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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE TELHAS DE FIBROCIMENTO FRENTE A TEMPESTADES DE GRANIZO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Arthur Piccolo Werlang Santa Maria, RS, Brasil 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE

TELHAS DE FIBROCIMENTO FRENTE A

TEMPESTADES DE GRANIZO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Arthur Piccolo Werlang

Santa Maria, RS, Brasil

2015

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ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE

TELHAS DE FIBROCIMENTO FRENTE A

TEMPESTADES DE GRANIZO

Arthur Piccolo Werlang

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Profª Drª. Bernardete Trindade

Santa Maria, RS, Brasil

2015

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

Curso de Engenharia Civil

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE TELHAS DE

FIBROCIMENTO FRENTE A TEMPESTADES DE GRANIZO

elaborado por Arthur Piccolo Werlang

como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil

COMISSÃO EXAMINADORA:

_______________________________________________ Profª. Drª. Bernardete Trindade - UFSM

(Presidente/Orientador)

_______________________________________________ Prof. Dr. Carlos José Antônio Kümmel Félix - UFSM

_______________________________________________ Prof. Ma. Ana Laura Felkl Cassiminho - UFSM

Santa Maria, 9 de Julho de 2015

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RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA DE TELHAS DE

FIBROCIMENTO FRENTE A TEMPESTADES DE GRANIZO

AUTOR: ARTHUR PICCOLO WERLANG

ORIENTADOR: PROFª. DRª. BERNARDETE TRINDADE

Data e local da defesa: Santa Maria, 9 de Julho de 2015.

A localização geográfica do sul do Brasil perante o globo terrestre, juntamente

com o deslocamento das massas de ar características da região, favorecem a

ocorrência de fortes tempestades, frequentemente associadas com granizo. Tal

conjuntura climática, ao ser associada com o subdimensionamento ou ao

desgaste natural de telhados de fibrocimento, provocam danos materiais e

perdas humanas que são regularmente noticiados nos veículos de comunicação

das regiões sul e sudeste do Brasil. Tendo tais fatores como motivação, o

presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica, onde abordou a

resistência de telhados de fibrocimento frente à ocorrência de granizo propondo

medidas que possam minimizar os danos causados pelas tempestades à

sociedade. Os resultados mostramram que esferas de granizo com diâmetro

superior a 45mm são capazes de perfurar telhados que estejam de acordo com

as normas técnicas brasileiras, justificando assim a necessidade de uma revisão

de tais critérios técnicos.

Palavras-chave: granizo; fibrocimento; resistência

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ABSTRACT

ANALYSIS OF MECHANICAL RESISTANCE OF FIBRE CEMENT

ROOF TILES FRONT OF HAIL STORMS

Author: Arthur Piccolo Werlang

Advisor: Prof. Dr. Bernardete Trindade

Date and place of presentation: Santa Maria, July, 9th, 2015

The geographical location of southern Brazil in the globe, along with the

characteristic movement of air masses in the region, favors the occurence of

severe storms, often associated with hail. This climate scenario, associated with

undersizing or natural attrition of fiber cement roofs, causes material and human

losses that are regularly reported in the media in the southern and southeastern

regions of Brazil. Having such factors as motivation, the present paper is a

literature review, which will approach the resistance of fiber cement roof tiles

against the occurance of hail, proposing then ways to minimize damages from

storm to society. The results enphasizes that hail spheres with diameter equal or

superior to 45mm are harmful to roof tiles which are correctly dimensioned in

accordance to the brazilian technical rules, justifying, then, the need of an review

in such technical criteria.

Key-words: hail; fiber cement; resistance.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Gráfico do crescimento exponencial da força de impacto das esferas de

granizo conforme seus diferentes diâmetros ................................................................10

Figura 2: Tempestade de granizo em Curitibanos (PR) ..............................................12

Figura 3: Gráfico da distrubuição macrorregional dos desastres vinculados à

ocorrência de granizo no Brasil em 2012 .....................................................................13

Figura 4: Índice de ocorrência de granizo no Brasil em 2012 .....................................13

Figura 5: Distribuição espacial dos danos humanos relacionados à ocorrência de

granizo ..........................................................................................................................15

Figura 6: Representação esquemática do processo Hatschek. Fonte: Tonoli, 2009 ..16

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

1.1 Justificativa ......................................................................................... 2

1.2 Objetivos ............................................................................................. 2

1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................... 2

1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................... 2

1.3 Metodologia ........................................................................................ 3

1.4 Estrutura do Trabalho ......................................................................... 3

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................... 4

2.1 Força e conservação de energia – aplicações para o granizo ........... 4

2.1.1 Força de arrasto e velocidade terminal .............................................. 4

2.1.2 A velocidade terminal para uma esfera de granizo ............................ 6

2.1.3 Colisões e conservação de energia – aplicações para uma interface

granizo-telha .......................................................................................

8

2.1.4 Considerações sobre os resultados ................................................... 9

2.2 O granizo como desastre natural – causas e consequências no

Brasil ...................................................................................................

11

2.2.1 Desastres naturais .............................................................................. 11

2.2.2 O granizo como desastre natural no Brasil ......................................... 12

2.3 O fibrocimento como material de cobertura ........................................ 15

2.3.1 Fibrocimento – descoberta e aspectos construtivos ........................... 15

2.3.2 O uso do fibrocimento como material de construção e os impactos

na sociedade .......................................................................................

17

2.3.3 O fibrocimento e os efeitos do envelhecimento .................................. 17

3 CONCLUSAO ..................................................................................... 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 22

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INTRODUÇÃO

Em paralelo com os avanços das ciências dos materiais e das exigências

do mercado, o adequado desempenho dos materiais de construção civil vem se

tornando tão importante quanto o seu custo. É incessante a busca por materiais

mais leves, duráveis e que tenham valor de mercado adequado para a realidade

do público-alvo a que se destina.

A fim de garantir que o produto da construção civil atenda aos propósitos

para o qual foi elaborado, normas técnicas, como a NBR15575:2013, e a

implementação de controle de qualidade nas indústrias, como o ISO9001, vem

deixando de se tornar diferenciais de mercado para figurar como exigências e

direitos básicos do consumidor.

Entretanto, por mais restritas que sejam as exigências técnicas e por

melhor que seja a qualidade final do produto, os materiais de construção civil

possuem um ciclo de vida útil que pode ser prolongado ou reduzido conforme

sua aplicação, manutenção e condições de exposição às intempéries. Neste

sentido, é importante que tal material satisfaça, simultaneamente, a todas as

condições de durabilidade, segurança e conforto para o qual se destina.

Logo, analisar individualmente e com empenho cada um dos aspectos

citados é fundamental para o avanço da ciência dos materiais e para o aumento

da segurança das edificações. O conhecimento e aprimoramento da boa-técnica,

quando acompanhado de fundamentadas pesquisas na área, é o que garante o

sucesso do produto final que, no caso particular da engenharia, significa o elo

entre exigências técnicas, satisfação do consumidor e custo de mercado

razoável.

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1.1 Justificativa

Na indústria da construção civil é exigido que o produto final ofereça

condições de utilização que satisfaçam a segurança e o bem estar do usuário.

Neste sentido, o desempenho estrutural de coberturas é fundamental para que

uma edificação cumpra tais funções.

Entretanto, são recorrentes os casos em que tempestades

comprometem estrutural ou funcionalmente edificações no sul do Brasil,

principalmente em construções simples onde vive a população de baixa renda.

É preocupante o baixo período de retorno dos telhados de fibrocimento frente às

intempéries que ocorrem anualmente na região sul do Brasil.

Logo, ao compreender os fatores que levam a comprometer a eficiência

das coberturas de edificações e traçar um paralelo desta com as intempéries, tal

estudo permite que medidas sejam implementadas para evitar que recursos

financeiros e sociais sejam recorrentemente comprometidos.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar o desempenho das coberturas de granizo de edificações no

quesito “resistência mecânica” frente à ocorrência de granizo, propondo medidas

que melhorem o desempenho estrutural das telhas, minimizando danos e

impactos financeiros e sociais.

1.2.2 Objetivos específicos

- Compreender o granizo como fenômeno meteorológico e traçar os

locais com maior ocorrência no Brasil;

- Analisar os fatores que comprometem o desempenho de telhas de

fibrocimento;

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- Determinar as dimensões físicas a partir da qual um granizo é capaz

de comprometer a estrutura de uma cobertura;

- Propor medidas que minimizem o impacto do granizo na cobertura de

edificações.

1.3 Metodologia

O estudo será baseado em revisão bibliográfica acerca da composição,

formação e ocorrência de granizo e de estudos prévios correlatos à análise

mecânica das telhas de fibrocimento.

Através dos dados coletados, serão determinadas matematicamente as

condicionantes para a ocorrência de ruptura das telhas de fibrocimento.

Por fim, serão propostas medidas que minimizem os impactos das

tempestades de granizo nas coberturas de edificações.

1.4 Estrutura do trabalho

Este trabalho está estruturado em três capítulos:

Capítulo 1: Introdução, justificativa e objetivos.

Capítulo 2: Revisão bibliográfica, resultados e comentários.

Capítulo 3: Conclusão.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Força e conservação de energia – aplicações para o granizo

2.1.1 Forças de arrasto e velocidade terminal

Segundo Halliday (1996), quando existe uma força relativa entre um

fluido e um corpo, este corpo é submetido a uma força de arrasto – que

chamaremos de D - que se opõe ao movimento relativo e aponta no sentido do

movimento do fluido em relação ao corpo.

Em uma tempestade de granizo, considera-se como fluido o ar

atmosférico, que gera a sua força de arrasto através dos gases que o formam e

das partículas suspensas.

Ainda conforme Halliday (1996), nesses casos, em que o fluido é o ar, o

corpo admite uma forma rombuda e o seu movimento relativo, devido a sua

velocidade, faz com que o movimento de fluido atrás do corpo adquira uma

característica turbulenta, fenômeno apresentado por Osborne Reynolds, em

1883.

Conforme os estudos de John William Strutt (1876), podde-se definir a

resistência do ar como

𝐷 =1

2. 𝐶. ρ. 𝐴. 𝑣2

Equação 1. Força de arrasto

Sendo D a força de arrasto, C o coeficiente de arrasto, ρ a massa

específica do ar, A a área de contato do corpo e v a velocidade deste corpo.

Halliday (1996) estabelece que, em se tratando de um corpo em queda

livre no ar, a força do arrasto se opõe ao movimento, ou seja, o módulo da força

de arrasto aponta para cima e aumenta proporcionalmente a medida que a

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velocidade do corpo cresce. Aplicando-se então a segunda lei de Newton a um

eixo vertical, temos:

𝐷 − 𝐹𝑔 = 𝑚𝑎

Equação 2. Força de arrasto aplicada à segunda lei de Newton

Sendo Fg a força da gravidade, m a massa do corpo e a, a aceleração.

Se a força de arrasto se opõe ao deslocamento do corpo e aumenta

progressivamente com a velocidade deste, é de se esperar que exista uma

velocidade suficientemente grande na qual a força de arrasto terá módulo igual

ao da força da gravidade. Neste instante, o corpo cairá com velocidade

constante, ou seja, com aceleração zero. A essa velocidade trata-se velocidade

terminal. Logo, substituindo o valor de D na equação 2 e adotando a=0, tem-se

que

1

2. 𝐶. ρ. 𝐴. 𝑣2 − 𝐹𝑔 = 0

Equação 3. Força de arrasto aplicada à segunda lei de Newton

Reorganizando os valores da equação de forma a isolar v, chega-se à

conclusão de que a velocidade terminal é dada por

𝑉𝑡 = √2.𝐹𝑔

𝐶ρ𝐴

Equação 4. Velocidade terminal de um corpo em queda em meio a um fluido

2.1.2 A velocidade terminal para uma esfera de granizo

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Admitindo-se que o granizo apresente uma forma esférica, pode-se

determinar sua velocidade terminal através do cálculo de sua massa para

diferentes diâmetros, aplicando-se a Equação 4.

Sabendo-se que a densidade do gelo é aproximadamente 9,18g/cm³,

multiplica-se esta constante pelo volume de esferas com diferentes diâmetros.

Os resultados estão esquematizados na tabela 1.

Propriedades físicas de uma esfera de granizo

densidade diâmetro massa Área de contato

0,000918 g/mm³

4 mm 0,030756 g 1,26E-05 m²

8 mm 0,246046 g 5,03E-05 m²

12 mm 0,830406 g 0,000113 m²

16 mm 1,968369 g 0,000201 m²

20 mm 3,844472 g 0,000314 m²

24 mm 6,643247 g 0,000452 m²

28 mm 10,54923 g 0,000616 m²

32 mm 15,74696 g 0,000804 m²

36 mm 22,42096 g 0,001018 m²

40 mm 30,75577 g 0,001257 m²

44 mm 40,93593 g 0,001521 m²

48 mm 53,14598 g 0,00181 m²

52 mm 67,57043 g 0,002124 m²

56 mm 84,39384 g 0,002463 m²

60 mm 103,8007 g 0,002827 m²

64 mm 125,9756 g 0,003217 m²

68 mm 151,1031 g 0,003632 m²

72 mm 179,3677 g 0,004072 m²

76 mm 210,9538 g 0,004536 m²

80 mm 246,0462 g 0,005027 m²

84 mm 284,8292 g 0,005542 m²

88 mm 327,4875 g 0,006082 m²

92 mm 374,2055 g 0,006648 m²

96 mm 425,1678 g 0,007238 m²

100 mm 480,559 g 0,007854 m²

Tabela 1. Propriedades físicas de uma esfera de granizo. Fonte: do autor

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Aplicando-se então a Equação 4. aos resultados obtidos na Tabela 1.,

obtemos os resultados esquematizados na Tabela 2.

Diâmetro Ar (25ºC e 1atm)

Aceleração da gravidade Velocidade

terminal ρ C g

4 mm

1200 g/m³ 0,41

9,80665 m/s² 9,877594 m/s

8 mm 9,80665 m/s² 13,96903 m/s

12 mm 9,80665 m/s² 17,10849 m/s

16 mm 9,80665 m/s² 19,75519 m/s

20 mm 9,80665 m/s² 22,08697 m/s

24 mm 9,80665 m/s² 24,19507 m/s

28 mm 9,80665 m/s² 26,13366 m/s

32 mm 9,80665 m/s² 27,93806 m/s

36 mm 9,80665 m/s² 29,63278 m/s

40 mm 9,80665 m/s² 31,2357 m/s

44 mm 9,80665 m/s² 32,76027 m/s

48 mm 9,80665 m/s² 34,21699 m/s

52 mm 9,80665 m/s² 35,61417 m/s

56 mm 9,80665 m/s² 36,95857 m/s

60 mm 9,80665 m/s² 38,25576 m/s

64 mm 9,80665 m/s² 39,51038 m/s

68 mm 9,80665 m/s² 40,72636 m/s

72 mm 9,80665 m/s² 41,90708 m/s

76 mm 9,80665 m/s² 43,05543 m/s

80 mm 9,80665 m/s² 44,17394 m/s

84 mm 9,80665 m/s² 45,26482 m/s

88 mm 9,80665 m/s² 46,33002 m/s

92 mm 9,80665 m/s² 47,37128 m/s

96 mm 9,80665 m/s² 48,39013 m/s

100 mm 9,80665 m/s² 49,38797 m/s

Tabela 2. Velocidade terminal das esferas de granizo para diferentes diâmetros.

Fonte: do autor

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2.1.3 Colisões e conservação de energia – aplicações para uma interface

granizo-telha

No Sistema Internacional de Unidades, Joule é tido como a unidade para

medir energia, dentre elas a mecânica. Joule é tido como

1𝐽 = 1𝐾𝑔.𝑚²

𝑠²

Equação 5. Decomposição de Joule (J) no Sistema Internacional de Unidades (SI)

Logo, pode-se afirmar que

1𝐽 = 1𝐾𝑔. (𝑚

𝑠)

2

Equação 6. Variação adequada para o estudo em questão da decomposição de Joule (J)

Considerando-se ainda que

1𝑁 = 1𝐾𝑔.𝑚

𝑠²,

Equação 7. Decomposição da unidade Newton (N)

Podem-se afirmar que

1𝑁. 𝑚 = 1𝐾𝑔 .𝑚

𝑠². 𝑚 = 1𝐽 = 1𝐾𝑔.

𝑚

𝑠²

Equação 8. Equivalência entre Newton (N) e Joule (J)

Logo, aplicando-se as devidas equivalências e considerando o diâmetro

do granizo como a medida correlativa entre Newton e Joule, tem-se o valor da

força de impacto para cada granizo organizados na tabela 3:

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Diâmetro Energia Cinética Força de Impacto

4 mm 0,003001 J 0,00075 KN

8 mm 0,048012 J 0,006001 KN

12 mm 0,24306 J 0,020255 KN

16 mm 0,768191 J 0,048012 KN

20 mm 1,875465 J 0,093773 KN

24 mm 3,888965 J 0,16204 KN

28 mm 7,204787 J 0,257314 KN

32 mm 12,29105 J 0,384095 KN

36 mm 19,68788 J 0,546886 KN

40 mm 30,00744 J 0,750186 KN

44 mm 43,9339 J 0,998498 KN

48 mm 62,22344 J 1,296322 KN

52 mm 85,70426 J 1,648159 KN

56 mm 115,2766 J 2,058511 KN

60 mm 151,9127 J 2,531878 KN

64 mm 196,6568 J 3,072762 KN

68 mm 250,6252 J 3,685664 KN

72 mm 315,0061 J 4,375085 KN

76 mm 391,06 J 5,145526 KN

80 mm 480,1191 J 6,001489 KN

84 mm 583,5878 J 6,947473 KN

88 mm 702,9424 J 7,987982 KN

92 mm 839,7313 J 9,127514 KN

96 mm 995,575 J 10,37057 KN

100 mm 1172,166 J 11,72166 KN

Tabela 3. Força de Impacto das esferas de granizo para diferentes diâmetros. Fonte: do autor.

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Figura 1. Gráfico do crescimento exponencial da força de impacto das esferas de granizo

conforme seus diferentes diâmetros. Fonte: do autor.

2.1.4 Considerações sobre os resultados

Conforme Halliday (1991), uma colisão elástica é uma colisão entre dois

ou mais corpos que não sofrem deformações permanentes durante o impacto,

ou seja, são conservados o momento linear e a energia cinética do sistema.

Matematicamente, tal valor é estabelecido pelo Coeficiente de Restituição, que

tem como conceito um valor fracionário, de valores entre zero e um, que

representa a relação entre as velocidades do corpo antes e depois do impacto.

Um objeto com Coeficiente de Restituição iaugal a um colide elasticamente,

enquanto uma colisão inelástica é caracterizada por um Coeficiente de

Restituição de valor igual a zero.

Foi verificado experimentalmente que, na natureza, não existem colisões

perfeitamente elásticas ou perfeitamente inelásticas. Desta forma, todo e

qualquer choque entre corpos terá como Coeficiente de Restituição um valor

intermediário. Entretanto tal valor só pode ser verificado experimentalmente

através de uma análise minuciosa caso a caso. A fim de tornar o presente

0

1

2

3

4

5

6

4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 76 80 84 88 92 96 100

Forç

a d

e Im

pac

to (

KN

)

Diâmetro do granizo (mm)

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trabalho compacto e simplificar os cálculos, admite-se que o granizo não sofre

deformações, perfurando perfeitamente a telha de fibrocimento. Neste processo,

não há perda de massa ou de energia pela esfera de gelo. Apesar de este ser

um modelo inacurado fisicamente, são vistos na mídia casos semelhantes, em

que telhados ficam bastante danificados após uma tempestade de granizo.

Conforme a NBR 15575-5/2013, as estruturas principal e secundária de

um telhado devem suportar a ação de uma carga concentrada vertical de, no

mínimo, 1 KN, aplicada na seção mais desfavorável, impondo ainda níveis de

serviço em que devem contemplar as exigências técnicas em função da

deformação da telha como um todo.

2.2 O granizo como desastre natural – causas e consequências no Brasil

2.2.1 Desastres naturais

Segundo o Anuário de desastres naturais de 2013, desastre é o

resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um

cenário vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma

comunidade ou sociedade, envolvendo extensivas perdas e danos humanos,

materiais econômicos ou ambientais.

Tendo tal conceito como base, pode-se afirmar então que os fenômenos

climáticos que venham a causar desordem ou perturbações em uma localidade

devem ser analisados como um desastre natural. Por conseguinte, o estudo e a

compreensão de tais eventos são capazes de permitir a previsão de tais

acontecimentos e a mitigação de seus efeitos.

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2.2.2 O granizo como desastre natural no Brasil

De acordo com o Manual de Desastres Naturais de 2003, o granizo pode

ser compreendido como a precipitação sólida de grânulos de gelo, transparentes

ou translúcidos, de forma esférica ou irregular, raramente cônica, de diâmetro

igual ou superior a 5mm, embora usualmente compreendida entre 5 e 15mm. A

mesma fonte considera ainda que unidades maiores que 20 mm são

consideradas grandes o suficiente para causarem danos materiais.

Figura 2: Tempestade de granizo em Curitibanos (PR). Fonte: Polícia Militar de

Curitibanos

Analisando-se a climatologia brasileira no que tange ao regime

pluviométrico local, o período de dezembro a março é o mais crítico, pois o

aumento das temperaturas sobre o continente gera maior possibilidade de

chuvas fortes, rajadas de vento e granizo (Anuário de Desastres Naturais de

2013).

Através das figuras 3 e 4, percebe-se que a maioria da ocorrência de

tempestades de granizo situa-se nas regiões austrais do Brasil, sendo que a

grande maioria destes eventos situam-se na região sul.

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Figura 3: Gráfico da distrubuição macrorregional dos desastres vinculados à

ocorrência de granizo no Brasil em 2012. Fonte: Anuário de Desastres Naturais (2013)

Figura 4: Índice de ocorrência de granizo no Brasil em 2012. Fonte: Anuário de

Desastres Naturais (2013)

As estatísticas mostram que 47,5% do total de registros de granizo no

Brasil ocorrem no bimestre setembro e outubro (Anuário de Desastres Naturais

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de 2013). De acordo com o Anuário de Desastres naturais de 2011, em 2010

80,7% dos eventos de granizo no Brasil ocorreram entre agosto e dezembro.

Isso pode ser explicado pela ocorrência frequente de sistemas frontais

que avançam sobre a região Sul do país nesta época. Tais sistemas, segundo o

Anuário de Desastres Naturais de 2013, são possíveis deflagradores de

sistemas de tempo severo que podem ocasionar temporais e queda de granizo.

Em 2012, foram 13 sistemas frontais nos meses citados.

É também importante analisar dados estatísticos referentes aos danos à

população. A Figura 5 mostra que, em 2012, houve mais de 100 mil pessoas

afetadas por eventos de granizo no Brasil. Interessante notar também que,

apesar da maioria dos eventos de granizo ocorrer na região Sul, a diferença de

afetados entre as regiões é significativamente menor, e o número de desalojados

maior na região sudeste. Tal fenômeno pode ser explicado pela grande

concentração populacional no sudeste, onde os eventos de granizo, apesar de

menos frequentes e intensos quando comparados à região sul, atingem um

número maior de pessoas. Tal conclusão evidencia a relevância dos estudos

climatológicos e de tecnologia dos materiais a fim de diminuir a sinistralidade de

eventos como o granizo.

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Figura 5: Distribuição espacial dos danos humanos relacionados à ocorrência de

granizo em 2012. Fonte: Anuário de Desastres Naturais (2013)

2.3 O fibrocimento como material de cobertura

2.3.1. Fibrocimento – descoberta e aspectos construtivos

A produção de fibrocimento foi descoberto por Ludwig Hatschek ainda

no século XIX; de forma análoga à produção de papel. Com o desenvolvimento

da tecnologia e de aperfeiçoamentos visando um melhor desempenho, o

fibrocimento foi ganhando destaque e mercado. (Tonoli, 2009).

Conforme Tonoli, 2009, o processo se trata da produção de placas de

fibrocimento através da superposição de finas lâminas formadas por uma

suspensão de cimento, fibras, aditivos minerais e água. As lâminas de

fibrocimento obtidas pela retenção dos sólidos durante a filtragem são

acumuladas em uma prensa cilíndrica e tomam então a espessura desejada.

Dias, Savastano Junior e John (2010) enumeraram o processo de

produção Hatschek demonstrado na figura 6. O primeiro passo consiste na

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preparação da suspensão, consistindo na mistura devidamente balanceada dos

materiais sólidos com água, com sólidos correspondendo entre 10 e 15% da

massa total (estágio 1). Em seguida, fibras celulósicas, calcário, aditivos e água

são adicionados nos estágios 2 a 5 a fim de se obter uma mistura sem amianto.

Em seguida, no estágio 6, a suspensão é transportada para os tanques com

cilindros rotativos, que já se encontram no estágio 7, onde são retidos materiais

sólidos. Em seguida, uma esteira de feltro remove o material do cilindro, no

estágio 8, formando então uma lâmina fresca de fibrocimento. No estágio 9,

vácuo é aplicado a fim de se remover a água da lâmina, para então ser

transferida para a prensa cilíndrica no estágio 10, onde a sobreposição das

lâminas é realizada. Por fim, no estágio 11, a placa é cortada, moldada e

submetida à cura para obtenção do produto final.

Figura 6: Representação esquemática do processo Hatschek. Fonte: Tonoli (2009).

Tonoli (2009) acrescenta ainda que cerca de 85% do produtos de

fibrocimento produzidos no mundo são obtidos através do processo Hatschek.

Entretanto, a composição do fibrocimento vem sofrendo aperfeiçoamentos pela

incorporação de novos aditivos químicos e minerais.

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2.3.2. O uso do fibrocimento como material de construção e os impactos na

sociedade

Conforme Tonoli (2009), os produtos derivados do fibrocimento vem

sendo amplamente utilizados no mundo devido, principalmente, a sua

versatilidade na fabricação dos materiais de construção, como exemplo de

placas divisórias, telhados e reservatórios.

O autor acima cita ainda que o mercado brasileiro de fibrocimento

movimenta R$2 bilhões anuais, tendo como capacidade produtiva anual 2,5

milhões de toneladas de produtos derivados do fibrocimento.

Tal sucesso é defendido por Tonoli (2009) devido ao fato de que o

emprego de compósitos de fibrocimento pode representar uma significativa

redução no déficit habitacional e de infraestrutura de países em

desenvolvimento. na América do Norte, por exemplo, o fibrocimento

representava cerca de 10% do mercado de placas divisórias em habitações

ainda no final da década de 1990.

Outro fator que contribui para a popularidade do fibrocimento é o fato de

que as fibras celulósicas são disponíveis na maioria dos países em

desenvolvimento, pois tem como matéria prima árvores madeireiras. Como

vantagem, as fibras celulósicas apresentam baixa densidade, são renováveis,

biodegradáveis e possuem custo reduzido, além de serem extremamente

versáteis em termos de forma. (Tonoli, 2009)

2.3.3. O fibrocimento e os efeitos do envelhecimento

Conforme Dias (2007), as telhas onduladas de fibrocimento sofrem

deterioração frente a agentes químicos semelhante a outros produtos fabricados

com materiais à base de cimento Portland, como o concreto e a argamassa.

Além de tais fatores, são conhecidos também danos causados por tensão

mecânica devido ao empilhamento, transporte, instalação e uso, além de

exposição ao vento, umidade, variações térmicas e fatores climáticos variados.

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A matriz cimentícia das telhas de fibrocimento sofre também os efeitos

da lixiviação, sendo comprovado que tal mecanismo de deterioração pode gerar

um enfraquecimento do material. Através da percolação ou do fluxo de água,

materiais como portlandita, etringita, gipso e C-S-H podem ser removidos da

matriz. (Dias, 2007).

Conforme Dias (2007), o efeito da lixiviação da chuva pode ser

desconsiderado no que tange ao desempenho mecânico das telhas de

fibrocimento. Quando da ocorrência de chuva ácida, entretanto, a deterioração

pode ser ainda mais intensa do que a lixiviação.

Conforme os estudos de Fornaro (2006), apesar de pouco se saber das

dimensões exatas da chuva ácida no Brasil, foram verificadas ocorrências de

chuva ácida em várias regiões metropolitanas brasileiras. O autor cita como

exemplos cidades do sul e sudeste brasileiros, como São Paulo (SP), Figueira

(PR) e Candiota (RS). Tais cidades encontram-se nas regiões compreendidas

por granizo, mostradas na Figura 3.

Dias (2007) relata que a deterioração por sulfato é bastante conhecida

em materiais com base de cimento. A deterioração tem início na superfície,

progredindo internamente para o núcleo do material, criando uma camada

deteriorada.

As seguintes equações simplificadas foram usadas por Zivica e Bajzab

apud Dias (2007) para explicar o ataque ácido aos materiais com base de

cimento:

𝐻2𝑆𝑂4 + 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2𝑂 + 3𝐶𝑎𝑆𝑂4 + 3𝐶𝑎𝑂 . 𝐴𝑙2𝑂3 . 6𝐻2𝑂 + 25𝐻2𝑂

→ 3𝐶𝑎𝑂 . 𝐴𝑙2𝑂3 . 3𝐶𝑎𝑆𝑂4 . (31 − 32)𝐻2𝑂

Equação 5. Processo de deterioração ácida em materiais com base de cimento

O prosseguimento da deterioração é através da carbonatação da

etringita, que forma gipso, carbonato de cálcio e hidróxido de alumínio, liberando

água, conforme a reação seguinte (Dias, 2007):

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𝐶3𝐴 . 3𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 32𝐻2𝑂 + 3𝐶𝑂2

→ 3𝐶𝑎𝐶𝑂3 + 3𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2𝑂 + 𝐴𝑙2𝑂3 . 𝑥𝐻2𝑂 + (26 − 𝑥)𝐻2𝑂

Equação 6. Processo de carbonatação da etringita

Dias (2007) analisou amostras de telhas onduladas de fibrocimento

expostas às intempéries das cidades de São Paulo (SP) por 37 anos e de

Criciúma (SC) por 30 anos. Os resultados obtidos revelaram que, apesar de

significativa carbonatação, o desempenho mecânico das amostras de São Paulo

foram semelhantes aos de placas novas disponíveis no mercado. A amostra de

Criciúma, entretanto, mostrou sinais de deterioração por ataques de sulfato,

carbonatação e lixiviação.

Foi possível concluir, através dos estudos do autor citado, que a

lixiviação de superfície pode ter um impacto mecânico significativo nas telhas

finas de fibrocimento, limitando a vida útil do material. O autor recomenda que a

interpretação dos resultados dos testes de envelhecimento deve considerar as

condições climáticas e ambientais do local onde o produto será utilizado.

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3 CONCLUSÃO

A bibliografia consultada evidencia que o fibrocimento possui papel

tecnológico e social importante no aprimoramento da infraestrutura urbana,

principalmente em países em desenvolvimento. O seu baixo custo, associado

com a versatilidade e matéria-prima abundante foram determinantes no sucesso

do processo Hatschek e da difusão do fibrocimento como material de construção

ao redor do globo.

Ao associarem-se as características comuns das coberturas das

residências brasileiras com os dados ressaltados pelas Figuras 3, 4 e 5, fica

evidente a necessidade de uma atenção maior no que tange ao

dimensionamento das estruturas de cobertura e do revestimento das moradias

das regiões austrais brasileiras. Muitas vezes uma mesma norma ou padrão de

qualidade não pode ser aplicado em uma região heterogênea no que tange às

variáveis consideradas para a elaboração de tais documentos, e as estatísticas

provam que tal situação se aplica às regras aplicadas nos materiais de cobertura

residenciais.

Os dados climatológicos brasileiras esclarecem que as regiões

meridionais do Brasil são atingidas frequentemente por tempestades de granizo,

de forma que as telhas de fibrocimento aqui utilizadas não possuem

propriedades mecânicas adequadas para resistirem a impactos de granizo com

diâmetros superiores a 45mm. A norma NBR 15575-5/2013 estabelece que as

coberturas devem suportar uma carga concentrada de 1KN aplicada na sua

seção mais desfavorável. Entretanto, os resultados obtidos por este estudo

mostram que tal valor é superado pelo impacto de um granizo com dimensões

maiores que 45mm, tempestades essas que possuem recorrência considerável

na região sul do Brasil. Se considerarmos ainda os efeitos do envelhecimento

através de exposição solar, chuva ácida e maresia, os efeitos podem ser ainda

mais negativos.

Desta forma, uma revisão na norma e na tecnologia construtiva dos

telhados de fibrocimento brasileiros faz-se necessária. Um pequeno incremento

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de cimento na composição da mistura ou a revisão da espessura das placas dos

telhados poderia amenizar o problema.

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