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Probabilidade A matemática do pênalti Diz o chavão que a cobrança de cinco tiros é loteria – não é, demonstram os cientistas Até 1970, as partidas de futebol empatadas nos noventa minutos regulamentares e nos trinta da prorrogação eram decididas na sor-te, com uma moeda jogada para o alto. Foi o alemão Karl Wald, hoje com 94 anos, quem propôs a decisão por pênaltis. Apenas em 1982 ela começou a ser usada em Copas do Mundo. Desde então, vinte jogos foram resolvidos com tiros diretos – entre eles, duas finais, a de 1994 (Brasil 3 x 2 Itália, com o célebre chute de Roberto Baggio que quase saiu fora do Rose Bowl, em Los Angeles) e a de 2006 (Itália 5 x 3 França, sem Zinedine Zidane, expulso depois da cabeçada em Materazzi, em Berlim). O Brasil – além da vitória nos Estados Unidos – disputou dois outros jogos eliminatórios pelo tiro da marca de 11 metros: as quartas de final de 1986, contra a França (perdeu), e a semifinal de 1998, contra a Holanda (ganhou). A frequência e a dramaticidade das decisões por pênaltis as transformaram em objeto de estudo de cientistas, numa tentativa de descobrir quais são as chances de acerto e de erro. Pesquisadores da Universidade Ben-Gurion, de Israel, analisaram 286 tiros diretos dos principais torneios de futebol do mundo – em 80% das vezes, a bola foi à rede. Em 93% dos chutes, os goleiros escolheram saltar para a direita ou para a esquerda. O estudo demonstra, contudo, que a postura ideal do camisa 1 é manter-se no meio, parado (veja o quadro abaixo). Poucos fazem isso. Trabalham com a intuição, por serem obrigados a reagir muito rapidamente. "Mesmo assim, não contamos apenas com a sorte", disse a VEJA o goleiro do Brasil, Júlio César. "É preciso conhecer os batedores, e sempre observar com muita atenção a corrida para a bola." Some-se, portanto, o treinamento com velocidade e sorte e tem-se uma possibilidade real de defesa. Outro estudo, este da Universidade John Moores, de Liverpool, na Inglaterra, demonstra que a leitura do movimento de corpo dos batedores ajuda os goleiros na defesa de cobranças. A conclusão: se os quadris de quem bate estiverem bem de frente para o goleiro, um atacante destro (a maioria) tenderá a chutar em direção ao lado direito do goleiro; se os quadris estiverem um pouco abertos, de lado, o chute tenderá a ser do lado esquerdo. No papel, é fascinante. No gramado, menos. "E se o batedor mudar tudo intencionalmente?", indaga Júlio César. Eis a graça do futebol, sobretudo agora que os cartolas proibiram a paradinha, recurso que deixava os goleiros ainda menores debaixo da armação de 2,44 metros de altura por 7,32 de comprimento. Roberto Baggio, 1994 Até mesmo um craque como o meia italiano pode errar, como aconteceu na final da Copa dos Estados Unidos – mas quase sempre é o goleiro que leva a pior

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Probabilidade A matemática do pênalti Diz o chavão que a cobrança de cinco tiros é loteria – não é, demonstram os cientistas Até 1970, as partidas de futebol empatadas nos noventa minutos regulamentares e nos trinta da prorrogação eram decididas na sor-te, com uma moeda jogada para o alto. Foi o alemão Karl Wald, hoje com 94 anos, quem propôs a decisão por pênaltis. Apenas em 1982 ela começou a ser usada em Copas do Mundo. Desde então, vinte jogos foram resolvidos com tiros diretos – entre eles, duas finais, a de 1994 (Brasil 3 x 2 Itália, com o célebre chute de Roberto Baggio que quase saiu fora do Rose Bowl, em Los Angeles) e a de 2006 (Itália 5 x 3 França, sem Zinedine Zidane, expulso depois da cabeçada em Materazzi, em Berlim). O Brasil – além da vitória nos Estados Unidos – disputou dois outros jogos eliminatórios pelo tiro da marca de 11 metros: as quartas de final de 1986, contra a França (perdeu), e a semifinal de 1998, contra a Holanda (ganhou). A frequência e a dramaticidade das decisões por pênaltis as transformaram em objeto de estudo de cientistas, numa tentativa de descobrir quais são as chances de acerto e de erro. Pesquisadores da Universidade Ben-Gurion, de Israel, analisaram 286 tiros diretos dos principais torneios de futebol do mundo – em 80% das vezes, a bola foi à rede. Em 93% dos chutes, os goleiros escolheram saltar para a direita ou para a esquerda. O estudo demonstra, contudo, que a postura ideal do camisa 1 é manter-se no meio, parado (veja o quadro abaixo). Poucos fazem isso. Trabalham com a intuição, por serem obrigados a reagir muito rapidamente. "Mesmo assim, não contamos apenas com a sorte", disse a VEJA o goleiro do Brasil, Júlio César. "É preciso conhecer os batedores, e sempre observar com muita atenção a corrida para a bola." Some-se, portanto, o treinamento com velocidade e sorte e tem-se uma possibilidade real de defesa. Outro estudo, este da Universidade John Moores, de Liverpool, na Inglaterra, demonstra que a leitura do movimento de corpo dos batedores ajuda os goleiros na defesa de cobranças. A conclusão: se os quadris de quem bate estiverem bem de frente para o goleiro, um atacante destro (a maioria) tenderá a chutar em direção ao lado direito do goleiro; se os quadris estiverem um pouco abertos, de lado, o chute tenderá a ser do lado esquerdo. No papel, é fascinante. No gramado, menos. "E se o batedor mudar tudo intencionalmente?", indaga Júlio César. Eis a graça do futebol, sobretudo agora que os cartolas proibiram a paradinha, recurso que deixava os goleiros ainda menores debaixo da armação de 2,44 metros de altura por 7,32 de comprimento.

Roberto Baggio, 1994 Até mesmo um craque como o meia italiano pode errar, como aconteceu na final da Copa dos Estados Unidos – mas quase sempre é o goleiro que leva a pior

Tática Para entender a sopa de números e letras O treinador da África do Sul, Carlos Alberto Parreira, explica a história e o significado dos esquemas de jogo. Assunto cada vez mais frequente em discussões de especialistas ou nas mesas de bar, tática é coisa séria no futebol. Um treinador que domina e sabe usar os diferentes esquemas de jogo vence campeonatos. Um torcedor que os entende verá uma Copa mais interessante. VEJA convidou Parreira, mestre nesses desenhos dentro do gramado, a explicá-los.

Pirâmide Século XIX à década de 20 O que é. São dois defensores, três meio-campistas e cinco atacantes – daí o desenho triangular. A origem. Surgiu no século XIX, na Universidade de Cambridge, para acabar com a desorganização dos jogadores em campo, que corriam para todos os lados nos primórdios do esporte bretão. Comentário de Parreira: "Foi a primeira forma de noção tática registrada por um time, o início da inteligência no futebol."

WM Década de 20 à de 50 O que é Três zagueiros, dois meias recuados, dois meias ofensivos e três atacantes. O desenho é de um "W" no ataque e de um "M" na defesa. A origem. Em 1925, o técnico inglês Herbert Chapman, do Arsenal, desenvolveu esta tática para adaptar seu time à nascente regra do impedimento – os zagueiros se adiantavam, deixando o atacante adversário fora de jogo. Comentário de Parreira: "Inaugurou o surgimento da marcação homem a homem, pois os dois times jogavam sempre da mesma maneira."

4-2-4 Décadas de 50 e 60 O que é. Ofensivo, marca a criação do quarto zagueiro e o avanço de um meia para jogar fixo no ataque. A origem. O primeiro sistema batizado por números entrou para a história com a vitória da Hungria por 6 a 3 sobre a Inglaterra, em Wembley, em 1953. Na Copa de 1962, Aymoré Moreira aproveitou a versatilidade do ponta-esquerda Zagallo, que recuava para compor o meio-campo, e montou o 4-3-3. Comentário de Parreira: "A consagração do 4-2-4 veio com a conquista do título de 1958, pelo Brasil, mas o desequilíbrio no meio-campo logo selou seu fim."

3-5-2 Década de 80 até hoje O que é. Retorna à antiga tradição de três defensores, mas reforça o meio-campo, prevenção à surpresa dos contra-ataques. A origem. Foi usado pela primeira vez por Carlos Bilardo na Argentina campeã do mundo em 1986. Comentário de Parreira: "É um esquema equilibrado. Mas, como boa parte das equipes joga em bloco atrás, acho desperdício usar três zagueiros para marcar apenas um atacante avançado. Poucas equipes usam este sistema na Europa. O Brasil está na contramão: os últimos campeões nacionais jogavam assim."

4-4-2 Década de 60 até hoje O que é. Quatro defensores, seguidos por quatro meio-campistas e dois atacantes. A origem. Na Copa de 1966, o inglês Alf Ramsey desistiu de usar o 4-3-3 – variação cautelosa do 4-2-4 – e fez um dos atacantes recuar para dar mais consistência ao meio-campo, permitindo que os laterais avançassem. Comentário de Parreira: "Neste esquema, todos os setores estão bem preenchidos. Na Copa de 2006, trinta das 32 seleções, entre as quais as finalistas, França e Itália, usaram variações deste esquema."

Estilo e tecnologia

Campeões da estica

O estilista Alexandre Herchcovitch escolheu os quatro semifinalistas do torneio de elegância nos gramados da África do Sul.

MÉXICO

Adidas "Riquíssima nos detalhes, com modelagem especial na região da cava. Há um fascinante trabalho de combinação do verde e do vermelho, casamento sempre difícil. Além disso, a camisa tem um desenho, feito pela trama do próprio tecido (o chamado jacquard), em forma de penas de canetas, bem interessante." A ciência: há duas camisas com inovações diferentes. Inspirada nos maiôs tecnológicos de natação, agora banidos, a Techfit fica ajustada ao corpo, comprime os músculos, corrige a postura e ajuda no salto e na velocidade. A ForMotion é menos colada.

BRASIL

Nike "Extremamente clean em sua criação, traz a essência das cores da bandeira e o tradicional brasão. O detalhe vintage na manga faz toda a diferença. Ela é do tipo raglan – ou seja, o corte da cava e da manga não acompanha o formato natural do ombro, segue da axila direto para o decote." A ciência: o tecido, feito de poliéster obtido de oito garrafas PET, economiza cerca de 30% de energia na confecção e pesa 15% menos. Os furos na lateral, feitos a laser, facilitam a troca de ar quente por frio.

ITÁLIA

Puma "Os efeitos de combinação com o corpo, variados, chamam atenção. A transparência é delicada. A padronagem do desenho no tecido, em forma de músculos, casa-se à perfeição com as mangas e cavas bem justas." A ciência: as camisas da família PowerCat 1.10 têm tramas mais espaçadas nas regiões em que o atleta transpira mais – costas, abdômen e axilas. Isso faz com que a camisa não absorva tanta água e, portanto, não fique tão pesada.

INGLATERRA

Umbro "É a única camisa polo, com gola que promove um ar mais alinhado, menos casual. Não é como as outras, de decote careca." A ciência: o uniforme inglês foi desenvolvido e confeccionado pelo renomado alfaiate londrino Charlie Allen com inspiração na camisa da equipe campeã em 1966. Cada atleta convocado terá o corte feito em seu próprio corpo.

Torcida

Quem aguenta as vuvuzelas?

O barulho estridente das cornetas é a arma sul-africana para incomodar os adversários (e nos aborrecer em casa).

O ruído é estridente como o de uma sirene, em algumas versões, ou de uma manada de elefantes, em outras. Criada por um torcedor fanático de um clube de Johannesburgo, o Kaizer Chiefs, a vuvuzela – o cornetão de plástico – é o 12º jogador sul-africano. Será o som predominante, capaz de incomodar os jogadores nos estádios e os espectadores diante da televisão. A vuvuzela original, de cerca de 1 metro de comprimento, deu filhotes. Há a momozela, menor e mais estridente; e a vuthela, a meio caminho entre as duas. Todas podem fazer mal aos tímpanos, além de aborrecer. Estudos mostram que, num estádio com 30 000 pessoas, os picos de barulho chegam a 140 decibéis – e a média durante duas horas ficou na casa dos 100. Os médicos desaconselham exposição acima dos 137 decibéis. A mania, chata mas alegre, virou marca registrada da África do Sul. Faz parte da galeria de invenções dos torcedores ao longo das Copas.

ELEGÂNCIA (1930-1966)

Bob Thomas/Popperfoto Nas primeiras Copas, a torcida vestia terno e gravata (na foto, 1930). Quando saía um gol, os chapéus voavam. Na final de 1950, os torcedores cariocas protagonizaram um belo espetáculo ao sacudir lenços brancos antes da derrota contra o Uruguai.

COORDENAÇÃO (1986) Franck Seguin/Corbis/Latinstock

No México, em 1986, a Copa de Maradona, o mundo foi apresentado à ola – onda, em espanhol –, movimento coordenado da torcida que causa a sensação de uma gigante maré de braços.

PATRIOTISMO (2002) Ben Radford/Getty Images

Aos gritos de "Daehan-minguk", República da Coreia no idioma local, um mar vermelho de sul-coreanos embalou a campanha dos anfitriões rumo às semifinais do Mundial dividido com os japoneses, que não demonstraram a mesma empolgação.

ORGULHO (2006) Sean Gallup/Getty Images

Pela primeira vez desde o fim da II Guerra Mundial, os alemães saíram de casa sem vergonha de sentir orgulho do país. As bandeiras em preto, vermelho e amarelo coloriram o país nas arquibancadas e nas Fan Fests, os agrupamentos populares ao redor de imensos telões.

HISTÓRIA 1958

O mundo descobre o rei

Nas palavras do cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues, na Suécia o Brasil "perdeu o complexo de vira-latas". Aprendeu a ganhar, e mostrou ao mundo o choro juvenil de um menino de 17 anos nos ombros do meia Didi e do goleiro Gilmar. Pelé fez o gol da vitória contra o País de Gales, por 1 a 0, nas quartas de final. Marcou outros três contra a França, na semifinal, e dois contra a Suécia, na final. Um deles, com um chapéu dentro da área, é antológico, visto e revisto. Ladeado por outros gênios, como os já consagrados Didi e Nilton Santos e o jovem e endiabrado Garrincha, Pelé foi o paradigma de um futebol que começou a ser chamado de arte. E, no entanto, o camisa 10 do Santos não perdia a ingenuidade impúbere. Só conseguiu falar com o pai, Dondinho, por meio de rádio, de Estocolmo, dois dias depois. "O senhor me viu com o rei da Suécia? Câmbio. Apertei a mão do rei. Câmbio."

O capitão

Hideraldo Luiz Bellini, de 28 anos

Ao receber de Gustavo VI a Jules Rimet – 30 centímetros e 3,8 quilos de ouro puro –, ergueu-a a pedido dos fotógrafos. Nascia ali um gesto eternizado em quase todos os esportes.

Os artilheiros

Do Brasil: Pelé (6 gols)

Da Copa: Just Fontaine, França (13 gols)

A campanha

Brasil 3 x 0 Áustria Brasil 0 x 0 Inglaterra

Brasil 2 x 0 União Soviética Brasil 1 x 0 País de Gales

Brasil 5 x 2 França Brasil 5 x 2 Suécia

HISTÓRIA 1962

Garrincha, a alegria do povo

Quando a seleção brasileira perdeu Pelé, aos 27 minutos de jogo na segunda partida da Copa, contra a Checoslováquia, a impressão geral era de que a chance do bicampeonato no Chile desmoronara. Sem o craque e com uma equipe formada por veteranos como Didi, Nilton Santos, Djalma Santos e Vavá, era difícil não prever o pior. A entrada do garoto Amarildo, de 21 anos, causou certa dúvida, logo sanada pelos três gols marcados na competição e um estilo furioso de jogo, pelo qual receberia o apelido de O Possesso. A seu lado, também na frente, o endiabrado Mané Garrincha, que soube conciliar bem seu jeito debochado de jogo com eficiência. O melhor exemplo: o segundo gol da vitória contra a Espanha. Garrincha driblou um adversário pela ponta direita – um "joão", ele dizia. Em seguida, outros dois joões ficaram para trás. Ele voltou a fintar o primeiro, para só então cruzar com precisão para Amarildo marcar.

O capitão

Mauro Ramos de Oliveira, de 31 anos

Lembrado pela elegância de seu estilo de jogo, coisa rara para um zagueiro, roubou a vaga de titular e a braçadeira de capitão do amigo Bellini, cujo gesto repetiu ao levantar a Jules Rimet.

Os artilheiros

Do Brasil: Vavá e Garrincha (4 gols)

Da Copa: Albert, Hungria; Ivanov, União Soviética; Jerkovic, Iugoslávia; e Sánchez, Chile (4 gols)

A campanha

Brasil 2 x 0 México Brasil 0 x 0 Checoslóvaquia

Brasil 2 x 1 Espanha Brasil 3 x 1 Inglaterra

Brasil 4 x 2 Chile Brasil 3 x 1 Checoslóvaquia

HISTÓRIA 1970 O perfeito balé do tri

O time perfilado para a final contra a Itália: 19 gols em apenas seis partidas

A seleção embarcou para o México cercada de dúvidas. Questionavam-se a qualidade da defesa, a real condição de Pelé, se o time podia jogar com uma linha de ataque formada por ele, Rivellino, Gérson, Tostão e Jairzinho. A resposta foi dada em campo por aquela que é considerada a maior equipe da história das Copas. Foram seis vitórias incontestáveis, com futebol eficiente e bonito, o suficiente para entronizar Pelé, definitivamente, como o maior de todos os tempos. Uma seleção tão memorável que até mesmo os lances perdidos, em jogadas espetaculares de Pelé, consagraram adversários – a defesa impossível do inglês Banks numa cabeçada perfeita e o desespero do uruguaio Ladislao Mazurkiewicz ao ver a bola de um lado e o rei do outro. Foram os "não gols" mais bonitos da história. A seleção do Tri virou uma rima quase perfeita, declamada com facilidade pelo povo e pelo treinador Zagallo: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson, Tostão e Pelé; Jairzinho e Rivellino.

O capitão

Carlos Alberto Torres, de 25 anos

Era a última disputa pela Jules Rimet, hoje definitivamente em posse do Brasil. Nas tribunas do Estádio Azteca, o autor do derradeiro gol da Copa beijou o troféu antes de levantá-lo.

Os artilheiros Popperfoto/Getty Images

Do Brasil: Jairzinho (7 gols)

Popperfoto/Getty Images

Da Copa: Gerd Müller, Alemanha

A campanha

Brasil 4 x 1 Checoslóvaquia Brasil 1 x 0 Inglaterra Brasil 3 x 2 Romênia

Brasil 4 x 2 Peru Brasil 3 x 1 Uruguai

Brasil 4 x 1 Itália

HISTÓRIA 1994 Ninguém pôde com Romário

O "baixinho" na janela do avião que trouxe a equipe do tetra Foram 24 anos de espera até que o Brasil voltasse a conquistar um título mundial. Um hiato preenchido por seleções memoráveis, como a de 1982, e outras nem tanto, como a de 1990. O tetracampeonato veio com uma equipe bem organizada e burocrática, dirigida por Carlos Alberto Parreira. Mas havia Romário, e ele fez a diferença. O "baixinho", como ficou conhecido, tinha 1,69 metro. Nascera como jogador no Vasco, passara pelo PSV, da Holanda, e explodira no Barcelona. Chamado para o derradeiro jogo das eliminatórias, contra o Uruguai, marcou duas vezes na vitória por 2 a 0. Nos Estados Unidos, fez cinco gols – e a cada um deles crescia ainda mais, tornando-se um gigante de arrogância e autossuficiência. Na chegada ao Brasil – em meio ao escândalo da muamba trazida na bagagem, pela qual não se pretendia pagar impostos –, pediu para aparecer na janelinha do avião, ao pousar no Recife. Foi atendido. A Copa era dele.

O capitão

Dunga, de 30 anos

Símbolo da fracassada equipe de 1990, Dunga herdou a faixa de capitão de Raí depois da primeira partida, contra a Rússia. Ao levantar o troféu, respondeu aos críticos (muitos, quase

todos) com palavrões.

Os artilheiros Nelson Coelho

Do Brasil: Romário (5 gols)

David Cannon

Da Copa: Hristo Stoichkov, Bulgária; e Oleg Salenko, Rússia (6 gols)

A campanha

Brasil 2 x 0 Checoslováquia Brasil 3 x 0 Inglaterra Brasil 1 x 1 Romênia

Brasil 1 x 0 Peru Brasil 3 x 2 Uruguai

Brasil 0 x 0 Itália (vitória nos pênaltis)

HISTÓRIA 2002

A grande família Scolari

Até o apito inicial de 3 de junho de 2002, contra a Turquia, em Ulsan, na Coreia do Sul, a saga da seleção brasileira rumo ao penta foi repleta de tropeços. Depois de trocar três vezes de treinador, o time sofreu para se classificar nas eliminatórias. A vaga veio apenas com uma vitória sobre a Venezuela, no último jogo. A dúvida central: Ronaldo voltaria a jogar bem depois da segunda grave contusão no joelho? O técnico Luiz Felipe Scolari, o Felipão, foi xingado de tudo quanto é jeito porque deixou Romário no Brasil. Mas a Família Scolari, como ficou conhecido o grupo da Copa da Coreia-Japão, viveu uma temporada de pura felicidade. Ronaldo voltou a ser o Fenômeno, decisivo. Rivaldo, com sua deselegância discreta, foi genial. Nas quartas de final, contra a Inglaterra, brilhou Ronaldinho Gaúcho. O título veio com 100% de aproveitamento, sete jogos e sete vitórias, sucesso igual ao do tri de 1970.

A celebração contra a Inglaterra, nas quartas de final: a explosão a caminho do penta, sem derrota nem empate

O capitão

Cafu, de 32 anos

Quebrou o protocolo e subiu no suporte onde estava a taça. Na camisa, escreveu "100% Jardim Irene", homenagem ao bairro pobre onde foi criado. Antes de levantar o troféu, fez uma

declaração de amor à mulher, Regina.

Os artilheiros David Cannon/Getty Images

Do Brasil e da Copa: Ronaldo (8 gols)

A campanha

Brasil 2 x 1 Turquia Brasil 4 x 0 China

Brasil 5 x 2 Costa Rica Brasil 2 x 0 Bélgica

Brasil 2 x 1 Inglaterra Brasil 2 x 0 Alemanha

Retórica

Chutes verbais

Uma seleção de frases memoráveis em torno das vitórias e das derrotas da seleção brasileira nos mundiais.

"Campeonatinho mixuruca, não tem nem segundo turno." Garrincha, depois do primeiro título, em 1958

"Somos os campeões morais." Cláudio Coutinho, treinador da seleção de 1978, depois

de o Brasil ficar com o terceiro lugar invicto

"O presidente escolhe seus ministros, e eu convoco a seleção"

João Saldanha, ao comentar o pedido de Médici para chamar o centroavante Dario, antes da Copa de 1970.

Dario foi para o México. Saldanha não

"A Holanda é muito tico-tico no fubá, que nem o América dos anos 50."

O treinador Zagallo, dias antes de o Brasil ser atropelado pela Laranja Mecânica de Cruyff na Copa de 1974

"A bola entrar ou não é apenas um detalhe." Carlos Alberto Parreira, treinador do tetra, logo depois do empate de 0 a 0 com o Equador, no primeiro jogo

das eliminatórias para a Copa de 1994

Derrotas

Eternos culpados Uma galeria de jogadores que entraram para a história pela porta de trás, bodes expiatórios de resultados incontornáveis

Tão certo como o nascimento de heróis nos cinco títulos mundiais do Brasil é o brotar de culpados quando a seleção perde. Erros em Copa costumam resultar em condenações inafiançáveis. Se a equipe de Dunga não trouxer o hexa da África do Sul, haverá uma única certeza: novos nomes farão parte da triste galeria dos que carregam a derrota nos ombros. VEJA selecionou três personagens emblemáticos.

MOACIR BARBOSA 16 de julho de 1950 Brasil 1 x 2 Uruguai • Maracanã • Final da Copa

O goleiro Moacir Barbosa foi acusado de falhar no gol de Ghiggia, o segundo do Uruguai, na derrota por 2 a 1 na final da Copa de 1950, no Maracanã. Em 1993, sete anos antes de morrer, ele resumiu o sentimento de carregar, por tanto tempo, o fardo. "No Brasil, a pena maior por um crime é de trinta anos. Há 43 pago por um que não cometi." O cronista Armando Nogueira resumiu com triste beleza a trajetória de Barbosa. "Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro", escreveu. "Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Gigghia caiu-lhe como uma maldição. E, quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera."

TONINHO CEREZO 5 de julho de 1982 Brasil 2 x 3 Itália • Estádio Sarriá, Barcelona • Quartas de final O meio-campista do Atlético Mineiro foi responsabilizado pelo segundo gol da Itália. Com a bola nos pés e sem a proximidade dos adversários, ele deu um passe displicente da direita para o centro do campo – a bola foi interceptada por Paolo Rossi, que cravou 2 a 1. No intervalo da partida, Cerezo chorou nos vestiários. Voltaria a derrubar lágrimas quando Falcão empatou o jogo – foi inútil, porque o Brasil perdeu por 3 a 2. "Eu disse ao Cerezo que aquela não era hora de um homem chorar", contou o lateral Júnior a VEJA, ainda em 1982, ao desembarcar no Galeão. Cerezo ficou dez anos sem rever a chamada "Tragédia do Sarriá" pela televisão. Ele recusa a culpa pelo lance. "Fico bastante tranquilo, porque joguei muito futebol, junto com meus companheiros", diz. ROBERTO CARLOS 1º de julho de 2006 Brasil 0 x 1 França • Waldstadion, Frankfurt • Quartas de final Zidane, numa de suas mais espetaculares atuações, cobrou falta pela esquerda aos onze minutos do segundo tempo. Alçou a bola a caminho do gol de Dida. Thierry Henry entrou sozinho e marcou. O lateral esquerdo Roberto Carlos estava parado, na linha da grande área, ajeitando os meiões. "Não devia marcar ninguém", diz o jogador, de apenas 1,68 metro. Ele atribui parte da responsabilidade pela péssima imagem que lhe foi colada depois daquele lance ao narrador da Rede Globo, Galvão Bueno. "Ele fez minha mãe chorar, foi irresponsável", diz. Para Galvão, os comentários, mesmo ácidos, eram mera reprodução do que as câmeras de televisão registraram.

Almanaque 80 anos de estatística Os recordes e os números desde a Copa de 1930 - e as marcas que podem ser alcançadas em 2010 Em reunião nesta segunda-feira, Mantega e Bernardo defenderam o veto ao reajuste de 7,7%, cujo porcentual já havia sido aprovado pelo Congresso, mas depende da sanção do presidente Lula. Segundo eles, a decisão de Lula precisa Levar em conta a solidez orçamentária do governo e a preocupação com os gastos públicos.

Televisão Você dentro do campo Pela primeira vez, todos os jogos serão transmitidos com recursos de alta definição. Saiba como escolher os aparelhos A televisão de alta definição – promessa na Copa de 2006, na Alemanha – é realidade em 2010. Todos os 64 jogos na África do Sul serão filmados com 33 câmeras especialmente concebidas para captar os movimentos de corpos e bolas. No Brasil, as partidas em HD serão exibidas pela Rede Globo, Sportv, ESPN HD, Bandeirantes e Bandsports. Além de marcar presença nas telonas acima de 40 polegadas, a tecnologia digital passeará também por telefones celulares. LED Milhares de diodos emissores de luz na construção da imagem Ideal para: quem gosta de novidade Pró: a tecnologia IPS, que permite ótima vizualização mesmo para quem se senta muito de lado em relação à TV Contra: mesmo os modelos pequenos custam caro Preço: de 2 600 a 7 900 reais

LG Infinita Live Borderless — LE5500, 42 polegadas, Full HD, 4 299 reais

LCD Tela de cristal líquido Ideal para: ambientes claros e muito bem iluminados Pró: espessura mais fina Contra: a imagem pode ficar ruim quando o ângulo de visão é muito lateral Preço: de 650 a 13 000 reais

Philips LC 40PFL3605D, 40 polegadas, Full HD e conversor digital, 2 799 reais

PLASMA A tecnologia mais antiga de TVs de alta definição Ideal para: telas acima de 40 polegadas Pró: ótimo contraste, com definição muito próxima à das telas de cristal líquido, mais modernas Contra: consome mais energia que as telas de LCD Preço: de 2 000 a 11 000 reais

Samsung Plasma PL-42B450, 42 polegadas, HDTV, 2 599 reais

FUTEBOL em 3D A Fifa filmará 25 partidas com essa tecnologia. No Brasil, por enquanto, só no cinema e para poucos O recurso 3D está na moda – ainda que incomode, em alguns casos provoque náuseas e seja frustrante. A Copa do Mundo da África do Sul não poderia perder essa bola. A Fifa anunciou que filmará 25 das 64 partidas nesse formato. No Brasil, oito jogos serão transmitidos com essa tecnologia, numa parceria da Rede Globo com a rede de cinemas Cinemark, que os exibirá em 25 salas de sete capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Salvador). A má notícia: não haverá venda de ingressos, apenas distribuição de bilhetes por meio de patrocinadores. "Fiquei com a sensação de estar num camarote próximo ao campo", compara Daniel Malachias, gerente da consultoria Golden Goal, uma das responsáveis por viabilizar essas exibições já nesta Copa. Ele acompanhou uma transmissão-teste de um jogo do campeonato francês no início do mês, num cinema emSão Paulo. Em 3D, ganha-se na noção de profundidade dos lances – e aquela sensação, habitual, de a bola estar indo em uma direção, quando na verdade corre para outra, desaparece. Por ora, como é tecnologia ainda em experiência, talvez caiba sensatez: 3D mesmo, no futebol, só dentro do estádio – e essa oportunidade o torcedor brasileiro terá na Copa de 2014.

Os avanços tecnológicos ao ritmo dos mundiais

1970 Na primeira Copa transmitida ao vivo e em cores, o Brasil via os jogos em preto e branco. A novidade: o replay.

1974 O Brasil enfim tem acesso aos jogos ao vivo e em cores. O avanço tecnológico desta vez são os lances em câmera lenta.

1994 Ajudados por um computador, comentaristas aprofundam as análises com desenhos aplicados na tela com computação gráfica.

2002 A internet entra em campo. Pela primeira vez, internautas têm acesso a imagens dos jogos no computador.

2006 Todas as partidas são filmadas e transmitidas com sinal digital e em alta definição. No Brasil, só alguns poucos tiveram acesso à novidade.

Fontes: Revista Veja - edição 2167 – 2 de junho de 2010 Jornal O Popular – 06/06/2010