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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
POR: SOLANGE PIRES PINHEIRO
ORIENTADOR: PROFº. M. S. NILSON GUEDES DE FREITAS
NITERÓI 2006
2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada para obtenção parcial do título de especialista no curso de pós-graduação em Orientação Educacional. Orientador: Profº. M. S. Nilson Guedes de Freitas.
POR: SOLANGE PIRES PINHEIRO
NITERÓI
2006
3 AGRADECIMENTOS
A minha amiga de trabalho e estudos, Enilda Abreu de Carvalho,
exemplo de perseverança e amizade.
A todos os professores do curso que contribuíram para minha formação,
e que por meio de seus ensinamentos e de minha dedicação ao curso, obtive
uma vaga de Orientadora Educacional no Município de Duque de Caxias
através de concurso público.
A todas as minhas amigas que contribuíram com o empréstimo de livros,
proporcionando-me, assim, contato com materiais de grande suporte teórico.
Ao professor Nilson Guedes de Freitas, pela orientação clara e segura e
também pela competência e comprometimento com sua profissão.
E aos meus alunos, que foram exemplos vivos do saber e, que me
oportunizaram momentos aos quais pudesse fazer a associação do
conhecimento adquirido com a prática vivenciada.
4 DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a minha mãe Glória dos Ramos Pires Pinheiro, que é o bem
mais precioso que tenho na vida. Tudo que conquistei até hoje devo a ela também, pois
sempre que precisei esteve ao meu lado, me auxiliando e me apoiando.
5 EPÍGRAFE
PAIS E FILHOS Legião Urbana (Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá)
Estátuas e cofres
E paredes pintadas Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar Nada é fácil de entender.
Dorme agora:
É só o vento lá fora.
Quero colo Vou fugir de casa
Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo
Tive um pesadelo Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar, na verdade não há.
Me diz por que é que o céu é azul
Me explica a grande fúria do mundo São meus filhos que tomam conta de mim
Eu moro com a minha mãe mas meu pai vem me visitar Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com meus pais.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar, na verdade não há.
Sou uma gota d’água Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não entendem Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo São crianças como você.
O que você vai ser Quando você crescer?
6 RESUMO
Este trabalho aborda a questão sobre a importância da afetividade, apresentando como problema central deste estudo se: a falta de afetividade prejudica o processo de desenvolvimento da criança na Educação Infantil? Diante desta problematização, o trabalho busca levar, através de uma pesquisa bibliográfica fundamentada em teóricos, como: Vygotsky, Wallon, Freire, Maturana, Goleman, Alves, Luckesi, Saltini, Kramer entre outros, a compreender como é importante a afetividade para o desenvolvimento da criança na Educação Infantil. O afeto é tratado neste trabalho como algo imprescindível na vida de uma criança para se alcançar a um desenvolvimento normal de seus campos cognitivo, afetivo, social e psicomotor. Tanto a família quanto o professor que são os agentes educadores que estão diretamente ligados a esta criança, são considerados como os promotores de auto-estima, são pessoas que precisam amá-la, respeitá-la, entendendo, assim, o seu jeito todo especial de ser. A criança é o reflexo daquilo que vivencia. Se ela tem amor, ela já tem quase tudo para ser feliz e se desenvolver. Se ela é esquecida, desrespeitada, violentada, ela não encontra a razão do seu existir e morre para si. Os pontos levantados neste estudo são especificamente direcionados às crianças no pré-escolar da rede pública do Município de São João de Meriti e têm o intuito de se levar a entender que o amor é a base de qualquer relação, seja na relação pais-filho, seja na relação professor-aluno, propiciando, assim, o desenvolvimento do indivíduo como um todo. PALAVRAS-CHAVES: afetividade, criança, família, professor, Educação Infantil.
7 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................ 8 1. A IMPORTÂNCIA DO AFETO COMO ASPECTO PRIMORDIAL NA VIDA DA CRIANÇA ................................................................. 11 2. A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DA PRÉ-ESCOLA ..............24 3. O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA RELAÇÃO COM O ALUNO ..............................................................................37 CONCLUSÃO .................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................53 ANEXO ...........................................................................................56 ÍNDICE ...........................................................................................58 FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................59
8 INTRODUÇÃO
Diante do atual contexto político social que o país atravessa, as relações
de afeto encontram-se cada vez mais estanques. As pessoas deixam se levar
pelo seu dia-a-dia, consumidas pelo trabalho, pelas dificuldades e se
esquecem que também são pessoas movidas a uma emoção maior – o amor.
Dar amor, carinho é algo que se constrói desde a vida intra-uterina. Não
se aprende, se sente, e hoje pela carência justamente deste afeto é que
encontramos mais presente em nossas escolas crianças com o
desenvolvimento de seus campos funcionais comprometidos, é então, nesta
perspectiva que se dá toda a problemática da pesquisa, tentando dar conta de
responder se: a falta de afetividade prejudica o processo de desenvolvimento
da criança na Educação Infantil?
Este é um tema que vem gerando bastantes debates nas escolas nas
últimas décadas, pois é cada vez mais percebido a falta de amor, de atenção
das famílias com os seus filhos. São casos como: maus-tratos, agressões
físicas e verbais, entre outros, que incorrem na tão conhecida violência
doméstica.
Uma criança com essa história de vida, quando chega na escola,
mostra-se em muitas das vezes uma criança que além de ter dificuldades de se
relacionar afetivamente, também apresenta desinteresse pelo processo ensino-
aprendizagem desenvolvido.
Cabe então, ao professor e também a toda equipe pedagógica detectar
que problemas estão acontecendo com esta criança, buscando uma parceria
com a família para tentar resgatar a sua felicidade. O professor que é
comprometido com a sua práxis e com o seu aluno, num ato amoroso, também
necessita fazer a sua parte, conquistando-o com muito afeto, visto que ele,
pode não encontrar isto no convívio familiar. O professor que não adota esta
postura e que estigmatiza o seu aluno, deixando-o de lado, certamente será
9 mais uma pessoa a contribuir para a sua infelicidade. Reforçar a infelicidade é
reforçar uma baixa auto-estima. “A auto-estima é a fonte interior da felicidade”
(TIBA, 2002, p.57). E uma criança infeliz, sem amor? Será que terá
possibilidades de se desenvolver normalmente?
É por isso, que este estudo com ênfase na pesquisa bibliográfica busca
levar a compreender a importância da afetividade para o desenvolvimento da
criança da Educação Infantil, abordando mais especificamente as crianças no
pré-escolar da rede pública do Município de São João de Meriti.
Sendo assim, o desenvolvimento deste trabalho divide-se em três
capítulos, fundamentados teoricamente de acordo com o tema em questão.
O primeiro capítulo objetiva contextualizar a importância do afeto como
aspecto primordial na vida da criança. Através de teóricos, como: Wallon,
Maturana, Goleman, Dantas, Galvão entre outros, a importância da afetividade
é abordada de forma que se faça compreender que razão e emoção caminham
sempre juntas, a fim de constituir um ser racional e emocionalmente
equilibrado. Neste capítulo o foco do estudo fica mais direcionado à família que
é a primeira célula social que a criança tem contato e é aí onde tudo começa,
onde o amor começa ou não.
O segmento seguinte, o segundo capítulo, se atém a examinar a prática
pedagógica na Educação Infantil e o desenvolvimento da criança da pré-
escola. Vygotsky, Oliveira, Kramer, Maranhão, Rego, Goleman e outros dão
grande contribuição no que diz respeito à importância de uma prática
pedagógica desenvolvida na Educação Infantil, realmente voltada e adequada
para a criança da pré-escola. Estes teóricos ainda abordam sobre o
desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e psicomotor desta criança, a fim de
se conhecer um pouco mais como se dão tais desenvolvimentos nesta etapa
de ensino.
Por fim, o terceiro e último capítulo se preocupa em caracterizar o
professor da Educação Infantil e sua relação com o aluno. Para embasar
10 teoricamente este capítulo temos Luckesi, Freire, Morin, Saltini, Alves, Chalita,
Goleman etc. De acordo com suas afirmações o professor tem que ser um
profissional prático-reflexivo, que atue enquanto mediador entre o objeto de
conhecimento e seu aluno e que acima de tudo o considere como um ser
singular dentro de um todo, que carrega toda uma história de vida e que
necessita apenas ser amado e valorizado para que se constitua num indivíduo
mais capaz e mais feliz.
O desenvolvimento deste estudo assume um caráter de extrema
relevância, visto que o tema afetividade vem perdendo o seu real significado ao
longo dos tempos. As pessoas deixaram de ser mais amáveis, mais
carinhosas, mais humanas uns com os outros. Isto é muito sério! A criança de
hoje que não recebe amor, é o adulto de amanhã com grandes conflitos
emocionais. E assim, vai se formando um mundo de insensíveis, onde as
relações humanas ficam cada vez mais distantes de serem humanas. Diante
disto, aonde vamos chegar?
É necessário então, repensar nossa maneira de ser, agir e pensar em
relação ao outro, pois somente através do amor, do carinho, do afeto que
poderemos tornar o mundo um pouco melhor. É na criança que temos que
depositar a esperança deste novo mundo, pois ela é o nosso futuro, e isso só
acontece realmente se esta criança for incondicionalmente amada por todos
aqueles que fazem parte de sua vida.
Fica aqui um convite a tentar se compreender um pouco mais sobre a
importância da afetividade na vida de uma criança e que sirva também de
reflexão para se pensar nas seguintes questões: que crianças estamos
formando? E que mundo nós queremos?
11 1. A IMPORTÂNCIA DO AFETO COMO ASPECTO
PRIMORDIAL NA VIDA DA CRIANÇA
O presente capítulo tem o objetivo de contextualizar a importância do
afeto como algo imprescindível para a vida de uma criança. A família que é o
primeiro grupo social que a criança interage apresenta um papel fundamental
na construção deste afeto, pois é através desta condição que a criança se
constituirá um ser mais feliz e realizado em suas áreas cognitiva, motora e
afetiva.
Conforme Maturana (1999, p. 25):
O amor é a emoção central na história evolutiva humana desde o início, e toda ela se dá como uma história em que a conservação de um modo de vida no qual o amor, a aceitação do outro como um legítimo outro na convivência, é condição necessária para o desenvolvimento físico, comportamental, psíquico, social e espiritual normal da criança, assim como para a conservação da saúde física, comportamental, psíquica, social e espiritual do adulto.
Diante desta afirmação, o ser humano é um ser essencialmente
emocional e os aspectos da emoção são os que mais norteiam a sua vida, pois
é na aceitação do outro numa relação de amor que os envolvidos se
constituem pessoas mais equilibradas e plenamente desenvolvidas.
Segundo Maturana (1999) o amor é a emoção que envolve as ações de
aceitar uns aos outros numa relação afetuosa. Portanto, amar significa abrir um
espaço de interações recorrentes com o outro, reconhecendo que a presença
deste ser é legítima e importante também para a sua vida.
É então, através desta aceitação, desta interação de carinho que a
criança começa a perceber que está sendo verdadeiramente amada. A criança
é um sujeito social que necessita do apoio, da atenção de um outro indivíduo
para se constituir num cidadão de fato, com direitos e deveres. Diante disto
torna-se imprescindível a ocorrência de tal interação para que a mesma tenha
a garantia de um desenvolvimento integral.
12 É como afirma Dantas (1992, p. 92) quando nos diz que:
(...). A mediação social está, pois, na base do desenvolvimento: ela é a característica de um ser que Wallon descreve como sendo “geneticamente social”, radicalmente dependente dos outros seres para subsistir e se construir enquanto ser da mesma espécie.
Para Maturana (1999) as relações humanas, ou melhor, dizendo as
relações sociais, são relações fundamentadas basicamente no amor. Esta
emoção é que define o domínio das ações que constitui o que se chama de
social, estas ações são justamente as de aceitação de um com outro indivíduo
numa relação. Sendo assim, se tais relações se perfizerem na base da
confiança e do respeito, aí sim poderá se legitimar que ocorreu uma interação
social derivada do amor, caso contrário não poderão ser tidas como relações
sociais.
Diante disto, faz-se necessário compreender no subcapítulo a seguir,
que uma relação familiar construída no amor, na aceitação do outro, favorece a
constituição de uma criança mais feliz e mais aberta para o universo do
conhecimento, conseqüentemente uma criança mais desenvolvida em todos os
seus aspectos. “Nos momentos dominantemente afetivos do desenvolvimento
o que está em primeiro plano é a construção do sujeito, que se faz pela
interação com os outros sujeitos (...)” (DANTAS, 1992, p. 91).
1.1. Família, afeto, criança – a tríade perfeita
Felicidade Os pais podem dar alegria e satisfação para um filho, mas não há como lhe dar felicidade. Os pais podem aliviar sofrimentos enchendo-o de presentes, mas não há como lhe comprar felicidade. Os pais podem ser muito bem-sucedidos e felizes, mas não há como lhe emprestar felicidade. Mas os pais podem aos filhos Dar muito amor, carinho, respeito, Ensinar tolerância, solidariedade e cidadania, Exigir reciprocidade, disciplina e religiosidade, Reforçar a ética e a preservação da Terra. Pois é de tudo isso que se compõe a auto-estima. É sobre a auto-estima que repousa a alma, E é nesta paz que reside a felicidade. (TIBA, 2002, p. 5)
13 Felicidade é tudo de que um ser humano precisa para sua vida. É o
combustível da alma que equilibra razão e emoção.
De acordo com Maturana (1999) as pessoas se habituaram a pensar o
ser humano como um ser meramente racional, sendo esta a condição de que o
difere dos outros animais, atribuindo exclusivamente que a razão é que
caracteriza o humano. Dizer isto é negar a condição de um ser também
emotivo, pois as emoções são um fenômeno próprio do reino animal, todos nós
as temos.
Goleman (1995, p. 18) também corrobora com o pensamento de
Maturana, dizendo que:
Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope. A própria denominação Homo sapiens, a espécie pensante, é enganosa à luz do que hoje a ciência diz acerca do lugar que as emoções ocupam em nossas vidas.
Valorizar a importância da condição de um ser puramente racional
significa alimentar uma cultura que desvaloriza as emoções. É não percebê-las
enquanto parte também constitutiva do viver humano.
De um modo geral as pessoas não se dão conta que seus argumentos
racionais estão intimamente ligados às emoções em que se fundam, porque
desconhecem que tais argumentos e também muitas de suas ações são
oriundos de um fundo emocional. Sendo assim, conclui-se que não é a razão o
que nos leva à ação, mas sim a emoção.
As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida afetiva. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias manifestações. (GALVÃO, 2005, p. 61)
De acordo com Galvão (2005) as emoções possuem características
peculiares que as diferenciam de outras manifestações da afetividade.
14 “As emoções são dinâmicas corporais que especificam os domínios de
ação em que nos movemos. Uma mudança emocional implica uma mudança
de domínio de ação” (MATURANA, 1999, p. 92).
Já a afetividade é algo que se traduz em maiores proporções, de maior
dimensão. “(...) para Wallon, a afetividade é componente permanente da ação
(...)” (DANTAS, 1992, p. 88).
Nesse sentido, Wallon (1975, p. 143) aprofunda tais conceitos, dizendo
que:
As emoções são a exteriorização da afetividade (...) Nelas que se assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados.
Diante desta afirmação percebe-se que a emoção é o primeiro elo de
comunicação do indivíduo com o mundo externo, e dela deriva assim a
afetividade. A emoção é um fato fisiológico nos seus componentes humorais e
motores e, ao mesmo tempo, um comportamento social na sua função de
adaptação do ser humano ao seu meio.
A emoção, antes da linguagem oral, é o meio utilizado pelo recém-
nascido para estabelecer uma relação com o mundo externo. Os movimentos
de expressão evoluem de fisiológicos a afetivos, quando a emoção cede
terreno aos sentimentos e depois às atividades intelectuais. É o que Galvão
(2005) exemplifica, nos dizendo que, o bebê nos primeiros meses de vida sorri
sozinho não apresentando motivo algum aparente, é um sorriso fisiológico.
Mais tarde ele passa a sorrir somente na presença de pessoas, caracterizando
assim um sorriso social, demonstrando desta forma seus laços afetivos.
No início da vida do bebê a afetividade converge praticamente para as
suas manifestações do corpo, ou seja, é pura emoção. Trata-se neste caso de
uma afetividade somática, de contato de pele, onde as trocas afetivas
dependem exclusivamente da presença concreta dos parceiros (DANTAS,
1992). Neste caso é de extrema relevância que os pais desde cedo acolham
15 seu filho com muito amor e respeito, pois “(...). Todas as experiências que
possuem um alto volume emocional provocam um registro privilegiado. O amor
e o ódio, a alegria e angústia provocam um registro intenso” (CURY, 2003, p.
23). Por outro lado, ações que levem a uma conduta inadequada com o outro
devem ser evitadas, pois emoções de cunho negativo podem ficar registradas
para sempre na memória, ocasionando assim, problemas referentes ao
desenvolvimento integral daquele ser. Tiba (2002, p. 82) exemplifica nos
dizendo que “(...). As brigas transmitem emoções negativas que ficam
registradas na memória vivencial, mesmo que o bebê ainda não esteja
amadurecido neurologicamente para ter memória consciente”.
Diante da grande importância em cuidar deste pequeno ser, dando-lhe
muito carinho e atenção, Maturana (1999, p. 22) traz uma significante
contribuição, esclarecendo que:
O amor é a emoção que constitui o domínio de ações em que nossas interações recorrentes com o outro fazem do outro um legítimo outro na convivência. As interações recorrentes no amor ampliam e estabilizam a convivência; as interações recorrentes na agressão interferem e rompem a convivência.
De acordo com o explicitado é através da emoção maior – o amor, que
as relações interpessoais se constituem de forma verdadeira, concreta e
completa. A presença desta emoção favorece a uma boa convivência entre as
pessoas, promovendo assim, uma relação mais equilibrada e
conseqüentemente mais feliz. Uma relação constituída então, na base do amor
só poderá ser dita realmente, se ocorrer através da ação humana a aceitação
do outro pelo outro na convivência. Caso a relação seja marcada por
momentos negativos, de dor, de sofrimento, a convivência não será mantida.
Isto se deve justamente porque não houve a aceitação entre as partes, e se
não houve aceitação, não houve amor.
Dantas (1992) salienta o fato de que a afetividade não é somente uma
das dimensões da pessoa, ela também passou por estágios de
desenvolvimento, ou seja, o ser humano assim que saiu da sua condição
orgânica, deu logo espaço a sua condição de ser afetivo. Desta afetividade,
16 originou-se lentamente, a vida racional. Diante disto, afirma que então no
começo da vida, afetividade e inteligência estão intimamente misturadas, com
presença mais marcante da primeira.
Goleman (1995, p. 24) com seu enfoque biológico sobre o
desenvolvimento do cérebro, explicita também que emoção veio antes da
razão, dizendo que:
Da mais primitiva raiz, o tronco cerebral, surgiram os centros emocionais. Milhões de anos depois, na evolução dessas áreas emocionais, desenvolveu-se o cérebro pensante, ou “neocórtex”, o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas externas. O fato de o cérebro pensante ter se desenvolvido a partir das emoções revela muito acerca da relação entre razão e sentimento; existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional.
Goleman (1995) considera o ser dotado de duas mentes, a racional e a
emocional, uma complementando a outra, ou seja, ambas são parceiras
integrais no curso do desenvolvimento mental. À mente racional cabe a função
de refletir analiticamente os fatos acontecidos, levando assim, mais tempo para
resolvê-los. Já a emocional age de forma mais rápida, reagindo frente aos fatos
impulsivamente, sem parar para pensar. Daí em se dizer que em questões de
cunho emocional a resposta não vem da cabeça e sim do coração.
Esses dois modos fundamentalmente diferentes de conhecimento interagem na construção de nossa vida mental. Um, a mente racional, é o modo de compreensão de que, em geral, temos consciência: é mais destacado na consciência, mais atento e capaz de ponderar e refletir. Mas, além deste, há um outro sistema de conhecimento que é impulsivo e poderoso, embora às vezes ilógico – a mente emocional. (GOLEMAN, 1995, p. 23)
Com a maturação do ser a diferenciação dos desenvolvimentos afetivo e
cognitivo logo se inicia, porém sempre de forma interligada, pois um depende
do outro para garantir o equilíbrio do ser.
É o que nos coloca Dantas (1992, p. 90) quando fala sobre afetividade e
inteligência:
(...), a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mais integrados. Cada
17 novo momento terá incorporado as aquisições feitas no nível anterior, ou seja, na outra dimensão. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.
Goleman (1995) vem ratificar esta afirmação, dizendo que a mente
emocional e a racional trabalham em uma estreita sintonia, interligando seus
modos de conhecimento para que o ser humano se oriente em seu meio. Em
geral, ocorre então, uma certa estabilidade entre essas duas mentes, ou seja, a
emoção interfere nas operações da mente racional, alimentando-a e
informando-a e a razão, apurando e até em muita das vezes proibindo a
entrada das emoções. Contudo, deve-se entender, que as duas operam uma
independente da outra, com mecanismos de funcionamento diferentes, porém
ligadas entre si pertencentes a uma mesma unidade – o cérebro. E ele ainda
enfatiza que em muitos momentos ou na maioria deles, essas duas mentes se
dispõem de maneira bem sublime e sutil. Sendo assim, os sentimentos são
fundamentais para o pensamento, do mesmo modo como o pensamento o é
para os sentimentos.
De acordo com Galvão (2005) Wallon propôs o estudo integrado do
desenvolvimento humano. Para ele, tal desenvolvimento abrange uma série de
aspectos na composição de um todo. Tais aspectos denominados campos
funcionais compreendem a afetividade, a motricidade e a inteligência no que
diz respeito a atividade infantil.
No avanço de suas pesquisas e analisando o homem como um ser
geneticamente social, Wallon (apud GALVÃO, 2005) também dá grande
importância ao estudo da criança contextualizada, ou seja, leva em
consideração as suas relações com o meio em que está inserida. Desta forma,
Wallon (apud GALVÃO, 2005) discute a psicogênese da pessoa completa,
reunindo todos estes elementos como condições básicas na formação de um
ser integral. Diante seus vários estudos, vale destacar a grande importância
que deu sobre a dimensão afetiva, afirmando em sua Teoria da Emoção que a
tal dimensão encontra-se no centro de tudo, pois é ela que contribui tanto para
18 a constituição da pessoa quanto do conhecimento. É ela que define a condição
de um ser plenamente desenvolvido.
Diante disto, faz-se necessário então compreender, que a família que é
o primeiro elo de ligação com a criança, precisa acolhê-la com muito amor,
respeito, carinho, pois estas são condições essenciais para garantir sua
felicidade, conseqüentemente sua realização enquanto ser biológico, afetivo,
social e intelectual.
Por melhor que seja uma escola, por mais bem preparados que estejam seus professores, nunca a escola vai suprir a carência deixada por uma família ausente. Pai, mãe, avó ou avô, tios, quem quer que tenha a responsabilidade pela educação da criança deve participar efetivamente sob pena de a escola não conseguir atingir seu objetivo. (CHALITA, 2001, pp. 17,18)
Face o explicitado, percebe-se que não há instituição melhor que não
seja a família para dar educação e claro muito amor, que é o que uma criança
realmente mais necessita na sua vida.
Chalita (2001) ainda reforça dizendo que a preparação para a chegada
deste novo ser, o amparo de seus familiares e o carinho são aspectos
fundamentais para o desenvolvimento saudável do mesmo. Porém, este
privilégio é apenas de alguns. Muitas de nossas crianças são fruto deste
sistema controlador que reforça cada vez mais os vários tipos de
desigualdades presentes em nossa sociedade. São crianças que não sabem
porque vieram ao mundo, crianças marginalizadas, oriundas da pobreza
material e afetiva. Para ele, a dimensão do afeto surge mesmo antes de a
criança nascer, ou seja, no preparo, na vinda e também durante, na criação e
na compreensão dos problemas que a afetam. “A família é essencial para que
a criança ganhe confiança, para que se sinta valorizada, para que se sinta
assistida” (CHALITA, 2001, p. 26).
Analisando sob uma outra ótica, muitas famílias criam uma enorme
lacuna na vida da criança, um imenso vazio, ou seja, ela se faz presente de
corpo, mas não de alma, ela está representada fisicamente, mas não consegue
penetrar no coração desta criança. Em se tratando da relação pai e mãe não
19 basta eles suprirem somente as necessidades básicas da criança, como:
comer, dormir, entre outros, eles precisam sim, de cuidar em primeiro lugar do
terreno emocional dela, a fim de manter cada vez mais sólidos os vínculos
afetivos entre eles. “Ser mãe e pai não é apenas cumprir tarefas práticas, mas
também se envolver afetiva e intensamente, pois é disso que resulta a
qualidade do relacionamento” (TIBA, 2002, p. 99).
Favorecer a um bom relacionamento é condição primordial para que a
criança sinta a importância do seu existir.
Por um outro lado se estas relações não forem expressas com amor,
elas não poderão ser referenciadas como sociais, porque negam justamente a
aceitação do outro como um ser que também é tão especial quanto ele.
É o que diz Rabelo (1999, p. 8) quando nos fala que:
(...). Interações baseadas na obediência, na exclusão, na negação, no preconceito não podem ser ditas sociais, pois negam a nossa condição biológica básica de seres dependentes do amor, isto é, negam o outro como legítimo outro na convivência e fazem adoecer.
Cury (2003) vem discutir esta afirmação, dizendo que os pais que
mantêm um relacionamento marcado com violência, agressividades, rejeições
ou atitudes impensadas podem criar grandes transtornos emocionais na
criança, gerando cicatrizes para sempre. Ele explica que o mecanismo psíquico
que ocorre é que experiências dolorosas como essas são registradas
automaticamente no centro da memória. Daí em diante elas são lidas
continuamente, provocando vários outros pensamentos. Estes pensamentos
por sua vez são registrados novamente, ocasionando as zonas de conflitos no
inconsciente. Com o avançar do tempo, estes registros são encaminhados para
a memória existencial que é a periferia inconsciente da memória. Em certos
casos, quando o volume de sofrimento ou ansiedade é muito grande provoca-
se então um bloqueio da memória, ou seja, uma criança que sofreu maus tratos
durante toda sua infância, pode não conseguir relembrar este período de sua
vida. Este bloqueio funciona como uma defesa inconsciente a fim de não deixar
20 vir à tona tais momentos infelizes, evitando assim, de relembrar a dor
emocional que vivenciara.
Por um outro lado, caso não ocorra este bloqueio, uma situação com
momentos marcantes vivida no passado, pode fazer gerar as mesmas
sensações se acontecida no presente. É o que coloca Goleman (1995, p. 309)
quando nos diz que:
Na ocorrência de um evento que traga para a mente emocional, por um mínimo detalhe, fortes sensações do passado, a reação que se desencadeia é idêntica àquela vivida originalmente. A mente emocional reage ao presente como reagiu no passado.
Para ilustrar tal afirmação Goleman (1995) exemplifica, dizendo que uma
pessoa adulta que na sua infância passou por episódios dolorosos e com isso
internalizou o sentimento de medo e aversão frente a um rosto indicativo de
raiva, esta poderá ter sensações da mesma natureza ao se deparar novamente
com este tipo de situação, mesmo que isto não denuncie uma ameaça
propriamente dita.
A psique humana é como uma loja de cristais caríssimos. Mãe e pai às vezes se comportam como elefantes lá dentro. O barulho, a quebradeira, o estrago ocorridos ali são percebidos pela alteração súbita da expressão da criança. (TIBA, 2002, p. 144)
A falta de afeto deste modelo de pais cede espaço para a imposição da
autoridade com violência, ganhando desta forma o temor da criança, e
perdendo para sempre o seu amor.
Uma criança com essa história de vida pode na vida adulta vir a
reproduzir tais atitudes, reagindo também com violência, porque nunca foi
amada de fato e por isso pode sentir dificuldades em se relacionar
afetivamente, em transmitir o amor que nunca recebeu. Um outro aspecto a
considerar, refere-se ao desinteresse pelo aprendizado. Uma criança infeliz,
marcada pela violência e abuso de poder, dificilmente demonstrará entusiasmo
pelo processo ensino-aprendizagem desenvolvido, porque a mesma vive um
alto volume de tensão emocional, ocasionando assim uma série de conflitos.
É o que Cury (2003, p. 89) enfatiza, dizendo que:
21 (...). Se insistirmos em manter nossa autoridade a qualquer custo, estaremos cometendo um pecado capital na educação dos nossos filhos. Nosso autoritarismo controlará a inteligência deles. Nossos filhos poderão reproduzir nossas reações no futuro. Aliás, observe que costumamos reproduzir os comportamentos dos nossos pais que mais condenamos em nossa infância. O registro silencioso não-trabalhado cria moldes no secreto da nossa personalidade.
E ele ainda acrescenta dizendo que, numa sociedade onde os pais e
filhos não são amigos, a depressão e outros transtornos emocionais se fazem
constantes, mantendo-se sempre presentes. A autoridade marcante dos pais e
o respeito por parte dos filhos não deixa aflorar a mais linda amizade, pois é
esta sem dúvida a mais sincera e fiel amizade que se pode ter. Se os próprios
pais não têm a capacidade de amar incondicionalmente seus filhos, de
estabelecer esta amizade, quem então a fará? “Não devemos ter medo de
perder nossa autoridade, devemos ter medo de perder nossos filhos” (CURY,
2003, p. 90).
Pais que beijam, que elogiam, que estimulam seus filhos desde cedo a
pensar, não têm o receio de perdê-los e de também de perder o respeito deles.
Abraçar, beijar e falar espontaneamente com os filhos cultiva a afetividade, rompe os laços da solidão (...) O toque e o diálogo são mágicos, criam uma esfera de solidariedade, enriquecem a emoção e resgatam o sentido da vida. (CURY, 2003, p. 45)
Para Tiba (2002) a criança precisa realmente se sentir amada em seu
meio familiar, porque este amor que vem de fora para dentro é que se converte
em auto-estima. Para ele a auto-estima se inicia ainda quando somos bebês.
Todos os cuidados e carinhos que são dirigidos à criança mostram-na que ela
é amada e cuidada. Nesse começo de vida, ela está percebendo como tudo se
dá a sua volta, e à medida que vai se desenvolvendo, vai também descobrindo
a sua importância de existir diante do valor que os outros lhe dão. É então aí
que nasce a auto-estima.
Uma criança com baixa auto-estima, que não é amada e respeitada
poderá apresentar dificuldades em se realizar plenamente enquanto ser
racional e afetivo, porque justamente não recebeu o mais puro e verdadeiro
22 amor, que é o amor de sua família. “Quando a baixa auto-estima nasce, a
alegria morre” (CURY, 2003, p. 30).
Sem uma auto-estima elevada dificilmente esta criança poderá encontrar
a felicidade, pois como nos diz Tiba (2002, p. 275):
Os pais podem dar alegria, conforto, satisfação e roupas da moda para os filhos, mas não podem lhes dar felicidade. O que os pais podem fazer é alimentar a auto-estima dos filhos, que é a base da felicidade.
E sem felicidade o ser humano padece dentro do seu próprio eu, não
encontra a razão do seu existir, enfraquece e morre para si.
Cury (2003) nos fala que para as crianças serem felizes, elas deverão
aprender a tirar lições nos bons e maus momentos de suas vidas, tentar
encontrar a felicidade nas mínimas coisas, pois é aí que ela reside. Para ele,
este seria o grande desafio da educação da emoção. Mas, antes de tudo isso,
as crianças precisam de pais que entendam este ciclo da vida, pois elas
aprendem e convivem com eles e no futuro elas irão também passar isto para
seus filhos. “Quanto mais competentes os pais forem, menos necessários eles
se tornarão para os filhos, e o vínculo afetivo será mantido eternamente, em
nome da saudável integração relacional” (TIBA, 2002, p. 82).
E Cury (2003, p. 19) finaliza nos dizendo que “Os filhos não precisam de
pais gigantes, mas de seres humanos que falem a sua linguagem e sejam
capazes de penetrar-lhes o coração”.
PEDIDOS DE UMA CRIANÇA - Não tenham medo de ser firmes comigo. Prefiro assim. Isso faz com que eu me sinta mais seguro. - Não me estraguem. Sei que não devo ter tudo que peço. Só estou experimentando vocês. - Não deixem que eu adquira maus hábitos. Dependo de vocês para saber o que é certo ou errado. - Não me corrijam com raiva nem o façam na presença de estranhos. Aprendo muito mais se falarem com calma e em particular. - Não me protejam das conseqüências dos meus erros. Às vezes, eu preciso aprender pelo caminho mais áspero. - Não levem muito a sério as minhas pequenas dores. Necessito delas para obter a atenção que desejo. - Não sejam irritantes ao me corrigir; se assim fizerem, eu provavelmente farei o contrário do que pedem.
23 - Não façam promessas que não poderão cumprir, lembrem-se de que isso me deixará profundamente desapontado. - Não ponham muito à prova a minha honestidade. Sou facilmente tentado a dizer mentiras. - Não me mostrem Deus carrancudo e vingativo; isso me afastará Dele. - Não desconversem quando faço perguntas, senão procurarei na rua as respostas que não tive em casa. - Não me mostrem pessoas perfeitas e infalíveis. Ficarei muito chocado quando descobrir algum erro delas. - Não digam que não conseguem me controlar. Eu julgarei que sou mais forte que vocês. - Não digam que meus termos são bobos, e sim ajudem-me a compreendê-los. - Não me tratem como pessoa sem personalidade. Lembrem-se de que tenho meu próprio jeito de ser. - Não me apontem continuamente os defeitos das pessoas que me cercam. Isso criará em mim um espírito intolerante. - Não se esqueçam de que eu gosto de experimentar as coisas por mim mesmo. Não queiram me ensinar tudo. - Nunca desistam de ensinar o bem, mesmo que eu pareça não estar aprendendo. No futuro vocês verão em mim um fruto daquilo que plantaram. Muito obrigado, papai, mamãe, por tudo o que fizeram por mim. (CHALITA, 2001, pp. 28-30)
Todos os pontos referenciados nesta citação são aspectos que,
contribuem certamente para existência de um ser mais feliz, que precisa única
e exclusivamente de ser amado, pois como nos diz Maturana (1999, p. 23) “A
emoção fundamental que torna possível a história da hominização é o amor”.
24 2. A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DA PRÉ-ESCOLA
Este capítulo busca levar a compreender o quanto é importante a
Educação Infantil para o desenvolvimento da criança, a partir das novas
concepções históricas, sociais e legais que nos últimos anos a reconfiguraram
e, por conseguinte, a prática pedagógica também.
Conforme afirma Oliveira (2002, pp. 220, 221):
(...), as crianças necessitam ser inseridas em um ambiente no qual participem de forma integrada, sendo envolvidas em termos cognitivos, afetivos e psicomotores. Sendo solicitadas a participar ativamente, elas têm a oportunidade de expressar seus sentimentos, perguntar, expor seus pontos de vista usando diferentes linguagens.
Tal ambiente retratado por Oliveira, entende-se por um ambiente onde
as crianças possam criar condições de se desenvolverem integralmente, onde
sejam compreendidas e reconhecidas de acordo com o jeito particular de cada
uma de ser e de estar no mundo. Esta concepção do pleno desenvolvimento da
criança é então acolhida e defendida pela Educação Infantil.
O conceito de pleno é muito bem discutido por Chalita (2001) quando
explica que o mesmo se contrapõe a visão reprodutivista de ensino, que tem
como ênfase a transmissão de conteúdos, contemplando única e
exclusivamente o desenvolvimento da habilidade cognitiva. “Trata-se de
ampliar a responsabilidade da educação para as habilidades sociais e
psicológicas, priorizando a afetividade, o equilíbrio, a convivência plural”
(CHALITA, 2001, p. 128).
Tal pensamento vem reafirmar a prática pedagógica que é desenvolvida
na Educação Infantil, estabelecendo-a de fato, na certeza de ser um nível de
ensino muito importante, que visa contribuir para a formação de um indivíduo
mais capaz e mais feliz.
25 A Educação Infantil, que é a primeira etapa da Educação Básica, deve
então, criar para cada criança múltiplas oportunidades para que a mesma
possa se expressar e respeitar a expressão do outro em relação a sentimentos,
idéias, costumes e preferências, sendo aceita em suas características físicas,
morais e sociais. A experiência das crianças em um ambiente como este deve
possibilitar-lhes também encontrar explicações sobre o que acontece a sua
volta e consigo mesmas, o que lhes permite construir significações acerca do
mundo e de si mesmas. Ao mesmo tempo, desenvolvem a capacidade de
sentir, pensar e solucionar problemas, através da autonomia e cooperação.
Dessa forma, as crianças podem ir se constituindo enquanto sujeitos únicos e
históricos, integrantes de famílias que são igualmente singulares em sua
comunidade.
É o que nos diz Kramer (1991) quando explicita que as crianças devem
ser vistas como seres sociais, indivíduos que fazem parte de uma sociedade. E
para que isso ocorra, faz-se necessário levar em consideração suas diferentes
características, como: histórias de vida, origem, classe social, diversidade de
etnia, sexo e cultura. E ainda afirma:
Reconhecer as crianças como seres sociais que são implica em não ignorar as diferenças. Os conflitos – que podem emergir – não devem ser encobertos, mas, por outro lado, não podem ser reforçados: precisam ser explicitados e trabalhados com as crianças a fim de que sua inserção social no grupo seja construtiva, e para que cada uma seja valorizada e possa desenvolver sua autonomia, identidade e espírito de cooperação e solidariedade com as demais. (KRAMER, 1991, p. 19)
Uma educação cuidadosa seleciona experiências socialmente relevantes
de aprendizagem e propõe metas valiosas à construção de competências pelas
crianças, apoiando, assim, a formação de um conceito positivo de si mesmas.
Isso deve fazer parte de um planejamento adequado de atividades promovidas
com o intuito de educar cuidando.
Para Kramer (1991, p. 13):
(...) o trabalho escolar é entendido como o que deve garantir o acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela
26 humanidade e formar, simultaneamente, indivíduos críticos, criativos e autônomos, capazes de agir no seu meio e transformá-lo.
Para ela, a escola não modifica a sociedade, mas pode contribuir
possivelmente para que ocorra uma mudança, caso seu papel seja de ensinar
criticamente, dando, assim, subsídios para o pleno exercício da cidadania.
Diante disto, enfatiza que não basta ter somente este posicionamento
político, é necessário também reconhecer que:
(...) as crianças são pessoas que se desenvolvem psicologicamente, apresentando características próprias, no decorrer do seu desenvolvimento, do ponto de vista lingüístico, sócio-afetivo, lógico-matemático e psicomotor. Consideramos, ainda, que no processo de desenvolvimento há influências marcantes do seu meio sócio-econômico e cultural, e que podem ser identificadas na medida em que se percebe a diversidade cultural que caracteriza nosso contexto social e, portanto, que existe em nossas escolas. (KRAMER, 1991, pp. 13, 14)
A Educação Infantil deve ser entendida não simplesmente como um
espaço onde os pais para trabalharem deixam seus filhos para serem
cuidados, mas para além disso, deve ser compreendido como um espaço de
brincadeira, de aprendizado, de desenvolvimento das diversas dimensões do
conhecimento.
Encontra-se ainda muito presente em nossa sociedade a concepção que
alguns profissionais da educação e também pais da classe média e popular
têm em relação à formação educacional das crianças da Educação Infantil,
onde pretendem formar mini gênios, garantindo o sucesso futuro, como etapa
preparatória, e assim massificando-as com vários conteúdos de forma
inadequada e autoritária.
Souza (1988) discute esta questão, dizendo que para muitos pais as
atividades desenvolvidas na pré-escola de hoje fogem as suas expectativas,
porque estes entendem que somente um modelo tradicional de aprendizagem
é o melhor caminho para que seu filho realmente aprenda. Para eles, é através
de situações altamente rígidas e controladoras que a criança poderá assimilar
os conteúdos pretendidos, caso isto não ocorra a pré-escola será um lugar
somente onde as crianças brincam e se divertem para passar o tempo.
27 Diante disto, é necessário então, desconstruir esta idéia tão arcaica
sobre o desenvolvimento infantil através de palestras, reuniões, etc, realizadas
por especialistas em educação para se fazer entender que quando se trabalha
uma criança com atividades rigidamente estruturadas e reguladoras numa linha
tradicional, esta terá menos possibilidades de se desenvolver integralmente no
que corresponde aos seus campos funcionais, de desenvolver o seu senso
crítico, a sua capacidade de agir e reagir frente aos obstáculos, de construir
seus pensamentos, de refletir sobre seus atos e atitudes, de expressar suas
emoções. É preciso se fazer compreender que sua espontaneidade fica
comprometida, limitada, pelo simples fato de se cumprir tarefas que não têm o
menor sentido para ela. Sampaio (2001, p. 39) comenta bem esta questão,
quando fala que a aprendizagem só ocorre realmente se a atividade estiver
carregada de sentido:
(...) qualquer aprendizagem só se dá de fato quando o sentido está presente. Só assim se verifica a mobilização do sujeito enquanto totalidade: razão, sensação, sentimento, intuição, imaginação estão presentes quando a atividade tem sentido.
Karen Stone McCown (apud GOLEMAN, 1995) ainda explicita que o
aprendizado não pode assim acontecer de forma separada dos sentimentos da
criança, pois afirma que ser emocionalmente alfabetizado é tão importante no
processo de aprendizagem quanto adquirir os conhecimentos das diversas
áreas da ciência. Daí então, entende-se que emoção e razão são condições
essenciais do ser, que possuem igual valor, ambas são importantes e precisam
ser estimuladas e valorizadas no intuito de se formar indivíduos com aptidões
emocionais e racionais bem desenvolvidas.
A escola infantil, creches ou pré-escolas são espaços onde os processos
educativos são construídos, de forma dinâmica, onde não existe aquele que
somente conduz, mas que, também, ao mesmo tempo, pode ser conduzido – é
um processo permanente de troca mútua de sentimentos, experiências,
conhecimentos, no qual a criança é agente central e fundamental. A Educação
Infantil, necessariamente, ao produzir espaço de ensino-aprendizagem, deve
28 sempre estar preocupada em proporcionar momentos de prazer, de lazer, de
construção do lúdico. Brincar é preciso, para melhor educar.
Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil. (RCNEI, 1998, p. 23)1
A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano,
precisa ser mais considerada; o espaço lúdico da criança está merecendo
maior atenção, pois é o espaço para a expressão mais genuína do ser, é o
espaço dos exercícios da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com
os objetos.
Segundo Maranhão (2004) o espaço de uma sala de aula de Educação
Infantil é um lugar mágico, tudo que nela encontramos, como: cadeiras, mesas,
jogos, brinquedos, os famosos cantinhos (da dramatização, da leitura, etc)
compõe um cenário ideal para que a criança se desenvolva. Elas participam de
várias atividades que trabalham as áreas da motricidade, das linguagens
compreensiva e expressiva, das percepções, do grafismo, da concentração e
atenção e uma das mais importantes a da relação sócio-afetiva. Neste vai e
vem de atividades elas trocam experiências entre si, aprendendo umas com as
outras. É o que comenta Rego (2004, p. 56) quando fala sobre o
desenvolvimento infantil na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky:
Vygotsky atribui enorme importância ao papel da interação social no desenvolvimento do ser humano. Uma das mais significativas contribuições das teses que formulou está na tentativa de explicitar (e não apenas pressupor) como o processo de desenvolvimento é socialmente constituído. Essa é a principal razão de seu interesse no estudo da infância.
Diante desta belíssima interação bem no momento da realização das
atividades, as crianças externalizam também suas emoções e seus
sentimentos. É uma união perfeita no que diz respeito aos aspectos cognitivos,
1 RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que foi elaborado no ano de 1998, constando de três volumes para atender a creches, entidades equivalentes e pré-escolas. A citação exposta acima refere-se ao volume número um.
29 psicomotores, afetivos e sociais, que são as dimensões fundamentais para a
constituição do ser. Estas dimensões bem desenvolvidas resulta num indivíduo
plenamente capaz de lhe dar com qualquer situação-problema que na sua vida
encontrar.
É então, que Maranhão (2004) salienta a importância das brincadeiras
espontâneas e dirigidas, dizendo que através delas as crianças conseguem
entender o mundo em que vivem, desenvolvendo desta forma suas habilidades
que mais tarde gerarão as competências necessárias para o seu crescimento
pessoal.
Através da brincadeira, a criança cria uma ponte do imaginário para o real e manipula a realidade. É brincando de casinha que ela consegue entender as emoções que vivencia na realidade. Ao brincar, ela explora emoções, cria as hipóteses necessárias para o entendimento do que antes lhe parecia tão difícil. (MARANHÃO, 2004, p. 5)
O brincar é oportunidade de desenvolvimento e aprendizagem.
Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, exercita, enfim aprende
com facilidade. O brincar estimula a curiosidade, a iniciativa e a autoconfiança.
Proporciona aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, do pensamento,
da concentração, da atenção, entre outros. Brincar é indispensável à saúde
física, emocional e intelectual da criança. É uma arte, um dom natural que,
quando bem cultivado, irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio
do indivíduo.
De acordo com Oliveira (2002, p. 160):
Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção, representação, memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligados. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças formas mais complexas de relacionamento com o mundo. Isso ocorre em virtude das características da brincadeira: a comunicação interpessoal que ela envolve não pode ser considerada “ao pé da letra”; sua indução a uma constante negociação de regras e à transformação dos papéis assumidos pelos participantes faz com que seu enredo seja sempre imprevisível.
30 Maranhão (2004) complementa tal afirmação, dizendo que a criança ao
brincar faz várias relações com a sua vida, ou seja, ela testa sensações
conhecidas anteriormente, representando assim, comportamentos que julga
serem certos. É o caso quando brinca de mãe e filha. No momento que assume
o papel de filha, ela age como deveria ser uma filha de fato, porém não se dá
conta de que através da brincadeira ela se comportou como deveria agir em
sua própria vida. A brincadeira então, propicia que esta criança internalize
gradativamente ao brincar, regras de convivência na relação mãe-filha,
transportando do imaginário para o real, fazendo com que ela levante suas
hipóteses, teste-as, formule sua idéia e chegue até o aprendizado.
Diante disto, constata-se que a brincadeira é realmente um momento de
aprendizagem em que a criança tem a possibilidade de viver papéis, de
elaborar conceitos e ao mesmo tempo exteriorizar o que pensa da realidade.
Assim, a brincadeira é uma atividade humana e social, produzida a partir de
seus elementos culturais.
Conforme RCNEI (1998) as brincadeiras podem ser divididas em três
tipos de modalidades de acordo com as categorias de experiências de cada
uma. São elas: brincadeiras de faz-de-conta ou com papéis, brincadeiras com
materiais de construção (jogos de construção) e brincadeiras com regras (jogos
com regras). Todas elas são de extrema relevância por proporcionarem o
alargamento cultural dos conhecimentos infantis através da atividade lúdica. E
ainda afirma que: “(...). Toda brincadeira é uma imitação transformada, no
plano das emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada”
(RCNEI, 1998, p. 27).
Para falar sobre imitação Maranhão (2004) vem nos dar uma significante
contribuição, nos dizendo que por meio das brincadeiras a criança começa a se
utilizar dos processos de imitação, ou seja, ela capta tudo que vivencia em seu
meio, registra e reproduz posteriormente. O começo do pensamento infantil
surge justamente pelo avanço desses processos. Na fase inicial de sua vida a
criança imita somente aquilo que vê. Quando ganha mais idade e
conseqüentemente mais maturidade, a criança já consegue fazer a reprodução
31 daquilo que não vê, ou seja, ela representa o que já viu em algum tempo
distante. Diante desta maturação é que se dá o início da construção do
pensamento.
Ela também faz grande destaque no que concerne às brincadeiras de
faz-de-conta, dizendo que as mesmas proporcionam à criança um melhor
entendimento sobre o mundo em que vive. Essas brincadeiras são uma das
mais importantes atividades, porque a partir delas se originam todas as outras.
A criança ao brincar pode, por exemplo, pegar um objeto qualquer e imaginar
que ele seja um carrinho, ou uma boneca, enfim, a criança brinca independente
daquele objeto ser realmente um carrinho, ou uma boneca. Isso acontece
porque ela já consegue através de uma imagem mental interiorizada
representar aquilo que deseja.
A imitação que origina todo este esquema mental através destas
representações é o que nomeamos por jogos simbólicos. É por meio destes
jogos que a criança irá desenvolver a sua linguagem, aprendendo a dar as
devidas significações para os objetos, pessoas, etc.
(...), por meio das brincadeiras e dos jogos simbólicos, a linguagem vai se estruturando. A criança começará a trabalhar com suas imagens mentais e estas, segundo Piaget, são os primeiros elementos de articulação entre ação e pensamento. (MARANHÃO, 2004, p. 23)
Diante disto, percebe-se como é de suma importância que nas
instituições de Educação Infantil seja oferecida a possibilidade das brincadeiras
e dos jogos simbólicos, porque assumem um caráter significativo no processo
de desenvolvimento da criança.
Segundo Rego (2004) Vygotsky também fala sobre o papel da imitação
na brincadeira, associando-a a zona de desenvolvimento proximal. Esta por
sua vez é:
(...) a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
32 colaboração com companheiros mais capazes. (VIGOTSKI, 2003, p. 112)
O surgimento desta zona deve-se justamente porque por meio da
imitação que acontece na brincadeira, a criança incorpora/apreende diversos
conceitos que darão com certeza subsídios para sua vida, influenciando na sua
maneira de ser e agir, ocasionando assim, o seu desenvolvimento integral que
se dá através das trocas de conhecimento entre as pessoas.
É o que reforça Vygotsky (1996, p. 89) quando diz que:
No desenvolvimento da criança, (...), a imitação e o aprendizado desempenham um papel importante. Trazem à tona as qualidades especificamente humanas da mente e levam a criança a novos níveis de desenvolvimento (...) O que a criança é capaz de fazer hoje em cooperação, será capaz de fazer sozinha amanhã.
É, então, de grande importância compreender que a criança é uma
totalidade que integra aspectos físicos, afetivos e cognitivos, que tomam
sentido através da linguagem e da cultura. Suas relações com diversos
parceiros seja adulto ou criança, são oportunidades para ela constituir-se como
sujeito único, com uma forma toda particular de reagir a situações.
Diante da ênfase dada a como a criança é percebida e se desenvolve,
Rego (2004) vem ressaltar como são importantes as brincadeiras no âmbito
escolar, sinalizando mais especificamente para o período pré-escolar. Elas
oferecem momentos de rico aprendizado, onde as trocas de experiências
permeiam as relações interpessoais. Para Rego, as brincadeiras não deveriam
ser vistas e tratadas como algo de segundo plano. Pelo contrário, deveriam ser
valorizadas e cada vez mais trabalhadas, pois são a porta de entrada para o
mundo escolarizado, apresentando assim, uma grande relevância pedagógica.
Face ao destaque feito por Rego sobre a importância dada à brincadeira
na pré-escola, faz-se necessário então, conhecer um pouco mais sobre o
desenvolvimento da criança desta fase escolar.
Silva (1998) afirma que a criança deste período caracteriza-se
principalmente por ampliar seu grupo social, voltando seus interesses para o
33 grupo de amigos, para atividades que exijam movimentos mais apurados e
precisos e para atividades que envolvam maior atenção e memória. Surge
também, a preferência pelos jogos com regras, estes passando a ter mais
seriedade na vida da criança; pelo desenho e por brincadeiras em grupo,
demonstrando assim, bastante independência em relação à figura do professor.
Essa criança é capaz de adquirir hábitos mais organizados nos trabalhos e
participar de situações sociais com mais desenvoltura.
(...), por volta dos 5 anos, já aprendemos 80% de tudo o que precisamos saber na vida sobre o cotidiano, sobre os modos de viver e conviver. Como o ser humano depende dos outros ao nascer e como essa dependência dura quatro ou cinco anos, este é o período de aprendizagem máxima. Todas as “janelas de oportunidades” estão abertas para a aprendizagem. Tudo o que a criança percebe, guarda: tudo o que ela pode, aprende. (SEMEAR, 1998, p. 28)2
É com muita cautela que tanto as atividades a serem desenvolvidas com
estas crianças, quanto à maneira de lidar com elas, devem ser muito bem
selecionadas e administradas, porque um passo em falso e poderá
comprometer todo o seu processo de desenvolvimento, visto que é uma fase
em que as crianças estão atentas a tudo e a todos. Uma promessa que seja
deve ser cumprida, a fim de a criança perceber que é um sujeito social, que
também merece o devido valor e respeito como qualquer outra pessoa de sua
sociedade. Caso isso não aconteça, ela poderá começar a perder a confiança
nas pessoas, acumulando experiências negativas para sua vida que
possivelmente interferirão na construção do seu pensamento referente a
questões que envolvam justiça, moral, ética, entre outros.
Quanto à área da linguagem oral, além de ser compreensível, passa a
ser composta por um vocabulário bastante rico, onde trocas ou omissões
tendem a desaparecer.
É o que explicita Oliveira (2002, p. 151) quando diz que:
O sistema lingüístico é operável em torno dos 4 a 5 anos, época em que a criança domina o essencial do sistema fonológico, conhece o sentido e as condições de uso de muitas palavras em sua cultura e
2 Semear é a proposta de ação político-pedagógica elaborada pela Secretaria Municipal de São João de Meriti no ano de 1998.
34 utiliza corretamente a maior parte das formas morfológicas e sintáticas de sua língua.
De acordo com o volume três do RCNEI (1998) o desenvolvimento da
comunicação oral se dá tanto a partir da interação com outros sujeitos, com
repertórios musicais, com brincadeiras, etc., quanto de atividades
convencionais como as que trabalham a leitura de vários tipos de textos.
Já a linguagem escrita ocorre à medida que estas crianças são expostas
a estes materiais escritos, pois só se aprende a ler e escrever, introduzindo-as
no mundo da leitura, fazendo com que elas estejam sempre em contato com
estes materiais. É então, a partir desta fase, que a leitura exerce um papel de
intenso desafio para as crianças, elas querem aprender e apreender mais e
mais, são aguçadas por suas curiosidades e pela maneira de querer descobrir
e desvendar o mundo que as cercam.
Villardi (1999, pp. 83, 84) vem nos falar sobre a importância dos livros
nesta fase de desenvolvimento, dizendo que:
Entre os 4 e os 6 anos os livros assumem a função de desenvolver ao máximo a linguagem do aluno, de modo a contribuir para que atinja a prontidão necessária à alfabetização. Passam a ser encarados pela criança, agora, não apenas como um brinquedo, mas também como um desafio, que ela se sente capaz de, paulatinamente, ultrapassar.
Referente às ações amplas, as mesmas crescem em complexidade, pois
esta é uma fase em que a criança tenta pular cada vez mais longe, ou de
lugares mais altos, corre maiores distâncias e, muitas vezes, se impõe
desafios.
De acordo com Kramer (1991, p. 21): “(...) as crianças precisam expandir
seus movimentos, explorando seu corpo e o espaço físico, de forma a terem
um crescimento sadio”.
Nesta fase o relacionamento com pequenos grupos também começa a
ampliar-se e é possível propor atividades conjuntas, pois a criança começa a
desenvolver o sentido do respeito aos brinquedos dos demais, aumentando,
assim, a tolerância frente a outras crianças.
35 Conforme Kramer (1991, p. 20) é necessário enfatizar:
(...) a importância de que a criança tenha uma auto-imagem positiva, percebendo-se, cada qual, na sua identidade própria e sendo valorizada nas suas possibilidades de ação e crescimento à medida que desenvolve seu processo de socialização e interage com o grupo. Além disso, é necessário trabalhar junto às crianças para que aceitem e convivam construtivamente com as diferenças existentes no grupo, seja em relação à etnia, classe social ou sexo.
Ao aproximar-se dos seis anos, a criança joga com criatividade e
imaginação, criando regras novas. Jogos como: o de dominó, memória,
quebra-cabeças são os de maior preferência dessa faixa etária. Livros com
curiosidades, informações e histórias sem seqüência prendem também a
atenção. Surge, então, o interesse por letras e números e muitas crianças já
expressam hipóteses que têm acerca de como se dá a escrita.
Segundo Gardner (2001) a criança de cinco, seis ou sete anos é, de
muitos modos, um indivíduo extremamente competente. Ela não apenas pode
usar habilidosamente uma grande quantidade de formas simbólicas, mas
também desenvolver uma grande gama de teorias que provam ser totalmente
úteis para a maioria dos seus propósitos.
Diante da peculiaridade das características pertinentes a criança desta
fase, a mesma, então, deve ser compreendida como agente ativo no universo
da escola, pois, assim, poderá entender os diferentes papéis a serem
desenvolvidos na sociedade, como: dentro da família, da comunidade, dos
grupos sociais; e construir tanto sua identidade pessoal como seu referencial
sócio-cultural.
É o que Kramer (1991, p. 49) vem ilustrar, dizendo que a Educação
Infantil objetiva:
(...) propiciar o desenvolvimento infantil, considerando os conhecimentos e valores culturais que as crianças já têm e, progressivamente, garantindo a ampliação dos conhecimentos, de forma a possibilitar a construção de autonomia, cooperação, criticidade, criatividade, responsabilidade, e a formação do autoconceito positivo, contribuindo, portanto, para a formação da cidadania.
36 Entende-se desta forma, que a Educação Infantil é um espaço de inteiro
prazer, no qual possibilita o acesso aos objetos sociais de conhecimento,
respeitando e alimentando o pensamento próprio da criança pequena. É um
espaço onde através das diversas linguagens, do movimento e do brincar,
pesquisando, experimentando, explorando, criando, a criança terá
oportunidade de ampliar suas experiências e seus conhecimentos sobre a
dinâmica do mundo. E acima de tudo, um lugar que leve em consideração as
diversas manifestações emocionais da criança, entendendo o seu jeitinho todo
peculiar de ser, pensar e agir.
Goleman (1995) nos coloca que é na infância que todas as tendências
emocionais são moldadas para toda uma vida, ou seja, este é um momento
crucial em que todos os hábitos, atitudes, etc, são adquiridos, tornando-se fixos
na estruturação neural do indivíduo e com isso sendo mais difíceis de se mudar
em uma idade posterior.
Diante disto, percebe-se então, que a Educação Infantil tem uma grande
importância na vida de uma criança, porque além de ser uma etapa que a
introduz num mundo escolarizado deve ser também a contribuidora para o bom
desenvolvimento de sua inteligência emocional, tendo empatia e
compreendendo assim a sua subjetividade dentro de um todo.
37 3. O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA
RELAÇÃO COM O ALUNO
Este capítulo tem como objetivo caracterizar a atuação do professor de
Educação Infantil, enquanto mediador entre o conhecimento e o aluno e
também a sua relação com o mesmo, tendo assim, como condição essencial
uma relação fundada no amor.
(...), a função que ele desempenha no contexto escolar é de extrema relevância já que é o elemento mediador (e possibilitador) das interações entre os alunos e das crianças com os objetos de conhecimento. (REGO, 2004, p. 115)
A educação pensada a partir da pedagogia da práxis, não pode entender
que o professor é um transmissor de teorias, muito pelo contrário, ao mesmo
tempo em que está trabalhando com as teorias, está submetendo-as a um
processo analítico que, muitas vezes, identifica suas contradições. A prática
pedagógica processa as teorias, buscando compreendê-las e criticá-las, num
sentido amplo destes procedimentos, com o intuito de não somente interiorizá-
las, mas também de entender sua importância na leitura do mundo.
É o que afirma Oliveira (2003, p. 6) quando fala que:
O professor da Educação Infantil deve preparar-se para ser um pesquisador capaz de avaliar as muitas formas de aprendizagem que estimula em sua prática cotidiana, as interações por ele construídas com crianças e família em situações específicas.
O ato de aprender a aprender é, sem dúvida, uma das principais funções
do ato de ensinar, ou melhor, do ato de educar. A construção de uma pessoa
mais autônoma, no processo de aprender, torna-a mais autônoma no processo
de viver, de definir os rumos de sua vida. Mas, para que isso não se transforme
em uma ação individualista, é fundamental tornar a prática pedagógica em uma
prática ética, comprometida, coerente, ao mesmo tempo, consciente e
competente.
A ação educativa, evidenciada a partir de suas práticas, permite aos
alunos darem saltos na aprendizagem e no desenvolvimento, é a ação sobre o
38 que o aluno consegue fazer, com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo
sozinho. Entretanto, é princípio de toda escola garantir a aprendizagem a
todos, visto que todos são capazes de aprender.
No que diz respeito à prática pedagógica Luckesi (1994) faz uma
significativa relação entre filosofia e educação, dizendo que só existe de fato
duas opções a considerar: ou o professor pensa e reflete sobre sua ação
pedagógica, ou ele aceita tudo pronto sem ao menos analisar e refletir
criticamente sobre o que vai desenvolver, caindo na mesmice e no
conformismo, adotando assim uma postura de mero reprodutor de teorias.
O professor mais do que nunca tem uma função muito importante neste
processo, pois as práticas pedagógicas devem permitir aos alunos não
somente acessarem o conhecimento, mas também transformá-los, inová-los. O
professor tem a função de mediador entre o conhecimento historicamente
acumulado e o aluno. Ser mediador, no entanto, implica também ter apropriado
esse conhecimento.
É o que afirma Freire (apud GADOTTI, 2000, p. 45):
Devemos pensar num novo professor, mediador do conhecimento, sensível e crítico, aprendiz permanente e organizador do trabalho na escola, um orientador, um cooperador, curioso e, sobretudo, um construtor de sentido. Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção (...) É preciso que, pelo contrário, desde o começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado (...) Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.
O professor, assim, ao desenvolver suas ações pedagógicas deve
aprender a aprender pois, ao ensinar, também se aprende, coloca em debate
seu conhecimento. O professor não é onipresente, onisciente, muito menos,
onipotente e, sim, é mais um aprendiz no processo da educação. Contudo, não
se pode deixar de pensar que não existem diferenças entre os diversos
agentes envolvidos no processo pedagógico, pois o professor tem suas
39 funções e os alunos as suas, mas ambos podem aprender ensinando e ensinar
aprendendo.
Diante disto, faz-se necessário entender que não mais cabe uma
educação na qual somente se pensa em um poder absoluto do educador e da
escola, mas é sempre preciso estar colocando em questão as práticas
pedagógicas desenvolvidas por estes agentes da educação. A educação deve
buscar novos parâmetros, novas perspectivas, e permitir-se inovar,
transformar.
Como dizia magnificamente Durkheim, o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o “de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida”. É, justamente, mostrar que ensinar a viver necessita não só dos conhecimentos, mas também da transformação, em seu próprio ser mental, do conhecimento adquirido em sapiência, e da incorporação dessa sapiência para toda a vida. (MORIN, 2000, p. 47)
Dessa forma, é interessante perceber que a educação não é algo
estático. A educação é dinâmica e, como a vida, é um permanente processo
em movimento, em transformação. Assim, a educação não pode ser vista como
espaço de sofrimento, de pura disciplina, de autoritarismo, pelo contrário, a
educação, na medida do possível, deve ser espaço de prazer, de
desenvolvimento, de alegria. A ação pedagógica deve expressar uma ação
amorosa.
Entretanto, mesmo considerando o aspecto da paixão, a prática
pedagógica não pode ser entendida como uma prática espontaneísta, isto é, é
fundamental planejar, acompanhar, avaliar, sistematizar as ações
desenvolvidas no processo da educação. Não é interessante ações sem
reflexão, sem consciência do que se está fazendo, para tanto, é necessário
superar e evitar ações imediatas, buscando analisar o que já foi executado e
quais as possibilidades e desafios a serem alcançados à frente, ou seja, um
planejamento estratégico e participativo é de fundamental importância.
40 Kramer (1991) diz que o professor para desenvolver satisfatoriamente o
seu trabalho, precisa à priori manter um bom relacionamento com os seus
alunos, demonstrando firmeza, segurança e muito afeto na maneira de agir.
Desta forma, ele estará contribuindo para a construção de um ambiente
saudável onde permeie a confiança, a cooperação, a autonomia, o respeito e o
aspecto mais essencial – o amor, amor pelo que se faz e amor pelas pessoas
que fazem parte daquele contexto. Mas, o professor deve ter também
convicção quanto aos objetivos de sua proposta pedagógica, um bom manejo
de turma e uma constante visão crítica da teoria e prática adotadas.
Segundo Luckesi (1994), quando se toma por base as características
fundamentais do professor e do aluno, como seres humanos e como sujeitos
da práxis pedagógica, verifica-se que o papel do professor está em criar
condições para que o aluno aprenda e se desenvolva, de forma ativa e
inteligente.
Para ele, o professor, de modo algum, poderá deixar de se dar conta de
que, o aluno é um sujeito ativo e que, para que aprenda, deverá criar
oportunidades de aprendizagens ativas, de tal modo que o mesmo desenvolva
suas capacidades cognitivas, morais, sociais, políticas e afetivas. E ainda
complementa, que o professor, como sendo um sujeito direcionador da práxis
pedagógica escolar, deverá estar atento a todos os elementos necessários
para que o seu aluno efetivamente aprenda e se desenvolva.
É importante nesse sentido, sempre manter uma relação dialética entre
teoria e prática, pela qual o professor, não isoladamente, analise os diversos
aspectos que envolvem suas práticas educativas, com o intuito de desenvolver
assim, uma educação mais ampla e democrática, preocupada na formação de
cidadãos críticos, conscientes e reflexivos.
41 3.1. O professor de Educação Infantil nesse contexto
A característica básica da sociedade atual, alta tecnologia e
transformações aceleradas faz com que se crie novas concepções de visão de
mundo frente a essas mudanças. Diariamente submetidas a um amplo universo
de fatos, as crianças pequenas vivem com bastante intensidade as questões
contemporâneas. Através dos meios de comunicação, a criança vai
descobrindo o mundo com toda a sua complexidade e desde sempre, porque é
um ser pensante, vai formulando hipóteses sobre esse mundo que a rodeia.
Tentando interpretá-lo, vai desenvolvendo através das brincadeiras a função
simbólica dos objetos, ou seja, à medida que vai tendo o contato com eles, vai
começando a relacioná-los com os seus nomes propriamente ditos e criando
suas imagens mentais. É por meio deste mecanismo que a criança vai
desenvolvendo os processos de aquisição da linguagem e pensamento e com
isso vai expressando suas emoções, sua maneira de ser, pensar e agir diante
as várias situações ocorridas no seu dia-a-dia. Enfim, a criança vai ampliando
sua possibilidade de inserção no mundo. Justifica-se, assim, a intencionalidade
educativa de trazer para o convívio destas crianças, elementos essenciais para
a vida contemporânea contidos nas diversas áreas do conhecimento, através
das múltiplas linguagens, do movimento, do brincar, entre outros (SEMEAR,
1998).
Acompanhando assim, a evolução dos tempos, o professor de Educação
Infantil deve ser um profissional comprometido e responsável com tudo que faz,
conforme os princípios teóricos norteadores explicitados anteriormente neste
capítulo, oferecendo às crianças oportunidades de lidar com as informações de
seu meio, criando condições de construir conhecimentos e elaborar idéias
transformadoras sobre o mundo.
Oliveira (2002) comenta que o professor que se preocupa em responder
de modo atencioso as indagações das crianças dando-lhes explicações
condizentes ao nível de compreensão delas acerca do mundo e das coisas que
as rodeiam, que façam realmente sentido para elas, são entendidos como
42 verdadeiros gestos de saber cuidar, de saber educar, que contribuem para a
formação de crianças mais curiosas e reflexivas. O professor que consegue se
colocar no lugar do outro, realiza mais facilmente a avaliação das dificuldades
da criança, intervindo assim, de forma coerente a fim de levá-la ao aprendizado
através de meios/caminhos adequados, favorecendo a um bom
desenvolvimento.
E ela ainda fala que: “(...), o professor precisa ter muita sensibilidade
para acompanhar a “viagem” intelectual que a criança empreende” (OLIVEIRA,
2002, p. 205).
O professor de Educação Infantil não deve tratar as crianças como um
grupo homogêneo, ou seja, as crianças como todos os seres humanos têm
suas características e especificidades, em virtude, muitas vezes dos
referenciais culturais, sociais, políticos, religiosos, entre outros. É o que
explicita Kramer (1991, p. 87): “(...), o grupo é sempre heterogêneo e as
crianças precisam de “tempos” (ou caminhos) diversos para a transformação
das suas atitudes.”
No trabalho a se desenvolver com estas crianças é preciso ter como
referência o grupo no qual elas estão inseridas, assim como é fundamental
traduzir uma proposta curricular voltada para a Educação Infantil, construída a
partir de uma concepção de infância, das suas finalidades, dos pressupostos
teóricos-metodológicos, na perspectiva histórico-social de desenvolvimento
humano.
Um educador consciente justifica suas ações pedagógicas baseando-se na forma como as crianças pensam e isto só é possível se ele tiver um embasamento teórico de como se dá o desenvolvimento, como a criança chega a conhecer, enfim, qual é o desenvolvimento epistemológico do ser humano. (SALTINI, 1999, p.92)
Segundo Rego (2004) é interessante que o professor antes de qualquer
intervenção pedagógica conheça o nível real de desenvolvimento em que seus
alunos se encontram, ou seja, como eles percebem o mundo de acordo com
suas hipóteses, informações, etc. Isto deve ser priorizado e concebido como
43 ponto de partida de todo o processo. É necessário então, que o professor
mantenha um constante diálogo com esses alunos e que também promova
situações as quais possam levá-los a exprimir aquilo que já sabem. O professor
tem que estar atento a todas as manifestações infantis que assim existir, ele
tem que ter um olhar refinado no ato de sua observação.
Desta forma, o professor vai ampliando a capacidade de descoberta e
de construção de conhecimento deles e assim os mesmos vão penetrando de
forma consciente na dinâmica da vida e se constituindo enquanto pessoas
integrantes de nosso status quo vigente. Cidadãos capazes, conscientes e
felizes.
Oliveira (2002) considera a criança como sendo um agente ativo de seu
processo de desenvolvimento e diante tal condição o professor de Educação
Infantil necessita fazer a mediação entre ela e seu meio, se utilizando dos mais
variados recursos, como: a própria sala de aula, os materiais pedagógicos, as
tarefas propostas e também em especial a forma de lidar com esta criança,
entendendo a peculiaridade do universo infantil. Estes são elementos
importantes que devem ser atentados pelo professor, como elementos
contribuidores e facilitadores do processo de ensino-aprendizagem que
enriquecem e alimentam as inteligências emocional e racional da criança.
Galvão (2005) também comenta sobre a importância dada ao meio no
desenvolvimento infantil através da psicogenética walloniana. Ela salienta que
o conceito de meio vista por essa teoria, inclui tudo o que o compõe,
interferindo na maneira de ser, pensar e agir do sujeito, ou seja, as relações
interpessoais, os objetos materiais e os de conhecimento contribuem para o
desenvolvimento do mesmo, estando todas essas dimensões inseridas dentro
de um dado contexto cultural.
Ao organizar sua prática educativa, o profissional de Educação Infantil
deve refletir também sobre a organização dos conteúdos e avaliar o trabalho
pedagógico, pois é por meio da avaliação, entendida como instrumento de
diagnóstico e tomada de decisões (LUCKESI, 2000), que estes profissionais
44 poderão, em grande medida, verificar a qualidade de seu trabalho, perfazendo
também a construção de um processo avaliativo de observação, registro e
reflexão sobre a ação e o pensamento da criança, de suas diferenças culturais
e de desenvolvimento.
É o que coloca Hoffmann (2001) quando explicita que o professor deve
ser um investigador da história e dos avanços de cada criança e que também
deve proporcionar um ambiente onde paire a confiança, onde cada uma seja
observada e avaliada de acordo com suas limitações, progressos e
dificuldades, a fim de propiciar novos conhecimentos conforme o
desenvolvimento singular de cada uma que se encontra inserida dentro de um
grupo e que carrega e adquire toda uma bagagem cultural.
O professor de Educação Infantil nesta perspectiva precisa ser sujeito de
seu fazer pedagógico, estabelecendo uma ação prático-reflexiva, tendo a
coragem de ousar e de criar. Um profissional que se atualize, que seja curioso
e que se informe sobre o mundo da criança, que aja como mediador de suas
conquistas, no sentido de apoiá-la, acompanhá-la e oferecer novos desafios,
capaz de tornar essa criança sujeito de sua aprendizagem, colocando-se a seu
lado como um companheiro de jornada, que a leva ao desenvolvimento de seu
potencial como ser humano dotado de capacidades para a realização de uma
vida plena e feliz. É o que Saltini (1999, p. 88) enfatiza, dizendo que:
“(...) é necessário que o educador seja antes de tudo um curioso, um
pesquisador, possibilitando assim à criança descobrir verdades, ao invés de
impor conteúdos”.
Este profissional além de proporcionar um ambiente estimulador que
possibilite à criança a construção de conhecimentos por meio de
aprendizagens significativas precisa também criar um clima propício, onde
reine acima de tudo a afetividade, onde cada uma seja respeitada em suas
características, reconhecida em suas possibilidades e incentivada a crescer
como sujeito histórico, autônomo, crítico, criativo e participativo, pois é através
de um ato, de um olhar mais amoroso que a criança poderá ter a possibilidade
de se desenvolver mais eficazmente. É necessário então, que o professor
45 considere o aspecto afetivo na relação com seu aluno, como algo de extrema e
fundamental importância, como algo primordial e anterior até a sua prática
pedagógica propriamente dita, pois quem ama, educa! (TIBA, 2002).
É o que Oliveira (2002, p. 203) afirma, dizendo que a função do professor é:
(...) a de ser uma pessoa verdadeira, que se relacione afetivamente com a criança, garantindo-lhe a expressão de si, visto que ela precisa de alguém que acolha suas emoções e, assim, lhe permita estruturar seu pensamento.
De acordo com Oliveira o professor precisa ser uma pessoa autêntica,
acolhedora, amiga, que respeite a criança do jeito que ela é, que seja uma
pessoa que compreenda a maneira de ela expressar suas emoções,
pensamentos, entre outros. Ele precisa se colocar no lugar do outro, aceitar o
outro como um legítimo outro na convivência (MATURANA, 1999). Diante desta
aceitação numa relação é que florescerá o amor, e havendo esse amor, tudo
ficará mais fácil, mais prazeroso para a criança, pois sentirá confiança e bem
estar em poder contar com uma pessoa que se importa e gosta
verdadeiramente dela, que transmite afeto, contribuindo desta forma, para o
desenvolvimento integral e normal do seu eu.
A relação professor-aluno é estabelecida conforme a sincronia entre
eles. Quanto mais estreita for a coordenação de atos e atitudes de um com o
outro, maior será a abertura desta relação, ou seja, eles serão mais amigáveis,
mais entusiasmados, mais satisfeitos. Nesse sentido, pode-se assim dizer que,
um alto nível de sincronia numa relação, significa ter pessoas que realmente se
gostam e se amam (GOLEMAN, 1995).
Alves (2000, p. 93) faz uma belíssima comparação no que diz respeito
ao desabrochar do pensamento infantil e a chegada de uma criança ao mundo,
dizendo que:
O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.
46 Diante o explicitado, cabe ao professor através do ato de amar saber
entender as necessidades, os anseios, os desejos de seu aluno. É de extrema
relevância que o professor proporcione um ambiente agradável ao seu aluno
onde ele se sinta acolhido e seguro, onde permeie a afetividade. Não basta ser
apenas um especialista preocupado com o seu saber-fazer, mas sim, um
especialista que priorize antes de qualquer ação pedagógica o seu saber-amar.
Numa relação professor-aluno este é o melhor caminho para que se dê
satisfatoriamente o processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, o professor
estará contribuindo para o pleno desenvolvimento do seu aluno, tornando-o
mais feliz e capaz de enfrentar os obstáculos de sua vida.
Conforme Chalita (2001) é no momento da aprendizagem que a relação
de afeto entre professor e aluno deve realmente se estabelecer. Para ele, se
não houver afeto, não há educação. O aluno como qualquer outro sujeito,
necessita de afeto para se sentir valorizado, desta forma ele vai internalizando
que é útil e importante para todas as pessoas que fazem parte de seu contexto
social. O professor que é comprometido com a sua práxis e com o seu aluno,
num ato amoroso precisa então, fazer a sua parte, conquistando-o com muito
carinho, visto que em muitas das vezes ele não encontra este amor no convívio
familiar.
Os educadores, apesar das suas dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da sensibilidade não podem ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos. (CURY, 2003, p. 65)
O professor que humaniza as relações é um professor preocupado com
a essência emocional do outro. São através de pequenos gestos, como: um
elogio, chamar pelo nome do aluno, um simples tocar, perceber algum detalhe
diferente que fortalece a relação e cria sólidos laços de afetividade. “O elogio
alivia as feridas da alma, educa a emoção e a auto-estima. Elogiar é encorajar
e realçar as características positivas” (CURY, 2003, p. 143).
O aluno que é tratado com o devido respeito, que tem a sua história de
vida valorizada, sente-se amado e feliz, conseqüentemente um aluno com
47 maiores possibilidades de se desenvolver completamente. Pode-se assim dizer
que o professor é uma figura extremamente fundamental na vida de seu aluno,
pois cabe a ele a importante tarefa de formar seres humanos felizes e
equilibrados, que possam no futuro seguir o curso normal de suas vidas, sendo
pessoas verdadeiramente humanas em suas relações, capazes de lidar com
uma grande gama de emoções em meio a este turbulento mundo de
desigualdades, conflitos e preconceitos.
O professor deve ter muito cuidado em ser uma pessoa altamente
sincera e transparente, pois todos os seus atos são registrados e analisados
por seus alunos, ou seja, de nada adianta o professor falar uma coisa e fazer
outra totalmente diferente. O professor serve de parâmetro, de modelo para os
seus alunos e qualquer passo em falso cometido poderá comprometer a
relação que só poderá ser mantida se houver respeito e confiança. “A
confiança é um edifício difícil de ser construído, fácil de ser demolido e muito
difícil de ser reconstruído” (CURY, 2003, p. 99).
Chalita (2001, p. 164) vem justamente falar da referência que é este
professor na questão sobre o afeto, dizendo que não é possível que o
professor deseje que seu aluno seja feliz se ele mesmo não demonstrar afeto
por esse aluno.
(...) para que possa transmitir afeto é preciso que sinta afeto, que viva o afeto. Ninguém dá o que não tem. O copo transborda quando está cheio; o mestre tem de transbordar afeto, cumplicidade, participação no sucesso, na conquista de seu educando; o mestre tem de ser o referencial, o líder, o interventor seguro, capaz de auxiliar o aluno em seus sonhos, seus projetos.
Nesta perspectiva o professor deve ser então, o promotor de auto-
estima. Ele tanto pode matar o eu de uma criança com agressões verbais, por
exemplo, quanto proporcionar o seu crescimento pessoal, respeitando-a,
amando-a, acolhendo-a, fazendo com que sua auto-estima se eleve. Uma
criança tendo estes subsídios e crendo na importância do seu existir,
certamente terá muito mais chances de se interessar pelo aprendizado porque:
“O que alimenta a auto-estima é sentir-se amado incondicionalmente e também
48 o prazer que a criança sente de ser capaz de fazer alguma coisa que dependa
só dela“ (TIBA, 2002, p. 56).
Daí então, reflete-se nela a felicidade, a sua realização vem à tona, tudo
isso é resultado de uma ação positiva, de toda uma dedicação de um professor
que precisa acima de tudo de amá-la.
A sensação de felicidade causa uma das principais alterações biológicas. A atividade do centro cerebral é incrementada, o que inibe sentimentos negativos e favorece o aumento da energia existente, silenciando aqueles que geram pensamentos de preocupação. (GOLEMAN, 1995, p. 21)
Diante as várias conceituações empregadas, como: professor, educador
ou mestre vale aqui ressaltar somente em nível de ilustração que Tiba (1998) e
Alves (2003) fazem a diferenciação entre estes termos, dizendo que professor
é apenas uma mera profissão que se define pelo simples fato de ministrar
conteúdos, de manter a ordem em sala de aula, etc. Não é algo que vem de
dentro, do coração, fruto de uma paixão. Já os sentidos de educador e mestre
ocupam uma dimensão mais profunda, que vem de um desejo maior, que vem
da alma, são impulsionados por um grande amor.
De acordo com tais nomenclaturas para se determinar o que este
profissional realmente é, conforme suas convicções morais, sociais, filosóficas,
afetivas, ou seja, quem é o seu eu, qual é a sua verdadeira essência enquanto
um ser que age, pensa e transforma o seu meio, é então, de suma importância,
que antes de ser feita qualquer classificação, que se leve em consideração que
este profissional é também uma pessoa que carrega toda uma história de vida
como o seu aluno, que também sofre, ama, chora, etc. Uma pessoa que tem
que ser vista no contexto em que ela está inserida, que também tem anseios,
dúvidas, dificuldades. Uma pessoa que apresenta uma singularidade dentro de
um todo. E em se tratando deste profissional dar amor a seu aluno, a questão
torna-se um tanto mais delicada, pois para ele demonstrar este afeto precisa
ter o recebido também, constituindo-se assim, num ser feliz e emocionalmente
equilibrado.
49 Diante disto, aí sim poderá se desejar que seu aluno tenha um
desenvolvimento favorável referente aos campos cognitivo, psicomotor, social e
afetivo, pois é através da atenção e de um gesto mais afetuoso que esse
profissional consegue conquistar para sempre o bem maior que ele tem em
suas mãos para ser lapidado – o seu aluno. “Ser um mestre inesquecível é
formar seres humanos que farão diferença no mundo” (CURY, 2003, p. 72) e
se ele for realmente inesquecível verá que tudo valeu a pena.
A construção de hábitos, atitudes, valores são complementados na
escola pelo professor e este tem que se dar e doar inteiramente de corpo e
alma para o seu aluno, para que consiga formar indivíduos um pouco melhor
ou assim dizendo para que o mundo se torne um pouco melhor, pois como
sabemos a criança é o futuro de um país, e se podemos fazer ainda alguma
coisa para melhorar a humanidade, deve-se então, começar pela base e esta
base é a criança que é pura e ainda não está corrompida pelas imoralidades
que assolam a sociedade. A criança é uma pequena sementinha que bem
cultivada poderá dar bons frutos no futuro. É preciso saber semeá-la com muito
amor, carinho e respeito para que se torne uma pessoa realizada em todos os
aspectos e que possa transmitir também o que recebeu – o amor e o
conhecimento, pois estes são com certeza os bens mais preciosos da vida que
ninguém pode tirar de uma pessoa, somente a morte.
50 CONCLUSÃO
O estudo sobre o tema da afetividade e a criança na Educação Infantil
abordou três capítulos que contemplaram muito bem esta questão, se
reportando a família, como sendo o primeiro grupo social de fundamental
importância para a vida da criança; a prática pedagógica adotada na Educação
Infantil e o desenvolvimento desta criança no pré-escolar e também como deve
atuar o profissional da Educação Infantil em relação a sua prática e a esta
criança.
O eixo de todo o trabalho desenvolvido girou em torno do seguinte
problema: A falta de afetividade prejudica o processo de desenvolvimento da
criança na Educação Infantil? E teve como hipótese inicial que o afeto é algo
de extrema relevância na plena formação de um indivíduo, pois em se tratando
da dimensão afetiva esta é quem define a qualidade do desenvolvimento, tanto
da constituição do ser, quanto da construção dos conhecimentos. Por isso, que
a família e o professor que são os agentes educadores que estão em
permanente contato com a criança da Educação Infantil precisam dar-lhe muito
amor, a fim de não comprometer o seu desenvolvimento integral. Deste modo,
a criança que vivencia tal emoção por todos aqueles que fazem parte de sua
história despertará mais facilmente para o universo do conhecimento.
A hipótese levantada inicialmente mostra-se desta forma totalmente
válida, pois como vimos se a criança não for amada e respeitada como
realmente deve ser, ela se sentirá rejeitada, não encontrando assim, a razão do
seu existir. Decorrente disso surge a baixa auto-estima que resultará na sua
infelicidade “A auto-estima é a fonte interior da felicidade” (TIBA, 2002, p. 57) e
uma criança infeliz dificilmente terá ânimo e vontade de aprender com o devido
entusiasmo, porque a essência do seu eu foi sufocada, foi silenciada. E quando
isso ocorre tudo fica mais triste e sem colorido. “O respeito à criança lhe ensina
que ela é amada não pelo que faz ou tem, mas pelo simples fato de existir.
Sentindo-se amada, ela se sentirá segura para realizar seus desejos” (TIBA,
2002, p. 55).
51 É necessário então, que as pessoas compreendam que a criança no
início de sua vida é um ser puramente emocional, que tudo que ela percebe,
registra e guarda, seja uma conduta boa ou ruim. Esta fase de
desenvolvimento da criança é um momento muito delicado, pois é aí que todas
as janelas da inteligência (CURY, 2003) estão mais abertas para os diversos
tipos de aprendizagem, por isso que dependendo do tipo de emoção recebida é
que o aprendizado poderá ou não ser bem sucedido.
É o que Goleman (1995, p. 210) nos coloca quando fala sobre o
desenvolvimento do cérebro desta faixa etária referente a aprendizagem.
Os três ou quatro primeiros anos de vida são um período em que o cérebro da criança cresce até cerca de dois terços de seu tamanho final, e evolui em capacidade num ritmo que nunca mais voltará a ocorrer. É nesse período, mais do que na vida posterior, que os principais tipos de aprendizagem ocorrem mais facilmente – e a aprendizagem emocional é a mais importante. Nessa época, a tensão severa pode prejudicar os centros de aprendizagem do cérebro (e, portanto, o intelecto).
Maturana (1999) complementando o pensamento de Goleman (1995)
também faz grande destaque sobre a importância da questão emocional do
indivíduo numa relação, dizendo que só existe amor numa interação, se houver
aceitação, ou seja, um tem que aceitar o outro como legítimo outro na
convivência (MATURANA, 1999).
É então, nesta perspectiva de Maturana (1999) que pais e professores
têm que olhar a criança com muito afeto, aceitá-la de fato, pois é através dessa
grandiosa emoção – o amor, que um indivíduo poderá ter a chance de se
desenvolver normalmente. Uma relação sem conflitos, sem desavenças
favorece a equilibração do ser, pois este encontra a paz e a tranqüilidade
dentro do seu próprio eu, proporcionando assim, a harmonia do corpo, mente e
espírito em uma só unidade.
E para falar em desenvolvimento integral do ser temos a visão
walloniana também considerada nesta pesquisa, que estuda a psicogênese da
pessoa completa de acordo com o contexto em que ela está inserida. Nesse
sentido Wallon (apud GALVÃO, 2005) dá grande ênfase ao estudo da criança
52 contextualizada em detrimento ao desenvolvimento integrado dos seus campos
afetivo, motor e cognitivo.
Diante as fundamentações teóricas levantadas no decorrer desta
pesquisa para considerar a questão da importância da afetividade com relação
ao desenvolvimento da criança da Educação Infantil vale ainda se aprofundar
um pouco mais no que diz respeito à história de vida dos pais quando
pequenos. É muito importante buscar entender mais especificamente se caso
os pais não tenham recebido o merecido afeto na infância, se isto de uma certa
forma, pode vir realmente a interferir na vida dos filhos? Ou melhor, dizendo, se
a falta de afeto pode ser passada de geração a geração?
Um outro ponto a ser também abordado é a questão do resgate da
felicidade do aluno através de uma prática pedagógica voltada para ele e
também extensiva a sua família. Como trabalhar esse aluno e essa família
frente aos inúmeros problemas sociais por que passam e que
conseqüentemente refletem e desestruturam a relação?
E uma última questão seria um olhar mais profundo sobre o
desenvolvimento biológico do cérebro humano desde seus primórdios. Como
este desenvolvimento deu espaço a um ser que pensa e se emociona? É de
suma importância conhecer o passado para compreender o presente. Tudo tem
uma história, e a história do surgimento das emoções e do pensamento é algo
que deve ser priorizado e levado em conta para tentarmos entender quem
somos hoje.
Face ao explicitado neste trabalho, conclui-se, então, que o afeto em
qualquer relação que seja é algo extremamente importante e necessário, pois é
através do amor que tudo e todos podem se transformar. É ele quem nos move
e nos preenche, a fim de darmos continuidade a nossa condição de seres
humanos.
53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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56 ANEXO
57
58 ÍNDICE
CAPA .............................................................................................. 1 FOLHA DE ROSTO ........................................................................ 2 AGRADECIMENTOS ..................................................................... 3 DEDICATÓRIA ............................................................................... 4 EPÍGRAFE ..................................................................................... 5 RESUMO ........................................................................................ 6 SUMÁRIO ....................................................................................... 7 INTRODUÇÃO ............................................................................... 8 1. A IMPORTÂNCIA DO AFETO COMO ASPECTO PRIMORDIAL NA VIDA DA CRIANÇA ..................................................................11 1.1. Família, afeto, criança – a tríade perfeita ................................12 2. A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DA PRÉ-ESCOLA ..............24 3. O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA RELAÇÃO COM O ALUNO ..............................................................................37 3.1. O professor de Educação Infantil nesse contexto ...................41 CONCLUSÃO .................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................53 ANEXO ...........................................................................................56
59 FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A Importância da Afetividade para o Desenvolvimento da Criança na Educação Infantil
Data da Entrega: 28/01/2006 Avaliado por:____________________________ Grau:__________
_____________, ________ de __________________ de 2006