A estruturação das organizações: a nova gestão pública, o ensino superior e o caso da...

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 1         Mestrado em Economia e Administração de Empresas Psicossociologia das Organizações   A estruturação das organizações: a nova gestão pública, o ensino superior e o caso da Universidade do Porto    Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442   Porto, janeiro de 2014   

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Janeiro de 2014 | “A estruturação das organizações: a nova gestão pública, o ensino superior e o caso da Universidade do Porto”, no âmbito da unidade curricular de Psicossociologia das Organizações do Mestrado em Economia e Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP). Autor: Cláudio Carvalho. Avaliação: 18 em 20 valores.

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Mestrado em Economia e Administração de Empresas 

Psicossociologia das Organizações 

 

 

A estruturação das organizações: a nova gestão pública, o 

ensino superior e o caso da Universidade do Porto  

 

 

Cláudio Carvalho ‐ n.º mecanográfico 200500442 

 

 

Porto, janeiro de 2014 

 

 

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Índice 

Introdução ..................................................................................................................................... 4 

Estruturação das organizações: conceitos genéricos .................................................................... 6 

O funcionamento de uma organização ..................................................................................... 6 

Os parâmetros de conceção de uma organização .................................................................... 7 

Os fatores de contingência de uma organização ...................................................................... 8 

Configurações estruturais ......................................................................................................... 8 

A estruturação das organizações: da gestão pública à gestão do ensino superior .................... 11 

NGP: contextualização e conceptualização ............................................................................. 11 

A NGP e o ensino superior português ..................................................................................... 14 

A estruturação das organizações e o RJIES ......................................................................... 16 

O regime fundacional .......................................................................................................... 18 

A reorganização estrutural da U.Porto que não chegou a acontecer ..................................... 20 

Descrição da U.Porto e da configuração da sua estrutura .................................................. 20 

Análise à proposta de alteração ao regulamento orgânico ................................................ 26 

Conclusão e considerações finais ................................................................................................ 31 

Referências bibliográficas ........................................................................................................... 33 

Bibliografia .................................................................................................................................. 34 

Anexos ......................................................................................................................................... 36 

Anexo  1:  Considerações  adicionais  sobre  a  caracterização  das  estruturas  organizacionais 

através das dimensões estruturais .......................................................................................... 36 

Anexo 2: Considerações adicionais sobre os formatos estruturais convencionais ................. 37 

Anexo 3: Considerações adicionais sobre as demais configurações de Mintzberg ................ 38 

Anexo 4: Quadro‐sumário com a dimensão das cinco configurações estruturais .................. 41 

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Anexo 5: A criação da U.Lisboa ............................................................................................... 44 

 

   

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Introdução   

No âmbito da unidade curricular de Psicossociologia das Organizações do Mestrado em 

Economia e Administração de Empresas da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, 

é  da  minha  responsabilidade  apresentar  este  documento  que  consubstancia  uma  breve 

revisão  de  literatura  sobre  a  estruturação  nas  organizações  e  que  procura  associar  esta 

matéria  com os desenvolvimentos  recentes no  setor do ensino  superior português e  com o 

caso particular da tentativa de reestruturação da Universidade do Porto (U.Porto). 

 

Inicialmente,  apresentar‐se‐ão  conceitos  genéricos  sobre  o  que  são  estruturas  e  de 

que  forma  estas  se  relacionam  com  as  organizações,  expondo  conceitos  relativos  ao 

funcionamento das organizações  ‐  i.e. mecanismos de coordenação, componentes básicas de 

uma  organização  e  sistemas  de  fluxo  ‐,  aos  parâmetros  de  conceção  e  aos  fatores  de 

contingência.  De  igual  forma,  sumariaremos  alguns  dos  formatos  estruturais  existentes, 

particularizando as configurações definidas por Mintzberg (2010). Neste ponto, a preocupação 

não  se  centrou  no  desenvolvimento  dos  conceitos  –  para,  desde  logo,  não  aumentar  a 

extensão do trabalho ‐, mas, tão‐só, na sua apresentação tendo em conta as considerações do 

autor agora referido e as esboçadas em Pina e Cunha, Rego et al. (2007). 

Posteriormente,  far‐se‐á  uma  breve  descrição  da  estruturação  das  organizações  no 

âmbito  da  administração  pública,  destacando  o  ensino  superior  nacional.  Neste  sentido, 

contextualizaremos e conceptualizaremos a “nova gestão pública” e a sua aplicação concreta 

no âmbito da gestão das instituições de ensino superior (IES) públicas portuguesas dos últimos 

anos. Quanto ao caso da U. Porto, analisar‐se‐á a recente discussão do regulamento orgânico, 

no âmbito do qual foram discutidas profundas alterações em toda a arquitetura institucional.  

Finalmente,  findar‐se‐á  este  trabalho  com  a  conclusão  do mesmo  e  com  algumas 

considerações finais. 

 

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Importa, ainda, referir que a  (sumária) revisão bibliográfica e o estudo reflexivo aqui 

exposto foram desenvolvidos com o apoio de bibliografia que se considerou de referência e de 

diversos documentos de natureza legislativa. Paralelamente, e com o intuito de complementar 

com  o  plano  prático  do  supramencionado  caso  da  U.  Porto,  atentou‐se  a  documentos  ‐ 

públicos e privados ‐ que suportaram ou fomentaram as discussões nele integradas. Ao longo 

do documento estão dispostas notas de  rodapé que visam enriquecê‐lo, mesmo não  tendo, 

por vezes, relação fulcral com o objeto do estudo. 

 

   

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Estruturação das organizações: conceitos genéricos 

O funcionamento de uma organização 

As  organizações  têm  sido  concebidas,  desde  há  muito  tempo,  como  estruturas  – 

formais ou  até  informais  ‐ e/ou  como  sistemas  com estruturas próprias que  criam  relações 

entre os seus componentes. «Uma estrutura é, em primeiro lugar, algo que pode suportar‐se a 

si própria»  (Gabriel 2008:288‐289), podendo  esta  ser  rígida,  flexível,  robusta ou maleável  e 

sendo o  conceito  aplicável  a uma  grande  variedade de entidades e em  inúmeras  situações. 

Pina e Cunha, Rego et al. (2007:38) salientam a complexidade da conceptualização do conceito 

"organização",  destacando  Tsoukas  (2000)  que  considera  que  as  organizações  formais  se 

caracterizam por  serem  "contextos onde  a  ação  individual  tem  lugar" e que  assentam num 

"conjunto de regras para a ação" e "cuja identidade se desenvolve ao longo do tempo" (Pina e 

Cunha, Rego et al. 2007:38).  

Mintzberg  (2010),  por  sua  vez,  apresenta  uma  conceção mais  cuidada  que  Gabriel 

(2008), mas ainda assim simples, considerando que "a estrutura de uma organização pode ser 

definida  (...)  como  o  total  da  soma  dos meios  utilizados  para  dividir  o  trabalho  em  tarefas 

distintas"  (Mintzberg 2010:20),  sendo que existem cinco mecanismos de coordenação desse 

trabalho: o ajustamento mútuo; supervisão direta; estandardização dos processos de trabalho; 

estandardização  dos  resultados;  e,  finalmente,  a  estandardização  das  qualificações  dos 

trabalhadores. Estes mecanismos são tidos como fundamentais numa estrutura, sendo a "cola 

que  aglutina  as  diferentes  partes  de  uma  organização"  (Mintzberg  2010:  21),  fazendo‐a 

funcionar adequadamente. À medida que a organização cresce e que o trabalho se torna mais 

complexo, sendo que a sua divisão de trabalho aumenta, "os meios preferidos de coordenação 

parecem  deslocar‐se  (...)  do  ajustamento  para  a  supervisão  direta  e,  em  segunda,  até  à 

estandardização  dos  processos  de  trabalho,  de  preferência,  ou  até  à  estandardização  dos 

resultados  ou  das  qualificações,  para  regressar  ao  ajustamento mútuo  nas  situações mais 

complexas"  (Mintzberg  2010:25).  Este  "regresso  ao  ajustamento  mútuo"  ocorrerá  por 

impossibilidade  de  se  estandardizarem  as  tarefas  diferenciadas  (Mintzberg  2010:26).  Não 

obstante  o  exposto,  as  organizações  têm  por  hábito  utilizar  uma  mistura  destes  cinco 

mecanismos de coordenação ainda que possam favorecer um destes. 

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Ainda ao nível do funcionamento das organizações, importa salientar as componentes 

básicas das organizações e os sistemas de fluxo das mesmas.  

Ao nível das  componentes básicas,  importa destacar o  centro operacional, o vértice 

estratégico, o pessoal de apoio (i.e. funções logísticas), a tecnoestrutura e, finalmente, a linha 

hierárquica (Mintzberg 2010:43).  

Ao nível dos sistemas de fluxo que atravessam estas componentes, a organização pode 

ser perspetivada como: um sistema de autoridade formal; um sistema de fluxos de informação 

regulados; um sistema de comunicação  informal; um sistema de constelações de  trabalho; e 

um sistema de processos de decisão ad hoc. Estes sistemas são tidos como complementares e 

que  descrevem  uma  parte  do  funcionamento  das  organizações  e  que  quando  combinados 

transmitem a complexidade de todo o sistema (Mintzberg 2010:31). 

Mais  adiante  esta  matéria  será  analisada  com  maior  profundidade  e  tendo  como 

quadro o caso de estudo da tentativa de reestruturação da U.Porto. 

Os parâmetros de conceção de uma organização 

Apresentados  os  fundamentos  relativos  ao  funcionamento  da  organização,  importa 

analisar os elementos básicos utilizados para conceber as estruturas das organizações, ou seja 

os parâmetros de conceção. Estes parâmetros de conceção são "as alavancas que influenciam 

a divisão do trabalho e os mecanismos de coordenação, que vão afetar todo o funcionamento 

da organização ‐ como os fluxos de materiais, de autoridade, de informação e os processos que 

a percorrem" (Mintzberg 2010:88). Assim, apresentam‐se de seguida os tais nove parâmetros 

de conceção: (i) especialização do trabalho; (ii) formalização do comportamento; (iii) formação 

e  socialização;  (iv)  agrupamento  em  unidades;  (v)  dimensão  das  unidades;  (vi)  sistemas  de 

planeamento  e  de  controlo;  (vii) mecanismos  de  ligação;  (viii)  descentralização  vertical;  (ix) 

descentralização  horizontal.  Os  primeiros  três  estão  associados  à  conceção  dos  postos  de 

trabalho, o quarto  e o quinto  estão  aliados  à  conceção da  superestrutura,  enquanto que o 

sexto e o sétimo são relativos à conceção das  ligações  laterais e,  finalmente, os últimos dois 

são relativos ao sistema de tomada de decisão (Mintzberg 2010:90). Em Pina e Cunha, Rego et 

al.  (2007:607‐611),  constatam‐se  algumas  diferenças  expositivas  relativamente  a Mintzberg 

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(2010),  sendo  que  os  autores  consideram  que  as  estruturas  das  organizações  podem  ser 

caracterizadas por diversas dimensões estruturais, nomeadamente: a amplitude de controlo, a 

amplitude vertical, a autonomia, a delegação, a centralização, a complexidade, a componente 

administrativa,  a  diferenciação,  a  especialização,  a  normalização,  a  formalização,  a 

profissionalização e a integração. Uma síntese destas características é apresentada no anexo 1 

e é baseada nas definições mais extensas dispostas em Pina e Cunha, Rego et al.  (2007:607‐

611). 

Os fatores de contingência de uma organização 

Estes  parâmetros  de  conceção,  quando  combinados,  "dão  origem  à  estrutura  das 

organizações" (Mintzberg 2010:243), mas a escolha da sua aplicação é definida de acordo com 

um  conjunto  de  fatores  de  contingência,  nomeadamente:  o  poder;  o  ambiente;  o  sistema 

técnico; e, finalmente, a idade e a dimensão. 

De acordo com Pina e Cunha, Rego et al.  (2007:611‐613), as variáveis determinantes 

do tipo de estrutura organizacional são a dimensão, a tecnologia, a envolvente e a estratégia. 

Da variável “dimensão”  ‐  tida como a mais  relevante  ‐ destaca‐se, quase de  forma  intuitiva, 

que uma organização que cresce  tem necessidade de  (re)ajustar a  sua estrutura,  resultando 

em aumentos da especialização, da normalização, da formalização e da complexidade desta. A 

tecnologia, também, influi na estrutura das organizações, visto que a integração da tecnologia 

numa  organização  exige  conhecimentos,  formação,  entre  outras  características  que  têm 

impacto direto na eficácia organizacional, na especialização e  complexidade da estrutura. A 

envolvente, por  sua  vez,  influencia o  funcionamento e estrutura das organizações. Assim, é 

aconselhável  que  sob  envolventes  instáveis  ou  de  alta  velocidade,  as  estruturas  não  sejam 

rígidas. Finalmente, a estrutura da organização deve adequar‐se à estratégia da mesma, pelo 

que diferentes estratégias exigem diferentes estruturas. 

Configurações estruturais 

O  agrupamento  harmonioso  dos  parâmetros  de  conceção  e  dos  fatores  de 

contingência,  resultam  em  configurações  estruturais,  onde  se  destaca  uma  associação  aos 

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mecanismos de coordenação e às componentes básicas anteriormente elencadas, destacando 

Mintzberg (2010:33) “o que parece ser mais do que uma mera coincidência”. 

Tomando  como  referência  Pina  e  Cunha,  Rego  et  al.  (2007:613‐623),  no  que  aos 

formatos  estruturais  diz  respeito,  os  mais  comuns  são  a  estrutura  funcional,  a  estrutura 

(multi)divisional  (forma  M),  a  estrutura  matricial,  a  estrutura  horizontal  e,  por  último,  a 

estrutura em rede. Considerando o caráter que se pretende não muito extensivo do trabalho 

remete‐se o desenvolvimento para o anexo 2, onde se apresenta uma breve descrição destes 

formatos,  segundo  o  consubstanciado  em  Pina  e  Cunha,  Rego  et  al.  2007:613‐623. 

Considerando as configurações de Mintzberg, «os cinco principais  tipos estruturais  (...)  [são] 

estrutura simples, burocracia (organização) mecanicista, burocracia (organização) profissional, 

estrutura  divisionalizada  e  adocracia»  (Pina  e  Cunha,  Rego  et  al.  2007:623‐625).  Desta 

destacaremos a organização ou burocracia profissional que é a mais relevante para o âmbito 

do trabalho que aqui exposto, enquanto que as restantes configurações aparecem detalhadas 

em maior pormenor no anexo 3 e no anexo 4.  

Como  referenciado  por  Mintzberg  (2010:379‐408),  a  organização  ou  burocracia 

profissional é uma estrutura frequente em hospitais, gabinetes de contabilidade, organismos 

de ação social, empresas artesanais e, também frequente no nosso objeto central de estudo, 

portanto  em  instituições  de  ensino  superior.  A  estandardização  ou  normalização  das 

qualificações e dos conhecimentos é o seu principal mecanismo de coordenação –  i.e. poder 

da competência  ‐ e o centro operacional é a componente‐chave da organização,  sendo este 

constituído por especialistas formados e socializados a quem lhes é conferido um elevado grau 

de autonomia e de descentralização no  seu  trabalho. A  complexidade do  seu  trabalho está, 

também, associada a uma  reduzida  formalização do  trabalho assim como do seu controlo e, 

consequentemente,  também  se  verifica  uma  considerável  descentralização  horizontal  e 

vertical e uma especialização horizontal do trabalho. 

Este  tipo  de  estrutura  comum  em  universidades  é  de  cariz  marcadamente 

democrático, nomeadamente quanto aos  trabalhadores do centro operacional  (i.e. docentes 

das  IES),  sendo  que  estes  não  controlam  unicamente  o  seu  trabalho  como  têm  um  papel 

acentuado na componente administrativa. Considera‐se aqui componente administrativa, no 

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sentido lato, visto estarmo‐nos a referir sobretudo a órgãos de gestão, de departamentos, de 

direção  de  ciclos  de  estudos  ou  outros  análogos.  Tal  poder  reforçado  pela  colegialidade, 

acentua ainda mais o poder do centro operacional e, no  limite, o «administrador profissional 

só  mantém  o  seu  poder,  se  os  profissionais  considerarem  que  o  administrador  serve 

eficazmente os seus interesses» (Mintzberg 2010:379‐408). 

Não obstante o disposto, ao contrário dos trabalhadores do centro operacional, os das 

unidades de apoio  têm o poder e o estatuto associados à  sua  funcionalidade e não às  suas 

competências,  constituindo  uma  estrutura  bem  diferente  ou  independente  da  que  aqui  foi 

inicialmente exposta. Assim, poder‐se‐á afirmar que «na realidade, existem como constelações 

de  burocracias mecanicistas  dentro  da  burocracia  profissional»,  visto  que  «as  unidades  de 

apoio (...) são muito provavelmente geridas de uma forma muito apertada a partir do vértice 

da  organização»  (Mintzberg  2010:379‐408).  Ou  seja,  «na  burocracia  profissional  tem‐se 

frequentemente duas hierarquias paralelas, uma para os profissionais, no sentido ascendente 

e que  é de  natureza democrática,  e  a outra para  as  funções de  apoio  logístico, no  sentido 

descendente  e  que  tem  a  natureza  de  uma  Burocracia Mecanicista»  (Mintzberg  2010:379‐

408).  

Como  é  retratado  em  Pina  e  Cunha,  Rego  et  al.  2007:626,  nesta  configuração,  os 

trabalhadores  encontram‐se mais motivados  e dedicados  às  suas  tarefas,  existe uma maior 

capacidade de  se  responderem a problemas  complexos e o  controlo ou a  coordenação não 

exigem tanto dos "agentes"  (hierarquicamente) superiores. A autonomia, que propícia maior 

motivação e dedicação, poderá ser contraproducente perante uma postura menos responsável 

dos constituintes do centro operacional. Concomitantemente, o corporativismo profissional e 

a  resistência  à  inovação  são,  por  vezes,  desvantagens  que  se  constatam  neste  tipo  de 

configuração  organizacional  (Pina  e  Cunha,  Rego  et  al.  2007:626).  Tal  «como  a  burocracia 

mecanicista,  a burocracia profissional  é uma  estrutura  inflexível, bem  adaptada  à produção 

dos seus resultados estandardizados mas não à inovação» (Mintzberg 2010:379‐408). Veremos 

que este aspeto teve relevância no caso da U.Porto que apresentaremos adiante. 

De  igual  forma,  voltar‐se‐á  a  referir  alguns dos  conceitos  apresentados neste ponto 

mais à frente no presente documento. 

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A estruturação das organizações: da gestão pública à gestão do ensino superior 

Os  autores  de  Boer,  Enders  et  al.  (2007)  registam  que  a  burocracia  (organização) 

profissional  ‐ descrita,  anteriormente  ‐,  a organização  colegial,  a  anarquia organizada  e  the 

loosely coupled organization como os modelos tradicionais de estruturação das universidades, 

assinalando todavia que, desde a década de 80, vêm surgindo modelos alternativos a estes. Os 

mesmos  autores  destacam  como  modelos  alternativos,  o  modelo  corporativo  de 

universidades, o modelo de empresa, o modelo de serviço e, ainda, o modelo do stakeholder. 

De  seguida,  veremos o  impacto de um novo modelo de gestão pública na estruturação das 

universidades, sem deixar de  ter em conta que analisamos a estruturação universitária mais 

tradicional, no ponto imediatamente anterior.  

NGP: contextualização e conceptualização 

Desde  os  anos  80,  vários  países  desenvolvidos  efetuaram  reformas  nas  suas 

administrações  públicas  e  nas  suas  economias, marcando  um  período  de  incorporação  de 

medidas  assentes  no  liberalismo  económico  e,  portanto,  promovendo‐se  políticas  que 

objetivassem uma crescente globalização das economias e das sociedades mais desenvolvidas, 

assim como a redução do peso das administrações públicas e a cooperação entre os setores 

público e privado  (Martins 2012:12‐13, Entwistle, Marinetto et al. 2007 e Gabriel 2008:202‐

203). Assim, a diversa literatura salienta frequentemente as reformas introduzidas na África do 

Sul, na Austrália, no Canadá, na Holanda, nos Estados Unidos da América, em Hong Kong, na 

Nova Zelândia e no Reino Unido  (Dunleavy, Margetts et al. 2006, Hood 1995). Neste último 

país, particularizam‐se duas fases: a primeira durante a década de 80, focada no processo de 

desregulamentação e de  liberalização da economia e,  também, de  redução do  setor público 

característica  do  Thatcherismo;  a  segunda  fase  respeitante  ao  período  de  governação  na 

década de 90,  aquele que  foi  apelidado do período  liderado pelo New  Labour,  com  vista  à 

integração do setor público com o setor privado e onde se procurou desenvolver muitos dos 

instrumentos  políticos  introduzidos  inicialmente  pela  governação  encabeçada  pelo 

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Conservative Party  (Entwistle, Marinetto  et  al. 2007). Quanto  a Portugal,  à  semelhança dos 

seus  países  parceiros  da  OCDE,  também  adotou  políticas  públicas  economicamente 

liberalizadoras, destacando‐se, neste trabalho, a aplicação de conceitos aliados à NGP. Como 

veremos, posteriormente, o ensino superior  foi um dos setores em que tais conceitos  foram 

incorporados, não sendo todavia o único setor: a gestão hospitalar na saúde é tida como um 

dos maiores  exemplos  (Carvalho  2006  e  Pêcego  2010)  e  as  telecomunicações,  os  serviços 

postais,  a  gestão  das  vias  rodoviárias  e  a  gestão  dos  transportes  públicos  rodoviários  e 

ferroviários são mais alguns exemplos da aplicação progressiva de conceitos da NGP (Martins 

2012:21). 

A NGP, sinteticamente, trata‐se de uma reforma da administração pública  iniciada na 

década de 80 que  consistiu na aplicação ao  setor público de  ideias, doutrinas e  técnicas do 

setor  privado,  nomeadamente  provenientes  da  economia  organizacional,  da  gestão  e  da 

contabilidade (Gabriel 2008:202‐204). Alguns dos conceitos‐chave são:  

(i) a aplicação de mecanismos ou critérios de mercado a serviços de provisão pública;  

(ii) uma gestão mais assertiva nomeadamente quanto a “grupos de  interesse” como 

sindicados  e  funcionários  públicos,  como,  a  título  meramente  exemplificativo, 

sistemas  remuneratórios  mais  focados  nos  desempenhos,  por  conseguinte 

remunerações  mais  elevadas  mas  também  associada  a  um  maior  risco  e 

instabilidade laboral,  

(iii) sistemas de auditoria e de avaliação de performance mais elaborados e rigorosos  

(iv) e, ainda, um modelo de gestão contratual ao invés do típico modelo hierarquizado, 

onde  se  promove  uma maior  descentralização  e  autonomização  de  organismos 

pertencentes à administração pública face à tutela1 (Gabriel 2008:202‐204 e Page 

2005).  

Já Dunleavy, Margetts et  al.  (2006) destacam  três  grandes  temas  ‐  relacionados, de 

alguma  forma,  com os quatro  conceitos‐chave  acima  referidos  ‐ e  respetivas  componentes‐

chave que integram a NGP e que sumariamos na tabela abaixo disposta. Destas componentes‐

chave,  as  que  se  destacam  e  caracterizam marcadamente  a  NGP  são,  indubitavelmente,  a 

                                                            1 Considera‐se aqui tutela o poder executivo exercido, por exemplo, por um ministério. 

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descentralização administrativa, a tentativa de diminuir o poder de reivindicação/negociação 

dos  organismos  de  agregação  profissional  (e.g.  sindicados,  associações  e  similares),  a 

implementação  de  medidas  contra  o  rent‐seeking,  o  melhoramento  da  medição  do 

desempenho e a maior preocupação com a eficiência das  instituições públicas e,  também, a 

externalização de serviços, nomeadamente a criação de parcerias público‐privadas, a criação 

de empresas públicas ou, ainda, de agências públicas com  fins empresariais ou  regulatórios. 

Concomitantemente e na senda do aspeto anterior, uma outra característica associada à NGP, 

senão  mesmo  a  mais  associada,  é  a  privatização,  desregulamentação  e  liberalização  de 

mercados que outrora eram de provisão ‐ total ou dominantemente ‐ pública. 

Principais temas e componentes‐chave da NGP (Dunleavy, Margetts et al. 2006). 

Tema  Componente 

Desagregação  

Separação comprador‐fornecedor 

Agenciamento 

Criação de agências semigovernamentais 

Separação de agências microlocais 

Dissociação entre sistemas políticos 

Privatização de indústrias 

Empresarialização e gestão organizacional única e forte 

Competição por comparação 

Melhoramento na medição de desempenho 

Perda de direitos de determinadas profissões ou redução do controlo ou influência das mesmas 

Tabelas de desempenho das agências 

Competição 

Sistemas de vouchers 

Externalização (outsourcing) 

Contratação intragovernamental 

Polarização entre os setores públicos e privados 

Liberalização do mercado de bens  

Desregulamentação 

Quasi‐mercados (também denominados por mercados internos ou mercados planeados) 

Financiamento direto ao consumidor 

Controlo do utilizador 

Testes de mercado de cariz obrigatório 

Atribuição de incentivos 

Reespecificação dos direitos de propriedade 

Regulação adequada 

Envolvimento em projetos do mercado de capitais 

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Privatização da propriedade de ativos 

Medidas anti‐rent‐seeking (ou medidas com o objetivo de cessar os privilégios de mercado eventualmente existentes) 

Fim de privilégios de determinadas profissões 

Remunerações de acordo com o desempenho 

Parcerias público‐privadas (PPP) 

Financiamento de iniciativa privada (FIP) 

Taxas de retorno e de desconto unificadas 

Desenvolvimento de tecnologias de carregamento (e.g. carregamento de cartões eletrónicos de transporte público) 

Valorização do capital público 

Acréscimos de eficiência obrigatórios 

 

Os críticos da NGP apontam que esta fragiliza o poder decisório do poder executivo e 

que tem, consequentemente, impactos na capacidade de "administrar" um país, sendo que em 

última  instância  questiona‐se  a  legitimidade  democrática  deste  modelo  de  gestão  da 

administração  pública.  Ademais,  esta  tende  a  promover  um  modelo  de  gestão  mais 

verticalizado, o que pode prejudicar a  resolução de questões de cariz mais horizontal,  isto é 

que abranjam mais do que uma área de ação e que necessitem de uma concertação da cariz 

intersectorial ou interministerial. Os pós‐modernistas apontam, ainda, que «a NGP é mais uma 

narrativa modernista racionalista que neglicencia temas mais orgânicos e menos controláveis 

da governança cívica ou da coevolução do governo com o ambiente» (Gabriel 2008:202‐204).  

Do  lado  de  quem  é  favorável,  destaca‐se  o  enfoque  na  melhor  eficiência  e 

transparência  dos  contratos  e  da  gestão  de  desempenho  (Gabriel  2008:202‐204)  mas, 

também, o  facto de  as políticas não  estarem  tão  sujeitas  a  alterações  suscitadas por  ciclos 

político‐eleitorais e, portanto,  terem maior continuidade e, ainda, por serem suportadas por 

análises e acompanhamentos com maior profundidade e acuidade técnica. 

A NGP e o ensino superior português 

Na  última  década  têm  existido  várias  mudanças,  nem  sempre  publicamente 

percetíveis,  na  estruturação  e  na  gestão  das  IES  um  pouco  por  todo  o mundo,  não  sendo 

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exceção as instituições nacionais. Estas têm encetado alterações ou adaptações suscitadas por 

variáveis  extrínsecas  e  intrínsecas  –  a maior  parte  delas  interrelacionadas  ‐  às  instituições, 

destacando‐se particularmente as seguintes afetações externas: a criação do espaço europeu 

de  ensino  superior;  a  criação  do  espaço  europeu  de  investigação;  a  ação  governamental, 

sobretudo no período pré‐crise orçamental, na ciência e  tecnologia; as alterações suscitadas 

pela Lei n.º 62/2007, de 10 de setembro, que estabelece o regime jurídico das instituições de 

ensino  superior  (vulgo,  RJIES);  e,  como  não  poderia  deixar  de  ser,  os  recentes 

constrangimentos orçamentais. A um outro nível, por via de afetações de variáveis intrínsecas 

ao  setor  como,  por  exemplo,  a  desmesurada  e  desarticulada  rede  de  ensino  superior,  a 

ausência da aplicação integral da atual lei de financiamento do ensino superior2, a endogamia 

científica e académica, as alterações ou adaptações têm sido mais lentas.  

Assim, assistiu‐se gradualmente a um aumento da preponderância dos mecanismos de 

mercado, da maior preocupação com os instrumentos de gestão e de controlo de gestão, em 

particular  passou‐se  a  dar  um  maior  ênfase  ao  desempenho,  à  eficiência,  à  gestão  por 

objetivos e à autonomia institucional. Em contraste, a colegialidade, a liberdade, a autonomia 

à  escala  micro3,  o  mérito  académico  e  o  sentimento  de  pertença  a  uma  comunidade 

académica  foram perdendo relevância  (Martins 2012:25‐29). Concomitantemente, assistiu‐se 

à escala macro, a um aumento da descentralização de decisões do governo para as  IES e um 

aumento  da  respetiva  autonomia  desta,  enquanto  à  escala micro,  os  poderes  estão mais 

concentrados nas lideranças institucionais (i.e. reitores no caso de universidades e instituições 

similares, presidentes no caso dos politécnicos e  instituições similares) e  foi promovida uma 

profissionalização da gestão, com o intuito desta centralização à escala institucional favorecer 

a  partilha  de  uma  visão  estratégica  institucionalizada  (Martins  2012:  26‐27). Mais  à  frente, 

                                                            2 A  lei que define as bases do financiamento do ensino superior é a Lei n.º 37/2003, de 22 de agosto, alterada pela  Lei n.º 49/2005, de 30 de agosto. A  lei é  tida  teoricamente  como  referência, mas  com deficiências na aplicação, daí as críticas da ausência da aplicação  integral do  referido enquadramento jurídico‐legal. Neste sentido, aconselha‐se a leitura de Gherghina, Nicolae et al. (2010). 3 A aplicação da NGP tem que ser diferenciada pelos níveis, isto é: (i) à escala macro, nomeadamente ao nível da  administração pública  e  sobretudo  considerando  a  relação da  administração  central  com os serviços e fundos autónomos, onde se  inserem as  instituições de ensino superior; (ii) e à escala micro, nomeadamente ao nível de cada uma das  instituições de ensino superior. Não obstante o enfoque do presente documento, como se constata é sobretudo ao segundo nível (i.e. micro). 

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voltaremos a incidir nesta temática sob a conceptualização de Mintzberg (2010). Destacam‐se, 

ainda, alterações ao nível da prestação de contas e nas relações laborais (Martins 2012:29‐31). 

 

Importa  salientar  que,  ao  nível  do  ensino  superior,  além  de  serem,  genericamente, 

partilhadas as críticas quanto à aplicação da NGP noutros setores  (e que  foram  referidas no 

final do ponto NGP: contextualização e conceptualização) são, também, apontados problemas 

no  enviesamento  do  debate  com  enfoque  em  critérios  económico‐financeiros,  a  menor 

comparticipação  financeira do Estado,  a  redução de padrões de qualidade e  a dependência 

face ao mercado (Martins 2012:32‐33). 

A estruturação das organizações e o RJIES 

Segundo Martins  (2012:34),  “o  surgimento do discurso managerial em Portugal está 

associado  à  Lei  de  Autonomia  Universitária  e  à  Lei  do  Estatuto  de  Autonomia  dos 

Estabelecimentos do Ensino Superior Politécnico”; contudo, “seria a publicação do RJIES que 

viria  a  dar  o  passo  decisivo  no  sentido  de  concretizar  a  abordagem  managerial”.  Assim, 

consideramos que uma das faces mais visíveis da aplicação relevante de conceitos da NGP no 

setor  do  ensino  superior  nacional  é  precisamente  o  RJIES.  Antes  da  aplicação  deste  novo 

regime  jurídico  que  veio  a  transfigurar  a  realidade  do  ensino  superior  nacional,  embora 

abundassem  os  diplomas  relativos  ao  setor,  parcamente  se  articulavam  entre  si.  Destes, 

destacamos o supra referido diploma da autonomia das universidades (doravante, LAU)4. Este 

consagra  uma  governação  institucional  assente  na  colegialidade,  legitimação  pela  via 

democrática  e  ligação  académica  dos  agentes  presentes  nos  órgãos  das  instituições 

universitárias.  Como  órgãos  de  governo  das  universidades,  o  artigo  16.º  da  LAU  elenca  a 

assembleia da universidade, o reitor, o senado universitário e o conselho administrativo, sendo 

que  a U.Porto  tinha,  à  altura  da  segunda  alteração  aos  seus  primeiros  estatutos,  previsto, 

também, o órgão de  fiscalização5. Quanto ao RJIES, o número 1 do artigo 77.º define que as 

                                                            4 Este diploma foi instituído pela Lei n.º 108/88, de 24 de setembro. 5  vd.  artigo  11.º  do  Despacho  n.º  1311/2006,  de  18  de  abril  que  aprova  a  segunda  alteração  aos Estatutos d U.Porto, homologados pelo Despacho Normativo n.º 73/89, de 4 de agosto e com a primeira alteração dos referidos Estatutos homologada pelo Despacho Normativo n.º 23/2001, de 19 de abril 

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universidades possuem como órgãos de governo: o conselho geral, o  reitor e o conselho de 

gestão.  

A  assembleia  da  universidade  (vd.  artigo  15.º,  LAU)  foi  extinta  e  algumas  das  suas 

competências passaram para os “novos” conselhos gerais (vd. artigo 81.º, RJIES) que passaram, 

também,  a  possuir  algumas  competências  que  estavam  até  aí  integradas  no  âmbito  do 

“antigo”  senado universitário. Este  senado universitário  (vd. artigo 24.º, LAU),  ‐ considerado 

anteriormente como o órgão colegial de governação mais  relevante dada a  transversalidade 

das  suas  áreas  de  ação  que  passavam  desde  da  estratégica  e  da  avaliação  da  gestão 

operacional à pedagógico‐educativa, científica e disciplinar, ‐ deixa de assumir cariz obrigatório 

com o RJIES.  

O caso particular do senado da U.Porto é sintomático do esvaziamento deste órgão, 

agora sem caráter deliberativo, sendo que este tem‐se cingido, quando reúne, a questões de 

natureza  fundamentalmente  disciplinar  ou  relativa  a  matérias  científico‐pedagógicas  dos 

planos de estudos das diferentes unidades curriculares. A aprovação do RJIES também deixou 

bem  vincada  uma  outra  vertente  da NGP:  o  senado  universitário  deixou  de  ter  a  presença 

obrigatória  das  associações  de  estudantes  das  unidades  orgânicas,  o  que  revela  o 

enfraquecimento do "poder" de determinados "grupos de  interesse" ou do enfraquecimento 

das  instituições  que  salvaguardam  a  defesa  de  uma  determinada  classe  socioprofissional 

(neste caso, da "classe" estudantil) elencado anteriormente.  

O reitor (universitário) é tido como «o órgão superior de governo e de representação 

externa da  respetiva  instituição»  (vd. número 1, do  artigo 85.º, RJIES) e  como «o órgão de 

condução da política da instituição e [que] preside ao conselho de gestão» (vd. número 2, do 

artigo  85.º,  RJIES),  podendo  ser  eleito  independentemente  de  ser  ou  não  professor  ou 

investigador  da  referida  universidade  (vd.  artigo  86.º,  RJIES).  Contrariamente,  a  LAU  só 

permitia a eleição «de entre os professores catedráticos de nomeação definitiva» (vd. número 

1, do artigo 19.º, LAU).  

O  conselho  administrativo  (vd.  artigo  26.º,  LAU)  encontra  equivalente,  no  RJIES,  ao 

conselho de gestão (vd. artigo 94.º, RJIES), tendo deixado de estar vinculada a obrigatoriedade 

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da  representação  estudantil.  Neste  aspeto,  verificamos  que  o  RJIES  teve  um  impacto  na 

tentativa  de  diminuir  o  "poder"  da  componente‐chave  da  organização  que  é  o  centro 

operacional  e  a  procura  em  enfraquecer  a  colegialidade  sobretudo  ao  nível  do  vértice 

estratégico.  

O pessoal não docente perdeu, também, a parca representatividade que vinha tendo, 

ficando agora confinado a um papel meramente residual. No caso da Universidade da Madeira 

e  da  Universidade  Nova  de  Lisboa,  a  representação  deste  corpo  nos  conselhos  gerais 

universitários foi mesmo eliminada (Mano, M.; Marques, M. 2012).  

Por outro lado, os estudantes deixam de ter representação paritária relativamente aos 

docentes nos órgãos máximos da universidade e passam para ter um papel mais reduzido e de 

menor  importância  até  que  entidades  externas:  15‐20%  de  representação  estudantil  dos 

conselhos gerais  face a 30‐35% das personalidades externadas cooptadas. A consagração de 

uma representatividade de pelo menos 50% de docentes e investigadores nos conselhos gerais 

revela a  tentativa de conciliar colegialidade neste  segmento com o novo modelo de gestão. 

Esta  fragilização  do  poder  de  decisão  dos  trabalhadores‐profissionais  (i.e.  docentes  e 

investigadores), estudantes e funcionários, foi acompanhada do reforço do poder do papel da 

administração/gestão (i.e. reforço do papel de reitores/presidentes e a existência de "figura" 

de  curadores no  caso das  fundações universitárias) e do  reforço  já  referido da presença de 

personalidades externas. Esta evidência é extensível ao nível das unidades orgânicas. 

O regime fundacional 

Importa  promover  um  destaque  ligeiramente mais  pormenorizado  a  um  aspeto  da 

aplicação da NGP no ensino  superior nacional anteriormente  referido, que é a aplicação do 

regime  fundacional consagrado no RJIES. Assim, o número 1 do artigo 9.º do RJIES  também 

tem  um  caráter marcadamente  associado  à  NGP,  com  a  possibilidade  das  IES  públicas  se 

constituírem como  fundações públicas de direito privado administradas por um conselho de 

curadores6 nomeados pelo Governo  sob proposta da  instituição  (vd. capítulo VI,  título  III do 

                                                            6 Cf., a título exemplificativo, o Capítulo III dos estatutos da fundação U.Porto, consagrados no anexo ao Decreto‐Lei n.º 96/2009, de 27 de abril. 

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RJIES).  Este  regime,  estritamente  associado  ao  independent  legal  status,  possibilita  um 

“aprofundamento  da  autonomia  institucional  [anteriormente  descrita],  na  concretização  da 

máxima gerencialista let managers manage” (Martins 2012:41). 

Neste  sentido, em Portugal, a U.Porto, a par da Universidade de Aveiro  (UAv.) e do 

ISCTE  ‐  Instituto  Universitário  de  Lisboa  (ISCTE‐IUL),  passaram  a  constituir‐se  enquanto 

instituição  de  natureza  fundacional7  e  a  U.Porto,  particularmente,  viu  os  seus  primeiros 

Estatutos pós‐RJIES homologados pelo ministro com a tutela do ensino superior em 2009 pelo 

Despacho normativo n.º 18‐B/2009, publicado a 14 de maio desse mesmo ano.  

A adoção deste  regime  jurídico,  tolhido em boa parte pelas opções governativas em 

nome da resolução da crise orçamental que afeta o país, poderia ter possibilitado um regime 

de maior autonomia, nomeadamente no capítulo  financeiro e patrimonial. As possibilidades, 

quedadas, de  se utilizarem  sem  restrições os  saldos  transitados, de  se encetarem  contratos 

plurianuais (vd. número 1 do artigo 136.º, RJIES) e das IES não estarem sujeitas ao “Código dos 

Contratos Públicos na aquisição de bens e  serviços e empreitadas até ao  valor dos  limiares 

comunitários”  (Martins  2012:67)  são  alguns  destes  exemplos.  Assim  como  é  exemplo  o 

incumprimento dos  contratos‐programa acordados entre o Governo e as  IES8. Ainda, assim, 

registam‐se  os  benefícios  claros  associados  à  possibilidade  de  se  contraírem  empréstimos 

bancários e, ainda, associados à possibilidade de adoção de contratos  laborais por regime de 

direito  privado9,  o  que  permitiu  uma  maior  celeridade  na  contratação,  simplificação  de 

processos, eficiência e adaptação a possíveis volatilidades de conjuntura. 

                                                            7 No caso do ISCTE‐IUL, através do Decreto‐Lei n.º 95/2009, de 27 de abril; a U.Porto através do Decreto‐Lei n.º 96/2009, de 27 de abril e a UAv. pelo Decreto‐Lei n.º 97/2009, de 27 de abril. Ainda, assim, este regime  está  a  ser  aplicado  em  regime  experimental  que  finda  no  dia  2  de maio  de  2014.  Quer  o Governo, quer as IES podem optar por cessar este regime, ainda que não exista atualmente manifestas intenções das IES para que isso aconteça (Martins 2012:67). 8 No  caso  do  contrato‐programa  celebrado  entre  o Governo  e  a U.Porto,  este  foi  assinado  a  11  de setembro de 2009 com o objetivo de «contribuir para o cumprimento, pela Universidade do Porto, dos objetivos programáticos constantes do seu programa de desenvolvimento e ainda dos expressamente previstos  [no]  contrato‐programa»  (cf.  n.º  1  da  cláusula  1  do  contrato‐programa  plurianual  para financiamento complementar da Fundação Universidade do Porto). 9 O número 3 do artigo 134.º do RJIES refere explicitamente: «No âmbito da gestão dos seus recursos humanos, a  instituição pode criar carreiras próprias para o seu pessoal docente,  investigador e outro, respeitando genericamente, quando apropriado, o paralelismo no elenco de categorias e habilitações 

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Destaque,  ainda,  para  o  disposto  no  título  V  do  RJIES  e  para  o  regime  jurídico  da 

avaliação do ensino superior (vulgo RJAES, provado pela Lei n.º 38/2007, de 16 de agosto), isto 

é  para  avaliação  e  acreditação  do  setor  e  em  particular  da  que  está  à  responsabilidade  da 

Agência  de  Avaliação  e  Acreditação  do  Ensino  Superior  (A3ES)  que  demonstra  mais  uma 

característica  da  NGP  referida  anteriormente:  a  criação  de  agências  semigovernamentais. 

Também  a  A3ES  é  uma  fundação  de  direito  privado, mas  com  a  finalidade  de  «garantir  a 

qualidade  do  ensino  superior  em  Portugal,  através  da  avaliação  e  da  acreditação  das 

instituições do ensino superior e dos seus ciclos de estudos» (n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos 

da A3ES que constam do anexo ao Decreto‐Lei n.º 369/2007, de 5 de novembro). 

A reorganização estrutural da U.Porto que não chegou a acontecer 

Importa agora, também, atentar para um dos outros pontos centrais deste estudo, ou 

seja para a recente discussão quanto a uma reformulação estrutural da universidade, à luz da 

aprovação do  regulamento orgânico10 da mesma. Dar‐se‐á  enfoque  à proposta  inicialmente 

apresentada,  dado  que  a  discussão  (pública)  que  se  lhe  seguiu  não  é  tão  frutífera  para  o 

âmbito  do  trabalho,  dada  a  inexistência  de  suporte  documental  tecnicamente  relevante  de 

cariz público. 

Descrição da U.Porto e da configuração da sua estrutura   

Os órgãos de governo da U.Porto são o conselho de curadores, o conselho geral e o 

reitor e o  respetivo  conselho de gestão,  sendo  também órgãos: o  senado, a provedoria  (do 

estudante) e o fiscal único. A, um nível hierárquico inferior, a reitoria integra: (i) vários serviços 

centrais; (ii) como serviços autónomos ‐ com autonomia administrativa e financeira ‐ o centro 

de recursos e serviços comuns ou serviços partilhados (CRSCUP ou SPUP) e os serviços de ação 

social (SASUP); (iii) unidades orgânicas. As unidades orgânicas subdividem‐se em três classes: 

a)  a  escola  doutoral;  b)  os  institutos  e  as  unidades  de  investigação,  desenvolvimento  e 

extensão (I&D&E) autónomos ou acolhidos por faculdades; c) unidades com responsabilidades 

                                                                                                                                                                              académicas,  em  relação  às  que  vigoram  para  o  pessoal  docente  e  investigador  dos  demais estabelecimentos de ensino superior público». 10  O  regulamento  orgânico  consubstancia  o modelo  organizativo  da  U.Porto,  estando  devidamente consagrado no número 1 do artigo 12.º dos Estatutos da U.Porto. 

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educacionais  e  de  I&D&E  (i.e.  faculdades)  que  têm  autonomia  estatutária,  administrativa, 

pedagógica, científica e financeira. Esta universidade até à data da fusão entre Universidade de 

Lisboa  (UL) e a Universidade Técnica de Lisboa  (UTL) era a  instituição que apresentava mais 

estudantes  inscritos,  assim  como  os  melhores  indicadores  relativos  à  investigação  e 

desenvolvimento  e  o melhor  posicionamento  nacional  em  boa  parte  dos  rankings  de  cariz 

internacional.  As  14  faculdades  encontram‐se  distribuídas  por  três  polos  principais,  tendo 

ainda  uma  escola  de  negócios  (i.e.  Porto  Business  School),  cerca  de  60  unidades  de 

investigação, 25 bibliotecas e 14 museus. Apresenta uma vasta gama de ciclos de estudos (624, 

sendo  314  de  formação  contínua),  encontrando‐se  inscritos  mais  de  30  mil  estudantes 

(U.Porto 2013a). Este número de unidades orgânicas, assim como os departamentos internos a 

estas unidades orgânicas, e a complexidade do trabalho do corpo docente e de investigadores 

demonstram a elevada descentralização – horizontal e vertical ‐ na universidade. 

 

O  centro operacional,  tido  como  “âmago de  cada organização”  (Mintzberg 2010:43) 

compreende  todos os membros operacionais  com  uma missão  estritamente  voltada para  a 

produção  de  produtos  e  serviços.  Segundo  a U.Porto  (2013b),  com  dados  que  reportam  a 

situação dos recursos humanos da universidade a 31 de dezembro de 2012, esta tinha 1853,6 

(em regime de equivalente a tempo integral, doravante apenas ETI) docentes e investigadores 

que  "prestam  um  serviço"  de  cariz  pedagógico‐educativo  e  que  desenvolvem  atividades  de 

investigação,  fazendo  parte  do  centro  operacional  da  instituição.  Considerando  o  exposto 

anteriormente, olhando para o caso particular da U.Porto e articulando‐o com a proposta de 

Mintzberg  (2010), à  semelhança das demais  IES, é plenamente percetível a estandardização 

das  qualificações  dos  trabalhadores  como  mecanismo  de  coordenação  da  U.Porto.  A 

complexidade do trabalho – sobretudo pedagógico, mas também de investigação – dificulta a 

supervisão  por  superiores  hierárquicos  ou  a  estandardização  por  analistas  (Mintzberg 

2010:386),  pelo  que  a  estandardização  de  qualificações  é mais  adequada,  exigindo  que  o 

controlo  seja  efetuado  pelo  corpo  docente  da  universidade,  ou  seja  pelos  próprios 

operacionais.  Inerentemente,  para  alcançar  esta  estandardização  é  necessário  alcançar 

conhecimentos,  competências  e  normas  associadas  ao  trabalho  e  à  organização,  ou  seja 

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similarmente à  conceção das demais  IES, a U.Porto  tem profissionais que  são  submetidos a 

processos de  formação e de socialização. No primeiro caso, é bem percetível a qualidade da 

formação  corpo docente da U.Porto, visto que 79% dos docentes e  investigadores  (ETI)  são 

doutorados  e  a  meta  para  2015  é  de  80%  (U.Porto  2013c:7).  Adicionalmente,  existe  a 

preocupação  de  promover  a  mobilidade,  quer  in  quer  out  do  corpo  docente  (U.Porto 

2013c:28,70).  No  segundo  caso,  a  socialização  da  U.Porto  também  parece  desenrolar‐se 

informalmente (Mintzberg 2010:121) e com maior pendor à escala de cada uma das unidades 

orgânicas. Considerando o elevado nível de profissionalização proporcionado pela formação, a 

formalização  é  reduzida,  sendo  que  Mintzberg  (2010:124)  considera  a  formalização  e  a 

formação substitutos, algo que também era partilhado, em certa medida, por Weber que tinha 

estes parâmetros como mutuamente exclusivos  (Mintzberg 2010:126). Daqui decorre, que o 

trabalho  docente  é  especializado  na  dimensão  horizontal  e  alargado  na  dimensão  vertical 

(Mintzberg 2010:380). Considerando o exposto, nomeadamente a elevada  complexidade do 

trabalho do  centro operacional que  resulta  em  elevada  especialização horizontal,  em parco 

planeamento e capacidade de controlo e de supervisão é natural que a burocracia profissional 

tenha uma estrutura muito democrática e assente na colegialidade (Mintzberg 2010:388‐389), 

em que os profissionais do centro operacional “não só controlam o seu próprio trabalho como 

procuram  exercer  o  controlo  coletivo  sobre  as  decisões  administrativas  que  os  afetam” 

(Mintzberg 2010:388). 

O vértice estratégico encontra‐se na extremidade oposta da estrutura da organização 

e é  respeitante à direção que  tem como  função assegurar o cumprimento da estratégia por 

toda  a  organização  e  detém  o  poder  (Mintzberg  2010:43‐44).  No  vértice  estratégico 

encontram‐se  os  membros  encarregados  da  responsabilidade  global  desta  instituição 

(Mintzberg  2010:43)  e  apesar  de U.Porto  (2013b)  considerar  5,0  ETI  respeitantes  aos  vice‐

reitores  e  reitor  (atualmente  docentes  em  dedicação  exclusiva  ou  não,  mas  tal  não  tem 

necessariamente  que  ocorrer,  como  vimos  com  as  alterações  ao  RJIES11),  na  verdade,  a 

quantidade de membros da U.Porto que pertencem  ao  vetor  estratégico  é maior. Assim,  o 

vértice  engloba  constituintes  de  outros  órgãos,  ainda  que  alguns  possam  não  ser 

remunerados.  Neste  sentido,  destacam‐se  os  constituintes  do  conselho  de  curadores  da 

                                                            11 vd. artigos 86.º e 88.º do RJIES 

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fundação, do conselho geral, para  lá do reitor e da sua respetiva equipa reitoral e, ainda, os 

constituintes  do  conselho  de  gestão  (que  é  constituído  pelo  reitor,  dois  vice‐reitores  e  o 

administrador da universidade). 

O  pessoal  de  apoio  serve  para  suportar  a  organização  fora  do  fluxo  de  trabalho 

operacional (Mintzberg 2010:50), exercendo uma influência relevante ao nível da organização 

profissional,  ainda  que  com  o  intuito  de  servir  os  profissionais  do  centro  operacional 

(Mintzberg 2010:385). Ao nível do pessoal de apoio da U.Porto realça‐se que existem funções 

logísticas que são assumidas por organismos  internos à faculdade ou outros a ela associados 

mas que são prestados por entidades externas (externalização de funções ou serviços), como 

são os casos mais evidentes os serviços segurança, bares, cantinas e os serviços de papelaria e 

de tipografia, v.g.. Enquanto que quanto a organismos internos não externalizados destacam‐

se  serviços, unidades e organismos  similares  integrados nas unidades orgânicas,  serviços ou 

unidades que pertencem ou pertencerão aos serviços partilhados (SPUP ou CRSCUP) ou outros 

estritamente associados à  reitoria. Quanto aos  serviços de apoio pertencentes aos SPUP ou 

integrados  na  Reitoria  são  dignos  de  particular  destaque  os  seguintes:  Antigos  Estudantes; 

Apoio  Administrativo  à  I&D+i;  Apoio  ao  Estudante  com  Deficiência;  Biblioteca  Virtual; 

Comunicação  e  Imagem;  Cooperação  com  Países  Lusófonos  e  Latino‐Americanos;  Cultura, 

Desporto  e  Lazer;  Financiamento  Complementar;  Formação  e  Organização  Académica; 

Inovação e Empreendedorismo; Relações  Internacionais; Secretariado e Órgãos de Governo; 

Universidade Digital; Universidade do Porto  Inovação; U.Porto Editorial; e, ainda, os serviços 

económico‐financeiros, de apoio jurídico, de recursos humanos, de tecnologias de informação 

e comunicação, os gabinetes de apoio, de  instalações e  infraestruturas e unidade de projetos 

respeitantes aos SPUP. Como anteriormente referido, esta componente básica da organização 

tem um caráter diferente. O pessoal de apoio está "encarregado (...) de executar trabalho não‐

profissional" e não  tem associado um  cariz democrático,  surgindo  frequentemente  conflitos 

nas organizações entre os profissionais e o pessoal de apoio  (Mintzberg 2010:391). O RJIES 

acentuou particularmente estes conflitos, com a perda de preponderância do pessoal de apoio 

nos órgãos de gestão das IES e das unidades orgânicas destas. 

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A tecnoestrutura é composta por analistas que não executam o trabalho propriamente 

dito  e  respeitante  aos  constituintes  do  centro  operacional,  mas  que  podem,  a  título 

exemplificativo, desenvolver sistemas de planeamento estratégico e financeiros para controlar 

os objetivos das unidades mais relevantes, a pedido do vértice estratégico (Mintzberg 2010:49‐

50). Estes podem, ainda, servir para estandardizar o trabalho dos demais trabalhadores afetos 

à estrutura, ainda que tal não ocorra relativamente aos constituintes do centro operacional da 

IES  visto  que  já  existe  uma  estandardização  das  qualificações,  sendo  estes  constituintes  do 

centro  operacional  da  IES  (i.e.  docentes  e  investigadores)  altamente  qualificados.  Assim,  a 

tecnoestrutura não é uma parte desenvolvida na burocracia profissional (Mintzberg 2010:385) 

e,  no  caso  particular  da  U.Porto, mesmo  não  sendo  uma  tarefa  de  fácil  definição,  o  que 

eventualmente se poderá considerar como organismos respeitantes à tecnoestrutura são, por 

exemplo, algumas das suas comissões e conselhos, nomeadamente, o Conselho Coordenador 

do Modelo Educativo da U.Porto (CCMEUP), o Conselho Coordenador da  I&D+I da U.Porto, a 

Comissão  de  Ética  da U.Porto  (CEUP),  assim  como  o  serviço  de  planeamento  estratégico  e 

participações empresariais e, em certa medida, o serviço de melhoria contínua. O fiscal único, 

a  provedoria  do  estudante  e  o  senado  podem,  também,  ser  considerado  como  órgãos 

pertencentes à tecnoestrutura. Importa atentar para o caso particular do senado que antes do 

RJIES seria categorizado como um organismo mais relevante e inerente ao vértice estratégico e 

com a perda de relevância já referida anteriormente (e.g. perda de caráter deliberativo), vê o 

seu papel relegado para a componente da tecnoestrutura. 

Atentemos  agora  à  linha  hierárquica  que  é  tida  como  muito  estreita  (Mintzberg 

2010:385). "O vértice estratégico está ligado ao centro operacional pela cadeia de quadros da 

linha  hierárquica  com  autoridade  formal"  (Mintzberg  2010:45),  sendo  esta  linha  estreita  e 

habitualmente  controlada  pelos  próprios  profissionais,  i.e.  pelos  docentes  universitários.  A 

este  nível,  podemos  destacar  o  papel  de  alguns  vice‐reitores,  pró‐reitores  e  dirigentes 

intermédios.  Contudo,  a  linha  hierárquica  é  muito  mais  percetível  ao  nível  das  unidades 

orgânicas. Se  tomarmos como exemplo as  faculdades, verifica‐se que esta é  respeitante aos 

diretores de departamento e de  ciclos de estudos  (e.g. o  caso da  Faculdade de Ciências da 

Universidade do Porto (FCUP)). Em alguns casos, como por exemplo no caso da Faculdade de 

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), existem subunidades 

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orgânicas  com os  seus  respetivos presidentes e órgãos de gestão. As  linhas hierárquicas na 

Faculdade  de  Economia  da Universidade  do  Porto  (FEP)  podem  ser  percetíveis  através  das 

“lideranças”/direções/presidências dos diferentes agrupamentos científicos e, posteriormente, 

das respetivas secções.  

Importa  frisar que,  sobretudo  atendendo  ao  caso particular do modelo  estrutural  e 

organizacional da U.Porto, ao nível das unidades orgânicas e de serviços autónomos (como é o 

caso mais evidente os SASUP, v.g.) se revela a existência de estruturas análogas à da própria 

U.Porto mas  em  cada  faculdade  (ou  institutos  e unidades de  I&D&E ou  escola doutoral ou 

escola de negócios) ou nos próprios SASUP. Ou  seja,  tem‐se várias burocracias profissionais 

respeitantes às  faculdades dentro de uma burocracia profissional “maior” que diz  respeito à 

U.Porto.  Já  relativamente  às  unidades  de  apoio  ou  funções  logísticas, Mintzberg  (2010:51) 

referia inclusive que "muitas das unidades de apoio constituem miniorganizações, muitas delas 

com o seu próprio centro operacional, como no caso de uma tipografia universitária" e "estas 

unidades funcionam independentemente do centro operacional da organização, com o qual só 

têm uma ligação de comunidade" (Mintzberg 2010:51). Concomitantemente, como já referido, 

salienta‐se que existe mais uma hierarquia paralela para as  funções de apoio  logístico e de 

natureza similar à da burocracia mecanicista. 

O  ambiente,  tido  como  o  fator  de  contingência  principal  que  leva  à  criação  das 

organizações ou burocracias profissionais, desta estrutura é complexo e estável, considerando 

que existem procedimentos assimilados pelos profissionais  (i.e. docentes universitários) que 

demoram anos a aprender e que exigem um trabalho afincado (Mintzberg 2010:396). Noutra 

perspetiva, a  importância é menor relativamente aos  fatores  idade e dimensão e o “sistema 

técnico das burocracias profissionais não é nem muito sofisticado, nem muito automatizado, 

nem muito regulador” (Mintzberg 2010:397), ainda que no caso das universidades possa haver 

um deslize para um tipo híbrido entre burocracia profissional e adocracia, fruto da existência 

de atividades de  investigação (Mintzberg 2010:398) visto que na adocracia, o sistema técnico 

é, por sua vez, mais sofisticado e automatizado. Na burocracia profissional inerente à U.Porto, 

um  sistema  técnico mais  sofisticado  “empurraria  o  profissional  [(i.e.  docentes)]  para  uma 

relação de trabalho mais chegada aos seus colegas e para uma relação mais distante com os 

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seus  clientes  [(i.e.  estudantes)]”  (Mintzberg  2010:397).  Assim,  os  níveis  reduzidos  de 

sofisticação, automatização e regulação são tidos como incompatíveis com a autonomia que os 

operacionais devem dispor (Mintzberg 2010:397).  

Análise à proposta de alteração ao regulamento orgânico 

Apesar  dos  resultados  positivos  propiciados  em  boa  parte  por  este  modelo  de 

organização,  foi  assumido  por  diversas  personalidades  com  responsabilidades  de  gestão 

universitária  ou  não  –  incluindo  o  próprio  Reitor  da  U.Porto  ‐,  que:  (i)  as  autonomias  das 

faculdades conflituavam e conflituam com a gestão, sobretudo financeira, da universidade; (ii) 

a  multiplicidade  de  unidades  (e.g.  faculdades,  departamentos,  entre  outros)  e  a  sua 

complexidade  dificulta  essa mesma  gestão  à  escala  da  reitoria;  (iii)  não  existe  uma  cultura 

organizacional  à  volta  da  U.Porto  (apenas  à  volta  de  cada  uma  das  faculdades), 

nomeadamente ao nível do sentimento de pertença; (iv) não existe uma tendencial equidade 

pedagógica entre  faculdades;  (v) a  carga administrativa é elevada;  (vi) a  relação hierárquica 

teórica entre unidades orgânicas e os órgãos de governo da U.Porto é reduzida; entre outros 

problemas, nomeadamente de  índole  associada  ao  relacionamento  com  entidades  externas 

assim  como  de  reporte.  Assim,  sinteticamente,  a  reformulação  estrutural  suportava‐se 

inicialmente  na  necessidade  de  aumentar  a  eficácia  administrativa  e  financeira,  reduzir  o 

número dito excessivo de unidades orgânicas e a dita necessidade de um maior controlo da 

liderança da equipa reitoral.  

Para responder a estes problemas, as  intenções  iniciais para o regulamento orgânico, 

que  se  destacavam,  passavam  por  alterações  profundas  na  estruturação  de  toda  a 

universidade12, estando  salvaguardados órgãos  como o  conselho de  curadores e o  conselho 

geral nos seus modelos atuais. Em contrapartida, na proposta intencionada13 pretendia‐se criar 

agrupamentos de unidades orgânicas em escolas que abrangessem grandes áreas científicas 

                                                            12  Exigia  alterações  profundas  na  estrutura  orgânica,  nos  próprios  estatutos  e,  potencialmente,  de geografia ou da distribuição física. 13  Referimo‐nos  à  proposta,  que  não  terá  sido  divulgada  publicamente,  apresentada  pelo  reitor  ao conselho geral da U.Porto reunido em 27 de março de 2012.  

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27                 

com afinidades14, que tivessem uma elevada atividade científica e, também, sustentabilidade 

financeira.  Estas  escolas  seriam  coordenadas  por  um  presidente  de  uma  escola  que 

responderia  diretamente  ao  reitor  e  seria  inclusivamente  integrado  na  equipa  reitoral 

enquanto  vice‐reitor.  Este  seria nomeado pelo  reitor  após  indicação de  três personalidades 

pela  comissão  de  seleção  da  escola  composta  por  docentes,  não  docentes,  estudantes  e, 

eventualmente, personalidades externas a  cooptar. Como órgãos, as escolas  teriam ainda o 

conselho  de  coordenação  e  gestão,  o  conselho  de  escola  e  o  órgão  de  fiscalização.  As 

faculdades,  que  estariam  integradas  nas  escolas,  não  teriam  órgãos  de  autogoverno,  nem 

autonomia  administrativa  e  financeira.  Tal  resultaria  na  extinção  dos  atuais  conselhos  de 

representantes e na manutenção dos conselhos executivo, científico e pedagógico, sendo que 

o diretor seria nomeado pelo presidente da escola sob proposta de uma comissão de seleção 

análoga  à  referida  anteriormente. Os diretores das  faculdades, que presidiriam  também  ao 

conselho científico e pedagógico além do executivo, seriam  integrados no respetivo conselho 

de coordenação e de gestão da escola. Importa referir que, ao nível do conselho pedagógico, 

pretendia‐se que os estudantes perdessem a paridade representativa. 

Perante estes traços iniciais da proposta que acabaram por não ir avante, evidenciou‐

se  que  existia  uma  clara  intenção  de  aumentar  a  centralização  da  organização  no  vértice 

estratégico  e  de  diminuir,  ainda mais,  a  influência  da  colegialidade  e  da  democraticidade 

interna15. Concomitantemente, ainda que sem aparente prejuízo do sistema de comunicação 

informal,  a  proposta  apresentada  parecia  assentar  num  reforço  da  autoridade  formal  e  da 

informação  regulada.  Também,  parece  razoável  interpretar  que  outro  objetivo  da  proposta 

passaria por diminuir o poder da  linha hierárquica através do aumento dos mecanismos de 

controlo da organização, apesar de aumentar a amplitude vertical. Seria, assim, difícil de evitar 

a  «cascata  de  decisões»  referida  pela  proposta  inicial  e  a  estratégia  para  se  evitar  este 

fenómeno, provavelmente, assentaria num aumento, dificilmente aceitável pela comunidade 

                                                            14  A  intenção  nacional  seria  criar:  (i)  a  escola  da  saúde,  constituída  pelas  faculdades  da  FADEUP, FCNAUP, FFUP, FMDUP, FMUP e ICBAS; (ii) a escola das ciências, engenharia e economia, que agruparia a FCUP, FEUP e FEP;  (iii) e,  finalmente, a escola das ciências sociais, artes e humanidades, constituída pela FAUP, FBAUP, FDUP, FLUP e FPCEUP. 15 Um  diretor  de  uma  determinada  unidade  orgânica,  cuja  identidade  pretendemos  preservar  neste documento,  levantou  inclusive  dúvidas  quanto  ao  respeito  pela  «democraticidade  do  governo  das universidades públicas» consagrada na lei fundamental. 

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académica, da formalização do comportamento e do planeamento e controlo. A autonomia ao 

nível das escolas e das faculdades também seria francamente afetada, o que  iria certamente 

promover  uma  desmotivação  da  parte  dos  administradores‐profissionais,  isto  é  dos 

constituintes  dos  órgãos  de  gestão  das  atuais  faculdades.  Estas  intenções  parecem  ter 

procurado  levar  –  ainda  que,  talvez,  de  forma  involuntária  ‐  a  implementação  da  NGP 

constante do RJIES, que não parece granjear particular simpatia no seio do centro operacional 

da universidade, mais  além16. Mintzberg  (2010:407)  realça,  aliás, que  “um  controlo externo 

demasiado forte conduz (…) à centralização e à burocratização da estrutura, transformando‐a 

numa burocracia mecanicista”. 

Esta proposta, mesmo salvaguardando‐se a potencial boa intencionalidade da mesma, 

parece  descurar  ainda  outros  parâmetros  de  conceção  desta  organização.  O  papel  da 

socialização  anteriormente  referido,  a  par  da  autonomia  inerente  aos  operacionais  desta 

estrutura, parecem também ter tido um papel preponderante para o "atrito" que foi causado ‐ 

e que se percecionou visivelmente ‐ à proposta apresentada pelo Reitor da U.Porto, visto que 

a socialização associa‐se à "cultura e ideologia da organização" exigindo "grande lealdade dos 

seus membros"  (Mintzberg  2010:122‐123). Quanto  à  questão  ideológica  e  cultural  importa 

reforçar que  a proposta apresentada pelo Reitor  ignora  claramente as diferentes missões e 

culturas  específicas  das  faculdades  tomando  todas  as  faculdades  como  homogéneas,  como 

terá  referido  inclusivamente  um  dos  elementos  pertencentes  ao  conselho  geral  e, 

simultaneamente,  parece  desvalorizar  o  papel  dos  atuais  departamentos. 

Concomitantemente, não só o corpo docente parece identificar‐se mais com a sua profissão do 

que  com  a  universidade,  como  parece  identificar‐se mais  com  a  cultura  e  ideologia  da  sua 

faculdade do que com a própria U.Porto (de um ponto de vista holístico). Ademais, parece ter 

sido descurado que “na burocracia profissional, a autonomia dos operacionais e do poder da 

                                                            16 A título exemplificativo e preservando a privacidade do autor, um dos diretores de uma faculdade da U.Porto escreveu num espaço de domínio público: "(...) subscrevo a denúncia no tocante aos agravos à Universidade  e  aos  académicos,  à  sua  autonomia  e  liberdade,  resultantes do  ‘managerialismo’  (New Public  Management  –  Nova  Gestão  Pública)  e  do  centralismo  inerentes  ao  modelo  de  gestão empresarial que, pouco  a pouco,  se  institui na UP,  em detrimento da direção  colegial  e participada. Como ele proclamo: há vida universitária para além da mera gestão!" Para este efeito, poderia, ainda, referenciar‐se  a  opinião  emitida  por  Alberto  Amaral  a  4  de  junho  de  2012.  Estes  são  alguns  dos exemplos da parca simpatia da NGP junto da comunidade académica. Todavia, estudos futuros poderão procurar corroborar cientificamente esta hipótese. 

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base  nas  decisões  na  associação  profissional  com  os  seus  próprios  procedimentos 

democráticos, o poder de mudar a estratégia é difuso” (Mintzberg 2010:405) e que deveria ter 

sido procurada uma gestão de comunicação mais adequada, uma mudança mais consensual, 

politicamente  mais  hábil  e  temporalmente  mais  espaçada.  Mintzberg  (2010:396)  alerta 

inclusive  que  “nestas  estruturas  (…),  o  administrador  não  pode  impor  a  sua  vontade  aos 

profissionais  do  centro  operacional”  e  que  o  administrador  deve  avançar  cuidadosamente, 

usando o poder de forma informal e subtil. 

Atendendo à discórdia originada pela proposta junto do centro operacional, poder‐se‐

á considerar que o administrador profissional  (i.e. corpo  reitoral) deixou de servir, de  forma 

eficaz, os  interesses do  centro operacional,  apesar da manutenção do poder,  ainda que de 

forma mais  fragilizada. À  luz do consagrado em Mintzberg  (2010:393‐394), percecionou‐se a 

perda de poder do vértice estratégico e registou‐se um maior envolvimento do corpo docente 

após a apresentação da proposta em análise (não difundida publicamente) junto do Conselho 

Geral,  tendo  resultado  ‐  a  título  exemplificativo  ‐  em  presenças  acentuadas  e  bastante 

participadas  nas  reuniões  públicas  para  discussão  da  proposta  e,  subsequentemente,  num 

número relevante de candidaturas às eleições para o novo mandato do Conselho Geral. 

 

Ao nível da análise dos  fatores de contingência poderá considerar‐se que a proposta 

perturbou a estabilidade do ambiente do  sistema e que, quer  as afetações do RJIES quer a 

proposta em estudo pretendiam introduzir e introduziram, respetivamente, mais regulação no 

sistema técnico, o que desvirtua o cariz da estrutura. 

Ainda  assim,  facilmente  se  poderão  aceitar  alguns méritos  da  proposta,  como  por 

exemplo, poderia alcançar‐se uma maior uniformização e controlo da gestão financeira e dos 

procedimentos  administrativos,  bem  como  de  questões  de  cariz  pedagógico  e  científico. 

Todavia, é menos  fácil de descortinar  como  se  criaria uma  cultura organizacional à volta da 

U.Porto  por  uma  mera  via  de  alterações  regulamentares.  Concomitantemente,  não  se 

perspetivaria  uma  redução  da  carga  administrativa  e  um  melhoramento  ao  nível  da 

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complexidade das unidades, embora facilitasse porventura a gestão relacional do reitor com as 

escolas devido à agregação. 

 

   

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Conclusão e considerações finais   

Como  vimos,  as  organizações  são  estruturas  de  funcionamento  complexo  e  com 

diversos  parâmetros  de  conceção,  fatores  de  contingência  e  configurações  estruturais. 

Considerando  o  setor  do  ensino  superior  ‐  onde  a  configuração  estrutural  dominante  é  a 

burocracia  profissional  ‐  têm‐se  constatado  alterações  jurídico‐legais  com  impacto  ao  nível 

organizacional, como é exemplo a aplicação da NGP através, sobretudo, do RJIES (incluindo a 

adoção do regime fundacional constante deste regime jurídico). Como se viu, o impacto desta 

aplicação resultou num aumento da  importância de critérios de mercado e numa diminuição 

de critérios como a colegialidade, democraticidade, liberdade e autonomia. 

Considerando o exposto anteriormente, olhando para o caso particular da U.Porto e 

articulando‐o  com  a  proposta  de  Mintzberg,  podemos  inferir  que,  neste  momento,  a 

Universidade  tem  uma  estruturação  híbrida  em  que  a  horizontalidade,  a  colegialidade  e  a 

democraticidade  associadas  à  organização/burocracia  profissional  coexistem  com  a 

centralização  à  escala da universidade no  vértice  estratégico da universidade,  isto  é  com o 

modelo de  gestão mais  verticalizado  e  focado  em  "administradores profissionais",  típico da 

NGP. 

Por sua vez, a proposta de reorganização estrutural da U.Porto parece ter procurado 

acentuar  alguns  dos  fatores  com  impacto  da NGP.  Assim,  o  vértice  estratégico  da U.Porto 

parece  ter pretendido aumentar o  seu próprio poder através de um aumento da amplitude 

vertical, da centralização, da formalização e, ainda, do planeamento e do controlo, através de 

um aumento do sistema de autoridade formal e do sistema de fluxos de informação regulado, 

recorrendo‐se  ainda  a  um  agrupamento  em  unidades maiores.  Esta  proposta  parece  assim 

descaracterizar  bastante,  em  certas matérias,  a  típica  estrutura  da  burocracia  profissional. 

Concomitantemente, os  respetivos proponentes  e  apoiantes da proposta de  reestruturação 

que  aqui  se  discutiu  parecem  não  ter  percebido  o  papel  marcadamente  democrático  da 

instituição U.Porto e, ainda, não parecem ter percebido quais as melhores formas de lidar com 

alguns  dos  problemas  inerentes  à  burocracia  profissional,  como  são  os  problemas  de 

coordenação, de autonomia e de  inovação consubstanciados em Mintzberg (2010:401‐408) e 

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abordados no trabalho que aqui se apresentou. Assim, esta proposta que induziu uma elevada 

perturbação  no  ambiente  tido  como  estável  da  U.Porto,  naturalmente,  não  teve  um 

acolhimento positivo no centro operacional da comunidade académica da U.Porto. Poder‐se‐á 

dizer  inclusivamente que a proposta  caiu antes mesmo de esta  ter uma discussão  científica 

suficientemente profunda no seio da comunidade académica. 

Adicionalmente, esta recente experiência à volta do regulamento orgânico demonstra 

a  importância  das  temáticas  do  conflito  e  da  negociação  que  não  cabem  no  âmbito  da 

discussão deste trabalho.  

Como nota final  importa também ressalvar que apesar da dedicação que se procurou 

imprimir na realização do trabalho que aqui se expôs, o tempo disponível e a própria finalidade 

do próprio não possibilitaram uma análise ainda mais detalhada dos  conceitos genéricos da 

estruturação das organizações e da aplicação da NGP ao ensino superior português, do caso de 

estudo em análise e de  todas as questões que o rodeiam. Seria, particularmente, pertinente 

em  futuras  oportunidades  estudar‐se mais  pormenorizadamente  o  caso  supra  elencado  e, 

ainda, o da recém‐instituída Universidade de Lisboa (U.Lisboa) que aparece referido no anexo 

5, procurando efetuar‐se uma  análise qualitativa  com opiniões  e  informações obtidas  junto 

dos agentes que mais de perto  lidaram com os  fenómenos em causa, nomeadamente  junto 

das  equipas  reitorais,  dos  elementos  que  constituem  ou  constituíram  os  conselhos  gerais 

universitários, dos diretores das diferentes unidades orgânicas, mas, eventualmente, também 

junto  de  elementos  do  centro  operacional  das  diferentes  estruturas  universitárias 

referenciadas neste documento.  

Atentando  ao  exposto,  uma  das  possíveis  oportunidades  para  abordar  mais 

detalhadamente esta(s) matéria(s) poderá, de  facto, ser a dissertação deste ciclo de estudos 

de mestrado no ano letivo subsequente. 

   

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33                 

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36                 

Anexos 

Anexo  1:  Considerações  adicionais  sobre  a  caracterização  das  estruturas organizacionais através das dimensões estruturais 

A  amplitude de  controlo  refere‐se  ao número de  indivíduos  sob  supervisão de uma 

determinada  chefia.  Esta  depende  de  algumas  variáveis  associadas,  essencialmente,  aos 

subordinados e às tarefas que lhes estão incumbidas, como por exemplo: (i) a diversidade das 

tarefas;  (ii)  a  complexidade  das  tarefas;  (iii)  dispersão  geográfica  dos  subordinados;  (iv) 

formação e motivação;  (v) mecanismos de controlo da organização. A amplitude vertical diz 

respeito  ao  número  de  níveis  hierárquicos  existentes  entre  a  base  e  o  topo  de  uma  dada 

organização. A autonomia, sendo sempre limitada a um dado grau, está associada ao grau de 

liberdade  de um  indivíduo,  grupo ou departamento determinar  as  suas  ações. A delegação 

associa‐se  à  característica  anterior  e  refere‐se  às  decisões  que  são  atribuídas  pelos 

responsáveis  superiores  aos  seus  subordinados. Quanto  à  centralização,  esta  é  tanto maior 

quanto mais concentrado estiver o poder ou a responsabilidade de tomada de decisão numa 

organização. A complexidade é  respeitante ao número de níveis hierárquicos  (complexidade 

vertical),  ao  número  de  departamentos  (complexidade  horizontal),  ao  número  de  funções 

(complexidade  horizontal)  e  ao  número  de  zonas  geográficas  em  que  a  organização marca 

presença  (complexidade espacial). A  componente  administrativa  trata‐se da  relação entre o 

número  de  supervisões,  gestores  e  pessoal  afeto  ao  apoio  de  funções  na  organização  e  o 

número total de trabalhadores. A diferenciação caracteriza‐se pelo agrupamento de pessoas e 

tarefas  por  divisões  ou  funções,  com  o  intuito  de  se  produzirem  bens  e/ou  serviços.  A 

especialização é a designação que  se atribui ao  conjunto de atividades que um  trabalhador 

deverá realizar, sendo que esta pode ser de cariz funcional ou social. A normalização, também 

referida frequentemente como estandardização, tem normalmente os objetivos de diminuir a 

incerteza, padronizar procedimentos e evitar desvios substantivos em relação ao planeado e 

para  alcançar  tais  objetivos  recorre‐se  ao  estabelecimento  de  regras  e  regulamentos.  A 

formalização surge da definição de atividades laborais por escrito, incumbindo ao trabalhador 

respeitar  o  que  estiver  estritamente  estabelecido. A  profissionalização  diz  respeito,  a  título 

exemplificativo,  à  autonomia  que  os  trabalhadores  consideram  possuir  e  à  dedicação 

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37                 

transmitida ao seu trabalho, sendo que a formalização é tanto menor quanto maior for o grau 

de  profissionalização  dos  constituintes  da  organização.  A  integração  é  entendida  como  a 

combinação das diversas funções e especialidades existentes numa determinada organização, 

sendo que os mecanismos de  integração pode ser categorizados como de tipo vertical ou de 

tipo horizontal. As ligações verticais são, por exemplo, o reporte hierárquico, regras e planos e 

sistemas  de  informação  verticais  (e.g.  correio  eletrónico).  As  ligações  horizontais  também 

podem  ser  os  sistemas  de  informação,  o  contacto  direto,  as  equipas  de  projeto  (i.e.  task 

forces), integradores (e.g. gestores de produto ou de projeto) e equipas. 

Anexo 2: Considerações adicionais sobre os formatos estruturais convencionais 

A  estrutura  funcional,  tida  como  a mais  tradicional,  é  aquela  que  é  recorrente  em 

contextos  estáveis,  que  dão  importância  à  eficiência  e  qualidade  técnica  e,  ainda,  em 

contextos que existem baixos níveis de  interdependência. Assim, nesta estrutura ocorre um 

agrupamento de atividades por função, ocorrendo uma racionalização do trabalho através da 

divisão  de  tarefas  a  especialistas  o  papel  de  gestão  da  área.  Tal  estrutura  dá  primazia  à 

comunicação  vertical  e  à  centralização  dos  processos  quer  de  controlo  quer  de  gestão, 

perdendo‐se  em  matéria  de  comunicação  interdepartamental,  em  inovação,  em 

aprofundamento  de  conhecimentos  e,  possivelmente,  no  tempo  de  resposta,  isto  é  em 

encetar determinadas decisões atempadamente. 

A  estrutura  multidivisonal,  ou  forma‐M,  estrutura‐se  com  base  nos  resultados 

operacionais e, ao contrário do formato anterior, é mais adequada para contextos de incerteza 

mais elevados. Esta estrutura adota a estrutura  funcional mas com aplicabilidade a cada um 

dos  vários  grupos  de  produtos, mercados  e/ou  áreas  geográficas.  Aquando  da  análise  das 

configurações  de  Mintzberg,  apresentar‐se‐á  a  estrutura  (multi)divisionalizada  com  maior 

pormenorização. 

A  estrutura  matricial  combina  a  estrutura  funcional  e  a  estrutura  divisional 

anteriormente referidas, procurando obter níveis superiores de qualidade técnica – associada 

à estrutura  funcional – e de  inovação – associada à estrutura multidivisional. Apesar de  ser 

uma estrutura complexa que exige boas competências  interpessoais e comprometimento de 

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38                 

todos  os  envolvidos  para  se  evitarem  lutas  internas  pelo  poder,  se  for  implementada  com 

sucesso  poder‐se‐á  obter  melhor  coordenação,  integração,  flexibilidade,  circulação  de 

informação e comunicação lateral.  

A  redução dos  típicos modelos de burocracia e de organização menos hierarquizada 

constatou‐se com o aparecimento de estruturas horizontais, onde se verifica um achatamento 

da hierarquia, uma descentralização do poder do vértice estratégico para o centro operacional 

(delegação  do  trabalho  para  níveis  inferiores),  dando‐se  uma  valorização  das  equipas 

multifuncionais  e  o  enfoque  aos  processos17  em  detrimento  das  funções.  Estas  equipas 

autodirigidas devem incluir trabalhadores de diversas áreas (multifuncionalidade), ter o poder 

e os recursos necessários para executar as suas tarefas, assim como o acesso a estes mesmos 

recursos. Este modelo possibilita melhorias na  rapidez, eficiência,  inovação e motivação dos 

trabalhadores, mas  exige  uma  filosofia  de  gestão  diferente  das mais  habituais  o  que  nem 

sempre é fácil de alterar. 

Um  modelo  diferente  dos  que  temos  analisado  anteriormente  é  o  da  rede,  que 

substitui o típico modelo hierarquizado pelo controlo do mercado, em que se dá importância à 

confiança e à cooperação e se «procura reter  internamente as suas competências nucleares, 

subcontratando  as  demais  atividades  a  organizações  especializadas»  (outsourcing)  (Pina  e 

Cunha, Rego et al. 2007:622). Nesta estrutura de  cariz  flexível  recorre‐se a  tecnologias para 

ultrapassar entraves ao funcionamento e crescimento da organização, procurando‐se alcançar 

resultados  rápidos  e  evitando‐se  perdas  de  tempo  e  de  recursos  contraproducentes  em 

atividades  sem  relevo  ou  com  pouco  relevo  para  a  entidade.  Como  reverso,  destaca‐se  a 

potencial  perda  de  controlo  sobre  atividades  de  menor  importância,  a  possibilidade  de 

comportamentos excessivamente individualistas dos trabalhadores e a dificuldade em se criar 

uma cultura organizacional, entre outros pontos fracos. 

Anexo 3: Considerações adicionais sobre as demais configurações de Mintzberg 

                                                            17 Pina e Cunha, Rego et al. (2007) definem processos como «um conjunto de atividades reciprocamente relacionadas e que resultam num resultado distinguível  (e.g. desenvolvimento de um novo produto, o processamento de uma encomenda)». 

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39                 

A estrutura simples ou a organização empreendedora é aquela que, geralmente, não 

acarreta  chefias de nível  intermédio ou quando  acarreta  esta  é de  apenas  um nível,  tendo 

como  mecanismo  de  coordenação  principal  a  supervisão  direta.  Tem  como  vantagens  a 

celeridade de atuação e estar associado a ambientes mais motivadores ou agradáveis. Dada a 

centralização, o enfoque do supervisor em questões operacionais em vez de estratégias pode 

ser prejudicial. Esta dependência do vértice estratégico pode  também  ser negativa, perante 

situações inesperadas, assim como pode ser um entrave à mudança em caso de necessidade. 

A  organização  mecanicista  é  adequada  para  envolventes  estáveis  e  para  uma 

estratégia  focada  no  planeamento,  pelo  que,  naturalmente,  a  componente‐chave  é  a 

tecnoestrutura e ocorre uma normalização dos processos de trabalho. Concomitantemente, a 

organização tem como características demarcadas: a formalização, a especialização e, ainda, a 

centralização vertical. Esta organização tem como "prós" a eficácia que consegue promover, a 

estabilidade/segurança,  a  consequente  previsibilidade  e  coerência  organizacional.  As 

desvantagens  são várias e vão desde a centralização vertical excessiva e a  resultante menor 

adaptabilidade  à mudança  ao excessivo  controlo passando pelo  facto de  a estrutura  ser de 

cariz mecanizado e, portanto, de cariz menos pouco humanizado. 

No que à estrutura divisionalizada diz respeito, esta é adequada para organizações de 

grande dimensão, que gerem muitos produtos e que estão presentes em envolventes com um 

relevante grau de incerteza ou de mutabilidade. De igual forma, é adequada para organizações 

onde  existe  elevada  interdependência  entre  departamentos  ou  divisões  e  também  para 

organizações com enfoque na eficácia e adaptabilidade e, ainda, na satisfação do cliente. Ao 

nível vertical, existe descentralização da tomada de decisão, como já se referiu de certa forma 

implicitamente.  Assim,  ao  nível  da  divisão,  esta  componente  pode  assumir  uma  estrutura 

similar à organização mecanicista anteriormente descrita, podendo esta padecer das mesmas 

desvantagens desse  tipo de organização, nomeadamente  tendo  impacto ao nível do espírito 

inovador e empreendedor dos constituintes da organização, por exemplo, pela necessidade de 

prestar  contas  a  superiores  hierárquicos.  Do  ponto  de  vista  das  vantagens,  destacam‐se  a 

grande  capacidade  de  resposta  e  o  facto  das  decisões  não  se  darem  ao  nível  do  vértice 

estratégico mas da linha hierárquica (i.e. das divisões).  

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40                 

A  estrutura  adocrática,  também  denominada  organização  inovadora,  tem  cariz 

marcadamente  orgânico,  não  existindo  formalismos  nem  burocracias  relevantes,  pelo  que 

regista‐se  uma  assinalável  descentralização  e  complexidade,  aliadas  a  uma  reduzida 

formalização.  As  componentes‐chave  assentam  no  apoio  logístico  e  no  centro  operacional. 

Considerando o exposto, apesar do  sistema  ser democrático, menos burocrático,  corre‐se o 

risco de  se  gerar  alguma desorganização  e  ineficiências. Como  vantagens pode‐se destacar, 

também, a eficácia no tratamento de questões mais complexas e menos expectáveis. Ainda, é 

relevante destacar um ponto negativo possível da adoção deste  tipo de  configuração que é 

respeitante  às  «potenciais  ambiguidades  [que  podem  surgir]  no  que  concerne  às  áreas  de 

responsabilidade,  linhas  de  comunicação,  definição  de  postos  de  trabalho»  (Pina  e  Cunha, 

Rego et al. 2007:626). 

   

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41  

Anexo 4: Quadro‐sumário com a dimensão das cinco configurações estruturais 

Estrutura Simples Burocracia Mecanicista 

Burocracia Profissional 

Estrutura Divisionalizada 

Adocracia 

Mecanismo de Coordenação Principal  Supervisão Direta Estandardização do 

Trabalho Estandardização das 

Qualificações Estandardização dos 

Resultados Ajustamento Mútuo 

Componente‐chave da Organização  Vértice Estratégico  Tecnoestrutura  Centro Operacional  Linha Hierárquica Funções de Apoio (Com o Centro Operacional) na Adocracia Operacional 

Parâmetros de Conceção 

Especialização dos postos de trabalho 

Fraca Horizontal e vertical 

importante Horizontal importante 

Horizontal e vertical moderada (entre a Sede e as 

Divisões) Muita especialização horizontal 

Formação e socialização 

Pouca  Pouca  Muita Moderadas (dos diretores de 

Divisões) Muita formação 

Formalização do comportamento, 

burocrático/orgânico 

Pouca formalização orgânica 

Muita formalização e socialização 

Pouca formalização. Burocrática. 

Formação e socialização moderadas (dos diretores de 

Divisões). Burocrática. 

Pouca formalização. Burocrática. 

Forma de agrupamento 

Geralmente por funções 

Muita formalização. Burocrática 

Por função e por mercado  Por mercado  Por função e por mercado 

Dimensão das unidades 

Grande 

Geralmente por funções. Grande na base e pequena noutros pontos. 

Grande na base e pequena noutros pontos. 

Grande (no vértice)  Pequena em todos os pontos 

Sistemas de planeamento e de 

controlo 

Pouco planeamento e controlo 

Planeamento das ações 

Pouco planeamento e controlo 

Muito planeamento e controlo 

Planeamento limitado das ações (particularmente na adocracia administrativa) 

Mecanismos de ligação 

Poucos  Poucos Mecanismos de ligação na 

administração Poucos  Muitos em todos os pontos 

Descentralização  Centralização  Horizontal limitada  Horizontal e vertical  Vertical limitada  Seletiva 

Funcionamento  Vértice estratégico Todo o trabalho administrativo 

Resolução minuciosa. 

Coordenação de funções. Resoluções 

de conflitos. 

Ligação com o exterior. Resolução dos conflitos. 

Gestão do portfólio. Controlo das performances. 

Ligação com o exterior. Resolução dos conflitos. 

Equilíbrio do fluxo de trabalho. Controlo dos projetos. 

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42    

Centro operacional Trabalho informal. Pouca autonomia. 

Trabalho rotineiro. Formalizado com pouca autonomia. 

Trabalho qualificado. Estandardizado. Muita autonomia individual. 

Tendência para formalizar devido a divisionalização 

Separação (na adocracia administrativa) ou fusão com a administração para a realização de um trabalho informal sobre 

os projetos (na adocracia operacional) 

Linha Hierárquica  Insignificante 

Elaborada e diferenciada. Resolução dos 

conflitos. Ligação com os funcionais. Apoio dos fluxos 

verticais. 

Controlada pelos profissionais. Muito ajustamento mútuo. 

Formulação das estratégias das divisões, gestão e 

operações 

Importante mas confundida com os funcionais. Implicada no 

trabalho por projetos. 

Tecnoestrutura  nenhuma Elaborada para 

formalizar o trabalho Pouca 

Elaborada na sede para o controlo das performances 

Pequena e confundida com o resto no trabalho por projetos 

Funções de apoio  Pequenas Muitas vezes 

elaboradas para reduzir a incerteza 

Elaboradas para apoiar os profissionais. Estrutura da burocracia mecanicista. 

Divididas entre a sede e as divisões 

Muito elaborada (particularmente na adocracia 

administrativa) mas confundidas com o resto no 

trabalho por projetos 

Fluxo de autoridade  Significativo no vértice Significativo em todos os pontos 

Insignificante (exceto nas funções de apoio) 

Significativo em todos os pontos 

Insignificante 

Sistema de fluxos regulados 

Insignificante Significativo em todos os pontos 

Insignificante (exceto nas funções de apoio) 

Significativo em todos os pontos 

Insignificante 

Fluxo de comunicação informal 

Significativo  Desencorajado Significativo na administração 

Moderado entre a sede e as divisões 

Significativo em todos os pontos 

Constelações de trabalho 

Nenhuma Insignificantes, 

particularmente nos níveis inferiores 

Algumas na administração  Insignificantes Importante em todos os pontos 

(sobretudo na adocracia administrativa) 

Fluxo das decisões No sentido descendente 

No sentido descendente 

No sentido ascendente Diferenciado entre a sede e as 

divisões Complexo a todos os níveis 

Fatores de contingência 

Idade e dimensão Tipicamente jovem e 

pequena (primeira fase) 

Tipicamente velha e grande (segunda 

fase) Varia 

Tipicamente velha e muito grande (terceira fase) 

Tipicamente jovem (adocracia operacional) 

Sistema técnico  Simples. Não regulador. Regulador mas não automatizado. Não muito sofisticado. 

Nem regulador, nem sofisticado 

Divisível ou idêntico ao da burocracia mecanicista 

Muito sofisticado. Muitas vezes automatizado (na adocracia 

administrativa). Nem regulador, nem sofisticado (na adocracia 

operacional). 

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43    

Ambiente  Simples e dinâmico. Por vezes hostil. 

Simples e estável Complexo e estável Relativamente simples e estável. Mercados 

diversificados (especialmente no que diz respeito aos produtos e aos serviços) 

Complexo e dinâmico. Por vezes dispare (na adocracia 

administrativa) 

Poder  Controlado pelo diretor‐geral. Muitas 

vezes empresa individual. Estrutura 

não na moda. 

Controlo tecnocrático e 

externo. Estrutura não na moda. 

Controlo pelos operacionais profissionais. Estrutura na 

moda. 

Controlo pela linha hierárquica. Estrutura na moda (particularmente na 

indústria). 

Controlo pelos especialistas. Estrutura muito na moda. 

Fonte: Mintzeberg (2010:492‐493) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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44 

 

Anexo 5: A criação da U.Lisboa 

Atente‐se à fusão recente da antiga UL com a UTL que resultou na criação da U.Lisboa. 

Em  consonância  com  o  definido  no  artigo  55.º  (fusão,  integração,  cisão  e  extinção  de 

instituições  de  ensino  superior  públicas)  do  RJIES,  o  Decreto‐Lei  n.º  266‐E/2012,  de  31  de 

dezembro, do Ministério da Educação e Ciência procedeu à fusão da UL e da UTL, resultando 

uma nova instituição denominada por Universidade de Lisboa, como assinalado na introdução 

do presente relatório.  

Quanto  às  unidades  orgânicas,  nomeadamente  quanto  às  escolas,  com  a  U.Lisboa 

verificou‐se  a  fusão  das  11  escolas  da  UL18  e  as  7  escolas  da  UTL19,  sem  existir  qualquer 

supressão ou união de escolas. A um outro nível, ainda que a literatura e a informação a que 

tivemos acesso não sejam conclusivas, assim como o prazo para a realização do trabalho não 

nos  possibilite  apresentar  dados  fidedignos  em  tempo  útil,  é  possível  considerar  a 

possibilidade  de  que  possa  ter  existido  uma  redução  do  número  de  ciclos  de  estudos 

oferecidos,  em  estrita  consequência  desta  fusão.  Assim,  ainda  que  tenham  aumentado  o 

número de ciclos de estudos ao nível do 3º ciclo  (+9), a  redução global de ciclos de estudos 

cifrou‐se em vinte e  sete  (vd.  tabela abaixo). Ao nível do número de constituintes do corpo 

estudantil,  também  se  verifica uma  ligeira descida  (i.e. de 1025 estudantes), ainda que não 

seja  possível,  de momento  e  pelos mesmos motivos  elencados  para  o  caso  dos  ciclos  de 

estudos, manter  condição  ceteris  paribus  (Curado,  Fonseca  et  al.  2012  e  Universidade  de 

Lisboa 2013). 

Ciclo de Estudos Antes da fusão  Depois da fusão 

Variação UL  UTL  UL+UTL  U.Lisboa 

1º ciclo e ciclos de estudos integrados (MI) 

51  59  110  102  ‐8 

2º ciclo  150  90  240  212  ‐28 

                                                            18  A  saber:  Faculdade  de  Belas  Artes,  Faculdade  de  Ciências,  Faculdade  de  Direito,  Faculdade  de Farmácia, Faculdade de Letras, Faculdade de Medicina, Faculdade de Medicina Dentária, Faculdade de Psicologia,  Instituto de Ciências Sociais,  Instituto de Educação e  Instituto de Geografia e Ordenamento do Território. 19 A saber: Faculdade de Medicina Veterinária, Instituto Superior de Agronomia, Instituto de Economia e Gestão,  Instituto  Superior  Técnico,  Instituto  Superior  de  Ciências  Sociais  e  Políticas,  Faculdade  de Motricidade Humana e Faculdade de Arquitetura. 

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45                 

3º ciclo  43  57  100  109  9 

Total  244  206  450  423  ‐27 

 

As principais razões, para esta fusão, elencadas no prefácio do supra referido Decreto‐Lei 

são: 

i. possibilidade de expansão da capacidade de investigação; 

ii. sinergias entre disciplinas e temas contíguos, promovendo a  interdisciplinares; 

iii. os anteriores objetivos estão alinhados com a necessidade de internacionalização. 

A  partir  da  análise  destes  três  pontos,  pode  eventualmente  considerar‐se  que  está 

implícito o objetivo de aumentar a eficiência e a eficácia das duas  instituições agora fundidas 

e, principalmente, de aumentar a competitividade da mesma num mercado de ensino superior 

globalizado  e  extremamente  dinâmico.  Não  obstante,  quanto  à  estruturação  da  nova 

organização,  importará  estudar  futuramente  que  ganhos  de  eficiência  e  de  eficácia  se 

conseguiram ou  se vão  conseguir  com uma universidade desta envergadura  (administrativa, 

patrimonial,  académica, etc.). Veja‐se que, na  verdade,  a nova  instituição  terá  resultado de 

uma união e não de uma  fusão, onde poderia  ter ocorrido a agregação de escolas de áreas 

científicas  contíguas,  no  sentido  de  promover  uma maior  racionalização  de  recursos  e  de 

sinergias de cariz pedagógico, científico e administrativo. Assim, é possível que, num futuro a 

médio prazo, os órgãos  ligados  à Reitoria da U.Lisboa,  tenham  as mesmas  intenções que  a 

equipa  reitoral  da  U.Porto  teve  aquando  da  discussão  do  (da)  regulamento  orgânico 

(reestruturação da U.Porto).  

O  estudo  específico  deste  caso  terá  que  ficar  para  outra  altura,  todavia  é  pelo  facto 

elencado  na  frase  anterior  que  a  referência  sumária  a  este  caso  se  revela  extremamente 

importante. 

Fontes: Curado, Fonseca et al. (2012) e Universidade de Lisboa (2013).