acreditava num mundo de ideias à parte, nem nas formas ... · Aristóteles critica a doutrina das...

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Aristóteles critica a doutrina das ideias, de Platão. Ele não

acreditava num mundo de ideias à parte, nem nas formas ideias das

coisas, nem que o nosso mundo fosse uma cópia imperfeita ou um

simulacro de um mundo das ideias. Para ele, a ideia das coisas está

dentro das coisas, justamente nas suas próprias características.

Ao contrário de Platão, Aristóteles entendia que a ideia das

coisas é criada a partir das informações que os sentidos nos

fornecem. Os sentidos são a primeira fonte de conhecimento e, por

isso, diferente de seu mestre, Aristóteles considerava os cinco

sentidos preciosas fontes de observação. A ideia de cavalo, por

exemplo, é um conceito criado pelos seres humanos depois de

observar um bom número de cavalos e não antes.

A origem das ideias é explicada pela capacidade exclusiva

do raciocínio humano que é a abstração: o intelecto, partindo das

imagens das coisas particulares, elabora os conceitos gerais.

Aristóteles usava a expressão filosofia primeira para designar

oque chamamos de metafísica. Trata-se da parte da filosofia

que estuda o ser.

O que entendemos quando dizemos que uma coisa é aquela

que é? Por exemplo, que um determinado ser é um homem ou

um animal? Estamos pensando naquilo que faz parte da

natureza que faz de um homem ser um homem, ou de um

animal ser um animal. Estamos pensando no verdadeiro ser de

uma coisa – quer seja o homem, quer seja o animal.

A metafísica de Aristóteles procura refletir sobre os

conceitos do ser e suas propriedades:.

Costuma-se dizer que Aristóteles trouxe “as ideias do céu

para a terra”. Afinal, para rejeitar a teoria das ideias de Platão, ele

reuniu o mundo sensível e o mundo inteligível no conceito de

substância. Para ele, cada ser que existe é uma substância, e a

substância é “aquilo que é me si mesmo”, suporte de atributos que

podem ser essenciais ou acidentais:

• essência é o atributo que, se faltasse, faria a substância

deixar de ser o que é;

• acidente é o atributo que a substância pode ter ou não,

sem deixar de ser o que é.

Por exemplo, a substância de uma pessoa tem como

características essenciais os atributos da humanidade (a

racionalidade, para Aristóteles). Os acidentais são ter cabelo

cacheado, ser alto etc. que não mudam o ser humano em sua

essência.

Platão e Aristóteles, figuras centrais no quadro Escola de Atenas:

Em seu livro Ética à Nicômaco, Aristóteles fala sobre a

felicidade. Ele diz que entre as coisas que deseja, a mais

importante é a felicidade. Não no sentido de alcançar prazer,

riqueza ou glória (ou honra), que não são fins em si, mas,

quando muito, meios para alcançarmos a felicidade (acumular

dinheiro, por exemplo, “só é um bem na medida em que útil, ou

seja, um meio para algo mais”, dizia o filósofo).

“A felicidade é o bem completo e final”, isto é, aquilo que

não é buscado como meio para nada mas é, antes, o que é

buscado como o fim de todas as nossas ações.

A esse respeito, leia o trecho a seguir e procure entender

a ordem do seu argumento:

“A felicidade parece ser o bem completo e final, uma vez

que sempre optamos pela felicidade por ela mesma e jamais

como um meio para algo mais, enquanto a honra, o prazer, a

inteligência e a virtude sob suas várias formas, embora optemos

por elas por elas mesmas (visto que deveríamos estar contentes

por possuirmos cada uma delas, ainda que nenhuma vantagem

externa delas decorresse), também optamos por elas pela

felicidade na crença de que constituirão um meio de

assegurarmos a felicidade. Mas ninguém opta pela felicidade pela

honra, pelo prazer etc., nem tampouco como um meio para

qualquer outra coisa que seja, salvo ela mesma.”

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Livro I, 1.097b 1-5.

Aristóteles defende que quem quer ser feliz deve

exercitar a virtude, isto é, ter uma disposição para buscar o

equilíbrio, o meio termo entre atitudes ou comportamentos

opostos.

Para alcançar a virtude, é preciso praticar a prudência ou

o discernimento, características exclusivas da racionalidade

humana, que correspondem à capacidade de separar, avaliar o

que é certo do que é errado. Somente assim, o indivíduo

consegue saber qual é atitude equilibrada que garante o melhor

para si e para a coletividade.

uso da razão: da prudência, do discernimento

Virtude

(o caminho do meio)

felicidade

E mais, a prática da virtude precisa ser um hábito

cotidiano. Veja o que diz Aristóteles:

“Essa atividade deve ocupar uma existência completa,

pois uma andorinha não faz verão, nem produz um belo dia;

e, analogamente, um dia ou um efêmero período de felicidade

não torna alguém excelente e feliz.”

O termo grego para felicidade é eudaimonía, composto

de eu, que significa “bom”, “prazeiroso”, e daimon, que significa

“bom gênio que nos orienta”. Por isso chamamos a ética

aristotélica de eudemonismo, que consiste na busca da felicidade

pelo exercício da virtude.

Questões

1. Em que sentido a metafísica aristotélica critica a teoria das ideias de

Platão?

2. Considerando a substância cadeira, a partir da teoria aristotélica, cite

um atributo essencial e um atributo acidental.

3. Qual a concepção de felicidade para Aristóteles?

4. Com base no trecho de Aristóteles do slide 7, justifique a afirmativa:

“É absurdo perguntar para que queremos ser felizes.”

5. O que você acha dessas ideias de Aristóteles sobre a felicidade?

6. Para Aristóteles, em Ética a Nicômaco, "felicidade [...] é uma

atividade virtuosa da alma, de certa espécie".

Assinale a alternativa que NÃO condiz com a referida definição

aristotélica de felicidade:

a) Felicidade só é possível mediante uma capacidade racional, própria

do homem.

b) Ter felicidade é obter coisas nobres e boas da vida que só são

alcançadas pelos que agem retamente.

c) Felicidade é uma fantasia que o homem cria para si.

d) Nenhum outro animal atinge a felicidade a não ser o homem, pois os

demais não podem participar de tal atividade.

e) A finalidade das ações humanas, o Bem do homem, é a felicidade

Mais ideias sobre a felicidade:

“Eu acho que depois da felicidade vem a vida normal de novo, você tentando ser feliz.” (Henrique e Guilherme)

“A felicidade é um estado de espírito (...) Não se ganha nada e nem vem nada depois de ser feliz, só se muda o objetivo de ser e levar a vida, quando se é feliz qualquer coisa é motivo para sorrir.” (Caroline e Sofia)

“(...) você sempre buscará encontrá-la. Mesmo que você pense que não está procurando-a, você está em função dela.” (Eduara e Letícia)

“Depois que você realizar tudo o que tiver vontade, e tiver bem consigo mesmo, ai sim sentirá a tal felicidade.” (Ana Vitória e Bruna)

Depois de ser feliz o que acontece?

“Apenas olhar para o seu passado e perceber que não foi à toa.”

(Leonardo e Pedro)

“Você continuaria sendo... O sentimento de felicidade nunca

acaba, só depende de você querer ser feliz” (João e Heberthy)

“A felicidade traz bons momentos e saúde” (Renan e Lucas

Eduardo)

“Existem momentos de felicidade, mas ninguém é feliz o tempo

todo.” (Fernanda, Tereza e Vitória)

“Ter orgulho de viver, estar bem com você mesmo, estar contente,

estar satisfeito, fazer o que você gosta.” (Beatriz)

A felicidade... “Muda de pessoa para pessoa e não existe um

padrão específico.” (Nícolas)

Qual a relação entre

felicidade e prazer?

O O filósofo grego Epicuro pode nos indicar um

caminho para refletir essa questão.

EPICURO (341-270 A.C.)

A parte mais importante da filosofia de Epicuro é

a ética. Para ele, a filosofia só era importante na

medida em que ajudava as pessoas a serem felizes. A

sua filosofia, chamada de epicurismo, se ocupava das

coisas que se devia fazer e se evitar para alcançar a

felicidade.

Para Epicuro, havia uma relação entre prazer e

felicidade, quem buscava o prazer buscava a

felicidade: “O prazer é o princípio e o fim da vida feliz”,

ele afirmava.

O problema está em definir qual o verdadeiro

prazer e como alcançar o bem-estar pessoal, lembrando

que um prazer imediato corresponde muitas vezes a

uma dor futura, que é impossível satisfazer a todos os

prazeres e sempre evitar as dores e que nem todos os

prazeres faziam bem às pessoas.

Então, ele propôs que toda busca pelo prazer

devia ser pensada, calculada, pela inteligência:

deve-se evitar os prazeres que exigem uma dor maior e

deve-se suportar as dores que, no final, resultarão num

prazer maior. Portanto, é preciso saber escolher entre os

prazeres quais são aqueles que mais nos ajudam a ser

felizes seguindo um “cálculo”.

SOBRE O TEXTO 4, PÁG. 33, DO VOLUME DE FILOSOFIA,

OBSERVE:

1 - todos buscam o prazer, agimos e fazemos escolhas

pensando em obter prazer. Para Epicuro, todas as nossas

escolhas são feitas distinguindo prazer e dor e procurando

obter prazer e evitar a dor.

2 - Todo prazer é bom, mas nem todo prazer é desejável.

Pois sentir prazer é algo agradável e por isso o buscamos

sempre, mas há prazeres que geram efeitos ruins e, nesses

casos, não se pode dizer que tenham boas consequências ou

que sejam desejáveis. Ex.: entregar-se ao sono ao invés de

cumprir uma tarefa necessária e que depois será cobrada;

comer por gula etc. Nesses casos, utilizamos um bem como

se fosse um mal.

3 - Toda dor é um mal, todo sofrimento é desagradável, mas

nem por isso toda dor deve ser evitada, pois há dores que,

suportadas no momento, trazem um benefício posterior (que

pode ser na forma de tranquilidade, saúde, outras coisas que

são prazer). Ex.:a falta ou a saudade da perda de uma pessoa

querida que nos deixará mais resistentes para a dor de outras

perdas; estudar; aprender a andar de bicicleta etc. Nesses

casos, utilizamos um mal como se fosse um bem.

4 - Para Epicuro, o verdadeiro prazer é: não sentir dor física e

ter tranquilidade na alma. Como ele afirma: “ausência de

sofrimentos físicos e de perturbações da alma”. Não se trata,

portanto de buscar os prazeres dos sentidos, através da

comida, da bebida, das drogas, do sexo etc., mas evitar as

coisas que nos perturbam buscando ter a virtude, isto é, ter

prudência, discernimento racional e encontrar a justa-medida.

Para o filósofo, essa seria a receita da felicidade.

A doutrina de Epicuro entende que o sumo bem reside

no prazer e, por isso, foi uma doutrina muitas vezes

confundida com o hedonismo.

Hedonismo - doutrinas que concordam na

determinação do prazer como o bem supremo, finalidade e

fundamento da vida moral, embora se afastem no momento de

explicitar o conteúdo e as características da plena fruição,

assim como os meios para obtê-la. (dicionário Houaiss)

O prazer de que fala Epicuro é o prazer do sábio,

entendido como quietude da mente e o domínio sobre as

emoções e, portanto, sobre si mesmo. É o prazer da justa-

medida e não dos excessos.