Akademicos 41

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Mobilidade de longa duração Longe de casa 04 e 05 Suplemento do JORNAL DE LEIRIA, da edição 1337, de 25 de Fevereiro de 2010 e não pode ser vendido separadamente. Akadémicos FOTO: LUÍS ALMEIDA Chakall Chefe de Cozinha “A comida que faço tem a ver com a minha história” 06 e 07

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Ediçao n.º 41 Jornal Akademicos

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Mobilidade de longa duração

Longe de casa04 e 05

Suplemento do JORNAL DE LEIRIA, da edição 1337,de 25 de Fevereiro de 2010 e não pode ser vendido separadamente.

Akadémicos

FOTO

: LUÍ

S AL

MEI

DA

ChakallChefe de Cozinha

“A comida que faço tem a ver com a minha história”

06 e 07

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Ao abrigo de um protocolo com o Instituto Politécnico de Macau, chegam cerca de 20 alunos chineses por ano à Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, para realizarem dois dos quatro anos da Licenciatura em Tradução e Interpretação Português/Chinês, Chinês/Português. Não conseguimos apurar quantos alunos chegam ao Instituto, vindos ao abrigo de proto-colos com Países Africanos de Língua Ofi cial Portuguesa, mas o número será, seguramente, maior. Ao contrário do que acontece com os estudantes chineses, que se concentram num só espaço académico, os alunos vindos de Cabo-Verde, São Tomé, Moçambique… distribuem-se por vá-rias escolas, vários cursos, várias turmas. A língua pode até ser um obstáculo maior para muitos dos estudantes chineses, mas os desafi os de integração são comuns. Dizia, um dia, um aluno de Cabo-Verde, que o fi o do horizonte, o nascer e o pôr-do-sol lhe faltavam em Portugal. A paisagem, o clima, a alimentação, o sistema de ensino, a moeda, os códigos

sociais, o ritmo dos dias… As diferenças geográfi cas, sociais e culturais são grandes. Para além do percurso curricular, estes estudantes têm ainda de gerir a adaptação e, mais difi cilmente, a ‘saudade’. O sucesso do percurso dependerá de cada um, mas também do apoio que derem funcionários, docentes e, sobretudo, cole-gas. Como em tantas outras coisas, as pessoas podem fazer a diferença. Para o futuro, muitos anseiam pelo regresso, por uma opor-tunidade de trabalho no país de origem. Cá ou lá, que os seus (mas também nossos) percursos, assentes nesta experiência multicultural, sejam marcados pelo enriquecimento humano que o contacto com o ‘outro’ sempre proporciona.

TEATRO27 de Fevereiro, 21:30Teatro José Lúcio da Silva, LeiriaO Ano do Pensamento MágicoÉ no teatro José Lúcio da Silva que, dia 17, terá lugar a peça de teatro de Joan Didion baseada nas suas memórias. Eunice Muñoz será a principal presença. Uma história que mostra a profundidade que só as grandes relações têm e refl ecte sobre a doença e a morte, sobre a probabilidade e o acaso, sobre a sau-dade e o amor. Com encenação de Diogo Infante, o espectáculo tem a duração de 1:10, sem intervalo. O preço do bilhete é de 15 euros.

DANÇA4 de Março, 21:30Teatro José Lúcio da Silva, LeiriaA Bela AdormecidaA Bela Adormecida, baseado no conto de Charles Perrault La Belle au bois Dormant bem ao estilo francês do século XVIII, é considerado um dos bailados que maior interesse desperta junto do público. Dan-çado por todas as companhias do mundo, esta obra de Tchaikovsky é uma das mais belas páginas do compositor russo. A mú-sica e a coreografi a fi zeram com que esta peça fosse considerada a obra emblemáti-ca da dança clássica. O espectáculo tem a duração de 2:20 e o preço dos bilhetes va-ria entre 25 e 30 euros.

MÚSICA4 de Março, 21:30Cinema São Jorge, LisboaJohn Waite Já não vai ter de esperar muito mais... No próximo dia 4 de Março, John Wai-te, uma das melhores e mais carismá-ticas vozes do rock, actua pela primei-ra vez em Portugal para um concerto único no Cinema São Jorge em Lisboa. Situado na Avenida da Liberdade e com capacidade para 848 lugares sentados, o São Jorge é considerado um dos mais emblemáticos espaços de Lisboa. Um concerto com o apoio da, agora situada em Leiria, m80.

25 de Março, 21:30Coliseu de LisboaTangerine DreamO melhor do rock sinfónico dos anos 70 está de regresso a Portugal. Os alemães Tangerine Dream darão um espectáculo no Coliseu de Lisboa a 25 de Março. Donos de um estilo musical como new age, rock progres-sivo e tons electrónicos, os Tangerine Dream prometem aos fãs portu-gueses uma grande performance… Uma noite obrigatória.

02 JORNAL DE LEIRIA 25.02.2010

DORA MATOSUma agenda do mês

Director:José Ribeiro [email protected]

Director Adjunto:João Nazá[email protected]

Coordenadora de RedacçãoAlexandra [email protected]

Coordenadora PedagógicaCatarina [email protected]

Apoio à EdiçãoAlexandre [email protected]

Secretariado de RedacçãoAndré Mendonça, Sara Vieira

Redacção e colaboradoresAnne Abreu, Ana Arsénio, André Mendonça, Ângela da Mata, Carla Silva; David Sineiro, Dora Matos, Élio Salsinha, Filipa Araújo, Joana Roque, Luís Almeida, Mariana Rodrigues, Sara Vieira, Tiago Figueiredo

Departamento Gráfi coJorlis - Edições e Publicações, LdaIsilda [email protected]

MaquetizaçãoRui Lobo – Centro de Recursos Multimédia ESECS–[email protected]

Presidente do Instituto Politécnico de LeiriaNuno [email protected]

Director da ESECSLuís Filipe [email protected]

Directora do Curso de Comunicação Sociale Educação MultimédiaAlda Mourã[email protected]

Os textos e opiniões publicados não vinculam quaisquer orgãos do IPL e/ou da ESECS e são da responsabilidade exclusiva da equipa do Akadémicos.

[email protected]

Vai lá, vai...

Abertura

Catarina MenezesDocente ESECS / IPL

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Paulo Seco, estudante do terceiro ano do curso de Design de Cerâmica e Vidro, da Escola Superior de Artes e Design (ESAD), nas Caldas da Rainha, criou o Biowave e alcançou o segundo prémio no Concurso Indi, Revestimentos Cerâmicos, realizado pela Cevisama, Feira Internacional de Valência, em Espanha. O projecto tem como principal objecti-vo “a diminuição da energia utilizada na climatização dos edifícios”. Elaborado em grés, através da plantação de folha caduca nas unidades do BioWave, a folhagem fun-

ciona como fi ltro solar durante os meses mais quentes. Isto permite a incidência de raios solares durante todo o Inverno. “Este é um reconhecimento do meu tra-balho”, afi rma Paulo Seco que desenvolveu a ideia no âmbito da disciplina de Projecto do curso que frequenta e teve a ajuda de to-dos os alunos inscritos na unidade curricu-lar. O estudante, que já tinha participado em anos anteriores, mas sem grande suces-so, acredita que a atribuição deste prémio no valor de 1800 euros, é “um óptimo pon-

to de partida para a carreira profi ssional”. Dentro dos 250 projectos concorrentes, o BioWave foi o único produto português a ser distinguido. O grande objectivo do evento é apoiar novas ideias da nova geração de designers. A inovação e a formação de iniciativas con-cretas foram pontos cruciais para as esco-lhas do júri do concurso, que procurou dis-tinguir trabalhos que representassem uma simbiose entre a cerâmica e a natureza. O BioWave de Paulo Seco, foi um deles.

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Está a dar

A Escola Superior de Educação e Ci-ências Sociais do Insituto Politécnico de Leiria vai promover, através da comis-são científi ca da licenciatura de Tradu-ção e Interpretação Português/Chinês e Chinês/Português, a iniciativa “Quin-zenas Temáticas”, com o tema “Diálogos com a Cultura Chinesa”. Com o objectivo de promover junto do público em geral um maior contacto com o mundo chinês, procurando a li-gação entre a China cultural e histórica e a contemporaniedade, irão ser reali-zados diversos workshops de Março a Ju-nho de 2010 que terão lugar no pagode chinês da ESECS. A dinamização destes workshops es-tará a cargo de Winjuan Wu e Shuangqi Lang, docentes do Instituto Politéncico de Macau e da Universidade de Línguas e Culturas de Pequim, actualmente em funções na ESECS. Mas, segundo Su-sana Nunes, coordenadora do curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês e Chinês/Português, “os alunos terão, tal como os professores do curso, um papel central da dinamização des-ta actividade já que haverá, para cada acção, uma equipa responsável pela sua organização e dinamização.” Além

disso, refere, “serão desenvolvidas ini-ciativas paralelas, como exposições fo-tográfi cas, que implicarão a abertura permanente do espaço ao público e que serão da inteira responsabilidade dos alunos”.

Atracção pela cultura Susana Nunes explica que a comis-são científi ca verifi cou que “há, efecti-vamente, uma grande curiosidade pela cultura chinesa. Foi precisamente esta percepção que levou à dinamização desta iniciativa.” Os workshops foram, por isso, concebidos para ir ao encontro das temáticas culturais mais atractivas, como por exemplo a curiosidade pela língua. No entanto, a docente refere ou-tras: “há quem prefi ra saber um pouco mais sobre questões culturais como a gastronomia, a música e a dança. Por outro lado, há também um certo fascí-nio por aquilo que muitos consideram ser uma arte, como o desenho dos carac-teres chineses. Ou até o manuseamento dos pauzinhos que, na generalidade, também provoca alguma curiosidade”. O primeiro workshop, de caligrafi a chinesa, será no dia 17 de Março. Cada acção terá a duração de 2 horas e trinta

minutos e tem como limite máximo 30 participantes. A inscrição, feita no Ga-binete de Projectos da ESECS, tem um custo de 5 ou 10 euros, variável conso-ante o workshop.

Rentabilizar o Pagode Esta actividade será o ponto de par-tida para a dinamização do curso e do Centro de Língua e Cultura Chinesa. Susana Nunes explica que haverá con-tinuação. “Temos em mente a realiza-ção de um ciclo de cinema, assim como a dinamização de um site onde serão relatadas todas as actividades/experi-ências relacionadas com os alunos do curso. Esta será também uma forma de comunicarmos com Macau e de mos-trarmos o que por cá fazemos”, explica. Esta licenciatura cumpre-se em 4 anos: os alunos realizam dois anos em Leiria e dois anos em Macau/Pequim. Quanto ao sucesso da actividade Su-sana Nunes está expectante. “O nosso objectivo é abrir o curso ao exterior e, tendo em conta o feedback que temos vindo a receber, espero que os alunos extra-licenciatura, assim como o públi-co em geral, adiram à iniciativa”, con-clui.

ÉLIO SALSINHA

Workshops temáticos da China contemporânea

ANDRÉ MENDONÇA

À descoberta da cultura chinesa

DR

Aluno da ESAD premiado em Valência

PROGRAMA

17 MarçoCaligrafi a Chinesa24 MarçoMúsica e Dança Chinesas21 AbrilIntrodução à Língua Chinesa I5 MaioGastronomia Chinesa19 MaioIntrodução à Língua Chinesa II2 JunhoTécnicas Chinesas de Relaxamento

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Está a dar

Todos os anos, as escolas do IPL re-cebem alunos vindos de Cabo-Verde, Guiné, Angola e Moçambique. Esco-lhem Portugal para completar a sua formação e chegam ao abrigo de pro-tocolos de cooperação. Inserem-se nos mais variados cursos, com uma per-manência que pode ir de um semestre a três ou quatro anos, dependendo do tipo de protocolo e do curso. As dificuldades de integração são diversificadas dependendo do país de onde vêm. Maria Antónia Barreto, uma das docentes com experiência no acompanhamento destes alunos na Escola Superior de Educação e Ci-ências Sociais, explica que “para os alunos de Cabo-Verde a situação será mais fácil, enquanto para os alunos da Guiné será mais difícil”, referindo que um factor de dificuldade é, sem dúvida, a língua: “Em ambos os países se fala Crioulo mas, de certa forma, a Guiné é um país mais isolado e as pessoas que vêm, têm menos contacto com a lin-gua portuguesa.” As diferenças culturais podem che-gar a criar situações delicadas. Na ex-periência da docente Maria Antónia Barreto há um caso que pode retratar as dificuldades que podem surgir no quotidiano destes alunos: “Num deter-minado dia encontrei uma aluna na cantina com imensas dificuldades em usar talheres porque, provavelmente, veio de um ambiente cultural onde é prática utilizar a colher”. Elvis Alves de 21 anos, é um dos muitos alunos que vêm tirar a sua li-

cenciatura no IPL. Originário da Ilha do Fogo, em Cabo Verde, frequenta o 3º ano do curso de Comunicação So-cial e Educação Multimédia, da Escola Superior de Educação e Ciências So-ciais. Antes de vir para Portugal, já conhecia portugueses que visitavam a sua localidade em Cabo Verde e os rumores de racismo eram uma reali-dade. Isso não demoveu o jovem aluno de vir, com 19 anos, para um país dis-tante e com uma cultura muito dife-rente da sua. “São dois países de muita diferença mesmo”, refere. “Cabo-Verde é um país de desenvolvimento médio e Portugal de grande desenvolvimen-to, isso faz muita diferença, mesmo. O estilo de vida também. Lá tinha aulas de manhã e a tarde era para sair e es-tar com os amigos.” Apesar de sentir a constituição de pequenos grupos en-tre os alunos, sente-se bem recebido: “Há grupos aqui. Sempre foi um pouco mais difícil… Mas não constituiu um problema. Senti-me sempre integrado, sempre me trataram bem.” Para a docente Maria Antónia Bar-reto, os alunos portugueses “fazem um esforço” para integrar os cole-gas. Ainda assim, a docente afirma que não tem a certeza de que os alu-nos que vêm desses países, se sintam completamente enquadrados “porque as questões culturais têm um grande peso”. No que respeita ao ensino, também se sentem algumas diferenças. Conhe-cendo bem as realidades vividas nes-tes países, a docente afirma que, prin-

cipalmente na Guiné, as diferenças no ensino são muito acentuadas, “não só a nivel do domínio do Português, como também ao nível de competên-cias científicas”, acrescentando que “as dificuldades de acesso a bibliogra-fia são muito grandes e as dificuldades no acesso à internet também”. Embora as dificuldades de integra-ção sejam muitas, a docente não pou-pa elogios aos alunos e diz que “são pessoas com bastante interesse e com muita vontade de saber quando che-gam ao Politécnico.” Elvis não é excepção e também ele encontrou algumas dificuldades neste âmbito: “Achei muita diferença, prin-cipalmente no ensino. No liceu era completamente diferente. As minhas notas eram muito melhores.”

Do Oriente A primeira turma de alunos chi-neses chegou ao Politécnico no ano lectivo de 2007/2008. A partir dessa data, todos os anos chega uma nova turma de 20 alunos que vêm aprender a língua e a cultura portuguesas. A coordenadora do Curso de Tradução e Interpretação Português/Chinês, Chi-nês/Português, Susana Nunes, afirma que os alunos vêm muito expectantes: “Estão num país com uma cultura completamente distinta da sua, com uma língua que não dominam na per-feição e, além disso, estão muito longe de casa e dos seus familiares. Como são, genericamente, alunos muito no-vos, as primeiras semanas são sempre

Oriundos da China ou de Países Africanos

de Língua Ofi cial Portuguesa, são

vários os estudantes que o IPL acolhe ao

abrigo de protocolos de cooperação

e programas de mobilidade de longa

duração. Longe de casa, durante

longos períodos de tempo, têm o curso,

mas também uma integração para fazer

Entre culturas

TEXTO: ANA ARSÉNIOFOTOS: LUÍS ALMEIDA

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de muita saudade e especial emotivi-dade.” Para Hon Chon Tip, de 22 anos, esta é uma experiência repetida dado que é o segundo ano que está a estudar em Portugal. No penúltimo ano do curso, a jovem sente-se feliz por estar no nos-so país e afirma não sentir assim tan-tas diferenças: “Tinha muita curiosi-dade sobre este país. Mas há muitos Portugueses em Macau. Há lá muitos restaurantes Portugueses, Igrejas… Por isso, para mim, não foi assim tão diferente como para os outros colegas da China. Macau é um pouco diferente do resto da China.” Embora concorde que o inicio tenha sido um pouco “estranho”, Hon Chon Tip, diz que a sua integração foi “mui-to positiva”. Adora viajar e o facto de estar longe de casa foi um problema apenas no seu primeiro ano. A integração dos alunos é um factor que preocupa os docentes e é a estes que cabe a tarefa de apoiar os estudan-tes que chegam deste país tão distante e cuja cultura é, em muitos aspectos, diferente da portuguesa. Susana Nu-nes, é uma das docentes a quem cabe a tarefa de apoiar estes jovens recém-chegados: “Neste período, mais do que em qualquer outro, cabe-nos a nós, docentes do curso, estarmos especial-mente atentos e apoiarmos os alunos em tudo o que necessitarem”. Neste sentido, afirma: “tem sido importante o diálogo e a relação próxima se tem vindo a implementar, pois sabemos que, mais do que professores, somos,

em primeira instância, as pessoas que lhes estão mais próximas e com quem poderão contar.” Mas a integração dos alunos não depende apenas dos professores, essa é, em grande parte, uma responsabi-lidade que cabe também aos restantes alunos do IPL que, aos poucos, estão a cumprir esta tarefa, tal como afir-ma a docente: “Há, inclusivamente, alunos chineses que frequentam op-cionalmente unidades curriculares de cursos que não o seu. Além disso, progressivamente, os alunos chine-ses têm vindo a inserir-se em diversas actividades na comunidade escolar (e fora dela), estabelecendo relações de grande proximidade com colegas/ami-gos portugueses que entretanto co-nhecem por cá.” O sistema de ensino também é di-ferente. E, neste sentido, Hon Chon Tip tece grandes elogios, não só ao sistema, mas também aos professores portugueses: “A maneira de ensinar é muito diferente. Aqui há mais liber-dade. Os professores respeitam as di-ferenças. Aqui há mais férias também (risos). O sistema de ensino é diferen-te.”

Regresso a casa? No futuro, muitos destes alunos pretendem regressar aos seus países. Quer Hon Chon Tip, quer Elvis Alves, sentem que a familia tem um peso muito importante nas suas escolhas para o futuro. E, embora esteja a ado-rar a experiência, quando questionada

sobre um possivel futuro a trabalhar em Portgual, Hon Chon Tip responde um pouco reticente: ”Acho que preten-do voltar para Macau. A minha famí-lia está toda lá e tenho muita vontade de ir.” Elvis Alves vê esta experiência como algo muito positivo e importante para o seu futuro: “É muito enriquecedor. Conheces gente nova e é muito inte-ressante. Saíres da tua terra para um sitio onde não conheces nada nem ninguém, vai fazer-te crescer. Cheguei aqui com 18 anos, que é uma idade importante para toda a gente. Quando cheguei a mentalidade era completa-mente diferente. Uma pessoa tem de aprender a viver sozinha.” Para o jovem, ficar a trabalhar em Portugal é uma questão muito delica-da, até porque, diz, “as saudades são imensas”, não fosse o caso de, como muitos outros, estar longe da familia há 3 anos. “Isso só sei com o tempo. Gostava muito de voltar para Cabo Verde. Desde que vim, há 3 anos, ain-da não fui de férias nenhuma vez. Te-nho irmãos pequenos que me pergun-tam sempre quando vou voltar. Pelas notícias que me têm dado de lá, tem havido muito desenvolvimento. Tam-bém tenho tido notícias de colegas que tiraram cursos aqui e foram para lá e arranjaram logo trabalho. Mesmo na área da comunicação. Por isso depen-de de muita coisa, inclusive das opor-tunidades que vão surgindo.”

As difi culdades de integração são diversifi cadas dependendo do país de onde vêm

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“Não consigo viver em monotonia”

O que o levou a ser chefe de cozinha? Eu sou a quarta família (geração) de cozinheiros. Fui jornalista, mas voltei às ori-gens familiares.

Desde pequeno que cozi-nha? Sim. Os meus pais tinham um restaurante, os meus avós tinham um restau-rante. Depois, numa etapa da minha vida, mudei para jornalista. Tirei um curso e, trabalhei sete anos num jornal. A primeira vez que fiz uma entrevista estava ner-voso, não pela entrevista, mas porque não sabia o que perguntar. Era uma pessoa que não conhecia, não sa-bia nada da vida dela. Fazia uma pergunta, lançava uma ideia, mas estava perdido.

Costuma dizer que é filho de cinco culturas. O que tira de cada uma delas? Do galego, a dúvida. Do italiano, a arte para salga-dos. Do suíço, a arte para do-ces. Do francês o mau carác-ter e do indígena/argentino a rebeldia. Ser rebelde sempre.

O indígena sempre se revolta contra tudo.

E Portugal? Onde fica? Portugal é como a Galiza. Norte de Portugal e Galiza são iguais. Sinto que a par-te mais forte que tenho é do meu pai. Sou cinquenta por cento galego.

Por que decidiu ficar em Portugal? Eu vou ficando. É um bom país para viver. Tem coisas boas e coisas más. Mas as coisas boas para mim são mais importantes do que as más. Vivo o dia-a-dia.

O facto é que em Portugal tem um restaurante, tem um programa de televisão, dois livros... E lá fora também. Tenho amigos fora, programas de televisão fora... na Alema-nha, na China.

Qual é o segredo para esta receita de sucesso em Portu-gal? Acho que não há receita. Não há nada feito com co-nhecimento óbvio... Acho

que o sucesso na cozinha é uma suma de factores, não são procurados directamen-te.

Acha que os portugueses são bons garfos? Há de tudo. Há bons e maus. No geral sim. Acho que no Norte se come me-lhor do que nas noutras regi-ões. Aqui no centro isso não é muito importante. Mas no geral são bons garfos. Não só os portugueses, mas também os espanhóis e os franceses. O povo mediterrânico é bom garfo.

O que é que a gastronomia portuguesa tem de especial? Cada gastronomia é espe-cial. Aqui acho que há bom peixe. É extraordinário e di-ferencia-se de todos os outros países da Europa. Os portu-gueses são artistas com o peixe. Também se come bem cabrito.

O que é que o seu restau-rante traz de novo à cidade? O restaurante é a minha identidade. Comida muito simples, produtos biológicos,

carne argentina, (o bom do meu país), peixe português, (o bom deste país) e a razão do sucesso é isso. É um pro-duto simples para as pessoas virem comer todos os dias. Não é um restaurante elitis-ta, onde só podem vir comer uma vez por ano.

E não vêm cá pessoas para ver o Chakall? Não. A maior parte das pessoas são empresários. Muitas nem me conhecem. A maior parte das pessoas vem para comer bem num bom ambiente.

Qual tem sido a receptivi-dade fora do país? Muito positiva. Em todos os lados. Trabalho em Es-panha, França, Alemanha,

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Sentado no mochoSentou, vai ter k explicar

Chakall, Chefe de Cozinha

Sem turbante, o chefe argentino fala de si,

dos seus gostos e do sal com que tempera a vida. Aos 37 anos, Chakall conhece os

quatro cantos do mundo e confessa que isso que lhe dá prazer

Deve ser tudo simples: a comida, a apresentação, tudo.

TEXTO: ÂNGELA DA MATA E SARA VIEIRAFOTOS: LUÍS ALMEIDA

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Médio oriente, China, Inglater-ra...

É um viajante... Sim. Hoje estou aqui, ama-nhã vou embora, volto domin-go, vou-me embora na segun-da-feira, volto quarta-feira e é sempre assim.

Isso dá-lhe prazer? Tudo o que faço é com prazer. Porque se não desse não conse-guia fazer. Tenho o restauran-te, os livros, o programa de te-levisão, shows ao vivo, produtos e tudo passa por mim. Eu não tenho uma agência que monta as coisas, às vezes as pessoas perguntam-me se tenho uma agência de marketing. Eu não tenho nada. Eu fui jornalista e isso ajuda muito. Mostra-nos o outro lado e percebemos como funcionam as coisas.

Como é que as viagens in-f luenciam as suas receitas? Tudo influencia na vida. Esta conversa influencia na vida. Se calhar automaticamente não, não sei... A comida, as viagens, as pessoas, o clima. Quanto mais viajas mais influências tens. Quanto mais pessoas co-nheces mais influências tens. Não é algo que actua directa-mente. Toda a comida que faço tem a ver com a minha histó-ria.

Qual foi a viagem que mais o marcou, pela positiva e pela ne-gativa?

Pela positiva África. Porquê? Só pode explicar quem vai a África. Pela negativa, nenhu-ma... Qualquer experiência mesmo que tenha sido negativa, eu transformo-a em positiva.

Que tipo de comida tem mais prazer em fazer? Gosto de fazer comida, é in-diferente. Gosto de picar alho, qualquer coisa. A comida é tudo. Dá-me prazer fazer comi-da variada. Não me dá prazer repetir.

E comer? Depende do dia. Gosto de va-riar. Gosto de música variada, gosto de comida variada. Não poderia comer comida portu-guesa todos os dias, nem argen-tina, nem italiana, nem japone-sa. Não consigo viver em mono-tonia.

Dizem que o segredo é a alma do negócio. Tem segredos gas-tronómicos? Não. O único segredo é ser directo. Parece que não, mas é esse o segredo. Acessível e di-recto. Depende das tuas possi-bilidades e do tempo. Mas deve ser tudo simples: a comida, a

apresentação, tudo.

A sua imagem de marca cos-tuma ser o turbante. Porquê? Hoje a pergunta não faz mui-to sentido (risos). Podia utilizar chapéu ou turbante. Eu escolhi o turbante. Se usasse um cha-péu seria francês. Numa via-gem a África trouxe o turbante e usava-o sempre. Depois veio o 11 de Setembro e aí começou a haver problema em andar com o turbante. A partir daí, passei a usá-lo só para cozinhar. Não foi uma estratégia, qualquer pessoa sensata pode usar um turbante como uma estratégia de marketing, mas não é o meu caso.

Coisas que não podem faltar na sua cozinha.... Ingredientes: limão e azeite.

O que ainda lhe falta fazer? Vou fazer um tour por 24 mu-nicípios do país. Vou pegar em produtos locais, fazendo nova cozinha portuguesa, a partir de Maio. Provavelmente vou a Lei-ria. De certeza que vou à Bata-lha. Vou montar um restauran-te lá.

O que tem mais gosto em fa-zer? Cada coisa dá gosto. Tens vá-rios filhos, de qual é que gostas mais? Não há favorito, cada coi-sa tem o seu momento. Talvez o segundo livro (4 Estações). O primeiro também, mas este deu-me mais trabalho e gosto.

07JORNAL DE LEIRIA 25.02.2010

Kultos

Mass Effect 2

DAVID SINEIRO

Os portugueses são artistas com o peixe.

KURTAS

Carne ou peixe? CarneDoce ou salgado? SalgadoInsosso ou picante? PicanteQuente ou frio? QuenteÁgua ou vinho? ÁguaFruta ou sobremesa? Sobremesa

Fevereiro começou em grande com o lança-mento de Mass Effect 2, a sequela daquele que muitos consideram o melhor Role-Playing Game da Xbox 360. Mais uma vez um exclusivo Xbox 360 e Ga-mes for Windows, o épico de fi cção-científi ca da Bioware continua onde o seu antecessor aca-bou. Assim, segue a saga de John Shepard e da luta que este trava contra o avanço dos Reapers. Uma antiga raça de máquinas que pretende consumir toda a vida orgânica da galáxia. Depois de, no primeiro jogo, Shepard ter travado o arauto dos Reapers, desta vez, o pro-blema surge de forma mais subtil, com colónias humanas a desaparecer do mapa, e um Conse-lho que pouco faz para o investigar.

É com a ajuda da organização criminosa Cerberus que Shepard vai começar a sua in-vestigação e reunir uma equipa dos melhores guerreiros da galáxia para, juntos, embarca-rem numa missão suicida para lá das linhas inimigas e, assim salvarem todas as formas de vida orgânicas. Shepard reunirá não só algu-mas caras conhecidas do primeiro Mass Effect, mas também novos personagens de raças com-pletamente distintas. Todos com um objectivo comum. A história deste segundo jogo, não é tão for-te como a do primeiro, mas é um claro aquecer dos motores para o futuro Mass Effect 3, afi nal o escritor Drew Karpyshyn sempre disse que esta seria uma trilogia, e foi pensada assim desde o início. No entanto, quem jogou o primeiro sabe que uma história mais fraca ainda é sinónimo de grandiosidade, dado a dimensão estarrece-dora do anterior. A jogabilidade foi alvo de vários melhora-mentos, sendo que a mecânica de shooter se aproximou mais de Gears of War no que toca à cobertura. E também melhorou pela presença de mais atalhos para poderes no comando sem precisar de recorrer ao menu. É de salientar que a evolução dos personagens está muito mais minimalista, no entanto, os poderes de cada um são menores, mas mais dinâmicos. Num jogo que é inteiramente conduzido pela história, seria de esperar que se fi zesse no-tar alguma continuidade, mas a Bioware exce-deu-se neste aspecto. Não só podemos importar o nosso personagem do primeiro jogo para este, como todas as escolhas que fi zemos ao longo da jornada serão contabilizadas e terão repercus-sões. E não só a main quest, até as sidequests e o conteúdo adicional contam. Veremos notícias sobre os eventos passados e falaremos com per-sonagens que possamos ter salvo, todas com os mesmos actores a dar-lhes voz, algo que torna a experiência num todo muito mais coeso. A música, que já era excelente, recebeu um tratamento ainda mais épico, com os créditos fi nais a serem a verdadeira apoteose. Mass Effect 2 defi ne-se como o primeiro grande lançamento de 2010 e um sério candi-dato a jogo do ano. Obrigatório para quem jo-gou o primeiro. Quem não jogou, faça um favor: adquira-o, novo ou usado. 10/10

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Para além do tradicional progra-ma de mobilidade para estudantes, o programa Erasmus está agora dispo-nível para jovens empreendedores. A iniciativa tem como objecti-vo, não só incentivar o empreende-dorismo e a competitividade, como também o crescimento e interna-cionalização das pequenas e medias empresas da União Europeia. Os par-ticipantes terão, assim, oportunida-

de de ganhar experiência em áreas como: desenvolvimento de produtos e serviços inovadores, gestão finan-ceira e operacional, planeamento eficaz, vendas e comercialização, di-reito comercial europeu. Nesta nova modalidade Erasmus, podem participar jovens que pla-neiam criar a sua própria empresa ou que iniciaram a sua actividade nos últimos três anos, bem como em-

preendedores experientes que devem ser proprietários ou gerir uma PME na União Europeia há mais de três anos. A correspondência entre novos empreendedores e empresários de acolhimento será efectuada com o au-xílio de organizações intermediárias. As inscrições estão disponíveis no sí-tio: www.erasmus-entrepreneurs.eu.

Erasmus para jovens empreendedores

08 JORNAL DE LEIRIA 25.02.2010

A Fechar

FILIPA ARAÚJO

Atletismo soma pontosTEXTO: TIAGO FIGUEIREDO

O mês de Fevereiro contou com mais um campeonato nacional universitário, desta vez de Atletismo, modalidade que o IPL pro-porciona a quem esteja interessado em “cor-rer” pelo seu nome. A competição resultou numa medalha de Prata e duas de Bronze. A medalha de Prata foi conquistada pela atleta Catarina Rosa no lançamento do peso (4kg) e as de bronze conquistadas pela equi-pa constituída pelas atletas Diana Morgado, Liliana Jorge, Ana Cláudia Faria e Cândida Bairrada na prova de estafeta de 4x200 me-tros; e pela atleta Cândida Bairrada nos 60 metros planos. Foi, assim, conseguido o 3º

lugar na classificação geral com 62 pontos. As inscrições para esta modalidade des-portiva já estão encerradas na Internet, mas ainda estão a decorrer na secretaria. Basta apresentar os documentos necessários e re-alizar os exames médicos exigidos pelo IPL para desenvolver a actividade num nível mais competitivo. Quem quiser experimen-tar poderá aparecer nos treinos que se re-alizam às terças-feiras das 20:00 às 21:15, no Centro Nacional Lançamentos, com o treinador Paulo Reis e às quintas-feiras das 20:30 às 21:30, no Estádio Municipal de Lei-ria, com a treinadora Cátia Ferreira.

DRDR

Já é conhecido o vencedor do Prémio de Po-esia Manuel Alegre. Com o pseudónimo de Inês Finisterra, Daniel da Silva Gonçalves, de Vila do Porto, Santa Maria, Açores, arreca-dou o prémio no valor de sete mil e quinhen-tos Euros com a obra Um coração simples.

A iniciativa do Instituto Politécnico de Lei-ria, que tem como objectivo premiar uma obra inédita de Poesia escrita em Língua Portuguesa, estimulando a criação literária e o aparecimento de novos autores e contou, este ano, com 128 obras a concurso.

Concurso de Poesia

Galardoado ‘Um coração simples’TEXTO: SARA VIEIRA

INTERNETES

útil Para quem quer tratar das suas recordações foto-gráfi cas de um modo mais profi ssional e gratuito, nada melhor do que o Photoshop online. Este site permite fazer qualquer tipo de modifi ca-ção de uma maneira simples e efi caz, consoante o gosto e desejo de cada um.

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agradável O musicovery permite ao utilizador escolher o tipo de música pretendido e deci-dir o estado de espírito que quer que a sua escolha lhe transmita, seja ela enérgi-ca, calma, positiva ou dark. Este site permite ainda que sejam criadas contas, onde se podem ouvir os melhor hits, e as músicas preferidas de cada um, desde a década de 50 até à actualidade.

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Últimas

Caminhada Ser Solidário A delegação de Leiria da Cruz Vermelha Portuguesa está a promover a caminha-da Ser Solidário, a decorrer no próximo Domingo, dia 28. A caminhada terá início no Largo do Papa, pelas 15:30 e as inscrições poderão ser feitas na sede da Cruz Vermelha ou no local de partida.

Prémio Inovação ValorPneuCom o intuito de des-cobrir soluções inova-doras para o destino sustentável dos pneus usados, a Valorpneu está a dar oportuni-dade aos estudantes do ensino superior de apresentarem os seus projectos. Os trabalhos candidatos podem en-quadrar-se nas áreas de Engenharia, Arquitectura ou Design. Para mais informações sobre o concurso, consultar www.valorpneu.pt.

XI Jornadas dos Alunos de Enfermagem A Escola Superior de Saúde de Leiria está a promover mais uma edição das jornadas dos alunos do curso de Enfermagem, a decorrer nos dias 12 e 13 de Março. Os cuidados de saúde primários são o tema base destas jornadas que também incluem workshops em tra-tamento de feridas, toque terapêutico e massagem infantil. Os candidatos poderão inscrever-se online até ao dia 10 de Março. Informação detalhada em http://www.euvou-xijornadasesslei.pt.vu/.

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: SAS

IPL

ANNE ABREU

CARLA SILVA, JOANA ROQUE, MARIANA RODRIGUES