António Vitorino: PromoVer os mecAnismos de APoio mulheres...

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B _ i ACIDI revista Nº86 NOveMBrO 2010 EMPREENDEDORISMO, UMa SaíDa PaRaa cRISE? António Vitorino: PromoVer os mecAnismos de APoio mulheres imigrAntes emPreendedorAs: o emPreendedorismo no feminino

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B_iACIDIrevista Nº86

NOveMBrO 2010

EMPREENDEDORISMO, UMaSaíDaPaRaacRISE?

António Vitorino: PromoVer os mecAnismos de APoio

mulheres imigrAntes emPreendedorAs: o emPreendedorismo no feminino

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As atitudes empreendedoras dos imigrantes são amplamente reconhecidas. A coragem de partir para outro país à procura de uma situação de vida melhor para si e para a sua família é já um grande acto de empreendedorismo.

É quase certo que este objectivo de melhoria de condições de vida passará pela obtenção de um trabalho. E temos verificado que a vontade de vencer, por parte dos imigrantes, não se reduz apenas ao trabalho por conta de outrem. A integração profissional dos imigrantes passa, também, pela aplicação de experiências e conhecimentos num negócio por conta própria.

São muitos os imigrantes que têm uma história de sucesso conseguida através da criação do próprio emprego.

No entanto, porque ainda são inúmeros os obstáculos pelos quais os imigrantes passam no processo de criação de negócio - dificuldades de comunicação, desconhecimento da legislação e regras do país, desconhecimento dos locais onde se dirigir - o ACIDI lançou, em 2009, o Projecto Promoção do Empreendedorismo Imigrante (PEI), com o objectivo de sensibilizar as comunidades imigrantes para o empreendedorismo, potenciar a criação de negócios e desenvolver as capacidades produtivas de Portugal.

Nesta altura em que a crise financeira se sente por todo o mundo, é importante desenvolver a nossa capacidade de empreender. Não só ao nível profissional mas também ao nível pessoal, promovendo uma atitude pró-activa, em que cada um faça parte da mudança que quer ver surgir.

O PEI tem apoiado e acompanhado as iniciativas empresariais de imigrantes empreendedores, começando este apoio no Curso “Apoio à Criação de Negócios”. Espera-se, a partir deste curso, incrementar as competências empreendedoras, apoiar na estru-turação de ideias de negócio, que poderão ser aplicadas e igualmente sustentadas pelo apoio continuado previsto neste projecto.

Contamos que o incentivo à criação de auto-emprego seja uma mais valia na integração profissional e social dos imigrantes e que lhes permita a concretização de uma ideia viável e sustentável. Acreditamos na sua capacidade para empreender e para vencer!

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Empreender para vencer

e d i t O r i a l

A coragem de partir para outro país à procura de uma situação de vida melhor para si e para a sua família é já um grande acto de empreendedorismo.

rosário Farmhouse

Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

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PROJECTO PROMOÇÃO

DO EMPREENDEDORISMO

IMIGRANTE

PEI 2010a população imigrante tem demonstrado taxas de empre-endedorismo mais elevadas do que as verificadas nos

cidadãos nacionais. Tendo em conta este dado, conjugado com a taxa de desem-prego mais alta entre os imigrantes do que entre os cidadãos nacionais, torna-se útil e premente a capacitação dos imigrantes com competências empreen-dedoras que as queiram desenvolver e/ou, apesar da existência de uma ideia de negócio, apresentem dificuldades em concretizá-la.Observam-se também alguns obstácu-los que dificultam o processo de criação de negócios/auto-emprego por parte de imigrantes: entre outros, destacam-se as dificuldades comunicacionais, o desco-nhecimento da legislação/regras do país e o desconhecimento dos locais onde se dirigir.O ACIDI, atento a esta problemática e com o objectivo de potenciar a criação de negócios e desenvolver as capacida-des produtivas do país, criou em 2007 o Núcleo de Apoio ao Empreendedorismo (NAE), que funciona nas instalações do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (CNAI) de Lisboa. Em 2008, colaborou como entidade disseminadora da Carta de Criação de Negócios para a Inclusão, com a iniciativa Equal K’Cidade – Pro-grama de Desenvolvimento Comunitário Urbano (www.kcidade.com). Esta inicia-

tiva e este documento foram inspiradores para o planeamento do PEI – Projecto Promoção do Empreendedorismo Imi-grante.Atendendo às pequenas iniciativas isola-das no âmbito do empreendedorismo e à procura crescente de imigrantes que pre-tendiam auxílio na criação do seu próprio negócio, começou a fazer sentido alargar a área de intervenção do ACIDI a outros territórios. Deste modo, em 2009 o ACI-DI lançou o PEI, que teve continuidade no decorrente ano. O planeamento do PEI ponderou sobre o seu modo de intervenção, fazendo senti-do responder a imigrantes cujo acesso aos meios de criação de negócio fosse mais dificultado. A intervenção do PEI é prio-ritária em bairros mais vulneráveis onde, muitas vezes, alguns dos seus residentes já desenvolvem pequenas iniciativas infor-malmente ou desconhecem como imple-mentar a ideia de negócio que há muito desejam desenvolver.O PEI objectiva não só a criação de ne-gócios mas também que os mesmos sejam implementados com sustentabilidade. Assim, são introduzidas neste projecto várias actividades destacando-se o curso «Apoio à Criação de Negócios», dirigido a todos os imigrantes que tenham uma ideia de negócio com a intenção de a im-plementar e que precisem de orientações nas várias etapas deste processo.

PriNciPais actividades dO Pei

O curso «Apoio à Criação de Negócios», com inspiração na Carta de Criação de Negócios para a Inclusão (ver caixa), foge à formação tradicional. Não se resume a alunos e professor tendo em conta o siste-ma tradicional de ensino/formação, sen-do um conjunto de práticas que possibili-tam ao potencial empreendedor adquirir vários conhecimentos acerca do seu pró-prio negócio. Este curso, com duração de 56 horas (8 semanas), realiza-se em dois momentos distintos ao longo da semana: sessões colectivas e sessões personalizadas. Esta estrutura permite aos participantes a

EmprEEndEdorismo imigrantE Promover InICIAtIvAs sustentáveIs

P e i

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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apropriação de conceitos teóricos através da sua discussão nas sessões colectivas, o levantamento de informações acerca dos mesmos (o designado “trabalho de casa”) e a discussão de necessidades específicas nas sessões personalizadas. Este curso par-ticipado permite ao empreendedor e ao formador aperceberem-se das lacunas dos negócios e quais os aspectos críticos para o seu (in)sucesso. Aos negócios conside-rados viáveis e sustentáveis, aos quais já se reconhece valor e nos quais se acredita, o formador emitirá uma Carta de Reco-mendação (CR). O apoio do PEI aos empreendedores não se esgota, contudo, no curso. Finda esta actividade, todos os participantes, inde-pendentemente da recepção ou não de CR, poderão ainda ser orientados por um técnico de acompanhamento (TA), o qual poderá durante este período op-tar também pela emissão de uma CR, estando este apoio disponível, em tempo limitado por pessoa, durante dois anos. O apoio técnico é facilitado pela Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) (ver caixa), com a qual o ACIDI estabele-ceu parceria para este efeito. No final do curso, todos os participantes - nacionais de países terceiros - poderão candidatar-se ao Concurso de Ideias de Negócios, sendo premiadas as três melho-res ideias que cheguem ao Júri Nacional. Os premiados deverão aplicar o prémio na ideia de negócio trabalhada ao longo do curso: 1.º prémio - €5.000; 2.º prémio - €2.500; 3.º prémio - €1.000.O PEI não se sobrepõe a outros recursos de apoio ao empreendedorismo e preten-de ligar-se às variadas estruturas de apoio à criação de negócios, com o intuito de ter uma resposta alargada de alternativas aos empreendedores. O ACIDI conta com a colaboração de vários parceiros, os quais possibilitam a dinamização local do PEI. São estes quem organiza os cursos e articula com outras entidades locais que poderão intervir no

Parceiros Locais LocaLidade

SEIVA- Associação ao Serviço da Vida Porto

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante Porto

Grupo Aeromodelismo “Os Caças” Mem Martins, Sintra

AJPAS – Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde

Amadora

Ass. Jardins Escola João de Deus Bairro 6 de Maio, Amadora

Associação Cultural Moinho da Juventude Cova da Moura, Amadora

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante Lisboa

Associação Cultural e Juvenil Batoto Yetu Caxias, Oeiras

Santa Casa da Misericórdia de Almada Monte da Caparica, Almada

Rumo, CRL Vale da Amoreira, Barreiro

Khapaz – Associação Cultural Arrentela, Seixal

Centro de Apoio aos Desempregados de Setúbal Setúbal

CAPELA – Centro de Apoio à População Emigrante de Leste e Amigos Portimão

apoio aos que participam no PEI na sua instituição. Alguns dos parceiros ainda se encontram a receber candidaturas para participação nos cursos que se realizarão até ao final do ano.

a PeNsar NO FuturO

O PII – Plano de Integração de Imigran-tes (2010-2013) reforça uma vez mais o incentivo ao empreendedorismo imi-grante como medida a tomar por vários ministérios para a inclusão profissional desta população. O PEI será responsável pela criação de um Programa de Men-tores (PM-PEI), chamando a sociedade civil a intervir, de modo voluntário, na integração profissional de imigrantes empreendedores. O PEI encontra-se ac-tualmente a reestruturar este Programa,

timidamente lançado em 2009, mas que ganhará uma nova força em 2011, Ano Europeu do Voluntariado.O PM-PEI terá inspiração num progra-ma semelhante dinamizado na Dina-marca pela Kvinfo (www.kvinfo.dk), o qual se destina à integração profissional e social de mulheres imigrantes. Atenden-do ao sucesso do mesmo e à experiência alargada da sua equipa, o PEI reuniu em Copenhaga com vários elementos desta instituição. Contamos, para colabora-ção voluntária no PM-PEI, com pessoas experientes na criação de negócios (seja ao nível académico, seja profissional) de modo a respondermos a necessidades es-pecíficas dos empreendedores.Em breve, o PEI verá findadas as activi-dades de 2010, encontrando-se a planear uma nova edição. Contudo, continuam a ser recebidas propostas – no e-mail

cOM O OBjectivO de POteNciar a criaçãO de

NegóciOs, O acidi criOu eM 2007 O NúcleO de

aPOiO aO eMPreeNdedOrisMO (Nae), que FuNciONa

Nas iNstalações dO cNai de lisBOa.

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[email protected] - daqueles que preten-dam colaborar neste projecto como par-ticipante/empreendedor, instituição de apoio aos empreendedores envolvidos ou como mentor.O PEI é um projecto financiado pelo Fundo Europeu para a Integração de Na-cionais de Países Terceiros - FEINPT.

Muhammad Yunus

MicrOcréditO

Escreveu Muhammad Yunus (O Banqueiro dos Pobres): “A caridade não é uma solução para a pobreza. […] A caridade permite-nos continuar as nossas vidas sem nos preocuparmos com os outros. Com ela, a nossa consciência fica tranquila. Mas a verdadeira questão está em criar uma plataforma nivelada para todos, dando a todos os seres humanos iguais oportunidades”.A ANDC dá continuidade à premissa do Yunus, fundador do microcrédito, no Bangladesh (1976), apoiando pessoas que necessitam de apoio financeiro para a criação de negócio, mas que não têm acesso ao crédito pela via tradicional (junto dos bancos).Poderão aceder ao microcrédito da ANDC pessoas nas seguintes condições: 1. Situação de desemprego ou

situação profissional precária;2. Detenção de uma ideia de

negócio realista;3. Vontade e determinação para

se envolver no negócio que se pretende implementar;

4. Inexistência de incidentes bancários activos.

Para mais informações: www.microcrédito.com

dOssier dO eMPreeNdedOr

Os participantes no curso “Apoio à Criação de Negócios” têm acesso a um ins-trumento de trabalho – Dossier do Empreendedor – no qual podem consultar informações teóricas sobre a criação de negócios, bem como registar, nas fichas incluídas neste dossier, informação específica do negócio que pretendem desenvolver. Através do preenchimento destas fichas o potencial empreendedor poderá corrigir ou reformular a sua ideia de negócio a partir da investigação feita acerca do seu negócio, bem como do levantamento de necessidades, as quais realizou em casa mas que traba-lhou conjuntamente com o formador.

resultadOs 2009

N.º de Participantes no Curso «Apoio à Criação de Negócios

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N.º de Certificados de Participação 99

N.º de Cartas de Recomendação 48N.º de Negócios Formalizados* 10

* Este valor continua em processo de actualização, dado que alguns dos participantes no PEI 2009 continuam ainda em processo de implementação do negócio, não estando o mesmo ainda formalizado e no activo.

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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e N t r e v i s t a

“sEm mEcanismos dE apoio,As boAs IDeIAs não têm ConCretIzAção PrátICA”

em linha de conta o critério económico, no sentido de iniciativa empresarial indi-vidual mas também tem o sentido de empreendedorismo social. Isto é, uma actividade que não tenha forçosamente o objectivo do lucro económico mas tenha também uma dimensão de activismo social, de apoio e de assistência social. E há um terceiro critério muito importante que temos tido em linha de conta, que é em que medida essa actividade é benéfica para as comunidades imigrantes no nosso país e em que medida estabelece um elo de ligação com o país de origem do imi-grante que a protagoniza.

Tem havido muitos candidatos ao Prémio? Temos tido bastantes candidaturas e cada candidatura é um caso de vida, uma his-tória humana, muitas vezes com momen-tos dramáticos. Nessas candidaturas, as pessoas dão o testemunho do que foi

antónio Vitorino,

prEsidEntE do júri quE atribui

o prémio EmprEEndEdor imigrantE

do ano, fala Em EntrEVista

sobrE as origEns, os objEctiVos

E os critérios dEsta distinção.

AntónIo vItorIno

O que é o Prémio Empreendedor Imigrante do Ano? O Prémio é uma iniciativa da Plataforma Imigração que congrega um conjunto de fundações – a Fundação Calouste Gulbenkian, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, a Fundação Oriente, a Fundação Aga Khan, a Fundação Luso-Brasileira, a Fundação Portugal África e, mais recen-temente, a Fundação EDP – e está aberta à participação de entidades da sociedade civil que, directa ou indirectamente, têm ligações com as questões da integração dos imigrantes na sociedade portuguesa. Estão presentes as duas centrais sindicais, todas as associações patronais e a Igreja Católica, através da Obra Católica para as Migrações. Esta Plataforma atribui anualmente o Prémio Empreendedor Imigrante do Ano, que visa reconhecer os méritos de um projecto de empreendedo-rismo protagonizado por imigrantes. O

Prémio é pecuniário e a ideia é que não é apenas o reconhecimento de um mérito ou de uma ideia, é também ajudar a que o premiado possa aplicar o produto do prémio naquela ideia e naquele projecto que pretende desenvolver. É um contri-buto dado sobretudo pelas fundações, que são quem assume a responsabilidade financeira.

Desde quando existe este Prémio? Já temos três prémios atribuídos e, este ano, vamos passar para a quarta edição.

Não têm sido apenas distinguidas iniciativas empresariais... Não. O conceito de empreendedorismo, tal como resulta do regulamento do concurso e da interpretação que todos os anos o júri tem dado no momento em que fundamenta os critérios da atribui-ção do Prémio, é um conceito de empre-endedorismo amplo. Tem obviamente

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Este Prémio pretende ter um alcance mediático. Isso tem sido conseguido? Quer este Prémio, quer o outro prémio da Plataforma, que é uma distinção às boas práticas autárquicas, são atribuídos por ocasião das comemorações anuais do Dia Internacional dos Migrantes, no quadro das quais nos temos associado ao ACIDI. Creio que nesse dia os temas dos imigrantes têm uma grande visibilidade e portanto o Prémio também beneficia dessa visibilidade. O que nos preocupa agora é passar da visibilidade do evento propriamente dito para um conheci-mento mais alargado das realidades que estão subjacentes à atribuição do Prémio. E por isso este livro que a Fundação Calouste Gulbenkian decidiu promover para dar a conhecer as histórias por detrás do Prémio. Se os portugueses conhece-rem melhor o contributo positivo que os

a sua experiência, que tem sempre tra-ços comuns. Primeiro, porque a decisão de imigrar não é fácil, é uma decisão difícil; em segundo lugar, os percursos da imigração, atendendo às medidas de restrição que a maioria dos países aplica em relação à imigração económica, são complexos e difíceis, há uma luta pela obtenção de um estatuto legal. Há ainda as vulnerabilidades do circuito de imi-gração, desde os passadores aos riscos do tráfico, à exploração no país de destino, com empregadores inescrupulosos, não pagamento de salários, ausência de con-dições de trabalho... Eu sou consultor da Fundação Calouste Gulbenkian, que decidiu tomar a iniciativa de promover um livro que relata um conjunto destas histórias, centrado não apenas nos ven-cedores do Prémio Empreendedor Imi-grante do Ano, mas também em alguns dos outros testemunhos e algumas das outras candidaturas que foram apresen-tadas ao longo destes anos.

O que podem os empreendedores portugueses aprender com estes empreendedores imigrantes? Penso que um dos problemas de Portugal é o défice de empreendedorismo e há que reconhecer que o nível do empre-endedorismo imigrante também não é muito elevado. Mas os desafios premen-tes que se colocam aos imigrantes, para vencerem na sociedade para onde deci-diram imigrar, muitas vezes criam-lhes o incentivo necessário para arriscarem a aventura do empreendedorismo. Creio que importa criar um espírito de empre-endedorismo tanto nos portugueses, em que há um défice, como nos próprios imigrantes. Essa descoberta do risco, das oportunidades e do sucesso deve ser feita em conjunto, entre empreendedores por-tugueses e empreendedores estrangeiros imigrantes em Portugal. E todos têm a aprender com todos.

imigrantes dão à sociedade portuguesa, certos discursos racistas e xenófobos não terão condições de triunfar no nosso país, para bem de todos nós.

Julga que o empreendedorismo tem surgido com mais intensidade como resposta à crise? Não devemos ser ingénuos. O empre-endedorismo é muito relevante mas sem os mecanismos de apoio necessários, que vão desde o microcrédito até ao capital de risco, as boas ideias não passam disso - de boas ideias que não têm concreti-zação prática. E há que reconhecer que em Portugal os sistemas, quer financeiro quer mesmo de ajuda pública, não são muito permeáveis ao incentivo ao empre-endedorismo imigrante. Os imigrantes têm sempre maior dificuldade em aceder a crédito bancário ou em beneficiarem de

iMPOrta criar uM esPíritO de

eMPreeNdedOrisMO, taNtO NOs POrtugueses,

ONde há uM déFice, cOMO NOs PróPriOs

iMigraNtes.

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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fundos públicos de incentivo ao empre-endedorismo. Mas, por isso mesmo, é que nós insistimos neste ponto para que quer o sector financeiro, quer as autoridades públicas, encarem o empre-endedorismo imigrante não como uma solução para o problema mas como parte da solução da crise que vivemos.

Existem a nível europeu boas práticas que Portugal pudesse adoptar? Creio que tudo depende da cultura das sociedades. Há sociedades que são mais permeáveis aos incentivos do empre-endedorismo, outras são-no menos. Mas conheço várias boas práticas. Por exemplo, há iniciativas de comunida-des imigrantes em países europeus que definiram nichos de mercado em relação aos seus próprios países de origem e esta-beleceram iniciativas económicas, por exemplo, de importação e exportação de produtos-nicho do seu país de ori-gem que promoveram nos mercados de destino e que tiveram uma enorme acei-tação – desde produtos alimentares até artesanato ou produtos de ordem cultural mais geral. Existem exemplos, apoiados até por programas europeus, em países como a Holanda, Itália ou Espanha. A ideia é que essas iniciativas económicas beneficiam da diferenciação e do valor

acrescentado que pode trazer a própria circunstância de serem protagonizadas por imigrantes.

Como se pode caracterizar neste momento a visão que a opinião pública portuguesa tem da imigração? Não gosto de me pronunciar com base apenas em impressões. Nós tenciona-mos, no âmbito da Plataforma, levar a cabo uma sondagem sustentada sobre as percepções dos portugueses acerca da imigração. De uma maneira geral, a primeira reacção é sempre dizer que já há demasiados imigrantes, seja em Portugal, seja na generalidade dos países europeus. Essa é uma percepção que não corres-ponde depois à realidade, que é a de continuarem a existir oportunidades para os imigrantes nas sociedades europeias, embora naturalmente agora em dimi-nuição, em virtude da crise que vivemos na Europa. É sobretudo de sublinhar o contributo de rejuvenescimento que os imigrantes dão à população portuguesa, bem expresso, aliás, nos imigrantes da segunda geração aqui em Portugal, bem como a diversidade cultural, étnica, lin-guística, até gastronómica e musical, que os imigrantes trazem à nossa sociedade. Ora, eu acho que os portugueses quan-do passam daquela apreciação genérica errada, na minha opinião - e até injusta - para a análise das várias componentes do que é o contributo positivo da imigração para a sociedade portuguesa no seu con-junto, acabam por tirar a conclusão de que a imigração tem tido um impacto positivo em Portugal, tanto do ponto de vista económico, como do ponto de vista cultural.

PréMiO eMPreeNdedOr iMigraNte dO aNO

O Prémio Empreendedor Imigrante do Ano, a cujo júri António Vitorino preside, é uma iniciativa da Plataforma Imigração que visa premiar imigrantes que se tenham distinguido pelo seu papel empre-endedor e responsável no contexto da sociedade portuguesa, que sejam exemplos de integração pró-activa e inovadora e, eventualmente, de estímulo à cooperação entre os seus países de origem e Portugal. O conceito inclui não apenas a cria-ção de novas empresas ou entida-des mas também a introdução, no caso de empreendedores por conta de outrém, de produtos ou serviços ino-vadores nas empresas ou organizações onde trabalham e, ainda, atitudes de responsabilidade social pró-activa. O Prémio, no valor de 20 mil euros, é entregue todos os anos em cerimónia pública, no Dia Internacional dos Migrantes, que se celebra a 18 de Dezembro.

Mais informações sobre o Prémio Empreendedor Imigrante do Ano: www.plataformaimigracao.org

cada caNdidatura é

uM casO de vida, uMa

história huMaNa,

Muitas vezes cOM

MOMeNtOs draMáticOs.

se Os POrtugueses cONhecereM MelhOr O

cONtriButO POsitivO que Os iMigraNtes dãO

à sOciedade POrtuguesa, certOs discursOs

racistas e xeNóFOBOs NãO terãO cONdições de

triuNFar.

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imigrantEs solidários InvestIr nA formAção PoDe ser o melhor CAmInho

com a sua experiência e conhecimentos. Desta forma, os candidatos são respon-sáveis pelo seu processo de integração profissional e pelo de outros, num ciclo que pretende fomentar o espírito empre-endedor e solidário entre imigrantes.Os laços de solidariedade promovidos pelo projecto têm um âmbito mais alar-gado, prevendo o acompanhamento de cada candidato por um tutor ligado à sua área de formação, que o poderá guiar e orientar na entrada no merca-do de trabalho. Posteriormente, serão estes candidatos os tutores dos próximos beneficiários do projecto. Um desses tutores será Dumitru que, entretanto, já viu reconhecido o seu diploma de Engenharia do Território e aguarda agora o desenrolar do processo na Ordem dos Engenheiros para poder iniciar o seu tra-balho na empresa que o acolheu.Ser empreendedor é ter a capacidade de implementar os seus sonhos. Foi esta a visão que Dumitru procurou concretizar e é esta a visão que o projecto Imigrantes Solidários procura promover, acompa-nhando e estimulando imigrantes a in-vestir activamente na valorização das suas competências e do seu potencial humano.

jrs portugal

AnDré CostA Jorge

Muitas vezes associado à ini-ciativa de criação do próprio posto de trabalho, o conceito de empreendedorismo não é

alheio ao investimento que cada pessoa pode fazer na sua formação. Encarar o empreendedorismo imigrante, não só na vertente da criação de um negócio, mas sim na promoção das competências e qualificações dos imigrantes, é a perspec-tiva de alguns dos projectos que o Serviço Jesuíta aos Refugiados Portugal (JRS, na sigla inglesa) tem vindo a implementar.A residir em Portugal há 6 anos, Dumitru já trabalhava na sua área de formação quando ouviu falar pela primeira vez do projecto-piloto Imigrantes Solidários. A sua história podia ser contada na primeira pessoa por muitos imigrantes que chegam ao nosso país. Infelizmente, trazer formação académica superior e experiência de trabalho do país de origem de pouco serve, em muitos casos, quando pisamos chão estrangeiro. A maioria tem de se sujeitar a trabalhos subqualificados e salários precários para pagar as suas contas.Dumitru viu uma alternativa a este des-tino: investir na sua formação. Imbuído de uma visão tão empreendedora como

a de quem avança para a criação de um negócio, canalizou o seu tempo e esforço para fazer um curso de Topografia e viu, assim, abrirem-se mais portas no merca-do de trabalho.Foi essa motivação que o levou a candi-datar-se ao Imigrantes Solidários, o pro-jecto-piloto do JRS Portugal destinado a apoiar a integração sócio-profissional de imigrantes com qualificações superiores em diversas áreas de formação, do pedido de equivalência à integração profissional.Para Dumitru e para muitos outros imi-grantes, havia algo que os cativava neste projecto, a começar pelo nome. Porquê “Imigrantes Solidários”? Porque o projec-to dispõe de apoios ao nível financeiro, académico e social de que os candidatos seleccionados poderão usufruir e, poste-riormente, retribuir. A quem? A outros imigrantes qualificados que se encontrem a desempenhar funções distantes das suas qualificações e pretendam vir a trabalhar na sua área de formação. Trata-se de pôr em prática o conceito de ciclo solidário através do qual outros imi-grantes solidários, como Dumitru, pode-rão proceder ao reconhecimento do seu diploma e procurar emprego de acordo

O P i N i ã O

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

JRS renova site de Internet

O site de Internet do Serviço Jesuíta

aos Refugiados em Portugal -

www.jrsportugal.pt - beneficiou

recentemente de uma renovação total,

tornando-se mais apelativo e fácil de

utilizar.

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B_i 10ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

O P i N i ã O

Como surgiu a parceria entre a Associação Moinho da Juventude e o PEI? Nós já anteriormente tínhamos um rela-cionamento muito grande com o ACIDI. Entretanto, tivemos conhecimento da existência de todo este pacote de forma-ção de empreendedorismo imigrante, no âmbito da iniciativa EQUAL. O PEI já tem dois anos e, no primeiro ano, não nos candidatámos. Neste segundo ano, fizemos a candidatura. Mas já existiam na Cova da Moura algumas destas valências. Em 2005, este foi um dos bairros selec-cionados para a Iniciativa Bairros Críticos (IBC). No Programa de Intervenção da IBC existe a medida 6.1 – Apoio ao Em-prego e Empreendedorismo. No segui-mento do que tinha vindo a ser feito, e com o apoio da IBC, foram reforçadas as valências do gabinete GIP “O Moinho”/Bairro Activo, onde trabalham, a tempo inteiro, três pessoas e quatro a tempo par-cial, que dão apoio na área da procura de emprego, formação, empreendedorismo e orientação vocacional. O PEI veio dar

associação moinho da juVEntudE Promover o emPreendedorismo imigrante

uma resposta a questões concretas que já se punham, pois estávamos a fazer acom-panhamento a vários empreendedores, tendo havido uma altura em que tínha-mos 14 projectos activos. São pessoas que tinham interesse nestas questões e vieram à procura de mais informações sobre o programa.

Quem recorre a este Gabinete tem já uma ideia do que quer fazer? A maioria das pessoas tem. Mas há pes-soas que ainda não têm a sua ideia total-mente definida.

Quais são as actividades que se propõem levar a cabo? As actividades têm a ver com o tecido económico do Bairro. Restaurantes e ca-fés, cabeleireiros, comércio de produtos dos países de origem e algumas activi-dades mais específicas: Um café ligado à produção de eventos, um projecto de de-signers, outro de amas que começou por ser creche, apoio informático, bijuteria ligada à cultura de origem, comida para fora...

Quem são os participantes? Têm desde vinte e poucos anos até 50 ou mais. Há mais mulheres do que homens mas a diferença não é grande. E neste processo, que é longo, as mulhe-res acabam por ser mais persistentes. Em Portugal, é muito mais complicado estabelecer um negócio próprio do que na Guiné-Bissau ou em Cabo Verde. Há todo um processo que queremos que as pessoas façam, em termos de controlo de gestão, de planeamento e de organização, para que possam ser autónomas num

a associação cultural moinho da juVEntudE

é uma rEfErência no bairro da coVa da moura. nascida nos

anos 80, é hojE um projEcto comunitário com actiVidadEs a

níVEl social, cultural E Económico, quE EnVolVE crianças,

joVEns E adultos. nEsta EntrEVista, carlos rElha E filipa

simõEs abordam as actiVidadEs dEsEnVolVidas por Esta

associação Enquanto parcEira do projEcto promoção do

EmprEEndEdorismo imigrantE (pEi).

e N t r e v i s t a

O Pei veiO dar uMa

resPOsta a questões

cONcretas que já

se PuNhaM, POis

estávaMOs a Fazer

acOMPaNhaMeNtO

a váriOs

eMPreeNdedOres.

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negócio. O objectivo é que as pessoas sai-bam avaliar os méritos do seu projecto e reduzam os riscos, tanto quanto possível.

Como foi organizada a formação? Nós sentíamos que em todo o acompa-nhamento individual com os empreen-dedores havia várias questões que tinham sido levantadas porque eram comuns e transversais, relacionadas com gestão, contabilidade, formalização, entre outras. O PEI veio permitir colocar todas estas pessoas numa sala de aula e falar destes temas, de uma forma geral, para todos. No início, não sabíamos se iria funcio-nar juntar pessoas com perfis, idades e escolaridades diferentes. Por isso, antes de iniciar o PEI, fizemos um encontro de empreendedores, que correu muito bem, suscitando muito interesse, curiosidade e debate. A partir daí, em Julho, constitu-ímos a primeira turma PEI e iniciámos a formação.

Aquilo que foi proposto veio ao encontro das expectativas? Foi muito interessante. Procurámos fazer as coisas com uma linguagem muito aces-sível, tivemos a preocupação de organizar dinâmicas que fossem motivantes. Claro

que tivemos a vantagem de já conhecer bem as pessoas e foi espectacular, porque todos reagiram muito bem e gostaram muito da formação. Uma das críticas à formação é que era muito curta: oficial-mente eram oito sessões colectivas de três horas. Para além disso, ainda houve ses-sões individuais, de acordo com as neces-sidades dos formandos, num total de 26 horas. Como nós já dávamos esse apoio, o PEI veio reforçar a nossa intervenção. Os formandos aperceberam-se de coisas em que nunca tinham pensado, reagiram muito bem e começaram a ser críticos de negócios já existentes e a interpretar estratégias.

Quais foram as matérias principais? Os nos conteúdos incluem noções gerais de gestão, marketing, vendas, concorrên-cia, a escolha de um local para o negócio e, muito em especial, contabilidade e fiscalidade. É importante referir que a apresentação das matérias tem em conta o tipo de público em questão. Procura-se que as pessoas se apercebam das questões e sejam elas próprias a ter um pensa-mento crítico sobre elas, para depois as poderem aplicar ao seu próprio negócio.

Quais serão os maiores obstáculos que poderão surgir a estes empreendedores? Temos vindo a aperceber-nos de que seria bom um outro tipo de apoio, em que nos fosse possível desenvolver competências, nomeadamente organização pessoal, de-terminação, confiança. As pessoas estão inseridas num contexto que acaba por ser familiar porque aqui o sentido de comu-nidade é muito forte. Nós empenhamo-nos muito em que as pessoas pensem para além do bairro porque o facto de irem para fora abre o mercado e proporciona mais clientes, mas também expõe mais a iniciativa à concorrência. E essa saída do bairro poderá ser um dos grandes desa-fios.

Já algum formando iniciou a sua actividade? Formalmente, não. Uma das coisas que incentivamos muito é que as pessoas fa-çam simulações antes de se lançarem, de forma a fazer o negócio com o menor risco possível. Assim, podem aprender muitas coisas e ver onde estão os erros. Por isso, temos projectos em fase de teste: um projecto de designers, outro de forne-cimento de comida para fora e uma loja de bijuteria.

PrOcuráMOs Fazer

as cOisas cOM uMa

liNguageM MuitO

acessível, tiveMOs

a PreOcuPaçãO

de OrgaNizar

diNâMicas

que FOsseM

MOtivaNtes.

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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B_i 12ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

O P i N i ã O

EmprEEndEdorismo oPortunIDADes PArA os ImIgrAntes e PotenCIAlIDADes PArA PortugAl

Também criando postos de trabalho, esses empresários ajudam a diminuir o desemprego entre imigrantes e/ou entre autóctones. Para além das oportunidades de trabalho, os empresários imigrantes podem ainda contribuir para as comu-nidades imigrantes com diferentes for-mas de capital. Devido ao seu contacto com fornecedores e clientes, os empre-sários imigrantes são úteis na definição de pontes com outras redes externas à comunidade. Os empresários imigran-tes são ainda frequentemente apontados como líderes das suas comunidades. Mais importante ainda, eles mostram que os imigrantes não estão necessariamente res-tringidos a preencherem as oportunida-des de trabalho do mercado mas podem ser agentes activos que desenham os seus próprios destinos, ao definirem os seus negócios. Mesmo quando se encontram confinados a sectores de negócio com poucas perspectivas, eles são ainda acto-res no sentido literal do termo.Ainda assim, muito embora se verifi-quem casos de sucesso notáveis, a maioria destes empresários imigrantes é canali-zada para os sectores menos atractivos do mercado e/ou com menos barreiras de entrada em termos de capital de arranque e de qualificações educacionais requeridas. Nesses sectores a produção é essencialmente de pequena escala, com pouco valor acrescentado e, frequente-mente, muito dependente de mão-de-obra. Consequentemente, para muitos

coordEnadora gabinEtE dE

Estudos E rElaçõEs intErnacionais

do acidi

CAtArInA reIs olIveIrA

Os empreendedores imi-grantes fazem parte do carácter cosmopolita das sociedades do século XXI,

contribuindo para o complexo processo de globalização com crescente varieda-de de produtos de países longínquos. Os empresários imigrantes aumentam a diversidade de produtos e serviços e, assim, expandem as opções dos consu-midores. Esses empresários podem ter um conhecimento especializado que lhes permite responder a procuras específicas relacionadas com produtos estrangeiros, como seja de alimentação, de músi-ca, de vestuário, de práticas de saúde. De forma indirecta, este conhecimento pode permitir aos empresários autóc-tones focarem-se mais em actividades onde exploram as suas próprias vantagens comparativas.Os empresários imigrantes podem contribuir também para a revitalização de ruas ou mesmo de bairros de cidades. Se as ruas foram abandonadas por empresários autóctones e esses foram substituídos por empresários imigrantes, a deterioração económica pode ser revertida. Como proprietários de negócios locais, eles têm um papel claro na prosperidade, acessibilidade e segurança desses mercados locais. Nesses casos, os empresários imigrantes tornam-se uma importante componente da matriz social, sustendo a sociedade civil das bases.

é hojE EVidEntE quE os imigrantEs

não Vêm apEnas rEspondEr às

nEcEssidadEs dE EmprEgo das

sociEdadEs dE acolhimEnto, mas

são ElEs próprios criadorEs dE

noVas oportunidadEs dE EmprEgo

E dinamizadorEs das Economias

locais E nacionais.

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empresários imigrantes os seus rendi-mentos são relativamente baixos e os dias de trabalho são longos e árduos. Ora, estas características associadas a alguns sectores (e.g. maior número de horas, trabalho mais árduo, salários mais baixos) tendem a afastar os empresários autóc-tones; ou seja, há condições de determi-nados sectores que apenas os imigrantes estão preparados para aceitar.

recONhecer as vaNtageNs dO eMPreeNdedOrisMO iMigraNte

Reconhecendo as potencialidades e as fragilidades do empreendedorismo imi-grante, governos nacionais e municipais europeus, associações de empresários e inúmeras instituições do terceiro sector têm apostado no desenvolvimento de medidas e programas dirigidas a este uni-verso. Esses actores, com vários níveis de envolvimento, têm promovido o desen-volvimento de pequenas e médias empre-sas ao introduzirem medidas de incentivo que facilitam os pequenos empresários em geral, e os empresários imigrantes, em particular. Muitas dessas intervenções centram-se em melhorar a performance dos empresários imigrantes fornecendo, por exemplo, formação e aconselhamen-to e outras formas de apoio na vertente

das competências empresariais e finan-ceiras. Outras intervenções têm procu-rado remover obstáculos do contexto regulador para as pequenas empresas, variando desde a diminuição de requisi-tos de licença para a criação de negócios, à concessão de sistemas preferenciais de acesso ao crédito. Dessa forma, esses actores enfatizaram os efeitos positivos do empreendedorismo.Portugal não é excepção: desde meados da década de 1990 que os empreendedo-res imigrantes se tornaram uma presença patente um pouco por todo o país. A política de imigração nacional acompa-nhou esta evolução na inserção económi-ca dos imigrantes. Ou seja, de uma orien-tação clara de incentivo aos fluxos de imigrantes não qualificados e/ou laborais destinados a ocupar vagas no mercado de trabalho português, observou-se nos últimos anos uma viragem que reflecte um interesse crescente também pelos imigrantes qualificados e empreende-dores. A partir de 2007, foram defini-das importantes mudanças ao nível das políticas de gestão de fluxos e das polí-ticas de integração, com consequências importantes para o empreendedorismo imigrante em Portugal. Pela primeira vez, a Lei de Imigração passou a contemplar um regime de concessão de visto de resi-dência distinto para os empreendedores imigrantes e no primeiro Plano de Acção para a Integração dos Imigrantes foi reconhecida a importância de reduzir as

POrtugal NãO é excePçãO: desde MeadOs

da década de 1990 que Os eMPreeNdedOres

iMigraNtes se tOrNaraM uMa PreseNça

PateNte uM POucO POr tOdO O País.

barreiras ao empreendedorismo imigran-te, definindo-se medidas de incentivo.A iniciativa empresarial imigrante pas-sou, pois, a ser percepcionada não ape-nas como uma alternativa à inserção dos imigrantes no mercado de trabalho português – por vezes em situações de exclusão social, de discriminação, de sobrequalificação e/ou de desemprego prolongado – mas também como uma forma de permitir a mobilidade social de alguns imigrantes, promover a oferta de novos produtos e a criação de novos postos de trabalho em Portugal. A per-cepção do potencial da imigração foi-se tornando evidente um pouco por todo o país também através de inúmeras ini-ciativas, medidas, programas e projectos de natureza governamental, privada, do terceiro sector e/ou mistos de reforço do potencial empreendedor.Muito embora o sucesso do empreende-dorismo imigrante seja contingente com vários factores – entre eles as característi-cas individuais do empreendedor, da sua comunidade imigrante, do mercado da sociedade de acolhimento e do contexto regulador –, a aposta no empreende-dorismo imigrante tem provado reunir importantes impactos positivos, tanto para as populações imigrantes como para a sociedade de acolhimento. Reconhece-se, pois, a importância de monitorizar os impactos das políticas e dos progra-mas desenvolvidos nesta vertente em Portugal.

Pela PriMeira vez, a lei

de iMigraçãO PassOu

a cONteMPlar uM

regiMe de cONcessãO

de vistO de residêNcia

distiNtO Para Os

eMPreeNdedOres

iMigraNtes.

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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B_i 14ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

e N t r e v i s t a

“as imigrantEs EmprEEndEdoras trAzem umA evolução PosItIvA no sentIDo DA emAnCIPAção femInInA”

Pretendemos estudar nesta perspectiva os três principais grupos de imigrantes em Portugal: As cinco nacionalidades dentro dos PALOP, a Europa de Leste extra-co-munitária e as cidadãs brasileiras. Procu-rámos aplicar uma perspectiva de género, havendo elementos que normalmente não se estudam no empreendedorismo masculino, como os aspectos relaciona-dos com a vida familiar, a distribuição de tarefas em casa, o relacionamento com os maridos, os cuidados dos filhos, entre ou-tros. Uma das grandes questões prendia-se com a reflexão sobre até que ponto o empreendedorismo pode ser, ou não, uma actividade libertadora e uma plata-forma de mobilidade sócio-económica.

Como foi seleccionado o universo dos inquiridos? O inquérito foi feito a estes três grupos, a nível nacional, tendo em conta as três principais regiões de residência dos imigrantes. Abarcámos o Norte Litoral,

“mulhErEs imigrantEs EmprEEndEdoras” é um Estudo sobrE

o EmprEEndEdorismo imigrantE no fEminino, rEalizado

por uma Equipa constituída pEla oim, o igot-ul E o ciEs-iul.

Em EntrEVista, Estas duas inVEstigadoras Explicam o quE

a inVEstigação procurou sabEr E as rEspostas, por VEzEs

surprEEndEntEs, quE foram obtidas.

beAtrIz PADIllA e freDerICA roDrIgues

Como surgiu o estudo “Mulheres Imigrantes Empreendedoras”? Este projecto surge de uma proposta que o professor Jorge Malheiros, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Territó-rio da Universidade de Lisboa (IGOT) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) fizeram à Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Gé-nero (CIG) para desenvolver um estudo sobre o empreendedorismo imigrante feminino usando uma perspectiva de gé-nero. Assim, a OIM e Jorge Malheiros entraram em contacto comigo [Beatriz Padilla], porque tinha trabalhado tanto sobre género, como sobre as migrações femininas e a mulher brasileira, em par-ticular. A ideia foi estudar o empreende-dorismo imigrante feminino, um tema que não tinha sido ainda estudado numa perspectiva de género. Sabemos que uma tendência dos últimos anos é aquilo a que se chama a “feminização das migrações”: Cada vez há mais mulheres imigrantes

com diferentes motivações, como a reu-nificação familiar ou o início de novos projectos migratórios. Tudo isto se con-jugou para aumentar a necessidade e o interesse de estudar estes temas.O estudo tem três pilares principais. Um, é a questão da feminização das migrações, pelo aumento do número absoluto, mas também pela diversificação dos padrões migratórios, que precisava de ser con-templada num estudo. Por outro lado, já havia alguns estudos sobre o empreende-dorismo imigrante mas nenhum que se dedicasse a estudar não só as mulheres, mas também as diferenças entre homens e mulheres neste aspecto. Esta necessi-dade de estudar as mulheres imigrantes empreendedoras surge também de algu-ma literatura científica nos indicar que muitas mulheres estão em empresas fami-liares mas um número crescente começa também a ter projectos autónomos, que não incluem nem os maridos nem outros membros da família.

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tadas foram sobretudo de índole pessoal, de realização, de procura de autonomia, de liberdade de horários. Como é óbvio, as motivações económicas apareceram mas em terceiro lugar - não são o móbil principal. Acrescentaria também a espe-rança de poderem conciliar a sua vida familiar com o trabalho, tendo um horá-rio mais flexível. Isso nem sempre é pos-sível mas há a expectativa de que, sendo patroas de si próprias, consigam um melhor compromisso de horários. Em consequência, estas mulheres estão mais satisfeitas com o estatuto social, com a relação com os filhos e com a relação com o parceiro. Outros estudos não pergun-tam isto aos homens e essa é uma grande diferença... Com estes dados, podemos arriscar dizer que há uma evolução posi-tiva no sentido da emancipação feminina após a abertura do negócio.

Existe algum momento específico na vida das empreendedoras que as faça tomar esta opção? Verificámos que o empreendedorismo ocorre mais ou menos a meio da carreira profissional. Ocorre, em média, ao fim

Braga, Porto e Aveiro, depois Lisboa e Setúbal e Faro. Definimos o método de investigação que, neste caso, implicou uma análise bibliográfica e a aplicação de 450 inquéritos, em que 75 por cento são feitos a mulheres e 25 por cento a homens. Posteriormente, numa fase mais avançada da investigação, realizá-mos entrevistas semi-estruturadas quer a agentes-chave no domínio do empre-endedorismo (como o IAPMEI, IEFP, APME, ANDC, IFDEP, ACIDI) como a mulheres e homens imigrantes empre-endedores. É possível compreender as causas do impulso empreendedor? O inquérito perguntava quais eram as motivações das mulheres para seguirem a via do trabalho por conta própria. É curioso que, na maior parte dos casos, se apontassem motivos de oportunidade e não de necessidade, pois a maioria estava empregada por conta de outrém a tempo inteiro. Por outro lado, havia também uma pequena percentagem de mulheres que estavam em situação de desemprego ou de inactividade. As motivações apon-

de sete anos e quatro meses de residência em Portugal, depois de estarem bem inseridas e conhecerem a estrutura insti-tucional. É um pouco mais de tempo que os homens, o que se deve ao facto de a conciliação da vida profissional e familiar ser mais difícil. São jovens, casadas, com níveis de educação intermédios. É inte-ressante comparar isto com o que dizem certos investigadores, que afirmam que são geralmente as pessoas com menor nível de formação as mais empreendedo-ras. Outros investigadores sugerem que o problema da língua estimula o empreen-dedorismo, o que seria assim uma forma de os empreendedores encontrarem um nicho étnico. No nosso caso, parece que o tema da língua não é importante por-que tanto as africanas como as brasileiras falam português e os imigrantes de leste aprendem a língua muito rapidamente. Isto é, não estamos a falar de situações análogas às das “chinatowns” dos Estados Unidos...

Quais são as actividades principais? Isso é muito interessante. As actividades de homens e de mulheres são bastante

PrOcuráMOs aPlicar

uMa PersPectiva de

géNerO, haveNdO

eleMeNtOs que

NOrMalMeNte NãO

se estudaM NO

eMPreeNdedOrisMO

MasculiNO.

jaciNta, uMa FOrMaNda dO Pei

EMPREENDEDORISMO,

UMa SaíDa PaRa a cRISE?

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B_i 16ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

diferentes. No caso das mulheres o prin-cipal sector, com 37%, é a beleza, entre a prestação de serviços e a comercialização de produtos nesta área. Em segundo lugar, surgem a hotelaria e restauração e, em terceiro, o comércio. Há um quarto lugar, que designámos por “serviços de apoio doméstico”, como por exemplo costureiras, lavandarias, baby-sitters, entre outras. No caso dos homens, temos como actividade principal o comércio, em segundo lugar a construção civil, em terceiro lugar a hotelaria e restauração e, em quarto lugar, as actividades relaciona-das com a beleza.

Os negócios são muito orientados para a comunidade? Depende dos grupos e dos sectores de actividade. A comunidade imigrante, intra ou inter-comunitária, é importante para estas imigrantes empreendedoras mas elas baseiam-se sobretudo nos clien-tes portugueses. Isto não quer dizer, contudo, que não existam especificidades étnicas nos negócios, como a compra de produtos do ou no país de origem ou alusão a factores identitários nas escolhas dos nomes dos negócios. Nos facto-res de sucesso apontados pelas imigran-tes, há quem indique o “exotismo” e a “especificidade étnica” como trunfos de diferenciação do produto ou serviço no mercado.

Quais são as principais dificuldades? A principal dificuldade é a falta de capital e o acesso ao financiamento, tanto para homens como para mulheres. Depois surge a burocracia e o relacionamento com as autoridades oficiais e a dificulda-de em encontrar instalações apropriadas, mas provavelmente estes não são proble-mas apenas para os imigrantes. Foram também referidos a falta de experiência, a discriminação, os problemas de abasteci-mento dos produtos necessários ao negó-cio, o desconhecimento da legislação, a

falta de mão-de-obra e a dificuldade em encontrar um bom parceiro de negócios. Houve algumas surpresas porque parti-mos do princípio que as mulheres teriam maiores dificuldades. É verdade que as mulheres empreendedoras demoram mais tempo a abrir um negócio, mas há mais mulheres a dizer que não tiveram nenhuma dificuldade do que homens. Outro indicador do estudo vai contra aquilo que alguma literatura indica sobre as mulheres terem maior dificuldade no acesso a financiamento. Temos mais homens do que mulheres a dizer que têm essa dificuldade. Mas é preciso ter cuida-do com esta informação porque o investi-

mento inicial no projecto de uma mulher poderá ser mais baixo, especialmente em algumas áreas de actividade, e não temos dados que nos indiquem em que nome foi pedido o empréstimo bancário.

Que avaliação faz o estudo dos programas de apoio existentes? Verificámos que não há nenhum progra-ma específico para mulheres imigrantes empreendedoras. Há programas específi-cos para mulheres mas que não incluem a componente imigrante e há programas específicos para imigrantes, nomeada-mente o programa de apoio ao empre-endedorismo imigrante do ACIDI, que não contemplam a vertente de género. Dão-se passos num sentido positivo mas consideramos que há espaço para avan-çar mais. Uma das questões que nos colocámos foi se faria sentido haver um programa específico para estas mulheres. Chegámos à conclusão de que talvez não fosse essa a melhor via. De acordo com as entrevistas com actores-chave nesta área (designadamente de responsáveis do IEFP, da Associação de Mulheres Empresárias, da Associação Nacional de Direito ao Crédito), não faria tanto sentido um programa específico, mas antes um programa generalista que tives-se em conta algumas especificidades das mulheres, nomeadamente no que toca aos sectores de actividade. Sabendo que estes são diferentes, há ferramentas e nuances específicas de género que devem ser tomadas em conta. Uma boa linha de actuação poderá ser aquela que foi segui-da pelo programa Português Para Todos (PPT), que tem um módulo específico para o sector da beleza. Isto é claramente ter em conta especificidades de género. Poderia ainda haver algum apoio no que toca à conciliação entre a vida profissio-nal e familiar e é também importante a avaliação posterior dos projectos de apoio, para saber se funcionam ou não.

a ideia FOi estudar O

eMPreeNdedOrisMO

iMigraNte FeMiNiNO,

uM teMa que NãO

tiNha sidO aiNda

estudadO NuMa

PersPectiva de

géNerO.

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escolhas

ainda em fase de experimentação, os manuais, que estão a ser produzidos no âmbito de uma parce-ria entre o Programa Escolhas e a Universidade Católica do Porto, vão estrear-se no primeiro

trimestre de 2011. Divididos em 13 sessões, os manuais exploram aspectos como as características pessoais dos jovens, as relações interpessoais, o conhecimento da comunidade envolvente, a identificação de iniciativas empreendedoras na comunidade, a geração e estruturação de ideias e projectos, o planeamento, gestão e comunicação de projectos. Esta iniciativa surge no âmbito da nova medida de intervenção do Programa, dedicada ao empreendedorismo e capacitação, e tem um carácter inovador, na medida em que está a ser construída à medida dos jovens destinatários do Programa Escolhas. Paul Osswald, professor de empreendedorismo na Universidade Católica do Porto, reconhece nesta formação dirigida a jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 24 anos, vindos de contextos socialmente vulneráveis, “uma ferramenta de esperança para as pessoas poderem construir o seu próprio futuro e ajudarem a construir o futuro das comunidades em que estão inseridas”. Durante a formação, será oferecida aos jovens a possibilidade de desenvolverem um projecto de forma estruturada e, ao mesmo tempo, mostrar-lhes que a integração na comunidade que os envolve não só é possível, como também acrescenta valor a essa comunidade. Pretende-se que os jovens compreen-dam que está ao seu alcance serem empreendedores e ajudá-los a desmistificar alguns preconceitos que os podem limitar na sua capacidade de acção, o que muitas vezes os impede de acreditar que são capazes de intervir de uma forma que faz todo o sentido.

CAPACItAr PArA o emPreenDeDorIsmo o programa Escolhas Está a prEparar o lançamEnto

dE dois manuais sobrE EmprEEndEdorismo

dEstinados, rEspEctiVamEntE, a joVEns E a técnicos

dos projEctos Escolhas. trata-sE dE uma clara aposta

do programa na capacitação E autonomia dos joVEns,

quE sE EspEra Vir a contribuir dE uma forma EfEctiVa

para a sua inclusão social.

Aqueles que terminarem esta formação, não só terão a pos-sibilidade de beneficiar de um conjunto de acções que lhes permite adquirir novos saberes e novas formas de empreender na vida, como poderão ficar com um projecto que pode ser de índole empresarial, social ou de auto-emprego. Mas o principal objectivo é ajudar os jovens a adquirir competências e atitudes empreendedoras para a vida. Competências especial-mente importantes, num tempo de crise e mudança, às quais o Programa Escolhas vai juntar, também em 2011, um concurso de ideias com vista a incentivar a criatividade e pro-actividade deste público.

esta iNiciativa surge NO âMBitO

da NOva Medida de iNterveNçãO

dO PrOgraMa, dedicada aO

eMPreeNdedOrisMO e caPacitaçãO,

e teM uM carácter iNOvadOr.

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B_i 18ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010B_i 18ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

Nos últimos 10 anos, a Região Autónoma dos Açores tem acolhido fluxos migratórios prove-nientes, essencialmente, de Cabo Verde, Brasil e Ucrânia. Segundo os dados do SEF de 2009,

vivem legalmente na Região mais de 4.000 cidadãos imigrantes provenientes de mais de 70 países, representando muito perto de 2% da população residente.Estes imigrantes, dispersos por todas as ilhas do Arquipélago dos Açores (de Santa Maria ao Corvo), e cada um com o seu percurso, expectativas e espírito empreendedor, têm prestado, ao lado dos açorianos de nascimento, um contributo inestimá-vel para o desenvolvimento económico, social e cultural dos Açores.Com o objectivo de identificar e divul-gar as boas práticas na área do empreen-dedorismo imigrante, a Associação dos Imigrantes nos Açores – AIPA, responsá-vel pelos Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes em Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, foi ao encontro de 25 cidadãos oriundos de 10 países diferentes e que desenvol-vem actividades empresariais ou académicas ou, ainda, aqueles que com a sua acção contribuem para a valorização e integra-ção dos imigrantes na Região.Com base nos testemunhos recolhidos, pretende-se publicar uma revista de distribuição gratuita, juntamente com o Jornal “Açoriano Oriental” (que se associou à iniciativa), dando a conhecer esta realidade, na convicção de que tal servirá de estímulo para outros imigrantes e de reconhecimento junto da própria sociedade açoriana.Tal acção faz parte de um conjunto de nove actividades que integram o projecto “Olhar-a-Cores”, no âmbito da iniciativa de “Promoção da Interculturalidade a nível Municipal”, em parceria com o Alto comissariado para a Imigração e Diálogo

rEdE claiium ContrIbuto PArA o emPreenDeDorIsmo ImIgrAnte vInDo Dos Açores

Intercultural – ACIDI, I.P., co-financiada pelo Fundo Europeu para a Integração de Nacionais de Países Terceiros – FEINPT.Entre alguns desses testemunhos e a título meramente ilustra-tivo, destacam-se:José Marcolino Kongo, angolano, professor do Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e que faz parte de uma geração de imigrantes que veio para Portugal/Açores soprada pelos ventos das guerras internas no então Ultramar, após a descolonização que se seguiu à revolução de 25 de Abril.Rosivalda Veiros, brasileira, uma baiana de Salvador residente nos Açores há 18 anos, é hoje empresária e gere o seu próprio

negócio, no centro da maior cidade açoriana, Ponta Delgada, onde vende todos os sabores necessários aos pratos tradicionais, para confeccionar receitas brasileiras e matar saudades.Sameer Rege, indiano, veio aos Açores

realizar o pós-doutoramento na Universidade dos Açores, em 2006, e acabou por ficar, dedicando-se à investigação no departamento de Economia da Universidade dos Açores.Nadiya Kazachkova, ucraniana, é hoje investigadora em genética no Centro de Investigação de Recursos Naturais na Universidade dos Açores, depois de se ter especializado na Suécia, e escolhido mais recentemente os Açores para viver.Finalmente, em Angra do Heroísmo, fomos encontrar Néné, uma imigrante caboverdiana que imigrou para os Açores aquando do sismo de 1980, juntamente com o marido. Hoje, é proprietária do famoso restaurante “A Africana”.Os testemunhos recolhidos são exemplo de boas práticas bem sucedidas na área do empreendedorismo imigrante e traduzem de forma expressiva a diversidade cultural que enriquece toda a comunidade açoriana e que valoriza Portugal.

claii

artigo elaborado pela associação dos imigrantes nos açores (aipa), parceira nos claii de ponta delgada e de angra do

heroísmo

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breves

lisboa

RoteiRos de saúde paRa todos os imigRantes A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa e o

ACIDI, juntamente com o Alto Comissariado da Saúde e um conjunto vasto de

parceiros promovem, de 2 a 13 de Novembro, os “Roteiros de Saúde para Todos

os Imigrantes”.

Os Roteiros de Saúde para Todos os Imigrantes são um projecto de intervenção

comunitária envolvendo um conjunto alargado de parceiros que têm como

objectivo comum contribuir para uma melhor saúde das famílias imigrantes,

tenham estas ou não a sua situação regularizada. Desta vez, os Roteiros são subordinados ao tema da Saúde Respiratória e Saúde Materno-Infantil e realizam-se nas

freguesias de Beato e Marvila. Uma unidade móvel estará até ao dia 13 de Novembro junto ao Lidl de Xabregas, entre as 10h00 e as 18h00.

Os objectivos desta iniciativa são difundir informação útil através dos meios adequados, em diversas línguas (português, russo, ucraniano) e desenvolver um conjunto

de actividades de promoção e educação para a saúde. Concretamente, realizar-se-ão sessões de educação e de sensibilização para a saúde, rastreios de saúde e expo-

sições de pintura e de fotografia sobre os temas envolvidos. Terão ainda lugar palestras/debates dedicados ao tema da saúde e reuniões com o público-alvo para escla-

recimento e sensibilização. Desta forma, pretende-se proporcionar um ambiente de confraternização e de confiança, contribuindo para avaliar o impacto deste tipo de

intervenção junto da população imigrante.

Mais informações: www.scml.pt/roteiros

Vaticano papa pede pRotecção paRa Refugiados

O Papa alertou a comunidade internacional para a importância de

acompanhar a situação dos refugiados e dos outros migrantes forçados,

que apresenta como parte relevante do fenómeno migratório actual.

Conforme refere a Agência Ecclesia, Bento XVI pronuncia-se sobre este

tema na sua mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2011,

intitulada “Uma só família humana”. O texto lembra que, em vários casos,

a partida do próprio país é estimulada por diversas formas de perseguição,

apontando experiências dramáticas e indignas do homem e das sociedades

contemporâneas.

No documento, divulgado pelo Vaticano no dia 26 de Outubro, o Papa

observa que a Comunidade internacional assumiu compromissos bem

determinados em relação às pessoas que fogem de violências e de

perseguições. Para Bento XVI, é fundamental que todos os que são forçados

a deixar as suas casas ou a sua terra sejam ajudados a encontrar um lugar

no qual viver em paz e em segurança, onde trabalhar e assumir os direitos e

deveres existentes no país que os acolhe. A mensagem refere que os Estados

têm o direito de regular os fluxos migratórios e de defender as próprias

fronteiras e indica que os imigrantes têm o dever de se integrarem no país

que os recebe, respeitando as suas leis e a identidade nacional.

A dimensão religiosa da vida merece particular destaque, com Bento XVI

a afirmar que, nas actuais sociedades, as pessoas de várias religiões são

estimuladas ao diálogo, para que se possa encontrar uma serena e frutuosa

convivência no respeito das legítimas diferenças. Bento XVI convida ainda

a apoiar os estudantes estrangeiros e a acompanhar os seus problemas

concretos.

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B_i 20ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

ViVianE rEding, comissária EuropEia duRas cRíticas ao tRatamento dos ciganos na euRopa

dEbatE

Racismo, discRiminação e pReconceito O Instituto de Sociologia da Universidade do Porto reedita o Ciclo de Debates já realizado no

ano lectivo anterior com o propósito de discutir e reflectir sobre grandes questões e conceitos

da Sociologia. O próximo debate tem lugar no dia 25 de Novembro subordinado ao tema “Um

conceito, mil palavras”.

A oradora é Maria Manuela Mendes (Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de

Lisboa e Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa),

que apresenta uma comunicação intitulada “Racismo, discriminação e preconceito: um debate

possível”. Os comentários estão a cargo de Maria João Oliveira (Instituto de Sociologia da

Faculdade de Letras da Universidade do Porto, IS-FLUP).

A sessão, aberta ao público, realiza-se pelas 17h30 na Sala 310 da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Durante uma conferência de imprensa em Lausana, sobre o futuro das relações entre a Suíça e a União Europeia, Viviane

Reding, comissária europeia para a Justiça, considerou que a situação em que vivem os ciganos na Europa é escandalosa

para todos os europeus.

Reding afirmou que os ciganos europeus são a maior minoria do continente – dez milhões de pessoas – e vivem em pobreza

absoluta, sem acesso a habitação e muitas vezes igualmente sem acesso a cuidados de saúde.

A comissária europeia, que criticou a expulsão de ciganos em França e recentemente pediu a cada Estado-membro do bloco

europeu que lhe apresentasse o seu programa de integração dos ciganos, considerou particularmente escandaloso que as

crianças das comunidades ciganas não tenham por vezes a possibilidade de frequentar a escola.

prémio libErdadE rEligiosa distinguiR e divulgaR tRabalhos de investigação científica O prémio Liberdade Religiosa, instituído em 2010 pela Comissão da Liberdade

Religiosa, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, é um prémio anual

que visa distinguir e divulgar trabalhos de investigação científica na área

da Liberdade Religiosa, particularmente os que incidam sobre Portugal

e os países da União Europeia, e sobretudo aqueles em que a liberdade de

consciência e a liberdade de religião não são respeitadas.

Na sua primeira edição, o prémio Liberdade Religiosa foi atribuído ao trabalho

“A discriminação religiosa na perspectiva das confissões minoritárias�,

conduzido por três investigadores da Númena.

A equipa constituída por Pedro Soares, Tiago Santos e Isabel Tomás

empreendeu uma investigação cujo objectivo central foi reconhecer os

principais focos de discriminação religiosa na perspectiva das representações

dos líderes das confissões minoritárias. Partindo de uma amostra

intencional de 16 confissões, cujos líderes foram inquiridos por meio de

entrevistas, os autores puderam concluir pela existência de oportunidades

de aperfeiçoamento ao nível da implementação prática da Lei da Liberdade

Religiosa, das atitudes sociais prevalentes, da sensibilização do governo local

e ao nível simbólico e da perpetuação de estereótipos.

O Prémio tem uma componente monetária e outra de divulgação, sendo o

trabalho premiado publicado com o apoio da Comissão da Liberdade Religiosa.

Para mais informações consultar: www.clr.mj.pt

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breves

dia intErnacional do migrantE acidi pRomove fóRum sobRe integRação No âmbito das celebrações do Dia Internacional do Migrante, o ACIDI promove o

Fórum Internacional “Integração de Imigrantes”, que terá lugar na Fundação Calouste

Gulbenkian, nos dias 16 e 17 de Dezembro

O Fórum visa promover o debate e a reflexão em torno da integração dos imigrantes,

mobilizando o diálogo entre investigadores, decisores políticos e representantes

de organizações da sociedade civil, entre outros, e contando com a presença de

especialistas internacionais desta área. Este evento integra quatro sessões plenárias:

a monitorização internacional das políticas de integração de imigrantes; a promoção

do diálogo intercultural; os desafios para o poder local da integração dos imigrantes

e a reciprocidade e a participação política dos imigrantes. Nas sessões participarão

especialistas nacionais e internacionais como o Coordenador da Rede de Excelência

IMISCOE e altos representantes da ONU, OCDE, OIM, Migration Policy Group e ERICarts,

entre outras.

Serão ainda lançadas e discutidas cinco novas publicações do Observatório da Imigração

sobre os seguintes temas: Imigrantes idosos, imigração e sinistralidade laboral,

imigração e saúde, imigração e género e imigração e justiça penal. O Fórum encerrará

com a entrega dos prémios da Plataforma Imigração.

As confirmações de presença deverão ser feitas através do e-mail [email protected].

pt ou do telefone +351 21 810 61 70, até ao dia 14 de Dezembro.

bragaacidi Junto das comunidades ciganas Com o objectivo de desenvolver uma política de maior proximidade às comunidades

de imigrantes e minorias étnicas, o ACIDI promoveu, nos dias 25 e 26 de Outubro, no

distrito de Braga, a iniciativa “ACIDI Junto das Comunidades Ciganas”. Esta edição da

iniciativa teve como objectivo conhecer mais de perto as necessidades e dificuldades

das comunidades ciganas do distrito de Braga, nomeadamente no que respeita à sua

integração na sociedade.

Assim, os dois dias agendados foram dedicados ao contacto directo com interlocutores

locais privilegiados, bem como com a comunidade local em geral, através de reuniões,

visitas aos projectos do Programa Escolhas sediados em Braga (com intervenção em

comunidades ciganas) e ao Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII) de

Braga.

Para o início do dia 25, esteve agendada a assinatura de um protocolo entre o ACIDI e o Programa Juventude em Acção. Seguiu-se uma reunião de trabalho com

agentes políticos, sociais e económicos locais e, após o almoço, visitas a três projectos implementados no distrito de Braga que promovem a integração e a

mediação entre a sociedade civil e a comunidade cigana. O dia terminou com a apresentação da peça de teatro Porta Cigana, sobre os percursos dos ciganos e a

riqueza da sua cultura, no Auditório do Instituto Português da Juventude.

O segundo dia do programa começou com o Seminário Inclusão Social das Comunidades Ciganas, no Auditório Multimédia do Instituto de Educação da

Universidade do Minho. O painel contou com a Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, o Presidente do Instituto, Leandro

Silva Almeida, a professora Maria José Casa-Nova, especialista na temática e que apresentou o seu estudo “Incluir para Autonomizar: das políticas à sociedade

global” e ainda com a participação de elementos de equipas dos projectos sociais que trabalham no terreno. O dia prosseguiu com uma visita a um projecto e a uma

escola e terminou com uma conferência de imprensa na sede da Cruz Vermelha de Braga, onde foi realizado o balanço da iniciativa.

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B_i 22ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

acadEmia ubuntu capacitaR Jovens lídeRes No dia 7 de Outubro, foi apresentada na Fundação Gulbenkian a Academia UBUNTU, um programa

de formação para a liderança dirigido a jovens descendentes de imigrantes africanos. Esta é

uma iniciativa do Instituto Padre António Vieira (IPAV), apoiada pelo Programa Gulbenkian

de Desenvolvimento Humano, que pretende capacitar jovens líderes africanos para que sejam

agentes de transformação no seio das suas comunidades. As referências deste percurso formativo

são as grandes figuras da cultura africana Ubuntu, tais como Nelson Mandela, Martin Luther King

e Desmond Tutu.

O Programa da Academia tem a duração de um ano, entre Outubro de 2010 e Setembro de 2011, e

inclui seminários, sessões com debates, visitas, visionamento de filmes e convidados, um campo

de férias sobre a temática Ubuntu e uma conferência final com comunicações dos participantes.

Como instrumento de trabalho é disponibilizada a cada participante uma pequena biblioteca/

mediateca.

Procurar-se-á, através das actividades da Academia, reforçar a auto-estima, a resiliência, a

capacidade de liderança, de gestão de conflitos e de comunicação. Pretende-se ainda trabalhar

competências de gestão de projecto e de planeamento. Como resultado final, ambiciona-se ainda

contribuir para a consolidação do projecto de desenvolvimento pessoal de cada participante e

para o reforço da sua disponibilidade de serviço à comunidade.

A Academia Ubuntu está vocacionada para jovens com elevado potencial e com a firme

determinação de cumprir todo o programa. São ao todo quarenta jovens, em dois programas

distintos, organizados por faixa etária (15-21 e 22-35 anos). Os participantes foram seleccionados

a partir de propostas apresentadas por, entre outras instituições, escolas, universidades,

associações de imigrantes, associações culturais e projectos do Programa Escolhas.

Mais informações: www.academiaubuntu.org

dEmografia

númeRo de estRangeiRos em poRtugal diminuiu O número de estrangeiros residentes em Portugal diminuiu 0,8 por cento

entre 2008 e 2009 para cerca de 443 mil pessoas, contrariamente ao que

sucedeu em Espanha, onde a população residente estrangeira aumentou 7

por cento, ultrapassando os 5,6 milhões.

Os dados são da Pordata, uma base de dados estatísticos da Fundação

Francisco Manuel dos Santos. De acordo com os dados disponíveis, referidos

pela agência Lusa, em 2008 a população residente estrangeira em Portugal

atingia as 446.333 pessoas, número que baixou em 2009 para as 443.102

pessoas.

A Pordata alargou a informação estatística que tem disponível a dados sobre

a Europa. Os dados podem ser pesquisados pelos seguintes temas: população,

educação, saúde, protecção social, emprego, contas nacionais, empresas,

ambiente e território, ciência e tecnologia e habitação.

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EVENTO DESCRIÇÃO DATA LOCAL HORA

Roteiros de Saúde Roteiros de Saúde para Todos os Imigrantes 2-13 Novembro Xabregas 10h00-18h00

Colóquio Colóquio ‘’Migrações, minorias e diversidade cultural”

11 Novembro Fundação Calouste Gulbenkian 9h30-15h30

Cimeira internacional IV Cimeira da Igualdade 15-16 Novembro Bruxelas Todo o dia

Rotas & RituaisA terceira edição do Rotas & Rituais tem por tema “Imigrantes, os Emigrantes que somos”

15-30 Novembro Padrão dos Descobrimentos / Cinema S. Jorge

Todo o dia

Plano para a Integração dos ImigrantesEncontro da Rede Pontos Focais de Acompanhamento do PII

23 Novembro CNAI 10h30

Rede GIP Imigrante V Encontro Rede GIP Imigrante 25, 26 e 27 de Novembro Hotel Londres, Estoril dia 25: 14h30-21h30dia 26: 9h-22h30dia 27: 9h-13h

Cinema Ciclo de Cinema contra o Racismo 25 Novembro a 5 Janeiro Universidade Lusófona 18h30

CLAIIEncontro dos Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes

9-10 Dezembro Coimbra 11h00-23h00 e 9h00-13h00

Fórum Internacional Fórum Internacional Integração de Imigrantes 16-17 Dezembro Fundação Calouste Gulbenkian 9h30-17h30

Estudo na união EuropEia minoRias alvo de policiamento “paRticulaRmente foRte” Os cidadãos pertencentes a uma minoria na União Europeia têm mais probabilidade de ser objecto de controlos policiais do que as pessoas da população

maioritária, revela um estudo publicado no dia 11 de Outubro pela Agência dos Direitos Fundamentais da UE. Segundo o relatório sobre os controlos policiais e as

minorias, divulgados pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA) e referido pela agência Lusa, alguns grupos minoritárias residentes na UE

são alvo de um policiamento particularmente forte. Como exemplo, o estudo refere os inquiridos de etnia cigana na Grécia ou os cidadãos do Norte de África em

Itália, no que se refere ao controlo de documentos.

O relatório salienta que o Reino Unido é o único dos 27 Estados-

membros da UE que recolhe e publica sistematicamente dados da polícia

sobre os controlos policiais, incluindo informações sobre a origem

étnica das pessoas controladas. Graças a estes dados, a polícia e as

comunidades locais são informadas da situação existente no terreno e

podem identificar as práticas policiais que possam ser discriminatórias.

Para o inquérito, a Agência dos Direitos Fundamentais entrevistou

23.500 imigrantes e membros de minorias étnicas nos 27 Estados-

membros da UE e 5.000 pessoas pertencentes à população maioritária,

residentes em zonas também habitadas por minorias, em dez Estados-

membros (Bélgica, Bulgária, Alemanha, Grécia, Espanha, França, Itália,

Hungria, Roménia e Eslováquia).

agenda

breves

agenda

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dossieR do empReendedoR

Autor: José Ferreira Edição: PEI

Para o apoio à formação, o PEI – Promoção do Empreendedorismo Imigrante – disponibiliza o Dossier do Empreendedor (DE), uma adaptação da “Carta de Criação de Negócios para a Inclusão�, criada pela Central Business, no âmbito do K’Cidade, com financiamento Equal. O DE permite obter informações sobre a criação de negócios, através de um separador específico desig-

nado “Guia para Iniciar o Seu Negócio Passo a Passo�, bem como dotar os seus utilizadores, com o apoio do formador, de ferramentas e conhecimentos que lhe permitirão a criação de um plano de negócios. Para este fim, existe um outro separador com fichas de trabalho onde é possível detalhar os seguintes assuntos no que respeita à ideia de negócio que se pretende desenvolver: Negócio; Produto; Serviço; Local; Concorrência; Clientes; Promoção; Custos; Vendas; Lucros.

B_i ACIDI REVISTA Nº 86 NOVEMBRO 2010

empResáRios de oRigem imigRante

Autor: Catarina Reis Oliveira Edição: Observatório da Imigração (2004)

No passado acreditou-se que os empregos em empresas de imi-grantes eram equivalentes ao segmento inferior do mercado de trabalho das sociedades de aco-lhimento, e que diminuíam as pos-sibilidades de mobilidade social futura. Porém, estudos recentes mostraram que esse não é o caso. Os empregos nestas empresas podem ser o melhor modo de ace-der a posições de supervisão ou

liderança e de adquirir o capital necessário para o desen-volvimento de negócios próprios. Com o intuito de explorar essas novas estratégias de integração económica no mercado português, introduzidas pelos imigrantes e seus descenden-tes, realizou-se um inquérito por questionário a empresários de origem cabo-verdiana, chinesa e indiana.

handbook of micRocRedit in euRope

Coordenação: Barbara Jayo Carboni, Maricruz Lacalle Calderón, Silvia Rico Garrido, Karl Dayson, Jill Kickul Edição: Edward Elgar Publishing (2010)

O microcrédito na Europa não foi muitas vezes capaz de emular o sucesso que teve nos países em desenvolvimento. Mas, por todo o continente, as perspectivas estão a melhorar. O “Handbook of Microcredit in Europe: Social Inclusion Through Microen-terprise Development” explica como, destinando-se a actores no terreno e investigadores que procurem tornar o microcrédito um instrumento eficaz de políti-

cas sociais. Reunindo autores de contextos multidiscipli-nares, trata-se do primeiro livro deste género a analisar a situação do microcrédito no velho continente e as formas como os europeus adoptam e adaptam este modelo trazido de outros lugares.

cultura

O ACIDI, I.P. prossegue atribuições da Presidência do Conselho de Ministros, regulado pelo D.L.

nº. 167/2007, de 3 Maio

ACIDI, I.P.

LISBOARua Álvaro Coutinho, nº 14-16 1150-025 Lisboa

Tel.: 218 106 100 Fax: 218 106 117LINHA SOS IMIGRANTE: 808 257 257 / 21 810 61 91

[email protected]

www.acidi.gov.pt

B_iDirecção

Rosário FarmhouseAlta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural

Coordenação da ediçãoElisa Luis

RedacçãoJogo de Letras

[email protected]

DesignBuilding Factory

[email protected]

Colaboraram nesta edição Ana Couteiro, Ana Correia, Catarina Reis Oliveira, Inês Rodrigues,

Luís Pascoal, Margarida Caseiro, Paula Moura, Susana Antunes, Tatiana Gomes

CapaLUSA

ImpressãoOffsetmais, Artes Gráficas, S.A.

Tiragem6.000 exemplares

Depósito Legal...

the adventuRes of an economic migRant

Autor: Tony WadeEdição: Ian Randle Publishers (2007)

Quem é Tony Wade e o que faz com que a história das suas experiências seja diferente e única entre as dezenas de milhares de pessoas que emigraram das Caraíbas para a Grã-Bretanha? Trata-se de um homem que fundou a mais bem sucedida empresa criada por um negro numa altura em que era difícil conseguir financiamento e entrar no mercado dos produtos de beleza, num ambiente hostil às minorias. A história das suas aventuras transmite uma importante lição aos jovens em-preendedores imigrantes: Ensina que o sucesso não resulta daquilo que se é, mas da capacidade de permanecer centrado em cumprir objectivos, e da perseverança em tempos complexos, con-servando ao mesmo tempo a integridade e a honestidade nas práticas negociais e na vida pessoal.

programa nós

domingos: Rtp2 às 9h50 segunda a sexta: Rtp1 às 6h05

Novembro fica marcado por mais inicia-tivas ligadas à Imigração e ao Diálogo Intercultural. Vamos dar-lhe a conhecer mais sobre a Comunidade Cigana e desven-dar-lhe o segredo do sucesso da Mediação Intercultural no nosso país. Vamos ainda conhecer como conseguem os empreendedores imigrantes ter sucesso e de que forma o PEI os pode ajudar. E claro, porque este é um programa de comunidades vamos revelar-lhe os segre-dos da Comunidade Indiana. Novembro reserva ainda uma grande surpresa no Nós, para descobrir qual é vai ter que

acompanhar o programa. Verá que não se vai arrepen-der. Por tudo isto e muito mais continue a juntar-se a

Nos, um programa de pessoas, feito para pessoas e espe-cialmente feito a pensar em si!

ethnicity, migRation and enteRpRise

Autor: Prodromos Panayiotopoulos Edição: Palgrave Macmillan (2010)

Ao investigar o desenvolvimen-to do empreendedorismo entre quatro grupos de imigrantes nos EUA – “hispânicos”, chineses, tur-cos e polacos – este livro explo-ra a contribuição dos imigran-tes para o mundo empresarial. Estes empreendedores mostram que, longe de tirar trabalho aos cidadãos dos países de origem, os imigrantes estão na realida-de a criar um grande número de empregos, desde os restaurantes

étnicos até às grandes empresas de tecnologias de informa-ção. Frequentemente, os empreendedores começam como trabalhadores por conta de outrém e, para enfrentar a crise, recorrem ao auto-emprego e às pequenas empresas como uma estratégia de sobrevivência. Esta investigação mostra como muitas empresas surgiram desta forma e se integraram na economia do país de acolhimento.