ABORDAGEM PIKLER

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www.congressobrincar.com.br CONTEÚDO EXCLUSIVO ABORDAGEM PIKLER “Hoje, a abordagem Pikler está longe de ser um método ou uma técnica. É uma concepção e uma postura ética do cuidar” Para Emmi Pikler, o carinho e o cuidado atento nos primeiros anos de vida é responsável por estabelecer a segurança que vai construir as bases de auto- nomia da criança até a vida adulta. INTRODUÇÃO Você já ouviu falar na abordagem Pikler? Desenvolvido pela médica húngara Emmi Pikler, o método se apoia em princípios que valorizam a atividade autôno- ma da criança, em momentos fundamentais da educação do bebê. Essa abordagem, utilizada no Instituto Pikler com crianças de menos de 3 anos, sugere a importância da autonomia das crianças e de suas primeiras experiências – mesmo que seja no cuidado e nas relações cotidianas, como o momento de trocar a fralda, de tomar banho e de se alimentar. Isso permite que a criança possa se desenvolver em seu próprio ritmo, sem ser apressada pelos pais. Sozinha, ela começa a se dar conta de que suas ações geram consequências e aprende a lidar com isso de maneira natural.

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ABORDAGEM PIKLER“Hoje, a abordagem Pikler está longe de ser um método ou uma técnica. É uma concepção e uma postura ética do cuidar”

Para Emmi Pikler, o carinho e o cuidado atento nos primeiros anos de vida é responsável por estabelecer a segurança que vai construir as bases de auto-

nomia da criança até a vida adulta.

INTRODUÇÃOVocê já ouviu falar na abordagem Pikler? Desenvolvido pela médica húngara Emmi Pikler, o método se apoia em princípios que valorizam a atividade autôno-ma da criança, em momentos fundamentais da educação do bebê.

Essa abordagem, utilizada no Instituto Pikler com crianças de menos de 3 anos, sugere a importância da autonomia das crianças e de suas primeiras experiências – mesmo que seja no cuidado e nas relações cotidianas, como o momento de trocar a fralda, de tomar banho e de se alimentar.

Isso permite que a criança possa se desenvolver em seu próprio ritmo, sem ser apressada pelos pais. Sozinha, ela começa a se dar conta de que suas ações geram consequências e aprende a lidar com isso de maneira natural.

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EMMI PIKLER: A MULHER QUE DÁ NOME À METODOLOGIA

Você certamente já ouviu falar sobre a abordagem Pikler, mas o que você sabe sobre Emmi Pikler?

Muito se fala da metodologia, mas é importan-te saber quem é essa mulher que dá nome ao método e como o trabalho dela influencia na sua vida e de seus filhos.

A pediatra húngara lançou essa abordagem histórica que mostra que as crianças, de zero a três anos, são capazes de aprender a en-gatinhar e a andar sozinhas. Isso de acordo com o princípio de respeito à autonomia e ao tempo de desenvolvimento de cada bebê.

A HISTÓRIA DE VIDA DE EMMI PIKLERNascida em 1902, em Viena, Emilie Madeleine Reich é conhecida por seu trabalho como pediatra e suas teorias de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Filha de uma professora e de um artesão, aos 6 anos mudou-se com a família para Bu-dapeste, onde cresceu apenas com o pai depois de 19014, quando a mãe faleceu.

O sobrenome mais conhecido da médica veio do casamento com um matemático e professor. Juntos, quando tiveram o primeiro filho, permitiram que a criança se desenvolvesse com liberdade e respeitaram seu tempo – princípios da aborda-gem Pikler.

Entre 1936 e 1945 – no contexto da Segunda Guerra Mundial – o marido da pe-diatra foi preso por ser judeu. Nessa época, Emmi era médica de família, e foram essas pessoas que ajudaram a doutora e sua própria família a sobreviver durante a guerra.

Depois de uma vida dedicada ao trabalho com o desenvolvimento infantil e a criação de um espaço que se tornou referência nesse assunto, Emmi Pikler fale-ceu em 1984.

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A HISTÓRIA PROFISSIONAL DE EMMI PIKLERA jovem Emmi voltou para sua cidade natal para estudar medicina. Sua forma-ção se deu no Hospital Infantil da Universidade de Viena – o diploma chegou em 1927. Lá ela estudou ainda a cirurgia pediátrica sob a condução de Hans Salzer.

Em 1935, Pikler qualificou-se como pediatra. Desde então, produziu materiais escritos e palestrou sobre o ensino e a aprendizagem de bebês e crianças peque-nas. Em 1940, ela fez sua primeira publicação de livro para os pais, que chegou a diversos países e edições.

Com o fim da guerra, depois de ter mais dois filhos, Pikler trabalhou com crian-ças abandonadas e desnutridas. Em 1946 fundou o orfanato Lóczy (nome da rua onde era localizado), do qual esteve no comando até 1979.

O ORFANATO LÓCZY: UM ESPAÇO DE LIBERDADE E PROSPERIDADEA pediatra buscou construir, no orfanato, um am-biente que levasse conforto e segurança às crian-ças, para que elas crescessem protegidas das se-quelas sociais que rondavam aquele momento da história.

Com o passar do tempo e os trabalhos constantes de Pikler, a instituição foi tornando-se reconheci-da ao redor do mundo. Mesmo após se aposentar, a médica não parou de trabalhar em seus estudos científicos ou consultas. O orfanato passou a ser administrado pela filha de Pikler, Anna Tardos, psicóloga infantil.

O QUE É A ABORDAGEM PIKLER?A abordagem Pikler é um conjunto de ideias para a educação de bebês e crianças pequenas, de até três anos. A ideia central da abordagem é estimular as primeiras fases do desenvolvimento infantil por meio de atividades que estimulam a inde-pendência do bebê e práticas que podem ser adotadas pelos cuidadores (ou até mesmo pelos pais) na hora de lidar com a criança.

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A abordagem se baseia em alguns conceitos básicos:

“É importante que o adulto transmita ao bebê o sentimento de competência, respeitando seu ritmo e tempo”

MOVIMENTO LIVRE: A criança deve ter liberdade para se movimentar, desco-brir o potencial do seu próprio corpo e entender, pouco a pouco e de maneira espontânea, como funcionam suas habilidades motoras. Além disso, os adultos não devem forçar movimentos que o bebê ainda não saiba fazer sozinho (como colocá-lo de pé, por exempo).

Enquanto aprende a contorcer o abdômen, rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o bebê) não apenas está aprendendo aqueles movimentos como também o seu modo de aprendizado. Ele aprende a fazer algo por si próprio, aprende a ser interessado, a tentar, a experimentar. Ele aprende a superar difi-culdades. Ele passa a conhecer a alegria e a satisfação derivadas desse sucesso, o resul-tado de sua paciência e persistência. Emmi Pikler

AUTONOMIA: Os adultos não devem in-tervir nas atividades dos bebês. Os cuidado-res devem deixar que as crianças descubram o ambiente e interajam umas com as outras. Mesmo que os pequenos façam coisas que podem parecer “estranhas”, pois essa é a maneira que elas têm de descobrir o mun-do. Entretanto, cabe aos adultos oferecer atenção quando chamados e garantir que as crianças estejam em segurança.

ROTINAS E CUIDADOS PRIVILEGIA-DOS: É preciso estabelecer uma relação de confiança entre a criança e os adultos, e essa relação deve basear-se na atenção que o adulto dá ao bebê ao cuidar do mesmo. Ao dar banho, vestir, trocar fraldas ou alimen-tar a criança, por exemplo, o adulto deve ex-plicar o que está sendo feito e até mesmo pedir a participação do bebê, que aos pou-cos passa a adquirir confiança e responsabi-lidade por suas ações.

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A CRIANÇA PEQUENA E SEU CORPOA criança pequena, desde o nascimento, consegue conhecer seu corpo essencial-mente de duas maneiras: por meio de tudo o que se passa com seu corpo, quer dizer, pela atividade de seu próprio corpo, e por tudo que é feito com e para seu corpo quando é pego, carregado, alimentado e lhe são dados outros cuidados corporais.

Se, durante os cuidados, o adulto der, sem cessar uma atenção particular aos sinais do bebê, e se os levar em consideração para lhe oferecer as refeições, para andar, banhar, vestir ou desvestir, ele cria, desde o início, a possibilidade de que o bebê, por sua vez, “intervenha” no processo dos cuidados e na maneira pelas quais esses cuidados serão sa-tisfeitos, notadamente em relação à duração e ao ritmo da refeição, à quantidade e à tem-peratura da comida, ao ritmo dos movimentos durante o vestir, o despir, à quan-tidade e à temperatura da água do banho etc.

Uma boa técnica de cuidados procura propiciar à criança o sentimento de segu-rança de ser pega e carregada por mãos firmes e ternas que lhe permita estar em um estado de relaxamento. Esses cuidados de boa qualidade conduzem a criança ao que podemos chamar de um “estado de unidade”, a criança torna-se uma pes-soa, um indivíduo.

“O bebê ou criança pequena só consegue explorar o ambiente se tiver rece-bido uma segurança afetiva para dar conta desse momento de exploração”

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COMO A ABORDAGEM FUNCIONA NA PRÁTICA?Para que a abordagem funcione, é preciso, em primeiro lugar, que o adulto cui-dador estabeleça o vínculo de confiança com o bebê. Com essa relação a criança se sente confortável e segura, o que possibilita que ela se desenvolva através do brincar livre.

CUIDADOS COM O BEBÊ

Pikler faz algumas recomendações que os adultos devem seguir na hora de lidar com o bebê. Veja alguns exemplos:

Conversar com o bebê. Explicar o que está sendo feito nos momentos de cuidados pes-soais . Responder (com palavras) às reações naturais do bebê. Dessa forma, a criança se sente compreendida e adquire confiança para o próprio desenvolvimento.

Não apressar o bebê durante esses momen-tos de cuidados pessoais. Deixar que ele siga o próprio ritmo. Evitar movimentos brus-cos nesse momento para que a criança tenha tempo de entender o que vai acontecer.

Não pegar a criança de surpresa, ou pegá-la enquanto ela está dormindo. Quando for necessário levar a criança a outro lugar, avisar que você vai carregá-la, pois desse modo você não interrompe subitamente o que a criança está fazendo.

Não colocar o bebê em posições em que ele não consegue se colocar sozinho. Não se deve, por exemplo, colocar em pé o bebê que ainda não consegue fazer isso sozinho, pois esse tipo de atitude apressa o desenvolvimento que deveria ser espontâneo.

BRINCAR LIVRE

A segunda etapa da abordagem é garantir que a criança tenha um espaço seguro para brincar livremente. No momento de brincar livre o adulto deve estar por perto, mas deve intervir o mínimo possível nas atividades dos bebês.

O espaço deve ter piso de madeira ou tecido, objetos lúdicos ao alcance das crian-

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ças e móveis (também de madeira e bem apoiados no piso) para que as crianças possam desenvolver suas habilidades motoras.

CUIDAR E EDUCAR

Cuidar é um dos pilares mais importantes da Abordagem Pikler. É durante os momentos dos cuidados que o bebê e o adulto vão cons-truir um vínculo de confiança, indispensável para o bom desenvolvimento físico e emo-cional do bebê e da criança pequena. Não são só as mãos que tocam, mas as palavras tam-bém tocam o bebê. Enquanto cuida, o adul-to pode falar com a criança sobre o que está acontecendo, antecipar suas ações e nomear as reações do bebê.

A criança já nasce capaz e pode se comunicar com o adulto de referência. Muito antes de compreender o conteúdo das palavras o bebê vai entendendo os gestos e percebendo a intenção dos adultos pelo tom e a melodia da voz.

É preciso sensibilidade, gestos lentos e pausas para perceber a reação da criança, que pode responder com um gesto, com expressão facial, com a pele que se cris-pa. O adulto deve ser treinado para estabelecer esse diálogo corporal com o bebê que, mesmo bem pequenininho pode e deve participar desses momentos. Esta-belecer uma verdadeira comunicação durante os cuidados favorece a segurança emocional tão necessária para a criança.

Suprida de suas necessidades básicas ela pode, aos poucos, se movimentar no chão livremente, explorar objetos e interagir com o ambiente ao seu redor.

O novo olhar sobre o desenvolvimento do bebê que a abordagem Pikler nos revela.

Esse novo olhar é a percepção da potência do bebê sadio, que já vem com a pro-gramação genética para expressar suas necessidades básicas ao adulto de referên-cia; de seduzir com seu encanto esse adulto e garantir os cuidados; de se mover e desenvolver sua motricidade livre; de explorar e brincar com os objetos ao seu redor e desenvolver sua cognição a partir de suas experiências concretas iniciadas por sua iniciativa e desejo.

Compreendendo essa capacidade inata do bebê, a necessidade dele se interessar pelo entorno e a engrenagem que rege o desenvolvimento psicomotor, o adulto precisa controlar seus impulsos de fazer tudo por ele, de adiantar seus desejos e fi-nalizar algo que ele começou e está tentando terminar. Interromper os processos iniciados pelo bebê o priva de suas conquistas e do sentimento de competência e segurança implicados nelas.

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REFERÊNCIAS:https://lunetas.com.br/para-lidar-com-criancas-e-preciso-observa-las-diz-psico-loga/

SUGESTÃO DE VÍDEO:https://www.youtube.com/watch?v=kAiCRe2xIDU&t=37s

SUGESTÃO DE LIVRO:

• Abordagem Pikler Educação infantil• Organizadora: Judit Falk• Editora: Omnisciência