AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo - LUDMYLLA...

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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo Ludmylla Paes Landim Ribeiro APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FACULDADE ALFREDO NASSER INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo

Ludmylla Paes Landim Ribeiro

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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LUDMYLLA PAES LANDIM RIBEIRO

AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo

Artigo apresentado ao Instituto Superior de Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob orientação do professor Ms. Milton Luiz Pereira, como parte dos requisitos para a conclusão do curso de Pedagogia.

APARECIDA DE GOIÂNIA 2010

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FOLHA DE AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO DO TRABALHO

AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo

Aparecida de Goiânia 13 de dezembro de 2010.

EXAMINADORES

Orientador - Prof.(a) Ms. Milton Luiz Pereira - Nota:___ / 70

Primeiro examinador - Prof.(a) Ms. ----- - Nota:___ / 70

Segundo examinador - Prof.(a) ----- - Nota:___ / 70

Média parcial - Avaliação da Produção do Trabalho: ___ / 70

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AFETIVIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: a formação cognitiva e moral do sujeito autônomo

Ludmylla Paes Landim Ribeiro1

RESUMO: A Afetividade é importante na Educação Infantil, e contribui para o desenvolvimento cognitivo e moral. O artigo destaca que cognição e afetividade são pólos inseparáveis. Não há estado afetivo sem meio cognitivo, assim como não há comportamento puramente cognitivo. A afetividade é a fonte de energia que serve para o funcionamento da cognição. A afetividade não se resume em manifestações de carinho físico e sim em uma preparação para o desenvolvimento cognitivo, pois é um fator indispensável na relação com as pessoas que estão em contato com o desenvolvimento da criança. Afetividade é para o desenvolvimento de um sujeito crítico, autônomo, reflexivo e responsável. A criança em qualquer lugar em que ela esteja se desenvolve como ser humano por meio de suas experiências com aquele lugar ou momento, e a afetividade deve permear em todos estes momentos. Palavras-chaves: Afetividade, Cognição, Moral, Autonomia.

INTRODUÇÃO

O tema afetividade é relevante para a educação e para a sociedade.

Afetividade é tão importante quanto a inteligência para o desenvolvimento humano.

Afetividade está vinculada às sensibilidades internas, desenvolvida para o mundo

social e para a construção da pessoa, e a inteligência está vinculada para o mundo

físico e para a construção do objeto. Portanto, afetividade e inteligência são

inseparáveis com o objetivo do desenvolvimento do indivíduo.

A educação afetiva é a construção de uma escola a partir do respeito,

compreensão, moral e autonomia de ideias. Uma vez que se pretende capacitar

sujeitos críticos, honestos e responsáveis, o desenvolvimento afetivo é fundamental

para qualquer indivíduo. Com isso, a afetividade contribui para o desenvolvimento da

aprendizagem de forma crítica e autônoma, pois a afetividade não se resume só em

manifestações de carinho físico, mas principalmente em uma preparação de

natureza cognitiva.

A presente pesquisa tem como objetivo investigar como ocorre o

desenvolvimento da criança da educação infantil através da afetividade; identificar

se a afetividade colabora para a relação professor-aluno e para o processo ensino-

1 Graduanda em Pedagogia da Faculdade Alfredo Nasser.

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aprendizagem; analisar se a afetividade contribui para a formação cognitiva e moral

do sujeito autônomo. O problema que motivou essa pesquisa visa identificar como a

afetividade pode ser explorada no sentido de servir como aspecto colaborador para

o desenvolvimento cognitivo e moral da criança na educação infantil, e de como

pode ser útil no processo educativo.

A fundamentação teórica deste estudo busca evidenciar conceitos e estudos,

tais como: contextualização da afetividade, trajetória de Henri Wallon, a relação

professor-aluno, o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento moral e

autônomo na perceptiva de Piaget e Kohlberg.

A última parte aborda as considerações finais, que consiste em mostrar se os

objetivos geral e específicos foram alcançados, apresentando também uma resposta

à problematização da pesquisa em questão.

O tema afetividade é um desafio para o educador que geralmente tem sua

formação profissional orientações voltadas, muitas vezes, para conceitos cognitivos,

desconsiderando dessa forma, os conceitos afetivos necessários para a valorização

do desenvolvimento da criança.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA AFETIVIDADE

A afetividade é de suma importância para a educação, ou seja, para uma

escola construída a partir do respeito, compreensão e autonomia de ideias. A partir

da educação afetiva podem-se desenvolver sujeitos, que está no gozo dos direitos

civis e políticos e também desempenha deveres. Sujeitos críticos, que têm opinião

própria. Honestos, com verdade em seus atos e declarações, não propensa a

enganar, mentir ou fraudar. E responsáveis que respondem pelos próprios atos.

Assim o desenvolvimento da afetividade é fundamental para qualquer indivíduo.

Por meio da afetividade na Educação Infantil é possível ir além do ensino

tradicional em busca de relações concretas que auxiliam a aprendizagem da criança,

uma vez que ela ainda não possui uma capacidade de abstração que permita um

ensino mais conteudista. Portanto, é de fundamental importância abordar que a ação

pedagógica deve nortear a relação afetiva que influenciará no desenvolvimento do

aluno, tendo em vista diferenças individuais e comportamentais inerentes ao ser

humano.

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De acordo com a pedagoga Ana Rita Silva Almeida2 (2005), afetividade é um

conceito amplo, integra relações afetivas como a emoção (medo, cólera, alegria,

tristeza), a paixão e o sentimento, inerentes ao processo ensino-aprendizagem. O

ensino é um movimento liderado e coordenado por um profissional, ou seja, o

docente que intervém e media o conhecimento. Aprendizagem é a consequência da

intervenção e da mediação do docente, resultando na apropriação dos discentes,

dos conhecimentos, habilidades e atitudes que depois de internalizados serão

socializados. Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de

comportamento e amplie cada vez mais o potencial do discente, é necessário que

ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida.

Para compreender o tema afetividade de forma ampla é necessário entender

a perspectiva de afetividade e a teoria de desenvolvimento cognitivo de acordo com

Jean Piaget. Segundo Piaget (1976, p. 16) o afeto é essencial para o funcionamento

da inteligência.

(...) vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão.

De acordo com a citação acima, sem afeto então, não há interesse,

necessidade e motivação pela aprendizagem, não há também questionamentos, e

sem eles, não há desenvolvimento mental. Afetividade e cognição se complementam

e uma dá suporte ao desenvolvimento da outra.

Para Piaget (1976), o afeto pode acelerar ou retardar o desenvolvimento das

estruturas cognitivas. O afeto acelera o desenvolvimento das estruturas, no caso de

interesse e necessidade, e retarda quando a situação afetiva é obstáculo para o

desenvolvimento intelectual. A afetividade não explica a construção da inteligência,

mas as construções mentais são permeadas pelo aspecto afetivo. Toda conduta tem

um aspecto cognitivo e um afetivo, e um não funciona sem o outro.

Piaget (1976) estudou o desenvolvimento epistemológico do homem, ou seja,

como se constrói o conhecimento humano. O desenvolvimento cognitivo é aprendido

2 Pedagoga formada pela Faculdade de Educação na Bahia, e com mestrado e doutorado pela

Pontifíca Universidade Católica de São Paulo. Nos últimos anos desenvolveu pesquisas sobre Wallon, trabalhou em projetos educacionais e frequentou cursos. Atualmente é professora de Psicologia nas Faculdades Jorge Amado, em Salvador. Publicou diversos trabalhos em revistas especializadas.

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em um processo continuado, que ele divide em quatro estágios: sensório-motor (0 a

2 anos), pré-operacional (2 a 7 anos), operações concretas (7 a 12) e operações

formais (12 em diante).

Segundo Piaget (1976), o primeiro momento do desenvolvimento lógico é o

estágio sensório-motor, que vai de zero a dois anos. Durante esse período a

inteligência se manifesta na ação, ou seja, a criança adquire a capacidade de

administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas.

O estágio sensório-motor é anterior à linguagem, no qual a criança desenvolve a

percepção de si mesmo e dos objetos à sua volta. O desenvolvimento afetivo neste

estágio se manifesta no sorriso infantil, que é reforçado pelo sorriso do outro, torna-

se um instrumento de troca ou contagio e logo de diferenciação das pessoas e

coisas.

O segundo momento do desenvolvimento é o estágio pré-operacional que

ocorre entre as idades de dois a sete anos e se caracteriza pelo surgimento da

capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de

símbolos. Neste estágio as atividades ainda estão voltadas para a representação,

simbólica e social, tais como: imitações de objetos e eventos que já ocorreram, o

jogo de faz-de-conta. A afetividade está centrada no egocentrismo, em que a criança

está centrada em si mesmo, e torna-se mais sociável e comunicativa no decorrer do

estágio.

Conforme o pensador, o terceiro momento é o estágio das operações

concretas, dos sete aos doze anos, que tem como marca a aquisição da noção de

reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e a habilidade de

discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar

conceitos de tempo e número. E também já desenvolve noções de tempo, espaço,

velocidade, ordem, casualidade, conservação da qualidade, do peso e do volume, a

classificação e a seriação. O desenvolvimento afetivo neste estágio ocorre através

das interações com os adultos, baseadas no respeito unilateral, nas brincadeiras

com os colegas, solucionando pequenos problemas entre eles, ou seja, baseia-se no

respeito mútuo e na cooperação.

O quarto estágio afirma Piaget (1976), é o operatório-formal que começa por

volta dos doze anos em diante. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em

termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico, que

possibilita solucionar as classes de problemas, e do pensamento dedutivo, que o

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habilita à experimentação mental, em que o adolescente é capaz de deduzir as

conclusões de puras hipóteses, e não somente através de observação real. Isso

implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre

hipóteses. O docente pode aproveitar essa evolução para mediar às emoções em

sala de aula, evitar confrontos e oferecer ajuda na compreensão de suas emoções e

sentimentos.

Nota-se que a afetividade é de suma importância para a vida, tanto quanto a

formação cognitiva ou o processo de conhecimento. A afetividade e a inteligência

são dois aspectos inseparáveis no desenvolvimento e se apresentam de forma

antagônica e complementar, pois se a criança tem algum problema no

desenvolvimento afetivo isto acabará comprometendo seu desempenho cognitivo. O

afeto é o estimulante, o que excita a ação e o pensamento é o fruto da ação.

Piaget (1976, p. 36) destaca, “que em toda conduta as motivações e o

dinamismo energético provém da afetividade, enquanto que as técnicas e o

justamento dos meios empregados constituem o aspecto cognitivo”. Ele acreditava

que as estruturas afetivas eram construídas semelhante às estruturas cognitivas.

Percebe-se então que para ele a afetividade e a inteligência também são

inseparáveis, aspecto perfeitamente visível, pois se a criança tem problemas no

desenvolvimento afetivo isto acabará comprometendo seu desempenho cognitivo.

A partir dos autores acima citados percebe-se que a afetividade não se

resume em manifestações de carinho físico e sim em uma preparação para o

desenvolvimento cognitivo, pois, é um fator indispensável na relação com as

pessoas que estão em contato com o desenvolvimento integral da criança. Esta

afetividade é para o desenvolvimento de um sujeito crítico, autônomo, reflexivo e

responsável; para uma sociedade ideal. A criança em qualquer lugar que ela esteja

se desenvolve como ser humano, por meio de suas experiências com aquele lugar

ou momento, e a afetividade deve permear todos estes momentos.

AFETIVIDADE EM WALLON E SUA TRAJETÓRIA

A escolha de Wallon para o propósito deste estudo se deve à dedicação de

grande parte de seu trabalho ao estudo da afetividade, adotando também uma

abordagem do desenvolvimento humano. Em sua psicogênese, busca articular o

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biológico e o social. Atribui às emoções de suma importância para o

desenvolvimento da vida psíquica, como um anelo entre o social e o orgânico.

Antes de aprofundar em aspectos acima citados, faz-se necessário abordar a

trajetória da vida de Henri Wallon para uma compreensão de toda a pesquisa,

conhecendo assim quem foi ele e suas contribuições para a sociedade.

Do estudo científico da pedagoga Izabel Galvão3 (2008) sobre aspectos da

teoria de Henri Wallon, que nasceu na França, em 1879 e faleceu em 1962. Ele teve

sua vida marcada por intensa produção intelectual e ativa participação nos

acontecimentos que marcaram sua época. Antes de chegar à psicologia formou-se

em filosofia e medicina e, ao longo de sua carreira, foi cada vez mais explícita a

aproximação com a educação. A biografia de Wallon apresenta o perfil de um

homem que buscou integrar a atividade científica à ação social, ou seja, estudou

para colaborar com o desenvolvimento da sociedade, numa atitude de coerência e

engajamento.

Galvão (2008) afirma que no ano de 1902, aos vinte três anos, Wallon

formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior. No ano posterior, lecionou aulas

da disciplina no ensino secundário e, como educador, não era a favor dos métodos

autoritários para controlar a disciplina dos educandos. Formou-se também em

medicina em 1908. Henri Wallon viveu num período marcado por muita instabilidade

social e turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), o

avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras

para libertação das colônias na África atingiram boa parte da Europa e,

principalmente na França.

Provavelmente, se Wallon tivesse vivido numa época de estabilidade social,

não seria necessário ser tão claro nas suas posições, nem ficado tão visível a sua

teoria sobre a influência do meio social no desenvolvimento do ser humano. De

acordo com Galvão, no ano de 1914, Henri Wallon trabalhou como médico do

exército Francês e no exercício de sua função teve contato com lesões cerebrais de

ex-combatentes fazendo com que observasse posições neurológicas que havia

desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Até 1931, atuou como médico de

3 Pedagoga formada pela USP, onde também cursou mestrado (com dissertação sobre aspectos da

teoria de Henri Wallon) e doutorado. Atuou como professora de Ensino Fundamental e técnica de programas educacionais voltados para a infância. Atualmente trabalha na área de formação de professores.

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fundações psiquiátricas, época que consolida seu interesse pela psicologia da

criança.

Conforme Galvão (2008), a experiência clínica do pensador e os

conhecimentos, no campo da neurologia e da psicopatologia, possuíram uma

importante função para a constituição de sua teoria psicológica. De 1920 a 1937, ele

foi o responsável pelas conferências sobre a Psicologia da Criança na Sorbonne e

em outras instituições de ensino superior. Em 1925, funda um laboratório destinado

à pesquisa e ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925, divulga

sua tese de doutorado com o seguinte tema: A Criança Turbulenta. Começa um

período de intensa produção com todos os livros direcionados para a Psicologia da

Criança. Publica seu último livro Origens do Pensamento na Criança, em 1945.

Galvão (2008) relata que em 1948, Henri Wallon desenvolve a revista

Enfance. Nesse periódico, que ainda nos tempos atuais tenta seguir a linha editorial

inicial, as publicações servem como objeto de pesquisa para os pesquisadores em

Psicologia e fonte de informação para os educadores. Ele escreveu diversos artigos

sobre temas direcionados à educação, como orientação profissional, formação de

educadores, interação entre educandos, adaptação escolar, participando do Grupo

Francês de Educação Nova. Fez parte do debate educacional de sua época,

deixando claro o interesse teórico por problemas da educação.

Ao longo de sua vida, as atividades do psicólogo Henri Wallon se

aproximaram cada vez mais da educação. Demonstrou interesse por dois aspectos:

o estudo da criança como um recurso para conhecer o psiquismo humano e pela

infância como problema concreto, onde se dedicou com atenção e engajamento.

Percebe-se a partir da biografia de Wallon que entre psicologia e a pedagogia deve

haver uma relação de contribuição recíproca. Pois, a pedagogia contribui com o

campo de observação à psicologia, assim como questões para investigação. A

psicologia, ao formar conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento infantil,

apresenta uma importante contribuição para o aprimoramento da prática

pedagógica.

A afetividade é um tema central na obra de Wallon, ele dedicou grande parte

de sua vida aos estudos das emoções e da afetividade. A posição de Wallon a

respeito da importância da afetividade para o desenvolvimento da criança é bem

definida. Conforme Almeida (2005), a afetividade para Wallon é imprescindível no

processo de desenvolvimento da personalidade e este, se constitui sob a alternância

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dos domínios funcionais. Wallon faz referência a quatro domínios funcionais: o ato

motor, o conhecimento, a afetividade e a pessoa. São eles que dão uma

determinada direção ao desenvolvimento no decurso da vida humana. Cada um

desses domínios tem seu próprio campo de ação e organização.

Para Almeida (2005), o início do desenvolvimento da personalidade, ou seja,

desenvolvimento de todo sistema psicológico de um indivíduo se dá através da

afetividade, portanto, é a partir dela que ocorre desenvolvimento do indivíduo. Sendo

afetividade de suma importância para o desenvolvimento da personalidade, ela varia

entre os movimentos afetivos e cognitivos, desta forma é considerada como um

domínio funcional, onde seu desenvolvimento divide-se em duas partes: o orgânico

e o social. A afetividade inicialmente é determinada basicamente pelo fator orgânico

e com o passar do tempo é fortemente influenciada pela ação do meio social. Wallon

defende uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se

distanciando da base orgânica, tornando-se cada vez mais relacionadas ao social.

Segundo Wallon (1975), a afetividade evolui desde o nascimento do indivíduo

até a idade adulta. Na criança os estados afetivos estão vinculados à sua disposição

e manifestações orgânicas, relacionadas aos estados de bem-estar, ou seja,

conforto corporal e sensação de segurança, e de mal-estar, frio, fome, cólica, ou

seja, sensação de mau-humor. Nota-se que a partir da influência do meio, os gestos

da criança denominados orgânicos vão se transformando em expressões

diferenciadas, surgindo então o período emocional. Seus movimentos não são mais

de pura impulsividade, nem de necessidades primitivas, mas são reações orientadas

e resultantes do ambiente social, ou seja, a criança está assimilando as orientações

do meio ao qual está inserida, e isso colabora para o processo pedagógico, pois a

criança esta desenvolvendo a maturidade.

Wallon acretidava (1975 p. 198) na importância do outro para o

desenvolvimento humano, e defende que a emoção é o primeiro e mais forte elo

entre os indivíduos:

As primeiras relações utilitárias da criança não são as suas relações com o meio físico, que, quando aparecem, começam por ser lúdicas; são relações humanas, relações de compreensão, que tem como instrumento necessário meios de expressão, e é por isso que a criança, se não é naturalmente um membro consciente da sociedade, também não é um ser primitivo e totalmente orientado para a sociedade.

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Na visão do autor, as primeiras relações da criança são relações emocionais

e com o seu meio ambiente. A emoção é uma expressão anterior à linguagem. As

manifestações iniciais da criança assumem um caráter de comunicação entre ele e o

outro, sendo vistas como meio de sobrevivência da espécie humana. As primeiras

relações com o meio físico começam a partir do contato com objetos lúdicos.

Piaget (1976) afirma que a criança no início de sua vida não tem consciência

do próprio eu e vive num processo de indiferenciação. Assim, a afetividade está

basicamente centrada em seu próprio corpo e em suas próprias ações. Quando

toma consciência de si suas relações tornam-se objetais, e o outro torna objeto de

afeto. Com o passar do tempo ocorre os sentimentos espontâneos, que nascem das

trocas entre as pessoas. Haverá simpatia em relação às pessoas que respondem

aos interesses da criança e que a valorizam. O mesmo poderá ocorrer com

antipatias.

De acordo com Wallon (1975), o desenvolvimento da afetividade varia entre

os movimentos afetivos e cognitivos, e a emoção é uma forma de exteriorização da

afetividade que evolui como as demais manifestações, sob o impacto das condições

sociais. A afetividade constitui um domínio funcional tão importante quanto à

inteligência, são interdependentes para o desenvolvimento da criança, ou seja, a

afetividade e a inteligência se desenvolvem juntas, uma complementa a outra. O

educador precisa ter claro isso para elaborar e desenvolver atividades estimulantes,

que tenha como objetivo o desenvolvimento da criança nos dois aspectos.

Galvão (2008) afirma que a afetividade para Wallon ocorre de acordo com

estágios que ele propõe para entender o desenvolvimento humano. Os estágios a

que se refere são de suma importância para a educação, por compreender o

desenvolvimento humano. O educador a partir dos estágios pode elaborar atividades

para o desenvolvimento do educando na aprendizagem, para colaborar de acordo

com a predominância do afetivo e cognitivo. O desenvolvimento da pessoa é visto

como uma construção progressiva em que fases se sucedem com predominância

alternadamente afetiva e cognitiva. Sendo dividida em cinco estágios:

De acordo com Galvão (2008), no estágio impulsivo-emocional, até um ano

de idade, a criança é dada pela impulsividade motora e emocional, para sua

interação com o meio em que vive. O que predomina nesta fase é a afetividade para

as primeiras relações com o outro e o mundo físico, porém a criança está voltada

para a construção do eu. A criança neste período é dependente do meio externo

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para sobreviver, e necessita do meio social para interpretar, dar significado e trazer

respostas a ela. Provoca nos adultos que o cercam reações de cunho afetivo e de

natureza emocional.

Conforme a autora, partir dos impulsos ou reações motoras, a criança

comunica seu desconforto ou suas necessidades e provoca uma reação contagiante

estabelecendo assim uma relação íntima, profunda. A relação afetiva que o

professor constrói com a criança permeia neste estágio, assim como em todos os

outros estágios.

Segundo Galvão (2008), o estágio sensório-motor e projetivo, até três anos de

idade, a criança se interessa pela exploração sensório-motora do mundo físico, bem

como pela aquisição da aptidão simbólica e pelo início da representação, ou seja, é

o momento da construção da realidade. Ao manipular um objeto ou encantar-se com

os movimentos do corpo, a criança tenta imitar os mesmos gestos que foram

provocados pelas sensações, na tentativa de obter o mesmo efeito, o que permite ao

educador apropriar-se desse progresso da apreensão, da percepção e da linguagem

para ajudar a criança a descobrir as qualidades dos objetos, aguçar as

sensibilidades e organizar seus gestos úteis.

A autora alega que a linguagem usada pelo educador para interagir com a

criança é um instrumento afetivo importantíssimo, uma vez que pode contribuir com

a expressividade da criança no mundo das imagens e dos símbolos. Aliado às

interpessoais e culturais, a linguagem é um fator constitutivo com as várias funções

que conduzem à expressão da emoção e atividade mental. Neste estágio o que

predomina são relações cognitivas com o meio.

Para Izabel Galvão (2008), o estágio do personalismo, dos três aos seis anos

de idade, tem como objetivo o processo de formação da personalidade, ocorrendo à

construção da consciência de si que se dá por meio das interações com o meio

social em que está inserido, predominando assim as relações afetivas. A criança

aprende a perceber o que é de si e o que é do outro. Existem neste período três

fases distintas, que são a oposição, sedução e imitação. Nesta fase é interessante

que o educador saiba mediar e compreender a criança com muita percepção e

paciência.

Segundo Galvão (2008), a criança é capaz de mentir para o que deseja, de

usar a força ou, recusa-se indignada a emprestar um brinquedo ao coleginha, só

porque tem ciúme, mas o empresta com alegria a uma pessoa a quem admira. Ao

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mesmo tempo, é capaz de compartilhar seus brinquedos e brincadeiras com outros

e até renunciar a um brinquedo seu a fim de deixar feliz outra criança. É importante

que o educador leve em consideração todas essas necessidades infantis, a fim de

fortalecer a função afetiva que será preponderante em todas as etapas da vida da

criança.

Para Izabel Galvão (2008), o estágio categorial, a partir dos seis anos de

idade, os interesses intelectuais da criança se volta para as coisas, para o

conhecimento e para conquista do mundo exterior, predominando a aspecto

cognitivo. Com o progresso da inteligência, a criança adquire maior independência

para manter as relações, começa a formular ideias e situações e a compreender de

maneira mais ampla o mundo que a cerca. Neste estágio, a criança começa a

desenvolver as capacidades de memória e atenção voluntárias. Formam-se

as categorias mentais: conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos.

Neste estágio, o poder de abstração da criança é consideravelmente amplificado.

Provavelmente isto consolida o raciocínio simbólico como ferramenta cognitiva.

Conforme a autora, o estágio da adolescência, a partir dos 11 anos de idade,

há uma necessidade de uma nova definição em torno da personalidade, que fica

abalada pelas modificações hormonais, predominando a afetividade. A criança

começa a passar pelas transformações físicas e psicológicas da adolescência. É um

estágio caracterizadamente afetivo, onde passa por uma série de conflitos internos e

externos. Os grandes marcos desse estágio são a busca de autoafirmação e o

desenvolvimento da sexualidade.

Cada um desses estágios possibilita novas experiências realizadas pela etapa

anterior, construindo-se reciprocamente num processo de integração e

diferenciação. A existência do predomínio do aspecto afetivo em determinado

estágio como, por exemplo, no impulsivo-emocional, não demonstra que aspectos

afetivos não estarão presentes no próximo estágio, ainda que não sejam os

predominantes. Enfim, no decorrer do desenvolvimento ocorrem sucessivas

diferenciações entre os campos funcionais.

A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Na sala de aula ocorrem a troca de experiências, as discussões, interações

entre os alunos e as relações afetivas entre professor e aluno. Nesse ambiente o

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educador observa seus educandos, identifica suas conquistas e suas dificuldades e

os conhece cada vez melhor. O espaço da sala de aula deve ser um ambiente

cooperativo e motivador, de modo a favorecer o desenvolvimento. Tanto a escola

quanto a família, são primordiais para o desenvolvimento da criança, e a relação

professor-aluno, por ser de natureza antagônica, oferece riquíssimas possibilidades

de crescimento.

Wallon (1975) afirma que é a partir da sua própria experiência, das

repetições, das diferenças que se manifestam, que a criança tem a capacidade de

diferenciar e reconhecer o que está de acordo ou não com as suas expectativas e

necessidades, e que consequentemente a levam ao aprendizado. E isso ocorre,

através de uma análise bem direcionada das atividades escolares e dos resultados.

Deste modo, a formação dos professores não pode se restringir aos livros, mas às

experiências pedagógicas, as quais devem ser pensadas, refletidas e analisadas,

para provocar ações onde se destaque e se realize as novas conquistas do

conhecimento.

A escola está preocupada com o ensino intelectualizado, propiciando pouca

oportunidade para que o educando seja capaz de se desenvolver também nos seus

aspectos afetivos e motores, o que seria fundamental, principalmente para o

desenvolvimento do aspecto afetivo, que conduz ao desenvolvimento e

aprimoramento do aspecto cognitivo. Portanto, é função da escola, principalmente

do educador, um importante papel social, tendo a necessidade de compreender o

educando no âmbito da sua dimensão humana, tanto afetiva quanto intelectual, visto

que ele depende, para se desenvolver, do amadurecimento biológico e da inserção

no ambiente social.

O conhecimento é constituído por meio da ação e da interação. O indivíduo

aprende a partir do momento em que está presente no processo de produção do

conhecimento, através das atividades mentais e na interação com o outro e com o

meio. A sala de aula tem que ser um ambiente de formação, de humanização, onde

a afetividade em suas diversas manifestações seja usada a favor da aprendizagem,

pois o afetivo e o intelectual são inseparáveis, ou seja, para o desenvolvimento do

ser humano.

Segundo Almeida (2005), a relação que atribui o ensinar e o aprender

acontecem a partir de vínculos entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar. A

estrutura desta relação vincular é afetiva, pois é através de uma forma de

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comunicação emocional que a criança mobiliza o adulto, e garante deste modo os

cuidados de que necessita. Portanto, é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto

e a criança que mantém a etapa inicial do processo de aprendizagem.

De acordo com Oliveira (2007), principalmente na Educação Infantil o

educador é parceiro no desenvolvimento do educando. A função do educador é de

ser verdadeiro em suas atuações e se relacionar afetivamente com o educando.

Entretanto, na Educação Infantil tem se defendido a ideia de desenvolver ambientes

de aprendizagem coletiva, para oportunizar a capacidade de a criança interagir

desde cedo com pessoas principalmente com crianças.

Pode favorecer as interações sociais a oportunidade de conviver com

crianças da mesma faixa etária e isso ajuda a controlar seus impulsos ao

participarem no grupo infantil, como por exemplo: internalizar regras, adaptar seu

comportamento, fica sensível ao ponto de vista do outro e saber cooperar e

desenvolver uma variedade de formas de comunicação para compreender

sentimentos e conflitos e alcançar satisfação emocional.

Wallon (1975) focaliza o meio como um dos conceitos fundamentais da teoria.

Ele coloca a questão do desenvolvimento no contexto no qual está inserido, e a

escola como um dos meios fundamentais para o desenvolvimento do aluno e do

professor. Portanto, as relações familiares e o carinho dos pais exercem grande

influência sobre a evolução dos filhos, em que a inteligência não se desenvolve sem

a afetividade. Pois a afetividade, assim como a inteligência, não aparecem prontas e

acabadas. Ambas evoluem ao longo do desenvolvimento, são construídas e sofrem

modificações e à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas

se tornam cognitivas. De acordo com Wallon (1975, p. 166-167):

A escola é também um meio funcional. As crianças vão lá para se instruir e elas devem familiarizar-se com uma disciplina e relações interindividuais dum novo tipo. Mas a escola é ao mesmo tempo um meio local onde se encontram crianças que podem pertencer a meios sociais diferentes. Também se pode falar do meio familiar como dum meio funcional, onde a criança começa por encontrar meios de satisfazer todas as suas necessidades sob formas que podem ser próprias à sua família e onde a criança conquista as suas primeiras condutas sociais.

É possível afirmar, a partir das ideias do pensador acima citado, que a

sociedade intervém no desenvolvimento psíquico da criança, por meio de suas

sucessivas experiências e das dificuldades, pois a criança depende dos adultos que

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a cercam para viver e sobreviver. Sendo assim, a afetividade é imprescindível para o

desenvolvimento da criança.

O processo de educação significa a constituição de um sujeito. A criança está

se desenvolvendo como ser humano por meio de suas experiências com aquele

momento, seja no ambiente familiar, escolar, ou qualquer outro lugar. Por isso, a

construção do real acontece através de informações, de desafios sobre as coisas do

mundo e o aspecto afetivo acontece em todos estes momentos.

Conforme Wallon (1975), a família é uma estrutura de um grupo, pois é nela

que a criança encontra meios de satisfazer as suas necessidades, e é onde ela tem

suas primeiras experiências do meio social. Para um bom reflexo a criança necessita

de um bom relacionamento familiar, ou seja, a família é um grupo natural e

necessário para o desenvolvimento da criança. A escola não é um grupo, mas um

meio onde pode se formar vários grupos com objetivos iguais ou diferentes. A

participação nos meios familiares e escolares é de suma importância para a

aprendizagem social e para o desenvolvimento da personalidade da criança.

De acordo com Galvão (2008), Wallon defendia uma educação integral, ou

seja, uma educação que possibilitava a formação do caráter e a orientação

profissional, que também é responsabilidade da escola. Ele dizia que para uma

prática educativa eficaz era necessário o conhecimento anterior da criança. O meio

é o campo onde a criança aplica as condutas de que dispõe, ao mesmo tempo, é

dele que retira os recursos para sua ação.

O meio familiar em que a criança está inserida é o seu primeiro ambiente de

aprendizagem, é nesse meio que a criança aprende as primeiras habilidades sociais,

como a comunicação entre seus semelhantes, assim como lhes são transmitidos os

valores sociais da cultura em que esta família se insere, e suas expectativas. Ao

iniciar na escola, a criança traz em sua bagagem estes conhecimentos, os quais

terão de ser levados em conta pelo educador. Muitos dos valores sócio-culturais

aprendidos no meio familiar podem gerar conflito com os conhecimentos que a

escola pretende transmitir e isso dificulta o trabalho dos docentes.

Para Wallon (1975) a emoção, é uma impressão corporal de um estado

interno, que realiza a comunicação, o intercâmbio entre o indivíduo, e estimula as

primeiras representações, figurações e que obtêm consistência nos movimentos.

Conforme o autor, a afetividade é a base para o crescimento e a formação da

personalidade do indivíduo. Portanto, essa concepção é identificada como o papel

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transformador e libertário que deve possuir uma educação voltada para colaborar

com o desenvolvimento intelectual, social e cultural dos indivíduos. Sendo assim, o

autor tem uma contribuição importante para se pensar a aprendizagem no âmbito

escolar, no processo de formação do indivíduo. Com isso, a escola deve procurar

respeitar as emoções e as necessidades individuais, proporcionando desafios e

atividades que levem o educando a uma crescente elevação da sua racionalidade.

A criança é um indivíduo completo, que na escola e também nos ambientes

sociais está sujeito a conhecimento e o afeto. Assim, a escola não pode esconder

que ali é um espaço de emoção nas suas atividades, pois este ambiente é

primordial, e o educador necessita conhecer como ocorre o funcionamento da

emoção para poder compreender as expressões dos educandos. Se o educador

não aprender como funciona o desenvolvimento emocional da criança, ele pode até

mesmo prejudicá-lo. Do ponto de vista de Almeida (2005, p. 103):

A sala de aula é um ambiente onde as emoções se expressam, e a infância é a fase emocional por excelência. Como em qualquer outro meio social, existem diferenças, conflitos e situações que provocam os mais variados tipos de emoção. E, como é impossível viver num mundo sem emoções, ao professor cabe administrá-las, coordená-las. È imprescindível uma atitude corticalizada, isto é, racional, para poder interagir com os alunos, buscando descobrir seus motivos e compreendê-los. O professor deve procurar utilizar as emoções como fonte de energia e, quando possível, as expressões emocionais dos alunos como facilitadores do conhecimento. É necessário encarar o afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são inseparáveis.

De acordo com a citação, o educador é imprescindível na atividade

pedagógica, ele é o mediador do conhecimento, por isso deve observar, articular os

aspectos afetivo e intelectual, estes que na atividade pedagógica são indispensáveis

e inseparáveis. E a família é de suma importância para o enfrentamento dos

desafios da aprendizagem, ou seja, do desenvolvimento infantil, pois é o primeiro

grupo que a criança tem contato, no qual sacia suas vontades e adquire seus

primeiros comportamentos. Portanto, a criança é influenciada pelo meio familiar em

que convive e a partir do momento que ela percebe o outro, cabe a escola assumir a

responsabilidade do desenvolvimento da personalidade infantil.

A colaboração da família e da escola é indiscutível para o desenvolvimento da

criança, a responsabilidade é de ambas as partes, uma tem que dar continuidade da

outra, ou seja, trabalhar em parceria também em aspectos específicos. Dessa

maneira, a relação professor/aluno tem diferentes naturezas, assim ambos

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proporcionam boas possibilidades de aprimoramento e de crescimento para esta

relação.

Para Almeida (2005) a escola é um ambiente protetor que tenta aproximar-se

da relação no meio familiar, como se fosse a continuação da família, e a professora

é vista até mesmo como uma substituta da mãe para se aproximar mais

afetivamente da criança. Por causa desta relação entre escola e família surge o

termo “tia”, - alguns professores preferem ser chamados assim -, isso acaba

limitando a afetividade, porque passam a impressão de que só os familiares podem

ter uma relação afetiva com a criança, parece que professor-aluno não pode ter esta

relação, somente mãe-filho ou tia-sobrinho.

Percebe-se a partir deste estudo que professor/aluno mesmo sem ter uma

ligação familiar podem e devem ter uma boa relação afetiva. A escola ainda não

percebeu que a mudança não está no tipo de relação, mas sim na atuação do

professor em ser um observador, capaz de definir as relações entre professor-aluno

para poder adquirir conhecimento de forma prazerosa. Assim, entre professor-aluno

há, acima de tudo uma relação de pessoa para pessoa, e o afeto está presente

mesmo sem fazer parte da família.

O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O desenvolvimento cognitivo é primordial para compreender o

desenvolvimento do ser humano. O aspecto cognitivo está ligado ao âmbito

intelectual, ou seja, a aprendizagem predomina nos elementos de natureza

intelectual, significa a capacidade de pensamento humano. É para conhecer as

características comuns de uma faixa etária que existem diversas formas de

perceber, compreender e se comportar diante da sociedade, de acordo com a idade

de cada um. Para o docente planejar como ensinar, ele precisa saber primeiramente

quem é o educando.

A teoria do desenvolvimento cognitivo para Wallon é fundamentada na

psicogênese da pessoa completa. Segundo Wallon (1975), o organismo é a primeira

condição do pensamento, mas não é suficiente, porque o objeto de ação mental se

desenvolve a partir do meio social em que a criança está inserida. Isso significa

então que para Wallon a inteligência é organicamente social, ou seja, a cognição é

como item da pessoa completa que só pode ser compreendida associada a ela. Cujo

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indivíduo se desenvolve a partir das condições orgânicas, que é resultante da

relação entre o organismo e o meio social ao qual está inserido.

De acordo com Henri Wallon (1975), a cognição, assim como a afetividade

surge da base biológica e adquiri maturidade de acordo com o seu meio social. Na

teoria Walloniana, cognição é um domínio funcional que possibilita adquirir e manter

o conhecimento a partir de gravuras, noções, ideias e representações. É a cognição

que possibilita o registro e a reflexão do passado, estabelece e analisa o presente e

projeta o futuro. Assim, a afetividade continua indissociável do cognitivo, que na

idade adulta chega a um equilíbrio.

Para compreender o desenvolvimento cognitivo faz-se necessário abordar o

estudo de Jean Piaget, um pensador que dedicou grande parte de seus estudos a

esta teoria. Jean Piaget nasceu em 1896 e faleceu em 1980, foi biólogo, zoólogo,

filósofo, epistemólogo e psicólogo e ficou conhecido pela sua teoria cognitiva. Para

Piaget (1976), a aprendizagem é o alicerce do pensamento. É por meio da

aprendizagem que a inteligência se manifesta. A criança é um indivíduo que cria e

recria o seu próprio modelo de realidade. Cognição para Piaget (1996) significa um

processo constante, de avanços e recuos, entre o sujeito e o meio, ou seja, o

processo cognitivo é ativo e não passivo, pois o indivíduo influencia o meio vice-

versa.

Conforme o pensador, o indivíduo constrói os seus próprios conhecimentos

através das suas ações. O indivíduo é um elemento ativo e decisivo no processo de

conhecer. A inteligência é produto de um processo de adaptação. Esse processo de

adaptação é realizado a partir de duas intervenções, a assimilação e a acomodação,

trata-se da organização mental na pessoa, frente a uma nova provocação vinda do

meio em que vive. De acordo com os estudos de Piaget, a criança não raciocina

como o adulto, somente pouco a pouco se insere nas regras, valores e símbolos de

maturidade, a partir das intervenções acima citadas.

Assimilação é um processo cognitivo no qual o sujeito classifica uma nova

informação, ou seja, quando a criança experimenta uma nova experiência, e tenta

encaixar esses novos estímulos às estruturas cognitivas já existentes. Piaget (1996,

p. 13) define assimilação como:

(...) uma integração à estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem

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descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação.

De acordo com a citação acima, a criança tenta consecutivamente apropriar

os novos estímulos aos esquemas que já existem até aquele momento, ou seja, é o

processo de colocar e classificar novos eventos em esquemas existentes. Quando a

criança acomoda o novo estímulo a uma nova estrutura cognitiva é chamada de

acomodação.

Piaget (1996, p. 18) define acomodação por analogia com as acomodadas

biológicas como, “toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência

de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam”. A acomodação ocorre quando a

criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura

cognitiva que assimile ao novo evento. Pode-se então criar um novo esquema no

qual se possa encaixar o novo estímulo, para modificar um já existente de modo que

o estímulo possa ser incluído nele.

Percebe-se que para Piaget, a atividade orgânica tem como objetivo a

adaptação do indivíduo no meio em que está inserido. Assim, na mente existem as

estruturas cognitivas, no qual o sujeito intelectualmente se adapta e organiza o meio

social. A criança a partir deste aspecto tem alguns esquemas básicos, que são

reflexos do seu primeiro contato com o meio, ou seja, a família. É a partir desta

interação que a criança começa a construir o seu conhecimento a respeito do

mundo, desenvolve e amplia seus esquemas existentes.

Para Piaget, assim como para Wallon, cognição e afetividade são polos

inseparáveis. Nota-se então que, não há estado afetivo sem meio cognitivo, assim

como não há comportamento puramente cognitivo. A afetividade é a fonte de

energia que serve para o funcionamento da cognição, colaborando assim, para o

desenvolvimento de um sujeito crítico que sabe pesar os fatos, elaborar sua própria

opinião e expor suas ideias, e para o desenvolvimento da autonomia que é

primordial na educação infantil, com o objetivo de ajudar o aluno a se desenvolver

intelectual e moralmente.

DESENVOLVIMENTO MORAL E AUTÔNOMO

Para conviver o ser humano necessita ser educado. O processo de

aprendizagem tem como base a autonomia, tanto do ponto de vista cognitivo como

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da afetividade e da moral. O desenvolvimento dos três níveis mentais que são a

inteligência, afetividade e a moralidade, precisam da mediação do meio social a qual

a criança está inserida. Para compreender o processo de construção da identidade

moral da infância à adolescência, é preciso analisar a teoria de Jean Piaget

conhecida como psicologia genética.

Segundo Yves de La Taille4 (1992), a teoria de Piaget não aborda conclusões

definidas, nem prontas e acabadas. Este texto tem como objetivo identificar a ideia

central sobre o juízo moral para Piaget e analisar a construção da identidade moral

com a relação a afetividade e cognição. Piaget iniciou sua pesquisa através do jogo

de regras, assim como destaca La Taille (1992, p. 49) conforme a citação a seguir:

Para Piaget, os jogos coletivos de regras são paradigmáticos para a moralidade humana. E isto por três razões, pelo menos. Em primeiro lugar, representam uma atividade interindividual necessariamente regulada por certas normas que, embora geralmente herdadas das gerações anteriores, podem ser modificadas pelos membros de cada grupo de jogadores, fato este que explicita a condição de legislador de cada um deles. Em segundo lugar, embora tais normas não tenham em si caráter moral, o respeito a elas devido é, ele sim, moral (e envolve questões de justiça e honestidade). Finalmente, tal respeito provém de mútuos acordos entre jogadores, e não da mera aceitação de normas impostas por autoridades estranhas à comunidade de jogadores. Vale dizer que, ao optar pelo estudo de regras, Piaget deixa antever sua interpretação contratual da moralidade humana.

Conforme a citação, o jogo de regras segue um padrão para moral humana,

por três motivos. O primeiro motivo é de relação interindividual que seguir as normas

herdadas de geração a geração, mas pode ser modificada pelos jogadores. O

segundo motivo é que o jogo não tem caráter moral, mas o respeito imposto no jogo

é devido a moral e abarcar a justiça e honestidade do indivíduo envolvido no jogo. O

terceiro motivo vem a partir do respeito entre os jogadores através de novas regras e

não da aceitação do que é imposto.

Para Yves de La Taille (1992), a partir dos estudos de Piaget, o

desenvolvimento da prática e da consciência da regra pode ser dividida em três

partes. O primeiro momento é a anomia (ausência de respeito), em que a criança de

até seis anos de idade tem resistência em aceitar as regras do convívio social e não

está apta para o jogo de regras. A criança somente quer satisfazer suas vontades e

interesses motores e não tem estímulos para participar de atividade coletiva.

4 Professor-doutor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, na cadeira de Psicologia

do Desenvolvimento. Especialista em desenvolvimento moral.

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Conforme o autor, o segundo momento é da heteronomia, onde a criança

aceita a lei exterior, ou seja, aceita normas dos pais e da sociedade. A partir deste

momento a criança interessa em participar de atividades coletivas e com regras. A

heteronomia da criança com até dez anos de idade tem duas características. Em

primeiro lugar a compreensão da raiz das regras e da possibilidade de mudanças.

Em segundo lugar a criança tem respeito ao adversário, porém ainda é liberal, não

está contra o outro, mas como companheiro do outro. A criança neste momento

ainda não compreendeu o sentido das regras.

Afirma La Taille (1992), que o terceiro momento é da autonomia que pode ser

definido como aquele indivíduo independente, capaz de realizar coisas sem a ajuda

de outras pessoas. É quando a criança decide pela sua ação, que ela tem dever de

cumprir as normas, e tem consciência moral, ou seja, autonomia é

autodeterminação. Este momento de autonomia é diferente da heteronomia, a

criança já entende o significado das regras do jogo e as respeita.

A criança entra no universo moral, através da aprendizagem de vários

deveres a ela atribuído pela família e sociedade em geral, que ensina a não mentir,

não pegar coisas dos outros, não falar palavras desagradáveis, entre outros. Essa

imposição é feita na etapa de heteronomia da criança, pois ela aceita de modo

inquestionável as regras do jogo, e também aceita do mesmo modo as regras

morais impostas pelo meio em que está inserida.

Piaget, segundo La Taille (1992), afirma que o indivíduo participa ativamente

de seu desenvolvimento moral e intelectual e sua autonomia é defendida pela

sociedade. A moral é um fato social, e não há indivíduo isolado da sociedade, e

também não existe sociedade sem indivíduo. São relações interindividuais que

divide-se em duas partes: a coação e a cooperação. A coação é a relação

assimétrica que impõe ao outro o modo de pensar, seus critérios, suas verdades, ou

seja, não há reciprocidade. Nesta relação as regras são impostas e não podem

sofrer mudanças e nem serem construídas pelos integrantes do jogo, isso reforça o

egocentrismo da criança, que tem dificuldade para se colocar no lugar do outro. Na

moral, em relação a coação só existe respeito unilateral em relação aos adultos.

Segundo o pensador, as relações de cooperação são simétricas, ou seja,

conduzida pela reciprocidade. Nesta relação as regras não são impostas, assim

ocorre mútuos acordos entre os envolvidos no jogo. O desenvolvimento intelectual e

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moral só ocorrem através da cooperação, ou seja, a partir do respeito mútuo e da

autonomia.

Percebe-se com a análise, que a moral é externa aos indivíduos e imposta

pela sociedade, assim cada sujeito deve procurar o melhor para um padrão de

comportamento. Desta forma, a coação é fazer como os outros, seguir um modelo

pronto e acabado, e a cooperação tem como critério a reciprocidade, ou seja,

intercambiar a própria opinião com a opinião do outro. Para a escola colaborar com

a conquista da autonomia, ele deve respeitar e aproveitar as relações de

cooperação que surgemcom a convivência de outras crianças.

Yves de La Taille (1992) afirma que a educação moral tem como objetivo

fazer com que a criança esteja apto a controlar seus sentimentos, seus desejos, em

favor da sociedade. Não há mistério ao abordar o domínio dos afetos, a afetividade é

como uma energia que liga e mantém as ações. E é a razão que possibilita o

indivíduo a identificar desejos, sentimentos diversos e ter sucesso nas ações.

O paralelismo existe para Piaget entre o desenvolvimento dos aspectos

cognitivos, afetivos e morais, os mecanismos de construção são os mesmos. Assim

como a criança assimila às experiências aos esquemas afetivos, da mesma forma

também assimilam as experiências as estruturas cognitivas. Portanto, Piaget

acreditava que todo ser humano passava pelos estágios de desenvolvimento

humano de acordo com a idade que ele propôs, paralelamente, sem faltar nem um

estágio para o indivíduo passar e assim estaria se desenvolvendo moralmente.

O psicólogo Lawrence Kohlberg não concordava com o paralelismo, estudou

a teoria de Piaget para compreender como ocorre o desenvolvimento da moral e

elaborou outra teoria.

Kohlberg nasceu em 1927 e faleceu em 1987, psicólogo norte-americano,

estudou sobre a teoria de Piaget com o objetivo focado na questão moral. Segundo

Aranha e Martins (2003), Kohlberg estudou a teoria piagetiana, mas com uma

diferença no trabalho, ele não concordava com a teoria do paralelismo, entre o

desenvolvimento lógico e moral. Suas investigações identificaram que o indivíduo só

atinge a maturidade moral na fase adulta.

De acordo com Aranha e Martins (2003), para Kohlberg o nível de moral mais

evoluído precisa de estruturas lógicas novas e complexas do que as do pensamento

formal. Assim, ele refez a teoria dos estágios morais dividindo em três níveis: o pré-

convencional, o convencional e o pós-convencional. O primeiro nível de moralidade

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para Kohlberg é o pré-convencional que é a moralidade heterônoma. Neste nível as

regras morais resultam da autoridade, a criança obedece o que lhe é imposto, para

evitar as consequências, como por exemplo o castigo. Neste nível também busca

estabelecer trocas e acordos, porém a moral ainda é individualista.

Para Kohlberg (apud Aranha e Martins 2003), o segundo nível é o

convencional que, já valoriza e reconhece o outro. O sujeito se identifica com o seu

meio, e o meio influência o sujeito através das regras e normas e se preocupa com

os seus sentimentos e dos outros. O terceiro nível é o pós-convencional, onde o

indivíduo percebe os atritos as regras e obedece-as, porém percebe os diversos

valores e opiniões às normas estabelecidas. O indivíduo tem comportamentos

morais a partir dos princípios e compreende o objetivo das regras, mas tem opinião

própria.

A partir do que foi exposto, entende-se que para Kohlberg não existe um

paralelismo como para o pensador Piaget, o desenvolvimento da moral para ele não

tem faixa etária certa para acontecer e o indivíduo não passará necessariamente por

todos os níveis, como nos estágios desenvolvidos por Piaget.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo procurou mostrar, por meio de pesquisas teóricas, um

assunto que já incomoda alguns educadores: a afetividade, que é tão importante e

necessária, assim como a inteligência para o desenvolvimento humano. Neste

sentido verificou-se que a afetividade, a cognição e a moral são inseparáveis com o

mesmo objetivo: a aprendizagem.

A partir da aprendizagem modifica-se a maneira de atuar no mundo e sobre

ele. A aprendizagem não é só conteúdos disciplinares, mas o conhecimento e

desenvolvimento ligados à conduta da vida. Por isso, a importância de ressaltar a

afetividade para o desenvolvimento humano.

Este texto pode contribuir para a relação entre professor e aluno, que é uma

relação de pessoa para pessoa, e o afeto está presente nesta relação e colabora

também para o processo de ensino-aprendizagem. Isso demonstra que os objetivos

propostos neste estudo foram alcançados.

Conforme o problema que suscitou o interesse em fazer esta pesquisa, e

identificar como a afetividade colabora para o desenvolvimento cognitivo e moral da

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criança da educação infantil, foi possível perceber que a afetividade é fundamental

para o desenvolvimento da criança e para o enfrentamento dos desafios do ensino

moral, crítico e autônomo, pois com ela o aluno se sente estimulado e seguro.

A partir dessa pesquisa constatou-se que, na sala de aula existe troca de

experiências, discussões, interação entre o aluno e as relações afetivas entre

professor e aluno. É neste espaço que o educador observa seus educandos,

identifica suas conquistas e suas dificuldades e os conhece cada vez mais. O

espaço da sala de aula é um ambiente cooperativo e estimulante, de modo a

favorecer o desenvolvimento.

Foi possível perceber também que cabe a escola, mas principalmente ao

educador, uma importante função social, devendo compreender o aluno no âmbito

da sua dimensão humana, tanto afetiva quanto intelectual, já que a criança depende

da qualidade das interação com o meio social para se desenvolver integralmente.

Diante das análises percebe-se que há uma eminente necessidade,

principalmente por parte dos educadores, de buscar conhecimento que trate sobre o

tema da afetividade, pois este tema colabora para o desenvolvimento humano, visto

que é na escola que a criança passa boa parte do seu tempo. O educador precisa

entender a necessidade e ficar atento às atitudes das crianças para assim colaborar

para o sucesso escolar e da vida do educando.

Com a presente pesquisa, foi possível compreender que a afetividade

colabora para o desenvolvimento cognitivo. E contribui para o desenvolvimento

moral e autônomo do indivíduo. Neste sentido, entende-se que a afetividade não se

limita apenas em manifestações de carinho físico e de elogios superficiais.

A partir da pesquisa constatou-se que é preciso uma visão mais crítica acerca

da afetividade, que a importância do tema para a educação está no fato de contribuir

para o desenvolvimento da moral e da autonomia e de deixar crianças felizes e

estimuladas a aprender para a vida. Para que isso aconteça é necessário que

educadores sejam afetuosos e comprometidos com a educação infantil.

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ABSTRACT: Affection is important in early childhood education, and contributes to the cognitive and moral development. The article emphasizes that cognition and emotion are inseparable poles. There is no middle cognitive affective state, as there is no purely cognitive behavior. The affection is the energy source that serves the function of cognition. The affection is not limited to physical expressions of affection, but in preparation for cognitive development because it is an indispensable factor in dealing with people who are in contact with the child's development. Affection is to develop a critical subject, autonomous, reflective and responsible. The child anywhere she is as a human being is developed through their experiences with that place or time, and affection should permeate all these moments. Keywords: Affection, Cognition, Moral, Autonomy.

REFERÊNCIAS

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GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 17. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

OLIVEIRA, Zilma Ramos. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 3. ed. São

Paulo: Cortez, 2007.

PIAGET, Jean. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1996.

WALLON, Henri. Psicologia e Educação da Infância. Lisboa: Editorial Estampa, 1975.