AGOSTO 2010

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2010 - ANO XIII - N o 163 O ESTAFETA Fotos Andréia Marcondes Aos poucos as questões ambientais passaram a fazer parte dos discursos das pessoas. Ecologia é assunto do dia-a- dia da sociedade. A preocupação com a preservação da natureza faz com que muitos mudem de comportamento, assimilando hábitos saudáveis. Contribuem para isso os meios de comunicação que a todo momento noticiam o que vem acontecendo no mundo em decorrência do aquecimento global: geleiras se desprendendo da calota polar, ondas de calor, incêndios, chuvas torrenciais, enchentes, desli- zamentos... Esses eventos climáticos extremos parece que estão aumentando de frequência e intensidade. O planeta agoniza e pede socorro. As conse- quências dos agravos ambientais reper- cutem em todos. O mundo vem se conscientizando de que é preciso agir o mais rápido possível, enquanto há tempo de reverter esse processo. Assim, ecologia está na moda. Apesar dos apelos dos meios de comunicação quanto às questões am- bientais e às mudanças de hábito da população mundial em relação à natu- reza, em Piquete as coisas seguem num ritmo lento. Os ribeirões que cortam a cidade, cujas águas vêm diminuindo drasticamente de volume ano a ano, se encontram cheios de lixo, com entulhos de toda espécie, mal cheirosos, cau- sando péssima impressão em quem visita a cidade. Além de disso, a falta de plantio e recuperação das encostas na cidade dão um aspecto de abandono e descaso com a paisagem, principalmente no período de seca, quando o fogo criminoso destrói as poucas árvores que teimam em nascer. Continuamos a manter uma relação predatória com a natureza. Precisamos acordar e tratar com mais respeito o meio ambiente. Precisamos de ações continuadas voltadas para a educação ambiental. Precisamos de exemplos de cidadania. Precisamos mudar nossos hábitos e enxergar que a cidade também é nossa. Podemos, se quisermos, nos tornar referência em questões ambientais. Este é o desafio. Quando pensamos em cultura, devemos lembrar que ela é produto do meio em que o ser humano está inserido. É o resultado de uma interação contínua entre pessoas de determinada região, nasce da adaptação do homem ao ambiente e abrange inúmeras áreas do conhecimento. Por isso, o meio ambiente, quando entendido a partir de um ponto de vista humanista, compreende a natureza e as modificações que nela introduziu e vem introduzindo o ser humano. Assim, o meio ambiente é composto por terra, água, ar, pela flora e fauna, por edificações, obras de arte e elementos subjetivos e evocativos como a beleza da paisagem ou a lembrança do passado, inscrições, marcos de fatos naturais ou da passagem de seres humanos fazedores de cultura. Quando falamos em cultura popular, estamos nos referindo não apenas às manifestações festivas e às tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa, aos significados e valores que atribui ao que faz. Ressaltamos a força da resistência e da persistência da cultura brasileira, que acreditamos ser crucial. Num país multiétnico e biodiverso como o Brasil, chama a atenção de todos que o visitam a riqueza de nossas paisagens e da cultura popular. De norte a sul, são inúmeras as expressões culturais preservadas pela comunidade que colorem nosso jeito de ser, pensar e agir, demonstrando a necessidade de falarmos de inclusão e diversidade, de educar para a diferença natural dos tantos povos que compõem o brasileiro. Essa pluralidade é que cria arte, cultura, solida- riedade, regras de convivência, ética, pertencimento, autoestima, respeito à riqueza e ao patrimônio identitário, com cara de Brasil, que precisa entender-se valo- rizado para enfrentar a pós-modernidade globalizada. O interesse pelos bens culturais pode ser restrito ao povo que vive essa cultura, mas pertence, também, a toda a humanidade, que tem o direito à existência de diferentes culturas ou à sociodiversidade. A sociodiversidade é indissociável da biodiversidade. Ambos são fundamentais para a civilização e a cultura dos povos. A ameaça do desaparecimento do patrimônio cultural é assustadora, porque é ameaça de desaparecimento da própria sociedade. Enquanto o patrimônio natural é a garantia de sobrevivência física da humanidade, que necessita do ecossistema para viver, o patrimônio cultural é a garantia de sobre- vivência social dos povos, porque é produto e testemunho de vida. Um povo que não valoriza a própria cultura é como uma colmeia sem abelha-rainha, um grupo sem norte, sem capacidade de escrever sua história e, portanto, sem condições de traçar o rumo de seu destino. Patrimônio Natural e Patrimônio Cultural Um povo que não valoriza a própria cultura é como uma colmeia sem abelha-rainha, um grupo sem norte, sem capacidade de escrever sua história e, portanto, sem condições de traçar o rumo de seu próprio destino.

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ANO XIII - No.163

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Page 1: AGOSTO 2010

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, AGOSTO/2010 - ANO XIII - No 163

O ESTAFETAFotos Andréia Marcondes

Aos poucos as questões ambientaispassaram a fazer parte dos discursos daspessoas. Ecologia é assunto do dia-a-dia da sociedade. A preocupação com apreservação da natureza faz com quemuitos mudem de comportamento,assimilando hábitos saudáveis.

Contribuem para isso os meios decomunicação que a todo momentonoticiam o que vem acontecendo nomundo em decorrência do aquecimentoglobal: geleiras se desprendendo dacalota polar, ondas de calor, incêndios,chuvas torrenciais, enchentes, desli-zamentos... Esses eventos climáticosextremos parece que estão aumentandode frequência e intensidade. O planetaagoniza e pede socorro. As conse-quências dos agravos ambientais reper-cutem em todos. O mundo vem seconscientizando de que é preciso agir omais rápido possível, enquanto há tempode reverter esse processo. Assim,ecologia está na moda.

Apesar dos apelos dos meios decomunicação quanto às questões am-bientais e às mudanças de hábito dapopulação mundial em relação à natu-reza, em Piquete as coisas seguem numritmo lento. Os ribeirões que cortam acidade, cujas águas vêm diminuindodrasticamente de volume ano a ano, seencontram cheios de lixo, com entulhosde toda espécie, mal cheirosos, cau-sando péssima impressão em quemvisita a cidade.

Além de disso, a falta de plantio erecuperação das encostas na cidade dãoum aspecto de abandono e descaso coma paisagem, principalmente no períodode seca, quando o fogo criminosodestrói as poucas árvores que teimamem nascer. Continuamos a manter umarelação predatória com a natureza.

Precisamos acordar e tratar com maisrespeito o meio ambiente. Precisamos deações continuadas voltadas para aeducação ambiental. Precisamos deexemplos de cidadania. Precisamosmudar nossos hábitos e enxergar que acidade também é nossa. Podemos, sequisermos, nos tornar referência emquestões ambientais. Este é o desafio.

Quando pensamos em cultura, devemoslembrar que ela é produto do meio em que oser humano está inserido. É o resultado deuma interação contínua entre pessoas dedeterminada região, nasce da adaptação dohomem ao ambiente e abrange inúmerasáreas do conhecimento.

Por isso, o meio ambiente, quandoentendido a partir de um ponto de vistahumanista, compreende a natureza e asmodificações que nela introduziu e vemintroduzindo o ser humano. Assim, o meioambiente é composto por terra, água, ar, pelaflora e fauna, por edificações, obras de artee elementos subjetivos e evocativos comoa beleza da paisagem ou a lembrança dopassado, inscrições, marcos de fatosnaturais ou da passagem de seres humanosfazedores de cultura.

Quando falamos em cultura popular,estamos nos referindo não apenas àsmanifestações festivas e às tradições oraise religiosas do povo brasileiro, mas aoconjunto de suas criações, às maneirascomo se organiza e se expressa, aossignificados e valores que atribui ao quefaz. Ressaltamos a força da resistência e dapersistência da cultura brasileira, queacreditamos ser crucial. Num paísmultiétnico e biodiverso como o Brasil,chama a atenção de todos que o visitam ariqueza de nossas paisagens e da culturapopular. De norte a sul, são inúmeras asexpressões culturais preservadas pela

comunidade que colorem nosso jeito de ser,pensar e agir, demonstrando a necessidadede falarmos de inclusão e diversidade, deeducar para a diferença natural dos tantospovos que compõem o brasileiro. Essapluralidade é que cria arte, cultura, solida-riedade, regras de convivência, ética,pertencimento, autoestima, respeito àriqueza e ao patrimônio identitário, comcara de Brasil, que precisa entender-se valo-rizado para enfrentar a pós-modernidadeglobalizada.

O interesse pelos bens culturais podeser restrito ao povo que vive essa cultura,mas pertence, também, a toda a humanidade,que tem o direito à existência de diferentesculturas ou à sociodiversidade.

A sociodiversidade é indissociável dabiodiversidade. Ambos são fundamentaispara a civilização e a cultura dos povos. Aameaça do desaparecimento do patrimôniocultural é assustadora, porque é ameaça dedesaparecimento da própria sociedade.Enquanto o patrimônio natural é a garantiade sobrevivência física da humanidade, quenecessita do ecossistema para viver, opatrimônio cultural é a garantia de sobre-vivência social dos povos, porque é produtoe testemunho de vida. Um povo que nãovaloriza a própria cultura é como uma colmeiasem abelha-rainha, um grupo sem norte, semcapacidade de escrever sua história e,portanto, sem condições de traçar o rumode seu destino.

Patrimônio Natural e Patrimônio Cultural

Um povo que não valoriza a própria cultura é como uma colmeia sem abelha-rainha, um grupo semnorte, sem capacidade de escrever sua história e, portanto, sem condições de traçar o rumo de seupróprio destino.

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O ESTAFETAPágina 2 Piquete, agosto de 2010

Com a presença de autoridades civis,militares e escolares de Piquete e de fora,além de grande massa popular, a “Semanada Raça” tinha início no dia 1º de Setembroe era organizada pelo DepartamentoEducacional da FPV. A documentaçãofotográfica existente e o depoimento demuitos que participaram desses eventos nadécada de 1940 comprovam o brilhantismodessa solenidade, que acontecia no Campodo Estrela.

Os festejos eram abertos pelo professorpresidente do Círculo da Juventude dePiquete, órgão do Departamento Educa-cional, que procurava evidenciar em seudiscurso a responsabilidade dos adultos naformação das novas gerações, indicando serdever de todos trabalhar para o desenvol-vimento intelectual, moral e cívico dajuventude. Dessa Semana participavam nãoapenas os alunos dos diversos cursos doDepartamento Educacional, mantido pelaFábrica, mas também das escolas do muni-cípio. Havia uma programação para cada dia,com provas esportivas disputadas pelosalunos: saltos de altura e extensão, torneiode futebol, vôlei, basquete, ginástica rítmica,corridas de saco, “do ovo”, “da agulha” e“do velocípede”... O encerramento dassolenidades acontecia no dia 6 de setembro,quando eram entregues os troféus e prêmiosconquistados nas competições da Semana.O Campo do Estrela ficava lotado com osalunos, os familiares e autoridades. Umprofessor sempre chamava a atenção sobreo evento reforçando que a “Semana da Raçaera voltada para que os jovens aprendessema valorizar nossas tradições e o Brasil comoPátria. Não bastava nascer num país qual-quer para tornar-se cidadão. Era precisorespirar o seu clima espiritual, sentir suastradições e costumes, participar das suashoras de angústias e alegrar-se com as

vitórias, trabalhando para sua grandeza”.A Semana da Raça, comemorada em todo

o Brasil, foi criada por Getúlio Vargas duranteo Estado Novo (1937-1945). Esse foi umperíodo marcante na história nacional.Instituído oficialmente em novembro de1937, marcou, sem dúvida alguma, a inserçãode uma nova cultura política no país queagregou as bases para a formação do atualEstado brasileiro. A criação de ministérios ea consolidação de suas legislações, dire-cionadas prioritariamente para as áreaseducacionais e trabalhistas, configuram asprincipais atuações do Estado Varguista,que instituiu sob medida a chamada “cida-dania do trabalho” como elemento definidorda cultura política em voga. Nesse contextohistórico, Piquete se beneficiou com aexpansão da Fábrica de Pólvoras, a geraçãode novos empregos e também com umaexperiência educacional sem precedentes naregião: visando a atender os filhos dosoperários da Fábrica com formação técnica,sua administração criou uma Escola deAprendizagem Industrial nos moldes doSENAI. No entanto, a fim de atender outrasdemandas e estender a oportunidade deestudos a todos os jovens da cidade, novasescolas e cursos foram criados. O resultadodessa experiência educacional chamou aatenção do então Ministro da Educação,Gustavo Capanema, que enviou a Piquete opedagogo Lourenço Filho para constatar aexcelência dos trabalhos educacionais aquidesenvolvidos.

Durante o Estado Novo a Educação foiuma das principais preocupações do go-verno, visto que seu objetivo evidente eraformar uma nação forte. Neste sentido, erainteressante conscientizar a juventude emrelação ao sentimento de civismo e depurarcostumes sociais que pudessem interferirna construção de uma nova identidade A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

nacional. A principal proposta do Estado eraconstruir um consenso coletivo. A questãoda formação da nacionalidade e da iden-tidade nacional vinha ocupando espaço portodo o país e procurava fazer com que asinstituições escolares fossem veículos paraa propagação dessas ideias. As festividadesconstituíam um momento para que semostrasse à sociedade ideias e valores jápresentes no universo cultural daquelaépoca. As festas cívicas contavam com aparticipação intensiva de operários da FPV,escolas, jovens e crianças, militares, repre-sentantes políticos e do clero, e eramamplamente divulgadas.

A Semana da Raça terminava com odesfile de 7 de Setembro, data em que secomemora a Proclamação da Indepen-dência. As fotografias daquela época nostransmitem a ideia de ordem e disciplina,bem ao estilo das noções e concepções doEstado Novo. Representavam o idealpatriótico.

As fotos que ilustram esta página são dadécada de 1940, no Campo do Estrela.

A “Semana da Raça” em Piquete

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Fotos arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, agosto de 2010

EdivalFoi uma grata surpresa quando, em abril

de 1999, chegou à redação de O ESTAFETA,trazida por Chico Máximo, uma crônicaintitulada “Velha Praça da Bandeira”, escritapor Edival da Silva Castro. A publicaçãoagradou a todos os leitores e serviu deestímulo para que o autor, a partir de então,passasse a colaborar mensalmente com esteinformativo. Chama a atenção a facilidadecom que Edival transfere para o papel asmemórias que detém dos anos 50 e 60passados em Piquete, sua terra natal.

Filho de Norival Chrispim de Castro eAngelina da Silva Castro, é o caçula entreseis irmãos. Nasceu na Casa 14 da AvenidaGomes Carneiro, em 28 de julho de 1940.Destinada a mestres, sargentos e sub-tenentes, a Vila era composta por vinte equatro casas, além de uma isolada. Recorda-se, com detalhes, de todos os moradores, elembra, saudoso, o “hospitalzinho” e seusfuncionários, atual Forum. Cita as famíliasMarques, Masiero, Luz, Paula Souza,Carvalho... Lembra-se, também, das brin-cadeiras com “as dezenas” de amigos quefez ao longo dos 14 anos em que lá morou.Muito ativo, Edival procurava participar detodas as “atividades de moleque” e, sempreatento, registrava na memória privilegiadaesses momentos, que hoje resultam emsaborosas crônicas, como “Tempos deMenino”, já publicada.

Do Jardim da Infância, em que foi alunode Dona Eurides Galli, cita o pequenozoológico, em que muito se divertiu.Frequentou o Grupo da Fábrica, em que foialfabetizado – com a cartilha “CaminhoSuave”, faz questão de dizer – pela profes-sora Bernadete, esposa do diretor, professorMelchíades. Estudou, ainda, no Ginásio daFábrica. “O Piquete de minha infância eadolescência era bom demais... Tínhamoscinema, piscina, quadras de esporte, boasescolas, grêmios esportivos, festas juninas,natalinas, quermesses... Tudo mantido pelaFábrica”.

Após a aposentadoria do pai, a famíliase mudou para rua Coronel Pederneiras.Quando adolescente, frequentou o Clube

dos Ex-Alunos e o Comercial, na Praça daBandeira.

Em 1961, foi admitido na Fábrica paratrabalhar na Diretoria Administrativa. Ochefe era o coronel Leônidas de Freitas. Em1964, devido a uma explosão que abalou aestrutura do prédio em que trabalhava, aadministração passou a funcionar na Casa1, na Vila da Estrela. Em 1966, Edivalingressou na Polícia Militar, em que ficoupor vinte e quatro anos, tendo se apo-sentado a 14 de agosto de 1990, comoprimeiro tenente da Polícia RodoviáriaEstadual.

Em 13 de outubro de 1962, casou-se comHilda Iris Rodrigues. Tiveram três filhos esete netos.

Em 1997, administrou a farmácia de umsobrinho seu em Piquete, na Praça daBandeira. Foi lá que nasceu o cronista.“Ficava observando a Praça e as lem-branças foram tomando conta de mim... Daísurgiu ‘Velha Praça da Bandeira’”. AFarmácia foi vendida, mas Edival tomougosto pelas letras... Não parou mais. Seu

estilo é eclético e inconfun-dível; proporciona, por vezes,risadas, por vezes, lágrimas...Mas agrada sempre...

Reside há anos em Lorena,mas é visto frequentementeem Piquete. Apoiador incon-dicional da Fundação, parti-cipa de todos os eventospromovidos. Edival é exem-plo de piquetense que amasua cidade e não a queresquecer. Torce por Piquetee por seu povo. Seu amor étransferido para o papel,que O ESTAFETA faz ques-tão de propagar...

Notas da Cidade

A Câmara Municipal de Piquete pro-

moverá no dia 27 de agosto, no Salão de

Atividades “Luiz Vieira Soares”, Sessão

Solene comemorativa ao Dia do Militar. Na

oportunidade, receberão o Cartão de Prata

os militares Cap. Augusto Libânio Alves

de Sene, Cap. PM Andréa Marcondes de

Albuquerque Figueiredo, Sub. Tenente

Paulo César Leite, Sargento Germana do

Carmo Castro, 3o Sargento PM Geraldo

Ribeiro da Costa, Soldado William Felipe

Arantes, Soldado Almir Nunes de Brito,

Soldado PM Evandro José de Vilas Boas e

Soldado PM Nilson Ribeiro Pereira.

O evento contará com a presença do

Superintendente da Fábrica Presidente

Vargas, Cel. Emídio Silva Dias, que fará

pronunciamento alusivo à data.

No dia 14 de agosto, o Jongo de

Piquete esteve presente na maior festa

folclórica do Brasil: o 46º Festival Nacional

do Folclore. Este Festival, que aconteceu

na cidade paulista de Olímpia – Capital do

Folclore – entre os dias 10 e 15 deste mês,

contou com a presença de setenta e cinco

grupos de dezenove estados brasileiros.

Além das exibições dos grupos de música

e dança, havia também exposição de

artesanato de todas as regiões do Brasil e

ótima gastronomia, com culinária regional

brasileira. O Jongo de Piquete, como

acontece em todos os lugares em que se

apresenta, contagiou a todos os que

assistiram.

O Jongo de Piquete apresentou-se no

SESC Pinheiros, na capital paulista, no

sábado, 7 de agosto. A apresentação fez

parte do projeto “Bumbo de Bamba: São

Paulo é samba”, homenagem ao samba

paulista e suas manifestações populares,

que reúne uma programação de shows

musicais, apresentações em praças e rodas

de conversa.

Desde 2009, o Jongo de Piquete é

reconhecido Ponto de Cultura pelo Mi-

nistério da Cultura e pela Secretaria do

Estado de São Paulo da Cultura, por meio

do projeto “Jongo de Piquete: um novo

olhar”, da Fundação Christiano Rosa. Este

animado grupo tornou-se embaixador de

Piquete pelo Brasil a fora e também em outros

países da América Latina, como a Venezuela.

Av. Gomes Carneiro e o antigo hospital da Fábrica

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O ESTAFETA Piquete, agosto de 2010Página 4

O Cel. Wanderley Gomes Sardinha nosbrindou com a obra Estórias Centenárias,em que, com outros autores, nos faz reviverPiquete por um século.

Desfilam, nas linhas do livro e no arranjodas palavras, pessoas, eventos, edifícios,reminiscências, lições de vida e culto àmemória.

Não fora o organizador e autor dascrônicas o bom memorialista que é, e que temdado provas de o ser. Agora, em segundaedição revisada e aumentada, datada deLorena 2010, temos o acervo realmenteacrescido de importantes contribuições paranossas referências e reflexões.

Assim, a apresentação elaborada peloGen. Álvaro Henrique Vianna de Moraes parao livro confirma a finalidade por sualinguagem agradável; referindo-se aotrabalho do Cel. Wanderley, nos remete àimportância da reedição.

E bem considera a vivacidade dascitações na ressonância dos ruídos, noolfato dos aromas e na audição daquelessons vincados pela ruralidade, modificadapelo toque da vanguarda e do moderno – aruptura provocada pela bem recebidaentrada de uma indústria bélica dada pornecessária. Não sem atrelar os participantesdo ato projetivo, de fundação e de conti-nuidade, e pelo evidente empenho na buscade um futuro veiculado na motivação dadefesa nacional.

Aliás, o prefácio do engenheiro JoséFerreira Rocha já salientara o interesse doCel. Wanderley em tê-lo nos quadrostécnicos da Fábrica Presidente Vargas. Épor isso que considera a importância dainstalação referencial na comemoração docentenário, de que se ocupa a obra. E daqual, para orgulho do autor, teve bemsucedida sua indicação, e a Fábrica, porreceber seus serviços.

Demonstra que fez instalar a produçãode nitroglicerina.

Em seguida, é colocada a síntesehistórica do estabelecimento fabril. O Dr.Antônio Carlos Monteiro Chaves fazdesfilar os eventos em suas datas, prota-

Estórias Centenárias - 2a edição

gonistas e considerações paralelas, além doscomentários sobre os efeitos provocadosna sequência.

Uma peça notável pelo conteúdo, sig-nificação e motivos é apresentada pelo títuloA criação do Memorial Usina RodriguesAlves, da autoria do Gen. Cássio Rodriguesda Cunha. Nela sente-se a inteira parti-cipação do referido General como realmentemobilizado pela idéia de restauração doedifício monumento-histórico que abrigoua primeira usina hidroelétrica do município,farto de águas fluviais, e que hoje sedia umbem montado memorial da Fábrica Presi-dente Vargas. De indiscutível beleza esimbolização, a usina, hoje revivida da obrade restauro, é testemunho da importânciaque abriga. Ao General citado os agrade-cimentos que nós, cidadãos piquetenses,devemos fazer, por nós mesmos e nossosantepassados que puseram na Fábricaemoção e trabalho, e que legamos para ofuturo.

O General Cássio, militar dotado deespírito humanitário e sólida formaçãoconcedida pela Academia Militar em seusprincípios de nacionalidade e culto aoempreendimento cultural, mostra-nos, comojunto ao Gen. Moraes, empenhou-se napossibilidade da execução da obra res-tauradora. Salienta o apoio recebido daFundação Christiano Rosa e diz-se cultorda emoção em solidificar as esperançasentusiasmadas do General Moraes peloprojeto finalmente levado a efeito. Oenvolvimento com especialistas das áreasde execução e de memorialística fica bemretratado no relato histórico das provi-dências tomadas. Finalmente completada, aobra engloba a transcrição de seu discursoproferido no ato da inauguração do memo-rial da Usina Hidroelétrica Rodrigues Alvesa 15 de setembro de 2006. Não deixa deregistrar a alegria da participação, o envolvi-mento com o importante sítio histórico doedifício fundador e a visão estratégica dosplanejadores iniciais e idealizadores pri-meiros.

Comove-nos a maneira gentil de referir-

se à nossa comunidade, os cumprimentos eos votos de esperança para que aconservação e manutenção do Memorialsejam continuadas. Não sem a lembrançaviva do que foi, para ele, ideia capital: tirar oedifício da usina da imagem deteriorada queexibia, esquecido entre um matagal. Aprofunda identificação humana com a obrasecular é um dos principais apanágios dessareferência dada literariamente nas EstóriasCentenárias. Leia-se com atenção.

Soma-se, a seguir, a análise feita peloGen. Gilmar Pinto Barbosa – A IMBEL e aestratégia nacional de defesa. Consi-derações que nos permitem avaliar aimportância das forças ligadas à EstratégiaNacional de Defesa e a necessidade dastecnologias ligadas à questão de sobe-rania. Trata-se de uma importante aulasobre as questões mais prementes nocampo da estratégia, defesa, soberania eforça dissuasiva.

Ao que seguem as crônicas cente-nárias, para se chegar à “IMBEL hoje”,comentário oportuno e bem documentadopelo Cel. Naor Seixas Monte. Uma atua-lização que enriquece nosso cabedal deconhecimentos sobre a Fábrica e a Imbel.

Dentre as crônicas de vários autorescom experiências do trabalho na Fábrica, ostestemunhos de homens que, em diferentestarefas, se envolveram profissional eafetivamente. Portanto, o propósito dacrônica do Cel. Jorge da Rocha Santos sobreO Ser Humano na Fábrica PresidenteVargas salienta figuras representativasnomeando-as em suas funções e histo-ricizando processos produtivos para home-nagear a dedicação, o entusiasmo e acolaboração de todos os citados, além dogenericamente considerado ao final – o serhumano na Fábrica.

Do memorial fica-nos a responsabilidadeem preservá-lo e conservar-lhe os equi-pamentos. Uma importante mostra ico-nográfica fecha a obra com propriedade.Agradecemos, penhorados, a publicação.

Dóli de Castro Ferreira

Uma resenha e comentários que se impõem

Fotos arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA Página 5Piquete, agosto de 2010

A Argentina foi o primeiro país latino-americano a aprovar a união civil entrepessoas do mesmo sexo, seguindo amesma orientação de alguns paíseseuropeus. Este fato, que divide opiniões,tem gerado reações apaixonadamenteadversas, sobretudo de setores maisconservadores da sociedade.

Neste contexto de polêmica, o textodo capítulo 19 do Livro do Gênesis, adestruição de Sodoma, a cidade pecadora,tem sido utilizado largamente para con-denar relacionamentos amorosos entrepessoas do mesmo sexo. Esta maneira deler este texto, porém, é bastante empo-brecida e omite a verdadeira mensagemnele contida.

Para compreendermos esta estória daBíblia, precisamos começar a leitura nocapítulo 18. Abraão recebe em sua tenda,junto ao carvalho de Mambré, três pere-grinos. Os peregrinos eram pessoas emsituação extremamente vulneráveis, preci-savam de água, comida, abrigo e segu-rança. A hospitalidade, nos lugares em quepassavam, era algo fundamental para suasvidas durante a peregrinação. O textodescreve o comportamento exemplar deAbraão: “Ao vê-los, correu da entrada datenda ao encontro deles e se prostrou por

terra, dizendo: Senhor, se encontrei o seufavor, não passe junto ao seu servo sem fazeruma parada. Vou mandar que tragam águapara que vocês lavem os pés e descansemdebaixo da árvore. Vou trazer um pedaçode pão e vocês poderão recuperar as forçasantes de partir...”. Ao ir embora, o hóspedeabençoou a casa de Abraão: “No próximoano eu voltarei a você, então sua mulher játerá um filho...” Quem é hospitaleiro e faz obem ao semelhante que necessita é aben-çoado por Deus; este é o primeiro ensi-namento do texto. O capítulo 18 termina comuma revelação de Javé a Abraão: iriadestruir Sodoma, cidade em que morava seusobrinho Ló, por causa das injustiças deseus habitantes

No capítulo 19 temos a chegada dosperegrinos à casa de Ló, que lhes fez umhospitaleiro convite: “Senhores, fiquemhospedados em casa do seu Servo, lavemos pés e pela manhã continuarão ocaminho (...). Ló preparou uma refeição,mandou assar pães sem fermento, e elescomeram.” Em extremo contraste à acolhidabondosa de Ló, o texto apresenta a injustafalta de hospitalidade dos moradores deSodoma, que hostilizam os forasteiros, que“ainda não haviam deitado quando oshomens da cidade rodearam a casa. Eram

Ser sodomita é não ser hospitaleiroos homens de Sodoma, desde os jovensaté os velhos, o povo todo sem exceção.Chamaram Ló e lhe disseram: traga-ospara que tenhamos relações com eles.” A estória termina com a destruição dacidade pecadora após a saída de Ló e suaparentela.

É comum escutarmos que a destruiçãode Sodoma deveu-se ao fato de seushabitantes terem tentado cometer atoslibidinosos homossexuais com os pere-grinos que estavam na casa de Ló. Naverdade, este texto condena a falta dehospitalidade como um grave pecado. Oshabitantes de Sodoma, ao invés de darágua, pouso, comida e proteção aosvulneráveis peregrinos, os hostilizaramquerendo penetrá-los. A maneira dehostilizar aqui não é o mais importante,poderia ser qualquer outra. O problema éa falta de acolhida, sem a qual não erapossível sobreviver às provações daperegrinação.

Quem não é hospitaleiro não socorre oirmão necessitado e é injusto com osfracos, recebe o castigo de Deus. Eis osegundo ensinamento deste texto daEscritura.

Pe. Fabrício Beckmann

O Brasil é a terra da diversidade. Nossasflorestas se caracterizam por um númeroaltíssimo de espécies. Os naturalistas epesquisadores, ao longo dos séculos, têm-se fascinado com tamanha gama de flora efauna.

A Mata Atlântica não foge à regra. Nãoé uma, são muitas, e a essas diferentes matasse associam ainda outros ecossistemasfazendo uma cadeia de vida com muitos ediferentes elos.

A mais rica das vegetações da MataAtlântica é de sombra e água fresca, a MataOmbrófila Densa, encontrada em nossaregião, nas encostas da Serra da Manti-queira, terreno de topografia muitoacentuada. A inclinação das escarpasproporciona uma luz mais bem distribuídapermitindo que as árvores aumentem suascopas. A alta pluviosidade da região –nuvens carregadas que batem nas encostase se precipitam – ajuda a criar a visão deum jardim formado por epífitas, bromélias,

musgos, líquen e incontáveis riachos deágua límpida. Mais acima, por volta dos1.400 metros, a Mata de Altitude raleia.Aparecem belíssimas araucárias. Maisacima ainda, transforma-se nos Campos deAltitude, onde restam arbustos, vegetaçãorasteira, e, nos meses de inverno, geada emuito frio, como nas encostas do maciçodos Marins.

A região de Piquete é privilegiada pordiferentes paisagens e por manter intactossignificativos fragmentos dessas matas. Noentanto, descendo a serra, chegando à regiãoem que a cultura do café, no século 19, e,mais tarde, a criação do gado, substituírama mata, a cidade surgiu e se expandiu.Apesar dos ricos fragmentos de MataAtlântica ainda existentes no município, épreciso que ações voltadas para um plane-jamento estratégico busquem garantir apreservação dessa diversidade biológicainterligando esses fragmentos de florestapor meio de corredores de conectividade.

Essa é uma preocupação da FundaçãoChristiano Rosa que, desde 1997, vemdesenvolvendo projetos para a recuperaçãode mata ciliar e proteção de nascentes. Em2004 desenvolveu projeto piloto de revege-tação de mata ciliar na microbacia do ribeirãoTabuleta / Benfica, onde foi plantado umhectare com duas mil mudas de espéciesnativas da região. O resultado foi animador.Desde 2007 vem desenvolvendo um ambi-cioso projeto de revegetação de mata ciliarna microbacia do ribeirão Limeira, cujasnascentes se localizam na mata da IMBEL.Já foram plantados, de maneira continuadae sistemática, 27 hectares, além de recuperarnascentes tributárias deste ribeirão. Forammais de 54 mil mudas de noventa diferentesespécies da mata atlântica. Quando asmargens do Limeira estiverem reflorestadas,será formado um corredor ecológico queligará suas nascentes, na APA da Manti-queira, à sua foz, no Paraíba do Sul, emLorena.

Brasil – terra da diversidade

Fotos arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, agosto de 2010

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroDe 0 a 13...

O Tempo e o velho

www.fundacaochristianorosa.cjb.net

Um velho encontra-se sentado nacalçada defronte à sua casa; traz o olharperdido no vazio.

Nisso, passa o Tempo. Vai até aesquina, volta e lhe diz:

– Bom dia, meu velho! O que estáacontecendo? Você está cabisbaixo. Pareceaborrecido. Olhe para cima. É lá que seencontra o arco-íris e moram as estrelas.

– Bom dia, seu Tempo! Estou fazendouma análise da vida. Você bem sabe quena velhice nos tornamos saudosistas. Etem mais: é do seu conhecimento que fuicriança disciplinada, rapaz destemido,homem trabalhador. Semeei boas se-mentes. Estou pronto...

O Tempo medita, coça a cabeça, põeuma das mãos no queixo e fala:

– Pois é... Você se abalou com a minhapassagem. Pensa que vim buscá-lo? Claroque não. Você tem muito tempo ainda. Euestava somente passando...

– Tá bem, seu Tempo! Alegro-me comsua complacência.

– É... Agora tenho que ir. O dever mechama.

O Tempo partiu.O velho vagaroso ajeitou os óculos,

apoiou-se na bengala e adentrou sua casa.E o tempo passou...Numa madrugada fria, chegou o

Tempo. Encontrou o velho agora bem maisvelhinho num asilo, sozinho e moribundo.Dirigiu-se a ele:

– Ei, velho. Aqui estou...– É... Eu sei. Pensei que tivesse se

esquecido de mim.– Não, não esqueci, não.– Seu Tempo, espera um bocadinho.

Logo, logo será primavera.– É, meu velho... Vai acontecer amanhã

pela manhã. E aí eu não vou ter maistempo...

(...)

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

As superstições que se pensava fossemcoisas do folclore continuam por aqui, bemvivinhas neste novo milênio. Este empi-pocado planetinha está lotado de pessoasque creem nesses antigos azares, comopassar por baixo de escada, quebrar espe-lhos, queimar sal, pio de coruja etc.Esquecem-se de que, talvez, o maior azaresteja justamente nessa sintetização feitapelo falecido presidente Johnson: “Vivemosnum mundo que se reduziu a uma vizinhançaantes de se ampliar em uma irmandade”. Quese há de fazer? Como dizem por aí: é cadaum na sua. Barra é o exagero... Vejam:

Cenário: rodoviária de Taubaté. Gentecomprando passagem e marcando passepara São José dos Campos em ônibus direto.Vai entrando e tomando assento. Umvelhinho, barbas longas, bem vestido, entrare dá passagem para outros se locomoverem,mas não se senta. Lotação completa e ordemde partida. Não pode sair com viajante empé. Lá está o homem idoso ereto em frente àpoltrona vaga.

– O cavalheiro podia se sentar? solicitouo motorista.

Com sotaque nordestino, ele responde:– Nesta poltrona sento não.– Que é que há com ela?– É número 13.– E daí?– De jeito nenhum sento. Dá azar!– Mas o senhor não pode ir em pé... É

proibido.– Mas eu vou. Sentar aqui sento não.Lá no fundão, outro viageiro, não crendo

no azar do número ou querendo se acomodarmelhor, propõe:

– Se o senhor quiser, eu sento aí e osenhor senta aqui na minha.

– Está bem...O ancião foi para trás enquanto o outro

vinha para a frente. Quando olhou o númerode sua nova poltrona, voltou-se a ouvir suavoz:

– Sento nesta também não! É 31...Contrário de 13...

Não aconteceu a troca e o homeminsistiu em ficar em pé à frente da 13.

– Meu senhor – apelava a paciência dochofer –, se existe azar é com o 13, não como 31!

– Feito não! De lá pra cá o 31 é 13...A coisa estava nesse impasse, com o

motorista coçando a cabeça e o restantedos passageiros – maioria estudante –divertindo-se com o inusitado caso. Umjovem, cujas intenções poderiam ser deajuda ou de pressa, tentou solucionar ocaso:

– Senta, então, aqui na minha, tio.E levantou-se.– Qual é o número?– 24 – respondeu indiferente o rapaz.– Desaforado! Tem educação não? Fazer

vexame pra mais velho?– Quê isso, meu? Tô tentando ajudar! –

disse o rapaz gesticulando o braço direito,como se o estivesse mandando para algumlugar indefinido.

Irado, o macróbio, em pé, ameaçava como dedo em riste:

– Se eu fosse mais moço, ensinava tu adebochar de macho, cabra safado!

O estudante deixou a coisa barata. Asituação estava ficando cômica em excessoe, antes que algum temporal desabassedentro do carro, o chofer acalmou o excitadosenhor e foi iluminado por uma ideia:

– Vamos fazer o seguinte: na saída osenhor se abaixa e, quando chegar mais àfrente, pode ir da maneira que quiser.

Dito e feito. De cócoras ele foi até oprimeiro ponto, onde outros passageirosentraram. A poltrona 13, dando sopa, foiocupada por um ignorante de sua terrívelsina sob o olhar penalizado do velhinho.Viagem seguiu até São José dos Campos, ocoletivo encostou e tanto o venerávelnordestino supersticioso como o estranhoda poltrona 13 chegaram intactos.

Na descida do degrau, o pobre anciãopisou de mau jeito no piso e torceu o pé...Velhinho previdente, não?

O relógio da Matriz

Dóli de Castro Ferreira

Os ruídos urbanosAbalam seu som.É preciso querer ouvi-loCompassado, somando alegriasE agonias.

O relógio da MatrizRegistra em cada meia horaO sinal consagradoDa memória.

O ecoar cristalinoNas dobras das curvasDos morrosÉ o sinal esperadoDa vida contada.

Registra os que se foram,Os que estão e são,E os que vêmE virãoSempre,Para lembrar um tempoQue não acaba.

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O ESTAFETAPiquete, agosto de 2010 Página 7

O tempo que vai do bebê ao homemadulto, completamente dono de si, abarcavinte e cinco (25) anos.

Se a expectativa de vida do ser humanofica por volta de setenta e cinco (75) anos,ao homem é dada a possibilidade deassistir a três (3) gerações. Um casal podeacompanhar apenas o desenvolvimentodos filhos e dos netos.

O centenário equivale a quatro (4)gerações. É, portanto, uma boa medida paraa reavaliação da vida de um povo.

Digo reavaliação porque a simplesavaliação deve ser efetuada a cada ge-ração. Por cada um dos cidadãos. E pelosgovernos.

O ser humano que comanda a vida dacomunidade está na geração do meio – dosvinte e cinco (25) aos cinquenta (50) anos.

Está na moda o vocábulo pegada paratraduzir as marcas deixadas pelo bicho-homem na sua passagem pela Terra. Mas apegada não é apenas negativa. Eu nãodevo medir apenas quanto a minha geraçãoproduziu de lixo, prejudicou os mananciais,entupiu a atmosfera com CO

2 e gases de

efeito estufa. E a sua responsabilidade notamanho do buraco da camada de ozônio.

Cada geração é um degrau na conquistado conhecimento, na decifração doUniverso.

Assim, a geração de Gutenberg ofe-receu a imprensa; a do Infante D. Henrique,os instrumentos de navegação; a deSantos Dumont, o avião; a de Bill Gates, ocomputador.

No plano dos governos, vinte e cincoanos equivalem a seis (6) legislaturas maisum quarto (1/4). É tempo oportuno para quea comunidade nacional pare e pense.

Como vai este município, como vai estaregião, como vai este estado, com vai estepaís? É hora de tirar a Constituição daalgibeira e comparar cada artigo, cadainciso com a realidade brasileira. É hora deconvocar não uma simples AudiênciaPública, mas uma Comissão ParlamentarMista de Inquérito (CPMI) aberta a todasas forças vivas da nação para verificar aquantas anda a vida do país.

Você, que está empenhado na cam-panha do seu candidato, pode parar unsminutinhos, elaborar umas questõessimples, acompanhadas de sugestõestambém simples e, sem alarde, afixá-las aopainel do comitê.

A sua geração não precisa causar umaruptura com a invenção da imprensa ou docomputador. Ela pode ser maior ainda –pode tentar dar resposta à mais terrível dasperguntas: por que a humanidade ainda nãopôs fim à pobreza?

Sugiro aos adultos jovens que nãodeixem passar o tempo. Comecem logo aexpor sem medo suas propostas. Os

problemas estão aí mesmo, no dia a dia,criando feridas na pele da democracia.

Aceitem alguns exemplos que a mídiaexaustivamente.

1. Desigualdade Salarial no ServiçoPúblico.

Por que as Faculdades de Economia eAdministração não enviam ao Congressoum projeto com o piso salarial de empregosde nível fundamental, empregos de nívelmédio e empregos de nível superior?

2. Ausência de brasileiros de corpreta na Universidade.

Por que o Ministério da Educação nãocria uma escola de nível médio, profis-sionalizante e uma universidade federalexclusivas para brasileiros natos, de corpreta, segundo o modelo das academiasmilitares? Os alunos terão alojamento,alimentação, estudo, assistência médico-dentária e uma pequena bolsa para gastospessoais.

A escola de nível superior poderáagregar-se à Universidade de Brasília e tero mesmo corpo doscente.

Igual providência poderá ser tomadapela universidade federal mais próxima dascomunidades indígenas. As duas unidadesde ensino, médio e superior, receberão asetnias indígenas de todo o territórionacional.

Após 25 anos as escolas serão ava-liadas e, cessada a necessidade de suaexistência, seu patrimônio poderá serincorporado ao da escola-mãe.

3. Revisão AgráriaA paz no campo só é possível com

projetos locais de colocação de mão deobra excedente. Não tem o menor cabi-mento um cidadão sair do Espírito Santoou do Rio Grande do Sul e vir até SãoPaulo para dizer aos paulistas o que devemfazer com suas terras.

Recentemente o governo federaldeslocou órgãos relativos à mineração,criando a Agência Nacional de Mineração.

Por que não criar a Agência Nacionalde Terras, deslocando para ela os funcio-nários do Incra?

Precisamos saber com urgência o que éfederal e o que é estadual. O governofederal precisa proteger suas terras paraevitar a grilagem. Ao Ministério doDesenvolvimento Agrário devem serencaminhados os projetos estaduais paraa ocupação de mão de obra no campo.Quando aprovados, o Ministério efetuarátodas as gestões necessárias para a suarealização.

As eleições estão aí. Cérebros à obra,cidadãos!

Faltam apenas doze (12) anos para o“mea culpa” do segundo centenário.

Que seja bem desenhada a pegadadesta geração!

Bicentenário da IndepêndenciaAbigayl Lea da Silva

Estamos novamente em tempos depropaganda eleitoral. Todos os dias, nasrádios e na televisão, assistimos os candi-datos aos cargos de presidente da república,governador, senador, deputados estadual efederal apresentando – alguns em segundos– sua proposta política. Impossível alguémnão ter ouvido um amigo reclamar: “detestoesse horário eleitoral”.

As eleições deste 2010 para presidenteestão polarizadas entre os dois maiorescandidatos. Cada um, à sua maneira, tentaconvencer os indecisos e cooptar os que játêm opinião formada a mudar de lado.Apresentam, para isso, um currículo repletode obras realizadas e experiências adminis-trativas, além de “garra, vontade de trabalharpelo país”... Como atrativo, passam por umatransformação radical: plásticas, mudançasde cabelo, figurino e gestual; tudo milime-tricamente calculado visando a impressionaro eleitor.

Quando as eleições são para prefeito evereador, especialmente em cidades pe-quenas como Piquete, conhecemos oscandidatos no seu dia-a-dia. Não é o casoagora, quando, na maioria das vezes, nossaopção é avaliar as informações disponíveisna mídia.

Em eleições passadas, afirmações como“transformar o Congresso”, “investir emeducação, saúde e segurança” elegiamcandidatos. Hoje, a situação está come-çando a mudar. Não dá mais para aceitarpromessas vazias, sem fundamentos. Há quese questionar: transformar como? De ondevirá o dinheiro para os investimentosprometidos?

Voltemos, então, ao horário eleitoralgratuito... Assisti-lo é, muitas vezes, cons-trangedor.. Dá-se destaque aos “candidatos-celebridades”, que desfilam asneiras, como“não sei o que faz um deputado estadual;votem em mim que eu digo pra vocês...” ou“pior que está não fica”. Ainda não medecidi, mas é certo que candidatos que têmdiscursos com trechos como estes estãofora de questão. Minha opinião é a de quepor meio dele podemos, pelo menos, saberem quem NÃO vamos votar.

Há opções como os debates televisivos;acredito que eles podem acrescentar algo ànossa balança; por mais preparado pelomarketing que esteja um candidato, naquelemomento ele está sozinho. As declaraçõesem entrevistas, para mim, dizem muito arespeito do candidato. Por vezes, a sinceri-dade aparece e descobre-se a realidade.

Para nos decidirmos por um candidato,vale, ainda, a avaliação de sua vida públicaou das atividades que desenvolveu comoprofissional privado. Não votemos pelaaparência ou porque o candidato é “amigode fulano ou sicrano”... De nosso votodependem os caminhos do estado e do país,e, por consequência, maiores ou menoresdificuldades para nós mesmos.

Horário eleitoralLaurentino Gonçalves Dias Jr.

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O ESTAFETA Piquete, agosto de 2010Página 8

O ponto de cultura “Jongo de Piquete:um novo olhar” promoveu, no EspaçoCultural “Célia Ap. Rosa”, da FundaçãoChristiano Rosa, nos dias 30, 31 de julho e1º de agosto, uma oficina em que foi debatidaa identidade negra. Coordenada peloprofessor Gilberto Augusto da Silva, oMestre Gil, os trabalhos se desenvolverama partir do livro “Pelos Caminhos do Jongoe do Caxambu”, publicado pela UniversidadeFederal Fluminense (UFF). Escrito por umgrupo de jovens historiadores que seenvolveram com a construção e divulgaçãodo jongo/caxambu e memória, o livro foicoordenado pelas professoras Hebe Mattose Martha Abreu e é parte integrante doPontão de Cultura do Jongo/Caxambu, umaação de treze comunidades jongueiras doSudeste, do IPHAN e da UFF.

A oficina contou com a participação doDr. Antônio Carlos Monteiro Chaves,pesquisador da história de Piquete, que, apartir da localização das comunidadesjongueiras no Sudeste brasileiro, historioua chegada de levas de negros escravos paratrabalhar nas fazendas de café do Vale doParaíba. Em sua exposição, ilustrou aimportância do trabalho dos negros nasinúmeras fazendas em Piquete e a herançapor eles deixada. O interesse demonstradopelos participantes da oficina foi grande,especialmente em função de os trabalhosapresentarem inúmeras fotografias doacervo da Fundação Christiano Rosa.

Quando a questão da identidade negra

foi trazida para a realidade piquetense, todosos participantes contribuíram com relatosenriquecendo a apresentação. Foi apontadaa importância do conhecimento e da pre-servação da memória, de maneira a fortaleceros laços identitários da comunidade e,portanto, de cidadania.

A história do negro em Piquete foiexemplificada por uma família referência, cujopatriarca, Geraldino Porfírio, um ex-escravo,ocupou relevante espaço na sociedade.Após o 13 de Maio, constituiu família,participou da construção da Fábrica dePólvora sem Fumaça, educou as filhas e foium dos guardiões da memória do Jongo. Aofinal dos trabalhos, foi discutida, ainda, aimportância do patrimônio material eimaterial. Os participantes fizeram umareflexão sobre a questão ambiental e o Dr.Antônio Carlos frisou que, num país ricoem manifestações culturais, a sóciodi-versidade é indissociável da biodiversidade.Os participantes sugeriram que outrosencontros aconteçam e seja divulgada aparticipação do negro na comunidadepiquetense. Ficou a sugestão de se levar osdebates para as escolas e de se instru-mentalizar os professores com essesconhecimentos.

Estão previstos para acontecer até o finaldeste ano mais duas oficinas que abordarãoa questão da identidade e três oficinas deaudiovisual promovidas pelo Ponto deCultura “Jongo de Piquete: um novo olhar”.

Pelos caminhos do Jongo e do CaxambuHistória, memória e patrimônio

Fundação coordena trabalho dogoverno do Estado de São Paulo

A Fundação Christiano Rosa venceulicitação pública realizada em julho/2010

pela Coordenadoria dos Recursos Hídri-

cos da Secretaria de Meio Ambiente doEstado de São Paulo, e será a responsável

pela Coordenadoria Técnica de estudos

destinados à atualização do Plano Esta-dual dos Recursos Hídricos. O principal

objetivo é a repactuação dos Planos de

Metas das vinte e duas Unidades deGerenciamento de Recursos Hídricos

(UGRHi) do Estado de São Paulo, que

servirá de subsídio para a atualização doPlano Estadual de Recursos Hídricos. A

técnica responsável pela coordenadoria

deste trabalho será a Arquiteta Ana Maria

Atividades da Fundação Christiano Rosade Gouvêa.

Oficina de Trabalho

No desenvolvimento do Plano deBacias do Rio Paraíba do Sul, realizou-se

no dia 24 de agosto, no SEST/SENAT, em

Taubaté, uma Oficina Participativa deTrabalho do Plano de Bacias Hidrográficas

do Paraíba do Sul – Trecho Paulista. Este

Plano vem sendo elaborado pela FundaçãoChristiano Rosa, a qual tem como parceiros

o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)

e a Fundação de Ciência, Aplicações eTecnologias Espaciais (FUNCATE).

Durante a oficina, os diferentes compar-

timentos que integram a bacia hidrográficaforam caracterizados por membros da

sociedade civil, técnicos e representantesde órgãos públicos. O objetivo principal

foi captar a visão dos atores sociais quevivem neste trecho da bacia do Paraíba

do Sul, em seus diferentes compar-

timentos. Foram discutidos, entre outros,os seguintes pontos: situação dos recur-

sos naturais, esgoto, lixo, água. Os dados

levantados permitirão priorizar as açõesnecessárias para a melhoria dos recursos

hídricos da bacia e oferecer água com

quantidade e qualidade necessárias parao seu desenvolvimento.

Fundação cadastrada no CADEA

No dia 16 de julho, a Fundação Chris-

tiano Rosa recebeu da Secretaria do Meio

Ambiente do Estado de São Paulo o“Certificado de Entidade Ambientalista”

por preencher os requisitos requeridospelo governo.

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Fotos arquivo Pro-Memória