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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ESCOLA DE UPPSALA E DO MODELO DE DISTÂNCIAS CAGE NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Larissa Londero Santa Maria, RS, Brasil 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ESCOLA DE

UPPSALA E DO MODELO DE DISTÂNCIAS CAGE NO

PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Larissa Londero

Santa Maria, RS, Brasil

2014

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A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ESCOLA DE UPPSALA E DO

MODELO DE DISTÂNCIAS CAGE NO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA

Larissa Londero

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações

Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS), como

requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Relações Internacionais.

Orientador: Prof. Diego Trindade D‟Ávilla Magalhães

Santa Maria, RS, Brasil

2014

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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Relações Internacionais

A Comissão Examinadora, abaixo assinada,

aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ESCOLA DE UPPSALA E DO

MODELO DE DISTÂNCIAS CAGE NO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA

elaborado por

Larissa Londero

como requisito parcial para a obtenção do grau de

Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Diego Trindade D’Ávilla Magalhães (Presidente/Orientador)

Flávia Luciane Scherer, Dra. (UFSM)

José Renato Ferraz da Silveira, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 02 de dezembro de 2014.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Aparecida e Gladimir Londero, por todo o

amor e confiança depositados em mim durante toda a minha trajetória acadêmica e por

sempre acreditarem no meu potencial. Mesmo longe, sem o apoio e os valores que vocês me

passam nada disso seria possível.

À minha irmã, Letícia, pela companhia durante toda a trajetória acadêmica longe dos

nossos pais. E ao meu irmão, Roner, por me mostrar o quão grande o coração de uma pessoa

pode ser.

Meu muito obrigada a todos os meus amigos, os quais perto ou longe, estiveram

sempre comigo. Em especial aqueles que a faculdade me presenteou: Julie Izolan, Mariana

Trojan, Nadine Teixeira, Valesca Vargas, Vanessa Zago, Victória Costa e Vinícius Pimenta.

Agradeço também aos professores que tive na Universidade Federal de Santa Maria e

na Universidade de Valencia, durante minha mobilidade acadêmica, que de uma forma ou de

outra, contribuíram para moldar este trabalho e também na minha formação acadêmica de

maneira geral. Em especial, agradeço ao meu orientador, o professor Diego Trindade D‟Ávilla

Magahães, o qual aceitou me orientar. Obrigada pela paciência e por sempre acreditar no

potencial do meu trabalho. Também aos professores José Carlos Martinez Belieiro Júnior,

Hamlet Simon, Juan Alberto Sanchis Llopis e Joaquin Camps Torres. Agradeço ao professor

José Renato Ferraz da Silveira por sua dedicação incansável ao nosso curso de Relações

Internacionais e também aos secretários Medianeira e Rui, por sempre ajudarem não só a

mim, mas a todos os alunos do curso de RI da UFSM.

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La semplicità è l'ultima sofisticazione. – Leonardo Da Vinci

A simplicidade é o último grau de sofisticação. – Leonardo Da Vinci

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso

Curso de Relações Internacionais

Universidade Federal de Santa Maria

A APLICAÇÃO DA TEORIA DA ESCOLA DE UPPSALA E DO

MODELO DE DISTÂNCIAS CAGE NO PROCESSO DE

INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA

AUTORA: LARISSA LONDERO

ORIENTADOR: DIEGO TRINDADE D‟ÁVILLA MAGALHÃES

Data e Local da Defesa: Santa Maria, 02 de dezembro de 2014.

A internacionalização é uma das respostas empresarias diante dos desafios impostos

pela globalização. Teorias de internacionalização tentam explicar as estratégias das empresas

na busca pela expansão de seu mercado no exterior e orientar suas ações no processo da

tomada de decisão. Elas são divididas entre teorias econômicas, comportamentais e

estratégicas. No momento da expansão rumo ao mercado estrangeiro, a forma de entrada

escolhida para cada país também faz parte da estratégia da empresa. Nesse contexto, este

trabalho busca compreender a internacionalização da multinacional espanhola Zara, através da

contribuição do modelo de distâncias CAGE para a abordagem de distância psíquica

pertencente à teoria de internacionalização de abordagem comportamental da Escola de

Uppsala. As formas de entrada nos diferentes países em que a empresa atua, assim como uma

análise da sua presença no Brasil também fazem parte desta pesquisa. Diante da análise, pode-

se comprovar a contribuição do modelo de distâncias CAGE para a abordagem da distância

psíquica no caso da Zara principalmente no início da internacionalização da empresa.

Palavras-chave: Internacionalização. Empresas. Globalização. Zara. Escola de Uppsala.

Modelo de Distâncias CAGE. Distância Psíquica.

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ABSTRACT

Senior Thesis

International Relations Major

Universidade Federal de Santa Maria

THE APPLICATION OF THE THEORY OF UPPSALA SCHOOL AND

THE CAGE DISTANCES IN THE INTERNATIONALIZATION

PROCESS OF ZARA

AUTHOR: LARISSA LONDERO

ADVISER: DIEGO TRINDADE D‟ÁVILA MAGALHÃES

Defense Date and Place: Santa Maria, December 2nd

, 2014.

Internationalization is one of the corporate responses to the challenges posed by globalization.

Internationalization theories try to explain the business strategy in the pursuit of expanding

market overseas and guide their actions in the decision-making process. They are divided

between economic, behavioral and strategic theories. By the time of expansion into the

overseas market, the entry form chosen for each country is also part of the company's

strategy. In this context, this paper seeks to understand the internationalization of Spanish

multinational company Zara, through the CAGE distances framework along with psychic

distance approach, which belongs to the behavioral approach of internationalization theory of

Uppsala School. The entry forms in different countries where the company operates, as well

as an analysis of its presence in Brazil are also part of this research. CAGE distances model

proves itself useful to complement the psychic distance approachin the case of Zara especially

at the beginning of the company's internationalization.

Key-words: Internationalization. Companies. Globalization. Uppsala School. CAGE

Distances Model. Psychic Distance.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APEX-Brasil – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

CAGE – Cultural, Administrativa, Geográfica e Econômica

CEE – Comunidade Econômica Europeia

CESCE – Compañía Española de Seguros de Crédito a la Exportación/ Companhia

Espanhola de Seguros de Crédito à Exportação

CTN – Corporação Transnacional

COFIDES – Compañia Española de Financiación al Desarollo/ Companhia Espanhola de

Financiação ao Desenvolvimento

EMN – Empresa Multinacional

ICEX – Instituto Español de Comercio Exterior/ Instituto Espanhol de Comércio Exterior

ICO – Instituto de Crédito Oficial

IED – Investimento Externo Direto

INDITEX – Industria de Diseño Textil/ Indústria de Desenho Têxtil

MIGA – Multilateral Investment Guarantee Agency/ Agência Multilateral de Garantia de

Investimento

MPT – Ministério Público do Trabalho

NAFTA – North American Free Trade Agreement/ Tratado Americano de Livre Comércio

OMC – Organização Mundial do Comércio

ONU – Organização das Nações Unidas

PIB – Produto Interno Bruto

PME – Pequenas e Médias Empresas

TAC – Termo de Ajustamento de Conduta

UE – União Europeia

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development/ Conferência das Nações

Unidas para Comércio e Desenvolvimento

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................9

1 O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS.........14

1.1 As teorias de internacionalização de empresas..............................................................14

1.2 O modelo de internacionalização da Escola de Uppsala e o modelo de distâncias

CAGE.......................................................................................................................................20

2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS ESPANHOLAS: O

CASO DO GRUPO INDITEX.........................................................................26

2.1 O processo de internacionalização de empresas na Espanha.......................................26

2.2 A indústria têxtil, o grupo Inditex e a Zara....................................................................31

3 A ESTRATÉGIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA...............40

3.1 A internacionalização da Zara sob a ótica da Escola de Uppsala e do sistema CAGE

de compreensão de distâncias................................................................................................40

3.2 A expansão da Zara e suas formas de entrada...............................................................43

3.3 A Zara no Brasil................................................................................................................49

CONCLUSÃO....................................................................................................53

REFERÊNCIAS................................................................................................56

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INTRODUÇÃO

O advento da globalização trouxe consigo mudanças e movimentações tanto dos

fluxos de capitais quanto de pessoas, bens, serviços e ideias ao redor do mundo. A

internacionalização de empresas, que faz parte da globalização, tornou-se nas últimas décadas

cada vez mais comum. As empresas veem-se com a necessidade de adaptação ao mercado que

deixa de ser apenas doméstico e passa a ser mundial devido à entrada cada vez maior de

capital estrangeiro em seus países de origem.

No que se refere particularmente às mudanças no âmbito econômico, é notável a

crescente integração dos mercados de bens/serviços e de capital, seguida por uma

ascendente internacionalização da produção e uma remodelagem das formas de

especialização produtiva (SILVA, 2011, p. 02).

Conforme Bertella e Ruppertl (2012), na Espanha a internacionalização do capital teve

início tardio em comparação aos demais países desenvolvidos devido ao isolamento

internacional e o atraso tecnológico provocado pela ditadura de Francisco Franco. Após o fim

de sua ditadura em 1976 e as mudanças e transformações ocorridas na época como o início da

liberalização econômica, o país iniciou seus investimentos diretos no exterior.

Segundo Ansotegui et al. (2008), desde 1994 até 2007 a Espanha passou pelo período

de maior crescimento do último século, devido à incorporação de sua economia à

Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1986, que consequentemente implicou a livre

circulação de mercadorias no primeiro momento de adesão ao bloco, e à Europa, através da

União Monetária Europeia em 1999. O Produto Interno Bruto (PIB) espanhol vem crescendo

desde a década de 1980, passando de US$ 226 bilhões em 1980 para US$ 521 bilhões em

1990 e fechando o ano 2000 com US$ 580 bilhões. Em 2013, o PIB espanhol chegou ao valor

de US$ 1,35 trilhão (UNCTAD, 2014).

A indústria têxtil é um setor importante da economia espanhola e dentro desse setor, é

possível destacar o grupo Inditex (Industria de Diseño Têxtil), grande conglomerado de

empresas têxteis espanhol. Segundo dados da Unctad (2014), atualmente o grupo não figura

entre as 100 maiores corporações transnacionais (CTNs) do mundo. Apesar disso, no ano de

2012 superou a espanhola Telefônica em valor de mercado e tornou-se a empresa mais valiosa

da Espanha na época. “No momento do fechamento da bolsa, a Inditex registrava um valor de

mercado de 43,01 bilhões de euros (equivalente a 54,18 bilhões de dólares), acima dos 42,29

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bilhões de euros (53,28 bilhões de dólares) da empresa de telecomunicações” (REVISTA

VEJA, 2012).

Conforme dados da Inditex (2014), o grupo fechou o ano de 2013 empregando o total

de 128.313 funcionários. Destes, 7.999 foram incorporações em 2013, com um aumento de

6,6% em relação ao ano de 2012. Somente na Espanha, no fim do ano, o grupo empregava

40.184 pessoas, 1,8% a mais que no ano anterior. Na divisão total da folha de pagamento por

região do globo, 31% ficou com a Espanha, enquanto o resto da Europa ficou responsável por

47% do total de funcionários da Inditex. As Américas ficaram com 11% e a Ásia

compartilhou com o resto do mundo outros 11% do número total de trabalhadores.

O grupo espanhol Inditex é hoje um dos principais distribuidores de moda do

mundo. Centenas de profissionais prestam serviço a cada uma das empresas que

formam o grupo no mundo todo e se dedicam ao design, produção e distribuição de

moda. O grupo é referência mundial em logística. Seu singular modelo de gestão

está focado na inovação e flexibilidade (BERTOLLO; GOMES, 2010, p. 02).

A Inditex conta com oito formatos comerciais chamados de cadeias – Zara, Pull and

Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home e Uterqüe (INDITEX, 2014).

A Zara é a principal cadeia do grupo. É uma empresa de roupas, acessórios e calçados para o

público feminino, masculino e infantil. Foi fundada em 1975 por Amancio Ortega e sua sede

está localizada em Arteixo, província de La Coruña pertencente à região da Galicia na

Espanha. Em 2013 a empresa foi cotada em cerca de U$$20 bilhões, o que representou um

crescimento de 60% no valor da marca, em comparação ao ano de 2012 (IBOPE, 2013).

Segundo dados da Inditex (2014), atualmente a Zara possui mais de 2000 lojas

localizadas em mais de 88 países, "[...] em locais considerados privilegiados e de maior

relevância comercial" (BERTOLLO;GOMES, 2011, p. 16).

Em 1989, foi aberta sua primeira loja em Nova York e em 1990, sua primeira loja

em Paris. Entre 1992 e 1997, a marca entrou em cerca de um país por ano (a uma

distância média de cerca de 3000 km da Espanha), até o final deste período, houve

lojas em sete países europeus, nos Estados Unidos, México e em Israel. A partir de

então, a Zara começou a expandir suas lojas pelo mundo mais rapidamente: foram

mais 16 países (a uma distância média de 5000 km da Espanha) entre 1998-1999 e

de oito países (a uma distância média de menos de 2000 km) entre 2000-2001

(JOÃO et al., 2010, p. 12).

No presente trabalho, o uso da teoria comportamental da Escola de Uppsala

(JOHANSON; VAHLNE, 1977) será aprofundado a fim de explicar, com base em seu

modelo, como foi dada a internacionalização da multinacional Zara. A análise CAGE de

internacionalização de empresas também será utilizada a fim de contribuir para a explicação

do processo de internacionalização da Zara.

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Assim, decorre a pergunta de pesquisa: como o modelo de análise de distâncias CAGE

contribui para a abordagem da distância psíquica da Escola de Uppsala na explicação do

processo de internacionalização da Zara? Objetiva-se, portanto, conhecer quais processos

pertencentes ao arcabouço da teoria de Uppsala dialogam com o modelo de análise de

distâncias CAGE e como podem ser aplicados à internacionalização desta empresa. Espera-se

conhecer, também, as estratégias empresariais adotadas além de quais foram os modos de

entrada utilizados nos países em que a Zara está presente.

“A internacionalização da firma é um tema de relevância para estudos, ao passo que o

estágio de internacionalização das empresas de um país é um dos indicadores do seu grau de

desenvolvimento e maturidade para uma estratégia de competição global” (JOÃO et al., 2010,

p. 02). “Além do financiamento global, talvez a imagem mais comum da globalização

econômica é aquela da corporação multinacional: gigantescos impérios empresariais que

atravessam o globo com volumes de negócios anuais correspondentes ao PIB inteiro de

muitas nações” (HELD et al. 1999, p. 236, tradução própria).

Segundo Held et al. (1999), as empresas multinacionais (EMNs) desempenham um

papel muito significante na globalização comercial, financeira, tecnológica, cultural e também

na difusão da tecnologia militar. “Mas as multinacionais estão envolvidas principalmente na

internacionalização da atividade de produção e serviços; elas podem ser concebidas como o

estreitamento dos negócios através das regiões e dos continentes” (HELD et al. 1999 p. 236,

tradução própria)

Existe uma divergência de opiniões no que tange o conceito de CTNs. “Uma

corporação transnacional (CTN) é geralmente considerada uma empresa que compreende

entidades em mais de um país que operam sob um sistema de tomada de decisão que permite

políticas coerentes e de uma estratégia comum” (UNCTAD, 2014). As entidades da empresa

podem exercer influência umas sobre as outras e também compartilhar conhecimentos,

recursos e responsabilidades.

Já segundo Gorender (1996), existe uma distinção conceitual entre os termos

multinacional e transnacional. Para o autor, a definição de "empresa transnacional" não é

aplicável, para a maioria das firmas que buscam o mercado internacional já que esse conceito,

como o próprio nome indica, define uma empresa que transcende o âmbito nacional e que não

tem base ou dependência nacional. “A força adquirida pelas EMNs, em especial pelo capital

financeiro (bancário e não-bancário), nas condições da globalização, deu margem à ideia de

que, mais do que multinacionais, já seriam empresas transnacionais” (GORENDER, 1996, p.

326).

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Gorender (1996) observa ainda, que as grandes corporações não se separam dos

Estados nacionais nos quais têm origem, mas ao contrário, constituem e fazem parte da

questão de política internacional desses Estados. Deixa claro que não há dúvida que nas

últimas décadas aumentou a proporção de firmas que operam em âmbito internacional,

entretanto não se pode falar no predomínio de empresas "transnacionais" ou "globalizadas" já

que a maioria delas é de base nacional.

A discussão acerca da definição de CTN ou EMN não é o foco deste trabalho. Assim,

o termo aqui adotado será de Empresa Multinacional por tratar-se de um termo mais utilizado

entre os autores consultados na elaboração desta pesquisa. Para Held et al. (1999), uma EMN

é um empreendimento que controla e gere subsidiárias em mais de um país além do seu de

origem, através de Investimento Externo Direto (IED). “Em seu sentido mais amplo, uma

multinacional é uma companhia que produz produtos ou comercializa seus serviços em mais

de um país” (HELD et al. 1999, p. 237, tradução própria).

Este estudo tem enfoque qualitativo, visto que teve como objetivos: contextualizar,

descrever e analisar a trajetória da internacionalização das empresas ao redor do mundo, com

enfoque para a estratégia da Zara. Quanto ao método, trata-se de um estudo de caso

explicativo – que procura justificar causas, esclarecer fatores que contribuíram a determinado

fenômeno. Foi realizada uma revisão bibliográfica na tentativa de buscar conceitos para a

análise deste caso utilizando-se de dados secundários, provenientes do site institucional da

empresa, e de outros estudos de casos (BARBOSA, 2005; BERTOLLO e Gomes, 2010;

DAL-SOUTO, 2006; DIAS, 2007; JOÃO et al., 2010; RAMOS, 2004).

No primeiro capítulo, serão expostas as teorias de internacionalização de abordagens

econômica, comportamental e estratégica. Será feita uma análise mais completa da teoria da

Escola de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977), pertencente à abordagem

comportamental. Também será exposto o sistema CAGE de compreensão de distâncias

(GHEMAWAT, 2012). Essas duas abordagens, posteriormente, serão aplicadas na análise da

internacionalização da empresa espanhola Zara.

No capítulo seguinte, será abordado o histórico da internacionalização de empresas no

mundo com destaque para a Espanha, visando explicar como funciona esse processo no país,

e quais os incentivos e obstáculos encontrados na busca pelo mercado externo. Aqui também

será analisado o grupo Inditex e o início do processo de internacionalização da Zara.

O terceiro e último capítulo tratará da síntese final do trabalho, mostrando como a

teoria da Escola de Uppsala e a análise CAGE podem ser aplicadas na internacionalização

dessa empresa. Neste capítulo também serão abordadas as formas de entrada das empresas em

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países estrangeiros, desde as mais simples, como exportação, até as mais complexas, via IED,

e como a Zara utiliza essas diferentes opções na hora de entrar em um país estrangeiro. Por

fim também será analisada a atuação da Zara no mercado brasileiro

A partir dessa pesquisa, pretende-se analisar o processo de internacionalização de

empresas, suas teorias e estratégias utilizadas, os quais podem resultar num conjunto de

informações úteis para a orientação de empresas interessadas nesse tipo específico de tomada

de decisão. Com relação à formulação de estratégias voltadas à internacionalização de

empresas, teorias foram expostas na tentativa de explicar o direcionamento de empresas para

o mercado externo. No que tange ao modo de entrada nos países receptores, a literatura

referente à internacionalização de empresas registra diferentes modos/estratégias de entrada

em um novo país.

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1 O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPREASAS

1.1 As teorias de internacionalização de empresas

Conforme HELD et al. (1999) explicam, a globalização é definida como um fenômeno

global e social que implica no avanço em busca de um grau maior de integração e

interdependência entre as economias dos diferentes países através da intensificação dos fluxos

internacionais de pessoas, bens, serviços, tecnologia, conhecimento, informação, etc. “A

globalização pode ser pensada inicialmente como o alargamento, aprofundamento e a

aceleração da interconexão mundial em todos os aspectos da vida social contemporânea,

desde a cultura ao crime, do financeiro ao espiritual (HELD et al., 1999, p. 02, tradução

própria). Pode então ser conceituada como

um processo (ou uma série de processos) que inclui uma transformação no espaço

organizacional das relações e transações sociais – avaliadas em termos de sua

extensão, intensidade, velocidade e impacto – gerando fluxos intercontinentais ou

inter-regionais e redes de atividades, interação, e o exercício de poder (HELD et al.,

1999, p. 09, tradução própria).

Com o advento desse fenômeno global, Held et al. (1999) expõe um debate

desenvolvido a respeito do papel das empresas multinacionais nas relações internacionais.

Foram definidas três escolas de pensamento: os hiperglobalistas, que pressupõem que as

EMNs são desterritorializadas, efetivamente globais e atuam independentemente do Estado;

os céticos, que não veem as EMNs como efetivamente multi ou transnacionais, mas como

empresas fortemente baseadas e dependentes dos seus Estados de origem; e os

transformacionalistas, os quais afirmam que as EMNs estão ditando aos governos e

sociedades uma nova ordem mundial, não mais centrada nos Estados.

“Os hiperglobalistas argumentam que a globalização econômica está trazendo a

„desnacionalização‟ das economias através do estabelecimento de redes transnacionais de

produção, comércio e finança” (HELD et al. 1999, p. 03, tradução própria). Assim, afirmam

que a globalização econômica está construindo novas formas de organização social com as

EMNs que estão substituindo, ou que irão eventualmente substituir, os Estados nacionais

tradicionais.

Os céticos acreditam que a globalização implica em uma perfeita integração da

economia mundial. Criticam a tese dos hiperglobalistas, afirmando que ela subestima o poder

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dos governos nacionais em regulamentar as atividades econômicas internacionais e enfatizam

que as EMNs dependem do poder regulatório dos governos nacionais para garantir a

continuação da liberalização econômica.

Os céticos tendem a não concordar com a ideia de que a internacionalização abre as

portas para uma nova ordem mundial menos centrada no Estado. Longe de

considerarem que os governos estão se tornando imobilizados pelas

internacionalizações imperativas, eles apontam para uma crescente centralização na

promoção regular e ativa da econômica ativa transfronteiriça. Para eles, os governos

não são vítimas passivas da internacionalização, mas o contrário, os seus primeiros

arquitetos (HELD et al., 1999, p. 05, tradução própria).

Na tese dos transformacionalistas, a globalização é vista como uma força central que

busca mudanças sociais, políticas e econômicas que estão reformulando as sociedades

modernas e a ordem mundial, porém numa direção ainda incerta (HELD et al., 1999). Eles

consideram a globalização um fenômeno sem precedentes afirmando que governos e

sociedades através do mundo estão tendo que se ajustar a uma nova ordem mundial, não mais

centrada nos Estados e sim nas novas formas de pode não-territorial como as EMNs.

O argumento dos transformacionalistas é de que a globalização está associada não

somente com o novo regime soberano, mas também com a emergência de novas

poderosas formas de poder não-territorial e organização política no domínio global,

como as corporações multinacionais, movimentos sociais transnacionais, agências

internacionais regulatórias, etc. Nesse sentido, a ordem mundial já não pode mais ser

considerada como puramente centrada nos Estados, ou ainda primariamente

governada pelos Estados, já que a autoridade tem se tornado cada vez mais difusa

entre agências públicas e privadas em nível local, nacional, regional e global (HELD

et al., 1999, p. 09, tradução própria).

Dunning (1995) afirma que uma série de eventos que vem ocorrendo desde a década

de 1980 sugere que a economia mundial pode estar entrando em uma nova fase de capitalismo

baseado no mercado, chamada de “capitalismo de alianças”.

“Estes eventos não conhecem fronteiras geográficas; e variam a partir de mudanças

na maneira em que as empresas individuais organizam as suas produções e

transações, para uma reconfiguração dos ativos específicos locais e da globalização

de muitos tipos de atividade econômica” (DUNNING, 1995, p. 461, tradução

própria).

As pressões globais do mercado têm feito com que as empresas reconsiderem o âmbito

e a organização de suas atividades de valor agregado (DUNNING, 1995). Assim, em primeiro

lugar, as empresas visam externalizar suas atividades da cadeia de valor e se especializarem

em atividades nas quais já possuem recursos e capacidades. Em segundo lugar, as empresas

têm cada vez mais sido induzidas a engajarem-se em alianças internacionais. E em terceiro

lugar, está a tentativa de alargar os mercados para os seus principais produtos, de modo a se

beneficiar plenamente das economias de escala.

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Ainda segundo Dunning (1995), uma das principais conseqüências da globalização da

atividade econômica foi a de forçar as empresas a serem mais dinâmicas e competitivas. Duas

formas de colocar isso em prática seriam através de um esforço maior em elevar a eficiência

com que produzem seus produtos existentes e, também, através da inovação e do sucesso de

novos produtos, além da modernização de ativos e habilidades ao longo de suas cadeias de

valor.

“De forma ampla e abrangente, a internacionalização pode ser definida como um

processo crescente e continuado de envolvimento das operações de uma empresa com países

fora de sua base de origem” (DAL-SOUTO, 2006, p. 03). Este processo é um conjunto de

compromissos que permitem o estabelecimento de vínculos “estáveis” entre a empresa e os

mercados internacionais.

A internacionalização pode ocorrer em várias dimensões diferentes. Ela é um

processo, ao longo do tempo, no qual uma empresa desenvolve envolvimento

crescente e operações fora de seu país de origem. Tal envolvimento pode incluir

matérias-primas ou produtos acabados da empresa, ou envolver ainda etapas de sua

cadeia de valor (OVIATT; MCDOUGALL, 1999 apud CARNEIRO; DIB, 2007, p.

02).

A decisão de internacionalizar uma empresa exige análise do comportamento do

mercado internacional e do mercado doméstico onde ela atua. As empresas decidem

internacionalizar por razões pró-ativas, como o desenvolvimento de produtos únicos,

vantagens tecnológicas, benefícios fiscais, acumulação de experiência, diminuição de

barreiras entre países, visão dos dirigentes, aprendizagem com a experiência de outras

empresas, busca por economias de escala, etc.; ou por razões reativas, como expandir as

vendas de seus produtos em outros países (devido à saturação do mercado interno), custos

crescentes, ciclo de vida em fase de declive, condições econômicas desfavoráveis, mudanças

demográficas desfavoráveis, queda das vendas domésticas, excesso de capacidade, etc.

"Quando uma empresa migra, arrasta consigo seus fornecedores, consultores e prestadores de

serviço, numa reação em cadeia. Elas ganham solidez e alavancam o crescimento" (BALBI,

2004).

[...] A capacidade de mobilizar os recursos financeiros e humanos necessários, o

aprender e desenvolver o negócio da empresa em países com diferentes ambientes

culturais, econômicos e institucionais, e a progressiva transformação do modelo de

gestão, incorporando a dimensão internacional na visão estratégica e nas diferentes

áreas funcionais, constituem fatores chave de êxito para que as empresas possam

avançar em seu processo de internacionalização (ANSOTEGUI et al., 2008, p. 89,

tradução própria).

Com a intenção de explicar os motivos e as maneiras de internacionalizar uma

empresa, teorias de internacionalização foram desenvolvidas. Elas podem ser divididas entre

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abordagens econômicas, que estão orientadas em direção aos lucros e retornos financeiros,

abordagens comportamentais, as quais estão relacionadas com o comportamento dos

empresários no processo de tomada de decisão e abordagens estratégicas. “De acordo com os

defensores das Teorias Estratégicas de Internacionalização, o processo de internacionalização

seguido por uma empresa estaria fortemente associado à sua orientação estratégica, indicada

no eixo de seu plano estratégico” (ROCHA; ALMEIDA, 2006 apud VIANNA; ALMEIDA,

2011, p.07).

Dentre as teorias de abordagem econômica destacam-se: a teoria do poder de mercado,

a teoria do ciclo de vida do produto, teoria da internalização e o paradigma eclético. A

respeito das teorias de abordagem comportamental, podem ser destacadas: a teoria de

networks, a teoria do empreendedorismo internacional e o modelo da Escola de Uppsala. No

que tange as teorias de abordagem estratégica, as principais teorias são: a teoria do

comportamento estratégico e a teoria baseada em recursos e competências (resource based

view – RBV).

A teoria do poder de mercado (Hymer, 1978), indica “duas razões para as empresas

controlarem outras empresas em um país estrangeiro: remoção da competição, através de

cartelização ou através de fusões, fácil acesso à produção, produção mais eficiente, bom

sistema de distribuição ou ter um produto diferenciado” (FILHO, 2008, p. 20). Conforme esta

teoria,

um motivo para a ocorrência de fusões aquisições e extensões de sua capacidade é o

interesse em aumentar a fatia de mercado de uma empresa. Para tanto as firmas

necessitariam possuir vantagens específicas, tais como poder de mercado,

tecnologias ou vantagens organizacionais capazes de superar as desvantagens de

operar em outro país (SOUZA et al., 2012, p. 514).

Conforme Carneiro e Dib (2007), a teoria do poder de mercado acredita que as

empresas buscam sempre aumentar sua participação nos próprios mercados domésticos,

aumentando seus lucros e poder de mercado e também criando barreiras para a entrada de

novos competidores. Porém, haveria um momento no qual as oportunidades para fortalecer

sua posição no mercado doméstico deixariam de existir. “Neste momento, os lucros obtidos

do alto grau de poder monopolístico dentro do mercado doméstico seriam investidos em

operações externas, gerando processo similar de concentração crescente em mercados

estrangeiros” (CARNEIRO; DIB, 2007, p. 05).

A teoria do ciclo de vida do produto (VERNON, 1966), busca explicar através do ciclo

de vida do produto, como as empresas multinacionais saem de um país desenvolvido para se

instalar em um país subdesenvolvido. Segundo esta teoria, inicialmente os produtos de uma

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empresa são produzidos e testados em um país desenvolvido. Depois disso, outros países ricos

que inicialmente haviam importado esse produto, passam a produzi-lo e também a exportá-lo.

E então, os países subdesenvolvidos começam a explorar suas vantagens de custos e também

produzem o produto. “Na fase de maturidade dos produtos, em que a concorrência é intensa,

os países mais desenvolvidos são importadores do produto, lançando-se outra vez em novos

produtos, pelo que o modelo se repete” (DIAS, 2007, p. 10).

A teoria da internalização “foi formalmente proposta e depois revisitada por Buckley e

Casson (1976, 1998), mas tem a origem conceitual no seminal artigo de Coase (1937)”

(CARNEIRO; DIB, 2007, p. 05). Busca a redução de custos ou riscos em fazer negócios nos

países estrangeiros. “Uma empresa se torna multinacional quando percebe que o custo de

realizar internamente as atividades internacionais é maior do que o de terceirizá-la no

mercado externo o qual deseja atuar” (FILHO, 2008, p. 21). O importante na hora da decisão

de internacionalizar um produto ou serviço é que existam vantagens de custos de transação

para a empresa. Esses custos também irão determinar qual o melhor modo de entrada

(exportação desde o país de origem, franquia, etc.) e estabelecimento (via joint ventures,

licenças de produção, a própria internalização via a instalação de fábricas próprias, etc.) a ser

utilizado no país estrangeiro.

O paradigma eclético de Dunning (1995) aponta três vantagens que determinam a

entrada estabelecimento de uma empresa no mercado externo: vantagens específicas de

propriedade, de localização e de internalização (OLI – ownership, location and internalization

advantages). As vantagens específicas de propriedade são as pertencentes à empresa em

relação aos seus concorrentes no país estrangeiro e permitem melhor desempenho da empresa

em relação aos seus concorrentes já instalados no novo país ou ainda a novos entrantes. Essas

vantagens podem ser o seu know-how, tecnologia, diferenciação de produto, inovação,

experiência profissional, etc. (DUNNING, 1995). As vantagens de localização estão

relacionadas com os custos de produção e com a economia de forma geral do país de origem

da empresa em relação ao país escolhido para a sua entrada como, por exemplo, a distância

psíquica entre os países, a disponibilidade de recursos naturais, infra-estrutura, tamanho de

mercado, concorrentes, estabilidade política e econômica, etc.

Diante da análise das vantagens de propriedade e localização, as empresas tomam a

decisão de internalizar ou não a sua produção no mercado externo. As vantagens de

internalização são advindas do processo de criação de uma unidade da empresa no exterior, na

qual poderá manter seu know-how e possibilitar as operações necessárias da empresa a partir

de funcionários contratados no país de destino. Os três elementos da análise de Dunning

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(propriedade, localização e internalização) são complementares entre si, visto que a ausência

de um deles torna impossível a internacionalização da empresa. Segundo Balbinot e Prates

(2010), porém, os elementos isolados podem compreender outros tipos de entrada em

mercados externos que não seja o IED, como exportações e licenças. “O único elemento

imprescindível para a internacionalização é a vantagem de propriedade, sem ela, não há razão

que torne viável qualquer atividade em mercados estrangeiros” (BALBINOT; PRATES,

2010, p. 05).

“A teoria de networks considera que os próprios mercados devem ser encarados como

redes de empresas (JOHANSON; MATTSON, 1986; FORSGREN, 1989). Quando associada

à internacionalização, dela decorre que a empresa vai desenvolver posições em redes no

exterior” (CARNEIRO; DIB, 2007, p. 06). A teoria indica que as empresas buscariam o

mercado externo como uma forma de acompanhar sua rede de interesses e conexões formadas

por diferentes agentes econômicos como seus clientes e competidores a fim de tirar algumas

vantagens disso como, por exemplo, sua entrada em mercados mais distantes ou a criação de

novas conexões no exterior. “A entrada no mercado externo é entendida como uma coalizão

de grupos de interesse. O grau de internacionalização da empresa passa a depender, então, do

grau de internacionalização da rede em que se encontra inserida” (FILHO, 2008, p. 25).

A teoria do empreendedorismo “atribui ao perfil do tomador de decisões – o

empreendedor – diferentes racionais para os movimentos internacionais” (ANDERSSON,

2000 apud CARNEIRO; DIB, 2007, p. 08). O empreendedor poderia ser então: técnico, o

qual tomaria a decisão de internacionalização da empresa dependendo das solicitações

advindas de outros países; estrutural, o qual preferiria agir em indústrias mais maduras através

de fusões ou aquisições; e voltado para o marketing, o qual buscaria a entrada de sua empresa

em novos países e também novas formas de alcançar diferentes consumidores.

A teoria do comportamento estratégico aponta que as empresas buscam vantagens

competitivas para se destacar de seus concorrentes. Segundo esta teoria,

[...] um mix de interesses na esfera competitiva (evitar conflito; trocar ameaças;

seguir a líder; acompanhar posição no mercado doméstico) e criteriosa análise dos

riscos relacionados aos movimentos internacionais podem nortear a entrada da

empresa no mercado externo (ROCHA; ALMEIDA, 2006 apud VIANNA;

ALMEIDA, 2011, p. 07).

Já a teoria baseada em recursos e competências (resource based view – RBV) explica

que “[...] a vantagem competitiva das empresas advém das competências heterogêneas que

possam ser identificadas e dos recursos valiosos, raros, difíceis (ou custosos) de serem

imitados ou substituídos” (VIANNA; ALMEIDA, 2011, p. 07). A teoria defende então, que a

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estratégia da empresa seria baseada no poder de criar, acumular e utilizar essas competências

e recursos, ao invés da construção de barreiras de entrada para os seus concorrentes.

1.2 O modelo de internacionalização da Escola de Uppsala e o modelo de distâncias

CAGE

O modelo da Escola de Uppsala foi criado por pesquisadores suecos na década de 70

(JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977). Conforme os

autores Johanson e Vahlne (1977), este é um modelo de internacionalização de abordagem

comportamental que foca no desenvolvimento individual da firma, na sua integração e

aquisição gradual, além do uso do conhecimento sobre os mercados e suas operações e no seu

comprometimento com os mercados estrangeiros. O modelo da Escola de Uppsala “[...]

privilegia a importância da aprendizagem e, conseqüentemente, o desenvolvimento de

competências como diferencial competitivo” (PESSOA; PORTO; SALVADOR, 2008, p. 04).

"Um dos pressupostos da escola é que a internacionalização da firma se dá em função

de seu crescimento" (CARLSON, 1975 apud JOÃO et al., 2010, p. 04). Segundo esta teoria, a

empresa busca a internacionalização como uma resposta à pressão por procura de novos

mercados a partir do momento em que atingiu o limite de expansão em seu mercado

doméstico.

Conforme Johanson e Vahlne (1977), os estudos feitos na Universidade de Uppsala

mostraram que as empresas suecas geralmente desenvolviam suas operações internacionais

em pequenos passos ao invés de fazer grandes investimentos a fim de internacionalizar grande

parte de sua produção de uma só vez. Assim, o modelo de internacionalização da Escola de

Uppsala pode ser associado ao conceito de cadeia de estabelecimento, pois vê a

internacionalização da empresa como um investimento gradual, pelo qual a empresa adquire

conhecimento e experiência de negócio lentamente. Primeiramente as empresas exportam;

depois, formalizam sua entrada através de negociações com intermediários, representantes ou

agentes no país de destino, mais adiante estabelecem uma filial de vendas e em alguns casos,

atingem o ápice da internacionalização: o estabelecimento de suas próprias unidades de

produção no país estrangeiro.

Contudo, nem todas as empresas seguem os quatro estágios da cadeia de

estabelecimento; empresas que possuem muitos recursos podem não recorrer aos

estágios iniciais ou o tamanho dos mercados-alvo podem não ser suficientemente

atrativos impedindo o investimento substancial de recursos nesse mercado (JOÃO et

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al., 2010, p. 05).

Outro aspecto relevante para a internacionalização das empresas destacado no modelo

de Uppsala é a distância psíquica entre o país de origem e o país destino, que pode ser

definida como "[...] a soma dos fatores que impedem o fluxo de informação de mercado para

mercado. Exemplos disso são as diferenças de linguagem, educação, práticas de negócios,

cultura e desenvolvimento industrial" (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 24, tradução

própria). Logo, as empresas buscariam uma relação inversa com a distância psíquica entre o

país de origem e o país destino escolhido para sua entrada. Segundo Johanson e Wiedersheim

(1975), a distância psíquica está correlacionada com a distância geográfica, porém podem

ocorrer exceções como, por exemplo, os EUA e Cuba que estão próximos geograficamente,

porém distantes politicamente. Os autores ainda afirmam que a distância psíquica não é

constante, pois pode mudar devido o desenvolvimento do sistema de comunicação, comércio

e outros tipos de intercâmbio social.

Para explicar melhor o modelo da Escola de Uppsala, os autores Johanson e Vahlne

(1977) introduzem dois conceitos de aspectos que são estáticos – o conhecimento e o

comprometimento com o mercado externo em que a empresa deseja se inserir – e aspectos

que são dinâmicos – a decisão de comprometer recursos da empresa e o desempenho das

atividades que estão ocorrendo em determinado momento dentro da firma. O conhecimento e

comprometimento com o mercado externo estariam diretamente ligados à decisão de

comprometimento dos recursos e às atividades correntes nos negócios da empresa.

O conhecimento do mercado em que se deseja atuar é importante pelo fato de que as

atividades como demanda e oferta, logística, pagamentos, etc. variam de país para país. A

falta desse conhecimento, segundo este modelo, é um dos maiores obstáculos para o sucesso

da internacionalização. “Uma classificação de conhecimento que é útil para nós é baseada no

modo em que o conhecimento é adquirido” (PENROSE, 1966, p. 53 apud JOHANSON;

VAHLNE, 1977, p. 28, tradução própria). Ele pode ser objetivo, o qual é tangível e

transferível e formula apenas oportunidades teóricas para a empresa, ou pode ser advindo de

experiência e, assim, não pode ser transmitido, pois é adquirido individualmente e

gradualmente por cada pessoa ou empresa, porém é capaz de perceber oportunidades

concretas de oportunidades.

Ainda segundo Johanson e Vahlne (1977), o conhecimento do mercado externo pode

ser dividido em conhecimento geral e conhecimento específico de mercado. O conhecimento

geral diz respeito às características comuns entre as empresas de uma mesma área de atuação

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em determinado país. Já o conhecimento específico corresponde às características específicas

do mercado estrangeiro como os hábitos dos consumidores, a cultura do país, etc.

O comprometimento com o mercado refere-se à quantidade de recursos investida no

mercado estrangeiro - a qual "corresponde ao tamanho do investimento no mercado, usando

este conceito em um sentido amplo, incluindo o investimento em marketing, organização,

recursos humanos e outras áreas" (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 27, tradução própria) - e

o grau de comprometimento empregado neles. "O grau de comprometimento é maior quanto

mais os recursos em questão são integrados com outras partes da empresa e seu valor é obtido

a partir dessas atividades integradas" (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 27, tradução

própria). Este comprometimento com o mercado externo influencia também na percepção da

firma em relação às possíveis oportunidades e riscos que ela poderá encontrar.

A respeito dos aspectos mutáveis do modelo de internacionalização da Escola de

Uppsala, segundo Johanson e Vahlne (1977), as atividades correntes são a principal fonte de

experiência da empresa e por isso, muitas vezes essa experiência é adquirida lenta e

gradualmente. Isso ajuda a explicar o geralmente lento processo de internacionalização. Já

sobre a decisão de comprometer os recursos da empresa no exterior, Johanson e Vahlne

(1977) afirmam que as decisões são tomadas com base na experiência da firma e de acordo

com a percepção de possíveis problemas ou oportunidades no mercado.

Os autores Carneiro e Dib (2007) analisam cinco questões básicas sobre o processo de

internacionalização de empresas: por que, o que, quando, onde e como ocorre este fenômeno.

No quadro 1 estão expostas algumas conclusões dos autores a respeito do modelo de Uppsala.

A partir desta análise, pode-se concluir que o modelo de Uppsala prevê o início da

internacionalização de uma empresa como uma resposta à busca por novos mercados quando

seu mercado doméstico já está saturado. As empresas começariam internacionalizando seus

produtos, atividades, tecnologia, etc. de forma gradual e primeiramente para países com

distância psíquica menor. Aos poucos, a busca por novos mercados mais distantes seria

incorporada, assim como outras formas de entrada no exterior, através de filiais e unidades de

produção próprias.

Por que? O que? Quando? Onde? Como?

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Busca por aumento

na competitividade,

lucratividade e

produtividade das

empresas através da

expansão para

novos mercados.

Internacionalização

de produtos,

serviços, tecnologia

e atividades, sem

restrição.

Início da

internacionalização

devido à saturação

do mercado

doméstico. Sua

expansão começa a

partir do

conhecimento e

experiência

gradualmente

adquiridos.

Primeiramente

exportação para

países com

distância psíquica

menor e

posteriormente

para países mais

distantes.

Internacionalização

começa lentamente,

empregando seus

recursos de forma

gradual. Primeiro

procura-se a

exportação de

produtos, após o

estabelecimento de

escritórios e

finalmente a criação

de uma unidade de

produção.

Quadro 1 - Questões básicas no processo de internacionalização – modelo de Uppsala

Fonte: elaboração própria, adaptado do modelo de Carneiro e Dib (2007).

A respeito das barreiras enfrentadas pelos países e empresas no processo de

internacionalização e de integração mundial, Ghemawat (2012) aponta que as interações entre

os países do globo não são afetadas apenas pelas fronteiras, mas também pela “lei da

distância”. O autor desenvolveu o sistema CAGE de compreensão de distâncias, o qual se

refere às diferenças ou distâncias culturais, administrativas, geográficas e econômicas entre os

países e pode ser utilizado no processo de tomada de decisão de internacionalização da firma.

A distância cultural está relacionada às diferenças de idioma, etnias, religiões, sistemas

de trabalho, tradicionalismo, insularidade, etc. A distância administrativa diz respeito a

sistemas jurídicos diferentes, conflitos sociais, risco político, economia fechada, falta de um

bloco econômico regional, falta de laços coloniais e de uma mesma moeda em comum, etc. A

distância geográfica refere-se à falta de fronteira terrestre entre os países, distância física,

diferenças climáticas e de fuso horário, ausência de saída para o mar, isolamento e tamanho

geográficos. Por fim, a distância econômica está relacionada com as diferenças entre as rendas

dos consumidores, tamanho econômico dos países, renda per capita baixa, diferença na

disponibilidade de recursos humanos, financeiros e naturais, etc.

“Minha receita fundamental para as empresas é pensar diferente. Não apenas pensar

diferentemente, mas diferente, no sentido de ficarem mais sensíveis e verdadeiramente

receptivas às diferenças locais” (GHEMAWAT, 2012, p. 285). Segundo o autor, é preciso que

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as empresas rejeitem o imperialismo de mercado e abandonem a ideia de se expandir

internacionalmente a todo custo. Respeitar a soberania e a diversidade de cada país e mercado

é fundamental para o sucesso no exterior (GHEMAWAT, 2012).

Diante das diferenças significativas que fazem parte dos países do globo Ghemawat

(2012) define três maneiras as quais podem ajudar os países em suas decisões de como

competir e pelas quais as empresas multinacionais podem desenvolver valor

internacionalmente: as estratégias “AAA” de adaptação, agregação e arbitragem cambial.

As estratégias de adaptação tentam criar ajustes a diferenças internacionais para

aumentar a sensibilidade às características locais. As estratégias de agregação tentam

superar as diferenças internacionais para produzir economias de escala/escopo que

transpassem as fronteiras internacionais. E as estratégias de arbitragem de câmbio

buscam explorar as diferenças, com, por exemplo, comprar barato em um país e

vender caro em outro (GHEMAWAT, 2012, p. 293).

A adaptação das empresas aos países estrangeiros e o aumento da sensibilidade diante

das características locais, faz com que fique mais fácil para as empresas poderem lidar com a

intervenção dos Estados na economia, com o protecionismo, etc. No processo de adaptação,

as empresas podem utilizar-se da estratégia de variação de produtos, serviços, políticas e

metas em cada país (GHEMAWAT, 2012). Porém, por ser uma alternativa cara, é necessário

fazer o uso de outras subestratégias a fim de reduzir os custos da variação. Entre elas, está o

foco em uma região ou segmento de mercado; a externalização de etapas, que “[...] envolve

dividir as atividades entre as várias partes da organização para reduzir o ônus inteiro da

adaptação; por exemplo, pelo uso de joint ventures ou franquias, e até a possibilidade de os

próprios clientes customizarem os produtos ou serviços” (GHEMAWAT, 2012, p. 294); o

design dos produtos e a inovação.

“A agregação – na ausência de padronização absoluta ou de um modelo único para

todos – ainda é importante, pois a maioria das multinacionais tenta utilizar algum elemento de

escala ou escopo entre os mercados para superar as empresas locais” (GHEMAWAT, 2012).

A arbitragem de câmbio, segundo Ghemawat (2012), politicamente tornou-se um tema

delicado no ambiente mundial atual, já que a preocupação em reduzir os desequilíbrios

comerciais globais assim como o aumento da discussão sobre o meio ambiente e o

protecionismo muitas vezes não estão de acordo com esta ideia.

Ghemawat (2012) explica que para empresas menores, a adaptação na maioria das

vezes é essencial, a agregação é uma meta a longo prazo e a arbitragem internacional ainda é

considerada fora do alcance. Já para as grandes multinacionais, o autor recomenda a seleção

de uma combinação das três estratégias, adaptadas a cada setor e a cada finalidade.

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Tanto as teorias de internacionalização, principalmente a da Escola de Uppsala, quanto

o modelo de distâncias CAGE, buscam explicar e orientar a tomada de decisão das empresas

em busca de expandir seu mercado para o exterior. A teoria de Uppsala explica a

internacionalização da firma como um processo de aprendizagem, onde a empresa adquire

conhecimento sobre o mercado que está investindo de forma gradual. A teoria estabelece

também o conceito de cadeia de estabelecimento, pelo qual as empresas investem em

mercados estrangeiros de forma sequencial, e o conceito de distância psíquica, pelo qual

primeiramente as empresas buscariam expandir-se em países parecidos em vários aspectos,

assim como o modelo de distâncias CAGE, que analisa as distâncias culturais,

administrativas, geográficas e econômicas entre os países a fim de servir como base para

orientar a internacionalização das empresas.

2 A INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS ESPANHOLAS: O

CASO DO GRUPO INDITEX

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2.1 O processo de internacionalização de empresas na Espanha

Na maioria dos países desenvolvidos, o processo de internacionalização das empresas

deu-se na década de 1950. Contudo, a Espanha foi um país que ingressou tardiamente neste

movimento devido principalmente à ditadura de Francisco Franco que durou de 1939 a 1976 e

provocou um isolamento internacional e atraso tecnológico no país. O comércio internacional

não era liberalizado até a década de 1980, com exceção de alguns movimentos tímidos na

década de 1960 e 1970, mas foi ser intensificado mesmo a partir do momento em que o país

aderiu à CEE, em 1986, e também ao regime multilateral de comércio da Organização

Mundial do Comércio (OMC). Com abertura dos países em desenvolvimento, especialmente

na América Latina e com as reformas internas que a CEE havia instaurado, os agentes

produtivos e financeiros puderam lançar-se no mercado internacional (LIMA; RUPPERT,

2011).

Bertella e Ruppert (2012) destacam que o processo de internacionalização da Espanha

compreendeu duas fases. A primeira foi de 1993 até o ano 2000, momento em que o país

passou de ser apenas um receptor de investimento externo para atuar fortemente no mercado

internacional. Esse processo teve como principal destino a América Latina. “Um novo ciclo

de investimentos diretos espanhóis iniciou-se em 2003. Neste, o destino dos fluxos de IED

passou a ser, principalmente, as economias europeias - com destaque para o Reino Unido – e

os Estados Unidos” (BERTELLA; RUPPERT, 2012, p. 691).

“Um dos sinais mais claros da internacionalização da economia espanhola é o aumento

do investimento direto no exterior na última década, especialmente na América Latina”

(CHISLETT, 2003, p. 124, tradução própria). Depois da adesão da Espanha à CEE e mais

tarde à União Monetária Europeia, em 1999, a estratégia das grandes empresas mudou

gradualmente saindo da defesa de seu mercado doméstico para a expansão ao exterior. “A

internacionalização apropriadamente foi simbolizada no final dos anos 1990 pela decisão da

gigante das telecomunicações Telefônica de retirar o "de España" de seu nome” (CHISLETT,

2002, p. 124, tradução própria). Assim, o país viu a América Latina como uma extensão

natural de seu mercado doméstico.

Conforme aponta Chislett (2002), as matérias primas que no passado os

conquistadores espanhóis levaram da América Latina para seu país principalmente para

financiar as despesas das guerras na Europa, foram substituídos por investimentos na

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Argentina, Brasil, Chile, México e Peru. “Inundadas com dinheiro durante a década de 1990,

as grandes empresas e os bancos da Espanha [...] foram em uma onda de compras na América

Latina na década de 1990” (CHISLETT, 2002, p. 125, tradução própria).

A Telefônica, ainda como empresa pública, entrou na Argentina em 1991, depois

de haver entrado no Chile ao final dos anos 1980. Tais movimentos foram

acompanhados de uma ligeira retomada de investimentos em intermediação

financeira e atividades comerciais, e em 1994 do IED da Telefônica no Peru. Esse

ciclo se prolongou até os anos de auge, 1999 e 2000, em que o IED espanhol na

região alcançou os níveis mais altos com a aquisição da YPF pela Repsol, na

Argentina, e a expansão do SCH no Brasil, México, Venezuela e do BBVA na

Colômbia e no México, das companhias elétricas – Endesa, Iberdrola e Fenosa – em

grande parte dos países da região, e de Gás Natural (ARAHUETES; HIRATUKA,

2007 p. 290)

Segundo Arahuetes e Hiratuka (2007), a entrada de IED espanhol na América Latina

teve início na década de 1990 e seu apogeu ocorreu a partir de 1996. Assim, a Espanha

adquiriu o posto de grande investidor na região, atrás apenas dos EUA. Conforme explica

Chislett (2002), vários fatores atraíram e estimularam o investimento espanhol na América

Latina. Dois deles econômicos, os quais foram a liberalização e a privatização, que abriram

setores da economia latino-americana que necessitavam de investimento para

desenvolvimento; dois culturais, que foram a língua espanhola em comum (exceto o Brasil,

apesar de grande influência do idioma em escolas e regiões fronteiriças) e as semelhanças

gerais da sociedade, as quais facilitariam o processo de negociação e de adaptação das

empresas espanholas no país; e também o tamanho do mercado latino-americano, pois ao

contrário da Europa, onde a projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) era de uma

diminuição na população, na América Latina a expectativa era de um de forte aumento

(CHISLETT, 2002).

“Tendo estabilizado a sua presença na América Latina, as empresas espanholas

aumentaram a sua presença na Europa, através de pesados investimentos em infraestrutura,

finanças, telecomunicações e energia” (BERTELLA; RUPPERT, 2012, p. 693). Segundo

Arce et al. (2007), diferentes razões podem explicar a redução do IED na América Latina e

sua nova direção para o continente europeu. Entre elas, destacam-se a possível conclusão do

ciclo de vida de parte do IED na região; o descontentamento com a não materialização dos

efeitos positivos das privatizações e do IED; e em resposta a esse descontentamento, o

direcionamento de alguns governos da região para políticas populistas, criando, muitas vezes,

um ambiente hostil para companhias estrangeiras (ARCE et al, 2007). Dentro da Europa, o

Reino Unido destacou-se como um dos maiores receptores de investimento da Espanha, tendo

como principais fatores de atração um mercado atrativo, devido a sua mão de obra flexível e

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altamente qualificada; o consumo interno dinâmico; e marketing forte (BERTELLA;

RUPPERT, 2012).

As empresas espanholas optaram pelo IED por algumas razões, as quais se destacam o

deslocamento de suas atividades, movendo parte de sua produção para o exterior a fim de

produzir com menores custos e assim, vender em melhores condições no mercado espanhol; a

busca por know-how e novas tecnologias não acessíveis na Espanha; e a busca por economias

de escala em mercados maiores, o que geraria mais rentabilidade e mais competência para a

empresa em nível global. Segundo Bertella e Ruppert (2012), as empresas espanholas

partiram para a internacionalização principalmente por três grandes motivos:

[...] i) os mercados internos das economias estrangeiras eram (e são) vistos como

formas de compensar a queda de lucros no mercado doméstico espanhol após o

acirramento da competição internacional iniciada com a abertura comercial e

financeira em 1993; ii) saturação do mercado espanhol; e iii) o perigo iminente de

aquisições de empresas espanholas com a abertura comercial e financeira, o que fez

com que essas mesmas empresas utilizassem a expansão para o exterior como

estratégia de defesa (BERTELLA; RUPPERT, 2012, p. 693).

Conforme Ansotegui et. al (2008), as principais dificuldades reportadas pelas

empresas espanholas no seu processo de internacionalização podem ser agrupadas em três

grandes fatores. A falta de conhecimento e a dificuldade de compreensão dos países e

mercados de destino em relação à Espanha, que aumentariam quanto maior fosse a diferença

cultural, diferença econômica e diferença administrativa; a escassez de profissionais técnicos

e dirigentes qualificados tanto nos países de destino quanto na Espanha, para apoiar o

processo de internacionalização; e a insuficiência de recursos financeiros, vinculados com a

falta de dimensão empresarial no caso das pequenas e médias empresas e com o fato de que a

internacionalização é uma estratégia empresarial de médio a longo prazo.

O governo da Espanha contribuiu com a internacionalização das empresas no país

através de apoio estatal às operações comerciais e execuções de projetos no exterior, tendo

como principal objetivo reduzir o custo dos investimentos diretos em diferentes mercados

(BERTELLA; RUPPERT, 2012). Mas isso não quer dizer que esse processo tenha sido

comandado exclusivamente pelo Estado. “Pelo contrário, tratou-se de um movimento

claramente liderado pelas estratégias das próprias empresas – em especial as privadas – mas

com guidance de políticas públicas” (LIMA; RUPPERT, 2011, p. 114).

Pode-se dizer que a ação do Estado para apoiar a internacionalização das empresas

ocorreu de duas formas. A primeira, por intermédio do controle das reformas econômicas

ocorridas no país desde os anos 1980, tendo em vista a dificuldade de manejar grande parte

das políticas macroeconômicas no âmbito; e a segunda forma através de apoio às operações

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comerciais e execuções de projetos no exterior. O principal objetivo deste segundo apoio foi o

de reduzir o custo dos investimentos diretos em diferentes mercados. Para isso, Menzana

(2002), afirma que foram estabelecidas medidas com o objetivo de cobrir os riscos políticos

destas operações, criar fundos parcialmente públicos de investimento direto e facilitar o

crédito. Bertella e Ruppert (2012) também destacam algumas medidas desse apoio do governo

espanhol para as operações das empresas no exterior: instrumentos institucionais,

informativos, de segurança e financeiros.

Dentre os instrumentos institucionais usados para facilitar a burocracia nos

investimentos externos, estão alguns acordos, os quais se destacam: os tratados para evitar a

dupla tributação sobre as pessoas físicas ou jurídicas residentes em um ou mais países que

foram firmados entre a Espanha e mais 45 países (BERTELLA; RUPPERT, 2012); acordos

bilaterais nos quais “[...] a Espanha cancela uma parte da dívida de um devedor com a

Espanha mediante a concordância do país devedor em utilizar os recursos liberados em

projetos que possam contribuir para seu desenvolvimento econômico e social do país

devedor” (BERTELLA; RUPPERT, 2012, p. 695); acordos de promoção e proteção recíproca

de investimentos (APRIS), nos quais 55 países fazem parte desses tratados bilaterais

recíprocos de investimento orientados a minimizar os riscos políticos dos países por meio do

reconhecimento de obrigações e garantias; e programas de dedução fiscal.

Na criação de instrumentos informativos, a Espanha colabora com as empresas

principalmente por meio do Instituto Español de Comercio Exterior (ICEX), organismo

pertencente à Secretaria do Estado de Comércio do país e que presta serviços às empresas

espanholas a fim de facilitar seus ingressos nos mercados estrangeiros. O ICEX possui

publicações periódicas, fóruns, seminários, feiras e um portal da rede de oficinas econômicas

e comerciais da Espanha no exterior com o objetivo de reduzir ao máximo a assimetria de

informações para as empresas espanholas e proporcionar a expansão do processo de

internacionalização (BERTELLA; RUPPERT, 2012).

Em seus instrumentos de segurança, o governo espanhol lançou duas políticas de

seguro para o processo de internacionalização. A primeira é a Compañía Española de Seguros

de Crédito a la Exportación (CESCE), que “[...] cobre quatro tipos de riscos políticos que

podem afetar os investimentos diretos no exterior – relacionados ao direito de propriedade,

falta de transparência (bloqueio de remessas), ruptura de compromissos estabelecidos devido

a guerras ou revoluções no país receptor de investimentos” (LIMA; RUPPERT, 2011, p. 132).

A segunda é a Multilateral Investment Guarantee Agency (MIGA), agência ligada ao Banco

Mundial que “oferece garantias aos investimentos e empréstimos em termos de risco político

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e ajudas a países em desenvolvimento para atrair investimentos privados” (LIMA; RUPPERT,

2011, p. 132).

Por fim, em seus instrumentos financeiros de apoio a internacionalização das empresas

espanholas, o governo disponibiliza diversos mecanismos de fomento à inserção externa

espanhola via exportações e IED. “Tais recursos originaram-se primordialmente do ICO

(Instituto de Crédito Oficial), do COFIDES (Compañía Española de Financiación del

Desarrollo) e, em menor grau, do Instituto Espanhol de Comércio Exterior (ICEX)”

(BERTELLA; RUPPERT, 2012, p. 696). Estes instrumentos são aplicados de acordo com a

fase da internacionalização em que a empresa se encontra.

Durante a última década do século XX, muitas empresas espanholas passaram a atuar

no mercado internacional. Conforme Gullén (2005), no setor bancário, o BBVA e o Grupo

Santander tornaram-se as maiores instituições financeiras na América Latina, estiveram entre

as cinco maiores da zona do euro e entre as 25 maiores do mundo. Enquanto isso, a

Telefônica tornou-se a 11º maior provedora de telecomunicações e a Repsol YPF a 9ª maior

companhia de combustível. Em relação aos bens de consumo, a Freixenet tornou-se a maior

produtora de vinhos espumantes e a Inditex uma das empresas de vestuário líderes na

fabricação e design (GUILLÉN, 2005).

Em relação ao IED produzido pela Espanha, conforme mostra o gráfico 1, em termos

de estoque, o aumento do IED em outros países do ano de 1980 ao ano de 1990 passou de

US$ 1,93 bilhão para US$ 15,65 bilhões. No ano 2000 o investimento acumulado foi de US$

129,19 bilhões e o ano de 2013 foi fechado com o valor de US$ 634,22 bilhões (UNCTAD,

2014). Em termos de fluxo, no ano de 1980 o IED espanhol foi de US$ 310,77 milhões, em

1990 o investimento foi de US$ 3,34 bilhões, no ano 2000 de US$ 58,21 bilhões, e em 2013

de US$ 26,03 bilhões (UNCTAD, 2014).

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Gráfico 1 - Investimento Externo Direto espanhol em fluxo e estoque (em bilhões de dólares)

Fonte: elaboração própria, dados extraídos da Unctad (2014).

Depois de décadas de isolamento internacional, atraso e ditadura, a Espanha iniciou o

século XXI possuindo um grau relativamente alto de integração com o resto do mundo, uma

economia forte e uma democracia consolidada (GUILLÉN, 2005). Em 2013, a o país teve três

CTNs entre as 100 maiores empresas transnacionais do mundo classificadas por ativos

estrangeiros (UNCTAD, 2013). A Iberdrola ficou em 24º lugar, com ativos no exterior de

US$ 108,67 bilhões de um total de ativos de US$ 127,23 bilhões; a Telefônica SA ficou em

39º com ativos no exterior de US$ 87,15 bilhões de um total de US$ 163,65 bilhões; e a

Repsol YPF SA ficou em 45º com ativos no exterior de US$ 66,01 bilhões de um total de US$

89,61 bilhões.

2.2 A indústria têxtil, o grupo Inditex e a Zara

O processo de manufaturar tecidos é uma das mais velhas tecnologias do homem. As

indústrias têxtil e de vestuário destacam-se como estimulador da criação de outras indústrias,

entre as quais de máquinas têxteis, de fibras artificiais e sintéticas, de embalagens, etc. “Uma

vez que a tecnologia de produção é relativamente fácil de adquirir e operar, dadas as baixas

economias de escala, essas indústrias são muito importantes nas exportações de produtos

-100

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12

Fluxo de saída do IED espanhol

Estoque de IED espanhol no exterior

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manufaturados dos países em desenvolvimento” (HELD et al., 1999, p. 266, tradução

própria).

A automação da indústria têxtil coincidiu com a Revolução Industrial, quando

as máquinas, que até então funcionavam a partir da força humana ou animal, passaram a ser

substituídas por máquinas a vapor e, mais tarde, por motores elétricos. A indústria é dividida

basicamente em fiação, tecelagem, malharia, beneficiamento de tecidos e confecção, podendo

ser uma indústria verticalizada, com todos os processos, ou ainda ter somente uma ou algumas

fases da produção. O início de sua cadeia produtiva encontra-se nos produtores de matérias-

primas, insumos e nos fabricantes de máquinas e equipamentos têxteis. Na fase final está o

comércio de venda ao consumidor.

Durante mais de 30 anos, o comércio de vestuário foi enquadrado em nível mundial

por regimes especiais: primeiro, o Acordo de Curto Prazo relativo ao Comércio

Internacional de Têxteis de Algodão – STA (Short Term Arrangement Regarding

International Trade in Cotton Textiles), de 1961, depois o Acordo de Longo Prazo

Relativo ao Comércio Internacional de Têxteis de Algodão – LTA (Long Term

Arrangement Regarding International Trade in Cotton Textiles), que vigorou entre

1962 e 1973, e, finalmente, o Acordo Multifibras (AMF) que entrou em vigor a 1 de

Janeiro de 1974 e durou até 31 de Dezembro de 1994 (RAMOS, 2004, p. 49).

O Acordo Multifibras de 1974 havia colocado o comércio de produtos têxtil fora do

regime comum do GATT. Então, com o fim da Rodada do Uruguai em 1994, além da criação

da OMC, entrou em vigor o Acordo sobre os Têxteis e o Vestuário (ATV). A respeito do

ATV,

[...] constitui-se em um documento que disciplinou a incorporação dos produtos

têxteis e de vestuário nas regras do comércio de bens na OMC, definindo critérios

para as etapas que deveriam ser seguidas pelos países-membros e para a eliminação

das quotas de importação até 1º de janeiro de 2005 (AMARAL, 2006, p. 03).

Assim, a indústria do vestuário que era caracterizada "[...] tradicionalmente pela sua

forte dependência de mão-de-obra, pelos baixos custos salariais e por ser uma indústria

composta majoritariamente por pequenas e médias empresas (PME)" (RAMOS, 2004, p. 49),

devido a alterações como a crescente liberalização e trocas internacionais do mercado

mundial têxtil, sofreu mudanças que configuraram um novo mapa no comércio internacional

do setor.

Segundo HELD et al. (1999), os salários dos funcionários nos setores têxtil e de

vestuário são responsáveis por uma grande parte dos custos totais das indústrias, porém, as

condições de demanda podem variar conforme as mudanças na moda. “Empresas têxteis e de

vestuário nos países desenvolvidos têm respondido a isto através da subcontratação de etapas

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do processo de produção para empresas independentes, muitas vezes em regiões em

desenvolvimento” (HELD et al., 1999, p. 267, tradução própria). As empresas européias

buscavam isto primeiramente em países mediterrâneos ou ao norte da África, as americanas

buscavam em países do Caribe e da América Latina e as empresas japonesas na Ásia oriental.

Com o passar do tempo a China também se tornou um grande fornecedor global.

Dentro da indústria têxtil espanhola, o grupo Inditex, fundado em 19891 por Amancio

Ortega, destaca-se por ser um dos maiores grupos de distribuição de moda mundial. A Inditex

foi criada com o intuito de agrupar todas as etapas de produção, distribuição e

comercialização da Zara, que já possuía sua primeira loja desde 1975 (MARTÍNEZ, 2012).

Com o passar dos anos, o grupo foi adquirindo e construindo novos formatos comerciais -

Zara, Pull and Bear, Massimo Dutti, Bershka, Stradivarius, Oysho, Zara Home e Uterqüe –

conforme mostra o quadro 2.

Zara

- mais de 2026 lojas em mais de 88 países

- fundada em 1975

- produção baseada na demanda dos clientes

- para mulheres, homens e crianças

- web site: www.zara.com

Pull&Bear

- mais de 870 lojas em 64 países

- incorporada em 1991

- roupas casuais e preços razoáveis

- para homens e mulheres jovens

- web site: www.pullbear.com.br

Massimo Dutti

- 680 lojas em 64 países

- incorporada ao grupo Inditex em 1991

- moda sofisticada para homens e mulheres

- web site: www.massimodutti.com

Bershka

- 973 lojas em 67 países

- fundada em 1998

- roupas de tendência para adolescentes e jovens

- web site: www.bershka.com

Stradivarius

- 877 lojas em 58 países

- incorporada em 1999

- novas tendências para mulheres jovens

- web site: www.stradivarius.com

Oysho

- 556 lojas em 40 países

- fundada em 2001

- sofisticadas e modernas lingeries

- web site: www.oysho.com

Zara Home

- 408 lojas em 45 países

- fundada em 2003

- últimas tendências em design para casas

- web site: www.zarahome.com

Uterqüe

- 67 lojas em 12 países

- fundada em 2008

- moda de acessórios sofisticados de alta qualidade e

preços atrativos

- web site: www.uterque.com

Quadro 2 - Os oito formatos comercias da Inditex

1 A Inditex já existia desde 1963, operando sob o nome de “GOA”. Posteriormente, em 1976, foi denominada

“GOASA”, até que em 1989 o nome Inditex foi incorporado (MARTÍNEZ, 2012).

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Fonte: Elaboração própria, dados extraídos da Inditex (2014).

A década de 1990 foi de grande expansão internacional da Inditex e principalmente da

Zara, que chegou às maiores cidades da Europa, no Extremo Oriente na América Latina

Porém, “atento ao fato de que uma única marca nunca agradaria todos os consumidores,

Amancio decidiu não se contentar apenas com a Zara, que tem como público-alvo mulheres

de classe média e gera 78% de sua renda” (O‟SHEA, 2014, p. 54).

Em 1991, ele criou a Pull&Bear, oferecendo roupas casuais para um público

jovem, de menos de 25 anos de idade. Também comprou uma participação na

Massimo Dutti, destinada a consumidores de classe média alta de ambos os sexos e,

em cinco anos, adquiriu integralmente a marca. Em 1998, visando atender as

necessidades de adolescentes freqüentadores de „baladas‟, nasceu a Bershka, com

um estilo street hip-hop, divertido, para garotas que não querem se vestir como suas

mães ou irmãs mais velhas. No ano seguinte, comprou a Stradivarius para competir

com a Bershka, controlando assim duas das maiores marcas do mercado adolescente

(O‟SHEA, 2014, p. 54).

A Pull&Bear tem seu enfoque nos jovens urbanos e suas lojas possuem uma decoração

que une uma mobília moderna com objetos reciclados, tornando-se um ponto de venda que

chame a atenção de seu público-alvo (MARTÍNEZ, 2012). O formato comercial também se

destacou no ano de 2011 por sua preocupação com o meio ambiente através de programas de

conscientização e eventos além da abertura de uma loja eco eficiente. “Trata-se da maior loja

da cadeia, que consome 30% menos de energia a respeito do consumo médio anual e uma loja

convencional e diminui em 40% o consumo de água” (MARTÍNEZ, 2012 p. 165, tradução

própria).

A Massimo Dutti foi fundada em 1985 e adquirida pela Inditex em 1991. “Oferece um

desenho de moda internacional de qualidade, para homem, mulher e criança, com uma

variedade de linhas que vão desde as mais urbanas e sofisticadas até a linha esportiva

(MARTÍNEZ, 2012, p. 166, tradução própria). Conta com uma loja online e com uma

plataforma de comunicação na Internet chamada de “MD Journal”, onde disponibiliza dicas,

eventos culturais e notícias para seus clientes (MARTÍNEZ, 2012).

A Bershka é a cadeia com a proposta comercial mais jovem da Inditex e a que possui

maior presença internacional depois da Zara. Suas lojas tendem a ser um ponto de encontro

entre a moda, a música e a arte de rua. Além disso, também demonstra preocupação

ambiental, abrindo em 2011 uma loja eco eficiente na Alemanha (MARTÍNEZ, 2012).

A Stradivarius foi adquirida pela Inditex em 1999. A cadeia aposta em iniciativas de

ações de integração social, através da Internet, como a revista online “Stradivas Magazine”,

que oferece dicas de moda e estilo de vida além do catálogo de roupas da loja. Em 2011

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aumentou em 12% suas vendas em relação ao ano anterior e alcançou 871 milhões de euros

(MARTÍNEZ, 2012).

A Oysho oferece além de modernas lingeries, roupas casuais, pijamas e acessórios.

Em 2011 renovou seu slogan, adotando uma imagem mais equilibrada e séria e transformou

suas lojas em pequenas butiques simples e acolhedoras (MARTÍNEZ, 2012). Além disso,

também possui uma linha de roupas esportivas, a “Gym Oysho”, a qual foi lançada em 2011

em parceria com a marca Adidas. No mesmo ano, a Oysho acompanhou o investimento do

grupo Inditex na Ásia com sua entrada na China, onde abriu 17 lojas (MARTÍNEZ, 2012).

A Zara Home, especializada em artigos para a casa, possui ênfase especial na linha

têxtil de cama, mesa e banho além de possuir objetos de decoração e móveis. Em 2007 foi a

primeira cadeia do grupo a lançar sua loja online, antes mesmo da Zara, que teve seu

lançamento em 2010 e dos outros formatos em 2011. No ano de 2011 fechou suas vendas em

317 milhões de euros, 8% a mais do que no ano anterior e teve grande número de abertura de

estabelecimentos, com 26 novas lojas em 14 países (MARTÍNEZ, 2012).

A Uterqüe foi o ultimo formato comercial criado pela Inditex. Em 2011 alcançou 68

milhões de euros em vendas e levou suas lojas para zonas comerciais mais seletas como, por

exemplo, em Palma de Mallorca e na cidade de Casablanca no Marrocos.

A Inditex ainda conta com a Lefties, que faz parte do grupo, mas não é considerada

uma marca independente e sim uma parte da Zara. A Lefties iniciou suas atividades como um

outlet da Zara e aos poucos foi ganhando autonomia, contando atualmente com uma coleção

de roupas própria e de preços acessíveis (MARTÍNEZ, 2012).

O grupo Inditex se sustenta sobre três eixos: aumento do volume de vendas em

cada uma de suas lojas, abertura de novos locais e criação de outros conceitos de

negócio que complementem aos que já existem a cada momento, e que, além disso,

sirvam para ampliar sua base objetiva de clientes (MARTÍNEZ, 2012, p.161,

tradução própria).

Atualmente, a Inditex está presente em 88 países nos cinco continentes. Possui mais de

6.460 lojas e mais de 128 mil empregados (INDITEX, 2014). Ainda segundo dados da Inditex

(2014), o grupo tem a maior parte de suas lojas (4.666) localizada na Europa, com um

percentual de 72% do total de lojas do grupo. Logo após vem a Ásia com 1.181 lojas e 18%

do total, em seguida as Américas com 570 lojas e 9%, África com 34 estabelecimentos

correspondentes a 1% do total e a Oceania com nove lojas e uma porcentagem pequena de

0,13% sobre o total, conforme mostra o Gráfico 2. O grupo figura na Bolsa de Valores

espanhola desde 2001, quando realizou uma oferta pública de venda de ações que alcançou

uma demanda de ações maior do que 26 vezes o volume ofertado (MARTÍNEZ, 2012).

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Gráfico 2 – Percentual de lojas da Inditex por continente.

Fonte: elaboração própria, dados extraídos da Inditex (2014).

A Zara é considerado o formato comercial mais importante da Inditex. Entre as

décadas de 1970 e 1980, período da fundação da Zara, o setor têxtil espanhol era muito

importante especialmente na região da Galicia, pobre em relação à maioria das outras regiões

da Espanha, porém no vestuário a região se destacava, pois desde a época do Renascimento,

os galegos eram alfaiates da aristocracia e a Galicia era sede de muitos ateliês de vestuário

(GHEMAWAT; NUENO, 2006). Nessa região também, a maioria das mulheres eram donas

de casa que conheciam as técnicas de costura e tinham interesse em trabalhar mesmo por

baixos salários, ao contrário das mulheres dos grandes centros econômicos do país como a

região da Cataluña, onde as mulheres tinham mais condições de estudo e, portanto, já

trabalhavam em outras indústrias e empresas com salários superiores.

Estas foram importantes vantagens para Amancio Ortega, fundador da empresa, no

início da produção de suas peças de roupas, pois ao contratar as donas de casa como

costureiras, seus principais concorrentes passaram a serem somente os modistas da época e as

mães que costuravam para as filhas em suas próprias casas. A filosofia do criador da Zara era

baseada na ideia de que a demanda norteia a fabricação das roupas, ou seja, a empresa produz

e vende o que as mulheres desejam vestir e aí havia mais uma vantagem encontrada na

72%

18%

9%

1%0%

Europa

Ásia

Américas

África

Oceania

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Espanha, onde o estilo de roupas tende à homogeneidade, diferentemente das capitais da

moda como Paris ou Milão, por exemplo, onde o estilo de roupas tende à diferenciação e

inovação.

Um dos fatores de destaque da Zara é o seu poder de tornar-se regional dentro de um

ambiente global, ou seja, partes de suas coleções sempre são adaptadas para determinados

países, porém a empresa também fabrica roupas de uma mesma linha que são distribuídas

mundialmente em todas as suas lojas. “Aproximadamente a metade dos seus produtos é

produzida em suas próprias estruturas, sendo que os corantes e cerca de 40% dos tecidos são

adquiridos em outras fábricas do grupo Inditex” (JOÃO et al., 2010, p. 11). As lojas não têm

autonomia para determinar os preços das roupas, que já saem da fábrica etiquetadas e tudo

isso permite a empresa manter um controle maior da produção e estoque, o que não seria

possível se dependesse de fabricantes externos.

A Zara faz com que seus produtos pareçam ser sempre diferentes aos olhos dos

clientes, que orientam suas ações. A empresa criou o conceito de fast fashion, ou seja, moda

rápida, o qual produz roupas de forma rápida e contínua, renovando as prateleiras de suas

lojas quinzenalmente. As roupas saem da fábrica e são distribuídas nas lojas ao redor do

mundo geralmente por caminhão ou avião, fazendo com que os clientes frequentem a loja

semanalmente e comprem os produtos rapidamente, pois sabem que não o encontrarão

novamente à venda após alguns dias. “Enquanto os outros players necessitam em média de

seis meses para o design e outros três meses para fabricar e colocar os novos produtos nos

pontos de venda, a Zara consome, em todo seu processo, aproximadamente 15 dias” (JOÃO et

al., 2010, p. 10). Seu poder de atração reflete na novidade dos lançamentos, na criação de uma

sensação de escassez e num ambiente atrativo com lojas em locais privilegiados e muito bem

cuidados a fim de que o cliente sinta-se bem na hora de fazer suas compras.

Seguindo a filosofia de seu fundador, de que a demanda determina o que vai ser

produzido e vendido nas lojas, os clientes são ouvidos pelas equipes de venda e suas

necessidades são passadas adiante para as equipes de desenho e de compra, as quais fazem

com que cada nova coleção supere as expectativas dos clientes. Algumas das principais fontes

de criação das coleções são as próprias tendências da moda no mercado e seus clientes. A

empresa possui profissionais que viajam por países e cidades em busca de inspirações em

diferentes lojas e também no próprio estilo da população como, por exemplo, nas cidades de

Nova York, Paris, Londres e Milão (O‟SHEA, 2014).

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O conceito utilizado na produção de roupas pela Zara é o de just in time, o qual várias

outras empresas têxteis no mundo inteiro passaram a seguir. Operar em just in time na

indústria da moda significa

“[...] uma forma de operar que traz mais benefícios do que desvantagens: se produz

grande parte das roupas conforme a demanda do momento e somente o que vai ser

vendido; quase não há custos de armazenamento por praticamente não contar com

estoques; se um produto não tem saída, o problema é menor; se renova

completamente a maior parte das roupas em poucas semanas e a produção de cada

peça é limitada” (O‟SHEA, 2014, p. 184).

A Zara possui um sistema vertical integrado, no qual estão reunidas todas as fases do

processo de moda como design, manufatura e logística. “A integração vertical permite reduzir

os prazos e dispor de uma grande flexibilidade com uma redução de estoques a um nível

mínimo, diminuindo ao máximo o „risco moda‟” (JOÃO et al., 2010, p. 10). A empresa

delega apenas a confecção de peças básicas à fornecedores externos.

Às vezes os tecidos e os desenhos são mandados e a peça finalizada é recolhida;

em outras situações, o design e as especificações da peça são enviados para ser

confeccionada e a Inditex poder comprá-la de um fornecedor, frequentemente na

Ásia, já que os custos são mais competitivos lá (O‟SHEA, 2014, p. 170)

Possui um rápido e eficiente centro de distribuição, grande conhecimento do processo

de gestão de sua cadeia e baixo investimento em marketing. “A empresa gasta em média 0,3%

da sua receita em marketing, valor considerado muito baixo quando comparado com a

concorrência, que gasta em média de 3% a 4%” (JOÃO et al., 2010, p. 10). A única forma de

marketing utilizada é a escolha criteriosa da localização da loja e o estilo de sua fachada. “O

ponto de venda é rigorosamente escolhido, sendo premissas grandes centros comerciais no

varejo e localização do público-alvo, sejam em shoppings centers de consumidores com alto

poder aquisitivo, ou ruas de comércio sofisticado (flagships)” (JOÃO et al., 2010, p. 10).

Primeiramente em direção à cidade de Porto (Portugal) em 1988, a expansão

internacional da Zara foi rápida e fez com que ela obtivesse mais mercado internacional do

que grandes cadeias de vestuário (JOÃO et. al., 2010). “A Zara escolhe os países, para

expansão de sua marca, que possuam mercado semelhante ao espanhol, e tenha um nível

mínimo de desenvolvimento econômico, o que facilita a sua entrada” (JOÃO et al., 2010, p.

12). Atualmente, a empresa conta com mais de 2000 lojas localizadas em mais de 88 países. A

Europa é o continente onde a Zara possui mais estabelecimentos, com um total de 1.324 lojas.

Em seguida vem o continente asiático com 437 lojas, seguido das Américas com 244, a África

com doze e a Oceania com nove lojas.

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Para analisar a oportunidade de entrada em um país estrangeiro, a equipe comercial da

Zara faz análises macro e microeconômicas (JOÃO et. al., 2010). A análise macro está focada

em variáveis macroeconômicas locais e em estimativas futuras de evolução que podem afetar

as lojas como, por exemplo, tarifas, impostos, salários e alugueis. A análise microeconômica

está focada na informação específica do setor sobre demanda local, canais, localizações de

espaços disponíveis e concorrentes. A obtenção de informação da concorrência inclui os

formatos de empresas que competem diretamente com a Zara, suas políticas, habilidades e

também os níveis de preço. As estratégias utilizadas na Zara são transferidas para as outras

marcas da Inditex e todas compartilham de uma mesma filosofia que é aplicada em suas

diferentes estruturas organizativas (MARTÍNEZ, 2012, p. 161, tradução própria).

Devido ao seu modelo de negócio com alto grau de integração vertical, apesar do

sucesso, a Zara e de uma forma geral, o grupo Inditex, não estão livres dos riscos de mercado,

pois este sistema exige um bom nível de inovação e produção eficiente, devido ao aumento da

demanda e dos custos da mão-de-obra. “O principal desafio da empresa atualmente é manter a

agilidade, mesmo estando em crescimento exponencial, porque é isso que proporciona sua

capacidade de distribuição e excelentes retornos financeiros” (O‟SHEA, 2014, p. 172).

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3 A ESTRATÉGIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA ZARA

3.1 A internacionalização da Zara sob a ótica da Escola de Uppsala e do sistema CAGE

de compreensão de distâncias

“A expansão internacional da Zara começou em 1988 com a abertura de uma loja na

cidade do Porto, norte de Portugal, onde as semelhanças culturais incluem a língua galega de

origem comum” (JOÃO et al., 2010, p. 12). Este fato está de acordo com o modelo da Escola

de Uppsala, o qual afirma que as empresas começam sua internacionalização em direção à

países próximos, como é o caso de Espanha e Portugal, e com uma relação inversa à distância

psíquica, ou seja, com cultura, língua, formas de negociação, etc. parecidos. O modelo

também afirma que as empresas começariam sua internacionalização a partir do momento em

que seus mercados domésticos estivessem saturados e seu limite de expansão doméstica

atingida. A Zara também se enquadra neste pressuposto, pois iniciou sua internacionalização

após estar presente nas principais cidades da Espanha.

O conhecimento e comprometimento com o mercado externo, expostos pela Escola de

Uppsala, que estariam diretamente ligados à decisão de comprometimento dos recursos e às

atividades da empresa também podem ser aplicados no processo de internacionalização da

Zara. Depois da expansão para Portugal, a empresa foi em direção aos Estados Unidos, França

e México, demonstrando maior conhecimento de mercados e maior comprometimento no

processo de inserção em países estrangeiros. “[...] Zara foi a primeira cadeia a chegar a novos

países e acumular uma experiência que facilitou a posterior implantação do resto dos

conceitos” (MARTÍNEZ, 2012, p. 99, tradução própria). Isso permitiu também a expansão

dos outros formatos comerciais da Inditex, que aproveitaram a experiência acumulada pela

Zara em cada país nos seus processos de internacionalização.

“O grau de comprometimento aumenta conforme os recursos são integrados com as

outras partes da firma e seus valores derivam da integração dessas atividades.

Assim, como uma regra, a integração vertical significa um grau de

comprometimento mais alto do que um investimento estrangeiro conglomerado”

(JOHANSON;VAHLNE, 1977, p. 27, tradução própria).

A Inditex é a única das grandes empresas no setor do vestuário com uma completa

organização vertical reunindo todas as fases do processo de produção de suas roupas como

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design, manufatura e logística. A Zara entra nesse contexto e está de acordo com a Escola de

Uppsala, diferenciando-se de grandes marcas como a americana GAP e a sueca H&M que

fazem o design de suas roupas, mas não manufaturam e também a italiana Benetton que

desenha e manufatura, mas seus produtos de venda pertencem a outros franqueados

(O‟SHEA, 2014).

Quanto às formas de entrada nos diversos países em que a Zara atua, “[...] há

aderência ao modelo de Uppsala, seguindo o modelo incremental de internacionalização nos

passos iniciais e seguindo a lógica da cadeia de estabelecimento

(conhecimento/comprometimento) com os mercados via utilização de diversos modos de

entrada [...]” (JOÃO et al. 2010, p. 16). Apesar de não passar pelos quatro estágio da cadeia

de estabelecimento expostos pela teoria, a empresa optou por diferentes formas de entrada,

conforme o perfil e necessidade de cada novo país.

No caso da Zara, “ao contrário da Espanha, onde todas as lojas da marca são

adquiridas e geridas pela própria empresa, três diferentes modos de entrada no mercado são

usados internacionalmente: subsidiárias próprias, joint ventures e franchising” (JOÃO et. al.,

2010, p. 13). Normalmente, a empresa utiliza apenas um destes modos de entrada em cada

país que está presente.

De acordo com o sistema CAGE de compreensão de distâncias, culturalmente, países

que falam a mesma língua negociam mais facilmente. “Mesmo com um bom intérprete (e

caro, portanto), superar uma barreira lingüística ainda é muito difícil, especialmente quando

se trata de sutilezas como estabelecer confiança, oferecer críticas construtivas e motivar

pessoas” (GHEMAWAT, 2012, p. 50). Em um mundo com cerca de 200 países, a

probabilidade de que dois países compartilhem da mesma língua é de apenas 10%

(GHEMAWAT, 2012). No início de sua expansão internacional, a Zara obteve sucesso por

começar seus investimentos na cidade de Porto (Portugal), onde o galego-português foi o

idioma ancestral comum às línguas galega (da região espanhola da Galícia) e portuguesa.

Administrativamente, os governos estão cada vez mais participando e interferindo nas

economias nacionais, e “dada a diversidade de sistemas políticos e das políticas

implementadas, as distâncias administrativas ou barreiras entre países estão aumentando”

(GHEMAWAT, 2012, p. 287). A adesão de países a um mesmo bloco econômico como, por

exemplo, o Tratado Norte – Americano de Livre Comércio (NAFTA) ou a UE, ajuda na

eliminação de barreiras formais de comércio no momento da negociação. “Apenas 11% de

todos os pares de países possíveis envolvem participação em um mesmo bloco econômico”

(GHEMAWAT, 2012, p. 50). Há também os laços colonizadores entre os países, que podem

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significar que eles possuem semelhanças em seus sistemas jurídicos, o que também facilitaria

o comércio. O terceiro país para o qual a Zara se expandiu foi a França, que assim como

Portugal, pertence ao mesmo bloco econômico (UE), abrindo uma loja em Paris em 1990.

Segundo Martínez (2012), a Europa, tanto ocidental quanto do leste, ainda é uma área de

prioridade no crescimento dos formatos comerciais da Inditex, incluindo a Zara e é onde a

empresa ainda consegue ver muitas oportunidades de crescimento e de lucratividade.

Geograficamente, conforme aponta Ghemawat (2012), apenas 2% de todos os pares de

países possíveis tem uma fronteira terrestre comum, o que facilitaria a logística do comércio.

O primeiro país estrangeiro que a Zara entrou foi Portugal, o qual possui fronteira terrestre

com a Espanha. O segundo país foi os EUA, o qual não se adéqua ao pressuposto da distância

geográfica, mas logo depois, a empresa voltou sua atenção para a Europa, levando mais uma

vez sua loja para a França, país no qual também possui fronteira terrestre com a Espanha.

Atualmente, depois de forte expansão no continente europeu, a atenção da empresa está

voltada para o continente asiático. “O crescimento na Ásia é estratégico para a Inditex e

constitui – com a Europa – a prioridade na expansão da companhia” (MARTÍNEZ, 2012, p.

98, tradução própria).

Ainda no aspecto geográfico, as diferenças climáticas também podem afetar na venda

de produtos como roupas e alimentos e as diferença de fuso horário podem atrapalhar no

momento da negociação. Em 2011 a Zara entrou na Austrália, África do Sul e Peru, todos

países do hemisfério sul, reforçando sua estratégia global e alcançando presença nos cinco

continentes (MARTÍNEZ, 2012). Para adaptar-se às diferenças climáticas entre esses países e

os países do norte, a Zara conta com uma equipe de design que cria roupas específicas e

adequadas para cada parte do globo.

A respeito da distância econômica,

os preços mais elevados fora da Espanha implicam um posicionamento um pouco

diferente da Zara no resto do mundo, particularmente nos mercados emergentes. É o

caso do mercado brasileiro com posicionamento bem superior ao de concorrentes

externos como a cadeia holandesa C&A. Na Espanha, cerca de 80% dos espanhóis

podem pagar por produtos da Zara. No México, por razões culturais e econômicas a

clientela da marca é mais restrita, apenas a classe alta e a classe média possuem

condições financeiras de comprar Zara. Assim também ocorre com grande parte dos

países da América do Sul (JOÃO et. al., 2010, p. 13).

Ghemawat (2012) afirma que este tópico é relativamente peculiar e complexo e que

algumas distâncias econômicas são menos claras. Porém, assim como ocorre com a relação

dos outros componentes da análise CAGE, a distância econômica também reduz as interações

econômicas entre os países.

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As empresas que não respeitam a lei da distância têm desempenhos pífios e

infligem danos colaterais à sociedade como um todo. As empresas com uma

compreensão mais refinada das diferenças podem se sair melhor tanto de um ponto

de vista público quanto privado. [...] Se as empresas respeitam as diferenças de

verdade, elas podem melhorar seu desempenho de modos que também ajudam a

contribuir para a sociedade em geral, promovendo um clima de confiança que abre

caminho para mais integração no futuro e sufoca as pressões protecionistas

(GHEMAWAT, 2012, p. 285-286).

Conforme mostra o quadro 3, a Zara iniciou sua internacionalização oscilando entre

países com altas e baixas distâncias CAGE. Primeiramente expandiu-se para seu país vizinho,

Portugal, o qual possui distâncias cultural, administrativa, geográfica e econômica pequenas.

O segundo país foi os EUA, com grande distância cultural, administrativa, geográfica e

distância econômica média. O terceiro país na ordem de internacionalização da Zara, a

França, apresenta distâncias cultural e econômica médias e distâncias administrativa e

geográfica baixas. O quarto país, o México, possui apenas distância cultural média e o

restante alta.

País Distância Cultural Distância

Administrativa

Distância

Geográfica

Distância Econômica

Portugal Baixa Baixa Baixa Baixa

EUA Alta Alta Alta Média

França Média Baixa Baixa Média

México Média Alta Alta Alta

Quadro 3 – Modelo de distâncias CAGE aplicado aos primeiros países de internacionalização

da Zara em relação à Espanha.

Fonte: elaboração própria, com base em Ghemawat (2012), Inditex (2014), João et al. (2010) e Martínez (2012).

É importante ressaltar que a empresa já havia acumulado experiência na Espanha antes

de iniciar sua expansão internacional e também em Portugal, primeiro país estrangeiro a

receber uma loja da Zara. É possível concluir assim, que o modelo de distâncias CAGE é mais

bem aplicado no início do processo de internacionalização da empresa.

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3.2 A expansão da Zara e suas formas de entrada

O crescimento orgânico das empresas requer investimentos em pessoas, na estrutura

comercial, em fábricas, nos canais de distribuição e capital de giro, visando a ampliação de

sua capacidade de fornecer produtos e serviços para um consumidor cada vez mais exigente

quanto a qualidade e o preço. Da mesma forma, empresas com o objetivo de crescimento mais

acelerado, procuram realizar investimentos via aquisições de outras empresas ou

consolidações setoriais, buscando com isto, ampliar mais rapidamente sua linha de produtos e

serviços e sua abrangência geográfica de atuação.

“Tornar-se uma empresa caseira, no entanto, é uma péssima ideia para as organizações

com sede no mundo desenvolvido” (GHEMAWAT, 2012, p. 286). As empresas que buscam a

internacionalização devem tomar decisões estratégicas para o planejamento de sua entrada no

exterior, como a escolha de produtos, o mercado alvo, o plano de marketing, o modo de

entrada, etc. A entrada no mercado externo pode ser feita partir de diferentes modos, desde o

mais simples como a exportação direta ou indireta, passando por vias contratuais como

licenciamentos, franchising ou alianças estratégicas como joint ventures, até o mais

complexo, a partir de investimento direto no exterior com a criação de novas unidades de

operação em outros países (greenfield) ou de aquisição. Características do país escolhido

como os riscos políticos, o tamanho do mercado, a forma de governo e características do

produto exportado, a demanda existente e as barreiras alfandegárias condicionam a forma de

entrada escolhida no mercado estrangeiro.

Barbosa (2005) apresenta um quadro resumindo as vantagens e as limitações dos

diferentes modos de entrada das empresas no mercado estrangeiro. O quadro 4 mostra os

principais pontos elucidados. “A exportação pode ser entendida como a atividade voltada para

o mercado externo, desenvolvida pela organização quando não há implantação estável e

permanente no exterior sob forma de subsidiária ou filial” (CERCEAU; TAVARES, 2002

apud BARBOSA, 2005, p. 28). “A exportação apresenta como principal vantagem, a

economia de escala, porém é fortemente suscetível aos custos de transporte e às barreiras

interpostas pelo país receptor” (BATEMAN; SNELL, 1998 apud VIANNA; ALMEIDA,

2011, p. 08).

A exportação direta ocorre quando o fabricante é responsável por todos os tramites até

exportar seu produto para o mercado externo, desde a escolha do mercado alvo até o envio

final da mercadoria. Já a exportação indireta ocorre quando a empresa que deseja exportar

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contrata uma empresa intermediária ou é detentora de um canal próprio no país receptor para

fazer a exportação e possui algumas vantagens como envolver menos investimentos, já que a

empresa não vai precisar criar um departamento de exportação com agentes especializados, e

envolverá menos riscos, já que a empresa que fará a intermediação já possui know-how e

experiência no ramo. Existe ainda, a exportação cooperativa ou piggyback a qual “[...] ocorre

quando uma empresa exportadora utiliza a rede de canais de distribuição de outra empresa

local, para vender seus produtos no mercado externo” (BARBOSA, 2005, p. 29).

Modo de entrada Vantagens Limitações

Exportação

Exportação direta: maior aproximação da

empresa com o mercado externo e maior

controle das vendas.

Exportação indireta: conhecimento do

mercado estrangeiro com menores riscos e

custos.

Exportação cooperativa: menores custos.

Exportação direta: necessidade de

investimento em redes de comercialização

do produto exportado.

Exportação indireta: a empresa fica sem

uma estratégia própria de exportação e sem

o contato direto com o mercado externo.

Exportação cooperativa: necessidade de

que as linhas dos produtos distribuídos se

complementem e tenham o mesmo público

alvo.

Via contratual

Acordos de licença: entrada rápida no

mercado sem a necessidade de um

investimento inicial.

Franchising: O investimento inicial É

reduzido e o esforço de gestão é do

franqueado.

Contratos de gestão: rápida entrada no

mercado, já que não existe investimento

inicial.

Alianças estratégicas: redução do capital

necessário para entrar no mercado, divisão

de riscos e possibilidade de acesso a

contatos locais.

Acordos de licença: possível criação de um

competidor potencial, além de não permitir

grandes retornos financeiros.

Franchising: necessidade de controle

financeiro e de qualidade dos franqueados

pelos franqueadores.

Contratos de gestão: necessidade de

efetuar controle de qualidade.

Alianças estratégicas: possíveis conflitos

entre os associados e possíveis problemas

relacionados à divisão do controle de

gestão.

IED Investimento greenfield: instalação de

tecnologias e design operacional de acordo

com os moldes pretendidos pela empresa.

Aquisição: entrada rápida ao mercado e

acesso aos canais de distribuição

facilitados, reduzindo a concorrência.

Investimento greenfield: custo elevado e

necessidade de tempo para sua

implementação.

Aquisição: problemas relacionados à

comunicação e coordenação com a estrutura

existente.

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Quadro 4 - Vantagens e limitações dos principais modos de entrada no exterior

Fonte: elaboração própria, adaptado do modelo exposto por Barbosa (2005).

A entrada por via contratual pode ser representada pelos acordos de licença,

franchising, os contratos de gestão e as alianças estratégicas. Os acordos de licença são

utilizados por empresas através da permissão do uso de uma marca, seu know-how,

tecnologia, distribuição de produto, etc. É uma opção de baixo custo, porém, conforme

Keegan e Green (1999 apud Barbosa, 2005) sua grande desvantagem está em que o licenciado

de hoje pode ser o concorrente de amanhã.

“O franchising é uma forma de licenciamento no qual uma empresa licencia seu

sistema de negócios para outra empresa independente ou mesmo uma pessoa” (JOÃO et al.,

2010, p. 07). Neste modelo, o detentor da marca (franqueador), cede à empresa ou pessoa

autorizada a explorar a marca (franqueado) o direito de usar seu know-how, marca, sistema de

marketing, etc., mediante o pagamento de taxas ou royalties.

Entre as vantagens do franchising, estão a possibilidade de abertura do negócio sem

necessidade de experiência do franqueado no setor, padronização do marketing, a redução de

riscos financeiros e políticos, etc. “Entre as desvantagens está a perda de controle total sobre

as operações do franqueado; limitações no lucro do franqueado e restrições impostas pelos

governos em termos de acordos de franchising” (JOÃO et al., 2010, p. 08).

No caso da Zara, nos países desenvolvidos com elevados níveis de crescimento,

geralmente a empresa se expande por meio de lojas próprias, como era comum no início de

sua internacionalização (MARTÍNEZ, 2012). Porém, a implantação dessas lojas exige custos

altos e muito compromisso. Isso levou ao fundador da Zara a possibilidade do uso de

franquias. A entrada através de franchising é realizada normalmente com franqueados que são

financeiramente fortes ou parceiros em negócios da empresa e tem duração de cinco anos. “A

principal característica do ponto de vista do negócio no modelo de franquias da Inditex é a

integração total das lojas franqueadas com lojas de gestão própria em mostruários, produtos,

recursos humanos, formação, otimização de logística, etc.” (MARTÍNEZ, 2012, p. 101,

tradução própria).

Com o intuito de poder transmitir sua filosofia para os franqueados, a empresa buscou

utilizar o método de franchising primeiramente em países do tamanho da Espanha ou até de

extensão menor. A primeira franquia da Zara foi instalada na China em 1996. Andorra,

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Polônia, Islândia e alguns países do Oriente Médio também receberam franquias

(MARTÍNEZ, 2012).

Como compensação para os franqueados que queriam embarcar em um negócio

que assegurava o crescimento das vendas, a Zara dava todas as chaves do negócio, a

formação de seus empregados, lhes transmitia a importância de escutar o cliente e

atendê-lo para conhecer suas preferências e elaborar novas roupas. A empresa

cobrava uma tarifa que alcançava até 10% das vendas totais (MARTÍNEZ, 2012 p.

101, tradução própria).

Os contratos de gestão são acordos feitos entre empresas locais que têm o

compromisso em fabricar parte ou todos os produtos de empresas estrangeiras. “No contrato

de gestão, uma organização se compromete em gerir todas ou parte das operações de uma

outra empresa estrangeira, através de um rendimento fixo ou de participação nos lucros”

(CERCEAU; TAVARES, 2002 apud BARBOSA, 2005, p. 30).

Dentre as alianças estratégicas, destacam-se as joint ventures. “As joint ventures são

um tipo especial de compartilhamento da propriedade na qual o investimento é composto por

duas ou mais empresas” (JOÃO et al., 2010, p. 08). As empresas participantes desta união se

juntam para obter vantagens e também compartilhar investimentos e riscos, em um tempo

limitado, sem perder sua personalidade jurídica. Este modo de entrada geralmente é utilizado

em países nos quais existem barreiras impostas pelos governos que desestimulam ou proíbem

o investimento direto.

O significado de alianças estratégicas é duplo. Primeiro, as firmas já não enfrentam

simplesmente umas a outras como concorrentes, mas cada vez mais colaboram para

o desenvolvimento de suas respectivas vantagens competitivas em conjunto.

Segundo, as empresas não podem mais simplesmente depender delas mesmas ou da

base tecnológica de seus próprios países para gerar vantagens competitivas e cada

vez mais ter que operar globalmente para alcançá-las” (HELD et al., 1999, p. 256,

tradução própria).

A utilização de joint ventures pela Zara é feita em mercados onde há barreiras à

entrada direta, na maior parte das vezes aquelas relacionada com a dificuldade de obtenção de

espaço para a construção das lojas nos centros comerciais mais importantes, que faz parte do

marketing da empresa. “No final de 2001, 20 lojas da Zara na Alemanha e no Japão foram

geridas por meio de joint ventures as quais seguiam o padrão 50% para a Inditex e 50% para

seus parceiros locais” (JOÃO et. al., 2010, p. 13).

“[...] Na medida em que as redes de alianças se tornam mais importantes, a

composição e o comportamento do grupo de firmas tornam-se uma determinante importante

da produção externa das empresas individuais compreendendo a rede” (DUNNING, 1995, p.

473, tradução própria). A respeito da formação dessas alianças,

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[...] na última década, os principais incentivos para a formação de alianças têm sido

os menores custos de transação, desenvolvimento de novas habilidades e superação

ou criação de barreiras de entrada em mercados nacionais ou internacionais. Às

vezes, essas alianças tomam a forma de propriedade compartilhada, ou seja, a fusão

de empresas [...]. Mas, desde o início de 1980, a grande maioria das associações

entre empresas tende a ser menos formal na estrutura e mais específica no alcance e

objetivo (DUNNING, 1995, p. 467 tradução própria).

O IED é utilizado por empresas que desejam ter o controle total de suas operações no

exterior. Este investimento pode ocorrer a partir de fusões, aquisições de plantas já existentes

ou de forma orgânica (investimento greenfield), a partir da construção e implantação de

subsidiárias e filiais. “Podem ser associações horizontais (empresas concorrentes), verticais

(empresas pertencentes à mesma cadeia produtiva) ou do tipo conglomerado (entre empresas

com negócios não correlacionados)” (VIANNA; ALMEIDA, 2011, p. 08).

Entre as vantagens dessa modalidade de entrada, está o conhecimento que a empresa é

capaz de transferir e manter em suas unidades no exterior e entre as desvantagens, estão os

custos altos inicialmente, que tendem a serem maiores do que os custos das empresas locais e

também a avaliação do investimento direto da empresa segundo o país receptor “[...] que

poderá entendê-lo como benéfico ou até mesmo prejudicial, caso esse investimento entre em

desacordo com a política interna do país, redunde em desemprego de mão de obra local ou

ainda em controle de setores chaves da sua economia” (KINDLEBERGER, 1963 apud

VIANNA; ALMEIDA, 2011, p. 08).

Ortega é o detentor de quase todas as propriedades obtidas nos últimos anos, exceto

em casos específicos, como na Alemanha e no Japão, onde um sistema de jont

venture normalmente é utilizado, e em alguns países onde, por razões políticas ou

sociológicas, o método de franquia funciona melhor. Conforme o tempo foi

passando e a Inditex foi crescendo, ele mudou sua metodologia para

estabelecimentos comerciais e agora esses locais são, normalmente, alugados

(O‟SHEA, 2014, p. 55).

3.3 A Zara no Brasil

Apesar de enfrentarem várias dificuldades, os países em desenvolvimento também têm

suas empresas sendo internacionalizadas e mostrando capacidade de competir em mercados

globais. No Brasil, o processo de internacionalização de empresas é considerado um tema

atual e de relevância apesar de esse processo ter sido iniciado de forma lenta e tardia em

comparação com os países desenvolvidos.

Após a abertura da economia nacional, ocorrida na década de 1990, algumas empresas

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brasileiras deram os primeiros passos para experiências significativas em direção ao mercado

internacional e a tendência é cada vez mais a expansão em direção ao exterior. "As empresas

que não atingem o mercado externo precisam competir com concorrentes internacionais por

fatias do mercado brasileiro, que outrora era protegido, ou buscar a sua internacionalização

[...]" (DE MORAES; DE OLIVEIRA; KOVACS, 2007, p. 19).

Segundo Tanure e Gonzalez (2006) observa-se isto por intermédio de

algumas das empresas brasileiras mais internacionalizadas que se uniram em

um programa de formação e desenvolvimento de competências necessárias

para este propósito: o projeto Global Players, desenvolvido pela Fundação

Dom Cabral com a colaboração de parceiros internacionais (PESSOA;

PORTO; SALVADOR, 2008, p. 03).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), dados da

indústria da moda brasileira referentes ao ano de 2012 mostraram que seu faturamento foi de

US$58,4 bilhões. O Brasil fechou o ano como 5º maior produtor têxtil do mundo e o setor

representou 15,2% dos empregos da indústria de transformação e cerca de 5,5% do PIB

industrial brasileiro (ABIT, 2014).

A ABIT foi fundada em 1957 e é uma das entidades mais importantes dentro do setor

econômico do Brasil. Ela representa a força produtiva de milhares de empresas de pequeno,

médio e grande porte, pertencentes ao território nacional. A ABIT mantém uma estrutura para

dar suporte e orientação a todos os seus associados e assim, atender as mais diversas

demandas da cadeia têxtil. Todas as atividades realizadas pela entidade têm como objetivo

apoiar o desenvolvimento sustentável das empresas do setor e defender seus interesses junto

aos órgãos governamentais e entidades nacionais e internacionais (ABIT, 2014).

Em 2000, a ABIT, juntamente com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações

e Investimentos (APEX-Brasil), foi a criadora do Texbrasil, programa de internacionalização

da indústria da moda brasileira. Esse programa tem como objetivo apoiar e preparar as

empresas das indústrias têxtil e de confecção do país interessadas em internacionalizar a

venda de seus produtos (TEXBRASIL, 2014).

Nos últimos anos, o Brasil passou a fazer parte do mapa de expansão de grifes globais

de moda. Algumas das principais marcas de vestuário como a H&M e a GAP, que tem o estilo

“barato chique”, o qual é desejado por latino-americanos que vão às compras em viagens a

países do hemisfério norte, chegaram ao Brasil e se juntaram a marcas como a inglesa Top

Shop e a própria Zara que opera desde 1999 no país. Segundo dados da Inditex (2014),

atualmente a Zara possui 50 lojas no território brasileiro.

Os brasileiros estão cada vez mais em busca do fast fashion, estratégia de negócio

criada pela Zara e utilizada por grandes marcas, que recebem roupas novas semana ou

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quinzenalmente. Porém, para que essa estratégia tenha sucesso, as empresas precisam

trabalhar com qualidade, preços acessíveis e produtos sempre atualizados de acordo com o

gosto dos clientes, o que é dificilmente encontrado nas marcas brasileiras que não possuem

essa informação de moda, ou quando possuem, trabalham com preços mais elevados. Segundo

Zaparolli (2013), as cinco maiores marcas de roupas do Brasil, Marisa, Riachuelo, Renner,

Hering e C&A, não somam muito mais de 10% das vendas do mercado de moda brasileiro.

Conforme afirma o presidente da Zara no Brasil, João Braga, “para enfrentar a concorrência, a

estratégia da empresa é crescer em regiões onde ainda não está presente, além de trabalhar a

imagem da marca [...]” (ROLLI, 2014). A empresa busca adaptar-se aos climas das diferentes

regiões do país e reformular as lojas e layouts mais antigos.

A Zara está presente em 14 estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Distrito Federal,

Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco,

Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, com sede administrativa e

centro de distribuição localizado no bairro Alphaville na cidade de Barueri (Região

metropolitana de São Paulo), a qual também exporta produtos para as lojas do Chile e

Uruguai (ZARA BRASIL, 2014). Em 2013, a Zara reportou receita no Brasil de R$962

milhões (BOUÇAS, 2014).

No início de sua chegada ao país, a empresa esperava que seus produtos chegassem

por avião ao Brasil e logo pudessem estar nas vitrines das lojas, porém não foi o que

aconteceu. Outra dificuldade encontrada no país foi a diferença de preços das roupas em

relação aos outros mercados em que a marca opera, já que os produtos são menos acessíveis

às classes média e baixa, o que reduz o número de clientes potenciais da Zara no Brasil.

Conforme Carvalho (2014), em 2011, o Ministério do Trabalho de São Paulo (MPT-

SP) iniciou uma investigação e encontrou bolivianos que trabalhavam para ganhar muito

pouco e em situação considerada insalubre na periferia de São Paulo. A empresa foi

responsabilizada por trabalho análogo ao escravo em oficinas de costura subcontratadas pela

AHA Indústria de Comércio e Roupas, responsável pela produção de peças da Zara no Brasil.

“Em nota, a Zara Brasil e o Grupo Inditex, proprietário da empresa no país, afirmaram que

vão recorrer da decisão da 3º Vara e que a companhia não obteve „qualquer vantagem

financeira com a irregularidade cometida pela AHA‟” (CARVALHO, 2014).

A empresa afirmou que foi enganada e que a AHA, quem realmente cometeu as

irregularidades, não foi investigada, julgada ou punida como a Zara. Segundo Santini e Pyl

(2011), a Inditex e o Ministério Público do Trabalho (MPT) assinaram um Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC) por conta dos flagrantes, no Estado de São Paulo, de

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trabalho escravo na cadeia produtiva das peças de roupa da Zara. No acordo final, a empresa

pagou 17% (R$ 3,4 milhões) do valor de indenização por dano moral coletivo (R$ 20

milhões) que havia sido inicialmente proposto pelo MPT (SANTINI; PYL, 2011).

“O MPT-SP estima que as confecções que utilizam trabalho análogo ao escravo

ganham cerca de 2.300 reais por imigrante explorado. O valor corresponde a direitos

trabalhistas e tributos sonegados no processo” (CARVALHO, 2014). Recentemente foram

criados programas para desassociar a imagem da Zara com o trabalho escravo no Brasil. Entre

as ações do programa estão o apoio a imigrantes que atuam no setor de confecção têxtil a

fiscalização de forma adequada aos seus fornecedores e a criação de um código QR ou QR

Code, que permite aos consumidores brasileiros saberem, através da leitura de câmeras de

smartphones, detalhes de onde cada peça foi fabricada (SCRIVANO, 2014).

Uma série de programas e iniciativas foi lançada para aumentar o controle sobre a

cadeia de fornecimento da Zara no Brasil para melhorar as condições de trabalho no setor e

ajudar os trabalhadores migrantes se integrar na sociedade local. A Inditex também forneceu

cursos de formação do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) em áreas como

a gestão de pessoas, gestão financeira e de negócios, controle de estoque e gestão da produção

(INDITEX, 2014).

Segundo Landim (2013), a Zara encontrou no Brasil o país mais difícil de trabalhar

entre todos em que opera, devido ao excesso de burocracia, impostos elevados, mão-de-obra

pouco qualificada e logística deficiente. A multinacional teve que adaptar seus processos que

funcionam no resto do planeta e superam os concorrentes através da renovação das prateleiras

das lojas duas vezes por semana como um modelo de eficiência na gestão de estoques e

logística, através da utilização de fornecedores locais.

Analisada a partir da Escola de Uppsala, a entrada da empresa no Brasil pode ser

associada ao conceito de conhecimento e comprometimento com o mercado, pois entrou no

país após já estabelecer presença em outros mercados da América Latina como o México e a

Argentina e opera desde o início através de subsidiárias próprias, sem passar pelos outros

estágios da cadeia de estabelecimento propostos pela teoria. Pensando no Brasil como parte

da América Latina, a ideia de distância psíquica proposta pelo modelo de Uppsala pode ser

parcialmente associada na internacionalização da Zara no país, devido às semelhanças dos

idiomas português e espanhol.

A entrada da Zara no Brasil, analisada a partir do modelo de distâncias CAGE,

culturalmente indica uma distância média em relação à Espanha, pois conta com um idioma

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parecido, além da forte influência do idioma espanhol da América Latina em algumas regiões

do país, como é o caso do sul. Administrativamente, os dois países não estão próximos, porém

ainda possuem laços colonizadores em comum. Geograficamente, os dois países estão muito

distantes, devido às diferenças climáticas, distância física e tamanho geográfico. E, por fim, a

respeito da distância econômica, os dois países também se encontram distantes devido às

diferenças entre as rendas dos consumidores, tamanho econômico dos países, diferença na

disponibilidade de recursos humanos, financeiros e naturais. Neste último aspecto é possível

notar as diferenças de preço das roupas da Zara no Brasil e na América Latina, em relação aos

preços da Europa.

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CONCLUSÃO

Depois da ditadura de Francisco Franco que durou de 1938 a 1976, a Espanha viu a

internacionalização de suas empresas como necessária para dinamizar e modernizar a

economia do país e estimular cada vez mais a integração com outros países no cenário

internacional. O governo espanhol implementou políticas públicas a fim de estimular a

internacionalização de empresas com a implementação de mecanismos financeiros,

informativos, institucionais e de segurança ao IED espanhol.

O grupo espanhol têxtil Inditex, é hoje um dos maiores distribuidores de moda

mundial, presente em 88 mercados nos cinco continentes. Dentro deste grupo, que conta com

oito formatos comerciais dirigidos para diferentes públicos, encontra-se a Zara, principal e

mais antiga cadeia da Inditex. Este trabalho buscou compreender a internacionalização da

Zara com base na teoria da Escola de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977) e no modelo

de distâncias CAGE (GHEMAWAT, 2012), fornecendo explicações sobre a sua estratégia de

negócios, sua expansão internacional e escolha dos modos de entrada nos países em que está

presente.

A empresa iniciou seu processo de internacionalização optando primeiramente por

entrar em um país vizinho e culturalmente próximo, Portugal, adequando-se ao conceito de

distância psíquica do modelo de Uppsala. O país seguinte, porém, foi os EUA, não estando de

acordo com o pressuposto da teoria. O conceito de distância psíquica pode ser comprovado de

uma forma geral na empresa através dos principais mercados da América Latina, que assim

como os da Europa, são mantidos com subsidiárias próprias.

A Zara confirma o modelo da Escola de Uppsala ao se envolver em operações que

exigem maior controle e maior risco à medida que o conhecimento e o comprometimento com

o mercado vão aumentando, pois somente iniciou sua expansão internacional após estar

fortemente presente em seu país de origem, além de escolher como primeiro mercado externo

um país próximo e parecido com o seu. O uso de diferentes formas de entrada está

parcialmente de acordo com o modelo de Uppsala, pois, apesar de não obedecer aos quatro

estágios da cadeia de estabelecimento da teoria, a empresa utiliza subsidiárias próprias,

franquias e joint ventures em diferentes mercados, dependendo da importância, complexidade

ou risco do país. A Zara optou por entrar em países desenvolvidos e com alto grau de

crescimento através de subsidiárias próprias. O uso de franquias e joint ventures ficou

destinado a países pequenos ou a mercados com barreiras à entrada direta.

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A Zara conta com um modelo de negócio flexível e com um sistema de integração

vertical, reunindo todos os processos de fabricação das peças. Possui um rápido e eficiente

centro de distribuição e baixo investimento em marketing, já que o único tipo de marketing

que utiliza é o fato de suas lojas estarem localizadas nos lugares mais privilegiados de cada

cidade que estão presentes. Seu modelo de negócio chamado de fast fashion faz com que seus

consumidores comprem rapidamente um produto, pois sabem que em pouco tempo não o

encontrarão à venda novamente, além de garantir à empresa o mínimo de estoque

armazenado. É possível concluir assim, que a Zara está de acordo com o modelo da Escola de

Uppsala por apresentar um processo de internacionalização de caráter evolutivo, utilizando-se

de sua experiência e conhecimento de mercado para expandir-se internacionalmente e

parcialmente pelo o uso cadeia de estabelecimento e pela questão da distância psíquica.

A estratégia de internacionalização da Zara também está de acordo com o modelo de

distâncias CAGE, principalmente no início da sua expansão. A empresa iniciou sua busca por

mercados estrangeiros na cidade de Porto (Portugal), culturalmente próxima, beneficiando-se

do idioma galego-português, comum à cidade de origem da Zara. Os dois países também

compartilham de um mesmo bloco econômico (UE), de fronteira terrestre e de tamanho

econômico parecido, confirmando distâncias pequenas administrativa, geográfica e

economicamente. Os países seguintes escolhidos para dar continuidade na expansão

internacional da empresa (EUA, França e México), oscilam entre distâncias pequenas médias

e grandes quando analisados sob a ótica do sistema CAGE.

É possível concluir que a análise CAGE contribui de forma significativa para a

abordagem de distância psíquica da Escola de Uppsala na explicação do processo de

internacionalização da Zara, pois as variáveis culturais, administrativas, geográficas e

econômicas fazem parte do conceito de distância psíquica, influenciando, assim, no processo

de tomada de decisão da empresa no momento de expandir-se para o exterior, e sua aplicação

foi mais bem comprovada principalmente no início de sua internacionalização. A respeito da

teoria de Uppsala de maneira geral, “os próprios pesquisadores, como Johanson e Vahlne,

reconheceram que o modelo de Uppsala possui um poder explanatório maior nos estágios

iniciais do processo de internacionalização” (DAL-SOLTO, 2006, p. 06).

Em uma revisão de seu trabalho inicial a cerca da teoria de Uppsala, Johanson e

Vahlne (2009) concluem que “[...] a correlação entre a ordem em que uma empresa entra em

mercados estrangeiros e a distância psíquica enfraqueceu” (JOHANSON; VAHLNE, 2009, p.

1421, tradução própria). Os autores afirmam que as empresas e as pessoas que nela trabalham

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podem adquirir conhecimento e experiências no ambiente externo ao longo do tempo que lhes

conferiria maior confiança e capacidade de lidar com a distância psíquica entre os países.

Os autores afirmam também que a confiança é importante para o sucesso da

aprendizagem e do desenvolvimento de novos conhecimentos no processo de

internacionalização. “A confiança também pode substituir o conhecimento, por exemplo,

quando uma empresa não tem o conhecimento necessário do mercado e por isso permite a um

intermediário confiável executar seus negócios estrangeiros” (JOHANSON; VAHLNE, 2009,

p. 1417, tradução própria).

Com o advento do fenômeno da globalização, e a entrada cada vez maior de capital

estrangeiro em seus países de origem, as empresas veem-se na obrigação de adequarem-se ao

mercado de forma mais competitiva e dinâmica, deixando de atuarem apenas internamente

para expandir sua produção internacionalmente. Com a intenção de explicar o direcionamento

de empresas para o mercado externo, a revisão da literatura permitiu conhecer e expor as

teorias de internacionalização de abordagens econômica, comportamental e estratégicas.

“Embora as teorias sobre internacionalização pareçam explicar satisfatoriamente o movimento

das empresas no processo de inserção internacional, nenhuma teoria parece ser capaz de

explicar todos os aspectos da internacionalização para todas as empresas” (SACRAMENTO;

ALMEIDA; SILVA, 2002 apud DAL-SOLTO, 2006, p. 07).

Como decorrência do método de pesquisa, este trabalho apresenta limitações diante da

falta de uma pesquisa de campo diretamente na sede da Zara, o que poderia captar mais dados

específicos e atuais sobre o processo de internacionalização da empresa e suas perspectivas

futuras. Diante da importância da discussão acerca do processo de internacionalização de

empresas, pesquisas que possam analisar as estratégias e os processos adotados por outras

firmas na decisão de internacionalizar, sob a ótica de outras teorias e pelas diferentes formas

de entrada, podem ser úteis para a orientação de empresas que estejam interessadas neste

processo.

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