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1 ÉTICA, CIDADANIA E FORMAÇÃO DE VALORES NA SALA DE AULA As publicações do selo A Casa de Asterion podem ser livremente copiados digitalmente ou por fotocopiadoras. No entanto, não podem ser vendidos. Os autores disponibilizam estas publicações como esforço de democratização da informação e do conhecimento. Ética, cidadania e formação de valores na sala de aula Marcos Cordiolli A Casa de Asterion

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Ética, cidadania eformação de valores

na sala de aula

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Ética, cidadania e formação devalores na sala de aula

Marcos Cordiolli

A Casa de Asterion

Curitiba - 2009

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Ética, cidadania e formação de valores na sala de aula / MarcosCordiolli – Curitiba: A Casa de Astérion, 2009.

I. Gestão do Trabalho Pedagógico em Sala de Aula. II.Ética na sala de aula. III. Cidadania. IV. EducaçãoAmbiental. V. Preconceito. VI. Educação para oconsumo. VI. Marcos Cordiolli.

© Marcos Cordiolli

Fotos: Marcos CordiolliDiagramação: Shelby Programação Visual

Contatos com o autor:email: [email protected]: +55 (41) 9962 5010home page: cordiolli.wordpress.comhome page: marcos.cordiolli.sites.uol.com.brtwitter: twitter.com/marcoscordiollimyspace: www.myspace.com/marcoscordiollifacebook: marcos cordiolli

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

Apresentação.......................................................................9

A ética e construção da cidadania: um antigo debate emuma nova realidade....................................................... 11

Valores nas instituições escolares: ensino ou formação?...21

O professor preconceituoso...............................................27

Consumo consciente..........................................................31

A formação de valores e a questão ambiental....................35

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O texto “A ética e construção da cidadania: umantigo debate em uma nova realidade” foi publicadocomo: CORDIOLLI, Marcos. A ética e construçãoda cidadania: um antigo debate em uma novarealidade. Anais do I Congresso Nacional deEducação. 15 a 20 Abr. 2002. Santa Rosa (RS).

O texto “Consumo consciente“ é uma entrevistapublicada na revista da Escola Lúmen de Curitiba.

O texto “A formação de valores e a questãoambiental” foi na revista do Grupo EducacionalOpet.

“Um professor sempre afeta a eternidade. Ele

nunca saberá onde sua influência termina.”

Henry Adams (1838-1918)Historiador americano

Para J. Olímpio

Títulos do autor pelo selo A Casa de Asterion

Currículo, cultura escolar e gestão do trabalho pedagógico [2004];

A formação de valores e padrões de conduta na sala de aula (notaspara um debate conceitual sobre transversalidade) [2006];

Os projetos como forma de gestão do trabalho pedagógico emSala de Aula [2006];

A relação entre disciplinas em Sala de Aula (a interdisciplinaridade,a transdisciplinaridade e a multidisciplinaridade) [2002];

Saber e conhecimento: um contraste necessário (para formulaçãodas propostas curriculares e a gestão do trabalho pedagógico)[2006];

Ética, cidadania e formação de valores na sala de aula [2009];

A legislação Curricular Brasileira [2009].

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Sobre o Autor

Marcos Cordiolli é graduado em História (UFPr, 1988) e mestreem Educação: história e filosofia da educação (PUC-SP, 1997).

É professor universitário de graduação (desde 1994), deespecialização latu senso (em mais 20 IES); de mestrado (em umaIES); atua na qualificação docente (desde 1994 e prestou serviçospara mais 50 redes públicas e dezenas de escolas particulares em18 estados);

É consultor em gestão do trabalho pedagógico e proposiçõescurriculares na Educação Básica (com serviços prestados paradezenas de instituições) e Superior (com trabalhos prestados paramais de 20 IES);

É palestrante e conferencista (atuou em mais 300 eventos);consultor técnico de publicações didáticas (prestou serviços paramais de uma dezena de editoras) e de sistemas de ensino (prestouserviços para a maioria dos grandes empresas do país);

É consultor pedagógico na área de Educação Corporativa (prestouserviços para empresas na área de refino de petróleo e montadorasautomotivas).

Publicou artigos, livros e materiais didáticos (na área de informáticae história e geografia para Ensino Fundamental e médio).

É cineasta. Produtor Associado do filme O Sal da Terra (Brasil,2008) de Eloi Pires Ferreira. Diretor de Produção (com ElóiPires Ferreira) de Conexão Japão (Brasil, 2008) de Talício Sirino.Produtor Executivo de Curitiba Zero Grau (Tigre Filmes e Labo),Brichos: a floresta é nossa (Tecnokena) ainda em produção.

Contato com a Autor

email: [email protected]: +55 (41) 9962 5010home page: cordiolli.wordpress.comhome page: marcos.cordiolli.sites.uol.com.brtwitter: twitter.com/marcoscordiollimyspace: www.myspace.com/marcoscordiollifacebook: marcos cordiolli

AAAAAPRESENTPRESENTPRESENTPRESENTPRESENTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Esta publicação reúne textos escritos em momentosdiferentes para plataformas distintas. No entanto,representam formas de apreender as situações deformação de valores e padrões de conduta nos processosde gestão do trabalho pedagógico em sala de aula.

Optei por manter a forma original como os textos foramescritos e publicados. Mesmo que com isto o leitorencontre algumas repetições ou simplicações.

O primeiro texto “A ética e construção da cidadania: umantigo debate em uma nova realidade” foi utilizado nasaulas da disciplina “Ética e construção da cidadania” emmuitos cursos de pós-graduação latu senso. A versão destapublicação é a dos anais do I Congresso Nacional deEducação. Realizado em Santa Rosa (RS) em abril de 2002.

O texto “Valores nas instituições escolares: ensino ouformação?” foi produzido para responder a váriosquestionamentos de um fórum de discussão promovidopelo site Prof do Marco Ferraz e Marilia Fanucchi.

O texto “O professor preconceituoso” foi escrito comoresposta a uma série de perguntas recorrentes em minhaspalestras e conferências. Circulou também comopublicação digital.

O “consumo consciente“ é uma entrevista publicada narevista da Escola Lúmen de Curitiba. Esta instituição temse destacado por tratar com seriedade e criatividade detemas pedagógicos contemporâneos.

“A formação de valores e a questão ambiental” foiencomendado pela minha amiga Aline Gonçalves para a

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revista do Grupo Educacional Opet. A publicaçãopossibilitou um retorno grande de professorescomentando e discutindo este texto.

Marcos Cordiolli

Inverno de 2009

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Marcos Cordiolli

“V ivemos numa época perigosa. O homemdomina a natureza antes que tenhaaprendido a dominar-se a si mesmo.” AlbertSchweitzer

Os temas de ética e de cidadania na educação não sãoinéditos, porém não se encontram esgotados,representando mesmo temas palpitantes e atuais. Todoprofessor _ praticamente sem exceção _ trata diariamente,de forma direta ou indireta, de valores e normas deconduta em suas atividades na sala de aula. Inobstante talprática, todos os dias observamos fatos que evidenciamque a sociedade convive com profundos problemas deconduta que se opõem não só à ética como ao exercícioda cidadania. Cabe então perguntar: será que ética não seaprende na escola? Os professores, no seu ofício, nãocontribuem para a construção da cidadania? Caso asrespostas sejam afirmativas, então a escolarização nãoestaria falhando quanto a estes objetivos?

As respostas a estas questões são complexas e precisamde algumas balizas mais amplas. A primeira delas é aconstatação de que os seres humanos constituem a suahumanidade em coletivos e que estes são produtores e

Publicado como: CORDIOLLI, Marcos. A ética e construção dacidadania: um antigo debate em uma nova realidade. Anais do ICongresso Nacional de Educação. 15 a 20 Abr. 2002. Santa Rosa(RS).

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produtos de uma rede de relações e situações que faz denós uma construção social e histórica. O ser humano estáimerso num processo de socialização das idéias, doshábitos, dos sentimentos e dos valores, e a suaindividualização se constitui pelas interações que seprocessam com os diversos grupos com os quais serelaciona, como os de sua geração, de classe social, deetnia, de religião, etc. Dessa forma, a sua herança genéticaé potencializada e desenvolvida no âmbito da interaçãode relações sociais e históricas.

Podemos, então, afirmar que as sociedades formam asnovas gerações num processo de socialização que tambémse altera constantemente. A socialização permite aoindivíduo lidar com três elementos fundamentais da vidaem sociedade.

O primeiro é o alcance da ação dos indivíduos e dosgrupos sociais, devendo-se observar que essa ação édeterminada pelo coletivo, delimitada por direitos edeveres e expressa em regras (formais ou informais).Assim sendo, cada sociedade define uma forma de ver esentir o mundo e portanto, determina a ação de seusindivíduos a partir dessa concepção. A sociedade procuramoldar os indivíduos a uma forma padrão, utilizando asnormas como mecanismos de coerção. Assim, o espaçode ação de um indivíduo1 , é o espaço de sua cidadania.Os grupos sociais - como igrejas, partidos políticos, clubes,etnias - também procuram determinar espaços de açãopara os seus membros, através de regras e mecanismosde coerção próprios, restringindo a ação destes indivíduos.Estes mecanismos podem tanto coibir como proteger oprocesso de humanização de nossa espécie, pois se, porum lado, evitam que a barbárie impere a cada divergênciaentre indivíduos e grupos, por outro, essa mesma coerçãoprotege privilégios e interesses de grupos dominantes e/ou hegemônicos.

Cada sociedade ou grupo social cultiva um conjunto devalores, os quais se sustentam e se articulam a partir de

sua forma de ver e sentir o mundo. Estes conjuntos devalores interagem com as regras sociais, às vezesreforçando-as ou entrando em contradição com elas.

Os indivíduos, por sua vez, mesmo sendo produtos deum processo de socialização, internalizam a forma de vere sentir o mundo, tanto quanto às normas de condutaquanto aos valores, de maneira muito particular. Cadaindivíduo é um nexo particular e ímpar do conjunto derelações sociais e interações sob as quais vive. É nesteprocesso que a pessoa, ao se humanizar, distancia-se docaráter gregário de sua origem enquanto espécie, o quepermite a cada um de seus membros uma individualização.Desta maneira, cada indivíduo constitui uma formaprópria de conceber os valores, compondo uma visãodas regras sociais, a partir das quais orienta a sua ação nasociedade. Este conjunto de valores e sua forma deconceber a sua ação social nós denominamos de ética.

Pensar, pois, a constituição de um código de ética e apreparação para a cidadania a partir da escola é refletirsobre o conjunto de instrumentos de formação quesocializam a cultura para uma nova geração. Tal açãoimplica, concomitantemente, participar daindividualização de cada ser humano, fazendo com queeste assuma determinadas formas de ver e sentir o mundo,elaborando o seu conjunto de valores e munindo-se dedeterminados instrumentos mentais para analisar, refletir,planejar e decidir as suas ações.

Tradicionalmente, a escola tem buscado para si a tarefade dotar os alunos de uma ética humanista e da consciênciados deveres e direitos para com a sociedade. Esta tarefacompreende-se, de uma forma geral, como a deconvencer o aluno de certos valores e de determinadasformas de agir.

Nos últimos anos, porém, temos os professoresconstatado que está cada vez mais difícil “convencer” osalunos sobre determinados valores. Alguns professores

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têm culpado os problemas familiares, outros a televisão emuitos têm responsabilizado a ambos. Um brevearrolamento de problemas constatados em nosso país,mostra o crescimento assustador de determinadas formasde conduta que a escola reprova e reputa como indignasdaqueles que a freqüentaram. Por outro lado isso se refleteno interior da escola, com o aumento significativo daindisciplina e do seu duplo: o desinteresse pelaaprendizagem escolar.

Temos proposto investigar esta problemática a partir deuma reflexão sobre o processo de socialização / formaçãode nossa sociedade, para então repensar o papel da escoladiante dessa situação.

Partimos da constatação de grandes mudanças nosmecanismos de socialização / formação em nossasociedade nas últimas décadas. A socialização no Brasil,há algumas décadas, era realizada por duas instituiçõesbásicas: a família e a igreja; ambas comungavam sobre aforma de ver e sentir o mundo, apoiadas em uma basemoral comum, promovendo a devida mediação einteração com as classes sociais, com as diversas etnias ecom os grupos culturais. Posteriormente, surgiu umaterceira instituição, a escola, cuja função, na perspectivada socialização, seria a de reproduzir os seus valores. Asmudanças em nossa sociedade, nas últimas décadas,promoveram uma verdadeira crise nessas instituições, eestabeleceram-se novas instituições formadoras /socializadoras. Examinemos algumas situações.

A família, com a saída da mulher/mãe para o mercado detrabalho2 , restringiu muito a sua capacidade e influênciana formação dos filhos. Neste aspecto é importantedestacar que a saída da mulher para o mercado de trabalhoé um fator que consideramos positivo, no sentido daconstrução da igualdade de direitos entre homens emulheres. Observe-se,também, que a maior dedicação damulher à formação / socialização dos filhos era uma formaprópria da sociedade paternalista-machista, também

reconhecida como negativa e, portanto, carente demudança. É importante salientar, por outro lado, que aalteração desta forma de organização familiar, não foisubstituída por outra que expressasse conscientementeuma nova forma de socialização. Assim sendo, as tarefasde socialização da família foram sendo assumidas(principalmente na faixa de 0 a 6 anos) por instituiçõesescolares, por empregados ou outros familiares. Ascreches, geralmente, cuidam bem das crianças, dão-lhesalimentação e até desenvolvem um conjunto de atividadespedagógicas, mas nem sempre estão preparadas paraorientar o processo de formação / socialização de seusalunos. Os empregados não têm a mesma autoridade e,às vezes, nem compartilham das formas de ver e sentir omundo dos pais dessas crianças e, geralmente, sãotransitórios na função. Por último, nas famílias de maisbaixa renda, as crianças são relegadas ao cuidado de irmãosmais velhos ou parentes, os quais também estabelecemrelações de socialização distintas das dos pais. Um processomultidirigido, estabelecendo espaços distintos deformação3 .

É, igualmente, importante constatar que os pais dasdiferentes camadas sociais, têm aumentado e intensificadoconsideravelmente as sua jornadas de trabalho, reduzindoos períodos que passam com a família. E mesmo o tempodedicado aos filhos é, cada vez mais, ocupado comatividades externas à casa, como compras, diversão eatividades sociais. O tempo vivido em casa está muitopermeado pela indústria cultural, de forma que boa partedas vezes, as pessoas passam o seu tempo de convívio nafrente da televisão. Nestes espaços não há propriamenteuma interação entre pais e filhos e entres irmãos.

As igrejas e as religiões também reduziram os seus poderesde influência formadora, salvo a retomada de algumasigrejas de orientação pentecostal ou de alguns segmentosmais fervorosos das religiões mais tradicionais. Dessamaneira, muitos dos fiéis, embora continuemcomungando dos princípios comuns, já não se orientam

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mais pelos valores fundados nos dogmas religiosos, masvivem as suas religiosidades de forma mais intimista epessoal.

Assim, novas instituições formadoras / socializadoraspassam a influenciar as novas gerações. Não pretendemosdefender, a priori, nem os dogmas e tampouco os valorestradicionais, mas é preciso apontar o crescente poder deformação de valores sociais, fundados e veiculados poroutros instrumentos, particularmente as mídias e osgrupos culturais. A televisão, principalmente, aparececomo o grande agente de veiculação de valores, enquantoos grupos sociais, particularmente os de jovens, ganhamcada vez mais autonomia, sendo fortemente influenciadospela indústria cultural, a qual vem reforçando ereproduzindo esses valores. Por exemplo: os meninos quesão “grunchs” cultivam valores distintos dos que são ouse influenciam pelos “metaleiros”, ambos com muitaautonomia em relação aos valores de sua família, religião,classe social ou etnia. Tanto as mídias como os grupossociais veiculam valores muito diferentes daqueles quepais e professores professam, valores esses que vão desdeos tipos de alimentação até a exacerbação da violência edo sexismo.

Neste novo quadro a função da escola mudou e mudoumuito. A escola passou a ser uma das instituições quedisputa os rumos da formação / socialização das nossascrianças e jovens.

Então, ao constatarmos que muitos dos instrumentos deformação / socialização foram alterados, é preciso que aescola reflita e transforme a sua forma de agir, buscandodar conta da nova realidade. É também importante assumirque o processo de socialização que se dá na escola, àsvezes é concorrente e distinto daqueles realizados poroutras instituições. Assim, muitas vezes, os esforçosescolares para construir os valores da fraternidade e dasolidariedade, para formar condutas racionais e pacíficaspara a solução de conflitos são contrapostos pela televisão,

por exemplo, que permite a um jovem de 15 anos já tervisto cerca de 15 mil assassinatos e 70 mil atos de violência,muitos deles em prol da suposta “defesa do bem ou dalei”. Contraposições como essa fazem com que crianças,não obstante os esforços das escolas, passem a valorizarmais a estética da violência, expressa na agressividade, doque o exercício da argumentação em prol de seus direitosou razões. A disputa com as demais instituições ocorretambém por condutas do cotidiano como, por exemplo,quando a escola se vê tendo que argumentar em prol deuma prática de alimentação saudável e natural,concorrendo com as mais diversas formas de marketinge merchandising, que estimulam o paladar para osprodutos que provocam graves problemas de saúde, ou,no mínimo, uma alimentação muito irregular. Poderíamos,ainda, listar diversos outros temas, que são doconhecimento e convívio cotidiano dos professores.

A reflexão da escola sobre o perfil de ser humano e desociedade que pretende ajudar a construir, continua sendoo mesmo tema, mas as condições em que se realiza sãomuito diferentes. Nesta reflexão, a proposta é partir dahipótese de que a escola tem que articular a ação dacognição e da constituição do conhecimento com a daformação dos valores. Na perspectiva da cognição, voltadapara o tema que estamos examinando, é importante queo esforço escolar, entre outras coisas, constitua cincoelementos de cognição necessários para o exercício dacidadania e para a reflexão sobre a ação humana, quaissejam:

a) a capacidade de conhecer e compreender o outro e a simesmo;

b) a capacidade de conhecer o meio social no conjuntodas suas relações (com os indivíduos e grupos sociais)permeadas por contradições, diferenças e conflitos;

c) a capacidade de argumentação;

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d) a capacidade de planejar e agir individualmente e

e) a capacidade de planejar e propor ações coletivas.

Por último, a escola precisa construir práticas sociais eculturais no seu interior, que sejam capazes de:

a) constituir a identidade dos alunos e professores comoum grupo social, pois é a partir da identidade com o grupoque as pessoas se abrem para os seus valores e motivações;

b) estabelecer um novo patamar de relação com a família.É importante não ficar mais responsabilizando a famíliapelo que ela deveria ter feito e não fez, mas fomentar, apartir da escola, elementos que promovam pelo menoslampejos de interação entre pais e filhos e entre aqueles ea escola;

c) A escola, ao mesmo tempo em que deve cobrar novasposturas da mídia, também tem que oferecer ao alunoprogramas e atividades de mídia que reforcem os valoresa serem construídos, permitindo às crianças e aos jovensa possibilidade de acesso a algumas alternativas e condiçõesde escolhas. Estas escolha poderiam minimamentecontrabalançar a superexposição a programasantipedagógicos e com valores muito ofensivos à própriacondição humana. Tenho apontado que no interior dadensa programação infantil e juvenil das TVs abertas, hádiversos programas bons, que devem ser estimulados (enão apenas recomendados) pela escola.

As alternativas que apresentamos precisam de dois tiposde ação para se materializar: por um lado muitos estudose pesquisas científicas para conhecer e desvelar estarealidade nova e complexa e, por outro, é preciso umagrande mudança de postura do professor, valorizando aexperiência e o conhecimento produzidos por ele próprioe por seus colegas. Por isso, é importante que as boas (etambém as más) experiências sejam sistematizadas esocializadas, inclusive como forma de mediatizar as

produções científicas e teóricas. Isto possibilitará a aberturade uma reflexão coletiva sobre a prática docente e oprocesso escolar.

Conclui-se, pois, que cada professor precisa se tornar umprofessor-pesquisador, aquele que busca instrumentospara conhecer a sua realidade e aplica as teorias comouma hipótese que vai sendo testada e aprimorada. O testee o aprimoramento são formas de constituição deconhecimento pedagógico que devem ser sistematizadose socializados com os colegas.

A única receita possível está no professor; é na sua vontadede acertar e de realizar a sua utopia educacional que estãoos instrumentos para testar e encontrar os caminhos daeducação que se quer construir.

Notas

1 A noção de indivíduo remonta à Grécia Antiga. Considerando-se, porém, as limitações de espaço do presente trabalho, nãovamos analisá-la.

2 Seja pela vontade própria da mulher seja por necessidadesimpostas pela nova dinâmica da vida material.

3 Podemos refletir a partir desta perspectiva de por que às vezesótimos filhos acabam sendo péssimos alunos ou vice-versa.

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Marcos Cordiolli

A resposta mais direta poderia ser: os professores formamvalores quando transformam pessoas. Mas creio que sóisto não basta. Por outro lado, também penso que não sefaça possível uma demarcação clara entre uma coisa eoutra.

A insistência em separar ensino de formação não seconstitui num mero artefato teórico, mas retoma anecessidade de compreender as diferenças entre estas duasdimensões do processo educativo na organização dotrabalho pedagógico, mesmo que muitas vezes caminhemjuntas no cotidiano das instituições escolares. Mas, hásituações em se conformam dois campos de açõespedagógicas distintas, que podem se desenvolversimultaneamente. Eu penso que são processo comidentidades distintas, que, no limite, altera a identidade detodo o processo pedagógico.

A minha provocação, deve-se a práticas que vejo emmuitas escolas nas quais as pessoas tende a incluir osvalores e padrões de conduta como “mais algunsconteúdos” e com a natureza não distinta dos demais.Esta visão inclusive está presente na tradição curricularbrasileira, pois desde de 1925 os valores e condutasconstituíam uma disciplina a parte e geralmente associadaou articulada ao civismo (a antiga Educação Moral eCívica).

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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para oEnsino Fundamental, de certa forma, romperam estatradição. A primeira versão dos PCNs, apresentou umdocumento denominado “Ética e convívio social”,distinto dos Blocos de Conteúdos (Língua Portuguesa,Matemática, Geografia, Ensino da Arte, Educação Física,Ciências Naturais e História). Nas versões mais recentes,inclusive na definitiva foram nomeados de “TemasTransversais”. Portanto, os PCNs para o EnsinoFundamental apresentam dois programas, um de ensino(os Blocos de Conteúdos) e outro de formação de valorese condutas (os Temas Transversais).

A escola brasileira, no entanto, lidou mal com isto. Numaprimeira fase, não foram poucas as escolas que incluíramdisciplinas com a mesma denominação dos TemasTransversais (principalmente Ética, Meio Ambiente, Saúdee Orientação Sexual). Depois, ao perceberem que não setratava de disciplinas passam a organizar os Blocos deConteúdos através de temas geradores com os mesmotítulos dos Temas Transversais, organizando as atividadese seqüências didáticas com base nos temas da Ética, daOrientação Sexual etc.

As instituições escolares produzem belos trabalhos sobreorientação sexual, mas que tratam apenas do aparelhoreprodutor humano, das formas de prevenção da gravidezou doenças sexualmente transmissíveis. Estudam asdiferentes formas de reciclagem do lixo ou apresentaminstigativas propostas para resolução de problemas sociais.Estas questões são importantes, mas pertencem aodomínio da disciplina de Ciências Naturais ou deGeografia. O seu estudo, sem dúvida, ajuda a formarvalores ou a mudar condutas, mas não havendo açõesdirigidas para isto, continuamos a ensinar, portanto nocampo dos blocos de conteúdos e não a formar valores.As ações transversais precisariam se constituir de açõesdirigidas com objetivos permanentes e reincidentes paraque de fatos os alunos e alunas mudem posturas. Comono caso da orientação sexual, não se trata apenas de

“relações sexuais”, mas das formas como os alunosrepresentam as questões sexuais e com se relacionam entresi, não no sentido estritamente sexual do termo. Osprocessos pedagógicos devem promover tantoapresentação de informações como também em constituiruma noção de prazer, de relacionamento entre pessoas,de concepção de afetividade etc.

As atividades de tipo “ensino” podem reforçar ou “abrircaminho”, mas não garantem isoladamente a formaçãode valores. Uma aluna, do curso de pedagogia, certa vezcomentou que ao ensinar sobre valores para os seus alunosde primeira série ela ficava bastante frustrada, pois estascrianças respondiam corretamente (nas atividades porescrito e oral) o que eram os valores. No entanto elapercebia que estes alunos não praticavam estes (ou algunsdestes) mesmos valores.

Cabe então perguntar: em que medida determinadaatividade consegue atingir os alunos e como podemosavaliar estas mudanças? Em muitos casos, penso eu, osalunos aprendem a responder o que o professor desejaou espera. Assim parece-me comum às situações em quealunos concordam com as posições dos professores, masnão chegam a internaliza-las.

Certa vez eu fui encarregado pelos colegas de submeteros alunos e alunas do colégio, em que trabalhava, a umquestionário sobre participação em movimentos sociais.Por engano entreguei os questionários ao professor degeografia e de história de uma mesma turma da oitavasérie. Por alguma razão eles não avisaram o professor quejá haviam respondido o questionário e tornaram a faze-lo. Isto não me pareceu grave pelo contrário vi nisto atéuma boa situação, pois poderia excluir os questionáriosrespondidos de forma insatisfatória.

Mas fiquei muito surpreso ao perceber que a maioria daturma adotava dois discursos distintos, um para cadaprofessor. Para um dos professores afirmavam que as

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pessoas deveriam ir a luta, recusarem-se a ser exploradasetc. Para o outro as respostas estavam associadas àresponsabilidade, a ordem, a legalidade. Em ambos oscasos pareciam (e de fato o eram) que os professoresfalavam pelo texto dos alunos. Aqui está um caso em queos alunos “aprenderam” sobre valores mas não osinternalizaram.

Mas isto não significa que não devemos falar sobre ouensinar valores. Precisamos compreender que esteprocesso tem um alcance formativo limitado, podendoevidentemente contribuir com os alunos quepotencialmente tendem para aquele valor, em função desuas próprias concepções.

Vou propor algo um tanto perigoso – vamos ensaiar umapequena tipologia para o ensino e/ou formação de valores:

[a] o professor trata de valores em sala de aula, mas osalunos não refletem estes valores;

[b] os alunos dizem concordar com as posições doprofessor, mas este percebe que isto não ocorre de fato;

[c] os alunos ficam sensibilizados, mas passando um certotempo distanciam dos valores e condutas “aprendidos”;e

[d] alunos que já estavam sensibilizados ou que o sãofortemente influenciada pela atividade dirigida peloprofessor internalizam o valor ou a conduta.

As atividades de tipo ensino – com explanação, análisecritica, exames de metáforas, por exemplo –, sobre valoresaté alteraram o comportamento imediato dos alunos, masestas mudanças podem não se sustentar. Mas estasensibilização pode vir a se constituir num processoformativo caso seja potencializado por outras atividadespermanentes e reincidentes. Com isto refiro-me a

atividades dirigidas pelos professores que visamdesestabilizar certos valores ou condutas ou então reforçaroutros que ocorrem ao longo do processo escolar – daí oconceito de transversalidade. Muitas vezes não sãoatividades explicitas, mas indiretas, como atividadescooperativas. Outras vezes são atividades mobilizadorascomo, por exemplo, a organização de campanhas paraque as comunidades ou a escola passem a separar o lixo.

Ainda temos que examinar a situação de justaposiçõesentre pontos dos blocos de conteúdos (ou disciplinasescolares) com itens dos Temas Transversais. Por exemplo,é comum ensinar sobre o sistema reprodutivo humanoachando que está praticando o tema de orientação sexual;ensinar sobre preconceito em situações históricas comose tratasse da multiculturalidade. Embora as estasinformações sejam importante para o tema transversalelas estão ligadas à disciplina de Ciências da Natureza oude História, respectivamente. O referido tema transversalrequer a problematização das condutas e valores sobre asexualidade e discriminação, que pode necessitar dospontos de disciplinas. Mas os resultados são distintos, poisaprender sobre o sistema reprodutivo não garante que aspessoas vão internalizar certos valores e condutas sobre asexualidade. Já o processo formativo (e neste sentidotransversal) para mudar valores pode requerer que seensine sobre o sistema reprodutivo humano. Ainda umoutro exemplo: ensinar sobre a Amazônia, poluição,desmatamento etc, não muda a cultura das pessoas parauma atuação preservacionista e não predatória da naturezae pode sensibilizar, mas efetivamente pode não formarvalores ambientalistas.

A formação de valores e condutas se constitui numimportante dilema pedagógico, pois está na essência detodo processo educativo. Portanto é necessário examina-lo com intensidade pois sem ele não se produz osprocessos educativos.

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O O O O O PROFESSORPROFESSORPROFESSORPROFESSORPROFESSOR PRECONCEITUOSOPRECONCEITUOSOPRECONCEITUOSOPRECONCEITUOSOPRECONCEITUOSO

Marcos Cordiolli

Marco Radice, um escritor italiano, escreveu certa vez queé que muito difícil construir pessoas “novas” sendo umapessoa “velha”. Ele mesmo dizia, que temos tantas marcasde nosso tempo que talvez não consigamos serplenamente pessoas “novas” então devemos nosesforcemos para sermos as últimas pessoas “velhas”.

Nós, professores e professoras, neste sentido, temos emmaior ou menor grau, concepções ou práticasdiscriminatórias e preconceituosas, e, às vezes, até racistas.Ser professor ou professora não basta para nos livrar dosproblemas do mundo e das contradições de valores. Nóssomos seres concretos, ou seja, produto de nosso tempoe de nossos ambientes culturais. Sendo assim, temos umdilema que pode ser expresso da seguinte maneira: se oprofessor deve desenvolver ações formativas quem é queo forma, ou como ele se forma, enquanto sujeito desteprocesso?

A resposta para esta questão seguramente não é simples,mas podemos investigar alguns caminhos.

1. Os programas de qualificação profissional dosprofessores devem necessariamente abordar este tema.Não basta estudar ética ou temas que tratem de valoresou condutas! Não basta saber sobre tal ou qual assunto...é necessário que os valores e condutas efetivamente sejamincorporados a prática cotidianas dos professores eprofessoras em formação.

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Abro um pequeno parêntese para relatar uma experiênciapessoal. Certa vez, eu fui visitar uma instituição escolar,quando passava pela cancha de esporte pude assistir parteda aula de educação física. Vi adolescentes correndo sobforte sol e um deles (bastante obeso e suando muito),devido a sua condição, estava sendo humilhadoverbalmente pelo professor, que pensava estar fazendouma “pequena, inocente e carinhosa brincadeira”. Procureio diretor da escola, um amigo, ao qual pude relatar o fatoe solicitei para não repreender o professor e nem mesmocomentar o fato. Mas elaboramos algumas propostas paratratar do problema com o coletivo de docentes, notranscorrer das quais o próprio professor relatou algumasde suas prática, reconhecendo o erro e se dispondo amudar. Ao relatar este caso não quero de forma algumaidentificar os problema da discriminação com osprofessores de educação física (pelo contrário enquantocategoria parece ser a que mais tem discutido e atacado oproblema), mas reconhecer que o fato das aulas destadisciplina ocorrem em lugar aberto os deixam maisexpostos, ao olhar visibilidade externo, do que os demaiscolegas.

2. Os professores e as professoras mais sensíveis a esteproblema devem atuar permanentemente junto aos seuscolegas. Sempre apresentando, problematizando ecriticando posturas e valores, como, por exemplo,mantendo a sala limpa após as reuniões, assumindoposturas de separação do lixo, e evidentemente não sendoe não permitindo preconceitos, etc. Estar sempre atendoa situações cotidianas, percebendo elementosdiscriminatórios em materiais didáticos, atividades, relaçõesente e com estudantes, conversas informais, piadinhasinfames etc. Uma situação comum de discriminação éaquela que ocorre pela linguagem, pois é comumencontrarmos no vocabulário dos professores palavrascomo “judiar” (“o menino judiou do cachorro”, ou seja,fez com cachorro “o que se faz com judeu”) ou “negro”como depreciativo (“a situação está negra”, “ou uma

pessoa foi denegrida por outra”, ou seja, a situação “estácomo vida de negro”) entre muitos outros casos.

3. A firme ação dos professores e professoras sensíveisao problema da discriminação agindo junto aos alunospode produzir alguns resultados significativospossibilitando o questionamento de colegas docentes queadotam posturas discriminatórias. Eu conheço algunscasos de colegas que tiveram sérios problemas com isso,pois a partir de suas intervenções alguns outros professorese professoras passavam a ser questionados pelos alunos ealunas em comum. Muitas vezes o próprio professor ouprofessora se dava conta de que estava equivocado emudava de posição, em outros casos acabava direcionandoa sua ira ao colega que havia sensibilizado os e asestudantes. Pois a discriminação, em alguns casos, éinconsciente e ao ser percebida, a própria pessoa assumeuma postura de mudança. Mas em muitos casos, nos quaishá cristalização da discriminação o seu portador ouportadora pode abandonar o debate racional e partir paradiversos níveis de conflito. Mas uma vez exposto oproblema é mais fácil de tratá-lo.

Uma última observação sobre este ponto: alguns colegasforam acusados de não adotar posturas éticas ao secolocarem ao lado dos estudantes. Eu penso que ter umapostura ética, não é apenas defender supostos interessescorporativos dos professores e professoras em oposiçãoaos educandos e educandas, mas é o de assumir as nossasposições, defendendo-as nas instancias legitimas. Assim,penso eu, devemos defende-las em reuniões de docentes,frente às coordenações, mas jamais utilizar mecanismosescusos como fofocas ou articulações à surdina.

Portanto, a tarefa dos professores e professoras é, ainda,mais ampla, e ocorre em duas difíceis frentes deintervenção: de um lado procurar avançar com os alunose alunas, por outro atuar também em relação aos colegas.Esta última tarefa parece ser a mais difícil e morosa, masé preciso apostar neste caminho, pois quem luta contra a

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discriminação está imbuído dos mais humanos dos ideaise não é a oposição ou as dificuldades impostas por colegasque vai impedi-lo de seguir em frente.

CCCCCONSUMOONSUMOONSUMOONSUMOONSUMO CONSCIENTECONSCIENTECONSCIENTECONSCIENTECONSCIENTE

Marcos Cordiolli

Pergunta: O consumismo é uma prática comum em nossa sociedade,mas atualmente as questões sociais e ambientais têm recebido forteatenção da mídia e das organizações da sociedade civil. O resultadoé mais informação e um número maior de pessoas dispostas acontribuir para um mundo mais justo e equilibrado. Onde o consumoconsciente entra nessa história?

Resposta: O consumo consciente é uma cultura emformação, na qual a educação para o consumoexerce funções determinantes. Inicialmente cabeuma definição de consumo e consumo consciente.

O consumo nos últimos 50 anos foi ampliadoastronomicamente em função de novas práticas dasempresas produtoras e da cultura contemporânea,tais como: o surgimento do produto descartável ecom a vida útil limitada; a ampliação indústriacultural que induz a modelos de vida e consumo; aversatilidade do desenvolvimento tecnológico quea cada dia nos oferecem mais e mais produtos; adiversificação de modos de compra; odesenvolvimento de novos métodos de propagandapara fazer as pessoas consumirem cada vez mais;a transformação de crianças e jovens emconsumidores ativos com linha de produtos voltadaexclusivamente para este público, alvo de campanhapublicitárias cada vez mais arrojadas e eficazes paraaumentar o consumo familiar.

No entanto, os mecanismos públicos de defesa doconsumidor ainda estão engatinhando, nos fazendo

Entrevista concedida ao Jornal da Escola Lúmen de Curitiba (PR).

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navegar desgovernadamente no mar revolto doconsumo.

Pergunta: Como o consumo consciente ajuda na proteção do meioambiente?

Resposta: A nossa sociedade está toda organizadapara a produção, circulação e consumo de produtos.Desta forma, muitos produtos são depredadores dasriquezas naturais, poluidores ou produtores de lixo.É importante o conhecimento destes processos paraadotar posturas de renúncia ou redução do consumodestes produtos. Ou seja, uma moderação noconsumo de alguns produtos ajudaria a natureza eobrigaria as empresas a encontra soluções.

Por outro lado algumas empresas já adotam posturaspreservacionistas, como a reciclagem de bateriasde telefones celulares e o retorno de produtos usadosou embalagens. Tudo isto é importante e as pessoasdevem aderir.

Pergunta: Que exemplos você poderia dar de atitudes responsáveisdiante do consumo?

Resposta: Podemos arrolar varias ações, mas vamosnos limitar a citar algumas bem simples e que podemser praticadas cotidianamente, contribuindo muitocom a preservação ambiental. Alguns exemplos:preferir produtos a granel aos já embalados; preferirprodutos que usem material reciclado em suaprodução ou de empresas que têm uma posturaambientalmente correta; preferir bastão ou spraylíquido ao invés de aerosóis; leve sua própria sacolapara carregar as compras, evitando que mais plásticová para o lixo. Da próxima vez eu for aosupermercado pode-se levar duas listas: a do quese deve e a do que não se deve consumir.

Pergunta: Como os pais podem orientar seus filhos, desde pequenos,neste sentido?

Resposta: Há vários caminhos para se educar parao consumo consciente e os pais têm papel centralnessa formação. É importante destacar um aspecto

grave e urgente. Atualmente lazer e consumo estãomuito integrados. Famílias programam passeios emshoppings centers, para olhar vitrines, perguntarpreços e experimentar produtos sem a necessidadeimediata de comprá-los. Isto cria o hábito de fazerdas práticas de consumo um lazer. As criançascrescem como compradores compulsivos, passama desejar dezenas de coisas que não poderãocomprar, desenvolvendo o hábito do consumofreqüente e desnecessário.

Os fast foods compõem parte deste problema, poismuitos pais formam nas crianças, desde pequenas,hábitos alimentares desenvolvendo a fisiologia dogosto e constituindo os espaços e rituais alimentares(ambiente, decoração, formas de comer, brindesetc). Com as crianças pequenas, pode parecerdivertido e prático. No entanto, mais tarde, serámuito difícil alterar esses hábitos alimentares. Háconseqüências: obesidade, aumento do gastofamiliar, tensão entre pais e filhos.

As visitas às lojas devem ocorrer apenas para aefetivação da compra e não necessariamente coma presença das crianças. As refeições em fast foodsdevem ocorrer como exceção e não como regra.

Pergunta: Que práticas as escolas podem adotar para contribuirpara despertar essa responsabilidade diante do consumo?

Resposta: O consumo é conteúdo escolar e deveser estudado. O assunto deve ser analisado entreos mecanismos das necessidades, dos desejos e daspossibilidades, ou seja, do que é necessário, do édesejado e do que é possível ser adquirido. E comodecorrência, os mecanismos do consumo como autilização das mídias no estimulo do consumo.Posteriormente estudar os efeitos do consumo sobreo planeta (poluição, depredação ambiental, acumulode lixo) e as possibilidades de consumo consciente.Também é necessário aprender a legislação e osmecanismos de defesa do consumidor. Por último,faz-se necessário que cada aluno e família faça umaauto-análise dos hábitos de consumo e sua relaçãocom a real necessidade e orçamento familiar.

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Pergunta: Diante da realidade de que a população mundial cresce acada dia e de que, com isso, aumenta o consumo e o lixo gerado porele, que perspectivas e soluções você imagina para os próximos anos?

Resposta: A reciclagem e redução do lixo sãoaspectos importantes da educação para o consumo.Um bom teste para compreender a dimensão doproblema é o seguinte: quando chegar com acompra do supermercado retirar todas asembalagens desnecessárias e verificar a quantidadede lixo produzido. As pessoas, que ainda nãorepararam nesta situação ficam espantadas com oresultado. A relação entre lixo e consumo é evidente.

Neste sentido, você pode:

[a] Dar preferência a produtos que causem, na suaprodução, danos menores ao ambiente epreferencialmente por empresas que comprovemque estão atuando para proteger a natureza;

[b] Optar por embalagens biodegradáveis e por lojasque aceitem as embalagens de volta;

[c] Maximizar o uso de produtos também é umapostura necessária: usar os dois lados do papel nasimpressões, ampliar o período de troca dos produtoseletrônicos, roupas e móveis; reaproveitarembalagens;

Praticar a coleta seletiva do lixo;

[d] Dar destinação correta para produtos eletrônicos,baterias, vidro quebrados e produtos tóxicos;

[e] eUsar menos plástico;

[f] Economizar energia e água diariamente.

É necessário, portanto, procurar reduzir o consumopara níveis adequados e necessários para a vidahumana, ou seja, mudar certos hábitos comoresponsabilidade para salvar o planeta.

A A A A A FORMAÇÃOFORMAÇÃOFORMAÇÃOFORMAÇÃOFORMAÇÃO DEDEDEDEDE VVVVVALALALALALORESORESORESORESORES EEEEE AAAAA

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Marcos Cordiolli

Os conteúdos nas escolas brasileiras, geralmente, estãoassociados a saberes transmitidos e a habilidades deaprendizagem. As atividades docentes em sala de aulaefetivam outros conteúdos, mas quer raramente sãoplanejados ou registrados nos diários de classe. A formaçãode valores como de padrões de condutas estão,seguramente, entre estes conteúdos.

Os conteúdos curriculares, portanto, são mais amplos queas listas de saberes e temas de estudos presente na maioriadas propostas curriculares e relatórios de classes dosprofessores. Os conteúdos são a “porção da culturaescolarizada”, sendo esta porção considerada relevante paraa sociedade [Williams apud Veiga-Neto, 1995]. Assim, asações docentes, além de constituir as condições para aaprendizagem abarcam as ações que resignificam valores,que experienciam sentimento, que modelo linguagens,processos cognitivos etc [Cordiolli, 2004].

A legislação pedagógica brasileira pós-LDB-EN de 1996,tratou de parte deste problema na formulação dasDiretrizes Curriculares Nacionais para o EnsinoFundamental [DCN-EN], instituída em 1998. No artigoArt. 3º inciso IV alínea b fixava as áreas de conhecimentoe ainda determinava a necessidade de “Garantir a vidacidadã através da articulação entre vários dos seus aspectoscomo a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o

Publicado na revista do Grupo Educacional Opet [www.opet.com.br]

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meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia, acultura e as linguagens”

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para oEnsino Fundamental apresentadas a partir das DCN-EFinstitui a figura dos temas transversais (associada a formaçãode valores e padrões de conduta), modelo similar aoadotado no Estado Espanhol. Estas proposições passarama compor dois campos de referencia para a organizaçãodo trabalho pedagógico (tanto de conteúdos como deplanejamento e avaliação): um associado aos saberes e asaprendizagens e outro a formação de valores [Cordiolli,1999].

Os valores e padrões de conduta, no entanto, continuamexcluídos como conteúdos com lógicas próprias querequerem planejamentos, processos e instrumentosavaliativos próprios e peculiares (embora presente nalegislação e enfaticamente defendidos nas propostaspedagógicas das escolas). Estes conteúdos, acreditam asescolas, seriam efetivados como resultantes de processosde aprendizagens. E na prática, efetivamente, sãopromovidos pelas prelações constantes sobre os temas,pelos educadores e educadoras. A diversidade culturalparece ser a mais grave das situações, pois estudam asdiferenças étnicas, a composição diferenciada dapopulação brasileira, novamente a mesma questão: sãoaprendizagens necessárias, porém não suficiente para asuperação da discriminação e racismo (isto quando nãoficam apenas em tópicos alegóricos como as contribuiçõesde cada povo para a cultura brasileira, tais como asinfluencias na língua, na culinária, na lavoura, etc).

A transversalidade, na prática, aparece ora como disciplinaespecifica, ora como tema gerador ou ainda comoproblematização de projetos, mas, efetivamente, não éconstituídas práticas pedagógicas especificas voltadas paraas mudanças de comportamento, em particular, da re-significação de valores e de padrões de conduta, ou seja,

para realizar a transversalidade se faz necessárioefetivamente mudar as pessoas [Cordiolli, 2001].

A questão ambiental, tema deste ensaio, pressupõe areflexão do modelo de sociedade em que vivemos(superação as populares de visões românticas na escola«de amor incondicional pela natureza») com a adoção depráticas concretas na vida cotidiana bem como açõespolíticas de grande envergadura. A formação de valores,na perspectiva da transversalidade, implica em práticasreincidentes e permanentes que mudem efetivamente acultura dos educandos e educandas assim como dasescolas que freqüentam [Cordiolli, 2004]. Este tematransversal, no entanto, já produziu diversas experiênciaspedagógicas, cujo relato é impossível aqui, na forma eespaço que este breve ensaio permite, por isso, vamosabordar apenas a questão da reciclagem de lixo e materiaisna escola, uma pequena, porém importante açãotransversal.

A reciclagem de lixo e materiais escolares deve orientar aspráticas seletivas no ambiente escolar, com adisponibilização nos pátio, secretarias e nas salas de aulade múltiplas lixeiras. Os resultados da coleta seletiva devemser divulgados especificando os volumes recolhidos bemcomo os estágios das metas que devam ser alcançadascom esforços coletivos. Esta é uma medida necessária,pois, geralmente, a escola indica aos educandos eeducandas e as suas famílias a seleção de rejeitosdomésticos, mas não o praticam na própria instituição.

O material coletado deve ser separado em duas partes.Uma parte é o do material que deverá ser enviado paraestações de reciclagem (caso o município não possuacoleta pública seletiva de lixo, podem ser fixados acordoscom carrinheiros ou empresas especializadas).

A outra parte do material coletado seletivamente deveser reutilizado na própria escola e para uso cotidiano. Namaioria das vezes o material reciclado (como garrafas tipo

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pet, latas e canudos de refrigerantes) é transformado emartesanato e, geralmente, descartados pelas famílias eacabam... no lixo (e o que é pior, muitas vezes no lixocomum). A escola deve adotar práticas como a reutilizaçãode cartazes e folhas de papel (os cartazes que cumpriramo objetivo, ao invés de serem descartados, devem serutilizados nas próximas atividades em seus versos, omesmo pode ocorrer com as folhas de papel). Os porta-objetos (giz, lápis, papeis) podem ser construídos eutilizados nas salas de aula, pelos alunos com materiaisreciclados; etc.

A segunda fase deve ser utilização adequada de produtos,como o uso intensivo (de lápis, canetas, folhas de papel ecadernos) e o uso racionado (de energia elétrica, água,guardanapos, descartáveis, etc.).

A escola ainda pode criar uma área de compostagem pararejeitos orgânicos (caso possua um espaço adequado paraesse fim) e o utilizar como adubo de jardins ou hortas ouaté mesmo disponibilizar para as famílias da escola.

A transversalidade pressupõe realizar no espaço escolaraquilo que a escola propõe para vida em casa e nasociedade, simples, mas, infelizmente, pouco efetivado.

Referências

CORDIOLLI, Marcos. A transversalidade na formaçãode valores e padrões de conduta: algumasproblematizações a partir e para além dos PCNs. IJornada Internacional de Educação da Bahia. Livroda Jornada. Curitiba: Futuro, 2001.

CORDIOLLI, Marcos. Para entender os PCNs: ostemas transversais. Curitiba: Módulo, 1999.

CORDIOLLI, Marcos. Reestruturação curricular:cultura e pertinência de conteúdos. Curitiba,Secretário de Estado da Educação do Paraná, 2004.

VEIGA-NETO, Alfredo. Culturas e currículo. Curso deextensão Teoria e Prática da Avaliação Escolar.Sertão (RS) UFRGS/ Conselho de Diretores dasEscolas Agrotécnicas Federais, 1995. Consultadona Internet no site http://orion.ufrgs.br/faced/alfredo/sertao.htm em 20/12/1999.

Nota do autor

O autor agradece:1. a comunicação de erros.2. opiniões sobre o texto, inclusive sobre passagens comredação inadequada.3. o envio de textos dos leitores no qual o autor foi citado.

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Page 21: A Casa de Asterion - Marcos Cordiolli · publicada na revista da Escola Lúmen de Curitiba. O texto “A formação de valores e a questão ... de gestão do trabalho pedagógico

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As publicações do selo A Casa de Asterion podem serlivremente copiados digitalmente ou por fotocopiadoras.No entanto, não podem ser vendidos. Os autoresdisponibilizam estas publicações como esforço dedemocratização da informação e do conhecimento.

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