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A INTERVENÇÃO DOS ENFERMEIROS NO CONTROLO DA DISPNEIA Maria Adelaide Gomes Costa Escola Superior de Saúde

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A INTERVENÇÃO DOS ENFERMEIROS NO CONTROLO DA

DISPNEIA

Maria Adelaide Gomes Costa

Escola Superior de Saúde

Maria Adelaide Gomes Costa

A INTERVENÇÃO DOS ENFERMEIROS NO CONTROLO DA

DISPNEIA

Mestrado em Enfermagem de Reabilitação

Trabalho efetuado sob a orientação da

Mestre, Especialista na Área Cientifica de Enfermagem Maria José Fonseca

Coorientação

Professora Doutora Salete Soares

Escola Superior de Saúde, março de 2016

Resumo

As doenças do foro respiratório e circulatório estão a aumentar devido a vários fatores

nomeadamente o fumo do tabaco, a poluição atmosférica, estilos de vida sedentários e

alimentação pouco saudável, sendo a dispneia um sintoma frequente nestas doenças

com forte impacto quer ao nível socioeconómico quer na qualidade de vida da pessoa,

pelo que o seu controlo torna-se uma preocupação constante por parte do enfermeiro do

serviço de urgência, ao qual recorrem inúmeras pessoas com esta sintomatologia. Por

estes motivos desenvolvemos este estudo de investigação que tem como objetivos:

descrever as técnicas de controlo da dispneia utilizadas pelos enfermeiros do serviço de

urgência; analisar as dificuldades sentidas pelos enfermeiros do serviço de urgência na

sua intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia e determinar as

necessidades de formação dos enfermeiros do serviço de urgência sobre técnicas de

controlo de dispneia.

Neste estudo optamos pela metodologia de investigação qualitativa de caráter

exploratório descritivo. Para a sua realização selecionamos como instrumentos de

recolha de dados a entrevista semiestruturada e a observação não participante

sistemática que realizamos a cinco enfermeiros do serviço de urgência de um Centro

Hospitalar da região Norte. Após a recolha de dados iniciamos o processo de tratamento

com recurso à técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin (2011) e

procedemos à análise descritiva das intervenções observadas.

Do processo da análise de conteúdo das entrevistas, emergiram cinco áreas temáticas:

conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia; intervenções dos enfermeiros à

pessoa com dispneia; perceção dos enfermeiros relativamente à importância das

técnicas de controlo de dispneia; dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização

das técnicas de controlo de dispneia e perceção do impacto da formação na prática de

cuidados respiratórios.

Os resultados obtidos evidenciam que os enfermeiros conhecem e utilizam como

técnicas de controlo da dispneia posições de descanso e relaxamento à pessoa deitada,

dissociação de tempos respiratórios, exercícios de respiração abdominal, ensino da

tosse e outras terapêuticas não farmacológicas e farmacológicas. A aspiração de

secreções, gerir o ambiente físico (temperatura, ruído e luminosidade), o conforto e o

controlo da ansiedade são, ainda cuidados que realizam ou dizem realizar. Percebem

que estas técnicas são importantes para o controlo respiratório, a eliminação de

secreções e a maximização da autonomia da pessoa com dispneia.

Os enfermeiros mencionaram como dificuldades na sua intervenção: o défice de

conhecimentos, o défice de recursos humanos, recursos materiais e físicos

inadequados, e por último a falta de tempo. Constatamos ainda que os enfermeiros

admitem necessidade de formação, com o objetivo de desenvolverem o seu

conhecimento e competências para a prestação de cuidados à pessoa com dispneia.

Reconhecida esta necessidade fazemos uma proposta de formação com sessões

teóricas e práticas no âmbito dos cuidados respiratórios junto da pessoa com dispneia

no serviço de urgência.

Palavras-Chave: Dispneia; Enfermeiros; Reabilitação Respiratória

Abstract

Diseases of respiratory and circulatory tracts are increasing due to a wide variety of

causes namely: tobacco smoke, air pollution, sedentary lifestyles and unbalanced diets.

Dyspnea is a common symptom for these diseases with a strong impact not only on the

patients’ social level but also on his quality of life. Owing to this impact, the control of

dyspnea should become a major concern of the nurse in charge of the emergency

service and to whom many patients suffering from this symptomatology resort. For these

reasons, we have developed a research work which aims to: describe the control

techniques administered by nurses in the emergency service for controlling dyspnea,

analyse the difficulties faced by nurses of the referred service when approaching the

techniques for handling dyspnea and to determine the needs for further training

concerning the mentioned techniques.

In our study, we chose a qualitative methodology with a descriptive and exploratory

nature. To achieve this work, we selected the semi-structured interview and the

systematic non participant observation as tools for gathering data. We developed these

activities with five nurses working for the emergency service in a central hospital in the

northern region of our country. After collecting the available data, we started processing

them resorting to the technique of content analysis as suggested by Bardin (2011) and

then we progressed to the descriptive and detailed examination of the observed

interventions.

After analyzing the content of the interviews, five topic areas came out: the know-how of

the techniques for handling dyspnea, the intervention to the dyspnea patient by the

nurse, the knowledge of the relevance of the controlling techniques, the hardships faced

by nurses when tackling these techniques and the realization of the need for further

practical training relating respiratory nursing.

The results achieved prove that nurses know and apply repose and relaxation positions

to the lying patient as well as abdominal breathing exercises, teaching them how to

cough and pharmacological and non-pharmacological therapies. The aspiration of

secretions, the regulation of some features of the physical environment such as the

temperature, light and noise, caring for the patients’ well-being as well as the control of

anxiety, are worries that concern nurses and that they always try to perform. These

professionals realize that the techniques play a major role to achieve respiratory control,

the removal of secretions and maximization of the patients’ own autonomy.

The nurses pointed out the following difficulties as main obstacles for carrying out their

work in this area: the lack of knowledge, the lack of human, physical and material

resources and lastly the lack of time. We noted down the need for further practical

training so as to increase their knowledge and the skills for taking care of dyspnea

patients. Once this need is accepted, we suggest both practical and theoretical sessions

within the framework of respiratory treatments applied to dyspnea patients in the

emergency service.

Keywords: Dyspnea; Nurses; Respiratory Rehabilitation

Agradecimentos

A realização deste trabalho não teria sido possível sem o apoio e a colaboração de

muitas pessoas. Assim, cumpre-me agradecer a todos que de modo especial, direta ou

indiretamente contribuíram para a concretização deste estudo e me ajudaram a atingir

mais um dos objetivos pessoais e profissionais.

À Professora Maria José Fonseca pela ajuda, motivação e disponibilidade na orientação

deste trabalho.

À Professora Doutora Salete Soares, pelo papel fulcral na coorientação deste trabalho.

A todos os colegas enfermeiros que participaram no estudo e que forneceram

informações preciosas, cujo resultado se espera ter implicações positivas no cuidar, e

sem os quais este estudo não seria possível.

À Emília Rocha pelos livros que me facultou para a realização deste trabalho.

Aos funcionários da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do

Castelo, principalmente da biblioteca, Dra. Sandra Sousa pela disponibilidade e auxílio

para a efetivação desta tese.

A todos os amigos e aos colegas de trabalho pela presença e palavras de amizade e

ânimo.

Aos meus Pais e às minhas cinco irmãs pelo amor que me dedicam todos os dias e por

estarem sempre do meu lado nesta caminhada da vida.

E finalmente, mas não menos importante, ao meu núcleo duro, ao Miguel pelo amor,

paciência, companheirismo, compreensão demonstrados ao longo deste percurso, ao

Afonso e ao Tomás pela alegria que dão à minha vida, pela compreensão da minha

ausência e por me fazerem acreditar que tudo é possível.

Aos meus heróis: Miguel, Afonso e Tomás

“O amanhã será como tu quiseres, tudo depende do teu esforço de hoje.”

Anónimo

SUMÁRIO

Resumo

Abstract

Agradecimentos

Dedicatória

Pensamento

Índice de quadros

Abreviaturas

Siglas

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 21

Capítulo Um - A PESSOA COM DISPNEIA .................................................................... 25

1. DISPNEIA ................................................................................................................ 27

1.1. Fisiopatologia da dispneia ................................................................................. 28

1.2. Tratamento e/ou controlo da dispneia ................................................................ 30

1.3. Implicações da dispneia na pessoa ................................................................... 32

2. A REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA E O CONTROLO DA DISPNEIA ..................... 35

2.1. O Enfermeiro e os cuidados respiratórios à pessoa com dispneia ..................... 39

2.2. A teoria do défice de Autocuidado de Dorothea Orem e a pessoa com dispneia46

Capítulo Dois - METODOLOGIA E MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO .............................. 51

3. TODO UM PERCURSO ........................................................................................... 53

3.1. Da problemática aos objetivos de estudo .......................................................... 53

3.2. Tipo de estudo ................................................................................................... 54

3.3. Contexto de estudo e participantes ................................................................... 55

3.4. Instrumentos e procedimentos de recolha de dados .......................................... 57

3.5. Procedimento de análise de dados .................................................................... 59

4. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS .................................................................................... 63

Capítulo Três - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....... 65

5. A INTERVENÇÃO NO CONTROLO DA DISPNEIA – NA VOZ DOS

ENFERMEIROS .............................................................................................................. 67

5.1. Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia ...................................... 68

5.2. Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia ...................................... 71

5.3. Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das técnicas de controlo

de dispneia ........................................................................................................ 79

5.4. Dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas de controlo

de dispneia ........................................................................................................ 81

5.5. Perceção do impacto da formação na prática de cuidados respiratórios ........... 84

6. OBSERVAÇÃO DAS INTERVENÇÕES DOS ENFERMEIROS À PESSOA COM

DISPNEIA – UMA FORMA ADICIONAL DE INFORMAÇÃO ........................................... 86

CONCLUSÕES ............................................................................................................... 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 95

APÊNDICES ................................................................................................................. 103

APÊNDICE A – Guião da entrevista

APÊNDICE B – Consentimento informado

APÊNDICE C – Grelha da observação

APÊNDICE D – Pedido de autorização para a realização do estudo ao Conselho de

administração

APÊNDICE E – Matriz final da análise de dados das entrevistas

Índice de Quadros

Quadro 1. – Técnicas de Reeducação Funcional Respiratória …………………………...40

Quadro 2. – Caraterização dos participantes ……………………………………………….56

Quadro 3. – Definição de Termos ……………………………………………………………61

Quadro 4. – Áreas temáticas, categorias e subcategorias emergentes das entrevistas.67

Quadro 5. – Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia ……………………..68

Quadro 6. – Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia ……………………..72

Quadro 7. – Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das técnicas de

controlo de dispneia ……………………………………………………………………………79

Quadro 8. – Dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas de

controlo de dispneia …………………………………………………………………………...81

Quadro 9. – Perceção do impacto da formação na prática de cuidados respiratórios …84

Quadro 10. – Dados da observação ………………………………………………………...86

Abreviaturas

Doutora – Drª.

Edição – ed.

Et alii (e outros) – et al.

Número – n.º

Página – p.

Sine nomine – s.n.

Volume – vol.

Vossa Excelência – V. Ex.ª

Siglas

AVD – Atividades de Vida Diária

CIPE – Classificação Internacional Para a Prática de Enfermagem

DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

E1 – Enfermeiro 1

E2 – Enfermeiro 2

E3 – Enfermeiro 3

E4 – Enfermeiro 4

E5 – Enfermeiro 5

EN – Escala Numérica

EVA – Escala Visual Analógica

FPI - Fibrose Pulmonar Idiopática

IC - Insuficiência cardíaca

MRC - Medical Research Council

OE - Ordem dos Enfermeiros

ONDR – Observatório Nacional Doenças Respiratórias

PCO2 - Pressão parcial de dióxido de carbono

PO2 - Pressão parcial de oxigénio

PQCE - Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem

PQCEER - Padrões de Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de

Reabilitação

REPE - Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros

RFR - Reabilitação Funcional Respiratória

SU – Serviço de Urgência

VNI- Ventilação Não Invasiva

_______________________________________________________________________ 21

INTRODUÇÃO

A Enfermagem, inserida numa sociedade que sofreu mudanças consideráveis no plano

político, económico, social e tecnológico, teve necessidade de acompanhar estas

mudanças, investindo na formação dos seus profissionais. Tal investimento preconiza a

melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados às pessoas/família e

comunidade.

A investigação é uma das fontes de desenvolvimento do conhecimento em enfermagem e

contribui significativamente para ampliar e transformar a prática profissional. Neste

sentido os enfermeiros preocupam-se em documentar a relevância da sua intervenção

evidenciando os ganhos em saúde que as suas decisões e práticas incutem, quando

baseadas na evidência científica.

As doenças respiratórias crónicas constituem, atualmente, pelo seu impacto quer ao nível

socioeconómico quer na qualidade de vida da pessoa, um grave problema de saúde

pública em todos os países do mundo.

Também em Portugal segundo o ONDR (2015), há um aumento de internamentos de

doentes com patologias respiratórias, nomeadamente: DPOC, pneumonia e neoplasias.

Estas doenças têm tendência para aumentar nas próximas décadas devido a fatores

como o fumo do tabaco, a poluição atmosférica, alterações climáticas e conjuntura

económica.

Um dos sintomas comum nos doentes com estas patologias é a dispneia. O seu controlo

passa por tratar as causas reversíveis e quando estas não são passiveis de resolver, o

alívio sintomático com técnicas de controlo da dispneia torna-se primordial. Vários

estudos apontam que a reabilitação pulmonar é uma mais-valia no controlo da dispneia

(Gonçalves, Nunes e Sapeta, 2012).

Etimologicamente dispneia significa respiração difícil e pode definir-se como uma

sensação subjetiva de desconforto ou dificuldade respiratória. É um sintoma muito

angustiante não só para o doente, como também para a família e para os próprios

profissionais de saúde. Interfere com o desempenho das atividades de vida diária e pode

alterar drasticamente a qualidade de vida do doente e família (Braga, 2009 e Azevedo,

2010).

Na população em geral, em 16 anos, a mortalidade por cancro aumentou 33,1% e nas

pneumonias 52,7%. Mesmo na DPOC, onde se obteve importantes progressos

terapêuticos, a mortalidade aumentou 1,7%. São números pouco confortadores e que

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visivelmente indicam lacunas na prevenção e na implementação de políticas de saúde

adequadas à seriedade do problema (ONDR, 2015).

O enfermeiro no contexto da sua atividade profissional cuida de muitas pessoas com este

quadro patológico e sintomatológico, que as fazem recorrer ao Serviço de Urgência com

frequência, constatando-se que o fluxograma dispneia é um dos mais utilizados na

Triagem de Manchester aquando da admissão das pessoas nestes serviços.

O controlo da dispneia torna-se assim imperioso para os enfermeiros, como parte

integrante do cuidar, perseguindo a excelência dos cuidados de enfermagem, com o

intuito da melhoria da qualidade de vida da pessoa e ganhos em saúde. Pensando no

papel e nas competências dos Enfermeiros e dos Enfermeiros de Reabilitação e, dado

que, “A reabilitação enquanto especialidade multidisciplinar, compreende um corpo de

conhecimentos e procedimentos específicos que permite ajudar as pessoas com doenças

agudas, crónicas ou com as suas sequelas a maximizar o seu potencial funcional e

independência” (Regulamento nº125/2011, 2011, p.8658), o Enfermeiro Especialista em

Enfermagem de Reabilitação, no âmbito das suas competências

Concebe, implementa e monitoriza planos de reabilitação diferenciados, baseados nos problemas reais e potenciais das pessoas (…) [nomeadamente ao nível] das funções respiratória (…). Para tal, utiliza técnicas específicas de reabilitação e intervém na educação dos clientes e pessoas significativas (…) (Regulamento nº125/2011, 2011, p.8658).

Na execução dos cuidados e na procura da qualidade e excelência do seu exercício

profissional, compete-lhe também “A supervisão das atividades que concretizam as

intervenções de Enfermagem de Reabilitação e que, em virtude da necessidade de

continuidade de cuidados, sejam suscetíveis de serem delegadas nos enfermeiros de

cuidados gerais (…)” (Regulamento nº 350/2015, 2015, p. 16658).

Segundo a OE (2010 p.10) o Enfermeiro Especialista:

(…) Responsabiliza-se por ser facilitador da aprendizagem, em contexto de trabalho, na área da especialidade. (…). Atua como formador oportuno em contexto de trabalho, na supervisão clínica e em dispositivos formativos formais. (…) Diagnostica necessidades formativas. (…). Concebe e gere programas e dispositivos formativos. (…) Favorece a aprendizagem, a destreza nas intervenções e o desenvolvimento de habilidades e competências dos enfermeiros. (…) Avalia o impacto da formação.

Na pesquisa que efetuamos encontrámos poucos estudos relacionados com os cuidados

de enfermagem e o controlo da dispneia. Os estudos mais pertinentes realizados em

Portugal, foram a “Avaliação de conhecimentos dos enfermeiros sobre medidas

farmacológicas e não farmacológicas no controlo da dispneia”, de Almeida (2012) e,

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também, Braga (2009) realizou um estudo intitulado a “Influência dos cuidados de

enfermagem de reabilitação no controlo da dispneia em cuidados paliativos.”

Tendo, ainda, em consideração que “A Reabilitação Respiratória é virtualmente

inexistente em Portugal. A ela apenas tem acesso menos de 1% dos doentes que dela

beneficiariam (…)” (ONDR, 2015 p.13), surgiu então a necessidade de estudar: A

Intervenção dos Enfermeiros no controlo da dispneia.

Pretende-se com este estudo contribuir para a melhoria e excelência dos cuidados de

enfermagem à pessoa com dispneia, no serviço de urgência, através dos objetivos:

Descrever as técnicas de controlo da dispneia utilizadas pelos enfermeiros do

serviço de urgência.

Analisar as dificuldades sentidas pelos enfermeiros do serviço de urgência na sua

intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia.

Determinar as necessidades de formação dos enfermeiros do serviço de urgência

sobre técnicas de controlo de dispneia.

Este trabalho estrutura-se em três capítulos. O primeiro: A Pessoa com dispneia, versa

a definição de dispneia; fisiopatologia da mesma; tratamento e/ou controlo da dispneia;

implicações da dispneia na pessoa; reabilitação respiratória; o enfermeiro e os cuidados

respiratórios à pessoa com dispneia; a teoria do défice do autocuidado de Dorothea Orem

e a pessoa com dispneia.

O capítulo dois: Metodologia e métodos de investigação, onde se faz referência à

problemática e aos objetivos de estudo; o tipo de estudo; contexto do estudo e

participantes; instrumentos e procedimentos de recolha de dados; procedimentos de

análise de dados, definição de termos e para finalizar este capítulo as considerações

éticas.

Por fim no capítulo três fazemos a Apresentação, análise e discussão dos resultados,

obtidos através das entrevistas e da observação realizada.

Por último são apresentadas as conclusões onde se referem também as propostas

resultantes deste estudo assim como as suas limitações.

_______________________________________________________________________ 24

_______________________________________________________________________ 25

Capítulo Um - A PESSOA COM DISPNEIA

_______________________________________________________________________ 26

_______________________________________________________________________ 27

1. DISPNEIA

A respiração é um processo inconsciente e automático, influenciada pelas nossas ações

e emoções e sobre o qual podemos interferir amplamente, de modo consciente e

voluntário, de várias formas e com repercussões a vários níveis.

Segundo Guyton e Hall (2006) o objetivo da respiração é prover oxigénio aos tecidos e

remover o dióxido de carbono. Para atingir este objetivo a respiração pode ser dividida

em quatro funções principais:

Ventilação pulmonar, que consiste no influxo e efluxo de ar entre a atmosfera e os

alvéolos pulmonares.

Difusão de oxigénio e dióxido de carbono entre os alvéolos e o sangue.

Transporte de oxigénio e dióxido de carbono no sangue e líquidos corporais e as

suas trocas com as células de todos os tecidos do corpo.

Regulação da ventilação.

Quando alguma destas funções fica comprometida, surgem problemas, entre os quais se

encontra a dispneia.

A dispneia caracteriza-se pela sensação de dificuldade respiratória associada a um

aumento do esforço para respirar, manifestando-se de diferentes maneiras. Cada pessoa

tem terminologia diferente para descrever a forma como a sente, como por exemplo:

respiração de pequena duração; dificuldades em respirar; sufocação e aperto torácico

(Hoeman, 2011).

Existem várias definições de dispneia, neste trabalho optamos pela definição segundo a

Classificação Internacional Para a Prática de Enfermagem (Conselho Internacional de

Enfermeiros, 2006, p.72) onde afirma que:

é um processo do sistema respiratório com características específicas: movimento laborioso da entrada e saída do ar dos pulmões, com desconforto e esforço crescente, falta de ar, associado a insuficiência de oxigénio no sangue circulante, adejo nasal, alterações na profundidade respiratória, sons respiratórios adventícios, sibilos, estertores, roncos, ressonância dos sons à percussão, uso dos músculos acessórios, restrição dos movimentos torácicos, expiração com lábios franzidos, trémito e sensação de desconforto.

O termo dispneia pode adquirir terminologia específica:

Ortopneia: aparecimento ou agravamento da dispneia na posição horizontal.

Dispneia de esforço: quando surge ou agrava a sensação de dispneia com a

atividade física (caminhar, subir escadas).

_______________________________________________________________________ 28

Dispneia paroxística noturna: sensação de falta de ar que surge durante o sono,

obrigando o doente a sentar-se na cama ou a levantar-se.

Platipneia: dispneia que surge ou que se agrava com a posição ortostática

(especialmente em pé).

Trepopneia: dispneia que aparece ou agrava em decúbito lateral (melhora ou

desaparece com o decúbito oposto) (Martinez, Padua e Terra Filho, 2004).

As causas da dispneia são múltiplas, podendo englobar fatores físicos, psíquicos, sociais

e espirituais. A classificação das causas da dispneia podem divergir de acordo com cada

autor, no entanto, constatamos que na sua generalidade são idênticas; dispneia

relacionada com o cancro avançado; com DPOC; asma; pneumonia; doença pulmonar

intersticial; deformação da parede torácica; malformação pulmonar; insuficiência cardíaca

congestiva; arritmia cardíaca; doença isquémica do miocárdio; alterações metabólicas e

eletrolíticas; anemia; paralisia do diafragma; ascite; hepatomegália; ansiedade;

hiperventilação; síndrome hepatopulmonar; doença neuromuscular; obesidade; falta de

preparação física; hipertiroidismo; hipertensão arterial sistémica. (Martinez, Padua e

Terra Filho, 2004; Ferreira, 2009; Hoeman, 2011).

Sendo a dispneia um dos sintomas muito frequente nas doenças respiratórias, importa

referir que o número de internamentos hospitalares por doença respiratória tem vindo

aumentar. Em Portugal, em 20 anos, os internamentos por doenças respiratórias

aumentaram 26,7%, salientando-se um aumento de 171,1% nas pneumonias, 90,1% na

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e 60,1% no cancro (ONDR, 2015).

Em 2013 as principais causas de internamento, por doenças respiratórias foram as

pneumonias com 41.796 casos, a DPOC com 8.239 casos e os cancros com 6365 casos.

É de realçar que o internamento por cancro subiu mais 9,3% (ONDR, 2015).

Ainda segundo a mesma fonte, em 2013 a Asma teve uma taxa de mortalidade de 6,3%,

a DPOC uma taxa de mortalidade de 9,9%, os cancros de 30,5% e as pneumonias de

20,9%. Notando-se uma subida nas taxas de mortalidade na DPOC e nas Neoplasias.

A mortalidade por pneumonia é maior nos meses de dezembro a março, relacionável com

as epidemias de gripe e os dias mais frios (ONDR, 2015).

1.1. Fisiopatologia da dispneia

Os mecanismos que envolvem a dispneia não são totalmente conhecidos, embora surjam

com maior evidência o envolvimento de diversos processos neurológicos. No entanto

_______________________________________________________________________ 29

contrariamente ao que acontece, por exemplo com a dor, cujos estímulos têm origem em

terminações nervosas livres, ainda não foram descritos recetores especializados da

dispneia (Martinez, Padua e Terra Filho, 2004).

Existem autores que fazem distinção entre sensação e perceção respiratória. A sensação

respiratória está relacionada com a ativação neurológica, a qual resulta da estimulação

de algum recetor periférico. A perceção respiratória é o resultado do processamento do

estímulo pelo sistema nervoso central e as reações da pessoa face à sensação em

causa, podendo ser influenciada por fatores psicológicos, culturais e ambientais.

Compreender os mecanismos relacionados com a origem da dispneia implica conhecer

detalhadamente os sistemas de controlo da ventilação, as alterações da mecânica

respiratória e das trocas gasosas observadas, quer em condições fisiológicas como em

condições patológicas.

A atividade motora respiratória provém de grupos de neurónios, que estão localizados no

bulbo. Os músculos respiratórios são ativados pelas descargas respiratórias eferentes,

expandindo a caixa torácica, insuflando os pulmões, logo conduzindo à ventilação. Os

quimiorrecetores localizados nos vasos e cérebro, assim como os mecanorrecetores,

situados nas vias aéreas, pulmões, caixa torácica e músculos respiratórios, estão

envolvidos na regulação automática da respiração e também parecem ser responsáveis

pela sensação de dispneia. Os quimiorrecetores centrais (localizados no bulbo) e os

quimiorrecetores periféricos (localizados na carótida e aorta), detetam mudanças de

pressão parcial de dióxido de carbono (PCO2) e pressão parcial de oxigénio (PO2). Os

sinais gerados nestes quimiorrecetores são transmitidos novamente para o tronco

cerebral, para o ajuste da respiração e manutenção da homeostasia acidobásica. Os

impulsos aferentes a partir de recetores vagais também intervêm no padrão respiratório:

recetores pulmonares de estiramento são estimulados proporcionalmente à expansão do

pulmão; recetores de irritação (localizados no nível do epitélio brônquico) são ativados

pela estimulação mecânica da mucosa brônquica; as fibras C (localizadas no interstício

pulmonar, próximas dos alvéolos) respondem às elevações das pressões intersticiais e

capilares. Os músculos respiratórios têm recetores sensoriais, nomeadamente os fusos

musculares que existem em grande quantidade nos músculos intercostais e implicam

reflexos no nível espinal e supra-espinal. O diafragma possui recetores tendinosos, os

quais exercem atividade inibitória sobre a atividade respiratória central. Os sinais

aferentes gerados pelos mecanorrecetores pulmonares e torácicos dão informações

importantes relativamente à situação mecânica da bomba ventilatória, assim como, das

alterações das mudanças do comprimento e força de contração dos músculos

respiratórios. Estas informações vão permitir um ajuste da atividade dos neurónios

_______________________________________________________________________ 30

motores e respiratórios, de acordo com o trabalho dos músculos respiratórios ou da

impedância do sistema ventilatório (Martinez, Padua e Terra Filho, 2004; Rema, 2013).

Aparentemente a sensação de dispneia surge devido à ativação de sistemas sensoriais

que estão envolvidos na respiração. Centros cerebrais superiores, recebem a informação

sensorial e modelam a expressão da sensação que é influenciada por fatores cognitivos e

comportamentais. O aumento da sensação de esforço respiratório e dissociação entre as

necessidades ventilatórias e a capacidade de ventilar, fazem parte dos mecanismos

possíveis da dispneia (Martinez, Padua e Terra Filho, 2004; Rema, 2013).

1.2. Tratamento e/ou controlo da dispneia

Dispneia ou dificuldade respiratória é uma situação que justifica o recurso frequente à

urgência hospitalar. O objetivo imediato é identificar a causa desencadeante e direcionar

a terapêutica numa abordagem rápida e suficiente para impedir o agravamento e a

ansiedade própria das situações críticas, utilizando os recursos de uma forma

programada e sucessiva até à estabilização do doente (França e Ponce, 2006).

No doente com dispneia o tratamento passa pela terapia da sua causa, pela gestão dos

sintomas e das questões psicológicas que contribuem para a mesma (Fabbro, Shalini e

Bruera, 2006).

Para o controlo da dispneia existem medidas farmacológicas e não farmacológicas. Nas

medidas farmacológicas podemos incluir a oxigenoterapia; inaloterapia com

broncodilatadores e corticoides; diuréticos e o uso de opioides, como por exemplo a

morfina. Como medidas não farmacológicas são utilizadas: Reabilitação Funcional

Respiratória (RFR); posicionamento adequado; otimização do ambiente físico

(temperatura, ventilação, ruído, luminosidade); gestão do esforço nomeadamente evitar a

obstipação e refeições de difícil mastigação entre outros; uso de roupas confortáveis;

apoio psicossocial e o recurso à Ventilação Não Invasiva (VNI).

Machado (2012) num estudo realizado sobre dispneia no doente paliativo, constatou que

o controlo sintomático da dispneia em 78,69% dos participantes foi realizado recorrendo a

medidas farmacológicas, sendo a morfina, seguida de oxigenoterapia e dos

broncodilatadores os fármacos mais utilizados e em 22,95% medidas não farmacológicas

nomeadamente posicionamentos e aspiração de secreções.

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A furosemida tem sido utilizada para o alívio da dispneia dado ao seu efeito inibitório

sobre o reflexo da tosse, previne a broncoconstrição na patologia asmática (Kamal [et

al.], 2012).

Rema (2013, p.49) com a revisão de literatura que efetuou verificou “que os opioides

adequadamente administrados são fármacos seguros no tratamento da dispneia em

doentes com doença avançada tanto em patologia oncológica como em patologia

pulmonar como a DPOC e FPI ou cardíaca como a IC.”

Ainda segundo a mesma autora, as medidas não farmacológicas como o apoio

psicossocial e técnicas de controlo respiratório são parte importante da abordagem

multidisciplinar da dispneia, dado que a experiência psicológica da dispneia é

considerada inseparável dos aspetos físicos da mesma.

Gonçalves, Nunes e Sapeta (2012, p.15) na revisão de literatura que realizaram referem

que:

Alguns tratamentos não farmacológicos são o uso de ventiladores, alteração do padrão respiratório, incluindo respirar com os lábios franzidos e respiração diafragmática, técnicas de relaxamento muscular, posicionamento, educação e abordagens cognitivo-comportamentais.

Seymour [et al.] (2010) in Moreira (2012), num estudo com doentes com DPOC, refere a

reabilitação respiratória como complemento ou alternativa ao tratamento farmacológico,

que permite melhorar a dispneia e a qualidade de vida da pessoa.

O enfermeiro é o profissional que mais tempo está como a pessoa, em contexto

hospitalar, além das competências técnicas na execução de medidas farmacológicas no

controlo da dispneia, também tem competências para informar, ensinar, instruir e treinar

medidas não farmacológicas e o enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação

é dotado de competências próprias para realizar programas de reabilitação específicos

para o controlo da mesma.

A VNI é uma destas medidas não farmacológicas e consiste na aplicação de um suporte

ventilatório sem recorrer à intubação traqueal. A interface do ventilador com o doente é

feita através de máscara facial, nasal ou por capacete, tornando-se numa ventilação

melhor tolerada pelo doente e mais confortável. Assim é possível ventilar doentes

conscientes de forma adequada sem recorrer à depressão do nível de consciência, com

sedação, para uma melhor adaptação ao ventilador (Germano, 2008).

A VNI tem como objetivos melhorar as trocas gasosas pulmonares; diminuir a acidose

respiratória aguda; reverter a hipoxemia; reverter a fadiga dos músculos respiratórios;

minimizar a dispneia (Cordeiro e Menoita, 2012).

_______________________________________________________________________ 32

Segundo Hilbert, citado por Cordeiro e Menoita (2012, p. 219) “A formação e supervisão

dos enfermeiros são essenciais para o sucesso da implementação da VNI”.

Mas, salientamos que no controlo da dispneia, também na pessoa com VNI os cuidados

respiratórios revestem-se de importância acrescida, dos quais são componentes

essenciais: adoção de posturas corretas de forma a não interferir com a capacidade de

expansão da caixa torácica (posições de Fowler e semi- Fowler); dissociação dos tempos

respiratórios; posição de descanso e relaxamento; limpeza das vias aéreas; exercícios de

reeducação respiratória; utilização de dispositivos que possibilitem maximizar a

ventilação (incentivador da expiração, incentivador da inspiração entre outros). Nunca

descorando que cada pessoa é um ser único, pelo que se deve ter em consideração a

idade, fase evolutiva da doença e suas repercussões (Silva, Carvalho e Silva, 2010).

Um estudo realizado por Morais e Queirós (2013) refere que a família e o cuidador

informal (que também são participantes significativos no processo da implementação da

VNI), atribuem ao enfermeiro intervenções/funções essenciais quer no informar, ensinar,

instruir e treinar como no âmbito da adaptação à máscara e ventilador. Consideramos

que todas estas intervenções são essenciais em todo o processo de cuidados, sendo

fundamentais na pessoa com dispneia.

O tratamento do doente com patologia respiratória crónica passa pela implementação de

programas de reabilitação respiratória, cuja sua constituição assenta em três pilares:

controlo clínico, educação e treino de exercício. Para a implementação destes programas

é necessário a existência de uma equipa multidisciplinar (ONDR, 2013).

O enfermeiro de Reabilitação tem um papel essencial quer na implementação, quer na

adesão de programas específicos de Reabilitação Respiratória, promovendo processos

de readaptação da pessoa à nova situação de vida, maximizando a autonomia atendendo

às suas limitações e handicaps integrando para isso, a pessoa, a família e o cuidador

informal.

1.3. Implicações da dispneia na pessoa

A dispneia aumenta a taxa de mortalidade e de morbilidade, com notável impacto na

incapacidade funcional para a realização das atividades de vida diária. Estudos têm

demonstrado que a dispneia constitui o principal fator limitante da qualidade de vida da

pessoa com insuficiência respiratória crónica (Cordeiro e Menoita, 2012).

_______________________________________________________________________ 33

O termo dispneia é utilizado por alguns doentes para exprimir desconforto resultante do

aumento do trabalho respiratório, independentemente da causa. Os doentes também

utilizam o termo dispneia quando sentem diminuição da tolerância ao esforço levando à

perda de autonomia (Azevedo, 2010).

Como já foi referido anteriormente, são várias as doenças que têm como sintoma a

dispneia, algumas são doenças crónicas, nomeadamente, DPOC, asma, fibrose quística,

doenças neuromusculares, entre outras. Muitas pessoas com doença pulmonar crónica,

revelam problemas emocionais. Em pessoas com DPOC a dispneia gera elevados níveis

de ansiedade, levando a perdas sucessiva de independência, interferindo com as

atividades recreativas e atividades de vida diária (AVD), alterando a qualidade de vida, e

o papel da pessoa no seio da família e na comunidade, levando ao isolamento e

alterações da autoimagem (Hoeman, 2011), ainda, segundo Silva, Carvalho e Silva

(2010, p.241) “(…) a doença crónica traz consigo perdas sucessivas de independência e

controle, gera sensações de luto e, como tal, sentimentos de ansiedade, tristeza, irritação

e medo”.

A dispneia limita a autonomia da pessoa, afetando as atividades de vida quer as

atividades básicas de vida, quer as instrumentais, “(…) tão importantes para a

manutenção da independência da Pessoa, com relevância no papel que esta ocupa na

família e na sociedade, mas também na continuidade dos seus projetos de vida.”

(Soares, 2012 p.98). Exige à pessoa uma resposta adaptativa à sua nova condição de

vida, contudo nem sempre consegue fazê-lo sozinha, necessitando de ajuda de

profissionais diferenciados. É aqui que o enfermeiro de reabilitação centra o seu foco de

atenção, desempenhando um papel fundamental no processo de readaptação da pessoa

com dispneia, como agente que ensina, promove e motiva para a autonomia, atendendo

a que reabilitar… não é só reeducar a função, mas “tornar de novo válido” (Hesbeen,

2003, p.50).

Soares (2012) num estudo que realizou, constatou a importância da intervenção do

enfermeiro de reabilitação no sentido de aumentar a capacidade das pessoas com DPOC

e OLD, para a realização de atividades de vida básicas, nomeadamente: alimentação;

banho; vestir; higiene pessoal; defecação; micção; casa de banho; mudança da

cadeira/cama; deambulação e escadas, bem como, para a realização das atividades de

vida instrumentais, tais como, capacidade de usar o telefone; compras; preparação de

refeições; tarefas domésticas; lavagem de roupa; uso de meio de transporte;

responsabilidade em relação à sua medicação e gestão dos seus assuntos económicos.

Reforçando que a qualidade de vida das pessoas está em causa, limitando a capacidade

de autonomia, tornando-as dependentes de outros.

_______________________________________________________________________ 34

As pessoas quando confrontadas com a doença, situação que constitui uma ameaça e

limitação ao seu estado de equilíbrio, porque as afeta a nível, físico, emocional,

intelectual, social e espiritual, requerem cuidados individualizados que as ajudem a

(re)construir o seu projeto de vida e de saúde. Os enfermeiros devem constituir-se como

um recurso importante para cada pessoa, para com elas encontrarem o caminho para a

maximização da qualidade de vida, mesmo perante uma doença crónica e incapacitante

(Soares, 2012).

Atendendo que a dispneia é um sintoma com grande impacto, associado a mortalidade,

morbilidade e elevada limitação nas atividades físicas e sociais, além de ser uma queixa

comum nas consultas médicas (cerca de 20% da população geral) é importante avaliar a

sua intensidade com recurso a escalas (Martinez, Padua Terra Filho, 2004).

Também, Machado (2012), corrobora esta opinião quando refere que no controlo da

dispneia, é importante uma avaliação frequente recorrendo a escalas padronizadas, de

forma a ficar devidamente avaliada e documentada, de modo a que se possa monitorizar

a eficácia das intervenções no seu alívio de forma a conseguir um controlo eficaz. Pelo

que se revela de grande importância a avaliação da pessoa como um todo, dado que as

dimensões psicológica, social e espiritual, podem interferir na intensidade da dispneia.

Dado a subjetividade da dispneia e a forma como o doente a perceciona, torna-se difícil a

sua avaliação, daí a importância da avaliação, segundo a perceção do doente,

recorrendo ao uso de escalas, como a Escala de Borg, a Escala Visual Analógica (EVA) e

a Escala Numérica (EN), para avaliar a dispneia em ”tempo real”. Também é utilizada

Escala Medical Research Council (MRC), para avaliar o impacto da dispneia nas AVD,

recorrendo à memória do doente (Fernandes, Frias e Alvito, 2012).

A avaliação da intensidade e impacto da dispneia na pessoa, no seu dia a dia, na sua

qualidade de vida, precede o passo seguinte de prescrição e implementação de medidas

terapêuticas, onde se incluem os cuidados de enfermagem respiratórios no controle da

dispneia.

_______________________________________________________________________ 35

2. A REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA E O CONTROLO DA DISPNEIA

Vários estudos apontam para o benefício de programas de reabilitação respiratória no

controlo da dispneia provocada pelas mais diversas patologias.

Pamplona e Morais (2007, p.102) referem que “A reabilitação respiratória beneficia todas

as pessoas com doença respiratória que tem o seu dia-a-dia afetado pela dispneia

crónica (…)”.

Diversos estudos apontam o benefício das técnicas de controlo da dispneia, tal como o

estudo de Braga (2009) realizado em Portugal que demonstrou a influência dos cuidados

de enfermagem de reabilitação no controlo da dispneia em cuidados paliativos e os

estudos realizados na Áustria, nos Estados Unidos e no Canadá que mostraram o

benefício do uso de técnicas de reabilitação respiratória no controlo da dispneia em

doentes com DPOC e o treino respiratório no alívio da dispneia (Albernethy [et al.], 2009,

Marciniuk, [et al.], 2011, Kamal, [et al.], 2012).

Para Matos (2011), os benefícios da reabilitação pulmonar são cada vez mais

sustentados por uma crescente evidência científica, ajudando os doentes a interromper o

ciclo vicioso da dispneia e inatividade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Segundo Ries (2010), nos últimos dez anos, perto de 1000 novos artigos foram

adicionados à literatura médica abordando os benefícios da reabilitação respiratória.

Estudos bem controlados têm mostrado melhorias significativas em vários parâmetros

depois da reabilitação respiratória, nomeadamente na redução da dispneia e dos

internamentos hospitalares (Cote e Celli, 2006).

Também o estudo realizado por Pacheco [et al.] (2013) que avalia o benefício da

reabilitação respiratória no controlo da dispneia em doentes com ASMA e DPOC,

demonstrou melhorias da dispneia nos doentes através das diferenças estatisticamente

significativas em relação à escala de Borg modificada para dispneia, entre a dispneia

mediana avaliada pela MRCDQ e score médio no SGRQ pré e pós programa.

Além da melhoria da resistência e da readaptação ao esforço, o treino pelo exercício é a

componente mais direcionada para a melhoria de um dos principais sintomas da DPOC

que é a dispneia. Após o programa de Reabilitação Respiratória, os doentes apresentam,

uma diminuição da dispneia em repouso, durante o exercício e durante as atividades de

vida diárias (Troosters [et. al.] in Machaqueiro, 2012).

Canteiro e Heitor (2003, p. 1785) definem reabilitação respiratória como sendo um:

Processo que usa de modo sistemático opções diagnósticas e terapêuticas cientificamente baseadas para conseguir um

_______________________________________________________________________ 36

funcionamento óptimo nas actividades de vida diária e uma qualidade de vida relacionada com a saúde, de doentes individualizados sofrendo de deficiência e incapacidade devida a doença respiratória crónica.

A reabilitação respiratória ajuda a prevenir e tratar múltiplos aspetos das patologias

respiratória nomeadamente, retenção de secreções, alteração da função ventilatória,

dispneia e a melhorar a performance de exercícios (Liebano [et.al.], 2009).

Um programa de Reabilitação Respiratória deve ser individualizado, tendo em

consideração vários fatores, nomeadamente a patologia, o grau de gravidade do

problema, a idade da pessoa, a capacidade de aprendizagem, os objetivos do programa,

o local onde vai ser realizado, os recursos existentes e o envolvimento da pessoa/família,

havendo a intervenção de uma equipa multidisciplinar (Cordeiro e Menoita, 2012). Como

também alude o ONDR (2013) a constituição de programas de reabilitação respiratória

assenta em três pilares: controlo clínico, educação e treino de exercício. Para a

implementação destes programas é necessário a existência de uma equipa

multidisciplinar, constituída por enfermeiros, sendo que consideramos que o enfermeiro

especialista em reabilitação é fundamental nesta equipa, médicos, fisioterapeutas,

psicólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional de modo a capacitarem os doentes na

gestão da sua doença, levando a uma melhoria do seu estado de saúde.

Também Cordeiro e Menoita (2012) reforça que um programa de reabilitação respiratória

pode ter vários componentes nomeadamente: reeducação funcional respiratória; treino de

exercício; otimização da terapia inalatória e assistência respiratória.

A RFR por muitos também designada por cinesiterapia respiratória, utiliza

fundamentalmente o movimento e atua na parte mecânica da respiração, utilizando

técnicas manuais, posturais e cinéticas que podem ser aplicadas isoladamente ou em

associação com outras técnicas, sendo que um dos objetivos da cinesiterapia respiratória

é mobilizar e eliminar as secreções brônquicas e melhorar a ventilação pulmonar

(Cordeiro e Menoita, 2012).

Também Marcelino [et al.] (2008) corrobora que a reabilitação funcional respiratória é

uma terapêutica baseada no movimento (do Grego Kinetiké – “arte de por em movimento”

+ terapia – movimento terapêutico). O conceito assenta essencialmente na otimização da

mecânica ventilatória, para melhorar a ventilação alveolar.

Um programa de reeducação funcional respiratória, tem como objetivos: prevenir e

corrigir defeitos ventilatórios; melhorar a performance dos músculos respiratórios;

assegurar a permeabilidade das vias aéreas; mobilizar e eliminar as secreções

brônquicas; melhorar a oxigenação e trocas gasosas; prevenir e corrigir alterações do

_______________________________________________________________________ 37

esqueleto e músculos; reduzir a tensão psíquica; reeducar no esforço; diminuir o trabalho

respiratório; aumentar a endurance; promover a independência respiratória funcional;

prevenir complicações e acelerar a recuperação da pessoa. (Marcelino [et al.], 2008;

Cordeiro e Menoita, 2012).

Existem procedimentos básicos, mas essenciais num programa de reeducação funcional

respiratória: posicionamento facilitador da expansão torácica (posições de descanso e

relaxamento) e consequentemente da excursão diafragmática; incentivo de inspirações

profundas; hidratação versus humidificação das secreções brônquicas; drenagem

postural; reeducação da tosse e tosse dirigida/incentivo da tosse; fortalecimento muscular

– exercícios eletivos e globais (Marcelino [et.al.] 2008).

Assim, para o controlo da dispneia, podemos utilizar algumas técnicas de reabilitação

funcional respiratória nomeadamente: consciencialização e controlo da respiração;

expiração com lábios semicerrados, respiração diafragmática; técnicas de relaxamento e

descanso.

Na pessoa com ansiedade e dispneia, recorre-se à técnica de relaxamento:

posicionamento em decúbito semi-fowler ou em decúbito lateral em semi-fowler (de

acordo com a melhor tolerância da pessoa). Por vezes em situações em que a pessoa

tem grande ansiedade e tensão muscular, pode surgir a necessidade de associar uma

massagem manual com o objetivo de relaxar os músculos peitorais, escalenos, trapézios

e esternocleidomastoideus (Cordeiro e Menoita, 2012).

Existem outras técnicas de relaxamento referidas por Abreu (2003) e Canteiro e Heitor

(2003), in Cordeiro e Menoita, ( 2012), que são:

Relaxamento Fisiológico simples de Laura Mitchell (obter o relaxamento dos

músculos agonistas pela contração dos antagonistas)

Relaxamento Progressivo de Jacobson (alternância de contração isométrica-

relaxamento dos músculos dos membros, face e respiratórios, para induzir o

relaxamento físico e mental)

Relaxamento Eutónico de Gerda Alexander (método reeducativo que associa os

princípios do método de Jacobson e a educação física)

Treino Autogénico de Schutz (induz na pessoa estados de relaxamento utilizando

autossugestões sobre, sensações de peso e calor nos vários segmentos do

corpo; regulação da frequência cardíaca, sensações de tranquilidade e confiança

em si mesmo e concentração passiva da sua respiração)

Posições de descanso, técnica que tem por base a adoção de posições corporais que

ajudam a descontrair os músculos acessórios da respiração, cintura escapular, pescoço e

_______________________________________________________________________ 38

membros superiores, facilitando a respiração diafragmática. Estas posições são também

utilizadas como forma de conservação de energia. Deve-se ensinar a pessoa a adotar

estas posições: posição de Cocheiro sentado, posição de Cocheiro em pé quando está

com dispneia e/ou cansaço (Cordeiro e Menoita, 2012).

A Reeducação Funcional Respiratória para o doente com DPOC centra - se em técnicas

de relaxamento, técnicas respiratórias e exercícios globais. Segundo Soares (2012, p.36

e p.37) a reeducação funcional respiratória

vai permitir um controlo efetivo sobre a respiração, com consequente controlo da dispneia, que é o sintoma que mais condiciona a independência da pessoa e permite, ainda, readquirir capacidade física, através do treino de exercícios globais, que promovam não só o fortalecimento muscular, quanto o aumento da tolerância ao exercício, nomeadamente na caminhada.

Ainda segundo a mesma autora, a Permeabilidade das Vias Aéreas engloba a limpeza

das vias aéreas com recurso a medidas específicas e gerais, facilitadoras da eliminação

de secreções, tais como:

hidratação geral;

inaloterapia;

drenagem postural (manobras de vibração, percussão e compressão);

movimentos respiratórios profundos (com ênfase na fase expiratória).

Assim a permeabilidade das vias aéreas “é muito importante para que se processe uma

respiração eficaz e as secreções sejam eliminadas de forma a prevenir agudizações, pois

estas pessoas são muito suscetíveis a infeções respiratórias” (Soares, 2012 p. 37).

A reabilitação respiratória é importante e traz benefícios para o doente.

Os benefícios da reabilitação respiratória são a redução dos sintomas respiratórios de fadiga e dispneia, a reversão da ansiedade e depressão, a melhoria da tolerância ao exercício, com aumento da resistência ao esforço, a melhoria na capacidade para a realização das atividades da vida diária, a redução do número consultas, idas à urgência e de hospitalizações e uma melhor integração familiar e social ONDR (2013, p.19).

Também a DGS (2007 p. 9) salienta que “Todos os doentes com DPOC beneficiam de

reabilitação respiratória já que melhoram a sua capacidade de exercício e a dispneia”.

Em suma, a reabilitação respiratória, enquanto abordagem formal e estruturada,

aumenta a qualidade de vida, reduz a dispneia e melhora a capacidade física,

contribuindo assim para a redução significativa dos custos diretos e indiretos com a

_______________________________________________________________________ 39

saúde dos doentes com patologia respiratória (Albert [et. al.] 2008), pelo que cuidar de

pessoas com patologia respiratória é um desafio constante e exige a intervenção de uma

equipa multidisciplinar envolvida e motivada, e de pessoas proativas.

2.1. O Enfermeiro e os cuidados respiratórios à pessoa com dispneia

O enfermeiro ocupa uma posição privilegiada no cuidar da pessoa. Sendo de extrema

importância no cuidar da pessoa com dispneia a prestação de cuidados, nomeadamente

de reabilitação, assentes na qualidade das relações entre enfermeiro e pessoa. Watson

(1988) citado por Silva, Carvalho e Silva (2010) relaciona o processo do cuidar humano

(human care) com um processo de interação entre seres humanos, onde o cuidar

humano é a dimensão da prática profissional. Sendo a essência dos cuidados de

enfermagem esta relação interpessoal, as técnicas, os protocolos e as formas de

organização utilizadas pelos enfermeiros, são o acessório dos cuidados de enfermagem.

Também Hesbeen (2000, p.37) refere o processo de cuidar como uma “arte do terapeuta

que consegue combinar (…) conhecimento, destreza, de saber-ser, de intuição que lhe

vão permitir ajudar alguém na sua situação singular”, nomeadamente a pessoa com

dispneia.

Assim, o enfermeiro que cuida de pessoas com dispneia, deverá reger as suas

intervenções de acordo com o Código Deontológico e o Regulamento do Exercício

Profissional dos Enfermeiros (REPE) (2015) e do Regulamento dos Padrões de

Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Reabilitação (2015).

A intervenção do enfermeiro de reabilitação tem início numa fase muito precoce, com a

prevenção primária, evitando o aparecimento da doença (consequentemente o sintoma

dispneia), indo até à intervenção terciária junto da comunidade.

Como refere a Ordem dos enfermeiros (2011) a missão da enfermagem de reabilitação

visa a intervenção precoce, a promoção da qualidade de vida, a maximização da

funcionalidade, o autocuidado e a prevenção de complicações evitando as incapacidades

ou minimizando as mesmas. Utiliza técnicas específicas de reabilitação, prescreve

produtos de apoio (ajudas técnicas e dispositivos de compensação) e intervém na

educação dos doentes e pessoas significativas, na preparação do regresso a casa, na

continuidade dos cuidados e na reintegração do doente na comunidade, promovendo a

mobilidade, a acessibilidade e a participação na sociedade.

_______________________________________________________________________ 40

Neste sentido, as intervenções do enfermeiro de reabilitação passam pela educação da

pessoa e família, intervindo de modo a modificar alguns fatores de risco, a elaborar e

implementar em conjunto com a pessoa, um Programa de Reabilitação Funcional

Respiratória (PRFR) de acordo com o estado de saúde da pessoa e o local tendo em

conta os objetivos individuais da mesma, a maximização da sua funcionalidade e

desenvolvendo as suas capacidades funcionais a nível cardiorrespiratório.

O quadro que se segue (quadro 1) mostra, de forma resumida, diferentes técnicas de

Reeducação Funcional Respiratória.

Quadro 1. - Técnicas de Reeducação Funcional Respiratória.

TÉCNICAS DA REEDUCAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA

Técnicas de descanso e relaxamento

Consciencialização e controlo da respiração

Expiração com os lábios semicerrados

Respiração diafragmática

Espirometria de incentivo

Exercícios respiratórios: Reeducação diafragmática (porção anterior; porção posterior) Reeducação da hemicúpula diafragmática direita e esquerda Reeducação diafragmática com resistência (manual; com dispositivos) Reeducação costal:

Global (com bastão; sem bastão) Seletiva (porção anterior; porção posterior; porção inferior; porção lateral com abertura)

Manobras de limpeza das vias aéreas: Ensino da tosse (dirigida; assistida) Drenagem postural clássica Drenagem postural modificada Manobras acessórias (percussão; vibração; compressão; vibrocompressão) Flutter/Acapella Pressão positiva expiratória (PEP) Expiração lenta total com a glote aberta em decúbito lateral Ciclo ativo das técnicas respiratórias (CATR)

Terapêutica de posição

Abertura costal seletiva

Técnicas de correção postural com recurso a espelho quadriculado

Exercícios de mobilização torácica e osteoarticular

Treino de exercício aeróbio

Treino de atividades de vida diária

Fonte: Cordeiro e Menoita (2012, p.63)

Também é importante fazer ensino à pessoa e família sobre estilos de vida saudável,

nomeadamente: exercício físico, alimentação saudável (ingestão de líquidos), evitar

ambientes poluídos, evicção tabágica, (in)formação da pessoa/família e dos cuidadores

informais sobre a doença.

_______________________________________________________________________ 41

A mudança para estilos de vida saudável, deve ser uma atitude eterna, como por

exemplo deixar de fumar e manter-se fisicamente ativo, são atitudes com enormes

benefícios na história natural das doenças respiratórias crónicas (ONDR, 2015).

O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação tem, sem dúvida, um papel

preponderante, pois possui conhecimentos e competências específicas, é perito em fazer

diagnósticos diferenciados, planear e avaliar intervenções adequadas às necessidades

da pessoa e implementar programas de reeducação funcional respiratória, envolvendo a

pessoa/família, maximizando o seu potencial funcional e independência (OE, 2010).

Também Rocha (2014 p. 16) reforça que:

O enfermeiro de reabilitação é um profissional de saúde especialmente preparado para intervir adequadamente nos processos de reparação da pessoa, no sentido de promover a máxima autonomia/independência dos indivíduos portadores de deficits potencialmente recuperáveis ou a manutenção dos que são irreversíveis, de forma a manter a qualidade de vida do cidadão.

Em suma, o enfermeiro de reabilitação torna-se fundamental na vida das pessoas com

dispneia, pois é o profissional que educa, ensina, assiste, supervisiona, escuta, esclarece

dúvidas, executa exercícios e técnicas para uma melhor ventilação, levando a uma

melhor qualidade de vida, garantindo a excelência dos cuidados de enfermagem.

Não podemos esquecer que o sucesso da reabilitação está afeto a uma equipa

multidisciplinar, ao envolvimento da família e sociedade no processo de desenvolvimento

de habilidades, da satisfação da vida quotidiana, da melhoria funcional, da reintegração

familiar e social e maior autonomia (Faro, 2006).

A equipa multidisciplinar, que cuida de pessoas com dispneia em diferentes contextos,

deverá ser constituída por enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, por

enfermeiros de cuidados gerais, fisioterapeutas, nutricionistas, médicos, pneumologistas,

psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outros profissionais. Onde

cada um atua de acordo com as suas competências de modo a tornarem as pessoas

capazes de gerir a sua doença, mostrarem melhoria do seu estado de saúde, com a

diminuição do recurso aos serviços de saúde, melhoria expressiva na qualidade de vida e

consequentemente melhoria na vivência familiar e social (ONDR, 2013).

A profissão de enfermagem registou entre nós, nas últimas décadas uma evolução, quer

ao nível da formação de base, quer no que diz respeito aos cuidados especializados em

enfermagem, tornando-se assim, reconhecido o valor do papel do enfermeiro no âmbito

da comunidade científica de saúde de modo a proporcionar qualidade e eficácia na

prestação de cuidados de saúde. Prestar cuidados de enfermagem ao ser humano ao

_______________________________________________________________________ 42

longo do ciclo vital e aos grupos sociais em que está inserido é o objetivo da profissão de

enfermagem, de modo a manterem, melhorarem e recuperarem a saúde, ajudando-os a

atingir a sua máxima capacidade funcional tão rapidamente quanto possível. Os cuidados

de enfermagem são as intervenções autónomas ou interdependentes, realizadas pelo

enfermeiro de acordo com as suas qualificações profissionais (OE, 2015).

Os enfermeiros estão obrigados, ao cumprimento dos deveres éticos e princípios

deontológicos da profissão, exercendo-a com autonomia técnica e científica e

respeitando o direito à proteção da saúde da pessoa e da comunidade. Compete ao

enfermeiro contribuir para a defesa dos interesses da pessoa objetivando a continuidade

e garantia da qualidade da prestação de cuidados; o dever de informar devidamente a

pessoa sobre os cuidados a prestar e prestados, na medida das suas mestrias, atestando

a efetividade do consentimento informado (Decreto-Lei nº247/09, 2009, Artigo 8º).

O conteúdo funcional dos enfermeiros de cuidados gerais preconiza, entre outras,

identificar, planear, avaliar e efetuar os registos dos cuidados de enfermagem; sendo

pertinente realçar as intervenções de enfermagem ao indivíduo, família e comunidade, no

âmbito da promoção da saúde, da prevenção da doença, do tratamento, da reabilitação e

da adaptação funcional; desenvolver métodos de trabalho com vista à melhor utilização

dos recursos, à difusão de informação, à qualidade e eficiência; proceder ao tratamento e

análise de informação, relativa ao exercício das suas funções, abrangendo aquela que

seja relevante para os sistemas de informação institucionais na área da saúde; fomentar

programas e projetos de investigação, participar nas equipas e ou orientá-las e contribuir

no decurso de desenvolvimento de competências de alunos de enfermagem, bem como

de enfermeiros em contexto académico ou profissional.

Ao enfermeiro especialista, além de todos os conteúdos do enfermeiro de cuidados

gerais, acresce, entre outros: planear, coordenar e desenvolver intervenções; identificar

necessidades logísticas e promover a utilização dos recursos moldando aos cuidados de

enfermagem a prestar; incrementar e colaborar na formação realizada na respetiva

organização interna; orientar os enfermeiros, especificamente nas equipas

multiprofissionais, no que respeita à definição e utilização de indicadores e orientar as

atividades de formação de estudantes de enfermagem, bem como de enfermeiros em

contexto académico ou profissional (Decreto-Lei nº247/09, 2009, Artigo 9º).

Enquanto especialidade multidisciplinar, a enfermagem de reabilitação tem como

objetivos gerais, melhorar a função, promover a independência e a máxima satisfação da

pessoa, assegurando a sua autoestima. Para alcançar estes objetivos o enfermeiro

especialista em enfermagem de reabilitação, concebe, implementa e monitoriza planos

_______________________________________________________________________ 43

de reabilitação específicos, fundamentados nos problemas reais e potenciais das

pessoas. O conhecimento distinto e a experiência desenvolvida, permite ao enfermeiro de

reabilitação tomar decisões referentes à promoção da saúde, prevenção de complicações

secundárias, tratamento e reabilitação maximizando o potencial da pessoa (OE, 2010).

As competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação

são as seguintes:

(…) Cuida de pessoas com necessidades especiais, ao longo do ciclo de vida, em todos os contextos da prática de cuidados;

(…) Capacita a pessoa com deficiência, limitação da atividade e ou restrição da participação para a reinserção e exercício da cidadania;

(…) Maximiza a funcionalidade desenvolvendo as capacidades da pessoa (Regulamento nº125/2011, p. 8658).

Na sociedade em que vivemos, assistimos a um aumento das doenças crónicas que

limitam as capacidades funcionais e diminuem a qualidade de vida, sendo

frequentemente precursoras de incapacidade. O enfermeiro de reabilitação cuida de

pessoas com incapacidades ou doenças crónicas, dispondo-se a obter ou manter o

máximo de capacidades funcionais, um elevado nível de saúde, um saber lidar efetivo

com as modificações e transformações que sofreram suas vidas (Hoeman, 2011).

Sendo a enfermagem de reabilitação regulada pelo conceito de cuidar e dando valor à

funcionalidade, foi reconhecida a sua influência na melhoria dos cuidados de

enfermagem, bem como a promoção de uma sociedade onde as pessoas com deficiência

são vistas como cidadãos de pleno direito. O foco de atenção do enfermeiro especialista

em enfermagem de reabilitação, é a pessoa com necessidades especiais, as pessoas

com doença súbita ou descompensação da doença crónica, que provoquem deficit

funcional a qualquer nível (cognitivo, motor, sensorial, cardiorrespiratório, da alimentação,

da eliminação e da sexualidade), visando o diagnóstico e intervenção precoce, a

promoção da qualidade de vida, a maximização da funcionalidade, o autocuidado e a

prevenção de complicações, evitando ou minimizando as incapacidades (OE 2011).

Também Faro (2006), refere que a enfermagem de reabilitação dá ênfase quer à

prevenção como ao tratamento das incapacidades, de acordo com metas planeadas (a

curto, médio e longo prazo) num trabalho conjunto entre o enfermeiro de reabilitação, a

pessoa e a família (ou prestador de cuidados), valorizando a autonomia de todos os

intervenientes. É uma atuação orientada numa abordagem holística (atendendo aos

aspetos físicos, psicológicos, cognitivos, económicos e sociais da pessoa) e não na

disfunção orgânica ou estrutural/anatómica. O enfermeiro de reabilitação tem como

compromisso garantir às pessoas com deficiências e incapacidades, assistência de

_______________________________________________________________________ 44

acordo com o nível de complexidade, utilizando métodos e terapêuticas específicos. Tem

um papel essencial na equipa multidisciplinar, definindo pela sua expressão clínica e

académica, a importância de somar esforços, compartilhar responsabilidades,

conhecimento, reconhecer os limites e dar ênfase às potencialidades e habilidades da

pessoa/família, buscando assim assistência com compromisso e qualidade. Na mesma

linha de pensamento Rocha (2011), considera o enfermeiro de reabilitação como um

profissional “pivô” para planear, conceber, implementar e gerir programas de reabilitação,

ajustados à prevenção e ao processo global de recuperação funcional da pessoa.

É também competência destes enfermeiros monitorizar a implementação e os resultados,

dos programas de reabilitação, realizando a avaliação e efetuando os acertos

indispensáveis no processo de prestação de cuidados, possibilitando a análise do efeito

das suas intervenções, mostrando ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de

enfermagem de reabilitação, e difundindo procedimentos mais seguros e eficientes

ligados à pessoa, família, prestador de cuidados, sociedade e instituição (Rocha, 2011).

Também a OE (2011, p.3), refere que a enfermagem de reabilitação é “uma área de

intervenção clínica reconhecida, dá resposta a necessidades concretas da população e

às novas exigências em cuidados, contribuindo fortemente para a obtenção de ganhos

em saúde.”

Os Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem (PQCE) e os Padrões de

Qualidade dos Cuidados Especializados em Enfermagem de Reabilitação (PQCEER)

constituem um instrumento essencial para a promoção da melhoria contínua dos

cuidados, onde os enunciados descritivos de qualidade do exercício profissional dos

enfermeiros explicitam a natureza e englobam os diferentes aspetos do mandato social

da profissão de enfermagem. Assim, constituem um instrumento importante que ajuda a

explicitar o papel do enfermeiro junto dos clientes, dos outros profissionais,

nomeadamente dos enfermeiros de cuidados gerais, da população e dos políticos. Para

tal foi definido seis categorias de enunciados descritivos, relativas a: satisfação dos

clientes; promoção da saúde; prevenção de complicações; bem-estar e ao autocuidado

dos clientes; readaptação funcional e organização dos serviços de enfermagem. Estas

apontam para que o enfermeiro persiga os mais elevados níveis de satisfação da pessoa,

ajudando a alcançar o máximo potencial de saúde; maximizando o bem-estar da pessoa

ajudando e cooperando/complementando nas atividades de vida; o enfermeiro

juntamente com a pessoa desenvolve processos eficientes de adaptação aos problemas

de saúde e contribui para a máxima eficácia na organização dos cuidados de

enfermagem (OE, 2012).

_______________________________________________________________________ 45

O Regulamento dos PQCEER, que se constitui um instrumento fundamental para a

promoção da melhoria contínua dos cuidados de enfermagem de reabilitação, identifica,

para além das categorias de enunciados descritivos já referidas, a reeducação funcional;

promoção da inclusão social e organização dos cuidados de enfermagem. Estes

enunciados visam que na procura permanente da excelência no exercício profissional o

enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação persiga os mais elevados níveis

de satisfação das pessoas; ajude as pessoas a conseguirem o máximo potencial de

saúde; previna complicações para a saúde das pessoas, maximize o bem-estar das

pessoas suplementando/complementando as AVD para as quais a pessoa é dependente;

em conjunto com a pessoa/família desenvolve processos de adaptação eficazes aos

problemas de saúde; juntamente com a pessoa cria processos de reeducação funcional

visando a qualidade de vida e a reintegração e participação na sociedade; desenvolve

processos de promoção da inclusão social das pessoas com deficiência e contribui para a

máxima eficácia na organização dos cuidados de enfermagem, sendo de sublinhar o

cuidado ” supervisão das atividades que concretizam as intervenções de Enfermagem de

reabilitação e que, em virtude da necessidade de continuidade de cuidados, sejam

suscetíveis de serem delegadas no enfermeiro de cuidados gerais ou outros”

(Regulamento nº 350/2015).

A importância da continuidade de cuidados é corroborada por Andrade [et al.], (2010, p. 1059):

o reconhecimento do papel do enfermeiro no processo de reabilitação por seus pares e pelos demais membros da equipe multidisciplinar, faz-se necessário para que a qualidade do processo de reabilitação alcance os níveis de excelência desejados. A falta de comunicação entre os enfermeiros e os demais membros da equipe pode determinar uma piora no processo de reabilitação.

Do abrangente conjunto de funções e competências dos enfermeiros e dos enfermeiros

especialistas, emergem importantes e relevantes as que se relacionam com o domínio do

desenvolvimento profissional, onde o enfermeiro assume responsabilidade pela

aprendizagem ao longo da vida e pela manutenção e aperfeiçoamento das competências.

Neste âmbito o enfermeiro especialista:

(…) Baseia a sua praxis clínica especializada em sólidos e válidos padrões de conhecimento. (…). Responsabiliza-se por ser facilitador da aprendizagem, em contexto de trabalho, na área da especialidade.(…). Atua como formador oportuno em contexto de trabalho, na supervisão clínica e em dispositivos formativos formais. (…) Diagnostica necessidades formativas. (…). Concebe e gere programas e dispositivos formativos. (…) Favorece a aprendizagem, a destreza nas intervenções e o desenvolvimento

_______________________________________________________________________ 46

de habilidades e competências dos enfermeiros. (…) Avalia o impacto da formação (Regulamento 122/2011).

É importante conseguir pessoas informadas e participativas e cuidadores preparados e

proativos uma vez que uma correta gestão da doença dependerá em grande parte da

aprendizagem conseguida. Para tal, é primordial que o enfermeiro tenha conhecimentos

e competências para garantir a excelência nos cuidados de enfermagem.

O enfermeiro pode também dar o seu contributo na melhoria da formação de enfermeiros

e outros profissionais de saúde em programas de formação contínua contribuindo assim

para o desenvolvimento do conhecimento (OE, 2010).

Para a excelência dos cuidados de enfermagem à pessoa com dispneia, é de crucial

importância a continuidade dos cuidados de reabilitação à pessoa, tornando-se

importante uma boa articulação entre os enfermeiros de reabilitação e os enfermeiros dos

cuidados gerais, numa atitude de complementaridade.

Em síntese, o enfermeiro de reabilitação é detentor de competências específicas para a

prestação de cuidados à pessoa com dispneia, no entanto, o enfermeiro de cuidados

gerais tem um papel importante na prestação de cuidados básicos respiratórios. A

articulação de saberes entre o enfermeiro de reabilitação e o enfermeiro de cuidados

gerais conduz à prestação de cuidados de excelência. Neste sentido, o enfermeiro de

reabilitação assume um papel de facilitador da aprendizagem, do desenvolvimento de

competências, de promotor e supervisor da qualidade de cuidados.

2.2. A teoria do défice de Autocuidado de Dorothea Orem e a pessoa com dispneia

Como já foi referido anteriormente a dispneia tem implicações na autonomia da pessoa

afetando a realização das AVD, nomeadamente o autocuidado, que segundo Petronilho

(2012, p.8) “(…) tem sido identificado como um recurso para a promoção da saúde e

gestão bem-sucedida dos processos de saúde doença”.

Neste sentido, os enfermeiros no cuidar das pessoas com dispneia, sustentam as suas

práticas em referenciais, entre os quais nos parece pertinente a teoria do Défice de

Autocuidado de Dorothea Orem.

Para Bento (2006), a Teoria do Défice de Autocuidado de Dorothea Orem orienta a

prática do enfermeiro de reabilitação, tendo este como objetivo a autonomia da pessoa

na satisfação das suas necessidades básicas, promovendo a realização das mesmas

quando esta está impossibilitada de as realizar, numa etapa do seu continuum de vida,

engrandecendo, deste modo, o autocuidado.

_______________________________________________________________________ 47

Esta teoria tem por base o autocuidado, partindo do pressuposto que toda a pessoa

saudável tem um conjunto de mestrias e capacidades para se auto cuidar. No entanto

quando há um défice no autocuidado, que pode ser devido a doença, escassez de

recursos ou fatores ambientais, carece de ajuda. Ao enfermeiro cabe proporcionar a

ajuda necessária para a realização dos autocuidados, tendo como foco as limitações e

incapacidades da pessoa de modo a planear e implementar intervenções que ajudem a

pessoa a colmatar as limitações e a restabelecer o autocuidado, indo ao encontro das

necessidades da pessoa. Deste modo o enfermeiro pretende, promover a recuperação da

pessoa e/ou manutenção das capacidades funcionais para o autocuidado (Tomey e

Alligood, 2004).

São três a teorias que compõem a teoria do défice do autocuidado de Orem e que estão

inter-relacionadas: autocuidado, teoria do défice de autocuidado e teoria dos sistemas de

enfermagem.

O autocuidado é descrito, como sendo a prática de atividades que a pessoa realiza para

seu benefício, para manter a vida, a saúde e o bem-estar. Quando a pessoa o consegue

realizar ajuda a manter a integridade estrutural e o seu funcionamento contribuindo para

o seu desenvolvimento. Deste modo o autocuidado é formado e organizado ao longo do

desenvolvimento do ser humano, para colmatar e satisfazer as necessidades ao longo do

ciclo vital da pessoa. A capacidade da pessoa para o autocuidado é afetada por fatores

condicionantes básicos como a idade, o sexo, o estado de desenvolvimento, o estado de

saúde, a orientação sociocultural. Assim, Orem definiu três categorias de requisitos para

o autocuidado: universais; desenvolvimento e desvio de saúde. Estes são definidos como

ações dirigidas à provisão de autocuidado. Os requisitos universais estão relacionados

com os processos da vida e com a manutenção da integridade da estrutura e do

funcionamento da pessoa (são comuns a todos os seres humanos ao longo do ciclo vital),

comummente designados por atividades de vida diárias. Quanto aos requisitos de

desenvolvimento surgem quando à necessidade adaptação às possíveis mudanças na

vida da pessoa, fomentando os processos de vida e maturação da pessoa e precavendo

as condições que possam ser nefastas à sua maturação. Quando existe um desvio de

saúde os requisitos para o autocuidado sofrem alterações em situação de doença da

pessoa, de lesões, de alterações patológicas, deficiências ou incapacidades atendendo

ao diagnóstico ou tratamento médico, que vão determinar os tipos de necessidades de

cuidados ao longo deste estado.

A Teoria do défice de autocuidado descreve qual a razão e quando é que a pessoa

necessita da intervenção de enfermagem, é considerada o cerne da teoria de Orem. A

intervenção da enfermagem surge quando a pessoa é incapaz ou tem limitações para a

_______________________________________________________________________ 48

realização do autocuidado (défice). Assim compete ao enfermeiro ajudar a pessoa

proporcionando a assistência no autocuidado, a necessidade de cuidados de

enfermagem é diretamente proporcional ao grau de dependência da pessoa (maior

dependência maior necessidade de cuidados de enfermagem), pelo que Orem identificou

cinco métodos de ajuda: agir ou fazer para a pessoa; guiar e orientar; proporcionar apoio

físico e psicológico; proporcionar e manter um ambiente de apoio ao desenvolvimento

pessoal e ensinar. O enfermeiro atua como orientador, instrutor e conselheiro da pessoa

para que se torne mais autónoma para o autocuidado, conseguindo deste modo um

melhor desempenho nas atividades de vida diária (Tomey e Alligood, 2004).

Por fim a teoria dos sistemas de enfermagem onde se descreve como se inicia a

intervenção de enfermagem. Esta teoria centra-se nas necessidades e nas

capacidades/potencial da pessoa para desempenhar as atividades de autocuidado

atendendo às suas limitações. Deste modo Orem sugere três sistemas de enfermagem

para a satisfação da necessidade de autocuidado da pessoa: sistema totalmente

compensatório, em que o enfermeiro substitui a pessoa para a promoção do autocuidado,

atendendo a que esta, por incapacidade, é completamente dependente para o

autocuidado; sistema parcialmente compensatório, quando a intervenção do enfermeiro

compensa as incapacidades de autocuidado da pessoa, isto é, juntos agem para

desempenhar as ações de autocuidado; e sistema de apoio-educação, atendendo a que

a pessoa tem capacidades para desempenhar ou aprender a desempenhar as ações de

autocuidado, mas carece da ajuda do enfermeiro para orientação, apoio e

ensino/educação (Tomey e Alligood, 2004).

A teoria do défice de autocuidado, segundo Queirós, Vidinha e Filho (2014, p.163),

proporcionou que o conceito autocuidado assumisse

(…) centralidade disciplinar pela sua capacidade de clarificar um propósito para a enfermagem [nomeadamente de reabilitação] (promover ou restituir a capacidade de autocuidado das pessoas) e pelo poder explicativo de uma acção (aquisição de competências para a autonomia e auto determinação). (…) o poder deste conceito, que permite o desenvolvimento de outros, como sejam o autocuidado estimativo, autocuidado transitivo e o autocuidado produtivo, que adquirem poder operatório e que podem ser utilizados na construção de narrativas do que fazemos e na identificação do estádio em que se situam os beneficiários da nossa ação.

É aqui que o enfermeiro de reabilitação e o enfermeiro de cuidados gerais intervêm no

sentido de a pessoa tornar-se mais autónoma atendendo às suas limitações,

desenvolvendo estratégias adaptativas que possibilitem a utilização do máximo potencial

de autocuidado. Como refere Januário (2013, p.10) “Reabilitar nem sempre significa o

_______________________________________________________________________ 49

retorno da função, mas em muitas situações é sinónimo de adaptação à nova situação de

saúde”.

Na pessoa com dispneia, muitas vezes o autocuidado está comprometido, cabendo ao

enfermeiro ajudar e educar a pessoa na gestão da sua dispneia através da prestação de

cuidados adequados e em complementaridade e sob supervisão do enfermeiro de

reabilitação, na implementação de programas de reabilitação respiratória, que promovam

melhoria da qualidade de vida. Januário (2013, p.9) reforça a relevância do enfermeiro de

reabilitação quando diz que as suas intervenções “face à diminuição das habilidades de

autocuidado, visam potenciar as capacidades da pessoa e/ou desenvolver estratégias

adaptativas que permitam a utilização do máximo potencial de autocuidado”.

Estudos realizados por Doran [et al.] 2006; Marek [et al.] 2006 e Rose [et al.] 2007

comprovam a eficácia dum programa de reabilitação na manutenção ou obtenção de

competências de autocuidado.

Assim, à luz desta teoria o enfermeiro de reabilitação tem um papel crucial para promover

e/ou restituir a capacidade de autocuidado das pessoas com dispneia, contribuindo para

a melhoria da qualidade de vida.

Também a mesa do colégio da especialidade de enfermagem de reabilitação (2011)

reforça que o treino da AVD é componente dos planos e programas de enfermagem de

reabilitação com intuito de facultar à pessoa a oportunidade de adquirir o máximo de

funcionalidade possível.

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_______________________________________________________________________ 51

Capítulo Dois - METODOLOGIA E MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

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3. TODO UM PERCURSO

Segundo Fortin (2009, p.19): “A metodologia da investigação pressupõe ao mesmo

tempo um processo racional e sistemático e um conjunto de técnicas ou de meios que

permitem realizar a investigação”.

Este capítulo destina-se a descrever o processo metodológico: objeto e objetivos de

estudo, contexto e participantes, bem como os métodos e procedimentos de recolha e

análise de dados.

3.1. Da problemática aos objetivos de estudo

A incidência de pessoas com dispneia no serviço de urgência encontra-se em progressão

e como principal causa implícita, depara-se com o conjunto das doenças do aparelho

respiratório, seguidas pelas doenças circulatórias (Braga, 2010).

Um estudo realizado no serviço de urgência em 2010 no Hospital Geral de Santo António

- Centro Hospitalar do Porto, revelou que, do grupo das doenças do aparelho respiratório,

a asma e a pneumonia são as principais patologias diagnosticadas, 20% e 15,5%

respetivamente. Quanto às patologias do aparelho circulatório é a insuficiência cardíaca

que é o motivo de dispneia em 54.8% dos doentes. Também importa mencionar que a

ansiedade se constitui como o principal distúrbio mental, associado ao aparecimento de

dispneia aguda, diagnosticado no SU (Braga, 2010).

No serviço de urgência onde foi realizada esta investigação, não há estudos realizados

neste sentido, mas pelo que é dado a observar e entender, parece-nos possível encontrar

semelhanças com os resultados supramencionados. Este serviço tem implementado o

sistema de Triagem de Prioridades de Manchester, de modo a hierarquizar o

atendimento. Todas as pessoas que a ele recorrem são triadas de acordo com a sua

sintomatologia, onde o enfermeiro triador seleciona um dos cinquenta e dois fluxogramas,

sendo “dispneia” um desses.

De acordo com a minha experiência profissional e contexto de trabalho, nos meses de

outono e inverno o número de pessoas que recorrem ao serviço de urgência com

dispneia aumenta. Como enfermeira a exercer funções num serviço de urgência, ao qual

recorrem muitas pessoas com o sintoma dispneia devido a várias patologias, quer

agudas quer crónicas, preocupada com o impacto que esta problemática tem para a

saúde e qualidade de vida das pessoas, questionamo-nos sobre o tipo de cuidados que

lhes são prestados pelos enfermeiros. Neste sentido, e tendo por base as competências

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do enfermeiro de cuidados gerais e do enfermeiro de reabilitação surgiu a necessidade

de estudar a intervenção dos enfermeiros no controlo da dispneia, com a finalidade

contribuir para a melhoria e excelência dos cuidados de enfermagem à pessoa com

dispneia no serviço de urgência, percebendo os cuidados que são prestados e

identificando a intervenção consentânea com a melhoria da prática clinica dos

enfermeiros de cuidados gerais.

Assim, na organização da ideia de pesquisa surgiram as seguintes questões de

investigação:

Quais as técnicas de controlo da dispneia mobilizadas pelos enfermeiros do

serviço de urgência, no cuidar da pessoa com dispneia?

Quais as intervenções dos enfermeiros junto da pessoa com dispneia?

Que dificuldades sentem os enfermeiros na implementação de técnicas de

controlo da dispneia?

Que necessidades de formação sobre técnicas de controlo da dispneia sentem os

enfermeiros?

Tendo por base as questões orientadoras do estudo, emergem os seguintes objetivos:

Descrever as técnicas de controlo da dispneia utilizadas pelos enfermeiros do

serviço de urgência.

Analisar as dificuldades sentidas pelos enfermeiros no serviço de urgência na sua

intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia.

Determinar as necessidades de formação dos enfermeiros do serviço de urgência

sobre técnicas de controlo de dispneia.

Dando continuação ao capítulo metodologia, abordaremos de seguida o tipo de estudo.

3.2. Tipo de estudo

Atendendo às características da problemática e aos objetivos definidos optamos pela

metodologia de investigação qualitativa de caráter exploratório descritivo. Na investigação

qualitativa, segundo Fortin (2009, p.41) “as questões de investigação são exploratórias e

interessam-se pelo vivido, sendo o objectivo descobrir, explorar, descrever e

compreender os fenómenos”.

Esta metodologia de investigação privilegia os contextos onde os fenómenos decorrem.

Segundo Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio (2006) um estudo

qualitativo procura compreender o fenómeno de estudo no seu ambiente habitual (como

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vivem as pessoas, como se comportam, como agem e o que pensam). Estes tipos de

estudos, segundo os mesmos autores “Fundamentam-se mais num processo indutivo

(exploram e descrevem e logo geram perspectivas teóricas) vão do particular para o

geral” (idem, p.11).

A pesquisa qualitativa “oferece um ponto de vista recente, natural e holístico dos

fenómenos, assim como flexibilidade”. (Hernández Sampieri, Fernández Collado e

Baptista Lucio, 2006, p.15). Esta metodologia fornece profundidade dos dados, riqueza

interpretativa, contextualização do ambiente, detalhes e experiências únicas.

Segundo Fortin (2009, p.215) “o desenho descritivo é apropriado quando o objetivo

perseguido é descrever um fenómeno ainda mal conhecido”. Sendo, neste caso, as

técnicas de controlo de dispneia mobilizadas pelos enfermeiros do serviço de urgência,

no cuidar da pessoa com dispneia.

Assim, este tipo de estudo dá-nos a possibilidade de conhecer a realidade sob o ponto de

vista dos participantes, sustentando a nossa opção para a presente investigação, onde

na voz dos enfermeiros do serviço de urgência, quisemos conhecer a sua perceção sobre

as experiências vividas ao cuidar do doente com dispneia no seu contexto profissional.

3.3. Contexto de estudo e participantes

Neste estudo os participantes são os Enfermeiros de um Serviço de Urgência médico-

cirúrgica, de um hospital que integra um Centro Hospitalar da Região Norte. Este Centro

Hospitalar possui como missão prestar cuidados de saúde de qualidade à população da

sua área de influência, assegurando, em simultâneo, o desenvolvimento profissional dos

seus colaboradores, num quadro de eficiência e eficácia. A área de influência do Centro

Hospitalar abrange dois municípios e algumas freguesias vizinhas de outros municípios o

que corresponde a cerca de 150 000 habitantes.

O serviço de Urgência comporta as seguintes especialidades: cirurgia geral, ortopedia,

medicina interna, pediatria, ginecologia, obstetrícia e anestesia. O Serviço está dividido

em duas áreas: área de adultos e área pediatria.

Poder realizar o estudo no contexto próximo do investigador foi vantajoso pelo facto de se

tornar mais fácil a colheita de dados e menos dispendiosa, quer a nível de tempo quer de

capital.

Os participantes do estudo são enfermeiros que exercem funções na área de adultos,

onde recorrem o maior número de pessoas com o sintoma dispneia e foram selecionados

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de acordo com o critério: não estar em período de integração. Este critério foi definido

percebendo-se que um enfermeiro no referido período, geralmente tem um conjunto de

dificuldades que necessita ultrapassar, muitas delas relacionadas com o tipo de

necessidades de cuidados que os doentes no SU requerem, assim como, com o

conhecimento das dinâmicas, estrutura e recursos do serviço.

No entanto, realçamos que no contexto do estudo, preferencialmente os enfermeiros

quando iniciam funções no SU já têm alguns anos de experiência profissional e

competências específicas (nomeadamente curso de suporte avançado de vida; curso de

triagem de prioridades de Manchester, entre outros) para poderem exercer funções neste

contexto.

De acordo com este critério, os participantes foram selecionados aleatoriamente, num

total de cinco enfermeiros, sendo que três são licenciados em enfermagem e dois

possuem o curso de especialização em enfermagem médico-cirúrgica, cuja caraterização

se encontra representada no quadro 2.

Quadro 2. - Caraterização dos participantes.

Enfermeiro Sexo Idade (anos)

Tempo de serviço como

enfermeiro

Tempo de serviço como enfermeiro no serviço de urgência

E1 F 29 6 anos 4 anos

E2 F 37 15 anos 6 anos

E3 F 46 21 anos 20 anos

E4 M 45 20 anos 15 anos

E5 F 35 11 anos 5 anos

Na análise do quadro 2 verifica-se que os participantes são predominantemente do sexo

feminino (80%). As idades estão compreendidas entre os 29 e 46 anos, sendo a média

de idades de 38 anos, o tempo de serviço como enfermeiro varia entre os 6 e os 21 anos,

sendo a média de 15 anos, e o tempo de serviço como enfermeiro no serviço de urgência

varia entre 4 e 20 anos, com uma média de 10 anos.

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Podemos assim, dizer que os participantes no estudo são enfermeiros experientes, tanto

no seu percurso profissional como no exercício de funções no contexto em que o estudo

decorreu.

3.4. Instrumentos e procedimentos de recolha de dados

No estudo qualitativo, segundo Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio

(2006, p.375) “a colheita de dados é fundamental, o objetivo é obter informações de

indivíduos (…) nas próprias palavras e em seu contexto”.

Na investigação qualitativa o investigador participa na recolha de dados no terreno e os

instrumentos de colheita que utiliza são a observação, a entrevista, os documentos

impressos e as notas de campo do investigador (Fortin, 2009).

Também Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio (2006, p.286) referem

que colher dados:

implica três atividades profundamente vinculadas entre si: (…) selecionar um instrumento ou método de coleta dos dados entre os disponíveis na área do estudo, (…). Esse instrumento deve ser válido e confiável, (…). Aplicar esse instrumento ou método para coletar dados, isto é, obter observações, registos ou medições de variáveis, acontecimentos, categorias ou objetos que são de interesse para o nosso estudo. (…) Preparar observações, registos e medições obtidas para que sejam analisadas corretamente.

Para este estudo, atendendo às suas características e opções que fizemos,

selecionamos como instrumentos de recolha de dados a entrevista semiestruturada e a

observação não participante e sistemática das intervenções dos enfermeiros no cuidar da

pessoa com dispneia, atendendo aos objetivos preconizados.

A entrevista é o principal método de colheita de dados na investigação qualitativa,

existindo diversas formas de fazer uma entrevista. Tradicionalmente classificam-se as

entrevistas em: não diretivas, em semidiretivas, também chamadas semiestruturadas e

em diretivas.

A entrevista semiestruturada foi a opção para este estudo, pelo facto de ser a mais

utilizada quando o investigador quer compreender o significado de um acontecimento

vivido pelos participantes, o que estes sentem e pensam em relação ao objeto de estudo.

Este tipo de entrevista permite o contacto direto do investigador com o entrevistado,

possibilita a exploração da temática sem o distanciamento da mesma, e o entrevistado

tem “(…) a ocasião de exprimir os seus sentimentos e as suas opiniões sobre o tema

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tratado. O objetivo é compreender o seu ponto de vista” (Fortin, 2009, p.377). Assim, o

entrevistador elabora uma lista de temas a abordar, formula questões (abertas ou

fechadas) sobre o tema que quer compreender, como o significado de um acontecimento

ou fenómeno (Bardin, 2011, Fortin, 2009).

Nas entrevistas que realizamos pretendemos conhecer a opinião dos enfermeiros sobre

técnicas de controlo de dispneia e as experiencias vividas no seu contexto de trabalho

pelo que elaboramos um guião (apêndice A) em outubro 2014. Este é constituído por dois

blocos temáticos, um destinado à caracterização dos participantes e outro ao

conhecimento das suas perspetivas em relação ao objeto de estudo, recorrendo a

questões abertas e a questões fechadas.

Construído o guião, foi efetuado um pré-teste a um enfermeiro do serviço que não

integrou os selecionados para o estudo, com o objetivo de verificar se as questões

sugeridas foram bem compreendidas e capazes de proporcionar dados relevantes e

pertinentes para o estudo. Após a sua realização e análise dos dados recolhidos não

surgiram dúvidas e os resultados enquadravam-se nos objetivos pretendidos pelo que o

guião não sofreu alterações.

Entre fevereiro e março de 2015 foi realizado um contacto pessoal a cada um dos

enfermeiros selecionados, e que depois foi participante, para apresentar a finalidade, os

objetivos do estudo e pedir a autorização para a realização das entrevistas e a gravação

áudio (apêndice B).

As entrevistas a cada um dos cinco enfermeiros do serviço de urgência foram realizadas

durante o horário de trabalho dos mesmos, facilitando a sua participação e agilizando o

processo de recolha de dados. Durante as entrevistas, que foram realizadas num

gabinete do serviço, foi mantido um ambiente calmo, o menos constrangedor possível e

sem interrupções por terceiros e onde os telefones e telemóveis estavam desligados.

As entrevistas permitiram perceber na voz dos participantes o que sabem e que cuidados

prestam à pessoa com dispneia. No entanto, mostrou-se pertinente conhecer as suas

práticas associando-se a observação. Como testemunha Fortin (2009, p.371) “O estudo

de observação consiste em recolher dados por meio da observação. Constitui

frequentemente o meio privilegiado de medir comportamentos humanos ou

acontecimentos”.

A observação pode ser de dois tipos: observação participante e observação não

participante.

A observação participante “(…) não é mera contemplação (…). Implica entrar a fundo em

situações sociais e manter um papel ativo, assim como uma reflexão permanente, e estar

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atento aos detalhes (…) de fatos, eventos e interações”. (Hernández Sampieri,

Fernández Collado e Baptista Lucio, 2006, p.383).

A observação não participada permite ao investigador recolher informação sobre os

comportamentos num momento em que é julgado oportuno, em meio natural e sem que o

observador tenha participação e é menos constrangedora (Fortin, 2009).

Com o intuito de identificar os cuidados que os enfermeiros prestam à pessoa com

dispneia, nomeadamente no que diz respeito ao recurso a técnicas de controlo da mesma

e, de modo a que a presença do investigador tivesse a mínima influência possível,

optamos pela observação não participante e sistemática, recorrendo a uma grelha de

observação modelo (Flick, 2009). A observação sistemática fomenta a objetividade na

colheita de dados e evita que o investigador seja influenciado (Silva, 2013).

Elaboramos uma grelha de observação (apêndice C) com base no quadro conceptual

sobre as intervenções dos enfermeiros de cuidados gerais à pessoa com dispneia,

nomeadamente no que diz respeito ao controlo do sintoma.

As observações decorreram no final de março de 2015, em dois momentos, tendo sido

escolhidos dois turnos da manhã de cada enfermeiro, pelo facto de neste turno ser maior

a probabilidade de podermos observar intervenções realizadas pelos enfermeiros e maior

disponibilidade por parte do observador. Os resultados obtidos e a limitação de tempo

para a realização da colheita de dados e do estudo, levaram-nos a não alargar o período

de observação.

Da observação realizamos registos em grelha própria, assinalando as intervenções

executadas pelos participantes e, sempre que pertinente, anotações que permitiram

perceber melhor o observado aquando a análise dos dados.

3.5. Procedimento de análise de dados

Finda a etapa de recolha de dados, inicia-se a fase de tratamento, análise e interpretação

dos resultados.

Na abordagem qualitativa “o investigador examina os dados, organiza-os e tenta penetrar

na significação dos relatos que recolheu” (Fortin, 2009, p. 301). A análise de dados na

metodologia qualitativa surge como uma fase que decorre ao longo de todo o processo

de investigação.

Após a recolha de dados iniciamos o processo de tratamento dos mesmos com recurso à

técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2011), a qual oscila entre o polo do

_______________________________________________________________________ 60

rigor da objetividade e o polo da fecundidade da subjetividade. É um instrumento

polimorfo e polifuncional.

Segundo Fortin (2009, p.379), a análise de conteúdo consiste em “(…) medir a

frequência, a ordem, a intensidade de certas palavras, de certas frases ou expressões ou

de certos factos e acontecimentos”.

Para Bardin (2011, p.44) a análise de conteúdo é

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (...) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Assim, a análise de conteúdo possibilita mostrar as estruturas e dados do conteúdo,

analizando detalhadamente todos os vocábulos e frases que o compõe; buscando o seu

sentido, identificando, comparando, avaliando e selecionando o conteúdo para clarificar

as suas distintas características e retirar o seu significado. “É válida, sobretudo, na

elaboração das deduções específicas sobre um acontecimento ou variável de inferência

precisa, e não em inferências gerais. Pode funcionar sobre corpus reduzidos e

estabelecer categorias mais descriminantes” (Bardin, 2011, p. 141).

Efetuadas as entrevistas, foram ouvidas as gravações áudio e feita a sua transcrição,

permitindo ter o primeiro contacto com o material. Definido o corpus de análise,

constituído por todas as transcrições, procedeu-se ao tratamento de dados realizando as

primeiras leituras das entrevistas com o intuito de explorar as mesmas, interpretar as

expressões dos participantes, permitindo agrupar ideias e significados em áreas

temáticas ou temas.

Bardin (2011, p.131), citando M.C. d’Unrug (1974) define tema como:

uma unidade de significação complexa, de comprimento variável; a sua validade não é de ordem linguística, mas antes de ordem psicológica: podem constituir um tema tanto uma afirmação como uma alusão; inversamente, um tema pode ser desenvolvido em várias afirmações (ou proposições). Enfim, qualquer fragmento pode remeter (e remete geralmente) para diversos temas…

Prosseguindo as leituras com a finalidade de organizar os dados que estavam em bruto,

de modo a simplificar no sentido de intensificar a sua perceção e explicação, procedemos

à codificação, categorização e integração nas diferentes áreas temáticas, que emergiram

com as primeiras leituras e análise. Bardin (2011, p.145), menciona que categorias “(…)

são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registo,

no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em

razão das características comuns destes elementos. (…)”.

_______________________________________________________________________ 61

Neste sentido, no nosso percurso de análise tornou-se importante definir o significado

dos termos utilizados na identificação das categorias, para uma melhor compreensão e

interpretação dos dados, simplificando a sua análise e ajudando na compreensão dos

resultados.

O quadro que se segue apresenta as regras aplicadas a cada categoria.

Quadro 3. - Definição de Termos

Categoria Regra aplicada

Posicionamento / Posicionar Alternância de decúbito atendendo à condição do doente. (OE, 2013).

Tosse Mecanismo fisiológico que remove as secreções do aparelho respiratório (Hoemen, 2011).

Dissociação dos tempos respiratórios

Realizar a inspiração pelo nariz e a expiração pela boca (Cordeiro e Menoita, 2012).

Percussão Técnica de cinesiterapia respiratória, em que se coloca as mãos em concha e de forma ritmada, bate na área alvo do tórax do doente (Hoemen, 2011).

Respiração abdominal

Também designada como respiração diafragmática, em que proporciona um maior movimento do diafragma, associando a consciencialização e controlo da respiração. (Cordeiro e Menoita, 2012).

Medidas Terapêuticas Conjunto de procedimentos para o controlo/tratamento da dispneia.

Monitorização de parâmetros respiratórios

Supervisionar a frequência respiratória e a saturação digital de oxigénio do doente.

Gestão de medidas terapêuticas Encarregar-se de organizar cuidados e procedimentos com fins terapêuticos.

Ensino da tosse Dar informação sistematizada sobre a técnica da tosse.

Vibração

Movimentos oscilatórios, rítmicos, de pequena amplitude e rápidos, exercidos sobre a parede do tórax, com intensidade suficiente para causar vibração a nível brônquico (Cordeiro e Menoita, 2012).

Aspiração de secreções Procedimento invasivo de remoção de secreções traqueobrônquicas das vias centrais, com recurso a vácuo (Cordeiro e Menoita, 2012).

Gerir ambiente físico Encarregar-se de organizar com eficácia o ambiente onde está o doente.

Gerir medidas de conforto Providenciar e organizar meios para o conforto do doente.

Controlo de ansiedade Conseguir regular sentimentos de angústia para diminuir a dispneia.

Controlo respiratório Controlar a respiração, tendo em conta a frequência, amplitude e ritmo, adequados à sua situação (Cordeiro e Menoita, 2012).

_______________________________________________________________________ 62

Categoria Regra aplicada

Eliminação de secreções Capacidade para remover secreções da árvore traqueobrônquica.

Maximização da autonomia Aumentar a capacidade para as atividades de vida diária.

Défice de conhecimentos Falta de conhecimentos sobre técnicas de controlo de dispneia.

Défice de recursos humanos Falta de enfermeiros e assistentes operacionais.

Recursos materiais inadequados Materiais que não satisfazem as necessidades para o cuidar da pessoa com dispneia.

Recursos físicos inadequados Instalações físicas que não satisfazem as necessidades para o cuidar da pessoa com dispneia.

Falta de tempo Escassez de tempo para prestar cuidados à pessoa com dispneia.

Melhorar a prestação de cuidados Cuidados mais adequados e com mais qualidade à pessoa com dispneia.

Melhorar o conhecimento Aperfeiçoar conhecimentos sobre técnicas de controlo de dispneia.

À medida que prosseguimos a leitura dos dados, fomos especificando cada vez mais as

categorias, emergindo subcategorias, resultando uma matriz de análise composta por

áreas temáticas, categorias e subcategorias.

Para o tratamento dos dados recolhidos através da observação, recorremos à análise

descritiva dos registos realizados em grelha própria, enriquecendo-a com as anotações

de pormenores pertinentes para o estudo.

Por último utilizamos a técnica de triangulação de métodos e de dados que segundo

Azevedo [et al.] (2013) reporta-se ao uso de variados métodos para obter os dados mais

absolutos e detalhados possíveis sobre o fenómeno. Compreende a combinação de

diversos métodos, geralmente a observação e a entrevista, de modo a compreender

melhor os distintos aspetos de uma realidade e a evitar os enviesamentos. Quanto à

triangulação de dados significa colher dados em distintos períodos e de diferentes fontes,

de modo a obter uma descrição mais rica e detalhada dos fenómenos. Segundo Duarte

(2009) a triangulação dos dados possibilita conhecer aspetos que levam à melhoria do

estudo, mostrando dados que poderiam, de outro modo permanecer escondidos.

Assim, fizemos a triangulação dos métodos utilizados neste estudo, que foram a

entrevista e a observação, e a triangulação dos dados obtidos através destes métodos.

_______________________________________________________________________ 63

4. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

A investigação é regulada por procedimentos éticos, segundo Fortin (2009, p.181),

“Qualquer que seja o tipo de estudo ou a estratégia que utiliza, o investigador é chamado

a resolver certas questões de ordem ética”. Respeitando os princípios éticos da

beneficência, da não maleficência, da autonomia e da justiça e também salvaguardando

a confidencialidade dos dados.

O princípio da beneficência tem como pressuposto fazer o bem, ajudar o outro a obter o

que é para seu benefício, sem o prejudicar. O da não maleficência prevê não prejudicar,

não praticar o mal ao outro. Quanto ao princípio da autonomia confere a capacidade de

escolha ponderada das várias alternativas propostas ou pensadas, o respeito pelas

decisões individuais e respeito pela autodeterminação. Relativamente ao princípio da

justiça as pessoas devem ter tratamento igual atendendo às suas diferenças.

Assim procedemos ao pedido de autorização (apêndice D) para a realização deste

estudo que foi enviado ao Presidente do Conselho de Administração do Centro

Hospitalar, em 18 de novembro de 2014, tendo sido homologado em 26 de novembro de

2014.

Foi pedido o consentimento informado a cada um dos participantes do estudo. Os

contactos foram efetuados no serviço, realçando o carácter facultativo e o direito à

interrupção da sua participação de forma livre e sem qualquer prejuízo para o

profissional. Foram explicados os objetivos, garantido o anonimato e sigilo, informado que

as entrevistas gravadas serão destruídas aquando do término do estudo e, que as

informações recolhidas serão codificadas e utilizadas apenas de acordo com os objetivos

e finalidades do estudo. Aos participantes foi solicitado a assinatura do consentimento

informado (apêndice B) e foram também informados de que os resultados ficarão

disponíveis para a sua consulta após a conclusão da investigação.

_______________________________________________________________________ 64

_______________________________________________________________________ 65

Capítulo Três - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

_______________________________________________________________________ 66

_______________________________________________________________________ 67

5. A INTERVENÇÃO NO CONTROLO DA DISPNEIA – NA VOZ DOS ENFERMEIROS

Este capítulo reporta-se à apresentação, análise e discussão dos resultados obtidos, das

entrevistas com o intuito de dar resposta aos objetivos a que nos propusemos atingir.

Decidimos realizar simultaneamente, a interpretação e discussão dos resultados para

facilitar a organização e a leitura. Assim, ao longo da exposição, utilizamos quadros

ilustrativos para melhor compreensão.

Do processo da análise de conteúdo das entrevistas realizadas aos enfermeiros do

serviço de urgência, emergiram cinco (5) áreas temáticas, vinte e sete (27) categorias e

quatro (4) subcategorias, como se apresenta no quadro 4.

Quadro 4. - Áreas temáticas, categorias e subcategorias emergentes das entrevistas

Área temática Categoria Subcategoria

Conhecimento sobre técnicas de

controlo de dispneia

Posicionamento

Tosse

Dissociação dos tempos respiratórios

Percussão

Respiração abdominal

Medidas terapêuticas

Intervenções dos enfermeiros à

pessoa com dispneia

Gestão de medidas terapêuticas

Oxigenoterapia

Inaloterapia

Farmacológica

Ventilação não invasiva

Monitorização de parâmetros respiratórios

Ensino da tosse

Posicionar

Dissociação dos tempos respiratórios

Percussão

Vibração

Aspiração de secreções

Gerir ambiente físico

Gerir medidas de conforto

Controlo de ansiedade

_______________________________________________________________________ 68

Área temática Categoria Subcategoria

Perceção dos enfermeiros

relativamente à importância das

técnicas de controlo de dispneia.

Controlo respiratório

Eliminação de secreções

Maximização da autonomia

Dificuldades sentidas pelos

enfermeiros na utilização das

técnicas de controlo de dispneia

Défice de conhecimentos

Défice de recursos humanos

Recursos materiais inadequados

Recursos físicos inadequados

Falta de tempo

Perceção do impacto da formação

na prática de cuidados

respiratórios.

Melhorar a prestação de cuidados

Melhorar o conhecimento

Após a identificação das cinco áreas temáticas, procedemos à análise de cada uma com

as respetivas categorias, subcategorias e unidades de registo, bem como à interpretação

e discussão dos resultados obtidos, apresentados por área temática.

5.1. Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia

Da análise de conteúdo dos discursos dos enfermeiros, sobre a área temática:

“Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia” emergiram seis categorias:

posicionamento; tosse; dissociação dos tempos respiratórios; percussão;

respiração abdominal e medidas terapêuticas.

Quadro 5. - Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia

Área temática Categoria E1 E2 E3 E4 E5

Conhecimento sobre

técnicas de controlo

de dispneia

Posicionamento X X X X X

Tosse X X X

Dissociação dos tempos respiratórios X X X

Percussão X X

Respiração abdominal X

Medidas terapêuticas X X X

_______________________________________________________________________ 69

Como podemos verificar no quadro 5, os cinco enfermeiros entrevistados consideram o

posicionamento como técnica de controlo de dispneia:

E1: “Posicionamentos, fowler alto para permitir melhor expansão pulmonar”.

E2: “posicionamentos” [referindo-se às técnicas de controlo de dispneia].

E3: “(…) posicionamentos, melhorar o posicionamento”.

E4: “posicionamentos” [referindo-se às técnicas de controlo de dispneia].

E5: “é posicionar o doente sentado, apoiado sobre uma almofada, posição de

cocheiro, de modo a ficar sentado e com os pés apoiados”.

Estes resultados vão de encontro com o que refere Cordeiro e Menoita (2012) que na

pessoa com ansiedade e dispneia, recorre-se à técnica de relaxamento: posicionamento

em decúbito semi-fowler ou em decúbito lateral em semi-fowler (de acordo com a melhor

tolerância da pessoa). Posições de descanso, técnica que tem por base a adoção de

posições corporais que ajudam a descontrair os músculos acessórios da respiração,

cintura escapular, pescoço e membros superiores, facilitando a respiração diafragmática.

Deve-se ensinar a pessoa a adotar estas posições: posição de Cocheiro sentado,

posição de Cocheiro em pé, quando está com dispneia e/ou cansaço.

Hoemen (2011) refere que se pode diminuir a dispneia ao posicionar o doente inclinado

para a frente com um ângulo de 30 a 40 graus, com os braços apoiados nas coxas ou

sobre a mesa de cabeceira, dado que melhora a elevação do diafragma, permitindo

assim um esvaziamento mais amplo dos pulmões durante a expiração.

Três enfermeiros consideram a tosse como técnica de controlo de dispneia:

E1: “Incentivar uma tosse eficaz se for possível. Explicar como deve utilizar os

músculos aumentar a pressão intratorácica e tentar expetorar eficazmente”.

E2: “ensino da tosse, tosse assistida, tosse controlada”.

E3: “ensino da tosse”.

Como vimos na revisão da literatura, a técnica da tosse assistida e tosse controlada,

fazendo parte de um programa de RFR, ajuda o doente a melhorar a permeabilidade das

vias aéreas, que por sua vez melhora o padrão respiratório diminuindo agudizações da

patologia respiratória (Cordeiro e Menoita, 2012).

Como podemos constatar o ensino da tosse não é uma técnica de controlo de dispneia,

pelo contrário uma pessoa com agudização da dispneia não consegue realizar a técnica

da tosse assistida e da tosse controlada, nem o enfermeiro consegue realizar o ensino

_______________________________________________________________________ 70

dado a pessoa não ter condições para colaborar. No entanto, reveste-se de interesse no

contexto da pessoa com patologia respiratória, pela importância do seu papel na limpeza

das vias aéreas, contribuindo assim para a diminuição da exacerbação da dispneia.

Dos cinco enfermeiros entrevistados, três referem dissociação dos tempos

respiratórios como técnica de controlo de dispneia:

E2: “dissociação de tempos respiratórios”.

E3: “controlo quando estão com ansiedade… dissociação dos tempos

respiratórios”.

E5: “dissociação dos tempos respiratórios”.

A consciencialização e controlo da respiração permitem à pessoa controlar a frequência,

amplitude e ritmo de acordo com a sua situação, obtendo uma melhor ventilação com

menor gasto de energia. O treino da expiração com os lábios semicerrados é uma técnica

útil para ajudar a pessoa com DPOC a lidar com a dispneia (Cordeiro e Menoita, 2012).

Dois enfermeiros consideram a Percussão como técnica de controlo de dispneia:

E2: “cinesiterapia respiratória: percussão”.

E3: “Cinesiterapia respiratória (…) percussão (batimentos que se faziam)”.

A percussão é uma técnica de cinesiterapia respiratória utilizada para mobilizar as

secreções, em que se coloca as mãos em concha e de forma ritmada bate na área alvo

do tórax do doente (Hoemen, 2011). Esta é uma técnica de limpeza das vias aéreas e

não de controlo de dispneia. Presto e Damázio, (2009) citado por Cordeiro e Menoita,

(2012) referem que o recurso à percussão é alvo de algumas discussões, a sua aplicação

pode levar a microatelectasias, podendo provocar broncospasmo, no entanto outros

autores afirmam que é eficaz na mobilização de secreções.

Apenas um enfermeiro refere respiração abdominal como técnica de controlo de

dispneia:

E5: “(…) na inspiração alongar a barriga e na expiração comprimir a barriga e as

costelas”.

A respiração abdominal é uma técnica utilizada para o controlo da dispneia, também

designada como respiração diafragmática, que visa diminuir o trabalho respiratório

proporcionando um maior movimento do diafragma, através de inspirações profundas e

expirações lentas, tornando a ventilação mais eficaz e obter um padrão respiratório

fisiológico. Esta técnica baseia-se na associação da consciencialização e controlo da

respiração (Cordeiro e Menoita, 2012).

_______________________________________________________________________ 71

Por último, três enfermeiros consideram algumas medidas terapêuticas como técnica de

controlo de dispneia:

E1: “nebulização com soro fisiológico, que é da nossa autonomia, para não falar

em terapêutica.” [referindo-se a outros fármacos]

E3: “Fármacos (…)”.

E4: “(…) oxigenoterapia, da qual a prescrição não tem muito a ver connosco (…)”.

Os enfermeiros consideram o recurso a fármacos, nomeadamente oxigénio e terapêutica

inalatória como técnica de controlo de dispneia. Há evidência científica que as referidas

medidas controlam a dispneia. No que diz respeito aos cuidados de enfermagem, estas

medidas não se enquadram nas suas intervenções autónomas, mas sim nas que realiza

de forma interdependente.

O uso de terapêutica inalatória é uma evidência na prática clínica, quer com finalidade

diagnóstica ou terapêutica. Existe uma panóplia de fármacos disponíveis sob a forma

inalatória que são utilizados nas pessoas com patologia respiratória (Cordeiro e Menoita,

2012).

O uso de fármacos como por exemplo: os broncodilatadores e os corticoides, nos

doentes com limpeza das vias aéreas ineficaz tem como objetivos a redução do trabalho

respiratório, por diminuir a obstrução ao fluxo aéreo e a inflamação das vias aéreas,

reduzindo os sintomas de tosse e dispneia, facultando um tratamento precoce das

exacerbações agudas e evitando a diminuição progressiva da função pulmonar (Hoeman,

2011).

Nunes (2003) in Hoeman (2011) refere que o oxigénio é parte integrante de um plano

terapêutico nas patologias do foro respiratório, em situações agudas ou crónicas.

Os resultados encontrados nesta área temática dizem-nos que os participantes têm

conhecimentos adequados sobre algumas técnicas de controlo de dispneia, no entanto

também demonstram conhecimentos que não se enquadram neste âmbito,

nomeadamente quando se refere à técnica de percussão.

5.2. Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia

Da análise de conteúdo dos discursos dos enfermeiros, sobre a área temática:

“Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia” foram agrupadas onze categorias:

gestão de medidas terapêuticas; monitorização de parâmetros respiratórios;

_______________________________________________________________________ 72

ensino da tosse; posicionar; dissociação dos tempos respiratórios; percussão;

vibração; aspiração de secreções; gerir ambiente físico; gerir medidas de conforto;

controlo de ansiedade (quadro 6).

Quadro 6. - Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia

Área temática Categoria Subcategoria E1 E2 E3 E4 E5

Intervenções dos

enfermeiros à

pessoa com

dispneia.

Gestão de medidas

terapêuticas

Oxigenoterapia X X X

Inaloterapia X X X X

Farmacológica X X X

VNI X X X X

Monitorização de

parâmetros respiratórios X X X

Ensino da tosse X X X X

Posicionar X X X X X

Dissociação dos tempos

respiratórios X X X X

Percussão X X X

Vibração X X

Aspiração de secreções X X X X X

Gerir ambiente físico X X X X

Gerir medidas de conforto X X

Controlo de ansiedade X X

Da análise dos resultados desta área temática, é de salientar que alguns enfermeiros

consideram técnicas de controlo de dispneia as intervenções que realizam ao doente com

dispneia e outros aplicam técnicas de controlo de dispneia mas não as identificam como

estando enquadradas neste tipo de técnicas.

Da categoria gestão de medidas terapêuticas emergiram quatro subcategorias:

oxigenoterapia; inaloterapia; farmacológica e ventilação não invasiva (VNI).

Na subcategoria oxigenoterapia três enfermeiros relataram:

E2: “Colocar oxigenoterapia (não é uma intervenção autónoma), (…) administrar

oxigenoterapia”.

_______________________________________________________________________ 73

E3: “Administração de oxigenoterapia (…)”.

E4: “Faço a gestão da oxigenoterapia (…) administrar oxigénio se o doente tiver

valor de saturação de oxigénio muito baixa”.

Cordeiro e Menoita (2012) refere que “A oxigenoterapia de curta duração refere-se ao

uso de oxigénio por curtos períodos, com o objetivo de alívio sintomático da dispneia,

(…)” pelo que está recomendada quando a pessoa tem saturação de oxigénio abaixo de

89% com ar ambiente e em repouso. O objetivo do oxigénio suplementar é conseguir

uma saturação de oxigénio de, pelo menos, de 90%, sendo que a oxigenoterapia não

trata a causa implícita da hipoxemia, mas leva à diminuição da sobrecarga

cardiopulmonar, melhora a mecânica pulmonar e a capacidade de exercício, consentindo

ao doente respirar com maior facilidade (Hoeman, 2011).

A prescrição de oxigenoterapia não sendo da competência do enfermeiro, este assume

um papel importante quer na sua administração face aos cuidados que lhe estão

inerentes, quer na gestão desta face à avaliação da pessoa e da sua situação.

Quanto à subcategoria inaloterapia surgiu dado quatro enfermeiros referirem:

E2: “fazer nebulizações (…) por nossa iniciativa com soro fisiológico para

fluidificar as secreções”.

E3: “faço nebulizações com soro” (…) “Quando se coloca a nebulização, faço o

ensino para deixar o ar entrar”.

E4: “Faço nebulizações, muitas vezes só com soro para fluidificar as secreções

que permite uma abertura das vias aéreas, os brônquios ficam desobstruídos”.

E5: “(…) fazer nebulizações com soro, para fluidificar as secreções”.

Nas intervenções do enfermeiro ao doente com dispneia, a maioria dos enfermeiros

referem executar inaloterapia.

A inaloterapia é um dos principais recursos terapêuticos no tratamento de doenças

respiratórias, sendo a via preferencial para administração de broncodilatadores, dado que

por esta via o fármaco é levado diretamente ao pulmão e vias aéreas, estes fármacos são

importantes na redução da resistência das vias aéreas, da hiperinsuflação e da dispneia

(Vargas [et al.], 2012).

Segundo Hoeman (2011, p. 329) “A nebulização fornece vapor de água ou medicação em

gotículas, que atravessam a árvore brônquica e entram no pulmão profundo”.

Durante a administração do aerossol deve-se incentivar a pessoa a fazer a respiração

bucal em vez da nasal (lenta e profunda). No caso de pessoas com dispneia geralmente

_______________________________________________________________________ 74

usa-se a máscara facial. A máscara facial deve ser bem ajustada, de modo a reduzir o

espaço morto e a respiração nasal, aumentando a deposição do fármaco no pulmão e

diminuindo a deposição na pele ou olhos. A terapêutica inalatória é utilizada em diversas

patologias respiratórias, nomeadamente, nas que apresentam acumulação de secreções

(Cordeiro e Menoita, 2012).

Relativamente à subcategoria farmacológica três dos cinco enfermeiros entrevistados

reportam:

E2: “fazer nebulizações que estão prescritas com terapêutica (…) limitamos a

administrar a medicação”.

E3: “Numa fase aguda limito-me mais à administração de fármacos (quando os

doentes estão na emergência) (…) Administração de (…) terapêutica”.

E5: “(…) aplicar os broncodilatadores (…) tenho o cuidado de diluir sempre com

soro fisiológico os broncodilatadores, para fluidificar melhor as secreções”.

Nas medidas farmacológicas para o tratamento da dispneia podemos incluir a

oxigenoterapia; inaloterapia com broncodilatadores e corticoides; diuréticos e o uso de

opioides como por exemplo a morfina, como referimos no início do trabalho.

Rema (2013, p.49) com a revisão de literatura que efetuou verificou “que os opioides

adequadamente administrados são fármacos seguros no tratamento da dispneia em

doentes com doença avançada (…)”.

A furosemida tem sido utilizada para o alívio da dispneia dado ao seu efeito inibitório

sobre o reflexo da tosse, previne a broncoconstrição na patologia asmática (Kamal [et al],

2012).

Como podemos verificar existem medidas farmacológicas para o controlo da dispneia e

que os participantes no estudo referem utilizar.

A subcategoria VNI surge porque quatro dos enfermeiros entrevistados a referem nas

intervenções que realizam ao doente com dispneia.

E2: “VNI melhora a dispneia em alguns doentes, deve-se adaptar bem a máscara

e ajustar os parâmetros consoante a prescrição médica, tentar que o doente

relaxe e deixe o BIPAP funcionar e ver se não tem fugas”.

E3: “Nos doentes com VNI, (…) é importante o ensino, para conseguirem tolerar a

VNI, dizer que vamos colocar uma máscara e que vão sentir uma pressão e que

têm que deixar o ar entrar”.

_______________________________________________________________________ 75

E4: “Tenho o cuidado de verificar as fugas de ar (…) se não está a fazer muita

pressão na face do doente, (…) Explicar ao doente como funciona e o que o

doente deve fazer”.

E5: “Na ventilação não invasiva, também controla a dispneia (o doente melhora),

tenho o cuidado ver se o doente tolera ou não, ver o tamanho da máscara, tenho

o cuidado de oferecer água ao doente, dado este tipo de ventilação secar muito as

mucosas (…), vigiar os parâmetros se estão adequados ao doente”.

A VNI tem como objetivos melhorar as trocas gasosas pulmonares; diminuir a acidose

respiratória aguda; reverter a hipoxemia; reverter a fadiga dos músculos respiratórios;

minimizar a dispneia (Cordeiro e Menoita, 2012).

Cada vez mais na nossa realidade hospitalar, recorre-se ao uso da VNI, como referem a

maioria dos enfermeiros. Também fazem referência ao ensino à pessoa, para uma boa

adesão à mesma, pelo que é de extrema importância o conhecimento dos enfermeiros

sobre VNI, como corrobora Hilbert [et al] (2000) in Cordeiro e Menoita (2012 p. 219) “A

formação e supervisão dos enfermeiros são essenciais para o sucesso da implementação

da VNI”.

No entanto, verifica-se que não referem cuidados respiratórios à pessoa com VNI.

Nomeadamente posicionamento, dissociação dos tempos respiratórios, limpeza das vias

aéreas, exercícios de reeducação respiratória (Silva, Carvalho e Silva, 2010).

A categoria Monitorização de parâmetros respiratórios surge porque três enfermeiros

consideram importante a monitorização da saturação de oxigénio através da oximetria de

pulso e um considera importante a vigilância da frequência respiratória nas intervenções

aos doentes com dispneia, como podemos ver nos extratos:

E1: “Vigilância dos movimentos respiratórios (…)”.

E1: “monitorização da saturação periférica”.

E4: “(…) se o doente tiver valor de saturação de oxigénio muito baixa”.

E5: “(…) monitorizar a oximetria periférica, vigiar a saturação de oxigénio, (…)”.

Utiliza-se a oximetria de pulso para avaliar a saturação de oxigénio, de forma não

invasiva e contínua. Esta avaliação contínua permite ao enfermeiro gerir a oxigenoterapia

(Hoeman, 2011).

Na categoria ensino da tosse, quatro enfermeiros relataram o seguinte:

E1: “Ensino da tosse” [utiliza para controlo da dispneia].

_______________________________________________________________________ 76

E4: “Se o doente estiver consciente e colaborante e na posição de sentado, ajudar

o doente a tossir…”

E5: “Quando o doente é capaz de aprender ensino o doente a utilizar a

musculatura abdominal, para tossir (digo que vão sair daqui com os abdominais

mais desenvolvidos) incidir mais na tosse, para conseguir expetorar melhor.

Instruir a técnica da tosse (inspirar/ expirar 2 vezes e depois tossir e utilizar a

musculatura abdominal)”.

Como já constatamos no capítulo conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia, o

ensino da tosse não controla a dispneia. Sabe-se que a tosse tem um papel importante

como mecanismo de limpeza das vias aéreas e que o ensino da tosse é uma

componente essencial de um programa de RFR, para evitar agudizações de patologias

respiratórias cujo principal sintoma é a dispneia (Cordeiro e Menoita, 2012).

Também Soares (2012, p.132) corrobora quando refere que a tosse controlada “(…) é

uma técnica que consome altos níveis energéticos, pelo que tem que ser

ensinada/treinada de forma gradual e sem produzir aumento de dispneia e cansaço”.

Relativamente à categoria posicionar, todos os enfermeiros a referem como intervenção

importante face à pessoa com dispneia, embora possamos constatar que alguns não têm

conhecimentos sobre o posicionamento a adotar de acordo com a patologia do doente.

E1: “Posicionamento” [utiliza para controlar a dispneia].

E2: “Saber qual o lado para posicionar o doente quando tem uma pneumonia,

muitas vezes posicionamos para o lado afetado, porque o doente satura melhor

(…)”.

E3: “Otimizar o posicionamento, decúbito dorsal com cabeceira elevada, em todos

os doentes numa primeira fase”.

E4: “Posicionar, ver se está a respirar bem, (…)”.

E5: “(...) Posicionamentos, ter em atenção à patologia, no caso do doente com

pneumonia, tento saber qual o lado e tento posicionar para o lado que tem a

pneumonia, numa fase mais estável do doente, tento sentá-lo apoiado sobre a

almofada…”

O posicionamento atendendo à patologia do doente é muito importante, como menciona

Hoeman (2011) a pessoa com patologia pulmonar unilateral apresentam níveis de

oxigénio arterial mais elevados quando alternam de decúbito semi-fowler e o decúbito

lateral para o lado não afetado a cada 60 a 90 minutos. A pessoa com patologia pulmonar

bilateral o posicionamento mais adequado é o fowler ou o decúbito lateral direito.

_______________________________________________________________________ 77

Relativamente à categoria Dissociação dos tempos respiratórios, quase todos os

enfermeiros utilizam esta intervenção para o controlo da dispneia, como podemos

constatar pelas unidades de registo, indo de encontro ao que referimos anteriormente.

E1: “Ensinar a inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Dependendo da patologia se

estiver a hiperventilar fazer com que respire mais devagar”.

E2: “usar a técnica da inspiração /expiração para ver se conseguem controlar um

bocadinho mais a respiração”.

E3: “Faço o ensino dos tempos respiratórios, dizer ao doente para acalmar,

inspirar pelo nariz e expirar pela boca”.

E5: “dissociação dos tempos respiratórios (dizer ao doente para fazer expiração

mais longa nos doentes com DPOC, dizer para soprar a vela, nos doentes com

pneumonia fazer com que insista na inspiração”.

Segundo Wedzicha e Martinez (2009) in Casado (2012), no doente com DPOC, o

controle nomeadamente da respiração diafragmática e expiração com os lábios

semicerrados ajuda a gestão da dispneia aquando o agravamento ou em períodos de

ansiedade ou maior esforço.

Também Gonçalves, Nunes e Sapeta (2012) na revisão da literatura que realizaram,

fazem referência a respiração com lábios franzidos e à respiração diafragmática como

estratégia para a diminuição da dispneia.

Quanto à categoria Percussão, surgiu porque três enfermeiros referem fazer percussão

à pessoa com dispneia.

E2: “Fazer as pancadinhas quando os doentes estão mais aflitos da expetoração,

faço quando o doente expira (… )” [percussão].

E3: “Às vezes fazia percussão sem ter em conta o tempo expiratório, fazia em

qualquer altura”.

E4: “geralmente não faço percussão, mas quando faço é na fase expiratória”.

Como vimos no capítulo anterior a percussão não é uma técnica de controlo de dispneia,

pelo contrário, por vezes pode desencadeá-la, pelo que podemos perceber que os

participantes têm intervenções inadequadas e prejudiciais ao controlo da dispneia.

Na categoria Vibração apenas um enfermeiro referiu que:

E1: “(…) tento fazer cinesiterapia respiratória (não é cinesiterapia respiratória

porque não sei fazer a técnica) mas tento colocar a mão em concha em baixo e

fazer movimentos vibratórios quando o doente expira, mas não sei se é o correto”.

_______________________________________________________________________ 78

O que demonstra uma intervenção inadequada, pelos mesmos motivos referidos na

categoria anterior.

Relativamente à categoria, aspiração de secreções, todos os enfermeiros dizem realizar

a intervenção para o controlo da dispneia quando a pessoa apresenta secreções.

E1: “Aspiração de secreções”.

E2: “Proceder à aspiração de secreções se for necessário”.

E3: “(…) se o doente tiver secreções e não conseguir expelir aspiro”.

E4: “Aspirar as secreções se o doente não consegue expelir, por incapacidade ou

por cansaço. (…) fluidificação de secreções, aspiração de secreções”.

E5: “Se o doente não consegue expelir as secreções aspiro o doente”.

A aspiração de secreções é um procedimento invasivo, cujo objetivo é remover

secreções traqueobrônquicas das vias centrais com recurso a vácuo, com o intuito de

melhorar a permeabilidade das vias aéreas e consequentemente melhorar a ventilação

pulmonar. Este procedimento causa desconforto e pode motivar traumatismo à pessoa

pelo que só deve ser realizado quando estritamente necessário, isto é, quando a pessoa

não consegue tossir de forma eficaz e é incapaz de eliminar as secreções que obstruem

as vias aéreas (Cordeiro e Menoita, 2012). A aspiração das vias aéreas torna-se mais

eficiente quando realizada após a administração de um broncodilatador adequado e

depois de mobilizar as secreções brônquicas.

Na categoria gerir ambiente físico, quase todos os enfermeiros mencionam que a

gestão do ambiente físico quanto à temperatura, luminosidade e ruído contribui para o

controlo da dispneia pelo que a consideram uma intervenção no controlo da dispneia,

embora refiram que muitas vezes não é possível promover a circulação/humidificação do

ar, regular temperatura do local e providenciar espaço amplo como expressam os

extratos.

E2: “colocar o doente num sítio mais calmo (…)”.

E3: “tentar controlar a luminosidade da sala. Não consigo controlar a temperatura

do ar, só se abrir a janela (…)”.

E4: “Em relação ao ambiente físico, pouco posso fazer, ruído há sempre”.

E5: “Tentar manter um ambiente calmo (…) o facto de agilizar o ambiente, correr o

cortinado, abrir a janela de forma a doente sentir que está a entrar o ar (dado a

sensação de falta de ar) (…) otimizar o ambiente físico: temperatura,

luminosidade, renovar o ar”.

_______________________________________________________________________ 79

Na categoria Gerir medidas de conforto, apenas dois enfermeiros referem providenciar

e organizar meios para o conforto do doente como intervenção ao doente com dispneia.

E3: “Colocar o doente mais confortável, retirar a roupa que aperta”.

E4: “tento falar com o doente a saber o que ele necessita para o seu conforto”.

Nestas duas categorias os enfermeiros consideram importante para o controlo da

dispneia, gerir o ambiente, bem como proporcionar medidas de conforto, o que vai de

encontro ao referido por Booth [et al.] (2008) in Roque (2010), que o facto de abrir a

janela, usar um leque, uma ventoinha ou humidificar o ambiente, contribuem para o alívio

da dispneia no doente.

Quanto à categoria controlo de ansiedade, somente um enfermeiro relatou como

intervenção ao doente com dispneia:

E2: “incentivar o doente a relaxar (…) principalmente tentar controlar a parte

ansiosa nestes doentes que é muito importante (…) tentar conversar com ele,

(…)”.

Muitas das pessoas com doenças crónicas têm dispneia que gera ansiedade como

corrobora Silva, Carvalho e Silva (2010, p.241) “(…) a doença crónica traz consigo

perdas sucessivas de independência e controle, gera sensações de luto e, como tal,

sentimentos de ansiedade, tristeza, irritação e medo”, pelo que as técnicas de

relaxamento são intervenções importantes no controlo da ansiedade e

consequentemente no controlo da dispneia.

5.3. Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das técnicas de

controlo de dispneia

Na área temática: “Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das técnicas

de controlo de dispneia”, emergiram três categorias: Controlo respiratório; Eliminação

de secreções e Maximização da autonomia, como podemos constatar no quadro 7.

Quadro 7. - Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das técnicas de controlo de dispneia

Área temática Categoria E1 E2 E3 E4 E5

Perceção dos enfermeiros

relativamente à importância das

técnicas de controlo de dispneia

Controlo respiratório X X X X X

Eliminação de secreções X X

Maximização da autonomia X X

_______________________________________________________________________ 80

Relativamente à categoria Controlo respiratório, há unanimidade por parte dos

enfermeiros, dado que todos consideram importante as técnicas de controlo de dispneia

no controlo respiratório como podemos ver pelas unidades de registo que se seguem.

E1: “(…) menos fadiga respiratória se souber fazer as pausas corretas e respirar

eficazmente”.

E2: “É importante, porque ajuda o doente a respirar melhor”.

E3: “(…) uma melhor ventilação (…)”.

E4: “(…) o doente melhora com as técnicas (…)” [ referindo-se ao controlo da

dispneia].

E5: “São fundamentais para o doente se sentir mais aliviado (…)” [referindo-se à

dispneia].

Podemos constatar ao longo deste trabalho que vários estudos apontam o benefício das

técnicas de controlo da dispneia, tal como os estudos de Braga (2009), Albernethy [et al.],

(2009), Marcinink [et al.] (2011), Kamal [et al.] (2012) que mostraram o benefício do uso

de técnicas de controlo da dispneia, no controlo respiratório.

Quanto à categoria Eliminação de secreções, surgiu porque dois enfermeiros

consideraram que:

E1: “(…) O doente beneficia se souber expetorar eficazmente, faz uma limpeza

brônquica eficaz (…)”.

E5: “(…) conseguir expelir as secreções (…).

A RFR por muitos também designada por cinesiterapia respiratória, utiliza

fundamentalmente o movimento e atua na parte mecânica da respiração, utilizando

técnicas manuais, posturais e cinéticas que podem ser aplicadas isoladamente ou em

associação com outras técnicas, um dos objetivos da cinesiterapia respiratória é mobilizar

e eliminar as secreções brônquicas e melhorar a ventilação pulmonar (Cordeiro e

Menoita, 2012). Atendendo que na pessoa com patologia respiratória, a limpeza ineficaz

das vias aéreas, leva a acumulação de secreções que podem desencadear infeções

respiratórias e consequentemente dispneia, é importante nestas pessoas intervir de modo

a manter as vias aéreas limpas.

Relativamente à categoria Maximização da autonomia, surgiu dado dois enfermeiros

referirem que:

E3: “É importante para o doente recuperar melhor”.

E5: “(…) conseguir realizar as suas atividades e melhorar a qualidade de vida”.

_______________________________________________________________________ 81

A pessoa com dispneia apresenta limitações para as suas atividades e há estudos que

referem que o controlo da dispneia através da reabilitação respiratória influencia a

autonomia da pessoa, como o realizado por Soares (2012), que demonstrou a

importância da reabilitação respiratória na preservação da autonomia da pessoa.

5.4. Dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas de controlo

de dispneia

Da análise do conteúdo das entrevistas relativamente à área temática “Dificuldades

sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas de controlo de dispneia”, emergiram

cinco categorias: Défice de conhecimento; Défice de recursos humanos; Recursos

materiais inadequados; Recursos físicos inadequados e Falta de tempo, como

podemos constatar no quadro 8.

Quadro 8. - Dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas de controlo de dispneia

Área temática Categoria E1 E2 E3 E4 E5

Dificuldades sentidas pelos

enfermeiros na utilização das

técnicas de controlo de dispneia

Défice de conhecimentos X X X

Défice de recursos humanos X X X X X

Recursos materiais

inadequados X X X X X

Recursos físicos inadequados X X

Falta de tempo X X X

A categoria Défice de conhecimentos emergiu atendendo às seguintes afirmações:

E1: “Não ter conhecimentos aprofundados sobre as técnicas”.

E2: “(…) incentivo a respiração a todos os doentes da mesma maneira, para os

acalmar, não faço diferença da patologia, não tenho experiência”.

E3: “Não faço ensino da tosse, quando os doentes têm tosse digo para tossir,

para libertar a expetoração, dou um saco com papéis para tossir (…)”.

Esta categoria evidencia o défice de conhecimentos que os enfermeiros participantes

reconhecem no que diz respeito a técnicas de controlo de dispneia. Também na área

_______________________________________________________________________ 82

temática: conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia, constatamos a falta de

conhecimento quando os enfermeiros fazem referência a cuidados e técnicas que não se

adequam ao controlo da dispneia.

O Défice de recursos humanos, emergiu das unidades de registo:

E1: “Falta de recursos humanos para posicionamentos” [auxiliares] (…).

E1: “Elevado número de doentes” [para prestar cuidados].

E2: “Recursos humanos (auxiliares) escassos para ajudar a posicionar o doente”.

E3: “Recursos humanos deficitários (…) Elevado número de doentes diminui a

qualidade dos cuidados (…)”.

E4: “(…) número elevado de doentes por enfermeiro. (…) Recursos humanos

escassos, um auxiliar para várias salas e não tenho ajuda para posicionar o

doente”.

E5: “Recursos humanos deficientes, com o número muito elevado de doentes”.

Todos os enfermeiros referem uma escassez de recursos humanos que pode

comprometer a qualidade dos cuidados prestados. Freitas e Parreira (2013 p. 172)

partilham a mesma opinião quando referem que: “É fundamental dispor de recursos de

enfermagem adequados para que os enfermeiros possam orientar a sua prática de forma

a prestar cuidados de qualidade que garantam a segurança e satisfação dos clientes”.

Também a Organização Mundial de Saúde faz referência ao problema mundial da

escassez de enfermeiros e a necessidade em fomentar o crescimento e fortalecimento

destes profissionais para não comprometer a qualidade dos cuidados de saúde.

atendendo que a dotação de enfermeiros está estreitamente relacionada com a qualidade

dos cuidados prestados (OE, 2014).

A categoria Recursos materiais inadequados, emergiu atendendo a que todos os

enfermeiros referiram que:

E1: “Os recursos materiais, macas, em que os doentes recusam-se a ficar

deitados, preferem ficar sentados, macas que se mobilizam quando se tenta

posicionar o doente”.

E2: “Posicionar os doentes nas macas que não elevam a cabeceira, falta de

almofadas”.

E3: “Dificuldade nos posicionamentos dos doentes, não se consegue elevar a

cabeceira”. (…) “Falta de almofadas”.

_______________________________________________________________________ 83

E4: “(…) défice de recursos materiais, como almofadas, apoios de braços, macas

que não são compatíveis com os posicionamentos, macas muito estreitas, não

travam”.

E5: “Dificuldade em posicionar os doentes nas macas. Não se consegue

posicionar o doente sentado, fazer um alinhamento corporal” [macas

inadequadas].

O serviço de urgência é um local onde se cuida de pessoas com as mais diversas

patologias. A elevada afluência aos referidos serviços, faz com que haja um maior

desgaste e escassez de recursos materiais dificultando as intervenções dos enfermeiros

no controlo da dispneia, nomeadamente no posicionamento adequado dos doentes, que

como vimos, é uma das intervenções autónomas de enfermagem para o controlo da

dispneia para o conforto da pessoa. Recursos materiais inadequados, condicionam a

intervenção no controlo da dispneia como é percebido e mencionado pelos participantes

no estudo.

Relativamente à categoria Recursos físicos inadequados, emergiu atendendo às

seguintes unidades de registo:

E4: “(…) pouco espaço físico para colocar os doentes”.

E5: “Dificuldade em gerir o ambiente, controlar o barulho (…)”.

Num serviço de urgência não existe lotação máxima, isto é, são atendidas todas as

pessoas que a ele recorrem, surgindo em alturas de maior afluência constrangimentos

relacionados com o espaço físico que se torna escasso e inadequado, na perspetiva dos

nossos participantes e na de Novo (2010, p.1) “A facilidade que se tem vindo a verificar

no acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente às Urgências, tem provocado alguma

desregulação pelo lado da procura, estrangulando a capacidade de resposta dos

serviços”.

Quanto à categoria Falta de tempo, emergiu dado os enfermeiros referirem que:

E2: “O tempo disponibilizado é diminuto, pouco tempo”.

E3: “(…) não há tempo para posicionar bem e mais vezes os doentes”.

E4: “Falta de tempo…” [devido ao número elevado de doentes].

E4: “Se tivesse tempo ensinava ao doente a tossir sentado, utilizando os

músculos abdominais, para poder expelir as secreções, de modo a não ficarem

acumuladas nos pulmões e provocar obstrução”.

_______________________________________________________________________ 84

Podemos assim constatar que a falta de tempo é um fator dificultador para os

enfermeiros intervirem de uma forma adequada junto da pessoa com dispneia.

Podemos concluir que as dificuldades sentidas por estes profissionais no contexto deste

estudo são comuns às dificuldades sentidas por outros profissionais noutros serviços de

urgência como se pode constatar pelo estudo realizado num serviço de urgência por

Veiga [et al.] (2009) onde concluíram que:

os enfermeiros têm a noção que muitas das intervenções terapêuticas colidem com uma série de dificuldades, relacionadas com as condições físicas, mas não exclusivamente, apontando outras, tais como a falta de recursos humanos, recursos materiais, sobrecarga de trabalho e escassez de formação.

5.5. Perceção do impacto da formação na prática de cuidados respiratórios

À luz da análise das entrevistas realizadas referentes à área temática “Perceção do

impacto da formação na prática de cuidados respiratórios”, emergiram duas categorias:

Melhorar a prestação de cuidados e Melhorar o conhecimento, como podemos

verificar através do quadro 9.

Quadro 9. - Perceção do impacto da formação na prática de cuidados respiratórios

Área temática Categoria E1 E2 E3 E4 E5

Perceção do impacto da

formação na prática de

cuidados respiratórios

Melhorar a prestação de cuidados X X

Melhorar o conhecimento X X X X X

A categoria Melhorar a prestação de cuidados surgiu atendendo às seguintes unidades

de registo:

E3: “Para dar continuidade aos cuidados e melhorar a qualidade dos mesmos”.

E4: “Acho que necessitamos de formação para uniformizar as técnicas, que são

mais usuais…”

Relativamente a categoria Melhorar o conhecimento, emergiu das seguintes

afirmações:

E1: “Desconhecimento de algumas técnicas”.

_______________________________________________________________________ 85

E2: “Naquelas coisinhas mais pontuais, como a tosse, dissociação dos tempos

respiratórios. (…) Com a formação podemos ir buscar coisas que estão no

esquecimento”.

E3: “Para ter conhecimento nesta área, que é deficitário”.

E4: “poder praticar para não ficar esquecida”.

E5: “Falarmos de pequenos pormenores que muitas vezes fazem a diferença. Ser

alertado para pormenores que muitas vezes passam despercebidos”.

Do conjunto destas unidades de registo das duas últimas categorias podemos verificar

que os enfermeiros têm consciência da importância da formação quer na melhoria do

conhecimento, quer na melhoria da prestação de cuidados dado serem duas vertentes

interligadas.

Do abrangente conjunto de funções e competências dos enfermeiros e dos enfermeiros

especialistas, emergem importantes e relevantes as que se relacionam com o domínio do

desenvolvimento profissional, onde o enfermeiro assume responsabilidade pela

aprendizagem ao longo do exercício da sua profissão, manutenção e aperfeiçoamento

das competências. Neste âmbito o enfermeiro especialista:

(…) Baseia a sua praxis clínica especializada em sólidos e válidos padrões de conhecimento. (…). Responsabiliza-se por ser facilitador da aprendizagem, em contexto de trabalho, na área da especialidade.(…). Atua como formador oportuno em contexto de trabalho, na supervisão clínica e em dispositivos formativos formais. (…) Diagnostica necessidades formativas. (…). Concebe e gere programas e dispositivos formativos. (…) Favorece a aprendizagem, a destreza nas intervenções e o desenvolvimento de habilidades e competências dos enfermeiros. (…) Avalia o impacto da formação (Regulamento 122/2011).

Em síntese podemos inferir que é fundamental na prática de enfermagem conseguir

profissionais (in)formados, participativos e proativos uma vez que a prática de cuidados

respiratórios dependerá em grande parte da aprendizagem conseguida, isto é, que o

enfermeiro tenha conhecimentos e competências para garantir a excelência nos cuidados

à pessoa com dispneia.

_______________________________________________________________________ 86

6. OBSERVAÇÃO DAS INTERVENÇÕES DOS ENFERMEIROS À PESSOA COM

DISPNEIA – UMA FORMA ADICIONAL DE INFORMAÇÃO

Com o intuito de complementar os dados obtidos pelas entrevistas, realizamos a

observação não participante e sistemática das intervenções dos enfermeiros à pessoa

com dispneia, com base na grelha construída pelo investigador.

Procedemos à análise dos dados resultantes das observações efetuadas a cada

participante do estudo (quadro 10), acrescida das anotações que foram realizadas

durante a observação.

Quadro 10. - Dados da observação

Intervenções dos enfermeiros 1ª Observação 2ª Observação

Realiza Não

realiza

Não

observado Realiza

Não

realiza

Não

observado

Posição de descanso e

relaxamento

Deitado E1,E2,E3,

E4, E5 --------- ------------

E1,E2,

E3,E4,

E5

----------- --------------

Sentado ---------- ---------- E1,E2,E3,

E4,E5 ----------- -----------

E1,E2,E3,

E4,E5

Ensino de posições de

descanso e relaxamento

Deitado ----------- E1,E2,E3,

E4,E5 ------------ -----------

E1,E2,E3,

E4,E5 ---------------

Sentado ---------- --------- E1,E2,E3,

E4,E5 E5 ----------- E1,E2,E3,E4

Em pé ---------- --------- E1,E2,E3,

E4,E5 ---------- -----------

E1,E2,E3,

E4,E5

Ensino de dissociação de tempos

respiratórios E5

E1,E2,E3,

E4 ------------ E5

E1,E2,E3,

E4 -------------

Ensino de exercícios de respiração

abdominal E5

E1,E2,E3,

E4 ------------ E5

E1,E2,E3,

E4 -------------

Ensino de tosse controlada E5 E1,E2,E3,

E4 ------------ E5

E1,E2,E3,

E4 -------------

Tosse assistida --------- E1,E2,E3

E4,E5 ------------ ---------

E1,E2,E3,

E4,E5 --------------

Identifica necessidade de aspiração

de secreções

E1,E2,E3,

E4,E5 --------- ------------

E1,E2,

E3,E4,

E5

----------- ---------------

Executa aspiração de secreções E1,E2,E3,

E4,E5 --------- ------------

E1,E2,

E3,E4,

E5

----------- --------------

Executa inaloterapia E1,E2,E3,

E4,E5 --------- ------------

E1,E2,

E3,E4,

E5

----------- --------------

Otimiza ambiente físico

(temperatura, ruído e luminosidade)

E1,E2,E3,

E4,E5 --------- ------------

E1,E2,

E3,E4,

E5

----------- -------------

Como podemos conferir no quadro 10, em conjugação com as anotações realizadas,

percebemos que os cinco enfermeiros executam o posicionamento de descanso e

relaxamento deitado, três dos enfermeiros utilizam a posição de fowler em decúbito

dorsal, quando o doente está dispneico e recorrem ao uso de almofadas para colocar sob

a região poplítea de forma a acompanhar a flexão dos joelhos e contribuir para o

_______________________________________________________________________ 87

relaxamento do doente. Os outros dois enfermeiros posicionam o doente em decúbito

dorsal e nos laterais com cabeceira elevada, tendo em atenção a patologia do doente e

tentam perceber para que lado ventila melhor. Todos os enfermeiros referem que as

macas são estreitas e que existem poucas almofadas, impedindo e/ou dificultando a

realização do posicionamento correto.

Quanto à intervenção posição de descanso e relaxamento sentado, na primeira e na

segunda observação não foi possível observar esta intervenção.

Na intervenção ensino de posições de descanso e relaxamento deitado nenhum dos

enfermeiros realizou esta intervenção. Apenas um enfermeiro fez ensino de posições de

descanso e relaxamento sentado, no segundo momento de observação. Relativamente

ao ensino de posições de descanso e relaxamento em pé não foi observado em nenhum

dos momentos.

Verificamos nos dois momentos de observação que apenas um enfermeiro realiza ensino

de dissociação dos tempos respiratórios.

Também o mesmo enfermeiro realizou ensino de exercícios de respiração abdominal,

nos dois momentos de observação, os outros cinco enfermeiros não realizaram.

Relativamente à intervenção ensino de tosse controlada, mais uma vez apenas um

enfermeiro realizou este tipo de intervenção.

Quanto à intervenção tosse assistida verificamos que nenhum enfermeiro a realizou nos

dois momentos de observação.

Todos os enfermeiros, na primeira e na segunda observação identificaram a necessidade

de aspiração de secreções, executaram aspiração de secreções e executaram

inaloterapia.

Relativamente à intervenção otimiza ambiente físico (temperatura, ruído e luminosidade),

na primeira e na segunda observação, todos os enfermeiros tentaram otimizar o ambiente

físico, mas sentiram dificuldades em virtude das condições físicas do serviço

nomeadamente ausência de ar condicionado e também pela existência de muito ruído

devido ao elevado número de doentes.

Pelos resultados das entrevistas e da observação, verificamos que todos os enfermeiros

referem realizar o posicionamento como técnica de controlo de dispneia e também

observamos que executam posicionamento de descanso e relaxamento deitado.

Um enfermeiro referiu que conhece como técnica de controlo de dispneia a posição de

descanso e relaxamento sentado, mas não foi observado a sua realização, apenas um

enfermeiro fez ensino sobre esta técnica.

_______________________________________________________________________ 88

Os enfermeiros conhecem e executam posições de descanso e relaxamento deitado, não

fazem referência a ensino de posicionamentos, mas foi constatado na observação a

realização por um enfermeiro de ensino sobre posição de descanso e relaxamento

sentado.

Os enfermeiros referiram conhecer a técnica de controlo de dispneia – dissociação dos

tempos respiratórios – e referiram também que a utilizam na intervenção ao doente com

dispneia, mas apenas foi observado um enfermeiro a ensinar esta técnica.

Na observação verificou-se que um enfermeiro fez ensino de exercícios de respiração

abdominal, tendo sido o mesmo enfermeiro que na entrevista referiu como técnica de

controlo de dispneia.

Relativamente ao ensino da tosse os enfermeiros referiram conhecê-la como técnica de

controlo de dispneia e utilizá-la na sua intervenção na pessoa com este sintoma, mas

apenas foi observado um enfermeiro a realizá-la.

A tosse assistida foi mencionada por um participante, mas não se observou ninguém a

realizar esta intervenção.

Podemos concluir que há consonância entre os achados das entrevistas e os da

observação, relativamente às intervenções: posição de descanso e relaxamento deitado,

aspiração de secreções, gestão de medidas terapêuticas e gestão do ambiente físico, qu

fazem parte do conhecimento e da prática de cuidados dos enfermeiros participantes no

estudo.

Alguns enfermeiros referiram como técnica de controlo de dispneia a percussão e que

realizavam à pessoa com dispneia percussão e vibração. Estas não sendo técnicas de

controlo de dispneia, não foram contempladas na grelha de observação, nem foram

observadas em nenhum momento.

Todos os participantes referiram que os recursos materiais interferiam na utilização de

técnicas de controlo de dispneia. No contexto constatamos a escassez de almofadas, as

macas disponíveis estreitas sendo inadequadas face à estrutura física de alguns doentes,

algumas só permitiam elevar a cabeceira cerca de trinta graus e outras cerca dos

noventa graus, no entanto observou-se que os enfermeiros davam prioridade à utilização

de macas que permitiam uma maior elevação para colocar os doentes com dispneia e

quando não tinham estas disponíveis, posteriormente trocavam de maca. Também, se

constatou a inexistência de camas no serviço de urgência, incluindo na sala de

observações dado o espaço físico ser reduzido. Outro facto constatado na observação foi

o elevado número de doentes, que na realidade dificultava a gestão do tempo referido

nas entrevistas pelos participantes. Quanto à gestão/otimização do ruído também se

_______________________________________________________________________ 89

constatou as dificuldades referidas pelos enfermeiros. A impossibilidade de otimizar a

temperatura foi uma realidade verificada. Atendendo que a colheita de dados foi realizada

em plena época de frio, e a temperatura no local rondava os vinte e cinco graus não

existindo forma de regular a temperatura, exceto através da abertura de janelas como

referido nas entrevistas pelos participantes.

_______________________________________________________________________ 90

_______________________________________________________________________ 91

CONCLUSÕES

Na sociedade em que vivemos, assistimos a um aumento das doenças crónicas que

limitam as capacidades funcionais e diminuem a qualidade de vida.

O número de internamentos hospitalares por doença respiratória tem vindo a aumentar.

Em Portugal, em 20 anos, os internamentos por doenças respiratórias aumentaram

26,7% (ONDR, 2015). A dispneia é um sintoma comum nas diversas doenças do foro

respiratório.

O controlo da dispneia representa uma grande luta para os profissionais de saúde em

todas as vertentes, dada a centralidade da respiração na preservação da vida.

A dispneia está entre os sintomas mais comuns dos doentes que recorrem ao serviço de

urgência. No tratamento ao doente, as abordagens abarcam o tratamento da causa da

dispneia, a gestão dos sintomas e das questões psicológicas que contribuem para a

mesma (Fabbro, Shalini e Bruera, 2006).

A presença de dispneia é um fator limitativo para a pessoa, provocando-lhe um certo

desinteresse pelo que a rodeia, diminuindo a qualidade de vida da pessoa/família,

particularmente no que diz respeito à capacidade para a realização das atividades de

vida.

Tendo em conta que o controlo da dispneia melhora a qualidade de vida das pessoas,

reduz os internamentos e consequentemente reduz os custos com a saúde, tornou-se

pertinente desenvolver este estudo com o intuito de conhecer a intervenção dos

enfermeiros no controlo da dispneia.

Os resultados desta investigação conduzem às seguintes conclusões:

- Os participantes no estudo dizem conhecer e realizar posições de descanso e

relaxamento no controlo da dispneia, tendo-se verificado estas práticas de cuidados com

a pessoa deitada. O ensino destes cuidados parece estar muito pouco presente na

intervenção destes enfermeiros.

- A dissociação dos tempos respiratórios e a respiração abdominal fazem parte do

conhecimento dos participantes e dizem que recorrem à primeira. Mas, apenas foi

possível observar um participante a realizar estas técnicas que se constituem como

fundamentais para o controlo da dispneia, levando-nos a questionar sobre a razão de não

recorrerem a estas intervenções de primeira linha no cuidado da pessoa com dispneia.

- Estimular e ensinar a pessoa a tossir, permitindo a limpeza das vias áreas e assim

controlar a dispneia, faz parte do conhecimento e das intervenções que os participantes

_______________________________________________________________________ 92

dizem realizar. A prática demonstrou que apenas um enfermeiro recorria a estas técnicas,

no entanto, a aspiração de secreções é a intervenção a que todos os participantes

recorrem.

- No controlo da dispneia, os participantes conhecem e gerem a execução de outras

medidas terapêuticas não farmacológicas, assim como farmacológicas. Associam, ainda,

medidas destinadas a promover um ambiente facilitador do relaxamento e de condições

ambientais favorecedoras do controlo da dispneia.

- Pertinente e relevante emerge o facto de os participantes perceberem a importância das

técnicas de controlo da dispneia para o controlo respiratório e a maximização da

autonomia da pessoa com esta sintomatologia.

- As dificuldades sentidas pelos enfermeiros do serviço de urgência que participaram no

estudo, na sua intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia,

relacionam-se com o défice de conhecimentos reconhecida por estes, mas que também é

percebido quando dizem conhecer e recorrer a técnicas e manobras de reabilitação

respiratória inadequadas para o controlo da dispneia como seja a percussão e a vibração.

- Os participantes deparam-se ainda com obstáculos relacionadas com o défice de

recursos humanos, com recursos materiais e físicos inadequados. Por último aludiram a

falta de tempo como impedimento na utilização de técnicas de controlo de dispneia.

Ultrapassar estas dificuldades, com vista a melhorar a qualidade dos cuidados de

enfermagem prestados às pessoas com dispneia no serviço de urgência é fundamental,

reconhecendo-se um papel importante dos responsáveis pela gestão das unidades de

cuidados e do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação pelas

competências que detém, uma vez que os participantes reconhecem a necessidade de

formação no âmbito das técnicas de controlo de dispneia.

O presente estudo aponta para a importância das técnicas de controlo de dispneia, no

cuidar da pessoa com esta sintomatologia que tanto afeta a qualidade de vida, que são

parte integrante de um programa de reabilitação respiratória, do qual o enfermeiro

especialista em enfermagem de reabilitação é o elemento “pivot”. Das competências do

enfermeiro especialista faz parte, ainda facilitar a aprendizagem em contexto de trabalho

e atuar como formador, contribuindo deste modo para ganhos em conhecimento e

qualidade de cuidados de enfermagem, e consequentemente na excelência dos cuidados

prestados à pessoa com dispneia.

Assim, propomos a realização de dispositivos de formação destinada aos enfermeiros do

serviço de urgência, no âmbito dos cuidados de enfermagem respiratórios, com sessões

_______________________________________________________________________ 93

teóricas e práticas em grupos de oito a dez enfermeiros, com o objetivo de desenvolver

competências para a prestação de cuidados de enfermagem no controlo da dispneia.

Este estudo de investigação constitui-se uma experiência ímpar e laboriosa de

enriquecimento profissional e pessoal. Existiram dificuldades e adversidades pessoais

que fomos superando ao longo deste percurso, e que se constituíram como força

impulsionadora para a concretização dos objetivos propostos.

Sugerimos, ainda, o desenvolvimento de outros estudos no sentido de uma melhor

compreensão desta temática, de forma a implementar medidas que possam contribuir

para o controle da dispneia e que demonstrem a eficácia dos cuidados de enfermagem

de reabilitação e em particular da reabilitação respiratória, atendendo a que “A

Reabilitação Respiratória é virtualmente inexistente em Portugal. A ela apenas tem

acesso menos de 1% dos doentes que dela beneficiariam. É urgente a criação duma

Rede Nacional de Reabilitação Respiratória.” (ONDR, 2015 p.13).

_______________________________________________________________________ 94

_______________________________________________________________________ 95

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_______________________________________________________________________ 103

APÊNDICES

APÊNDICE A – GUIÃO DA ENTREVISTA

Guião da entrevista

I- Apresentação ao entrevistado

Maria Adelaide Gomes Costa, Enfermeira do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do

Conde, EPE, a frequentar o Curso de Mestrado em Enfermagem de Reabilitação na

Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, a desenvolver um

estudo sobre “A Intervenção dos Enfermeiros no controlo da dispneia”, com os seguintes

objetivos: descrever as técnicas de controlo da dispneia utilizadas pelos enfermeiros do

serviço de urgência; analisar as dificuldades sentidas pelos enfermeiros no serviço de

urgência na sua intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia e

determinar as necessidades de formação dos enfermeiros do serviço de urgência sobre

técnicas de controlo de dispneia.

II- Consentimento para a realização, gravação da entrevista e participação no

estudo

A realização deste estudo, implica a colheita de dados através da entrevista

semiestruturada a enfermeiros que prestam cuidados no serviço de urgência – área

adultos. Deste modo peço o consentimento e colaboração na realização desta entrevista,

que terá aproximadamente 30 minutos de duração, durante a qual poderá interromper

sempre que pretender. As informações obtidas são confidenciais e apenas serão

utilizadas no estudo. Os resultados do estudo ficarão disponíveis para consulta após a

sua conclusão.

Agradeço a disponibilidade e colaboração para a realização deste estudo.

III- Entrevista

Idade _____ anos

Sexo:

Feminino

Masculino

Tempo de serviço:

Como Enfermeiro _____ anos

Como Enfermeiro no serviço de urgência _____ anos

P1: Quais as técnicas de controlo de dispneia que conhece?

(se respondeu de forma afirmativa à questão, passa a P2; se não conhece estas

técnicas, passa a P3)

P2: Nos cuidados ao doente com dispneia que técnicas de controlo utiliza?

P3: Que cuidados presta a estas pessoas?

P4: Qual a importância que atribui a estas técnicas de controlo para o cuidar da pessoa

com dispneia?

P5: Quais as dificuldades que sente na intervenção relativamente às técnicas de controlo

da dispneia?

P6: Sente necessidade de formação nesta área?

Sim

Não

Porquê?

APÊNDICE B – CONSENTIMENTO INFORMADO

CONSENTIMENTO INFORMADO

Estudo de investigação

“A intervenção dos Enfermeiros no controlo da dispneia”

Eu, abaixo assinado (nome completo)_______________________________________,

declaro que: após devidamente esclarecido(a) da natureza e objetivos do estudo e com a

garantia do meu anonimato e da confidencialidade dos dados recolhidos, autorizo a

utilização dos mesmos para este estudo de investigação.

Em qualquer momento posso abandonar o estudo, não decorrendo daí qualquer tipo de

prejuízo.

Viana do Castelo,______ de _______________ de 2015

Assinatura do entrevistado __________________________________ Assinatura do investigador __________________________________

(Maria Adelaide Gomes Costa)

APÊNDICE C – GRELHA DE OBSERVAÇÃO

Grelha de Observação

1 2 3 4 5

1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª

Inte

rven

ções

1- Posição de descanso e relaxamento deitado sentado

2- Ensino de posições de descanso e relaxamento deitado sentado em pé

3 - Ensino de dissociação dos tempos respiratórios 4 - Controle do tempo expiratório 5 - Ensino de exercícios de respiração abdominal 6 - Ensino de tosse controlada 7 - Tosse eficaz 8 - Tosse assistida 9 - Identifica necessidade de aspiração de secreções 9.1 - Sim

9.2 Não 9 - Se 9.1,Faz aspiração de secreções Sim

Não 10 - Executar inaloterapia Sim

Não 11 - Otimizar ambiente físico temperatura

ruído luminosidade

APÊNDICE D – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO

Exmo. Senhor Presidente

do Conselho de Administração do CHPV/ VC, EPE

Maria Adelaide Gomes Costa, Enfermeira com cédula profissional nº 08581, a exercer

funções no Serviço de Urgência - área adultos do CHPV/VC, EPE, a frequentar o Curso

de Mestrado em Enfermagem de Reabilitação na Escola Superior de Saúde do Instituto

Politécnico de Viana do Castelo, pretende desenvolver uma dissertação subordinada ao

tema “A Intervenção dos Enfermeiros no controlo da dispneia”, com os objetivos:

descrever as técnicas de controlo da dispneia utilizadas pelos enfermeiros do serviço de

urgência; analisar as dificuldades sentidas pelos enfermeiros no serviço de urgência na

sua intervenção relativamente às técnicas de controlo de dispneia e determinar as

necessidades de formação dos enfermeiros do serviço de urgência sobre técnicas de

controlo de dispneia, sob a orientação da Professora Especialista na Área Cientifica de

Enfermagem Maria José Fonseca e coorientação da Professora Doutora Salete Soares.

Neste sentido, solicita junto de Vossa Excelência que lhe seja permitido efectuar a

recolha de dados, utilizando como instrumentos a entrevista semiestruturada e a

observação, junto dos Enfermeiros do Serviço de Urgência - área adultos desta

Instituição. Bem como a consulta de dados estatísticos do CPPV/VC, EPE.

Anexo guião da entrevista.

Pede deferimento,

Póvoa de Varzim, 18 de novembro de 2014

_______________________________________________________

(Maria Adelaide Gomes Costa)

APÊNDICE E – MATRIZ FINAL DE ANÁLISE DE DADOS DAS ENTREVISTAS

MATRIZ FINAL DE ANÁLISE DE DADOS DAS ENTREVISTAS.

ÁREA TEMÁTICA: Conhecimento sobre técnicas de controlo de dispneia

Categoria Unidades de Registo

Posicionamento

E1: “Posicionamentos, fowler alto para permitir melhor

expansão pulmonar”.

E2: “posicionamentos” [referindo-se às técnicas de controlo de

dispneia].

E3: “… posicionamentos, melhorar o posicionamento”.

E4: “posicionamentos” [referindo-se às técnicas de controlo de

dispneia].

E5: “é posicionar o doente sentado, apoiado sobre uma

almofada, posição de cocheiro, de modo a ficar sentado e com

os pés apoiados”.

Tosse

E1: “Incentivar uma tosse eficaz se for possível. Explicar como

deve utilizar os músculos aumentar a pressão intratorácica e

tentar expetorar eficazmente”.

E2: “ensino da tosse, tosse assistida, tosse controlada”

E3: “ensino da tosse”.

Dissociação dos

tempos respiratórios

E2: “dissociação de tempos respiratórios”.

E3: “controlo quando estão com ansiedade… dissociação dos

tempos, respiratórios”.

E5: “dissociação dos tempos respiratórios (…).”

Percussão

E2: “cinesiterapia respiratória: percussão”.

E3: “cinesiterapia respiratória… percussão (batimentos que se

faziam)”.

Respiração

abdominal

E5: “…na inspiração alongar a barriga e na expiração comprimir

a barriga e as costelas”.

Medidas

terapêuticas

E1: “nebulização com soro fisiológico, que é da nossa

autonomia, para não falar em terapêutica” [referindo-se a outros

fármacos].

E3: “Fármacos (…)”.

E4: “(…) oxigenoterapia, da qual a prescrição não tem muito a

ver connosco…”

ÁREA TEMÁTICA: Intervenções dos enfermeiros à pessoa com dispneia

Categoria Subcategoria Unidades de Registo

Gestão de medidas

terapêuticas

Oxigenoterapia

E2: “Colocar oxigenoterapia (não é

uma intervenção autónoma),…”

E2: “administrar oxigenoterapia”.

E3: “Administração de

oxigenoterapia…”

E4: “Faço a gestão da

oxigenoterapia… administrar oxigénio

se o doente tiver valor de saturação

de oxigénio muito baixa”.

Inaloterapia

E2: “fazer nebulizações… por nossa

iniciativa com soro fisiológico para

fluidificar as secreções”.

E3: “faço nebulizações com soro”.

E3: “Quando se coloca a nebulização

faço o ensino para deixar o ar entrar”.

E4: “Faço nebulizações, muitas vezes

só com soro para fluidificar as

secreções que permite uma abertura

das vias aéreas, os brônquios ficam

desobstruídos”.

E5: “…fazer nebulizações com soro,

para fluidificar as secreções”.

Farmacológica E2: “fazer nebulizações que estão

prescritas com terapêutica,…”

E2: “limitamos a administrar a

medicação”.

E3: “Numa fase aguda limito-me mais

à administração de fármacos (quando

os doentes estão na emergência)…

Administração de … terapêutica”.

E5: “…aplicar os broncodilatadores…

tenho o cuidado de diluir sempre com

soro fisiológico os broncodilatadores,

para fluidificar melhor as secreções”.

Ventilação não invasiva E2: “VNI melhora a dispneia em

alguns doentes, deve-se adaptar bem

a máscara e ajustar os parâmetros

consoante a prescrição médica, tentar

que o doente relaxe e deixe o BIPAP

funcionar e ver se não tem fugas”.

E3: “Nos doentes com VNI, (…) é

importante o ensino, para

conseguirem tolerar a VNI, dizer que

vamos colocar uma máscara e que

vão sentir uma pressão e que têm que

deixar o ar entrar”.

E4: “Na ventilação não invasiva, (…)

Tenho o cuidado de verificar as fugas

de ar (…) se não está a fazer muita

pressão na face do doente, (…).

Explicar ao doente como funciona e o

que o doente deve fazer”.

E5: “(…) tenho o cuidado ver se o

doente tolera, ou não, ver o tamanho

da máscara, tenho o cuidado de

oferecer água ao doente, dado este

tipo de ventilação seca muito as

mucosas (…), vigiar os parâmetros se

estão adequados ao doente”.

Categoria Unidades de registo

Monitorização de

parâmetros

respiratórios

E1: “Vigilância dos movimentos respiratórios (…)”.

E1: “monitorização da saturação periférica”.

E4: “(…) se o doente tiver valor de saturação de oxigénio muito

baixa”.

E5: “(…) monitorizar a oximetria periférica, vigiar a saturação de

oxigénio, (…)”.

Ensino da tosse E1: “Ensino da tosse”. [utiliza para controlo da dispneia]

E4: “Se o doente estiver consciente e colaborante e na posição

de sentado, ajudar o doente a tossir…”

E5: “Quando o doente é capaz de aprender ensino o doente a

utilizar a musculatura abdominal, para tossir (digo que vão sair

daqui com os abdominais mais desenvolvidos) incidir mais na

tosse, para conseguir expetorar, melhor. Instruir a técnica da

tosse (inspirar/ expirar 2 vezes e depois tossir e utilizar a

musculatura abdominal)”.

Posicionar E2: “Optimizar o posicionamento, fazer um posicionamento em

semi fowler ou em fowler”.

E2: “Mobilizar os doentes para soltar as secreções”.

[posicionamento]

E3: “Optimizar o posicionamento, decúbito dorsal com

cabeceira elevada, em todos os doentes numa primeira fase”.

E4: “Posicionar, ver se está respirar bem,…”

E5: “sentar o doente, principalmente quando estão a fazer

nebulizações”

E5: “(...) Posicionamentos, ter em atenção à patologia, no caso

do doente com pneumonia, tento saber qual o lado e tento

posicionar para o lado que tem a pneumonia, numa fase mais

estável do doente, tento sentá-lo apoiado sobre a almofada…”

E1: “Posicionamento” [utiliza para controlar a dispneia]

E2: “Saber qual o lado para posicionar o doente quando tem

uma pneumonia, muitas vezes posicionamos para o lado

afetado, porque o doente satura melhor. …”

E3: “Numa primeira abordagem é o posicionamento, dorsal com

cabeceira elevada 30 a 45º”.

E4: “Habitualmente o posicionamento”.

E2: “Mobilizar os doentes para soltar as secreções”.

E4: “(…) posicionar o doente com a cabeça mais baixa em

relação ao tronco, para drenagem de secreções, (…)”.

E4: “(…) posicionamento em decúbitos laterais, para drenar as

secreções”.

Dissociação dos

tempos respiratórios

E2: “usar a técnica da inspiração/expiração para ver se

conseguem controlar um bocadinho mais a respiração”.

E1: “Ensinar a inspirar pelo nariz e expirar pela boca.

Dependendo da patologia se estiver a hiperventilar fazer com

que respire mais devagar”.

E2: “(…) controlar a respiração tempo de respiração mais

controlado,(…) respirar pelo nariz, (…)”.

E3: “Faço o ensino dos tempos respiratórios, dizer ao doente

para acalmar, inspirar pelo nariz e expirar pela boca”.

E5: “dissociação dos tempos respiratórios (dizer ao doente para

fazer expiração mais longa nos doentes com DPOC, dizer para

soprar a vela, nos doentes com pneumonia fazer com que

insista na inspiração”.

Percussão E2: “Fazer as pancadinhas quando os doentes estão mais

aflitos da expetoração, faço quando o doente expira (… )”.

[percussão]

E3: “Às vezes fazia percussão sem ter em conta o tempo

expiratório, fazia em qualquer altura”.

E4: “geralmente não faço percussão, mas quando faço é na

fase expiratória.”

Vibração E1: “(…) tento fazer cinesiterapia respiratória (não é

cinesiterapia respiratória porque não sei fazer a técnica) mas

tento colocar a mão em concha em baixo e fazer movimentos

vibratórios quando o doente expira, mas não sei se é o correto”.

Aspiração de

secreções

E1: “Aspiração de secreções”.

E2: “Proceder à aspiração de secreções se for necessário”.

E3: “(…) se o doente tiver secreções e não conseguir expelir

aspiro”.

E4: “Aspirar as secreções se o doente não consegue expelir,

por incapacidade ou por cansaço. (…) fluidificação de

secreções, aspiração de secreções”.

E5: “Se o doente não consegue expelir as secreções aspiro o

doente”.

Gerir ambiente

físico

E2: “colocar o doente num sítio mais calmo …”

E3: “tentar controlar a luminosidade da sala. Não consigo

controlar a temperatura do ar, só se abrir a janela…”

E4: “Em relação ao ambiente físico, pouco posso fazer, ruido há

sempre”.

E5: “Tentar manter um ambiente calmo… o facto de agilizar o

ambiente, correr o cortinado, abrir a janela de forma a doente

sentir que está a entrar o ar (dado a sensação de falta de ar)

(…) otimizar o ambiente físico: temperatura, luminosidade,

renovar o ar”.

Gerir medidas de

conforto

E3:” Colocar o doente mais confortável, retirar a roupa que

aperta”.

E4: “tento falar com o doente a saber o que ele necessita para o

seu conforto”.

Controlo de

ansiedade

E2: “incentivar o doente a relaxar (…) principalmente tentar

controlar a parte ansiosa nestes doentes que é muito importante

(…) tentar conversar com ele, (…)”.

ÁREA TEMÁTICA: Perceção dos enfermeiros relativamente à importância das

técnicas de controlo de dispneia.

Categoria Unidades de registo

Controlo respiratório E1: “… menos fadiga respiratória se souber fazer as pausas

corretas e respirar eficazmente”.

E2: “É importante, porque ajuda o doente a respirar melhor”.

E3: “…uma melhor ventilação…”

E4: “…o doente melhora com as técnicas…” [referindo-se ao

controlo da dispneia].

E5: “São fundamentais para o doente se sentir mais aliviado…”

[referindo-se à dispneia].

Eliminação de

secreções

E1: “… O doente beneficia se souber expectorar eficazmente,

faz uma limpeza brônquica eficaz…”

E5: “… conseguir expelir as secreções…”

Maximização da

autonomia

E3: “É importante para o doente recuperar melhor”.

E5: “… conseguir realizar as suas atividades e melhorar a

qualidade de vida”.

ÁREA TEMÁTICA: Dificuldades sentidas pelos enfermeiros na utilização das técnicas

de controlo de dispneia

Categoria Unidades de registo

Défice de

conhecimentos

E1: “Não ter conhecimentos aprofundados sobre as técnicas”.

E2: “(…) incentivo a respiração a todos os doentes da mesma

maneira, para os acalmar, não faço diferença da patologia, não

tenho experiência”.

E3: “Não faço ensino da tosse, quando os doentes têm tosse

digo para tossir, para libertar a expetoração, dou um saco com

papeis para tossir…”

Défice de recursos

humanos

E1: “Falta de recursos humanos para posicionamentos.

[auxiliares] (…)”.

E1: “Elevado nº de doentes”. [para prestar cuidados]

E2: “Recursos humanos (auxiliares) escassos para ajudar a

posicionar o doente”.

E3: “Recursos humanos deficitários… Elevado número de

doentes diminui a qualidade dos cuidados…”

E4: “…número elevado de doentes por enfermeiro. (…) Recursos

humanos escassos, um auxiliar para várias salas e não tenho

ajuda para posicionar o doente”.

E5: “Recursos humanos deficientes, com o número muito

elevado de doentes”.

Recursos materiais

inadequados

E1: “Os recursos materiais, macas, em que os doentes recusam-

se a ficar deitados, preferem ficar sentados, macas que se

mobilizam quando se tenta posicionar o doente”.

E2: “Posicionar os doentes nas macas que não elevam a

cabeceira, falta de almofadas”.

E3: “Dificuldade nos posicionamentos dos doentes, não se

consegue elevar a cabeceira.” (…) “Falta de almofadas”.

E4: “…défice de recursos materiais, como almofadas, apoios de

braços, macas que não são compatíveis com os

posicionamentos, macas muito estreitas, não travam”.

E5: “Dificuldade em posicionar os doentes nas macas. Não se

consegue posicionar o doente sentado, fazer um alinhamento

corporal”. [macas inadequadas]

Recursos físicos

inadequados

E4: “(…) pouco espaço físico para colocar os doentes”.

E5: “Dificuldade em gerir o ambiente, controlar o barulho…”

Falta de tempo E2: “O tempo disponibilizado é diminuto, pouco tempo”.

E2: “tentar orientar o doente a tossir... mas aqui orientamos

pouco (...) temos pouco tempo”.

E3: “(…) não há tempo para posicionar bem e mais vezes os

doentes”.

E4: “Falta de tempo…” [devido ao número elevado de doentes].

E4: “Se tivesse tempo ensinava ao doente a tossir sentado,

utilizando os músculos abdominais, para poder expelir as

secreções, de modo a não ficarem acumuladas nos pulmões e

provocar obstrução”.

ÁREA TEMÁTICA: Perceção do impacto da formação na prática de cuidados

respiratórios.

Categoria Unidades de registo

Melhorar a prestação

de cuidados

E3: “Para dar continuidade aos cuidados e melhorar a

qualidade dos mesmos”.

E4: “Acho que necessitamos de formação para uniformizar as

técnicas, que são mais usuais…”

Melhorar o

conhecimento

E1: “Desconhecimento de algumas técnicas”.

E2: “Naquelas coisinhas mais pontuais, como a tosse,

dissociação dos tempos respiratórios. (…) Com a formação

podemos ir buscar coisas que estão no esquecimento”.

E3: “Para ter conhecimento nesta área, que é deficitário”.

E4: “poder praticar para não ficar esquecida”.

E5: “Falarmos de pequenos pormenores que muitas vezes

fazem a diferença. Ser alertado para pormenores que muitas

vezes passam despercebidos”.