativa deliberada de engodo. Estas listas nosográficas, amplamente empregadas em todo mundo, não são sistemas (porque carecem da necessária sistematicidade), nem são classificações heurísticas (as únicas classificações que podem postular o carácter de instrumentos científicos) porque não são classificações naturais, embora sejam instrumentos muito práticos para assegurar a mínima confiabilidade aos diagnósticos psiquiátricos. A importância que a estabilidade diagnóstica assumiu (para a credibilidade dos psiquiatras e para facilitar o financiamento do tratamento pelas empresas seguradoras) obriga a uma breve revisão de alguns conceitos essenciais, como os de nosologia, nosografia e nosotaxia, porque, embora conceitos próximos, detêm algumas diferenças. Reconhecer esta diferenças pode ser importante para um especialista em psiquiatria porque todos os instrumentos modernos de registro diagnóstico para fins administrativos são referidos como classificações de a enfermidades, o que não são. Embora a CID/10 e os manuais diagnósticos norte-americanos sejam classificações, em sentido lato, ainda que não sejam classificações

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cientificamente utilizáveis, mas não se referem a enfermidades, mas a diagnósticos ou critérios para diagnosticar. É preciso diferenciar entre os conceitos de nosotaxia, nosologia e nosografia. Nosotaxia é como se denomina a uma classificação de enfermidades ou de diagnósticos de patologias. Nosologia é a classificação da enfermidades, entendidas como entidades patológicas explicadas. Nosografia é a classificação dos diagnósticos e dos elementos descritivos das patologias. Em um sistema (seja teórico, físico, biológico, lógico, natural, social, qualquer outro), sua “sistematicidade” depende essencialmente da natureza da interconexão e da qualidade da interdependência que se houver estabelecido entre seus componentes. Em qualquer sistema, a qualidade da interdependência entre seus elementos é reconhecida a partir do conhecimento de que tal interdependência se dá através da conexão de características essenciais, de atributos que desempenhem papel essencial naquele sistema particular. Nos sistema teóricos conhecidos como teorias científicas há uma extrema exigência destes fatores de interdependência que se manifestam no grau de organização e na hierarquização das partes. Num sistema nosológico, a interdependência sistêmica há de ser dada pela natureza essencial do critério que determina a ordenação sistemática (com o sentido de sistêmica) das entidades clínicas classificadas. Por exemplo, fator etiológico, mecanismo patogênico. Quando se faz uma lista alfabética de diagnósticos de enfermidades, uma nosografia, um catálogo nosográfico, falta-lhe a necessária

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interdependência de seus componentes para que possa ser considerada um sistema.

Tensão dos Sistemas

O funcionamento dos sistemas impõe-lhes um certo grau de tensão que lhe é inerente e assim deve ser entendido, pois nenhum sistema funciona sem ele, pois é a própria essência do movimento (no mais amplo sentido deste termo). Este estado de tensão ou pressão<$FO que inclui aquilo que os dialetas denominam tensão da contradição ou energia da luta dos contrários ou outras expressões análogas e equivale ao conceito de ansiedade em psicopatologia.> interior costuma ser importante para manter a coesão sistêmica e permitir-lhe desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia. Contudo, quando este estado tensional ultrapassa limites convenientes, pode se dar uma perturbação ou uma distorção de seu funcionamento. Exatamente como acontece com os estados de ansiedade nos comportamentos humanos. Indispensável em quantidades razoáveis, invalida o desempenho quando passa de limites suportáveis. @DEF = Em todos os sistemas, seu funcionamento gera um certo grau de tensão que pode melhorar ou prejudicar seu rendimento. O antigo conceito de irritação proposto por Broussais para explicar as doenças psiquiátricas está sendo substituído pelo de estresse. A noção de estresse se confunde com a de tensão dos sistema operantes, de eficiência e eficácia funcional, que parecem contribuir para explicar alguns casos de patologias psíquicas e somáticas nos sistemas orgânicos e psicológicos. Constitui um interessante campo de investigação o estudo da tensão nos sistemas sociais e orgânicos.

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Os conceitos de estresse positivo e estresse patogênico também devem ser relacionados com esta noção de tensão sistêmica, como conflito de energias ou tendências opostas na raiz do dinamismo dos sistemas. O conceito de tensão dos sistemas parece essencial para elucidar e explicar numerosos problemas da patologia geral e da psicopatologia. Parece essencial, por exemplo, para estabelecer a ligação entre os conceitos de psicogênese e estresse, muito necessária para a evolução da psiquiatria.

Organização e Hierarquia Sistêmicas A exigência de uma organização hierarquizadas implica em que cada uma das partes de um sistema não pode ocupar, na totalidade, qualquer lugar, mas apenas aquele que é determinado pela função que ele desempenhe no conjunto. A sua própria estrutura particular deve ser determinada pela função que exerce no sistema, o que equivale a dizer que o sistema, enquanto totalidade, está presente em todas as suas partes, determinando a estrutura e a forma de cada uma delas.<$FCorbisier, R., op. cit. p. 182.> A natureza da organização e da hierarquia sistêmica, que é uma característica essencial de sua intercomplementariedade, pode ser física, natural, social ou lógica, na dependência da natureza do sistema, pois pode haver sistemas de cada uma destas ordens. Nos sistemas, quaisquer que for sua classe, seus componentes, elementos individualizados ou subsistemas, podem estar justapostos no espaço, como nos sistemas físicos (máquinas ou motores) ou naturais (organismos vivos); caracterizando-se como sistemas por esta relação de interdependência. Neles, em geral, não é possível alterar sua ordenação ou substituir uns pelos outros nas funções que desempenham.

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Por isto, pode-se inferir que a configuração espacial (ou qualquer outra) dos elementos sistêmicos é uma característica de sua organização, um atributo hierárquico que caracteriza aquele sistema. Além da configuração espacial, a hierarquia dos elementos dos sistemas pode se definir em termos de coordenação ou de subordinação. As noções de coordenação e subordinação já foram definidas atrás. No entanto, é necessário avaliar sua importância em todos os sistemas, sejam eles sistemas naturais, sistemas lógicos, sistemas psicológicos ou sistemas sociais. Nos sistemas naturais, a hierarquização é uma imposição da própria estrutura e ninguém aparece para discutir se o fígado deveria fazer o papel de rim ou vice-versa. Já nos sistemas sociais, na medida em que são construções humanas, a necessidades e as condições de sua hierarquia podem e devem ser discutidas. Sobretudo, porque devem estar subordinadas às finalidades dos sistemas e moduladas pelos direitos individuais e sociais. A interdependência nos sistemas naturais é bastante diversa da que existe nos sistemas sociais. A ideologia naturalista e biologicista que tentou explicar a hierarquia dos sistemas sociais humanos estabelecendo analogias entre eles e os sistemas naturais não conseguiu chegar a qualquer resultado convincente e findou por se revelar um esforço ideológico para consagrar e legitimar desigualdades sociais. Analogamente, as pretensões igualitárias que recusam quer hierarquização nos sistemas sociais e pretendem toda autoridade e subordinação como desumanas, também não conseguiram comprovar suas hipóteses basilares. Provavelmente ambas fracassaram porque se originaram em pressupostos apriorísticos incomprováveis; no primeiro extremo, na concepção cristã do homem mau (necessitado de disciplina e de castigo) e, no outro extremo, no extremo jacobino, o mito ideológico igualitarista do homem bom, ainda que eventualmente corrompido pela sociedade por causa injustiça e da desigualdade

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reinante entre as pessoas. Estas duas tendências se evidenciaram parciais e ideologizadas, sendo provável que a verdade se situe em algum ponto intermediário entre elas. @DEF = Desta rápida súmula sobre algumas informações essenciais sobre a teoria dos sistemas, pode-se depreender pelos menos duas conclusões: a) que não basta uma coleção, ainda que numerosa, de conhecimentos, mesmo verdadeiros, para caracterizar um sistema científico, um sistema teórico ou um sistema racional; b) a existência de um sistema depende fundamentalmente de que a intercomplementariedade de seus elementos se dê a partir das conexões de propriedades ou atributos essenciais de seus componentes. A noção de sistema, ainda que não muito bem estruturada, e muitas de suas consequências lógicas, como a subordinação da forma à função, por exemplo, são antigos conhecidos das ciências médicas desde a velha Grécia, tendo emprestado notável contributo aos conhecimento de anatomia e, principalmente, por suas inferências no avanço da fisiologia e da fisiopatologia, ao longo de toda sua história. Recentemente, o conhecimento destas noções referentes aos sistemas têm se mostrado muito valioso no estudo das estruturas sociais, como grupos (inclusive as famílias), instituições, organizações e comunidades, quer sejam considerados como objeto de investigação que busca explicar sua dinâmica, quer seja considerado para orientar os procedimentos de intervenção política ou sócio psicológica, sobretudo os de natureza preventiva sobre os sistemas sociais. O processo de construção de um sistema cognitivo, uma teoria científica, como se chama o conhecimento que se tem sobre alguma coisa ou algum fenômeno, se dá como uma elaboração mais ou menos complexa que se desenvolve em patamares inter-relacionados, mas mais ou menos definidos, como se verá a seguir.

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O CONHECIMENTO: SISTEMA COGNITIVO OU SISTEMA LÓGICO DE INFORMAÇÕES

Em geral, o processo de construção, aperfeiçoamento e conservação dos conhecimentos não se dá de maneira casual ou aleatória. Tão pouco, se adquirem conhecimentos de modo mecânico, como a acumulação e armazenamento de objetos em um recipiente, o registro de informações em uma folha de papel, a gravação de dados em meio magnético como um disco de computador ou o reflexo da realidade em um espelho. Os conhecimentos, mesmo os menos complexos, se estruturam como sistemas ativos e dinâmicos, lógicos e psicológicos, sujeitos, como quaisquer outros sistemas, às suas próprias regras e às leis genéricas dos sistemas.<$Fvon Bertalanffy, L., Teoria Geral dos Sistemas, Ed. Vozes, Petrópolis, 1977.> @COMENT = O conceito de sistema não é, na verdade, pacífico ou tão simples como se mostra aqui em uma versão deliberadamente simplificada.

@DEF = A sistematicidade é uma exigência geral a tudo que é cognitivo.Todo

conhecimento, sobretudo o conhecimento científico, pode, sempre,ser estudado como um sistema lógico. Quer se trate de uma estrutura de obter saber, quer se trate do resultado produzido, o saber obtido.Uma _estrutura_ de produzir conhecimento ou um _sistema_ de conhecimentos.@DEF2 = A ideia de conhecimento como um _sistema_ simultaneamentelógico e psicológico impõe a necessidade de uma breve revisãoacerca dos elementos mais essenciais do conceito de sistema, de modoa permitir sua aplicação tanto no entendimento dos procedimentoscognitivos, quanto no estudo da estruturação do resultado destesprocedimentos. Como o conhecimento comum e, mais ainda, o conhecimentocientífico podem ser tidos como sistemas de ideias, parece importantefazer uma breve revisão da noção de sistema e verificar suaaplicabilidade ao processo de conhecimento. @DEF2 = O estudo dos sistemas e da teoria geral dos sistemas é dosaspectos mais fascinantes e mais importantes do conhecimento atual,tão grande é sua

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influência no saber contemporâneo. Tão importantetem se tornado sua influência que há quem divida o mundo do conhecimentoem dois momentos: antes e depois da teoria geral dos sistemas. Aindaque se saiba que a noção de sistema é bastante anterior Àformulaçãoda Teoria Geral dos Sistemas, em meados da primeira metade deste século,como há de se ver logo adiante. @MINOR HEADING = Sistema e Sistematicidade @INICIALGR = O desenvolvimento da noção de sistema e o reconhecimentode sua utilidade para o conhecimento científico são das maioresconquistas cognitivas deste século e propiciador de recursos conceituaisessenciais para o desenvolvimento científico. Por isto, merece atençãoespecial aqui. _Sistema_ é a organização de um conjunto mais ou menos complexode elementos que mantêm conexões entre si por meio de interaçõesrecíprocas de suas características essenciais; os sistemas e seuscomponente em interação se integram em uma unidade hierarquizadae interdependente, obedecendo, todos, a uma única lei. Cada componentede um sistema qualquer pode ser um subsistema com identidade própria,coordenado com outros que se situem em seu nível hierárquico ou congregandooutros sistemas que lhe sejam subordinados como elementos seus. @COMENT = A noção de sistema parece tão importante para oestudo do conhecimento científicos da atualidade que é cada vez maioro número daqueles que dividem a ciência em dois momentos qualitativamentediferenctes: antes e depois da teoria geral dos sistemas propostapor von Bertalanfy nos anos trinta, mas só divulgada depois da SegundaGuerra Mundial. Os componentes dos sistemas podem ser extremamente simples ou muitocomplexos, integrando diversos níveis de sub-sistemas; também podemapresentar variados grau de estabilidade temporal._Sistematicidade_ é a qualidade de tudo aquilo que é sistêmico, doque se configura como um sistema de qualquer natureza. A sistematicidadeque está implícita nos processos naturais, sociais, lógicos e psicológicosestruturados impõe a todos os cientistas e a todas as pessoascultas a necessidade de se estudar e entender cada vez mais sobrea teoria dos sistemas. <$FBertalanffy, L. von, Teoria Geral dos Sistemas,Ed. Vozes, Petrópolis, 1968.> @DEF = A noção de sistematiciade interessa a todas as áreas dosaber, uma vez que os sistemas podem ser classificados em sistemasnaturais (físicos, químicos e biológicos), sistemas sociaise sistemas lógicos. Na intersecção destes, situam-se os sistemaspsicológicos e os sistemas teóricos factuais. @COMENT = O conhecimento inteligente é, por sua própria natureza, uma estrutura lógica e dinâmica de ideías, por isto, pode ser caracterizadocomo dotado de sistematicidade. Os sistemas teóricos das ciências factuais são estruturas lógicasconstruídos pela integração intercomplementar de conceitos, categorias,juízos e leis, organizados como uma estrura de informações acercade um objeto específico e que devem refletir, em seu âmbito e o maisexatamente possível, as leis que regem a organização dois sistemasem geral, sobretudo aquela que afirma que todo sistema se caracterizapor obedecer a uma única lei geral que o alcança inteiramente.

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@DEF2 = Um sistema pode ser composto por um número bastante variávelde estruturas interdependentes que se organizem segundo uma certa ordem de sucessão ou obedeçam a uma localização espacial particular. A natureza é um sistema extremamente complexo, composto por imensa rede de subsistemas de níveis e ordens infinitamente decrescentes; o organismo também é um sistema complexo, contendo sub-sistemas compostos por outros sistemas (análogos aos sucessivos níveis e as ordens de organização dos sistemas da natureza, por exemplo). Os menores sistemas possíveis têm dois elementos. O par (conjunto interativo de dois elementos) é, pois, o menor dos sistemas sociais conhecidos; como o juízo é o menor dos sistemas lógicos (relação asseverativa de dois conceitos, o sujeito e o objeto do juízo). @COMENT = Sabe-se que os sistemas naturais obedecem _Ö_s leis gerais dos sistemas, além de estarem subordinadas _Ö_s leis naturais de seu nível de organização da natureza; também se sabe que os achados específicos referentes a cada um destes níveis de sua organização não podem ser transpostos para os demais, sem grave risco de distorção e de invalidade para suas conclusões. Mas que as leis gerais dos sistemas são aplicáveis em todos os níveis de organização natural. Isto é, no mundo, tudo aquilo que é sistêmico, pode ser explicado e previsto a partir das leis dos sistemas. Inclusive que cada segmento da natureza deva estar submetido _Ö_s mesmas leis e que estas não possam ser transpostas mecanicamente para outros estratos. @COMENT = O conhecimento das propriedades heurísticas dos sistemas inspirou e norteou a instituição da classificação como instrumento de investigação científica, como foi a classificação biológica de <MS>LINEU<D>, que considerava a natureza como um grande sistema composto por subsistemas de níveis cada vez menos elevados. @COMENT = <MS>PLAT<183>O<D>, <MS>ARISTÓTELES <D>e <MS>KANT<D> descreveram o conhecimento como um sistema estruturado, ainda que este conceito científico de sistema só tenha surgido neste século. No entanto, é preciso saber que o conhecimento sobre a teoria dos sistemas, bem como o conhecimento filosófico, são incapazes de substituir os estudos científicos específicos. A noção de sistematicidade deve ser considerada hoje como uma das exigências essenciais para a caracterização do conhecimento científico @COMENT = O conceito de sistema interage e se confunde com a noção de estrutura. O conceito de sistema parece ser necessário para entender a noção, mesmo pré-estruralista (anterior a <MS>LEVY-STRAUSS<D>),<$FCâmara, J.MJr., O Estruturalismo Ling_Å_ístico, Revista Tempo Brasileiro, 15/16, Rio, s/d, p. 5.> de _estrutura_ com o qual freq_Å_entemente se confunde (pois, todo sistema é uma estrutura dinâmica). @COMENT = Por isto, a noção de estrutura necessita do conceito de sistema. Uma estrutura pode ser definida como _disposição ordenada dos elementos interdependentes que compõem uma totalidade organizada; _<$FThines, G. e Lempereur, A.G., op. cit.>_ _ou _a elementos organizados no interior de um sistema que constituem uma unidade de conexões estáveis, assim como das leis que regem estas conexões;

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_<$FDicionário de Filosofia. op. cit.>ou, ainda, _a configuração das relações dos elementos que estejam situados no interior de um sistema. O método de classificação utilizado por <MS>PLAT<183>O<D>como instrumento do conhecimento científico e adotado pelas ciências naturais no século passado, evidencia o emprego da sistematicidade (de fato, o grau de sistematicidade contido em um sistema lógico) como critério de cientificidade<$FPrado, C. Jr., Dialética do Conhecimento, 6a. edição, Ed, Brasiliense, S.Paulo, 1980, p. 168.>e comoprocedimento avaliador de um instrumento da metodologia científica. Porque presume a unidade sistêmica do ente classificado e, por isto, a possibilidade de descobrir a explicação de sua essencialidade e conteúdo a partir do rearranjo de suas partes e da identificação das principais interconexões internas que intermediam as relações estáveis entre seus componentes. O grau de sistematicidade de um conjunto taxonômico é um dos elementos lógicos mais importantes para caracterizar sua cientificidade, isto é seu significado para explicar e prever acontecimentos com certa segurança. A credibilidade científica de uma classificação é dada por sua sistematicidade. E sua sistematicidade, em todos os casos, resulta da presença das três características gerais de todos os sistemas. Conhecem-se três características essenciais de todod os sistemas. Para <MS>CORBISIER<D>,<$FCorbisier, R., Enciclopédia Filosófica, Ed. Vozes, Petrópolis, 1974, p. 182> o conceito de sistema é composto por três noções essenciais, sendo todas indispensáveis ao seu entendimento: a totalidade, a unidade e a interdependência. @BULLET = a noção de _totalidade_, pressupõe a existência das partes, que são seus elementos componentes, mas sua função integrada é sempre mais que a soma de suas partes integrantes; @BULLET = a noção de _unidade_ pressupõe sempre um certo grau de organização e hierarquização dos seus componentes numa configuração única que garante a individuaalidade ou a identidade da coisa a que se refere; e @BULLET = a noção da _interdependência_ se encontra estreitamente vinculada Àinteração e inter-relação de todas as suas as partes, como se relacionam seus componentes. Estes três elementos fundamentais contidos no conceito de sistema e que se estruturam na configuração de todos os sistemas reais, quando considerados do ponto de vista da teoria do conhecimento e da teoria geral dos sistemas, apontam para três pares de categorias lógicas que estão sempre presentes no núcleo do conceito de sistema e que vão ser importantes quado se tiver que considerar a sistemativcidade de um sistema teórico como índice de cientificidade. Tais categorias lógicas presentes em todos os sistemas são: o todo e a parte_, _a unidade e a pluralidade_, _a dependência e a autonomia_._ Sendo importante considerar cada uma delas quando se promover a avaliação

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do grau de sistematicidade de uma teoria científica (o que não abrange apenas sua coerência ou consistência interna, mas sua compatibilidade com a realidade que pretende retratar. @MINOR HEADING = Totalidade Sistêmica @INICIALGR = O conceito de totalidade sistêmica não pode ser entendido senão como um aspecto particular da totalidade como conceito da filosofia da cIência. A totalidade deve ser entendida, sempre, como a configuração do todo completo resultante da reunião de suas partes em sua ordem; a totalidade dos elementos que compõem um todo integral; também presume a intercompletação e a perfeita disposição de todas as partes que a compõem, mas a configuração completa de todos os elementos é sua característica mais importante. Todo sistema possui leis próprias que determinam sua totalidade. Não há sistema sem isto. @COMENT = A noção de totalidade se identifica com a categoria filosófica de todo, do que é geral. Enquanto que a categoria filosófica de parte abrange as particularidades (sub-conjuntos ou sub-sistema homogêneos) e os elementos específicos individuais. @DEF = Tudo que tem partes difernciáveis se configura como uma totalidade, mas num sistema, a totalidade segue as mesmas leis. A noção de totalidade é completamente indispensável para quem lida com conceitos, objetos ou fenômenos que possam ser subdivididos em partes constituintes. O entendimento da totalidade sistêmica como característica essencia de um sistema é essencial para seu entendimento, mesmo que ele integre outro sistema de nível mais elevado, constituindo-se em sub-sistema como parte de uma outra totalidade situada em um nível superior da organização natural, social ou lógica; pois cada sistema há de ser entendido como uma totalidade particular. No entanto, deve-se ter presente que o conceito de totalidade aplicado a um sistema, o que se chama _totalidade sistêmica_, não se resume a uma noção quantitativa de soma das partes, ou sua reunião mais ou menos casual no espaço, mas de uma organização hierarquizada delas em razão de suas funções, porque o conceito de totalidade sistêmica implica na noção de comunidade entre as partes em interação, e se refere Àação recíproca que se dá entre os elementos que compõem a totalidade sistêmica. Uma da mais importantes contribuições do conhecimento dos sistemas Àciência, sobretudo ÀPsicologia Social, é o conhecimento estabelecido de que o valor da totalidade sistêmica ultrapassa a importância da soma de suas partes, exatamente em função das relações que existem entre elas. @COMENT = Esta noção da importância desempenhada pelas relações objetivas que se estabelecem entre os elementos de um sistema ou de um processo em sua finalidade e em seu desenvolvimento é uma das dimensões

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mais importantes e mais pertinentes da Filosofia da ciência, mas não cabe nos limites postos pelos propósitos deste trabalho. @COMENT = A totalidade sistêmica inclui a noção de que ele é sempre mais ou menos fechado (ainda que possa se alimentar de matéria ou energia proveniente do exterior e excluir os resultados de sua atividade), mas se configura sempre como uma estrutura de limites definidos. A noção de sistema aberto é uma referência a esta abertura para o exterior. Um sistema aberto é aquele que efetua algum tipo de troca com o exterior. @COMENT = A melhor sistematização dos sistemas é a que os apresenta como estáveis e instáveis, considerando a duração de seu funcionamento mais ou menos regular. @MINOR HEADING = Unidade Sistêmica @INICIALGR = Outra característica essencial dos sistemas é a _unidade sistêmica_. A unidade de qualquer coisa, como conceito da Filosofia da ciência, pode ser entendida como uma _configuração completa obtida pela reunião de suas partes, seus componentes ou suas sub-unidades_. @COMENT = A questão da _unidade_ das coisas (principalmente das mais ou menos complexas) é uma das mais importantes da filosofia do conhecimento, sobretudo, quando se considera sua implicação na teoria dos sistemas. Quando se estuda os sistemas, é preciso saber que sua unidade não deve resultar apenas da coexistência, casual ou intencional, de seus elementos (ou componentes) em um mesmo lugar do espaço, como acontece na linguagem comum. A simples reunião de diversas coisas em um local não caracteriza uma unidade sistêmica porque a unidade sistêmica resulta sempre da configuração de elementos interdependentes articulados. @DEF = A noção de unidade se confunde com a de individualidade ou, mesmo, de identidade garantida pela articulação dos elementos da totalidade. Todo sistema muda apreciavelmente se sua unidade é comprometida, isto é, quando dele é retirado algum componente ou este é substituido por outro, diferente. O conceito de _unidade_ pode ser entendido de três maneiras diferentes: @BULLET = a) de uma maneira mecanicista, pode-se entender uma unidade como mera justaposição mecânica de componentes em uma totalidade (como os passageiros de um ônibus, os passantes em uma calçada); @BULLET = b) um segundo sentido consiste em considerar a unidade como a completa identidade, excluindo-se todas as diferenças (como a unidade política ou religiosa); @BULLET = c) de uma maneira sistêmica e dialética, pode-se considerar a unidade como a vinculação dinâmica e interior da identidade e da diferença (a interdependência decorrentes de atributos essenciais dos componentes). O estudo da unidade sistêmica obriga a considerar a questão das categorias lógicas de qualidade e quantidade. Não é possível fazer ciência para além da descrição se na forem usadas estas categorias.

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Nas totalidades não-sistêmicas apenas quantitativas, como os livros arrumados em uma biblioteca ou uma lista de enfermidades em uma tabela nosolgráfica, sua unidade não é determinada por algo que é interior ao próprio conjunto, não depende de sua estrutura ou da configuração interna de seus elementos; mas resulta de algo que lhe é exterior, porque os elementos ou partes que constituem estas totalidades não estão articulados em função de características essenciais e internas em relação Àestrutura considerada, sua unidade depende unicamente de qualidades mais ou menos acidentais, exteriores e contingentes em relação Àsua essência. Nestes conjuntos, diz-se que sua unidade é contingente; não é uma unidade necessária. @DEF = Nos conjuntos que não têm _unidade necessária_, mas uma _unidade contingente_, sua reunião espacial (ou outra) quase sempre é arbitrada exclusivamente pelo interesse de quem os reuniu e não por características essenciais suas. Nos sistemas a unidade de seus elementos é sempre necessária. @COMENT = _Necessário_ é aquilo que não pode ser de outra maneira, que é indispensável e se refere Àessência e ao conteúdo de uma coisa; um acontecimento inevitável; algo que tem que acontecer. _Contingente_ é tudo que é concebido como podendo ser ou não, acontecer ou não, tudo o que não se refere Àessência ou pode ser algo que se não refira ao conteúdo de uma coisa, mas apenas Àsua forma ou aparência; tudo o que se opõe ao necessário. Um objeto ou fenômeno qualquer pode ser necessário em um processo (ou em um determinado momento de um processo) e contingente em outro processo ou outras circunstâncias. Por esta razões, existem totalidades e conjuntos que não são sistemas. A unidade, embora seja indispensável ao conceito de sistema, tampouco lhe é essencial, porque, se bem que todo sistema seja necessariamente uma unidade, nem toda unidade é um sistema. Pois, quando a unidade de um conjunto não é derivada de uma característica que lhe seja interior e necessária, mas resulta de atributos exteriores e contingentes, como a conjugação espacial de seus elementos, e não é determinada por alguma característica essencial de sua natureza ou de sua essência, mas de algo que lhe é exterior, como a vontade, o senso estético, a utilidade ou algum outro interesse de quem a organizou, ela poderia muito bem ser outra, se aquilo que foi sua motivação assim o determinasse. Por tudo isto, as noções de totalidade e de unidade, embora essenciais ao conceito de sistema, não bastam, por si mesmas, para caracterizar e possibilitar definir o que é um sistema. A unidade e a totalidade sistêmica configuram seus limites espaciais ou funcionais e o grau de continuidade ou descontinuidade que existem entre os componentes dos sistemas. @DEF = Os sistemas processam qualquer combinação destes três elementos: energia, matéria e informação. Os sistemas podem ser chamados abertos (quando necessitam manter

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algum tipo de intercâmbio com o meio, principalmente em termos de troca de matéria, energia ou informação) ou fechados, quando não necessitam receber matéria, energia ou informação do exterior. Outra forma de classificar os sistemas, segundo o grau de _enticidade real_ de seus componentes, pode ser ordenando-os em sistemas reais ou sistemas concretos (quando os sistemas correspondem a entidades existente na realidade, como acontece com os organismos, as células, as nosologias que agrupam enfermidades); sistemas nominais (quando correspondem a sistemas lógicos, entes que existem apenas no campo conceitual, não tendo existência real, como as nosografias que agrupam conceitos, diagnósticos); e sistemas combinados que reunam características dos dois primeiros. Muitos dos sistemas psicossociais podem ser considerados enquadrados neste último grupo. @COMENT = Entre os sistemas reais, é possível reconhecer: fisiossistemas, quimiossistemas, biossistemas, sociosisstemas, tecnosistemas. @MINOR HEADING = Interdependência Sistêmica @INICIALGR = Os conjuntos só formam um _sistema_ quando seus elementos componentes, além de configurarem uma totalidade e uma unidade, forem _interdependentes_ por estarem reciprocamente articulados e interdependentes, uns em relação aos outros. Todos os sistemas se configuram a partir da organização interdependente de seus elementos (que pode ser linear unidirecional ou recíproca). @COMENT = A noção de interdependência sistêmica obriga, preliminarmente, ao reconhecimento do carácter dinâmico da estrutura a que se aplica. Todo sistema deve ser reconhecido como uma estrutura dinâmica. @COMENT = Por causa desta exigência necessária, a lista dos livros de uma biblioteca, um rol de roupa para a lavanderia, uma lista nosográfica ou, mesmo uma lista de nosologias agrupadas em razão de características acidentais ou uma lista de compras para o super-mercado, apesar de serem totalidades, de configurarem uma unidade, não são sistemas porque lhes falta a necessária interdependência que deve existir entre os elementos para que se caracterize a unidade sistêmica. Nem basta haver unidade e totalidade estrutural para que se reconheça ali um sistema. Os sistemas devem ser estruturas dotadas de unidade e totalidade, mas também devem ser estruturas dinâmicas nas quais se reconheça a indispensável interdependência entre seus elementos. @COMENT = Num sistema, cada elemento singular ou subsistema, deve guardar, obrigatoriamente, uma relação de interdependência com os demais e não serem totalidades apenas quantitativas. A noção de interdependência sistêmica ultrapassa a de interação. Interação e interelação são dois conceitos diversos, mas que muitos confundem indevidamente em seus raciocínios. Ainda que haja totalidade e unidade, não há sistema no qual não se dê interdependência entre seus componentes. A estrutura de um sistema é definida pela relação de seus componentes entre si e pela relação

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entre estes compoentes e o ambiente. @COMENT = _Interação_ é a ação que exercem mutuamente entre si duas ou mais coisas. @COMENT = _Inter-relação_ (ou inter-conexão) é o relacionamento ou a mútua influência entre duas ou mais coisas ou componentes de uma estrutura. A inter-relação pode ser apenas espacial e não influir na ação, como a interação. @COMENT = O _ambiente de um sistema_ é o conjunto de coisas concretas que não integram o sistema mas se relacionam com ele de alguma maneira. @COMENT = @DEF = A interação e a inter-relação estão contidas no conceito de _interdependência_ (dependência recíproca necessária) que se exterioriza nas categorias de dependência x autonomia dos sistemas, essenciais a este conceito porque configuram sua organização interna, a estrutura do sistema. @COMENT = Na psiquiatria moderna ninguém pode evitar o bombardeio de noções como _sistema classificatório_ e _classificações nosológicas_, por exemplo, para mencionar os DDSSMM e, atualmente, a CID/10. Esta atribuição de carácter sistêmico a estes instrumentos nosográficos resulta de um equívoco ou de uma tentativa deliberada de engodo. @COMENT = Estas listas nosográficas, amplamente empregadas em todo mundo, não são _sistemas_ (porque carecem da necessária sistematicidade), nem são classificações heurísticas (as únicas classificaç_ï_es que podem postular o carácter de instrumentos científicos) porque não são classificações naturais, embora sejam instrumentos muito práticos para assegurar a mínima confiabilidade aos diagnósticos psiquiátricos. A importância que a estabilidade diagnóstica assumiu (para a credibilidade dos psiquiatras e para facilitar o financiamento do tratamento pelas empresas seguradoras) obriga a uma breve revisão de alguns conceitos essenciais, como os de nosologia, nosografia e nosotaxia, porque, embora conceitos próximos, detêm algumas diferenças. Reconhecer esta diferenças pode ser importante para um especialista em psiquiatria porque todos os instrumentos modernos de registro diagnóstico para fins administrativos são referidos como classificações de a enfermidades, o que não são. @COMENT = Embora a CID/10 e os manuais diagnósticos norteamericanos sejam _classificações_, em sentido lato, ainda que não sejam classificações cientificamente utilizáveis, mas não se referem a enfermidades, mas a diagnósticos ou critérios para diagnosticar. é preciso diferenciar entre os conceitos de nosotaxia, nosologia e nosografia. _Nosotaxia_ é como se denomina a uma classificação de enfermidades

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ou de diagnósticos de patologias. _Nosologia_ é a classificação da enfermidades, entendidas como entidades patológicas explicadas. _Nosografia_ é a classificação dos diagnósticos e dos elementos descritivos das patologias. Em um sistema (seja teórico, físico, biológico, lógico, natural, social, qualquer outro), sua _"sistematicidade"_ depende essencialmente da natureza da interconexão e da qualidade da interdependência que se houver estabelecido entre seus componentes. Em qualquer sistema, a qualidade da interdependência entre seus elementos é reconhecida a partir do conhecimento de que tal interdependência se dá através da conexão de características essenciais, de atributos que desempenhem papel essencial naquele sistema particular. Nos sistema teóricos conhecidos como teorias científicas há uma extrema exigência destes fatores de interdependência que se manifestam no grau de organização e na hierarquização das partes. @COMENT = Num sistema nosológico, a interdependência sistêmica há de ser dada pela natureza essencial do critério que determina a ordenação sistemática (com o sentido de sistêmica) das entidades clínicas classificadas. Por exemplo, fator etiológico, mecanismo patogênico. Quando se faz uma lista alfabética de diagnósticos de enfermidades, uma nosografia, um catálogo nosográfico, falta-lhe a necessária interdependência de seus componentes para que possa ser considerada um sistema. @MINOR HEADING = Tensão dos Sistemas @INICIALGR = O funcionamento dos sistemas impõe-lhes um certo grau de tensão que lhe é inerente e assim deve ser entendido, pois nenhum sistema funciona sem ele, pois é a própria essência do movimento (no mais amplo sentido deste termo). Este estado de tensão ou pressão<$FO que inclui aquilo que os dialetas denominam tensão da contradição ou energia da luta dos contráriosou outras expressões análogas e equivale ao conceito de ansiedade em psicopatologia.> interior costuma ser importante para manter a coesão sistêmica e permitir-lhe desempenahr suas atividades com eficiência e eficácia. Contudo, quando este estado tensional ultrapassa limites convenientes, pode se dar uma perturbação ou uma distorção de seu funcionamento. @COMENT = Exatamente como acontece com os estados de ansiedade nos comportamentos humanos. Indispensável em quantidades razoáveis, invalida o desempenho quando passa de limites suportáveis. @COMENT = @DEF = Em todos os sitemas, seu funcionamento gera um certo grau de tensão que pode melhorrar ou prejudicar seu rendimento. @COMENT = @COMENT = O antigo conceito de irritação proposto por Broussais para explicar as doenças psiquiátricas está sendo substituído pelo de estresse. A noção de _estresse_ se confunde com a de tensão dos sistema operantes, de eficiência e eficácia funcional, que parecem

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contribuir para explicar alguns casos de patologias psíquicas e somáticas nos sistemas orgânicos e psicológicos. Constitui um interessante campo de investigação o estudo da tensão nos sistemas sociais e orgânicos. @COMENT = Os conceitos de estresse positivo e estresse patogênico também devem ser relacionados com esta noção de tensão sistêmica, como conflito de energias ou tendências opostas na raíz do dinamismo dos sistemas. O conceito de tensão dos sistemas parece essencial para elucidar e explicar numerosos problemas da patologia geral e da psicopatologia. Parece essencial, por exemplo, para estabeler a ligação entre os conceitos de psicogênese e estresse, muito necessária para a evolução da psiquiatria. @COMENT = @COMENT = @MINOR HEADING = Organização e Hierarquia Sistêmicas @INICIALGR = A exigência de uma organização hierarquizadas implica em que cada uma das partes de um sistema não pode ocupar, na totalidade, qualquer lugar, mas apenas aquele que é determinado pela função que ele desempenhe no conjunto. A sua própria estrutura particular deve ser determinada pela função que exerce no sistema, o que equivale a dizer que o sistema, enquanto totalidade, está presente em todas as suas partes, determinando a estrutura e a forma de cada uma delas.<$FCorbisier, R., op. cit. p. 182.> A natureza da organização e da hierarquia sistêmica, que é uma característica essencial de sua intercomplementariedade, pode ser física, natural, social ou lógica, na dependência da natureza do sistema, pois pode haver sistemas de cada uma destas ordens. Nos sistemas, quaisquer que for sua classe, seus componentes, elementos individualizados ou subsistemas, podem estar justapostos no espaço, como nos sistemas físicos (máquinas ou motores) ou naturais (organismos vivos); caracterizando-se como sistemas por esta relação de interdependência. Neles, em geral, não é possível alterar sua ordenação ou substituir uns pelos outros nas funções que desempenham. Por isto, pode-se inferir que a configuração espacial (ou qualquer outra) dos elementos sistêmicos é uma característica de sua organização, um atributo hierárquico que caracteriza aquele sistema. Além da configuração espacial, a hierarquia dos elementos dos sistemas pode se definir em termos de coordenação ou de subordinação. @COMENT = As noções de coordenação e subordinação já foram definidas atrás. No entanto, é necessário avaliar sua importância em todos os sistemas, sejam eles sistemas naturais, sistemas lógicos, sistemas psicológicos ou sistemas sociais. Nos sistemas naturais, a hierarquização é uma imposição da própria estrutura e ninguém aparece para discutir se o fígado deveria fazer o papel de rim ou vice-versa. Já nos sistemas sociais, na medida em que são construções

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humanas, a necessidades e as condições de sua hierarquia podem e devem ser discutidas. Sobretudo, porque devem estar subordinadas _Ö_s finalidades dos sistemas e moduladas pelos direitos individuais e sociais. @COMENT = A interdependência nos sistemas naturais é bastante diversa da que existe nos sistemas sociais. A ideologia naturalista e biologicista que tentou explicar a hierarquia dos sistemas sociais humanos estabelecendo analogias entre eles e os sistemas naturais não conseguiu chegar a qualquer resultado convincente e findou por se revelar um esfôrço ideológico para consagrar e legitimar desigualdades sociais. Analogamente, as pretensões igualitárias que recusam quer hierarquização nos sistemas sociais e pretendem toda autoridade e subordinação como desumanas, também não conseguiram comprovar suas hipóteses basilares. Provavelmente ambas fracassaram porque se originaram em pressupostos apriorísticos incomprováveis; no primeiro extremo, na concepção cristã do homem mau (necessitado de disciplina e de castigo) e, no outro extremo, no extremo jacobino, o mito ideológico igualitarista do homem bom, ainda que eventualmente corrompido pela sociedade por causa injustiça e da desigualdade reinante entre as pessoas. Estas duas tendências se evidenciaram parciais e ideologizadas, sendo provável que a verdade se situe em algum ponto intermediário entre elas. @COMENT = @DEF = Desta rápida súmula sobre algumas informações essenciais sobre a teoria dos sistemas, pode-se depreender pelos menos duas conclusões: a) que não basta uma coleção, ainda que numerosa, de conhecimentos, mesmo verdadeiros, para caracterizar um sistema científico, um sistema teórico ou um sistema racional; b) a existência de um sistema depende fundamentalmente de que a intercomplementariedade de seus elementos se dê a partir das conexões de propriedades ou atributos essenciais de seus componentes. @COMENT = @COMENT = A noção de sistema, ainda que não muito bem estruturada, e muitas de suas conseq_Å_ências lógicas, como a subordinação da forma Àfunção, por exemplo, são antigos conhecidos das ciências médicas desde a velha Grécia, tendo emprestado notável contributo aos conhecimento de anatomia e, principalmente, por suas inferências no avanço da fisiologia e da fisiopatologia, ao longo de toda sua história. @COMENT = Recentemente, o conhecimento destas noções referentes aos sistemas têm se mostrado muito valioso no estudo das estruturas sociais, como grupos (inclusive as famílias), instituições, organizações e comunidades, quer sejam considerados como objeto de investigação que busca explicar sua dinâmica, quer seja considerado para orientar os procedimenos de intervenção política ou sócio psicológica, sobretudo os de natureza preventiva sobre os sistemas sociais.

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@COMENT = O processo de construção de um sistema cognitivo, uma teoria científica, como se chama o conhecimento que se tem sobre alguma coisa ou algum fenômeno, se dá como uma elaboração mais ou menos complexa que se desenvolve em patamares inter-relacionados, mas mais ou menos definidos, como se verá a seguir.

SISTEMA no Diccionario de Filosofía Contemporánea

Ediciones Sígueme, Salamanca 1976 páginas 458-459

Projeto Filosofia en Espaõs, Filosofia.org

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Sistema

1. Concepto. Un sistema es «un conjunto de objetos y de relaciones entre esos objetos y sus propiedades». De manera que en realidad cualquier cosa es un sistema o, mejor dicho, cualquier cosa puede ser considerada como un sistema. La relevancia de las relaciones por las que a un conjunto de objetos lo consideramos como un sistema dependerá de los propósitos que persigamos en nuestra investigación.

Sistema pueden ser no sólo cosas reales (físicas, sociales, &c.), sino también entidades

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abstractas como un sistema de ecuaciones, o una teoría. Un sistema abstracto puede ser construido como modelo de sistemas concretos.

Relacionada con la noción de sistema está la de entorno: «el conjunto de objetos cuyos cambios de propiedades afectan a un sistema y que son afectados a su vez por la actividad del sistema.» Sistema y entorno (o medio) son pues conceptos correlativos y su delimitación es arbitraria. Si el sistema es un organismo animal, el entorno es el medio natural en que se desenvuelve, pero el conjunto del organismo (u organismos) más el medio constituye a su vez un sistema ecológico, etcétera.

La relación de un sistema con su entorno o medio permite también distinguir entre sistemas [459] abiertos (con intercambio con el medio) y sistemas cerrados (sin intercambio con el medio). En la realidad, sin embargo, los sistemas cerrados sólo son relativamente cerrados salvo que consideremos el universo entero como un sistema.

Algunas de las propiedades más importantes de los sistemas son: el hecho de constituir totalidades irreductibles a la mera suma de sus elementos; el estar sometidos a procesos evolutivos de diverso tipo: de segregación de subsistencias (degenerados o reestructurados –fenómeno del crecimiento–), o de

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sistematización (integración de sistemas separados en sistemas más complejos, etcétera) (niveles de integración).

2. La teoría general de sistemas.

Es inicialmente una extrapolación de las concepciones organísmicas que Bertaan mantuvo en sus investigaciones como biólogo con la idea de superar la controversia mecanicismo-vitalismo. Con ello pretendía en un principio dar cuenta de las propiedades del organismo concebido como un todo estructurado y no como un mero agregado de partes. Ya en 1937 expuso por primera vez un esbozo de la teoría general de sistemas en la cual el punto de vista que permitía comprender a un organismo como un sistema estructurado con propiedades específicas no reducibles a las de sus partes componentes se ampliaba a todo tipo de sistemas.

Es sin embargo después de la segunda guerra mundial cuando se elabora y difunde la teoría general de sistemas en compañía ya de las nuevas disciplinas y perspectivas científicas que se han ido constituyendo simultáneamente como son la cibernética, la teoría de la información, &c. Uno de los objetivos principales de la teoría general de sistemas es ofrecer instrumentos de problemas específicos de las ciencias biológicas, sociológicas, &c., que no

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podían tratarse adecuadamente con el método analítico y en un marco mecanicista, &c. Sin embargo, las definiciones y principios de la teoría de sistemas valen para cualquier sistema y éstos pueden ser tanto físicos, como biológicos, sociales, culturales o conceptuales.

A partir de ella nociones como las de teleología, conducta orientada hacia un fin, control, totalidad, organización, &c., que desde una perspectiva mecanicista son consideradas como nociones metafísicas, pueden recibir un tratamiento operativo y científico.

3. En filosofía la teoría general de sistemas puede suponer una conmoción en la forma de concebir el mundo en general similar a la que pudo constituir el mecanicismo de su tiempo. No pretende ser una teoría filosófica, pero sí es de hecho una teoría de tal grado de generalidad que no puede por menos de servir directamente de apoyo a una ontología en que, por decirlo de alguna manera, el mundo aparezca –además de como materia, movimiento, energía, &c.– como sistema o conjunto de sistemas con organización.

4. En filosofía de la ciencia la teoría de sistemas tiene una doble importancia. Por una parte ha introducido una nueva perspectiva para la

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metodología científica que permite justificar las diferencias metodológicas en los diversos campos de estudio, según las exigencias de cada nivel de integración de la realidad. Por otra parte ha abierto el camino a que la propia ciencia se considere desde la perspectiva de la teoría de sistemas (Radnitzky) como un fenómeno socio-cultural complejo que requiere a su vez un análisis científico (ciencia de la ciencia), perspectiva ésta que resultaba prohibitiva desde la óptica del positivismo lógico y demás epistemologías con él emparentadas.

5. En España el concepto de sistema ha tenido cierta relevancia pedagógica en el campo concreto de la historia de la filosofía, como consecuencia más bien de un mero imperativo burocrático-universitario (por la denominación impuesta a una asignatura obligatoria en las facultades de letras). Ultimamente sin embargo Gustavo Bueno ha iniciado una renovación de la idea de sistema en la historia de la filosofía.

L. von Bertalanfy, General systems theory. A Critical Review, en General systems. Yearbook of the society for general systems research 7, 1-20. (Incluido en la recopilación de W. Buckley); W. Buckley, Modern systems research for the behavioral sciences, Chicago 1969; G. Bueno, La metafísica presocrática,

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Oviedo 1974; G. Radnitzky, Hacia una teoría de la investigación que no es ni reconstrucción lógica ni psicología o sociología de la ciencia: Teorema III/2-3 (1973) 197-264.