Aconselhamento de Grupo

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Aconselhamento de Grupo LILIAN SIQUEIRA FERRARA * Segundo C. R. Rogers (1), uma tendência para considerar o -aconselhamento como terapia superficial ou ocasional; e psicoterapia -como terapia mais profunda e demorada, dirigida para a modificação e reorganização da personalidade. No ent,anto, um aconselhamento bem orientado não difere de uma psicoterapia bem sucedida, donde o uso dos dois têrmos por êsse ilustre A., indiferentemente. Quanto à finalidade do aconselhamento, diz êle, não é a resolução de um problema particular, mas assistir o indivíduo de maneira que êle se desenvolva, amadureça, tomando-se capaz de resolver seus pro- blemas, tanto atuais como futuros, de modo "crescentemente racional e humano". Talvez devido ao fato de ter o aconselhamento resultado de uma série de movimentos psicológicos renovadores, como o dos centros * Psicóloga com estudo de pós-graduação, na Universidade de São Paulo. Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 22 (3) :103-121, jul./set. 1970

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Aconselhamento de

Grupo

LILIAN SIQUEIRA FERRARA *

Segundo C. R. Rogers (1), hã uma tendência para considerar o -aconselhamento como terapia superficial ou ocasional; e psicoterapia -como terapia mais profunda e demorada, dirigida para a modificação e reorganização da personalidade. No ent,anto, um aconselhamento bem orientado não difere de uma psicoterapia bem sucedida, donde o uso dos dois têrmos por êsse ilustre A., indiferentemente.

Quanto à finalidade do aconselhamento, diz êle, não é a resolução de um problema particular, mas assistir o indivíduo de maneira que êle se desenvolva, amadureça, tomando-se capaz de resolver seus pro­blemas, tanto atuais como futuros, de modo "crescentemente racional e humano".

Talvez devido ao fato de ter o aconselhamento resultado de uma série de movimentos psicológicos renovadores, como o dos centros

* Psicóloga com estudo de pós-graduação, na Universidade de São Paulo.

Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 22 (3) :103-121, jul./set. 1970

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de orientação infantil e juvenil, e o dos centros de orientação profis­sional, nas associações de assistência social, criação de serviços de higiene mental para adultos e desenvolvimento de serviços de assis­tência psicológica nas emprêsas (2), é que houve certa discrepãncia a respeito do que seja o aconselhamento individual e o de grupo.

Durante a Segunda Guerra Mundial houve grande desenvolvi­mento das técnicas de grupo, devido principalmente ao acúmulo de clientes a serem tratados. A princípio, essas teorias foram adotadas por economia, mas aos poucos, foi-se verificando que elas possuíam valô­res próprios. Daí, sua propagação tornou-se rápida.

Afirma N. Hobbs, em Psicoterapia Centrada no Grupo, capo VIII de Client Centered Therapy, de Carl R. Rogers (3), que sem usar do argumento da maior economia na terapia grupal, diz que o argumento da economia pesa bastante quando haja necessidade de ajuda psicoló­gica urgente a muitas pessoas que esperem ser atendidas; (embora ainda não comprovado), êle acha a terapia de grupo mais eficiente que a individual para algumas pessoas. Com .as pessoas normais, debili­tadas por conflitos ambientais, a terapia de grupo oferece mais vanta­gens que a individual.

George Bach (4) inicia o primeiro capítulo de seu livro Psicote­rapia Intensiva de Grupo, afirmando que "a partIcipação na psicote­rapia de grupo é uma experiência única em nossa cultura, tanto para o paciente como para o terapeuta. Nenhuma outra circunstãncia pro­porciona oportunidade de observar o próprio "eu" no contato inter­pessoal, a fim de descobrir as próprias pautas de personalidade na ação social, e de confrontar as próprias observações sôbre si mesmo, com as impressões de outras pessoas" .

Jane Warters (5), em Group Guidance - Principles and Practice, escreve: "O aconselhamento em grupo não é o aconselhamento indi­vidual aplic.ado a grupos, mas um método de grupo destinado a ajudar indivíduos com problemas: tanto os problemas normais da vida diária, como os problemas graves e sérios. Ê um processo planejado, não­acidental, que inclui entre outras coisas, identificação, análise e apoio do grupo".

Segundo a mesm,a A., há certa confusão quanto aos têrmos usa­dos para designar o aconselhamento de grupo e outras terapias de grupo. Cita "orientação de grupo", "aconselhamento múltiplo", "gru­poterapia", e "grupopsicoterapia". Para diferençá-Ios, baseia-se no tamanho do grupo, nos membros do grupo, na complexidade dos pro­blemas apresentados, bem como das exigências profissionais ou na competência do terapeuta do grupo.

Assim, o nome "orientação de grupo" será mais apropriado quan­do o grupo fôr grande e o papel do terapeuta fôr mais ou menos seme­lhante ao de um professor.

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Múltiplo aconselhamento serâ preferível a aconselhamento de grupo, quando os membros colham efeito terapêutico recíproco. Diz a A. no entanto, que outros escritores reservam o têrmo multiplo­terapia para ser usado quando os membros do grupo forem dois ou mais profissionais terapeutas; quando dois ou mais membros forem clientes ou pacientes, o têrmo serâ grupoterapia.

Grupoterapia serâ certo quando os clientes apresentem desajusta­mentos mais sérios, devendo por isso ser tratados por um psicólogo clínico ou psiquiatr,a.

Aconselhamento de grupo seria o têrmo adequado quando os membros do grupo sejam clientes normais, que procuram ajuda para seus problemas emocionais.

George R. Bach, em Psicoterapia Intensiva de Grupo (4) ao falar da necessidade do grupo desenvolver uma "educação para o trabalho terapêutico", salienta a necessidade da presença de um "líder tera­peuta", psicólogo profissional".

Em Psicoterapia de Grupo, Asyah L. Kadis, Jack D. Krasner, Char­les Winick e S. H. Foulkes (6), escrevem: "O aconselhamento de grupo é outra direção terapêutica de grupo considerada útil. A terapia em tais casos é orientada para o ego" .

Continuando afirmam que o método de grupo pode ser usado na psicoterapia analítica, na orientação, no aconselhamento e como psico­terapia combinada, para tõdas as idades. E, mais adiante: "Diferentes aspectos da terapia são acentuados em diferentes tipos de grupo. Pro­blemas de realidade, do que exista "aqui e agora", são de suprema importância nos grupos de orientação e aconselhamento; o processo de interação é acentuado nos grupos de relação e a terapia reconstru­tiva é a meta dos grupos analíticos".

No contexto dessa obra os A. falam de orientação de grupo e aconselhamento de grupo, não diferenciando muito essas técnicas. Ao referirem-se ao problema da manipulação dos sonhos, acentuam o objetivo de cada uma. Assim, citando Ginotti, dizem que o "objetivo principal do grupo de orientação é aliviar a ansiedade de cada indi­víduo, fortalecendo ao mesmo tempo seu ego por meio de relações saudâveis com outros membros e com o terapeuta".

Em seguida, dizem que o "objetivo principal do aconselhamento (individual ou de grupo) é ajudar o indivíduo a conseguir adaptação à realidade e às exigências de sua vida".

Hobbs (3) assinala que a terapia de grupo assemelha-se a indi­vidual, em seu objetivo, na mesma concepção da personalidade huma­na e de como se modifica, e, diferencia-se, pelo fato de que em grupo vârias pessoas, e não somente duas, interatuam no processo terapêu­tico: "A multiplicação do número de participantes implica muito mais que a extensão da terapia individual a vârias pessoas simultâne,amente, proporciona uma experiência qualitativamente diferente, com poten­cialidades terapêuticas únicas".

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Três condições são essenciais segundo S. H. Foulkes e E. J. Anthony par.a a psicoterapia de grupo:

1. O grupo baseia-se na comunicação verbal; 2. O objetivo do tratamento é o de cada membro, individual­

mente considerado; 3. O próprio grupo constitui o principal agente terapêutico.

Para S. R. Slavson (7), em The Fields of Group P,sychoterapy, o tratamento de grupo é realizado através do grupo, pelo fato "de que inter.ações e respostas dos pacientes, uns para com os outros, suas interpretações, opiniões, esforços para ajudar, empatia e apoio, criam uma situação favorável à terapia através do grupo. Isso quer dizer que o grupo, como tal, é um agente terapêutico tão bom quanto o terapeuta" .

Os grupos de aconselhamento diferem dos grupos de psicoterapia de orientação psicanalista.

As principais características dessa diferenciação, de acôrdo com Foulkes e Anthony, são que na psicoterapia grupo-analític.a, a comu­nicação verbal muda para associação de grupo. A discussão de grupo torna-se numa "livre discussão circular" (comparada pelos autores como associação de idéias na psicanálise) . Realmente, todo o material do grupo é analisado e interpretado e o tema discutido pelo grupo ê analisado tanto em seu conteúdo manifesto como no latente, enquanto outros grupos psicoterápicos (e o aconselhamento) tratam apenas do conteúdo manifesto.

A psicoter.apia de grupo é usada em hospitais, ambulatórios, centros de assistência social, escolas, além de o ser em clínicas parti­culares.

G. de Macedo (8), em A Psicoterapia de Grupo nas Prisões (no­tas preliminares), resumido pelo A. na Revista de Psicologia Normal e Patológica, procura mostrar a oportunidade da terapia de grupo nas prisões: "A psicoterapia de grupo obedece às diretrizes do pensamento penitenciário contemporâneo".

Slavson (7), na obra já ci tada, indica 18 campos em que é aplic.ada psicoterapia de grupo, a saber: nas desordens psicossomáti­cas, toxicomania, alcoolismo, gagueira, alergias, geriatria, problema de mães, mães solteiras, delinqüência, orientação infantil, servidos de orientação familiar, problemas de sexo e casamento, grupos de tera­peutas, serviços de higiene mental de comunidade, nas fábricas, no treinamento e na pesquisa.

Alguns problemas bãsicos de psicoterapia de grupo são ainda bas­tante discutidos. Entre êles, o do número ideal d~ membros na forma­ção do grupo. P,ara Hobbs (3), é êle de seis, mais o terapeuta. Jane Warters, porém, observa que a média, nos autores por ela consulta-

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dos, varia de 6 a 15 membros. Cita Hobbs, Hueckley e Hermann, Joel e Shapiro, os quais preconizam de 6 a 8 membros; e Powdermarker e Frank que recomendam de 10 a 15; ao passo que Driver prefere de 6 a 10 membros. Grupos maiores não seriam suscetíveis de aconselha­mento, bem como grupos de menos de 6 membros.

Foulkes e Anthony acham que o número ideal é de 7 e não 8, e citam F. K. Taylor como tendo demonstrado que a comunicação é mais fácil num grupo de 7 membros, que num de 8.

Discute-se a respeito da sata de reunião, que não deve ser grande para dar um aspecto de intimidade; quando muito pequena, se os mem­bros fumarem, deve ser bem ventilada. Deve oferecer comodidade para todos e ser livre de ruídos exteriores. A variedade de raças e de cõr dos participantes pode influir no grupo.

Os assentos devem ser variados, com cadeiras de espaldar reto, .para quem as prefira, além de poltronas mais confortáveis, de cõres variadas. A escolha de cadeiras, bem como sU,a movimentação etc., terá significado para o terapeuta.

Alguns terapeutas colocam as cadeiras ao longo das paredes, principalmente n,as primeiras sessões, outros as preferem em círculo. Hobbs (3) coloca o grupo em círculo com uma mesa no centro, nem muito estreita nem muito larga; outros acreditam que a mesa repre­.senta barreira entre os membros, devendo ser retirada.

Foulkes e Anthony escrevem: "É costume deixar o espaço central .do círculo mobiliado apen,as por uma pequena mesa. Isto faz com que nada fique oculto, de modo que os membros do círculo exponham suas partes expressivas e reveladoras - a face, as mãos e os pés -que falam a linguagem corporal de cada um, mesmo durante os perío­,dos silenciosos d,a sessão. O terapeuta também toma parte no círculo, sendo igualmente sensíveis seus movimentos".

Há terapeutas que preferem ter sua cadeira separada para simbo­lizar sua liderança.

Bach (4) diz que a maneira mais comum de dispor o grupo éem ·círculo. Relat.a a conclusão de Steinzor, após experiência realizada em 1950, segundo a qual as pessoas que se sentam frente a frente, no círculo, têm maior valor como estímulo mútuo, pela oportunidade de observar todos os aspectos não-verbais da comunicação.

Alguns terapeutas têm, além da sala de espera, uma outra sala, confortàvelmente mobiliada, para reuniões do grupo, antes e depois da sessão.

Outro ponto bastante discutido é a freqüência das sessões, sua duração, e hora de reunião. Há grupos que se reúnem uma vez por semana, outro duas vêzes. O Dr. Bernardo Bray Neto (9), em seu ar­tigo Freqüência de Sessões em Psicoterapia de Grupo, publicado na Revista d~ Psicologia Normal e Patologia, justifica seu tema na "coexistência de freqüências as mais variadas", havendo grupos que

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se reúnem, 2, 3, 4 e até 5 vêzes semanalmente. Cita grupos que tra­balham 72 horas consecutivas, interrompendo apenas para "a satis­fação de necessidades higiênicas-dietéticas dos participantes". !sse autor conclui, por sua experiência, que a freqüência de sessões de­pende de fatôres pessoais do psicoterapeuta, e sugere que seja ela determinada pelas necessidades grupais que, segundo êle, "são meno­res do que a de pacientes em situação individual, devido às caracte­rísticas próprias do grupo".

A duração das sessões, segundo A. L. Kadis e outros (6), de­pende dos objetivos do grupo, de sua freqüência e do nível de trata­mento, a critério do terapeuta.

Bach (4) cita exemplo de dois grupos, um que se reunia uma vez por semana, e outro, duas vêzes. A duração das sessões foi de duas horas, mais duas horas de pós-sessão, no mínimo.

Parece haver acôrdo, entre os autores, que as sessões sejam de uma hora no mínimo e de duas e meia no máximo.

A terapia de grupo, embora como já foi dito possa atender a pessoas de diferentes idades e com diferentes problemas, tem limites. Esses limites foram de certo modo por nós tratados, ao falarmos de sua finalidade, que é o atendimento individual. Port.anto a terapia de grupo não deve ser usada quando não possa atender a necessida­des dos indivíduos.

Em alguns casos, o tratamento de um membro necessita ser com­binado; isto é, o atendimento do cliente será feito em grupo e em sessões individuais, pelo mesmo terapeuta. Quando o atendimento do cliente em sessões individuais fôr feito por outro terapeuta, chama-se tratamento conjunto. O critério de escolha entre o tratamento combi­nado, ou conjunto e o do terapeuta, visa sempre ao melhor aprovei­tam~nto do cliente.

Alguns usam também de reuniões .alternadas. Essas reuniões são programadas regularmente, incluindo todos os membros do grupo, menos o terapeuta. Realizam-se em casa dos membros, ou no esCri­tório, em rodízio, cada um contribuindo com algo para uma pequena refeição. Às vêzes, como em um exemplo de Bach, (4) a reunião faz-se num restaurante, ou ainda numa sala especial para isso, junto à sala comum de sessões, antes ou depois delas (pré ou pós-sessões).

São desaconselhados encontros de subgrupos, isto é, de alguns membros apenas.

Há determinados clientes com melhor .aproveitamento que outros na terapia de grupo. Outros não devem ser tratados em grupo.

Surge então o problema da seleção dos membros, o que pode ser mais complexo nos grupos abertos que nos fechados. Grupo aberto é aquêle que, depois de constituído, permite que, à medida que um membro o deixe, possa haver substituição. Grupo fechado, ao contrá­rio, é aquêle que se constitui pelos mesmos membros. Quase sempre,

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são êles constituídos por certo prazo, determinado, que pode variar de seis meses a dois anos. É usado em hospitais ou em escolas, por um período escolar, por exemplo. Na clínica particular usa-se mais o grupo aberto. No entanto, ambos os tipos têm seus adeptos,

A seleção inicial apresenta problemas semelhantes para grupos abertos e grupos fechados.

Alguns terapeutas, como Bach (4), selecionam os membros atra­vés de testes e entrevistas, para verificar quais os pacientes mais acessíveis à terapia grupal, e para procurar um bom equilíbrio no funcionamento do grupo.

Nos grupos abertos, já em funcionamento, surge o problema de como os membros possam aceitar o nôvo cliente. Na seleção Bach (4) usa também do recurso de uma visita do candidato a membro mais antigo, com sintomas semelhantes.

Alguns tipos de problemas que os candidatos apresentem podem ser de difícil aceitação num grupo, o que exigirá que o tratamento dessas pessoas seja realizado em grupos especiais.

Para Bach (4) quatro são as características que, isoladas ou com­binadas, tornam o tratamento de grupo impróprio para um indivíduo. São elas:

1. Insuficiência de contato com a realidade. Não se aceitam indi­víduos incapazes de seguir certo tipo de comunicação verbal mais ou menos rápido,com mudanças na sucessão do pensa­mento;

2. Pacientes com desvios sociais; os casos moderados podem ser aceitos, com cuidado; será criado para a maioria um grupo especial ou homogêneo. Exemplo citado por Bach: o de um indivíduo com antecedentes criminais, que dificilmente será aceito num grupo de neuróticos puritanos;

3. Caráter dominante ou monopolista crônico - são pessoas que se tornam ansiosas quando qualquer outra se converte em foco de atenção do grupo, usando como defesa ansiedade e ciúmes, e assumindo por fim o centro da cena, não importa por que meios. Bach cita Powdermarker e Frank, a res­peito do fracasso do tratamento em grupo de pessoas com tais características;

4. Defesa psicopática e impulsividade. Citando Bromberg e Fran­klin e também Slavson, o A. acha difícil o tratamento dêsses pacientes em grupo, pois êles prejudicam o aproveitamento dos demais membros. No entanto, em instituições especiali­zadas, parece possível o tratamento de psicopatas em grupos. Bach ao mesmo tempo afirma que o psicopata de "compor­tamento mais moderado" pode ser estímulo valioso num grupo, sob a orientação de um terapeuta experiente.

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Hobbs (3) afirma que a maioria dos A. estão de acôrdo na prática de afastar psicopatas do grupo.

Bach e Hobbs também acham inconveniente que pessoas que es­tejam atravessando uma crise aguda, em seu ambiente, sejam colo­cadas em grupo. Hobbs exemplifica com pessoas que estejam se di­vorciando ou que pretendem divorciar-se. O tipo de problema dessas pessoas provoca ansiedade no grupo por não poder ajudá-las. No entanto, acha que, se uma pessoa tem certa compreensão da contri­buição a prestar derivada do estado que atravesse, sua inclusão no grupo não será tão prejudicial. Mesmo assim, o melhor será atendê-la separadamente. Quando a crise é causada por um problema gue o autor considere como real (o de um pai que fique sabendo que seu filho é anormal, por exemplo) deve ser atendido em grupo, mas em grupo homogêneo,- de pessoas com problemas similares.

Alguns princípios de dinâmica de grupo devem ser observados, quando um nôvo membro se prepare para incorporar-se a um grupo já constituído, em dado momento. Bach (4) considera que, às vêzes, o grupo precisa de alguém agressivo, ou, ao contrário, de um passivo componente.

Êsse A. prefere sempre grupos mistos, do que de um só sexo. Também prefere uma ampla escala de idades e de variável situaçãO' sócio-econômica. Mas há certos limites para tal heterogeneidade, como êstes por exemplo: o fato de pessoas muito jovens, com pouca experiência sexual, que se juntem a um grupo de adultos; ou o de pessoas com diferença muito grande de educação, ou de nível in­telectual.

A. Kadis e outros redigiram uma série de perguntas que o tera­peuta deveria fazer a si mesmo, e de cujas respostas se servirá para resolver alguns problemas de seleção dos membros do grupo. São as seguintes:

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1. Sou capaz de enfrentar, e desejo enfrentar, êste problema no· grupo?

2. Como os outros membros do grupo reagirão em face da pessoa considerada? Obstruirão seu movimento psicoterápico, ou ela obstruirá e impedirá o movimento terapêutico do grupo já iniciado?

3. Poderei dispor de tempo para sessões individuais, se o grupo provocar ansiedade acima do nível de tolerância de deter­minado paciente? Poderei dispor de tempo para sessões indi­viduais se fôr indicado o tratamento combinado?

4. Quais as possíveis repercussões legais resultantes de repre­sentação, se êsse paciente entrar no grupo?

5. Que facilidades estarão à minha disposição se o estado do paciente exigir hospitalização, ou outras formas de tratamen­to, físicas, elétricas, e/ou farmacológicas, por exemplo? ..

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Os mesmos autores citados indicam casos especiais de admissão no grupo que deverão levar o terapeuta à cuidadosa reflexão, para que a admissão se possa fazer, nos casos de problemas de toxico­mania, alcoolismo, sociopatias e problemas psicossomãticos.

Na primeira espécie, a dos toxicômanos, o terapeuta não deverã esquecer que tais pessoas geralmente estão comprometidas com as autoridades, donde a necessidade de conhecer as conseqüências legais do caso. No Brasil, parece, no entanto, nada constar na legislação a respeito do trato dês se paciente com o psicólogo.

O principal problema relacionado com a inclusão do toxicômano no grupo é a reação de hostilidade provocada por suas ausências se­guidas, ou por seu comparecimento às sessões ainda sob a influência de tóxicos. Essa hostilidade prejudicarã o cliente, pois tornarã claro o sentimento de rejeição contra êle. No entanto, segundo os autores, o terapeuta pode, através de aceitação do toxicômano como pessoa dentro do grupo, levar os demais membros a aceitã-lo também. O êxi­to do tratamento dependerã muito do terapeuta, que muitas vêzes, deverã usar de sessões combinadas para bem ajudar êsse tipo de cliente.

Como o toxicômano, o alcoólatra poderã, a princípio, ser bem aceito pelo grupo, por considerar seu vício também como um sintoma. Mas o problema do alcoólatra é dos mais difíceis de tratar em grupo. Pelo fato de que o ãlcool tende geralmente a "enfraquecer as fôrças inibidoras interiores", torna-se difícil para o grupo a aceitação de uma pessoa embriagada.

Associações tais como a dos Alcoólatras Anônimos, podem ajudar as pessoas em tratamento a ser bem sucedidas. O alcoólatra, em geral, não aceita as reações negativas, pelo que pode abandonar o grupo; necessita-se geralmente de terapia combinada no tratamento dêsses clientes.

No caso de viciados, convirã que o terapeuta entre em contato com a família dêles. Muitas vêzes, reunidos com familiares, uns dos outros, poderã haver participação de um grupo de orientação, com a finalidade de encorajá-los a participar do processo de recuperação, pelos familiares.

Quanto a sociopatas, pessoas com desvios sociais, podem elas ser tratadas em grupo, desde que se limitem a um ou dois, em cada grupo; parece que hã algumas vantagens na sua inclusão num grupo, segundo a opinião de alguns especialistas. A exploração da caracte­rística de alheamento do ego, apresentada por êsse tipo de indiví­duos, pode levar os membros à diferenciação entre o indivíduo e seu comportamento, e, também, à melhor compreensão de seus próprios sentimentos em relação a seus próprios impulsos, ou tipos de defesa emocional.

Isso permite compreender certos problemas psicossomãticos, que são "males orgânicos iniciados, ou exarcebados, por conflitos emo­cionais" (úlceras pépticas, asmas e enxaquecas, por exemplo) (6).

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Só depois de reconhecidos os fatôres emocionais que influen­ciam tais doenças, foi que se começou a encaminhar os portadores delas à psicoterapia. A principal dificuldade dêsse paciente parece ser a incapacidade que tem de enfrentar convenientemente a própria ansiedade, relacionada, como já se viu, à sua doença orgânica.

Embora aceitando a inclusão de uma ou duas pessoas com proble­mas psicossomáticos no grupo, os autores preferem tratá-Ias em grupos homogêneos. O terapeuta procurará aumentar-lhes as fÔrças do ego, de tal modo que possam enfrentar seus próprios problemas e abandonar suas defesas emocionais.

Selecionado o grupo, deverão os membros serem iniciados no processo grupo-terápico. Como isso se fará ou como induzir os mem­bros selecionados a participarem do grupo, dependerá especialmente da formação teórica do terapeuta.

Parece haver acôrdo em que o paciente deseje participar do grupo. Foulkes e Anthony dizem que embora os grupos sejam formados

por indivíduos isolados, êsses indivíduos têm entre outras, a caracte­rística comum de ter razões para "quererem entregar-se a um processo terapêutico (sua motivação através do sofrimento)". Também afir­mam: "O primeiro e mais importante aspecto com que normalmente se preocupam os psicoterapeutas de grupo e segundo o qual fixam seus conceitos, é o de participação, do sentimento de se fazer parte de alguma coisa" (Cap. I, itens 5 e 6).

Bach (4) prepara seus clientes através de um resumo e inter­pretação dos resultados dos testes a que tenham sido submetidos, e o diagnóstico correspondente. :me acredita que assim reforçará o desejo dos clientes de participarem do grupo.

A maioria dos autores usa a entrevista de admissão para escla­recer o futuro membro acêrca das normas a serem observadas (horá­rios, freqüência, honorários etc.) e, o mais importante, procuram criar para o cliente sentimentos de respeito, aceitação, segurança, esfor­çando-se para que a natural ansiedade produzida pela expectativa de cada participante, não atinja nível que só dificilmente possa ser tolerada.

Alguns terapeutas costumam avisar seus clientes que tais reações são comuns, sugerindo que se não conseguirem verbalizar seus senti­mentos, quando no grupo, que os procurem individualmente. Com isso conseguem evitar que muitos dêles desistam de participar do grupo.

O líder dirá ao cliente alguma coisa a respeito da natureza do trabalho em grupo, e como isso irá ajudá-lo, além do que poderá esperar do papel de suas confidências e do conteúdo da discussão (5).

Procura-se responder às perguntas do cliente, que tomará a de­cisão de participar ou não dêsse tipo de tratamento.

Na primeira sessão, de acôrdo com sua formação teórica, o tera­peuta iniciará o trabalho, apresentando os membros, uns aos outros,

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ou pedindo-lhes que se apresentem, ou, então, permanecerá calado., deixando a iniciativa aos membros etc.

Ninguém será forçado a falar, mas sempre haverá alguém que inicie a comunicação verbal.

Segundo A. Kadis, e outros (6), "em alguns grupos novos, con­virá que o terapeuta continue a manter papel de diretor, durante algum tempo ... " Será o ponto focal centralizando-se o grupo em tôrno dêle.

Hobbs (3) critica os esforços que o terapeuta faça para "induzir" 'os membros a falar, aprovando a técnica analítica de Foulkes, que -convida os clientes a falarem sôbre o que lhes vier à cabeça.

Os membros deverão saber que êles, e não o líder, devem decidir :sôbre o que convirá discutir (5), e o momento de fazê-lo.

No entanto, a atitude do terapeuta não deve ser de omissão pois -êle é o responsável pelo grupo; terá de contribuir para maior inte­ração do grupo, como a aceitação, a clarificação, a permissividade, o relacionamento "O que os outros pensam disto," (5).

Hobbs (3), como Foulkes (6), Bach (4) e outros, acentua que a terapia se realiza através do grupo. Daí, Hobbs achar que a atitude do líder deve ser apenas de fazer o grupo funcionar. Critica as atitu­des de indução através de conferências, a proposição de um tema para ,discussão, o esfôrço para que os membros falem, fazendo perguntas ou ainda interpretando a conduta.

A psicoterapia será centrada no grupo, com semelhanças na psi­,coterapia centrada no cliente, quanto a técnica a ser usada, para tentar reconstruir o campo perceptual do indivíduo no momento em que êle se expressa, mostrando compreensão.

Usa-se a clarificação e reflexão de sentimentos, revisão do con­teúdo e aceitação. A preocupação com o diagnóstico será reduzida .ao mínimo, "não se confia na interpretação como instrumento tera­pêutico, nem no discernimento súbito como agente essencial do pro­-cesso de aprendizagem. As atitudes favoráveis à transferência serão tratadas do mesmo modo que outras expressões carregadas de afeto" (3).

A função do terapeuta será tentar compreender o que o membro do grupo diga e sinta, para comunicar essa compreensão ao grupo e para tornar mais fácil e seguro o prosseguimento das explorações de si mesmo, pelo indivíduo.

"Quando o terapeuta seja hábil, o grupo mesmo se converterá em agente terapêutico, adquirindo um ritmo próprio com conseqüências terapêuticas maiores do que as que resultariam do esfôrço do tera­peuta apenas" (3).

Continua o mesmo autor afirmando que os grupos que obtêm maiores benefícios da grupoterapia são aquêles a que o terapeuta responda não-diretivamente, isto é, quando "êle se converta numa

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parte harmoniosa do pensamento, ajudando o processo, mas sem interferir juntando elementos novos".

É interessante assinalar aqui que diferentes autores, de diferentes formações teóricas, concordam com a idéia da centralização da te­rapia no grupo.

Na parte centralizada do grupo, o líder considera-se como um "participante perito", embora não negue sua autoridade. A comu­nicação nesse caso é circular. O líder procura criar um clima que se caracterize pela igualdade e interdependência dos membros e tole­rância a suas reações, tanto às positivas, como às negativas. A lide­rança do grupo é incentivada.

Conforme vemos, a orientação teórica do terapeuta influencia seu ponto de vista a respeito de como é o processo de grupo. Mas inde­pendentemente dessa orientação, o terapeuta tem por função facilitar a exploração e enfraquecer tudo quanto obstrua a exploração dos problemas de cada paciente, ajudando-os a explorar o que esteja agra­vando seus problemas (6).

Da experiência de vários autores, concluiu-se pela existência de reações no grupo de terapia, que lhe serão próprias. São as chamadas reações G de grupo.

As reações G são reações exclusivas da terapia de grupo, têm caráter repetitivo e criam situações especiais nas quais há maior pro­babilidade de haver alguma modificação no grupo. Exprimem adapta­ção ôo grupo, para manter seu equilíbrio e seu nível de ansiedade nos limites toleráveis.

Os autores A. L. Kadis e outros especialistas (6), citam as se­guintes reações G: 1. Homeostase; 2. Transferência múltipla; 3. Associações reativas; 4. Mecanismos de defesa; 5. Representação; 6. Carambola; 7. Subgrupos; 8. Fracionamento do grupo; 9. Mu­danças no estado de um membro do grupo; 10. Ataque ao terapeuta; 11. Tentativa para aniquilar um membro do grupo; 12. Reações ao aparecimento de um nõvo membro; 13. Sensação de chegar a um planalto. Os mesmos autores citam cinco tipos de problemas espe­ciais de comportamento que aparecem no grupo terapêutico: 1. O tipo dependente ou passivo; 2. O exibicionista; 3. O terapista assis­tente; 4. O membro silencioso; 5. O provocador.

Assim se caracterizam as reações G: 1. Homeostase - Compara-se essa reação de grupo à reação do

organismo humano, do mec.anismo endócrino, por exemplo, para manter o equilíbrio das secreções internas. A homeostase procura o equilíbrio da ansiedade dos membros do grupo, para que a mesma se mantenha em nível tolerável. Havendo no processo de grupo vários tipos de direções emocionais, de comunicações emocionais (aqui se compara a comunicação não-verbal e osmose), o clima do grupo se apresenta conseqüentemente, em constante modificação. A homeos-

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tase estará funcionando, para que durante essas mudanças do clima, o nível de ansiedade permaneça apropriado ao grupo. A homeostase exprime maior coesão do grupo.

2. Transferência múltipla - É a mais comum das reações G, como resposta do paciente às características das diversas pessoas do grupo. Os membros do grupo reagem de modo diferente aos diferentes elementos do comportamento de um paciente, e os comentam de forma diversa. O grupo favorece a transferência quando seu clima seja de tom familiar. Ocorre normal e simplesmente, não havendo ne­cessidade de ser provocada. Os modos pelos quais se manifesta podem modificar-se durante a evolução do grupo.

3. Associações reativas - É uma reação G criada pelo clima social do grupo. Pode ser provocada pela disposição da pessoa, ou por alguma a~ão, de um, alguns ou todos os membros do grupo.

4. Mecanismos de defe~a - São as maneiras pelas quais cada membro resiste ao tratamento. Sentindo-se ameaçado êle exalta seus mecanismos de defesa. A medida que repita êsses mecanismos, os demais membros do grupo vão percebendo-os, e chamando a atenção para êles, o que causa profunda impressão no indivíduo inicialmente considerado. -

5. Representação - É um comportamento repetitivo, compul­sivo, que envolve sempre atividade motora. Um membro pode estar representando para o grupo durante a sessão e mesmo fora dela. :esse comportamento pode ser de um, de vários membros ou de todo o grupo. Em geral, é um comportamento destrutivo, mas pode ser usado positivamente, como, por exemplo, para reduzir a ansiedade.

6. Carambola - Essa reação G deve seu nome à semelhança com a jogada de bilhar. Acontece quando certo membro do grupo comu­nique (verbalmente ou não) alguma coisa, provocando reação seme-1hante em todos os demais. Isso acontece porque o que o membro exprime, e pareça ser reação individual, é reação de todo o grupo. Cada membro terá refletido os sentimentos dos outros.

7. Subgrupos - A divisão do grupo em frações é uma forma de representação. Suas causas são variadas, como por exemplo, quando alguns membros tomem o mesmo caminho após o término da sessão; por motivos de transferência, de identificação, ou por traduzir confor­mismo ou oposição. Podem procurar encontrar-se fora da sessão para acentuar sua separação do grupo. Na maioria, os subgrupos acabam dissolvendo-se com a evolução do grupo, sem haver necessidade de intervenção do terapeuta.

S. Fracionamento do Grupo - Esta reação G é normal quando ocorra. no comêço da vida do grupo e os membros se experimentam, mais como indivíduos do que como membros solidários do grupo. Conseqüência dessa reação G é a dissolução do clima do grupo, pro­vocando o retraímento e isolamento, que podem ser expressos verbal-

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mente ou não. O terapeuta pode tentar provocar uma reação para evitar certo tipo de conformismo, que alguns (6) chamam de atitude de "eu-também".

9. Mudanças no estado do membro do grupo - Tôda mudança que envolva a configuração do grupo pode romper sua homeostase, ou mesmo, provocar uma reação G. Mudanças como casamento, sepa­ração, e as relativas a emprêgo, como demissão de um membro, podem causar ansiedade nos outros, por identificação ou pelo sentimento de não poderem ajudar etc.

10. Ataque ao terapeuta - .É uma reação G muito comum em psicoterapia de grupo. São mais comuns que na terapia individual porque no grupo os membros têm apoio mútuo para o ataque.

11. Tentativa para aniquilar um membro do grupo - Essa rea­ção G dependerá em parte dos fatôres presentes no grupo e, em parte, dos do indivíduo, pelos quais os demais componentes sejam atraídos. Assim, um participante pode ser atacado por pretender isolar-se. Essa reação G acontece também quando, em um dado momento da evolu­ção do grupo, o mesmo apresente necessidade de agredir é um mem­bro, sentindo necessidade de ser punido.

12. Reação ao aparecimento de nôvo membro - Essa reação variará de acôrdo com o estado emocional dos diversos membros do grupo, ao apresentar-se um nôvo componente. A atuação do terapeuta na apresentação do nôvo membro é diferente de sua atuação quando organize um nôvo grupo. Segundo Bach (4), parte da sessão de apre­sentação do nôvo membro deve ser dedicada à discussão do que uma pessoa sente ao vir, pela primeira vez, a uma sessão do grupo.

13. Sensação de chegar a um planalto - É a sensação que acon­tece, geralmente, depois de uma fase em que os membros trabalhem material já conhecido, e não estando ainda prontos para trabalharem outro material, ou por resistência, ou por outro motivo, como por exemplo, depois de férias, de feriados ou quando certo membro deixe o grupo.

Vejamos agora problemas especiais de comportamento, que apa­recem no grupo terapêutico, e que, segundo os autores (6) não apa­recem na psicoterapia individual:

1. Tipo dependente-passivo que "demonstra desamparo, inde­cisão e apêgo aos outros" (6). É o tipo que procura agradar, mostra-se serviçal e geralmente liga-se a algum membro que tenha desejo de mandar; relaciona-se apenas com pessoas que lhe fazem exigências.

2. Exibicionista - O grupo favorece oportunidade ao exibicio­nista para revelar seu comportamento desviado. A aceitação dêsse comportamento pelo terapeuta pode ser sentida pelos membros como aprovação, donde a necessidade de cuidado especial de parte do líder. quando isso aconteça.

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3. Terapista assistente - É o caso do membro do grupo que procura assumir atitudes que supõe ser próprias do terapeuta. Sua motivação poderá ser de chamar a atenção do terapeuta ou de riva­lidade com o mesmo. A atitude dêsse membro poderá levar o grupo a achar que está sendo abandonado pelo terapeuta, de cuja habilidade dependerá o sucesso da evolução do grupo.

4. Membro ,silencioso - Quando o membro seja silencioso em virtude de problemas de adaptação ao grupo, o encorajamento dos outros membros pode ajudá-lo a abandonar essa atitude. O fato de per­manecer silencioso não quer dizer que o membro não esteja aprovei­tando das sessões. O seu silêncio em geral é tomado como defesa contra a ansiedade, e pode, com o auxílio do grupo, conseguir expres­sar-se verbalmente.

5. O provocador - É o indivíduo que, dentro da sessão, agride os outros membros, através de atitude de interrogação e discussão. Sua atuação dentro do grupo pode ser positiva, quando estimule os outros membros a auto-exame, ou destrutiva quando tenta monopo­lizar as atenções do terapeuta.

O término do tratamento é outro ponto a considerar e que, de parte dos terapeutas, é tratado diferentemente conforme a teoria geral que adote. Mas, como bem diz Bach (4), todo "terapeuta de grupo responsável desenvolve, mais cedo ou mais tarde, seu próprio con­ceito dos papéis que desempenhe no grupo", seja qual fõr sua forma­ção teórica. Assim, profissionais com a mesma formação, ou mesmo enfoque teórico, têm um modo próprio de agir no grupo, e suas aspi­rações quanto ao papel ideal que desejam realizar.

Mas a maioria dos terapeutas concorda em que o objetivo do tra­tamento é recuperar as pessoas e não a sua cura. A recuperação do cliente dependerá do seu estado ao iniciar a terapia e de sua capaci­dade para poder melhorar. Como exemplifica A. L. Kadis e outros (6) "a recuperação do cliente deve ser avaliada em têrmos realistas. Assim, o objetivo da recuperação de um esquizofrênico de 40 anos, que entrou e saiu de numerosos hospitais mentais, é diferente daquele de um professor universitário de 25 anos, sujeito a graves ataques de ansiedade". -

Para êsses mesmos autores (6), o terapeuta deverá considerar até que ponto o cliente está mais próximo da solução de seu conflito central, como de outros, significativos; se êle é capaz de funcionar melhor que antes; em que área melhorou em seu funcionamento; e se o efeito do tratamento atingiu certo ponto decrescente.

O término do tratamento deve ser avaliado em têrmos do indi­víduo e não para a totalidade do grupo. Isso acontece mesmo nos grupos homogêneos. Através da evolução do grupo, o membro deverá ir aceitando sua individualidade bem como a dos demais. Essa compre­ensão ajuda-Io-á a entender que seu preparo para o término do trata­mento será devido à sua medida pessoal.

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Quanto maior fôr a capacidade do cliente enfrentar as frustrações da vida diária (na família, no emprêgo, em sua vida social), maior será o seu ajustamento geral.

"A recuperação tem relação direta com a capacidade do paciente para trabalhar e planejar, cooperar e divertir-se, amar e ser amado, e usar os instrumentos da psicoterapia por sua própria conta, para resolver problemas que ,afetam sua saúde e bem-estar mental" (6).

O cliente fica mais livre da ansiedade, e suas relações interpes­soais melhoram, na família, no emprêgo, na -vida social. Torna-se mais compreensivo, mais capaz de eleger seus próprios valôres mais inde­pendente, mais imune às influências dos que o cercam.

As sessões alternadas são boas para testar o progresso do client~ e para afastá-lo da terapia. Os autores acima (6) citam um cliente que disse a outro membro do grupo: "Acho que você está preparado para sair. Você é capaz de falar quando o terapeuta está aqui e não fica dando empurrão em nós nas reuniões alternadas. Não tem mêdo dêle e não tem mêdo de nós também."

Os métodos para o encerramento do tratamento são diferentes dos das terapia individual. O preparo do cliente pode ser feito no próprio grupo ou em sessões individuais após o término do trata­mento no grupo, ou através de sessões combinadas, abrangendo sem­pre um número variado de sessões, conforme o caso.

Alguns terapeutas usam - para verificar se o cliente está apto a deixar o grupo - submetê-lo a uma bateria de testes, os mesmos aos quais o cliente tenha sido submetido antes do tratamento, geral­mente o Rorschach, desenhos, TAT, mosaico, completar sentenças (6).

t o cliente quem costuma indicar que está preparado para deixar o grupo dando suas razões para essa decisão, razões que devem ser examinadas pelo grupo. Da interação das avaliações pelo cliente e pelos outros membros é que surgirão mais claros indícios sôbre sua recuperação. Geralmente, o terapeuta pede ao cliente que permaneça ainda algum tempo no grupo, às vêzes programando sessões indivi­duais e procurando assim avaliar se a decisão do mesmo não é resul­tante de um comportamento de representação ou de resistência. Quando realmente apto a retirar-se do grupo, o cliente costuma acei­tar a sugestão, permanecendo em mais algumas sessões.

Nem sempre o conceito de recuperação do cliente, de seus fami­liares e do terapeuta coincidem. O cliente pode sentir-se apto a deixar o grupo, embora seus familiares não concordem com sua re­cuperação por motivos sociais, e o terapeuta também não esteja satis­feito, por não ter o cliente, segundo seu parecer, resolvido o problema mais importante (6). No entanto, o conceito do cliente, é o que pre­valece.

O grupo pode aceitar a retirada de um membro concordando com ela ou pode ressentir-se dessa saída, atacando o membro, rejeitan-

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do-o, procurando causar-lhe frustração. De como êle reage a essa hos· tilidade, não se atrapalhando, revelando atitude de compreensão, pode resultar uma prova de que de fato está prep.arado para encerrar o tratamento.

Em alguns grupos, ao término do tratamento de um membro, costuma-se usar a técnica de dar a volta. Os membros pedem, por iniciativa própria ou por sugestão do terapeuta, ao membro que se retira, sU,a opinião a respeito de cada um dos que ficam. Essa prática pode levar o grupo a compreender muito sõbre sua própria evolução.

Há sempre ansiedade relacionada com a saída de um membro, como há com a entrada de novos elementos. O grupo sabe que o membro que se retira será substituído. Essas situações freqüente­mente fazem ,aparecer temas relativos à vida, ao nascimento e à morte.

Nos grupos fechados aparecem ansiedades relacionadas com o prazo para o encerramento do grupo, as quais podem ser aliviadas mediante a informação de que os que ainda precisarem de auxílio poderão juntar-se a um nõvo grupo.

FORMAÇÃO DO TERAPEUTA EM GRUPO

Embora os autores concordem com a necessidade de formação especial para o terapeuta do grupo, a maioria dos profissionais, que trabalham nesse campo, tendo recebido apenas treinamento para a psicoterapia individual. Isso parece ser um fato comum, não só entre nós, mas também em outros países, talvez por ser a terapia de grupo um processo relativamente nõvo.

No V Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, rea­lizado em São Paulo, em 1967, foi ventilado o problema da necessi­dade de um programa regular para a formação e supervisão de pro­fissionais interessados em grupoterapia.

Parece haver acõrdo, entre os autores, que o terapeuta de grupo, receba primeiramente formação de terapeuta individual e que seja submetido à psicoterapia.

É desejável também que o terapeuta de grupo tenha participado como membro de um grupo de terapia, e que ao iniciar sua atividade profissional seja supervisionado durante certo tempo, por profissional experiente.

Atualmente, a maioria dêsses profissionais são treinados ocasio­nalmente, por algum terapeuta mais habilitado, sendo que alguns através da participação em um grupo como cliente e outros como membros observadores.

Respondendo a um questionário, em 1960, psicoterapeutas de grupo, membros da Associação Americana de Psicoterapia de Grupo, revelaram dados interessantes a respeito de sua formação e atuação, revelados por A. L. Kadis e outros (6). Relataremos êsses dados nos

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pontos que nos parecem mais interessantes, procurando resumi-los. Os psicoterapeutas que responderam a êsse questionário tiveram for­mação profissional variada: "22% prepararam-se em universidades, 15% em institutos de treinamento psicoanalítico, 14% em hospital de administração de veteranos, 14% em departamento psiquiátrico de hospital geral, 12% em hospital estadual, 8% em escola de assistência social, 5% em escola de medicina e 4% em hospital mental que não se tenha incluído em nenhuma das categorias mencionadas" (6).

A maioria dêsses profissionais declarou ter sido treinada em psi­coterapia individual. Grande parte (59%) declarou ter adquirido sozi­nha seu treinamento em psicoterapia de grupo. Outros receberam instrução formal as mais diversas, e dêsses quase todos já haviam sido treinados em psicoterapia individual (92%). Daqueles que não receberam treinamento em psicoterapia individual (14%), dois terços não receberam também treinamento para a terapia de grupo.

A maioria (63%) foi paciente de psicanálise ou de psicoterapia individual. Os que receberam instrução formal de psicoterapia de grupo, foram os que permaneceram mais tempo como paciente em tratamento individual. Mais ou menos um têrço dêsses profissionais foi paciente de grupo, alguns em psicoterapia de grupo e outros em grupo analítico.

Quase metade (48%) descreveu os seus grupos como grupo de terapia; 28% como grupo analítico, 14% como grupo de aconselha­mento; como grupo de orientação, 2% e de apoio, 1 %.

Psicoterapeutas de diferentes formações praticam tôdas as es­pécies de psicoterapia de grupo.

Todos êsses psicoterapeutas, que responderam ao questionário, dedicam-se à psicoterapia de grupo, bem como a outras atividades, como terapia individual, supervisão, ensino e atividades em outros tipos de instituições.

A maioria inclui em seus grupos homens e mulheres, embora tenha havido 23% de grupos só de homens e 18% só de mulheres, além de 2% de familiares; 1 % dos grupos foi de crianças, 1 % de casais e 1 % homogêneo de doentes. Interessante notar a variedade quanto ao número de pacientes. Houve grupo de 100 membros e outros de 2. Embora o número preferido tenha sido o de 8, foi usado por apenas 31 % dos terapeutas, sendo que 17% incluíam 7 pacientes, e 16%, 6.

Os grupos maiores tendem a ser mais freqüentes em instituições e os menores na clínica particular, nas escolas e administração de veteranos".

Grupos mencionados pelos seus líderes como sendo de psicote­rapia e aconselhamento, variavam de 3 a mais de 100 membros; nos grupos tidos como analíticos, seu número foi de 3 a 25; os tidos como de orientação e apoio, de 5 a 15.

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Grande maioria (81%) reunia-se uma vez por semana, 15% 2 vêzes, alguns 3, 4 ou mais vêzes; outros, uma vez por mês.

Apenas 13% dêsses grupos programaram reuniões alternadas semanais .. Alguns promoviam reuniões alternadas facultativas e poucos mais de uma reunião alternada por semana.

Houve certa relação entre a duração da sessão e o objetivo decla­rado do grupo. A maioria dos grupos de psicoterapia e aconselhamen­to reunia-se durante 90 minutos, tempo também usado pela maioria dos grupos analíticos (três quartos dos mesmos). Alguns grupos analí­ticos (7%) reuniam-se durante duas horas; 13% dos de aconselha­mento usavam 75 minutos para suas sessões e 26% preferiam 60 mi­nutos, tal como 22% dos grupos de psicoterapia e metade dos grupos de orientação; 10% dos grupos tidos como de psicoterapia usavam 50 minutos. As sessões mais curtas foram, de modo geral, de apoio.

Sabemos que há entre nós, psicólogos que trabalham em aconse­lhamento de grupo com sucesso, mas infelizmente não encontramos publicações a respeito. Seria desejável que êsses profissionais, aban­donando sua modéstia habitual, publicassem suas observações, que sendo de interêsse para muitos, poderiam contribuir para maior efi­ciência profissional dos que trabalham na especialidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1. ROGERS, C. R. Conseling and Psychotherapy. Boston, Houghton Mifflin. 1942.

2. SCHEEFFER, Ruth. Aconselhamento Psicológico. Rio de Janeiro, Editõra Fundo de Cultura, 1964.

3. HOBBS, N. Group Centered Psychotherapy. Capo VIII. In: ROGERS, C. R. Client Centered Therapy. Boston, Houghton Mifflin, 1951.

4. BACH, George R. Psicoterapia Intensiva de Grupo. Tradução para o espanhol. Daniel Ricardo Wagner. Buenos Aires, Edições Hormé, 1958.

5. WARTERS, Jane. Group Guidance - Principies and Practices. Nova Iorque, McGraw-Hill, 1960.

6. KADIS, Asyah, KRAsNER, Jack D., WINICK, Charles & FOULKES, S. H. Psico­terapia de Grupo. Tradução de Roberto Pontual. Rio. de Janeiro, Biblioteca Universal Popular, 1967.

7. SI,AVSON, S. R. The Fields of Group Psychotherapy. Nova Iorque, John Wiley e Sons, 1956.

8. MACEDO, G. A Psicoterapia de Grupo nas Prisões. Resumo pelo autor - Re­vista de Psicologia Normal e Patológica. Ano 11, n" 1, 1956.

9. BRAY NETO, Bernardo. Freqüência de Sessões em Psicoterapia de Grupo. Re­vista de Psicologia Normal e Patológica, ano XII, n" 3-4, 1966.

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