Ano VI N. 6 Nov./2019 Bioágua fornece água de produção ...

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Educação para a Liberdade Ano VI N. 6 Nov./2019 Bioágua fornece água de produção para famílias no Sertão dos Crateús Água para a produção da agricultura familiar é um enor- me desafio no semiárido cearense. Por isso, torna-se fun- damental o desenvolvimento de tecnologias de convivência com o semiárido. Um exemplo de tecnologia que transfor- ma e melhora a produção é o bioágua, um sistema de reu- so de águas cinzas. Por meio do projeto Educação para a Liberdade (EPL) e em parceria com a We World, o Esplar implantou inicialmente 24 sistemas de reuso em quintais produtivos de famílias de Monsenhor Tabosa, Nova Rus- sas e Tamboril, municípios do Sertão dos Crateús. Depois disso, como a experiência foi positiva, mais cinco bioáguas foram construídos, somando um total de 29 tecnologias disponibilizadas às participantes do projeto EPL. A implantação dessa tecnologia em quintais foi inédita nesses municípios e melhora a alimentação das crianças beneficiárias do projeto e suas famílias. Com a segurança alimentar e nutricional garantida, a criança ficará mais mo- tivada para ir à escola e dedicar-se aos estudos. As mães das crianças recebem formação sobre o funcionamento do sistema. “Nós levamos as mulheres para um sistema e ex- plicamos todo o passo a passo. Sobre a caixa de gordura, que recebe a água da pia e faz a separação das águas mais sujas; sobre a importância do filtro, de onde a água já sai limpa para o tanque de reuso; e sobre o criatório de mi- nhoca e o porquê de criá-las no sistema. As minhocas tam- bém produzem o húmus para as plantas”, explica Fabiana Firmino, técnica do projeto EPL. Conforme a técnica, já foi possível perceber melhoras significativas na alimentação das famílias contempladas, além do aumento da produção e da produtividade nos quintais. Realização Apoio

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Educaçãopara a

Liberdade Ano VI N. 6 Nov./2019

Bioágua fornece água de produção para famíliasno Sertão dos Crateús

Água para a produção da agricultura familiar é um enor-me desafio no semiárido cearense. Por isso, torna-se fun-damental o desenvolvimento de tecnologias de convivência com o semiárido. Um exemplo de tecnologia que transfor-ma e melhora a produção é o bioágua, um sistema de reu-so de águas cinzas. Por meio do projeto Educação para a Liberdade (EPL) e em parceria com a We World, o Esplar implantou inicialmente 24 sistemas de reuso em quintais produtivos de famílias de Monsenhor Tabosa, Nova Rus-sas e Tamboril, municípios do Sertão dos Crateús. Depois disso, como a experiência foi positiva, mais cinco bioáguas foram construídos, somando um total de 29 tecnologias disponibilizadas às participantes do projeto EPL.

A implantação dessa tecnologia em quintais foi inédita nesses municípios e melhora a alimentação das crianças

beneficiárias do projeto e suas famílias. Com a segurança alimentar e nutricional garantida, a criança ficará mais mo-tivada para ir à escola e dedicar-se aos estudos. As mães das crianças recebem formação sobre o funcionamento do sistema. “Nós levamos as mulheres para um sistema e ex-plicamos todo o passo a passo. Sobre a caixa de gordura, que recebe a água da pia e faz a separação das águas mais sujas; sobre a importância do filtro, de onde a água já sai limpa para o tanque de reuso; e sobre o criatório de mi-nhoca e o porquê de criá-las no sistema. As minhocas tam-bém produzem o húmus para as plantas”, explica Fabiana Firmino, técnica do projeto EPL. Conforme a técnica, já foi possível perceber melhoras significativas na alimentação das famílias contempladas, além do aumento da produção e da produtividade nos quintais.

Realização

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Agricultoras do projeto EPL na Marcha das Margaridas

Cearenses do projeto Educação para a Liberdade participam da Marcha das Margaridas 2019 em Brasília

Mais de 100 mil mulheres se reuniram, em Brasília, du-rante a VI Marcha das Mar-garidas, que teve como tema “Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualda-de e Livre de Violência”. Mu-lheres de todos os estados brasileiros, entre agriculto-ras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extrativistas, percorreram a Esplanada dos Ministérios na tradicional passeata em 14 de agosto. Na delegação cearense, ha-via três mulheres dos projetos Educação para a Liberdade (EPL) e Contexto, executados pelo Esplar em parceria com a We World: Lúcia Lima, do assentamento Floresta; Antônia Rodrigues, do assentamento Passarinha; e Aparecida Oli-veira, da comunidade Pereiros. No dia 13 de agosto, houve ainda a I Marcha das Mulheres Indígenas, que juntaram forças no dia seguinte à passeata das Margaridas.

Realizada desde 2000, a Marcha das Margaridas ocorre

Mais de 100 mil mulheres de todo o Brasil participaram, em Brasília, da VI Marcha das Margaridas, mobilização realizada desde 2000.

Em 13 de agosto, ocorreu a I Marcha das Mulheres Indígenas, em Bra-sília. No dia seguinte, as indígenas juntaram forças com as Margaridas.

de quatro em quatro anos, em períodos próximos ao dia 12 de agosto, que marca a mor-te da trabalhadora rural e líder sindicalista Margarida Maria Alves. Em 1983, Margarida foi assassinada por lutar pelos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais. De acordo com Daniella Alencar, técnica de gênero do Esplar, as mulheres que participaram dessa marcha demonstraram muito engajamento e consci-ência política. “Todas mostra-ram a relevância desse encon-tro nacional para a garantia de uma vida digna. Como os te-mas são assuntos de interes-se das mulheres rurais, várias

rodas de conversa aconteceram durante a viagem”, conta a técnica. Conforme Daniella, as mulheres participaram de oficina temática sobre enfrentamento à violência contra a mulher, mediada por Conceição Dantas, da Marcha Mun-dial das Mulheres, no espaço de acolhimento.

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Promover um ambiente saudável e não violento nas es-colas é um grande desafio para professoras/es, gestoras/es e familiares. Apesar de mais debatido na atualidade, o bullying ainda assombra o cotidiano de muitos estudantes. O Esplar, em parceria com a We World, promove anual-mente a campanha Solidariedade à Distância (SaD), que tem o bullying como tema trienal. Desde 2018, a pre-venção ao bullying norteia as oficinas ministradas em escolas rurais dos municí-pios de Monsenhor Tabo-sa, Nova Russas e Tam-boril. Com a temática “É conversando que a gente se entende”, a Campanha SaD de 2019 realizou 86 oficinas em 26 escolas, be-neficiando 2.851 crianças e adolescentes.

De acordo com Raquel Rodrigues, técnica de Edu-cação do Esplar, foram trabalhadas duas metodologias diferentes. Da Educação Infantil ao 5º ano, foi utilizada a fábula “O caracol e a borboleta” através de uma contação de história. Já a partir do 6º ano, a temática foi desenvol-vida através de um rap. “Essa fábula inicia com uma dis-cussão. O caracol e a borboleta discutem, mas no final se entendem. Se eles só tivessem discutido e cada um ido para o seu lado, eles não teriam percebido a importância da conversa. Mostra para as crianças que as pessoas não podem brigar. E sim que a gente tem que conversar para poder se entender”, explica a educadora.

Com adolescentes, o rap ajudou a promover várias re-flexões. O que a letra do rap tem a ver com a nossa vivên-cia? Nós estamos respeitando nossas/os colegas? Vocês já passaram por situação parecida? Com o debate alguns alunos se sentiram à vontade para relatar suas próprias experiências. “Uma aluna falou que sofria bullying sendo chamada de nerd pelos colegas. Na hora do intervalo, ao invés de brincar, ela ia para a biblioteca. Ela não se sentia à vontade com o apelido. Durante a conversa, ela expôs a situação para eles entenderem que ela gostava de estudar. Ela tinha um objetivo. Quando terminar o Ensino Médio, ela

quer ir para uma faculdade. Ela era chamada de nerd por querer melhorar a vida dela”, relata Raquel.

O poder do diálogo para prevenção do bullying foi a mensagem transmitida durante as oficinas. Muitas/os alu-nas/os confessaram que não costumavam conversar com colegas para resolver algum problema. “A gente falou que

se deve conversar e não partir para a briga, para confusão. Que deve con-versar, pedir para pessoa não continuar com aquela prática, que não é legal, que não se sente bem, não se sente à vontade. Elas e eles começaram a se abrir mais e a falar que tinham passado por situações pa-recidas. Que agora iam sa-ber como reagir. Na maio-ria das escolas em que a gente passou, as alunas e os alunos perceberam que

devia haver mais diálogo, mais conversa. Que o diálogo é muito importante e resolve muito mais os problemas”, con-clui a educadora.

Campanha SaD aborda o poder do diálogo para evitar bullying

Durante a Campanha SaD 2019, o Esplar realizou 86 oficinas em 26 escolas, beneficiando 2.851 crianças e adolescentes.

Oficina “É conversando que a gente se entende” busca prevenir bullying entre crianças e adolescentes

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EXPEDIENTE

Textos: Aline MouraFotos: Aline Moura, Daniella Alencar, Deninha Maia, Fabiana Firmino e Raquel Rodrigues.Edição e diagramação: Aline MouraColaboração: Andrea Sousa, Daniella Alencar, Deninha Maia, Fabiana Firmino e Raquel Rodrigues.

ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria

Endereço: Rua Princesa Isabel, 1968, Benfica, Fortaleza - CECEP: 60015-035 Telefone: (85) 3252.2410 / 3221.1324Site: http://esplar.com.br/E-mail: [email protected]: https://www.facebook.com/Esplar/Instagram: https://www.instagram.com/cpaesplar/

Esplar: Qual o seu papel como sindicalista?Maria Onete: É fazer o papel de liderança e dialogar com os trabalhadores. Responder ao que eles necessitam.Esplar: Quais ações você executa para diminuir a desi-gualdade de gênero e aumentar o espaço das mulheres no mundo sindical?Maria Onete: Para ter essa diminuição, nós temos que passar por muitas formações. O próprio Esplar já tem diri-gido muitas formações para nós dirigentes e trabalhadores dentro do sindicato.Esplar: Qual a importância do projeto EPL para o municí-pio e para a vida das mulheres que participam?Maria Onete: A importância que estamos vivenciando hoje é que a gente vê naturalmente o preparo que essas mulheres estão tendo. Elas estão tendo uma formação e estão preparadas para dialogar, diferente daquelas que não vivem essa formação.

Esplar: Houve aumento da participação das mulheres no sindicato ou em outros movimentos após o projeto?Maria Onete: Teve. Nós vemos que essas mulheres se conscientizaram e regularizaram a sua situação com o sin-dicato. Nós temos sentido essa diferença na participação delas conosco.Esplar: Qual o impacto que o projeto EPL teve para o movimento sindical?Maria Onete: Os impactos são muitos. Muitas mudan-ças a gente percebe nas mulheres. Quando a gente pre-para uma formação, as mulheres têm uma visão diferente. Onde o projeto foi trabalhado teve impacto muito grande.Esplar: Qual a importância da participação das mulheres em espaços políticos?Maria Onete: Esse momento é histórico na nossa vida como mulheres porque elas podem dialogar em qualquer debate. Elas têm decisão própria, sabem dialogar e decidir o que querem. Elas estão mais preparadas para vida polí-tica e decisão pública.Esplar: Quais as perspectivas para a participação das mulheres em espaços políticos no futuro?Maria Onete: Um grande sonho meu é de termos mu-lheres preparadas com decisão própria para ir a qualquer debate e discussão. As mulheres estão começando a se envolver mais. Estão querendo entrar mais no meio públi-co. A minha perspectiva é de melhorar esse contexto.

Entrevista

Fique alerta!

Câncer de Mama | Estima-se que a cada 100 mil mulheres, 56 terão câncer de mama. É o tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. Somente em 2018, foram 16,7 mil mortes no país pela doença. Cerca de 60 mil casos são diagnosticados anualmente. Por outro lado, o câncer de mama tem 95% de chance de cura se detectado precocemente. Por isso, faça o autoexame regularmente. Procure seu médico!

Maria Onete fala sobre o impacto do projeto EPL

Lei Maria da Penha | O PL n° 1619 e o PL nº 17, ambos de 2019, foram sancionados pelo governo federal e alteram a Lei Maria da Penha. O primeiro garante a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e familiar em escola mais próxima de seu domicílio. O segundo versa sobre a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse de agressor em casos de violência doméstica.

Maria Onete Cardoso da Silva, agricultora e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Ru-rais Agricultores e Agri-cultoras Familiares de Monsenhor Tabosa.