Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite...

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Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho Lopes Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Júri Presidente: Prof. Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito Orientadores: Prof. João Paulo Janeiro Gomes Ferreira Engª. Maria da Glória de Almeida Gomes Vogal: Doutor Fernando Marques da Silva Setembro de 2008

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Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação da camada limite atmosférica para o estudo da

acção do vento sobre edifícios

Miguel Filipe Pinho Lopes

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Júri Presidente: Prof. Jorge Manuel Caliço Lopes de Brito

Orientadores: Prof. João Paulo Janeiro Gomes Ferreira

Engª. Maria da Glória de Almeida Gomes

Vogal: Doutor Fernando Marques da Silva

Setembro de 2008

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I

Agradecimentos

Ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, nomeadamente ao Eng. Marques da Silva do NOE,

pela ajuda na calibração dos anemómetros e pela colaboração nos ensaios de caracterização da

turbulência.

Ao Pedro Pinho pelas fotografias do túnel de vento.

Aos meus colegas Afonso Tiago, Rui Gomes, João Baltazar, João Henriques do Instituto de

Engenharia Mecânica e ao Prof. José Conde da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade

Nova de Lisboa, pelos conselhos e a ajuda na construção do modelo numérico e análise de

resultados.

Ao Prof. João Ferreira e à Eng. Maria da Glória Gomes pela disponibilidade e pelo constante

entusiasmo por este projecto.

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II

Resumo

A acção do vento sobre estruturas é influenciada pelos pelo perfis de velocidades e de turbulência

sobre elas incidentes, que caracterizam a Camada Limite Atmosférica (CLA). Neste trabalho

apresentam-se métodos numéricos e experimentais de simulação da CLA e exemplifica-se a sua

utilização para a determinação da acção do vento sobre edifícios.

Na parte experimental, foi realizada uma simulação da CLA no túnel de vento do DECIVIL-IST.

Utilizando elementos passivos para criar rugosidade aerodinâmica, foi possível simular à escala

1/444, com boa aproximação, o perfil de velocidades médias que corresponde a um terreno de tipo

suburbano. Verificou-se ainda um bom ajuste da turbulência simulada sobretudo na zona inferior da

camada limite e para as frequências mais altas. Os resultados da medição de coeficientes de pressão

num modelo cúbico sujeito ao perfil de velocidades simulado corresponderam ao esperado na face

frontal do modelo, enquanto que nas faces de sucção a distribuição de pressões não foi tão próxima

do esperado, provavelmente devido à posição do modelo no túnel.

No estudo numérico, escoamentos característicos dos perfis de CLA preconizados no

Eurocodigo1 foram testados no código FLUENT, utilizando o modelo de turbulência k -ε com a

modificação MMK. Inicialmente, foi testado um domínio em vazio, verificando-se que existem

dificuldades relacionadas com o equilíbrio entre as condições de fronteira no chão e o perfil de

velocidades e turbulência imposto na fronteira de entrada. O escoamento sobre um edifício cúbico foi

igualmente calculado, levando a e a resultados satisfatórios e uma melhor compreensão do problema.

Palavras-Chave: Camada Limite Atmosférica, Acção do vento em edifícios, Túnel de vento,

Simulações em CFD

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III

Abstract

The wind action on buildings is influenced by the velocity and turbulence parameters of the

approaching flow, that are dependent on the characteristics of the Atmospheric Boundary Layer (ABL).

In this work, numerical and experimental methods of simulation of the ABL are applied and used for

the determination of the wind action on buildings.

In the experimental case, the simulation of the ABL was made in the DECIVIL-IST wind tunnel.

Using passive aerodynamic roughness elements, it was possible to simulate, with a scaling factor of

1/444, the profile of average velocities corresponding to a suburban-type terrain. It was verified that

the simulated turbulence represented better the target values in the lower zone of the simulated

boundary layer, and for higher frequencies. The measurement of the pressure coefficients in a cubic

model located in the ABL simulation section corresponded to the expected values in the front face of

the model, whereas in the suction faces the pressure distribution was not so well accomplished,

probably due to the position of the model in the test section.

In the numerical simulations, ABL characteristic flows with parameters corresponding to the ones

suggested by the Eurocode 1 were tested in the CFD (Computational Fluid Dynamics) commercial

code FLUENT, using the k -ε turbulence model with the MMK modification. Initially, the numerical

model was tested in an empty domain. It was noticed that there are difficulties associated with the

equilibrium between the boundary conditions on the floor and the velocity profile imposed in the inflow

boundary. Finally, the flow around a cubic building was calculated, leading to a better understanding of

the problem and satisfactory results.

Keywords: Atmospheric boundary layer, Wind action on buildings, Wind tunnel, CFD simulations

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IV

Índice

Agradecimentos............................................................................................................................... I Resumo .......................................................................................................................................... II Abstract ......................................................................................................................................... III Índice............................................................................................................................................. IV Lista de tabelas..............................................................................................................................VI Lista de figuras .............................................................................................................................VII Nomenclatura ................................................................................................................................XI CAPÍTULO 1................................................................................................................................... 1 1. Introdução............................................................................................................................ 1 CAPÍTULO 2................................................................................................................................... 3 2. Caracterização da Camada Limite Atmosférica (CLA)......................................................... 3

2.1. Fundamentos .................................................................................................................. 3 2.2. Perfil de velocidades médias ........................................................................................... 4 2.3. Intensidade de Turbulência ............................................................................................. 5 2.4. Parâmetros Espectrais .................................................................................................... 7

CAPÍTULO 3................................................................................................................................... 9 3. Escoamento do vento em torno de edifícios ........................................................................ 9

3.1. Caracterização geral do escoamento do ar em torno de edifícios ................................... 9 3.2. Coeficientes de Pressão................................................................................................ 11

CAPÍTULO 4................................................................................................................................. 13 4. Abordagem do Eurocódigo 1 ............................................................................................. 13

4.1. Perfil de Velocidades Médias ........................................................................................ 13 4.2. Intensidade de Turbulência ........................................................................................... 14 4.3. Análise Dinâmica........................................................................................................... 15 4.4. Coeficientes de pressão para um edifícios de forma simples ........................................ 16 4.5. Alteração da pressão de dimensionamento com a altura .............................................. 18

CAPÍTULO 5................................................................................................................................. 20 5. Simulação experimental da Camada Limite Atmosférica (CLA)......................................... 20

5.1. Bases da Simulação da camada limite atmosférica em túnel de vento ......................... 20 5.2. Técnica Experimental de Simulação da CLA................................................................. 22 5.3. Métodos de medição e planificação dos ensaios........................................................... 25

CAPÍTULO 6................................................................................................................................. 28 6. Resultados Experimentais ................................................................................................. 28

6.1. Ensaios com o túnel em vazio ....................................................................................... 28 6.2. Verificação da CLA gerada............................................................................................ 30 6.3. Coeficientes de pressão num edifício cúbico................................................................. 33

CAPÍTULO 7................................................................................................................................. 38 7. Caracterização do Problema Numérico ............................................................................. 38

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V

7.1. Introdução ..................................................................................................................... 38 7.2. Fundamentos do problema numérico ............................................................................ 38 7.3. Especificação da malha e do domínio utilizado ............................................................. 39 7.4. Definição das condições de fronteira............................................................................. 40 7.5. Modelo de Turbulência .................................................................................................. 43 7.6. Casos analisados .......................................................................................................... 44

CAPÍTULO 8................................................................................................................................. 46 8. Resultados do Modelo Numérico....................................................................................... 46

8.1. Verificação da manutenção da CLA ao longo do domínio numérico.............................. 46 8.2. Verificação dos Valores de y+........................................................................................ 49 8.3. Caracterização dos campos de velocidades com perfil incidente uniforme ................... 50 8.4. Caracterização dos campos de velocidades com perfil incidente tipo CLA ................... 54 8.5. Verificação dos coeficientes de pressão para escoamento incidente uniforme ............. 56 8.6. Coeficientes de pressão para escoamentos do tipo camada lime ................................. 58

CAPÍTULO 9................................................................................................................................. 66 9. Conclusões........................................................................................................................ 66 Referências .................................................................................................................................. 69 Anexos............................................................................................................................................. I

A1 - Formulação matemática das equações de Navier-Stokes .................................................... I A2 – Código da função definida pelo utilizador (UDF) incluída no FLUENT para impor as

características tipo CLA na fronteira de entrada e incluir o modelo MMK ........................................ III A3 – Pormenores do modelo de CFD .........................................................................................V

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VI

Lista de tabelas

Tabela 4-1 – Categorias de terreno segundo o Eurocódigo 1.4 [4] .............................................. 14 Tabela 4-2 – Coeficientes de Pressão para edifícios do tipo paralelepípedo simples, faces frontal,

laterais e de tardoz [4]. ....................................................................................................................... 18 Tabela 4-3 – Coeficientes de Pressão para a cobertura de edifícios do tipo paralelepípedo simples

com arestas vivas, para as zonas da cobertura definidas na Figura 4.4 [4]. ....................................... 18 Tabela 5-1 - Valores de combinações da dimensão do lado do cubo e afastamento entre eixos

dos cubos ........................................................................................................................................... 25

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VII

Lista de figuras

Figura 2-1 - Altura da camada limite e perfil de velocidades do tipo potência para cada tipo de

terreno [5] ............................................................................................................................................. 4 Figura 2-2 – Registo da velocidade do vento obtido neste estudo para um perfil do tipo CLA com

um anemómetro de fio quente. (frequência de aquisição 200 Hz) ........................................................ 6 Figura 3-1 - Tipo de escoamento em torno de uma placa plana com arestas vivas [12] .............. 10 Figura 3-2 - Desenvolvimento das linhas de corrente em torno de um obstáculo a) Escoamento

uniforme; b) Escoamento com Camada Limite [14] ............................................................................ 10 Figura 3-3 - Distribuição de pressões e características do escoamento na face frontal de um

obstáculo a) Escoamento Uniforme; b) Camada Limite [14]. .............................................................. 11 Figura 3-4 – Linhas de Corrente na zona de separação junto às arestas do cubo [6] para o caso

de escoamento incidente do tipo CLA. No caso do escoamento incidente mais próximo do solo (B) as

partículas sofrem um enrolamento (vórtice em ferradura). ................................................................. 11 Figura 4-1 – Perfis de velocidade segundo o EC1 para uma velocidade de referencia de 10 m/s.

........................................................................................................................................................... 14 Figura 4-2 – Definição das zonas D e E, das distâncias d e b, para o cálculo de coeficientes de

pressão [4]. ......................................................................................................................................... 16 Figura 4-3 – Definição da geometria das zonas a considerar no dimensionamento das faces

laterais. Caso A: de < (edifício alongado na direcção do vento); Caso B: ded 5<< ; Caso C: de 5≥

(edifício pouco alongado na direcção do escoamento) [4]. ................................................................. 17 Figura 4-4 – Definição da geometria das zonas a considerar no dimensionamento de telhados

planos ( ou com inclinação até 5º) [4]. ................................................................................................ 17 Figura 4-5 – Definição das bandas para as quais se considera uma magnitude de pressão

constante e das alturas de referência ez ........................................................................................... 19

Figura 5-1 - Imagem de uma simulação da CLA só com elementos de rugosiddade no túnel de

vento (do tipo longo) da University of Western Ontário [6] .................................................................. 21 Figura 5-2 - Imagem do Túnel de Vento da National University of Singapore, mostrando os

elementos utilizados para provocar o crescimento acelerado da camada limite (método de Counihan)

[6] ....................................................................................................................................................... 21 Figura 5-3 – Método de simulação proposto por Cook para a criação do terço inferior de uma

CLA urbana [18].................................................................................................................................. 22 Figura 5-4 – Alçado (em cima) e planta do túnel de vento do DECivil-IST................................... 23 Figura 5-5 – a) Disposição dos elementos que conduz à formação da camada limite atmosférica;

........................................................................................................................................................... 23 Figura 5-6 – Esquema da disposição dos pináculos e dos elementos de rugosidade no túnel, bem

como as respectivas dimensões. ........................................................................................................ 25 Figura 5-7 – Pormenores da configuração e disposição dos elementos de rugosidade no túnel . 26

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VIII

Figura 5-8 – a) Distribuição das tomadas de pressão nas faces do cubo, b) Pormenor de

implementação de uma medição na face superior do cubo. ............................................................... 27 Figura 6-1 - Representação esquemática em planta da zona de ensaios (a azul) e das posições

(a vermelho) dos conjuntos de ensaios realizados para caracterizar o comportamento do túnel de

vento em vazio.................................................................................................................................... 28 Figura 6-2 – Perfil de Velocidades no túnel em vazio para a secção transversal localizada 2.25 m

depois do início da secção de teste do túnel ...................................................................................... 29 Figura 6-3 – Variação da altura da camada limite ao longo do túnel sem elementos de rugosidade

........................................................................................................................................................... 29 Figura 6-4 – Perfil de velocidades médias na camada limite atmosférica gerada no túnel de vento,

mostrando-se o ajustamento a uma curva tipo potência (α = 0.21) e a comparação com os dados

experimentais de Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23] ................................................................ 30 Figura 6-5 – Comparação entre o perfil de velocidades da CLA simulada (e o perfil do tipo

logarítmico que melhor se lhe ajusta) e o perfil de velocidades do EC1 para os tipos de terreno II e III

........................................................................................................................................................... 31 Figura 6-6 – Intensidade de turbulência na simulação da CLA e comparação com os resultados

experimentais de Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23]................................................................ 32 Figura 6-7 – Espectro de potência das flutuações longitudinais de velocidade obtido a uma altura

de 11.4 cm e comparação com os valores do EC1 (para xuL =0.35 m) ............................................... 32

Figura 6-8 - Espectro de potência das flutuações longitudinais de velocidade obtido a uma altura

de 44.3 cm e comparação com os valores do EC1 (para xuL =0.58 m). .............................................. 33

Figura 6-9 - Coeficientes de pressão obtidos na face frontal do cubo, dimensões em cm (à escala

da simulação 30 cm correspondem a 133,2 m). ................................................................................. 34 Figura 6-10 - Coeficientes de Pressão obtidos na face lateral esquerda do modelo. ................... 34 Figura 6-11 - Coeficientes de Pressão obtidos na face de tardoz do modelo. ............................. 35 Figura 6-12 - Coeficientes de Pressão obtidos na face de cobertura do modelo. ........................ 35 Figura 6-13 - Coeficientes de Pressão num cubo sujeito a um perfil de velocidades do tipo

camada limite [6]................................................................................................................................. 36 Figura 6-14 - Campo de Velocidades obtido na secção em que se determinaram os coeficientes

de pressão do cubo (vista de montante)............................................................................................. 37 Figura 8-1 - Variação da velocidade à saída do domínio (%) em x = 9L relativamente ao perfil de

entrada do tipo CLA (perfil para terreno tipo III) Caso 1 – Tensão tangencial nula no chão, Caso 2:

Condição de não escorregamento no chão com superfície lisa, Caso 3: Roughness Height 6 m no

chão, Caso 4: Roughness Height 6 m no chão + modelo MMK......................................................... 47 Figura 8-2 – Variação da velocidade à saída do domínio (%) relativamente ao perfil de entrada do

tipo CLA (são representados os casos dos tipos 0, III e IV)................................................................ 47 Figura 8-3 – Contorno da velocidade vertical (no eixo dos zz) para um perfil de velocidade à

entrada correspondente ao terreno tipo IV do EC1............................................................................. 48 Figura 8-4 – Variação de κ ao longo do domínio, partindo de uma distribuição constante,

correspondente ao terreno do tipo III, até à fronteira de saída. Representa-se também o plano médio

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IX

longitudinal vertical. Esquerda – Sem modelo MMK - caso 3; Direita – Com o modelo MMK – caso 4.

........................................................................................................................................................... 49 Figura 8-5 - Valores de y+ no centro da primeira camada de volumes de controlo que envolvem o

cubo. O escoamento tem o sentido positivo do eixo dos yy. Esquerda: valores na face frontal, tecto e

face lateral direita. Direita: Face de Tardoz. ....................................................................................... 50 Figura 8-6 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do

cubo, para um escoamento do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s. A velocidade à

entrada tem o sentido positivo do eixo dos yy. ................................................................................... 51 Figura 8-7 - Contornos do módulo da velocidade no plano vertical que passa no centro do cubo,

para um escoamento incidente do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s. A velocidade à

entrada tem o sentido positivo do eixo dos yy. ................................................................................... 52 Figura 8-8 - Contornos do módulo da velocidade no plano vertical transversal que passa no

centro do cubo, para um escoamento do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s................ 53 Figura 8-9 – Contorno da velocidade vertical (no eixo zz) junto ao cubo, no plano longitudinal

vertical que passa no centro do cubo ................................................................................................. 53 Figura 8-10 - Contorno da velocidade vertical (no eixo zz) junto ao cubo, no plano longitudinal

vertical que passa no centro do cubo. Escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s.54

Figura 8-11 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do

cubo, para um escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s..................................... 55

Figura 8-12 – Contornos do módulo da velocidade no plano vertical que passa no centro do cubo,

para um escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s. ............................................. 55

Figura 8-13 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do

cubo, para um escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s..................................... 56

Figura 8-14 - Coeficientes de pressão nos alinhamentos principais centrais das faces.

Comparação entre modelos com e sem MMK e resultados experimentais de Castro & Robbins [26]

para um perfil de velocidades uniforme. ............................................................................................. 57 Figura 8-15 - Semelhante à Figura 8.14 mas para os alinhamentos centrais secundários. ......... 57 Figura 8-16 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente uniforme com o

modelo MMK . .................................................................................................................................... 58 Figura 8-17 - Coeficientes de Pressão nos alinhamentos centrais principais das faces.

Comparação entre modelos com e sem MMK e resultados experimentais de Stathopoulos e

Dumitrescu-Brulotte [23] para um perfil de velocidades descrito por uma função potência com

21.0=α . ............................................................................................................................................. 59 Figura 8-18 - Semelhante à Figura 8.17 mas para os alinhamentos centrais secundários .......... 59 Figura 8-19 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo zero do

EC1 e utilizando o modelo MMK......................................................................................................... 61 Figura 8-20 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo I do EC1

e o modelo MMK................................................................................................................................. 62

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X

Figura 8-21 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo II do EC1

e o modelo MMK................................................................................................................................. 63 Figura 8-22 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo III do

EC1 e o modelo MMK......................................................................................................................... 64 Figura 8-23 – Contornos da distribuição dos coeficientes de pressão obtidos por M. Tsuchiya et

al. [37], para um perfil de velocidades incidente do tipo potência com α = 0.25. (a) Ensaios em túnel

de vento, (b) Modelo k-ε standard sem modificação MMK. (c) Com introdução do modelo MMK..... 65 Figura A1 – Resíduos Escalados na convergência do cálculo com domínio completo com

obstáculo, perfil incidente CLA correspondente ao terreno tipo III da CLA (modelo ε−k com MMK).

...........................................................................................................................................................VII Figura A2 - Resíduos escalados na convergência do cálculo com domínio a montante, , perfil

incidente CLA correspondente ao terreno tipo III da CLA (modelo ε−k com MMK). ........................VII Figura A3 – Representação da malha final. Estão representados a fronteira de entrada (azul) e de

saída (vermelho) e a fronteira-chão e a malha sobre o cubo (preto e cinzento). ...............................VIII Figura A4 – Pormenor da malha na fronteira-chão na zona em redor do cubo (estruturada) e na

restante fronteira (não estruturada) ...................................................................................................VIII Figura A5 – Plano longitudinal que atravessa o centro do cubo: pormenor da malha junto à aresta

superior do cubo, mostrando a transição entre a zona de camada limite e a restante malha. ............. IX

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XI

Nomenclatura

α Expoente da Lei Potencial

pC Coeficiente de Pressão

sC Constante de rugosidade

rc Coeficiente de rugosidade

tc Coeficiente de Topografia

δ Altura da camada limite

ε Taxa de dissipação da energia cinética turbulenta

Rε Altura da rugosidade aerodinâmica

f Coordenada de Monin

Lf Frequência adimensionalizada com a escala integral de turbulência

Gk Taxa de produção de energia cinética turbulenta

uI Intensidade de turbulência longitudinal

Je Número de Jensen

K Constante de Von Karman

k Energia cinética turbulenta (por unidade de massa)

rk Factor do tipo de terreno (EC1)

uL Escala integral de turbulência longitudinal na direcção do escoamento

µ Viscosidade turbulenta

n Frequência em ciclos por segundo

ep Pressão no ponto de estagnação

p Pressão

0p Pressão estática num ponto não perturbado do escoamento

xuR Coeficiente de correlação integral das flutuações longitudinais de velocidade

Re Número de Reynolds

ρ Densidade do fluido

S Taxa de deformação do fluido

uS Espectro de potência flutuações longitudinais de velocidade

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XII

σ Desvio padrão das flutuações de velocidade

sσ Número de Prandtl

0τ Tensão de arrastamento superficial

U Velocidade

U Velocidade média

refU Velocidade média à altura de referência

δU Velocidade média à altura da camada limite (velocidade gradiente)

*u Velocidade de atrito

)(tu Flutuação da velocidade em relação à média

Ω Taxa de vorticidade do fluido

z Altura acima do solo

ez Altura de referência para o calculo dos coeficientes de pressão (EC1)

refz Altura de referência acima do solo

minz Altura até à qual a velocidade é constante

0z Escala de rugosidade

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1

CAPÍTULO 1

1. Introdução

Neste trabalho pretende-se apresentar a caracterização das metodologias que podem ser usadas

para simulação e análise de escoamentos do tipo camada limite atmosférica sobre edifícios. São

apresentadas neste estudo três vertentes distintas: 1) a abordagem regulamentar, segundo o

Eurocódigo 1.4; 2) a abordagem experimental, com ensaios em túnel de vento; 3) numérica,

utilizando os princípios da mecânica de fluidos computacional.

Os resultados experimentais aqui relatados foram apresentados no trabalho de final de curso do

autor, de 2005 (‘Simulação da camada limite atmosférica no túnel de vento do DECivil-IST’ [1]).

Desse texto apenas estão reproduzidas algumas partes dos capítulos 2, 3 e 4, bem como uma boa

parte das figuras até ao capítulo 5. A análise dos resultados foi posteriormente refeita para inclusão

na revista Experimental Techniques (‘Simulation of the Atmospheric Boundary Layer for model testing

in a short wind tunnel’ [2]). Um primeiro resumo da parte numérica foi igualmente publicado nas actas

da II Conferência Nacional de Métodos Numéricos em Mecânica dos Fluidos e Termodinâmica

(‘Análise numérica da acção do vento sobre um edifício cúbico usando os perfis de velocidade do

Eurocódigo 1’ [3]).

No capítulo 2 apresenta-se a definição de camada limite atmosférica e a caracterização dos

parâmetros que descrevem o escoamento do ar no seu interior. Apresenta-se neste capítulo a

caracterização dos perfis de velocidades médias e de intensidade de turbulência e também uma

breve abordagem dos parâmetros espectrais que descrevem a variação da velocidade do vento.

O capítulo 3 apresenta uma muito breve caracterização das principais particularidades que

descrevem o escoamento em torno de um edifício tridimensional, e que mais tarde serão essenciais

para interpretar os resultados. É também introduzido o conceito de coeficiente de pressão.

A forma de tratamento do problema da variação da acção do vento em altura pelo Eurocodigo 1.4

[4] é introduzida no capítulo 4, apresentando-se alguns pormenores de como esta variação pode ser

incluída no dimensionamento de edifícios ao vento.

No capítulo 5 apresentam-se, resumidamente, os métodos de simulação da camada limite

atmosférica em túnel de vento, bem como os pormenores da simulação que foi realizada no túnel de

vento do DECivil-IST.

O capítulo 6 é dedicado à análise dos resultados experimentais.

A descrição do problema numérico é realizada no capítulo 7. São introduzidos brevemente alguns

dos conceitos básicos da mecânica de fluidos computacional, bem como os modelos de turbulência

utilizados. É realizada uma primeira reflexão sobre a problemática da simulação tridimensional de

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2

escoamentos do tipo CLA sobre edifícios de arestas vivas. A apresentação do modelo numérico

utilizado, nomeadamente a malha e condições de fronteira é feita também neste capítulo.

No capítulo 8 apresentam-se os resultados das simulações numéricas realizadas, bem como a

sua discussão.

No capítulo 9 resumem-se as principais conclusões e sugestões para desenvolvimento futuro.

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3

CAPÍTULO 2

2. Caracterização da Camada Limite Atmosférica (CLA)

2.1. Fundamentos

A velocidade média do vento não é constante em altura, aumentando com a distância ao solo até

determinada altura. Esta variação justifica-se pelo efeito de atrito provocado pelos obstáculos

existentes na superfície, que impedem, em maior ou menor escala, o livre fluxo do ar, e

consequentemente alteram a velocidade do vento na zona superficial. Uma vez que a uma altura

suficientemente elevada o fluxo não é perturbado pela superfície, justifica-se que haja um gradiente

de velocidades em altura, e também que este possa ser definido numa altura finita.

A zona da atmosfera desde o solo até aos 300-500 metros, altura à qual o efeito da perturbação

aerodinâmica provocada pelo solo se torna desprezável, é conhecida como Camada Limite

Atmosférica.

O escoamento junto da superfície da Terra é constrangido por obstáculos, que podem ser

estruturas criadas pelo homem (como os edifícios), ou naturais (como montanhas ou árvores). No seu

conjunto são designados como rugosidade aerodinâmica do solo.

A intensidade da perturbação provocada pela superfície reflecte-se na altura da camada

atmosférica perturbada e na variação em altura da velocidade do vento resultante, podendo-se por

conseguinte caracterizar os tipos de terreno consoante esta perturbação

A altura gradiente (que se define como a altura da camada limite atmosférica) é a altura à qual o

fluxo de vento atmosférico deixa de ser afectado pela rugosidade aerodinâmica. Acima desta altura, a

variação da velocidade do vento em altura é considerada desprezável e o perfil de velocidades

médias é tomado como uniforme.

Utilizando os conceitos anteriores, a altura da camada limite atmosférica está dependente da

rugosidade aerodinâmica do solo. Por outro lado, se o perfil de velocidades for traduzido por uma

função )(zU (função da distância à superfície z), é necessário que essa função seja também função

da rugosidade aerodinâmica do terreno em causa.

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4

Para a descrição matemática )(zU do perfil de velocidades em altura são utilizadas funções do

tipo potência ou funções do tipo logarítmico. A descrição matemática do perfil é essencial para a

definição da acção do vento sobre as estruturas, sempre que estas sejam suficientemente altas para

que a variação da acção em altura seja significativa.

Para obter uma correcta representação da realidade, tem de se ter em conta que, nos primeiros

metros da CLA os efeitos locais dos edifícios circundantes são relevantes para a definição das

características do fluxo a actuar sobre o edifício em análise. Desta forma, é adequado considerar que

na zona mais próxima da superfície a velocidade do vento é constante, zona esta que é da ordem de

uma dezena de metros.

2.2. Perfil de velocidades médias

A lei do tipo potência é o tipo de equação há mais tempo utilizada para descrever a evolução da

velocidade média do vento em altura até à altura da camada limite δ e é dada por:

α

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

refref z

zUzU )( (2.1)

refU - Corresponde à velocidade média à altura de referência ( refz );

α - É o expoente da lei potencial, que depende da rugosidade aerodinâmica do terreno.

Figura 2-1 - Altura da camada limite e perfil de velocidades do tipo potência para cada tipo de terreno [5]

A lei do tipo logarítmico é dada por:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

0lnzz

Ku*(z)U (2.2)

*u - velocidade de atrito, que é dada por ρτ 0 , em que 0τ é a tensão de arrastamento

superficial (tensão exercida pelo ar na superfície do terreno) e ρ é a massa específica do fluido;

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5

K - constante de Von Karman ≈ 0,4;

0z - escala de Rugosidade, que caracteriza a rugosidade do terreno, e que é da ordem de

grandeza da dimensão e espaçamentos médios das rugosidades do terreno [m];

z - altura acima do solo [m].

O factor Ku /* é constante para cada tipo de terreno e velocidade do vento, pelo que, como se

verá no capítulo 3, é substituído no EC1 por uma formulação mais intuitiva, ou seja, por um factor

dependente da velocidade de projecto e um outro do tipo de terreno.

O perfil do tipo logarítmico tem-se tornado o mais frequentemente utilizado, apesar de, por

exemplo, o Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA) [7],

actualmente ainda em vigor em Portugal, utilizar perfis do tipo potência. Comparando com os perfis

do tipo potência, o perfil logarítmico apresenta as seguintes vantagens: ajusta-se melhor na zona

inferior do perfil (que é onde se situam a maior parte dos edifícios) e é conservativo na zona exterior

(apesar de não se ajustar tão correctamente ao perfil). Apesar disso, tende de uma forma mais

assimptótica para a velocidade gradiente, o que é mais próximo do comportamento real.

2.3. Intensidade de Turbulência

A velocidade do vento e direcção do vento em cada ponto varia com o tempo, devido à

turbulência existente no fluxo de ar. O escoamento pode ser caracterizado num determinado instante

por um campo de velocidades ),,( zyxU .

Na maioria das situações, o valor da velocidade é medido ou determinado num ponto, pelo que a

variação da velocidade é assumida como sendo apenas dependente do tempo. Na verdade, estas

variações são dependentes da criação, movimentação e destruição de vórtices, pelo que para

simplificar se admite habitualmente a Hipótese de Taylor, assumindo que os vórtices são

transportados à velocidade média do escoamento e com a mesma direcção deste.

Os registos de curta duração da velocidade do vento são semelhantes a registos com ruído

aleatório, apesar de na verdade as variações se darem preponderantemente numa gama de

frequências principal que pode ser descrita de forma espectral (ver secção 2.4). A figura seguinte

corresponde a um registo da velocidade de vento obtido neste estudo (em túnel de vento), que é

exemplificativa do tipo de medições que se podem obter com vento atmosférico.

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6

Tempo [s]Velocidadedoar[m/s]

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.52.5

3.0

3.5

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

Figura 2-2 – Registo da velocidade do vento obtido neste estudo para um perfil do tipo CLA com um

anemómetro de fio quente. (frequência de aquisição 200 Hz)

A velocidade num dado ponto pode assim ser descrita como:

)()( tuUtU += , (2.3)

sendo que U é a velocidade média e )(tu a função que traduz, para cada instante t , a flutuação em

relação a esta, denominada habitualmente como turbulência. Esta formulação será importante para a

utilização de modelos numéricos de turbulência do tipo RANS, como será descrito no capítulo 7.

O conhecimento das características da turbulência é importante por três razões principais: a

turbulência atmosférica é responsável em parte pela variabilidade das acções às quais as estruturas

estão sujeitas; as estruturas muito flexíveis podem estar sujeitas a efeitos dinâmicos de ressonância

devido à flutuação da velocidade do vento; o comportamento aerodinâmico das estruturas só pode

ser correctamente estimado tendo em conta os efeitos da turbulência atmosférica [6].

A intensidade de turbulência é uma medida da importância da componente de flutuação )(tu na

velocidade do vento U(t) . Ela pode estar associada às flutuações da componente longitudinal (u),

lateral (v) e vertical (w) da velocidade do vento (definidas em relação à direcção do fluxo do vento) e é

dada para uma altura z de acordo com a seguinte expressão:

)(

)(zU

zI ii

σ= com i = u, v ou w (2.4)

Nesta expressão, iσ é o desvio padrão das flutuações da velocidade em cada uma das

direcções. Este valor é usualmente expresso em percentagem, exprimindo assim a importância

percentual das flutuações de intensidade padrão em relação à velocidade média.

Se o rumo do vento for constante e o terreno for uniforme, nas direcções transversal e vertical a

velocidade média obtida de medições deverá aproximar-se de zero, existindo portanto apenas uma

componente flutuante. Esta é a situação típica nos ensaios em túnel de vento, quando as medições

são feitas longe de qualquer obstáculo.

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7

2.4. Parâmetros Espectrais

Para a análise da resposta dinâmica de estruturas é útil descrever a variabilidade da velocidade

do vento recorrendo a uma representação espectral. O espectro das flutuações longitudinais de

velocidade é a função principal que caracteriza as propriedades dinâmicas do vento, sendo utilizados,

em conjunto com as características dos edifícios, para caracterizar a resposta dinâmica dos edifícios

sujeitos a esta acção.

Um espectro é uma aplicação no domínio da frequência de uma função no domínio do tempo. Por

exemplo no caso de uma função periódica com período T , esta pode ser sempre expressa como um

somatório de funções trignométricas:

∑∞

=

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ ++=

00

2sin2cos)(k

kk Tktb

Tktaatx ππ

, (2.5)

em que os coeficientes 0a , ka e kb são facilmente determináveis. (ver, por exemplo, [8]).

A velocidade do vento )(tU varia de uma forma não periódica com o tempo. Apesar disto, é

possível utilizar Transformadas de Fourier para exprimir esta função do tempo numa função de

frequência, denominada função de densidade espectral. A transformada de Fourier de uma função é

dada por:

( ) dtetxnF nti π2.)( −+∞

∞−∫= . (2.6)

A contribuição das diferentes harmónicas para a flutuação da velocidade do vento pode ser obtida

através do conceito de função de autocorrelação )(τR . Esta função relaciona o valor da série

temporal no instante t com o valor no instante τ+t :

[ ])().()( ττ += txtxERxx . (2.6)

A partir da série temporal é possível determinar o valor esperado (estatístico) para esta função

para cada τ . Como é fácil verificar, se a série temporal tiver uma variação com frequência τ/1=n , a

função de autocorrelação terá valores mais altos para esse valor de τ .

A função densidade espectral será assim dada pela Transformada de Fourier da função de

autocorrelação:

( ) ττ deRnSd

xxxxint

0

.)( −∫≈ . (2.7)

Na equação 2.7 o integral está truncado à duração do registo D , uma vez que necessariamente

D<τ . Isto implica que não é possível determinar variações com duração superior ao registo. Uma

vez que os dados experimentais são um conjunto discreto, no caso em que as medições são feitas a

uma determinada frequência de aquisição, a equação 2.7 transforma-se num somatório, cujo cálculo

corresponde a Discrete Fourier Transform (DFT). Uma vez que o numero de operações necessário

para calcular o espectro é elevado, é habitualmente utilizado um algoritmo denominado Fast Fourier

Transform (FFT). Em qualquer dos casos a frequência mais alta que pode ser calculada é metade da

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8

frequência de aquisição de dados. Mais detalhes sobre a análise espectral podem ser consultados

em bibliografia especializada [8],[9].

O espectro das flutuações longitudinais de velocidade corresponde à função ),( nzSu que

representa a contribuição para a energia de agitação do escoamento dos turbilhões com frequência

n , para uma dada altura z acima do solo.

As expressões utilizadas na prática estão adimensionalizadas em relação ao quadrado do desvio

padrão da velocidade longitudinal, por serem mais facilmente comparáveis com os dados

experimentais. Um exemplo é o espectro de Kaimal [10]:

3

525013

100

f)(

fσ(n)nS

u

u

+= (2.8)

Em que f é uma frequência não dimensional dada conhecida por Coordenada de Monin:

)(zUnzf = (2.9)

Para dispormos de uma função mais geral e que dependa da dimensão dos turbilhões, podemos

recorrer por exemplo ao espectro de von Kármán [11], que corresponde à seguinte distribuição de

densidade espectral:

6

5228701

4

)f,(

fσ(n)nS

L

L

u

u

+= (2.10)

em que Lf , é dado por:

(z)UnLf

xu

L = (2.11)

e xuL é a escala integral de turbulência, correspondente ao comprimento típico dos turbilhões para

uma determinada altura e tipo de terreno (ver detalhes em [1]), estando por isso relacionada com a

frequência típica das rajadas.

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9

CAPÍTULO 3

3. Escoamento do vento em torno de edifícios

3.1. Caracterização geral do escoamento do ar em torno de edifícios

A interacção do vento com os edifícios é dominada essencialmente por efeitos relacionados com

a viscosidade. Estes efeitos podem ser bem descritos pelo parâmetro não-dimensional denominado

Número de Reynolds, que descreve a importância relativa das forças de inércia e das forças viscosas

e é dado por:

νUD

=Re (3.1)

onde D é a dimensão característica do objecto, U é a velocidade característica do escoamento e

ν é a viscosidade cinemática do fluido (no caso do ar a 20ºC é 51051.1 −× m2/s). Para um número de

Reynolds ( Re ) baixo (por exemplo 0.3 como representado na Figura 3-1), o escoamento comporta-te

como o escoamento de um fluido não viscoso, contornando a placa sem geração de vórtices.

Aumentando o Re , começa a formar-se uma zona no tardoz do obstáculo em que há geração de

vórtices, que tomam uma forma assimétrica para valores um pouco mais altos. A partir de um valor do

Re suficientemente elevado existe uma separação clara entre a zona de tardoz com grande

vorticidade, denominada esteira, e a zona em que a velocidade é mais elevada.

Desde que as arestas se mantenham vivas (aguçadas) e o Re suficientemente elevado, a forma

do escoamento não se altera com a alteração deste parâmetro, razão pela qual não é necessário ter

em consideração os efeitos de escala na descrição não-dimensional do escoamento ao fazer ensaios

em túnel de vento.

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10

Figura 3-1 - Tipo de escoamento em torno de uma placa plana com arestas vivas [12]

Os escoamentos em torno de edifícios são os característicos de corpos não-fuselados (bluff

bodies). Nomeadamente, são caracterizados pela produção de uma esteira de grande espessura (da

ordem de grandeza da dimensão do corpo) a que estão associadas grandes variações da quantidade

de movimento. Na esteira mais próxima da face de tardoz a velocidade é muito baixa e de carácter

aleatório, enquanto que na esteira afastada existe uma organização discreta de vórtices gerados

alternadamente de um lado e de outro do eixo do escoamento (Estrada de von-Kármán) [13].

A Figura 3-2 representam-se as linhas de corrente características para dois tipos de escoamento

incidente, sendo em a) um escoamento com perfil de velocidade médias uniforme e em b) um perfil

do tipo CLA. Genericamente, verifica-se que em b) há a tendência da formação de uma zona de

recirculação junto à face frontal, que origina uma inversão do sentido do escoamento na zona junto

ao solo. Por outro lado, verifica-se que é mais provável que a zona de recirculação na face superior

no caso b) seja fechada, havendo um ponto de recolagem.

Figura 3-2 - Desenvolvimento das linhas de corrente em torno de um obstáculo a) Escoamento uniforme; b)

Escoamento com Camada Limite [14]

A pressão na face frontal associada a estes campos de velocidade varia também com o tipo de

escoamento incidente, como representado na Figura 3-3.

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11

Figura 3-3 - Distribuição de pressões e características do escoamento na face frontal de um obstáculo a)

Escoamento Uniforme; b) Camada Limite [14].

Os efeitos tridimensionais associados ao caso b) da Figura 3-2 e da Figura 3-3 são um pouco

mais complexos. A inversão do sentido do escoamento associada ao campo tri-dimensional tem o

nome de vórtice em ferradura (horseshoe vortex) e pode provocar, inclusive, a ocorrência de

pressões relativas negativas junto aos cantos inferiores do obstáculo.

Figura 3-4 – Linhas de Corrente na zona de separação junto às arestas do cubo [6] para o caso de escoamento

incidente do tipo CLA. No caso do escoamento incidente mais próximo do solo (B) as partículas sofrem um

enrolamento (vórtice em ferradura).

3.2. Coeficientes de Pressão

Quando o fluxo de ar encontra um obstáculo dá-se a transformação de uma parte da energia

cinética do escoamento em energia de pressão [5]. Existe pelo menos um ponto do obstáculo em que

essa transformação se dá completamente, que é designado ponto de estagnação.

A definição de coeficiente de pressão é feita da seguinte forma:

221

0

Upp

C sp ρ

−= (3.1)

sp é a pressão que actua num ponto à superfície do obstáculo

0p é a pressão estática num ponto não perturbado do escoamento

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12

221 Uρ é a pressão dinâmica do vento não perturbado pelo obstáculo à altura de referência, que é

tomada por convenção como a altura do obstáculo.

Para efeitos de dimensionamento é habitual utilizar-se um coeficiente de pressão que resulta da

média das pressões em zonas do edifício em que o efeito do vento é semelhante. Existem também

situações mais específicas, nomeadamente em casos de geometrias complexas, em que é

necessário conhecer de uma forma mais pormenorizada a distribuição das pressões no edifício.

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13

CAPÍTULO 4

4. Abordagem do Eurocódigo 1

4.1. Perfil de Velocidades Médias

A metodologia utilizada pelo EC1[4] é mais detalhada do que a do RSA[7]. A fórmula básica da

definição da velocidade média é a seguinte:

brt U(z).(z).cc(z)U = (4.1)

)(zct é designado coeficiente de topografia, e tem em conta o acréscimo de velocidade em zonas

de montanha ou escarpas isoladas, estando definido no Anexo A3 do EC1.

)(zcr é designado por coeficiente de rugosidade, que faz depender a velocidade média em altura,

através da adopção de um perfil logarítmico, da altura acima do solo e da rugosidade aerodinâmica

do terreno:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

010log.)(zzkzc rr para mzzmín 200≤≤ (4.2)

)()( mínrr zczc = para mínzz < (4.3)

rk é o factor do tipo de terreno, definido pela seguinte expressão:

07,0

,0

019,0 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

IIr z

zk , (4.4)

0z é a escala de rugosidade e minz é a altura até à qual se considera que a velocidade é constante.

Estes dois últimos parâmetros estão indicados na Tabela 4-1 e dependem do tipo de rugosidade

aerodinâmica do terreno (a que o EC1 chama Categorias de Terreno), estando definidas cinco

categorias de terreno.

bU é a velocidade de referência, que é o valor de dimensionamento da velocidade média para

períodos de 10 minutos, a 10 m acima do solo num terreno do tipo II, que é corrigida para outros tipos

de terreno por intermédio da Eq. (4.4). Este valor pode ser corrigido tendo em conta a direcção do

vento ou factores sazonais.

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14

Categoria de Terreno 0z [m] minz [m]

0 – No mar ou em zona costeira exposta a mar aberto 0.003 1

I – Junto a lagos ou a uma zona plana e sem obstáculos 0,01 1

II – Zona rural com árvores ou casas isoladas 0,05 2

III – Zonas industriais e suburbanas ou florestas 0,3 5

IV – Zonas urbanas com pelo menos 15% de área ocupada com

edifícios com altura média superior a 15 m 1 10

Tabela 4-1 – Categorias de terreno segundo o Eurocódigo 1.4 [4]

Para exemplificar o andamento dos perfis de velocidade, a Figura 4-1 apresenta as diferenças

entre os perfis de velocidade para uma mesma velocidade de referência. Como se pode verificar,

para uma mesma velocidade de dimensionamento, os terrenos mais desfavoráveis são os mais

desprotegidos do ponto de vista aerodinâmico. Ainda assim, esta diferença é menor na zona junto ao

solo, onde existe também uma maior indefinição, o que tem como consequência a adopção de um

minz maior para os terrenos mais rugosos.

Velocidade do Vento (m/s)

Alturaacimadosolo(m)

0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 12.5 15.0 17.5 20.00

50

100

150

200

Terreno Tipo 0Terreno Tipo ITerreno Tipo IITerreno Tipo IIITerreno Tipo IV

Figura 4-1 – Perfis de velocidade segundo o EC1 para uma velocidade de referencia de 10 m/s.

4.2. Intensidade de Turbulência

Na versão de 2004 do EC1 [4], o perfil de intensidade de turbulência é dado por:

( )⎟⎠⎞⎜

⎝⎛

=

0ln

1

zz

zIu , mzz 200min << (4.5)

( ) ( )minzIzI uu = , minzz < (4.6)

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15

A expressão (4.5) pode ser multiplicada por um factor para ter em conta a orografia do terreno ou

condições locais específicas, definidas no anexo 3 do EC1.

4.3. Análise Dinâmica

O EC1 define, na secção 6.6 e nos anexos A a D, procedimentos para o cálculo dos efeitos de

interacção dinâmica sobre estruturas. A susceptibilidade das estruturas aos efeitos dinâmicos deve

ser avaliada a partir do cálculo do coeficiente dscc - factor estrutural. Este parâmetro tem em conta a

alteração da acção do vento devido à ocorrência não-simultânea de pressões de pico nas superfícies

expostas ao vento e ainda o efeito de vibrações induzidas na estrutura pela turbulência. O EC1

também fornece métodos para o dimensionamento face à ocorrência de fenómenos de instabilidade

aerodinâmica, como o desprendimento regular de vórtices e o efeito de grupo em estruturas esbeltas.

O cálculo do coeficiente dinâmico, que está detalhado no Anexo 1, depende, para além das

características da estrutura em causa, das duas características dinâmicas da turbulência que foram

referidas na secção 2.4, ou seja, a escala integral de turbulência e o espectro das flutuações

longitudinais de velocidade.

A função densidade espectral de energia das flutuações de velocidade é dada segundo esta

norma por uma expressão equivalente a (2.10):

352

)),(2,101(

),(8,6),(),(

nzf

nzfnznSnzS

L

L

u

vL

+==

σ (4.7)

Nesta expressão, ),( nzf L é a frequência não-dimensional dada pela Equação (2.11) e a escala

integral de turbulência é dada por:

( )α

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

ttu zzLzL , minzz ≥ (4.8)

( ) ( )minzLzL uu = , minzz < (4.9)

em que se toma uma altura de referência tz de 200m , a que corresponde uma escala integra de

turbulência de referência tL de 300 m e α é dependente do tipo de terreno e calculado através da

expressão

)ln(05,067,0 0z+=α (4.10).

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16

4.4. Coeficientes de pressão para um edifícios de forma simples

Os coeficientes de pressão de dimensionamento dados pelo EC1 baseiam-se na escolha de

zonas a que correspondem coeficientes de dimensionamento constantes. Neste subcapítulo

apresentam-se os valores dos coeficientes de pressão para edifícios com a forma de

paralelepípedo, que se relacionam com o caso teste apresentado nos capítulos seguintes (um

edifício cúbico).

Para um edifício com a forma de um paralelepípedo, este é em primeiro lugar definido

utilizando a Figura 4-2. A face frontal é definida como D e a face de tardoz definida como E. São

também definidas as distâncias d (comprimento da face lateral) e b largura do edifício.

Figura 4-2 – Definição das zonas D e E, das distâncias d e b, para o cálculo de coeficientes de pressão [4].

Nas Figura 4-4, apresenta-se a divisão das zonas a considerar no cálculo da acção do vento

sobre as faces laterais e sobre coberturas planas. As faces laterais são definidas com o auxílio da

variável e , distância que toma o menor valor escolhido entre b e o dobro da altura do edifício ( h2 ).

Uma vez que se considera que a probabilidade de ocorrência simultânea de picos de pressão

(positivos ou negativos) diminui com o aumento da área da face a ser dimensionada (o que está

ligado à escala integral de turbulência), o EC1 apresenta valores de pressão para áreas de 1 m2 e 10

m2. Toma-se o valor correspondente a 1 m2 para áreas menores, um valor interpolado entre áreas de

1 a 10m2 para áreas intermédias e o valor do coeficiente de pressão de 10 m2 para áreas superiores.

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17

Caso A Caso B

Caso C

Figura 4-3 – Definição da geometria das zonas a considerar no dimensionamento das faces laterais. Caso A:

de < (edifício alongado na direcção do vento); Caso B: ded 5<< ; Caso C: de 5≥ (edifício pouco alongado

na direcção do escoamento) [4].

Figura 4-4 – Definição da geometria das zonas a considerar no dimensionamento de telhados planos ( ou com

inclinação até 5º) [4].

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18

Zona A B C D E

hd 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec

5 -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,8 +1,0 -0,7

1 -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,8 +1,0 -0,5

25,0≤ -1,2 -1,4 -0,8 -1,1 -0,5 +0,7 +1,0 -0,3

Tabela 4-2 – Coeficientes de Pressão para edifícios do tipo paralelepípedo simples: faces frontal, laterais e de

tardoz [4], nas zonas definidas na figura 4.3.

Zona F G H I

10,pec 1,pec 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec 10,pec 1,pec

Arestas

vivas -1,8 -2,5 -1,2 -2,0 -0,7 -1,2 ± 0,2

Tabela 4-3 – Coeficientes de Pressão para a cobertura de edifícios do tipo paralelepípedo simples com arestas

vivas, para as zonas da cobertura definidas na Figura 4-4 [4].

Na zona I, tanto o valor positivo como o negativo deverão ser calculados. Isto resulta, segundo o

EC1, do comportamento do escoamento na zona da esteira próxima, que pode ser um pouco

imprevisível. Os valores indicados no EC1 são um pouco conservativos, nomeadamente na zona

próxima das arestas, como veremos em capítulos posteriores.

4.5. Alteração da pressão de dimensionamento com a altura

A Figura 4-5 apresenta a forma como se deve, segundo o EC1, considerar a variação da pressão

com a variação da velocidade do vento em altura. Dependendo da relação do comprimento entre as

faces laterais b e a altura do edifício h , diversos casos podem ser considerados.

No caso de o comprimento b ser maior ou igual do que a altura h , considera-se uma acção

invariável em altura, com o valor da acção calculado para altura do edifício ( hze = ).

Se bhb 2≤< consideram-se duas faixas, uma com altura bz = , em que a altura de referência

para a velocidade do vento é bze = e outra para z entre b e h em que a altura de referência é h .

Um terceiro caso a considerar é o de edifícios mais esbeltos bh 2> . Neste caso, considera-se

uma faixa com comprimento b contado a partir do solo e uma outra com comprimento b contado a

partir do topo do edifício. Na zona intermédia entre estas duas, a velocidade do vento deverá ser

considerada por faixas, em que a acção do vento é dada para cada faixa considerando a altura

superior da respectiva faixa.

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19

Esta metodologia permite evitar a utilização do perfil de velocidades e turbulências de forma

directa, o que daria uma distribuição de pressões a variar continuamente em altura, o que seria uma

metodologia de dimensionamento pouco prática.

Figura 4-5 – Definição das bandas para as quais se considera uma magnitude de pressão constante e das

alturas de referência ez

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20

CAPÍTULO 5

5. Simulação experimental da Camada Limite Atmosférica (CLA)

5.1. Bases da Simulação da camada limite atmosférica em túnel de vento

Uma das formas de ter um conhecimento mais pormenorizado da acção do vento sobre um

edifício em condições específicas (geometria e envolvente) é a realização de ensaios em túnel de

vento.

Para a correcta representação das reais condições do escoamento em torno de um edifício e

das pressões que lhe estão associadas, é necessário reproduzir tanto o perfil de velocidades

médias como o perfil de intensidade de turbulência. Se isso for considerado importante para a

estrutura em análise, será também importante reproduzir a descrição espectral das variações de

velocidade.

De forma a analisar o efeito do vento sobre as estruturas, a CLA deve ser reproduzida a uma

escala correcta em relação ao modelo do edifício a ser estudado experimentalmente.

Habitualmente o fluxo de ar na secção de teste de um túnel de vento é aproximadamente

uniforme em altura, apenas com variações junto às paredes, chão e tecto. É conhecido que o

método mais eficaz de simulação da CLA é fazer o fluxo de ar no túnel de vento passar por um

conjunto de elementos passivos ao longo do chão do túnel

Para obter uma maior escala da simulação e uma melhor reprodução da turbulência, é

necessário realizar a simulação num túnel de vento longo, uma vez que é necessário entre 20 e 30

m para conseguir um escoamento com características próximas às da CLA. Gartshore e de Cross

[15] desenvolveram expressões para obter a relação entre a geometria e tamanho dos elementos

de rugosidade e o perfil de velocidades médias resultante.

Diversos métodos foram também propostos para permitir a simulação de uma camada limite

espessa em túneis de vento curtos. Estes métodos mostram que, escolhendo a geometria correcta

dos elementos passivos, o crescimento da CLA ao longo do espaço dá-se mais rapidamente,

permitindo a realização deste tipo de ensaios em túneis mais curtos.

A simulação da CLA em túneis de vento curtos é baseada na utilização de pináculos e barreiras

no início do túnel, que levam o ar a escoar-se com maior velocidade na zona superior do túnel e,

por outro lado, funcionam como geradores de vórtices que provocam flutuações de velocidade na

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21

secção de medição. Isto complementa o efeito dos elementos de rugosidade distribuídos desde o

início do túnel até à secção de medição, que podem, num túnel de vento mais longo ser só por si

suficientes para conseguir realizar a simulação.

Figura 5-1 - Imagem de uma simulação da CLA só com elementos de rugosiddade no túnel de vento (do tipo

longo) da University of Western Ontário [6]

A base da simulação da CLA em túneis de vento curtos foi proposta por Counihan [16][17],

consistindo numa combinação de uma barreira castelada (que provoca um défice de momento linear

na parte inferior do escoamento logo à entrada do túnel), pináculos geradores de turbulência em

forma de quartos de elipse (colocados também no início do túnel) e elementos de rugosidade

distribuídos ao longo do túnel, tal como apresentado na Figura 5-2.

Figura 5-2 - Imagem do Túnel de Vento da National University of Singapore, mostrando os elementos utilizados

para provocar o crescimento acelerado da camada limite (método de Counihan) [6]

Um outro método que merece referência é o proposto por Cook [18]. Ao simular apenas o terço

inferior da CLA, este método tem como objectivo aumentar a escala de simulação, permitindo assim ,

em teoria, um maior detalhe geométrico dos modelos de edifícios a serem testados e uma maior

precisão das medições. Tal como representado na Figura 5-3, é utilizada uma grelha regular como

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22

gerador inicial de turbulência, uma barreira para a alteração inicial do escoamento e elementos de

rugosidade para fazer a mistura e aumento da CLA simulada. Com este método, foi possível a Cook

obter uma simulação do terço inferior da camada limite com 50 cm de altura. Apesar disso, existem

poucas referências a experiências posteriores com este método, para além do artigo original.

Figura 5-3 – Método de simulação proposto por Cook para a criação do terço inferior de uma CLA urbana [18].

O método de simulação que foi aplicado neste trabalho é o de Irwin [19]. Este autor propôs uma

configuração dos dispositivos passivos colocados no túnel, utilizando pináculos do tipo triangular com

cerca de 1.2 vezes a espessura da camada limite a ser criada e cubos como elementos de

rugosidade. Usando as fórmulas de Irwin para a configuração dos pináculos e o trabalho de Wooding

et al. [20] para o espaçamento dos elementos de rugosidade (como detalhado na secção seguinte), é

possível simular um perfil de velocidades do tipo potência com quaisquer parâmetros.

Apesar de em túneis de vento longos ter sido possível atingir a semelhança entre o escoamento

obtido em laboratório e o atmosférico, reproduzindo o perfil de velocidades e as características da

turbulência (ver por exemplo [21]), estas últimas têm-se mostrado de muito difícil reprodução em

túneis de vento curtos [19],[22].

5.2. Técnica Experimental de Simulação da CLA

A simulação da CLA em túnel de vento é decisivamente influenciada pelo comprimento da zona

de teste que pode ser ocupada pelos elementos passivos simuladores da rugosidade aerodinâmica

do terreno. É particularmente difícil projectar uma camada limite espessa que permita testes a larga

escala em túneis de vento curtos.

O túnel de vento do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura do Instituto Superior

Técnico (DECIVIL - IST), onde os ensaios aqui apresentados foram realizados, é um túnel aberto de

sucção (sem recirculação) que conta com uma zona de ensaios com uma secção transversal de

1.5x1.5 metros e com um comprimento de 5 metros.

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23

Figura 5-4 – Alçado (em cima) e planta do túnel de vento do DECivil-IST (dimensões em mm)

A simulação da CLA foi levada a cabo usando a técnica experimental proposta por Irwin [19]. Este

método usa uma lei do tipo potência para descrever o perfil de velocidades médias até à altura δ

(altura da CLA), acima da qual a influência do terreno pode ser considerada desprezável, ou seja,

tomando a Equação (2.1) como:

( )α

δ δ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=zUzU (5.1)

a) b)

Figura 5-5 – a) Disposição dos elementos que conduz à formação da camada limite atmosférica;

b) configuração dos pináculos triangulares utilizados neste tipo de simulação (adaptado de [19]).

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24

Os parâmetros alvo da CLA a simular foram α = 0,20 (terreno suburbano) e δ = 0,70 m. Este

último valor foi escolhido de modo a que fosse possível formar a camada limite em menos de 4 m,

uma vez que se considerou que seria necessário o espaço de 1 m para colocar o modelo e ficar ainda

razoavelmente longe do ventilador.

Para uma camada limite com uma altura (δ ) de 0,70 m, a altura dos pináculos foi fixada em

0,885 m, valor obtido da seguinte expressão [19]:

21391αδ,h

+

×= (5.2)

Como se pretendia que o escoamento do tipo camada limite fosse criado num espaço bastante

curto, a simulação foi projectada de forma a que fosse formada a uma distância de h×5,4 (sendo h

a altura dos pináculos), em vez de h×6 . A fórmula de projecto para a largura da base b da face

frontal dos pináculos foi alterada de acordo com esta redução de comprimento tal como sugerido por

Irwin [19]:

( )[ ] )α/(Ψ)/(H/δΨ,hb 21150 +×+××= (5.3)

onde

21

]211[1316]12[

β)(

)α/α)((α/,xβα)/(βΨ

++×−++×= (5.4)

( )( )α

αHδ

β+

×=

1 (5.5)

em que H é a altura do túnel.

A alteração da fórmula básica consiste na redução do termo de fricção superficial, multiplicando-o

por 6/x , em que neste caso 5.4=x . Assim, o valor da base das faces frontais dos pináculos b foi

definido como 0.117 m. A separação dos eixos dos pináculos é definida como um quarto da sua

altura, pelo que se adoptou o valor 0.221 m.

A Equação (5.3) supõe que a jusante dos pináculos sejam colocados elementos de rugosidade

cuja dimensão ( k ) e espaçamento (D ) respeite a seguinte expressão [20]:

( ) ( )⎥⎥

⎢⎢

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡+⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

50

10 052211610log32exp

,

f,

C,δ

Dδk

, (5.6)

em que fC corresponde ao coeficiente de arrastamento necessário para obter um perfil de

velocidades do tipo potência com um expoente α : 2

1136.0 ⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+

αfC (5.7)

Os valores para as dimensões dos cubos e das distâncias entre os seus eixos a colocar na zona

de teste do túnel só são aceitáveis dentro do seguinte limite:

200030 32

<<k

Dδ (5.8)

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25

De onde se obtém a seguinte tabela para os valores mais comuns da dimensão dos cubos:

k [m] D [m] 32

kDδ

0,040 0,369 1485

0,035 0,232 882

0,030 0,136 480

0,025 0,073 273

0,020 0,034 99

Tabela 5-1 - Valores de combinações da dimensão do lado do cubo e afastamento entre eixos dos cubos

De entre as combinações referidas, foi escolhida a que apresenta os cubos com uma aresta

k = 0.035 m e uma distância entre os seus centros de D = 0.232 m. Optou-se por não colocar cubos

nos últimos 0.50 m, de forma a evitar a interacção local com as medições a fazer na secção de teste.

A Figura 5-6 representa a configuração projectada, onde se inclui a localização de um modelo de

edifício a ser testado.

Figura 5-6 – Esquema da disposição dos pináculos e dos elementos de rugosidade no túnel, bem como as

respectivas dimensões em metros.

5.3. Métodos de medição e planificação dos ensaios

Os ensaios a realizar dividiram-se em três grupos. Primeiramente, as características do perfil de

velocidade ao longo do túnel em vazio foram avaliadas em três secções, de forma a verificar as

condições iniciais do túnel. Em segundo lugar, a simulação da CLA descrita na secção anterior foi

implementada e as características do perfil de velocidades e de turbulência foram analisadas.

Posteriormente, o modelo de um edifício cúbico, já utilizado em trabalhos anteriores no mesmo túnel

[5], foi colocado na secção onde a CLA estaria formada, efectuando-se medições de pressão nas

suas faces.

A determinação dos perfis de velocidades foram feitas com dois anemómetros TA5 da Airflow,

permitindo assim a medição simultânea da velocidade a uma altura ( )(zU ) e da velocidade a uma

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26

altura não perturbada ( δU ). Estes anemómetros apenas permitem medições da velocidade média,

devido à reduzida taxa de saída de dados (cerca de 2 Hz). A velocidade não perturbada utilizada em

todos os ensaios foi de aproximadamente 10 m/s. As medições dos anemómetros foram adquiridas

através de um módulo de aquisição Spider 8. Os anemómetros foram calibrados utilizando um

manómetro Betz, sendo obtida uma curva de calibração cúbica (ver detalhes em [1]).

Nos ensaios sem elementos de rugosidade, três secções do túnel foram analisadas, localizadas a

0,20 m, 2,25 m e 4,30 m do início da zona de ensaio do túnel. Em cada uma destas secções foram

feitas transversalmente medições em altura do perfil de velocidades ao centro e 30 cm afastado do

centro, de forma a ter uma ideia sobre a uniformidade transversal do perfil de velocidades. A secção

afastada 4,30 m do início do túnel corresponde à zona onde a CLA viria a ser medida em ensaios

posteriores, o que permitiu uma comparação mais correcta da alteração introduzida com a simulação.

Nas medições com simulação da CLA de onde foram obtidos a intensidade de turbulência e a

distribuição espectral das flutuações de velocidade, foi utilizado um anemómetro de fio quente CTA

da Dantec, sendo os dados adquiridos a uma taxa de 200 Hz.

Figura 5-7 – Pormenores da configuração e disposição dos elementos de rugosidade no túnel

A Figura 5-7 apresenta a configuração dos elementos passivos no túnel de vento. Com a CLA

gerada, a pressão estática foi medida nas faces de um cubo com 0,30 m de lado, cuja face frontal foi

colocada na mesma secção onde foram feitas as medições anteriores da CLA. Para realizar estas

medições foi seguido o mesmo processo experimental utilizado em [5]. Os coeficientes de pressão,

isto é, o valor da pressão nas faces adimensionalizado pela pressão dinâmica à altura do obstáculo,

foram medidos na face frontal do modelo. Para isto, foi usado um scanner de pressão multiponto com

16 canais DAS 3217. As pressões foram adquiridas utilizando uma aplicação criada em Labview,

usando uma taxa de aquisição de 10 Hz. Os coeficientes de pressão ( pC ) foram normalizados pela

pressão dinâmica medida 0,30 m a montante do obstáculo com um tubo de Pitot, com o qual foram

medidas a pressão total e a pressão estática. As faces do cubo foram equipadas com 35 tomadas de

pressão cada, tal como representado na Figura 5.8.

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27

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.000.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

A1 A2 A3 A4 A5

A6 A7 A8 A9 A10

A11 A12 A13 A14 A15

A16 A17 A18 A19 A20

A21 A22 A23 A24 A25

A26 A27 A28 A29 A30

A31 A32 A33 A34 A35

a) b)

Figura 5.8 – a) Distribuição das tomadas de pressão nas faces do cubo, b) Pormenor de implementação de uma

medição na face superior do cubo.

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28

CAPÍTULO 6

6. Resultados Experimentais

6.1. Ensaios com o túnel em vazio

Nesta primeira parte do estudo experimental, o objectivo foi avaliar as características do

escoamento no túnel de vento sem a utilização de quaisquer elementos de rugosidade.

De forma natural, devido à superfície do chão do túnel nunca ser completamente lisa, a

velocidade muito próximo do chão do túnel é nula. Assim, a superfície impõe uma tensão por efeito

viscoso sobre o escoamento, que causa o desenvolvimento de uma camada limite junto às paredes.

À medida que o escoamento atravessa o túnel, o trabalho realizado por esta força de corte sobre o

escoamento torna-se maior, provocando um crescimento da camada limite ao longo do túnel.

Um conjunto de medições foi realizado usando dois anemómetros TA5 da airflow, sendo medidas

simultaneamente a velocidade média a uma dada altura U e a velocidade a uma altura não

perturbada (localizada no centro do túnel) δU que foi fixada neste caso em cerca de 10 m/s em todos

os ensaios.

Tal como representado na Figura 6.1 foram feitas medições em três secções transversais,

localizadas a 0.20 m, 2.25 m e 4.30 m do início da zona de teste do túnel. Esta última corresponde ao

local onde se efectuariam medições com a simulação da CLA e posteriormente seria estaria

localizada a face frontal do cubo onde foram feitas as medições dos coeficientes de pressão.

Figura 6.1 - Representação esquemática em planta da zona de ensaios (a azul) e das posições (a vermelho)

dos conjuntos de ensaios realizados para caracterizar o comportamento do túnel de vento em vazio (dimensões

em metros).

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29

Em cada uma das três secções transversais referidas, as medições foram realizadas ao longo de

linhas verticais, no centro da secção e 0.30 m afastado do centro, para a avaliação da uniformidade

do escoamento e do crescimento da camada limite ao longo do túnel.

Os resultados obtidos nas três secções transversais são semelhantes aos representados na

Figura 6.2, que se refere à secção 2.25 m.

U/Uδ

Altura[cm]

0.1 0.3 0.5 0.7 0.9 1.10.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

18.0

20.0

Posição central30 cm afastado

Figura 6.2 – Perfil de Velocidades no túnel em vazio para a secção transversal localizada 2.25 m depois do início

da secção de teste do túnel

Os resultados também mostraram a existência de uma pequena camada limite. No entanto, embora

pequena, a perturbação é notória e pode ser suficiente para afectar resultados experimentais,

nomeadamente os que são muito dependentes do perfil de velocidades junto ao solo.

Distância do início da secção de teste [cm]

Alturadacamadalimite[cm]

0 100 200 300 400 5000

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Altura da camada limite

Figura 6-3 – Variação da altura da camada limite ao longo do túnel sem elementos de rugosidade

As medições nos alinhamentos localizados 0.30 m afastados da secção central mostraram que as

velocidades do escoamento são similares às verificadas nos alinhamentos centrais, esta diferença é

mais acentuada para jusante, em que as diferenças para a secção 4.30 m atingem 7%. A altura da

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30

camada limite (δ ) foi definida como a altura para a qual se estima que U supera 99% de δU ,

originando os dados representados na Figura 6-3, que mostra o crescimento aproximado da altura da

camada limite ao longo do comprimento da secção de teste.

6.2. Verificação da CLA gerada

Os resultados para a distribuição de velocidades na secção transversal de referência, localizada

3.98 m da face frontal dos pináculos (4.30 m depois do início da secção de teste do túnel), são

apresentados na Figura 6-4. Os valores obtidos ajustam-se bem ao inicialmente projectado: a altura

da camada limite gerada foi estimada como 76.5 cm (9% mais do que o valor de projecto 0.70 m) e os

dados ajustam-se a uma curva com α =0.21 (5% mais alto do que o valor de projecto de 0.20 m) com

um coeficiente de correlação de 99.1%.

Esta camada limite gerada representa com boa aproximação uma camada limite do tipo

suburbano. Estimando a altura da CLA para um terreno do tipo do tipo suburbano como 340 m [24], a

escala da simulação seria 1/444.

Na Figura 6-4, os resultados são comparados com os obtidos por [23] (ver também [25]) num

túnel de vento de dimensão média (12 m de comprimento), sendo os valores adimensionalizados

para comparação. Os resultados destes autores foram também obtidos para um expoente da lei de

potência de α = 0.21, mas simulando uma CLA menos espessa (54 cm).

A intensidade de turbulência obtida com a simulação da CLA foi igualmente comparada com o

perfil de intensidade de turbulência correspondente ao terreno tipo III do EC1.

U/Uδ

Altura[cm]

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.00

10

20

30

40

50

60

70

80

90Dados ExperimentaisAjuste tipo potênciaStathopoulos & Dumitrescu [23]

Figura 6-4 – Perfil de velocidades médias na camada limite atmosférica gerada no túnel de vento, mostrando-se

o ajustamento a uma curva tipo potência (α = 0.21) e a comparação com os dados experimentais de

Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23]

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31

Os resultados experimentais foram também ajustados a uma lei do tipo logarítmico (Eq. 2.2). Os

parâmetros obtidos para este ajustamento foram *u = 0.596 m/s e 0z = 0.00112 m para um

coeficiente de correlação 2R = 0.967.

O resultado obtido corresponde a um quociente foi obtido de 1.95 entre os números de Jensen do

modelo e do protótipo. O número de Jensen é definido como o quociente entre a altura da camada

limite δ e a escala de rugosidade 0z , sendo uma medida não-dimensional da rugosidade

aerodinâmica. A rugosidade do terreno é considerada adequadamente reproduzida quando o número

de Jensen é menor que do que 3 [12].

Na Figura 6-5, os resultados experimentais são comparados com os perfis de velocidade de EC1

para os tipos de terreno II ( 19.0=rk e 0z =0.05 m) e III ( 215.0=rk e 0z =0.30 m). Os perfis do EC1

estão representados à escala geométrica calculada anteriormente (1/444). A curva logarítmica (obtida

com mínimos quadrados) está próxima da curva representando o perfil de velocidades do terreno tipo

III. A maioria dos pontos experimentais está próximo desta curva, com um desvio máximo de 7.5 %.

U/Uδ

Altura[cm]

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.00

10

20

30

40

50

60

70

80Dados ExperimentaisAjustamento LogarítmicoEC1 Terreno Tipo IIIEC1 Terreno Tipo II

Figura 6-5 – Comparação entre o perfil de velocidades da CLA simulada (e o perfil do tipo logarítmico que

melhor se lhe ajusta) e o perfil de velocidades do EC1 para os tipos de terreno II e III

A intensidade de turbulência obtida com a simulação da CLA foi também comparada com o perfil

de intensidade de turbulência correspondente ao terreno tipo III do EC1. A Figura 6-6 mostra que a

intensidade de turbulência longitudinal está razoavelmente representada até uma altura de 10 cm

(44.4 m à escala real – correspondente a um edifício de 14 pisos). Para alturas superiores a 10 cm, a

intensidade de turbulência afasta-se progressivamente dos valores regulamentares.

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32

Intensidade de turbulência [%]

Altura[cm]

0.0 10.0 20.0 30.00

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100Dados ExperimentaisEC1 terreno tipo IIIStathopoulos & Dumitrescu [23]

Figura 6-6 – Intensidade de turbulência na simulação da CLA e comparação com os resultados experimentais de

Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23].

A comparação com os resultados obtidos por Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23] para a

intensidade de turbulência é apresentada na Figura 6-6. Os resultados para a intensidade de

turbulência não são muito diferentes dos incluídos [23], especialmente junto ao chão do túnel. Isto

verifica-se apesar de esses autores utilizarem um túnel mais longo (12 m) que no presente caso.

Para completar a análise da turbulência, o espectro de potência das flutuações longitudinais de

velocidade foi determinado para diversas alturas, concretamente: 1.9 cm, 6.4 cm, 11.4 cm, 29.0 cm e

44.3 cm. A Figura 6-7 e a Figura 6-8 mostram o espectro de potência das flutuações longitudinais de

velocidade para alturas respectivamente de 11.4 e 44.3 cm. O espectro é comparado com o

correspondente à expressão do EC1 (Equação 4.7)

fL=nLu/U

nSu(n)/σ

2

10-3 10-2 10-1 100 101 10210-3

10-2

10-1

100

Dados ExperimentaisEC1 terreno tipo III

Figura 6-7 – Espectro de potência das flutuações longitudinais de velocidade obtido a uma altura de 11.4 cm e

comparação com os valores do EC1 (para xuL =0.35 m)

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fL=nLu/U

nSu(n)/σ

2

10-3 10-2 10-1 100 101 10210-3

10-2

10-1

100

Dados ExperimentaisEC1 terreno tipo III

Figura 6-8 - Espectro de potência das flutuações longitudinais de velocidade obtido a uma altura de 44.3 cm e

comparação com os valores do EC1 (para xuL =0.58 m).

Da análise das distribuições espectrais pode observar-se que as flutuações da velocidade do

vento natural estão razoavelmente representadas para frequências superiores a 5 Hz em todos os

casos (o que na Figura 6-7 corresponde a uma frequência não-dimensional de 0.39 e na Figura 6-8 a

0.64 – frequências assinaladas a traço-ponto). No entanto, para frequências mais baixas, é notório

que o escoamento no túnel tem um défice de turbulência e este é mais significativo para maiores

alturas, ou seja, os défices de turbulência para alturas superiores estão associados a flutuações

insuficientes associadas a frequências mais baixas.

Os resultados experimentais mostram que a simulação da CLA no túnel de vento do DECivil-IST é

bastante precisa para a simulação da acção estática do vento atmosférico em edifícios num terreno

suburbano. A sua utilização para a simulação de acções dinâmicas sobre edifícios em simultâneo

com o perfil de velocidades da CLA é razoável do nível de turbulência, principalmente até uma altura

de 44 m à escala real, a partir da qual a representação torna-se pouco realista. Ainda assim, e

principalmente tendo em conta as reduzidas dimensões do túnel, a turbulência está muito melhor

reproduzida do que no túnel sem elementos de rugosidade.

6.3. Coeficientes de pressão num edifício cúbico

Os coeficientes de pressão foram determinados num edifício cúbico com 30 cm de lado, sujeito ao

perfil de velocidades e turbulência apresentado na secção anterior. Os coeficientes de pressão ( pC )

obtidos, estão representados na Figura 6-9 (face frontal), Figura 6-10 (face lateral), Figura 6-11 (face

de tardoz e Figura 6-12 (cobertura). Os resultados típicos para um perfil de camada limite são

representados na Figura 6-13.

Na face frontal do modelo verifica-se que a distribuição de pressão é semelhante à obtida por

outros autores para situações de perfil incidente em camada limite (ver também [14], [23]) revelando

diferenças significativas em relação aos coeficientes habitualmente obtidos para um perfil incidente

do tipo uniforme. Efectivamente, o valor máximo do coeficiente de pressão encontra-se agora a uma

altura de dois terços da face (em vez de na zona junto ao solo como no caso do escoamento

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uniforme) e o coeficiente de pressão máximo tem um valor próximo de 0,8 (em vez de 1,0 no caso de

escoamento uniforme).

Nas restantes faces do cubo os resultados obtidos afastaram-se significativamente dos

esperados, com valores dos coeficientes de pressão muito superiores aos obtidos por outros autores,

embora o andamento qualitativo dos campos de pressões obtidos seja semelhante.

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.000.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

-0.09 0.30 0.60 0.31 -0.09

-0.16 0.21 0.50 0.22 -0.14

-0.05 0.26 0.50 0.26 -0.05

0.22 0.50 0.65 0.47 0.17

0.37 0.63 0.78 0.63 0.29

0.41 0.63 0.72 0.62 0.38

0.32 0.44 0.46 0.43 0.31

-2.75-2.50-2.25-2.00-1.75-1.50-1.25-1.00-0.75-0.50-0.250.000.100.200.300.400.500.600.700.800.901.00

Figura 6-9 - Coeficientes de pressão obtidos na face frontal do cubo, dimensões em cm (à escala da simulação

30 cm correspondem a 133,2 m).

0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.000.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

-2.75-2.50-2.25-2.00-1.75-1.50-1.25-1.00-0.75-0.50-0.250.000.100.200.300.400.500.600.700.800.901.00

-0.85 -0.92 -1.43 -1.80 -1.73

-0.91 -1.00 -1.56 -1.74 -1.84

-0.96 -1.08 -1.65 -1.81 -1.70

-0.95 -1.08 -1.71 -1.81 -1.69

-0.94 -1.08 -1.72 -1.88 -1.80

-0.90 -1.05 -1.76 -1.96 -1.85

-0.91 -1.02 -1.68 -2.02 -1.93

Figura 6-10 - Coeficientes de Pressão obtidos na face lateral esquerda do modelo.

Direcção do

escoamento

Page 48: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

35

5.00 10.00 15.00 20.00 25.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

-2.75-2.50-2.25-2.00-1.75-1.50-1.25-1.00-0.80-0.50-0.250.000.100.200.300.400.500.600.700.800.901.00

-0.79 -0.80 -0.76 -0.83 -0.82

-0.80 -0.82 -0.77 -0.82 -0.84

-0.82 -0.84 -0.80 -0.85 -0.83

-0.85 -0.85 -0.85 -0.89 -0.88

-0.86 -0.88 -0.87 -0.88 -0.90

-0.86 -0.88 -0.89 -0.89 -0.88

-0.84 -0.85 -0.87 -0.88 -0.87

Figura 6-11 - Coeficientes de Pressão obtidos na face de tardoz do modelo.

5.00 10.00 15.00 20.00 25.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

-2.75-2.50-2.25-2.00-1.75-1.50-1.25-1.00-0.75-0.50-0.250.000.100.200.300.400.500.600.700.800.901.00

-2.35 -2.34 -2.20 -2.36 -2.39

-2.41 -2.43 -2.32 -2.44 -2.41

-2.34 -2.41 -2.41 -2.41 -2.31

-1.83 -2.02 -2.04 -1.97 -1.92

-1.34 -1.39 -1.42 -1.36 -1.32

-1.21 -1.15 -1.19 -1.12 -1.01

-1.10 -1.01 -1.07 -1.02 -1.03

Figura 6-12 - Coeficientes de Pressão obtidos na face de cobertura do modelo.

Direcção do

escoamento

Page 49: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

36

Figura 6-13 - Coeficientes de Pressão num cubo sujeito a um perfil de velocidades do tipo camada limite [6].

Uma vez que os coeficientes de pressão negativos estão muito afastados dos valores esperados,

colocaram-se diversas hipóteses para explicar estas diferenças. O facto de o modelo estar colocado

no final da secção de teste do túnel pode ter como consequência uma interacção entre a esteira

gerada pelo corpo não-fuselado e do ventilador, o que pode ter dois efeitos: por um lado não permitir

o correcto e livre desenvolvimento da esteira; por outro lado alterar o valor da pressão estática na

zona de recirculação, uma vez que a pressão na zona de teste é menor do que no exterior. Uma

outra hipótese, dada a natureza dos resultados, seria ter a tomada da pressão estática ou o tubo

danificado.

Uma outra hipótese explicativa seria a não uniformidade transversal do perfil de velocidades. Para

avaliar esta hípotese o campo de velocidades foi obtido na secção de teste com uma malha regular

de 20 pontos de medição, sem o modelo. As medições estão adimensionalisadas em relação à altura

gradiente na zona central da secção e foram obtidas por um processo em tudo idêntico ao descrito no

capítulo 5. Na Figura 6-14 a posição em que o cubo se encontra colocado quando são medidos os

coeficientes de pressão está assinalada a traço interrompido.

Os resultados mostram que o perfil de velocidades não é completamente transversalmente

uniforme, apesar de a diferença não ser significativa. A alteração transversal do perfil poderia ser

responsável pela alteração da forma da linha de separação e consequentemente dos coeficientes de

pressão de sucção. No entanto, e dada a grande diferença entre os valores esperados e os obtidos,

poderá haver uma associação entre as várias das hipóteses referidas para justificar um desvio tão

acentuado.

Page 50: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

37

Figura 6-14 - Campo de Velocidades obtido na secção em que se determinaram os coeficientes de pressão do

cubo (vista de montante)

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38

CAPÍTULO 7

7. Caracterização do Problema Numérico

7.1. Introdução

No dimensionamento de uma estrutura sujeita à acção do vento existem diversos níveis de

complexidade que se podem considerar. A escolha do nível de detalhe dependerá da importância e

susceptibilidade da estrutura. Para o cálculo detalhado de edifícios com um grande detalhe

geométrico, susceptíveis a problemas de ressonância aerodinâmica ou com interacção significativa

com outros, ainda não é inequívoca a escolha entre a realização de testes em túnel de vento ou de

cálculos numéricos utilizando códigos de mecânica de fluidos computacional (Computational Fluid

Dynamics - CFD) [27].

Os principais problemas que dificultam o cálculo de edifícios ao vento em CFD são: número de

Reynolds muito elevado; a perturbação no escoamento a barlavento provocada pelo corpo não

fuselado; as arestas vivas e o efeito da esteira na fronteira de saída [28]. No presente caso, em que

se pretende analisar o efeito da escolha do perfil de velocidades incidente, a estes problemas

adiciona-se a dificuldade em conseguir convectar um perfil de velocidades correspondente à CLA

desde a fronteira de entrada até ao edifício modelado.

Nesta parte do trabalho pretende-se estudar numericamente a influência da escolha de um perfil

de camada limite de acordo com o EC1 em oposição a um perfil de velocidades uniforme. No caso de

um edifício cúbico, alguns destes efeitos são já conhecidos, nomeadamente graças a estudos

experimentais [23][26]. Destes efeitos deve-se destacar a subida do ponto de estagnação na face

frontal do cubo, bem como o aparecimento de pressões negativas na zona inferior da face frontal

devido ao efeito de recirculação descendente conhecido como vórtice em ferradura, efeitos estes já

descritos nos capítulos anteriores.

7.2. Fundamentos do problema numérico

A Mecânica dos Fluidos Computacional é, presentemente, um ramo da ciência bastante

desenvolvido e que envolve detalhes complexos e ainda em fase de amplo desenvolvimento. O

software FLUENT [29], utilizado nesta parte do trabalho, utiliza o método dos volumes finitos e as

equações de Navier-Stokes para resolver as características do escoamento do fluido. Alguns detalhes

sobre a formulação que é utilizada pelo programa de cálculo são apresentados no Anexo A1, embora

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39

uma versão mais completa possa ser encontrada em bibliografia especializada [30][31] e no manual

do FLUENT [29].

A realização de uma simulação numérica de escoamento num software comercial pode ser

realizada sem o conhecimento profundo de todas as rotinas que nele estão inseridas, nomeadamente

no que se refere aos algoritmos numéricos que são utilizados para tratar as diversas partes do

problema. Nas fases mais prematuras da utilização de softwares de CFD é habitual a realização de

um teste preliminar de um caso com comportamento físico conhecido (caso-teste) em que se verifica

se as condições físicas do problema a estudar podem ser reproduzidas no modelo (que deve ser

semelhante ao caso-teste). Ainda assim, este método pode revelar-se insuficiente para resolver

grande parte dos casos, acabando por exigir o conhecimento dos detalhes numéricos de resolução

em profundidade.

A resolução de um problema de CFD, pode ser dividida em três partes principais. Na primeira

parte, o pré-processamento, é necessário, em primeiro lugar, definir a geometria do problema. No

caso presente, foi escolhido um edifício cúbico com 30 m de lado rodeado por um domínio vazio

suficientemente grande para que as fronteiras não interferissem com o modelo. Em segundo lugar, é

necessário realizar a divisão do domínio numérico em volumes de controlo – construção da malha.

Esta construção foi feita no software GAMBIT [32], que está associado ao FLUENT. Esta construção

tem de ser feita seguindo alguns princípios básicos, como detalhado na secção 7.3. Uma terceira

parte é a definição das condições de fronteira apropriadas nas células que tocam as fronteiras do

domínio. No presente trabalho, assumem especial relevância a fronteira de entrada, onde será

imposto um perfil de velocidades e a fronteira-chão onde será necessário impor rugosidade

aerodinâmica (numérica) para manter o perfil de velocidades da entrada até ao obstáculo. Estas

condições estão detalhadas no capítulo 7.4. Em último lugar, é necessária a definição dos fenómenos

físicos que têm que ser modelados, incluído as características do fluido. Neste caso, uma parte

importante é a modelação da turbulência, que passa sempre pela utilização de um modelo de

turbulência, que será detalhado na secção 7.5.

A segunda parte da solução de um problema de CFD é resolução do sistema de equações. Uma

vez que não se conseguiria aqui apresentar a formulação das equações de Navier Stokes com

suficiente detalhe, apresenta-se uma pequena parte da formulação no Anexo A2, bem como alguns

pormenores sobre o modelo de turbulência.

A terceira parte da solução é o pós-processamento que, nos programas comerciais, está facilitada

pela existência de rotinas versáteis e que permitem um output relativamente rápido.

7.3. Especificação da malha e do domínio utilizado

O caso em análise é um edifício cúbico com 30 metros de lado. Neste trabalho, admitiram-se as

seguintes simplificações do edifício real: (a) as arestas são vivas (aguçadas); (b) as faces do edifício

são planas e sem rugosidade aerodinâmica (varandas, janelas..); (c) os efeitos aerodinâmicos locais

dos edifícios ou acidentes topográficos locais são desprezáveis ou são completamente reproduzidos

no perfil de velocidades e turbulência incidente que é definido na secção de entrada; (d) a direcção do

vento é constante e normal a uma das faces do modelo.

Page 53: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

40

O domínio do estudo numérico foi definido de acordo com as seguintes dimensões em relação à

aresta L: no sentido do escoamento o comprimento do domínio é de 22 L, sendo 9 L a montante e 12

L a sotavento do edifício; a altura do domínio foi definida como 8 L e a largura de 10 L. Os principais

critérios para a especificação das dimensões do domínio numérico são os seguintes: no caso da

fronteira de entrada, evitar que o cálculo convirja para uma de pressão estática na fronteira de

entrada não uniforme por influência do obstáculo situado a jusante; no caso das paredes laterais e do

tecto, é evitar que as velocidades normais a estas fossem relevantes, se fosse permitido o caudal de

massa através delas, o que não acontece no cálculo; no caso da fronteira de saída pretende-se que a

esteira formada pela presença do obstáculo tenha espaço suficiente para se desenvolver de forma a

que a imposição de uma fronteira de saída (do tipo ‘outflow’ no FLUENT) não influencie a sua forma

e, como consequência, todo o escoamento.

A malha foi construída em dois blocos distintos, tendo em conta as características do escoamento

em análise. Na zona em redor do cubo, num volume de dimensões 3 L × 3 L × 2 L (comprimento/

largura/altura), foi definida uma malha estruturada crescente a partir os elementos definidos junto ao

cubo. A espessura do primeiro elemento junto à parede do cubo foi obtida de forma a que os valores

de y+ (ver secção 8.2) no centro desse elemento se situassem na gama 30-300, o que foi conseguido

para a quase totalidade dos elementos utilizando uma espessura de 0.02 m. Fora deste

paralelepípedo interior foi definida uma malha não estruturada tetraédrica, sendo mais refinada junto

ao chão e no centro do domínio, de forma a obter uma melhor descrição do gradiente de velocidades

junto ao solo e das variações devidas à esteira na zona central a sotavento do edifício. Cada face do

cubo está discretizada por uma malha de 25× 25 elementos. No total, a malha final é constituída por

1.2×106 elementos. Esta malha foi a terceira a ser construída, e foi obtida por refinamento selectivo

de duas malhas anteriores, que apresentaram igualmente maiores problemas de convergência.

7.4. Definição das condições de fronteira

Neste estudo foi utilizado o programa FLUENT, resolvendo as equações de Navier-Stokes para o

campo médio, utilizando o modelo de turbulência κ-ε e uma formulação estacionária (independente do

tempo). Inicialmente, e para validação do modelo, foi utilizado um perfil de velocidades média à

entrada uniforme e apenas com componente horizontal, com módulo 10 m/s. O número de Reynolds

é, neste caso, aproximadamente 2×107, pelo que é expectável que devido à libertação de vórtices os

efeitos não estacionários possam ser significativos. A estimativa de coeficientes de pressão médios,

bem como dos campos de velocidades a partir deste cálculo estacionário, pode assim considerar-se

uma aproximação.

Os perfis de velocidade do tipo CLA na secção de entrada do domínio foram impostos a partir das

expressões da camada limite atmosférica do EC1 através de uma função definida pelo utilizador

(UDF) escrita em linguagem C, utilizando como velocidade de referência bU = 10 m/s. Os valores de

k (energia cinética turbulenta) e de ε (taxa de dissipação da energia turbulenta) podem ser obtidos,

tendo em conta a formulação do EC1, da intensidade de turbulência a partir das seguintes

expressões:

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41

( ))()(23)( zIzUzk u= 2 (7.1)

( )zKd

zKu 233* .

.==ε (7.2)

em que Kdu =* , K é a constante de Von Karman (aproximadamente 0.4) e d é calculado com a

seguinte expressão derivada do EC1:

Kuz

Ud b

*07.00

05.019.0. =⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛= (7.3)

Utilizando as expressões (7.1) e (7.2) em (7.3), obtém-se que, de acordo com a formulação do

EC1, k é constante em altura para cada tipo de terreno. O perfil de ε assemelha-se a uma hipérbole

rectangular.

As fronteiras laterais do domínio, bem como a fronteira correspondente ao tecto deste túnel de

vento numérico, foram definidas como paredes impermeáveis e possuindo tensão de corte nula, pelo

que a velocidade tangencial é em geral diferente de zero e a velocidade normal é nula. A fronteira de

saída foi definida como saída livre (outflow). Nas faces do edifício cúbico foi definida a condição de

não escorregamento (a velocidade tangencial na face primeiro elemento junto à parede é zero), não

tendo sido adicionada nenhuma rugosidade adicional.

Quanto à fronteira-chão do domínio numérico, esta exige um cuidado adicional. Uma vez que, por

definição, um perfil de velocidades do tipo CLA está em equilíbrio com uma rugosidade aerodinâmica

do terreno constante e uniformemente distribuída no chão, só é expectável que os perfis de

velocidade e turbulência se mantenham ao longo do domínio se esta rugosidade estiver bem

representada. Este facto significa nomeadamente que a condição de não escorregamento não é só

por si suficiente para a manutenção do perfil de velocidades.

O uso do modelo k -ε para a simulação da CLA é uma problemática amplamente discutida e para

a qual num software como o FLUENT (em que não se tem acesso a modificar o código-fonte) é difícil

obter uma solução satisfatória [32][34], nomeadamente no que se refere à energia cinética turbulenta.

Na programação de um código próprio para resolver a estabilidade da CLA ao longo de um

domínio numérico, a partir do modelo de Richards e Hoxey [35] é possível obter uma melhoria da

estabilidade muito significativa do perfil de velocidades e de turbulência ao longo do domínio. Esta

estabilidade pode ser conseguida ao longo de um domínio longo mesmo sem uma grande

discretização do domínio. O modelo parte dos seguintes pressupostos para simular a estabilidade de

uma camada limite 2D:

(a) A velocidade vertical é zero (no caso 3D a velocidade transversal também terá de ser zero);

(b) A pressão no domínio é constante;

(c) A tensão de corte, 0τ é invariante em altura, isto é:

20 *)(u

zu

t ρτδδµ == (7.4)

em que tµ é a viscosidade turbulenta;

(d) Verificam-se as equações de conservação de κ e de ε:

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42

0=−+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ρε

κε

δδκ

σµ

δδ

KK

t Gzz

(7.5)

02

21 =−+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛κερ

κε

δδε

σµ

δδ

εεε

CGCzz k

t (7.6)

onde se usam as seguintes expressões para a produção de κ e para a viscosidade turbulenta: 2

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=zuG tk δδµ (7.7)

εκρ µ

2

Cvt = (7.8)

e onde kσ , εσ , 1εC , 2εC e µC tomam os valores padrão para o modelo κ-ε, respectivamente: 1,0;

1,3; 1,44; 1,92 e 0,09 (que são também os valores base utilizados no código FLUENT [29]). As

equações anteriores são satisfeitas na condição de fronteira de entrada, fazendo as seguintes

alterações às equações (4.1) (7.1) e (7.2) (utilizando (7.3) para introduzir a formulação do EC1):

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ +=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛ +=

0

0

0

0 lnln.*)(zzz

dzzz

KuzU (7.9)

µµ

κCdK

Cu 22 )(*)(

== (7.10)

)()(*)(

)(0

23

0

3

zzKd

zzKuz

+=

+=ε . (7.11)

A expressão (7.11) só respeita (7.4-7.6) se:

µεεεσ

CCCK 1

)( 12

2

−= (7.12)

o que significa que a constante εσ é igual a 1,11, o que foi aplicado no presente trabalho.

Segundo Blocken et al.[34], seriam necessárias 4 condições para conseguir a simulação num

código comercial da manutenção do perfil de CLA num domínio vazio. Estas são as seguintes:

(a) A velocidade vertical ser zero (no caso 3D a velocidade transversal também terá de ser

zero),

(b) A distribuição transversal do perfil de CLA é homogénea,

(c) A distância do centro do primeiro elemento do volume adjacente ao chão ser maior que o

tamanho físico da rugosidade aerodinâmica do terreno,

(d) Conhecer com exactidão a relação entre a rugosidade do tipo areia (sand-grain roughness

– utilizada nos códigos de CFD) e a escala de rugosidade ( 0z ).

Como é demonstrado por estes autores, não é possível conseguir as quatro condições em

simultâneo. Isto tem como consequência a ocorrência de velocidades verticais não negligenciáveis, e,

como consequência, a transformação do perfil de velocidades, nomeadamente junto ao solo.

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43

Tendo em conta a condição de fronteira-chão, é necessário alterar o valor da rugosidade

aerodinâmica da parede. No FLUENT isto é possível usando a Lei de parede padrão (standard wall

function) e alterando os parâmetros roughness height Rε e roughness constant, sC . Apesar da

semelhança de nomenclatura, o valor de Rε não é igual ao de 0z (roughness lenght). Estes valores

estão relacionados pela seguinte expressão (ver demonstração em [32]):

sR C

Ez0=ε (7.13)

A constante E é uma constante empírica que toma o valor 9.793 no FLUENT para a lei de

parede com rugosidade. Usando o valor de sC de 0,5 (valor base no FLUENT), obtém-se

aproximadamente:

020zR =ε (7.14)

utilizando respectivamente para cada tipo de terreno o valor 0z indicado na Tabela 1.

Tal como discutido em [34], os requisitos apresentados em Richards e Hoxey [35] não são

completamente compatíveis com as funções de parede dos códigos comerciais de CFD, uma vez que

Rε é baseado numa rugosidade de muito pequena dimensão (sand-grain roughness wall functions).

Assim, é complicada a manutenção de uma CLA estável ao longo de um domínio muito extenso,

nomeadamente dos perfis de k e ε , devido à excessiva dissipação de energia turbulenta na primeira

célula junto às paredes do domínio. Estes autores [34] apresentam um conjunto de procedimentos

para melhorar a estabilidade da camada limite atmosférica num domínio numérico. Estas incluem: a

modelação explícita dos elementos de rugosidade (potencialmente dispendiosa em termos

computacionais); a minimização da extensão do domínio a montante do obstáculo (utilizando apenas

o mínimo necessário para reproduzir a perturbação a montante); a redução artificial da energia

cinética turbulenta (de forma a minimizar a transferência de energia entre as camadas horizontais) e a

imposição de tensões de corte no chão e no tecto do domínio (opção limitada às zonas longe do

obstáculo).

7.5. Modelo de Turbulência

A escolha de um modelo de turbulência adequado é essencial para tratar o escoamento do ar em

torno de um edifício. Os modelos de turbulência mais utilizados neste tipo de estudos são o κ - ε

(padrão ou com alterações) baseado nas Equações de Navier Stokes do campo médio (RANS) e o

modelo Large Eddy Simulation (LES). Alguns exemplos da aplicação destes modelos a edifícios

podem ser encontrados em [28] e [36].

O modelo LES é reconhecido como sendo vantajoso no cálculo deste tipo de escoamentos, por

tornar possível a representação da variação do escoamento incidente ao longo do tempo (reproduz a

configuração dos próprios vórtices e não apenas a energia cinética turbulenta) e por apresentar uma

melhor modelação da zona de separação e dos vórtices produzidos pelo obstáculo. Estas vantagens

são conseguidas à custa de um tempo de cálculo muito superior, que actualmente ainda se pode

considerar excessivo, sendo ainda apenas reportados cálculos para números de Reynolds inferiores

aos reais.

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44

Neste estudo são utilizados, na modelação da turbulência, o modeloκ - ε padrão e o modelo κ -

ε com a modificação MMK. A necessidade da alteração do modelo de turbulência κ - ε padrão

resulta da excessiva produção de energia turbulenta junto ao obstáculo quando este modelo é usado

em corpos não-fuselados [28], o que provoca uma alteração significativa e irrealista da viscosidade

turbulenta junto ao obstáculo.

A alteração conhecida como MMK resulta do trabalho reportado em [37] (o nome é derivado das

iniciais dos nomes dos seus autores). Esta alteração utiliza a modificação da expressão da

viscosidade turbulenta tv de forma a reduzir a excessiva produção de energia turbulenta em redor do

corpo. Sendo a taxa de deformação S e a taxa de vorticidade Ω , dadas por:

2

2

21

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

i

j

j

i

dxdu

dxdu

S , (7.15)

2

2

21

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=Ω

i

j

j

i

dxdu

dxdu

(7.16)

Introduz-se a seguinte alteração:

ε

2* kCv tt = ,

SCCt

Ω= µ

* )1 (se <ΩS

ou µCCt =* )1 (se ≥

ΩS

. (7.17),

o que significa, na prática, reduzir a viscosidade turbulenta nas zonas em que a taxa de vorticidade é

superior à taxa de deformação.

Uma vez que, no caso presente, o escoamento incidente do tipo CLA possui já uma quantidade

significativa de energia cinética turbulenta, é de esperar que o tratamento deste parâmetro seja

essencial para uma correcta descrição do escoamento. Com a utilização deste modelo, é também

possível reproduzir a emissão de vórtices por parte do edifício no caso de cálculos não estacionários

com razoável aproximação, o que não parece ser possível com o modelo k - ε padrão [28].

No presente trabalho, o modelo MMK foi implementado utilizando o modelo k - ε padrão

utilizando o código descrito em [28] e escolhendo esta função na definição da viscosidade turbulenta

do código FLUENT.

De forma a respeitar as condições descritas na secção 7.4, o coeficiente εσ (TDR - Prandtl

Number) foi alterado no modeloκ - ε do FLUENT de 1,3 para 1,11.

7.6. Casos analisados

Para a abordagem deste trabalho, foram analisados dois conjuntos de casos. No primeiro

conjunto de casos, utilizou-se apenas a parte do domínio a montante do obstáculo, de forma a

verificar em que condições é possível transportar da fronteira de entrada até à fronteira de saída as

características de um perfil de velocidades e turbulência. Esta primeira abordagem é essencial para a

análise dos casos em que o obstáculo está presente, de forma a separar as causas de erro. Por

exemplo, na adimensionalização dos coeficientes de pressão utiliza-se o quadrado do valor da

Page 58: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

45

velocidade à altura do obstáculo (30 m). Isto significa que uma pequena alteração do perfil de

velocidades alterará não só o valor das pressões como especialmente o valor de pC .

Numa segunda fase, foram calculados os coeficientes de pressão e os campos de velocidades

para os perfis de camada limite preconizados no EC1, e para um perfil de velocidades uniforme. Com

estes cálculos pretende verificar-se a que ponto o método de cálculo utilizado será viável e identificar

quais as causas de erro a que possa estar sujeito.

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46

CAPÍTULO 8

8. Resultados do Modelo Numérico

8.1. Verificação da manutenção da CLA ao longo do domínio numérico

De forma a garantir que a forma do perfil de velocidades médias e do perfil de energia cinética

turbulenta não se alteram desde a fronteira de entrada até à zona do obstáculo, por efeito da

formulação da lei de parede e da rugosidade no solo, este problema foi tratado separadamente. Para

tal, o domínio a montante do obstáculo foi analisado individualmente e foi feita uma verificação do

perfil de velocidades na fronteira de saída. Neste primeiro caso em que não existe obstáculo os perfis

de velocidade e turbulência deveriam manter-se, partindo do pressuposto de que estão em equilíbrio

com a condição de fronteira do chão ao longo de todo o domínio.

A Figura 8-1 apresenta os resultados para a verificação da manutenção do perfil de velocidades

ao longo do domínio a montante do cubo, utilizando um perfil de velocidade e turbulência à entrada

correspondente ao tipo de terreno III do EC1. No caso 1 foi utilizada a condição de tensão de corte

imposta no chão igual a zero. Esta condição permite uma velocidade tangencial na fronteira diferente

de zero e é ideal para a manutenção de um perfil de velocidades do tipo uniforme em altura. No caso

2 é utilizada a condição de não escorregamento no chão (velocidade tangencial igual a zero). No

caso 3 é utilizada uma condição de não escorregamento associada a uma roughness lenght de 6 m,

correspondente ao terreno tipo III (o que se obtém usando a Tabela 4-1 e a Eq. (7.14) ). No caso 4 foi

adicionada a alteração MMK ao modelo de turbulência κ - ε .

Os resultados mostram que a variação de velocidade em relação ao perfil imposto à entrada pode

ser significativa para as zonas junto do solo. Verifica-se que a utilização de uma condição de não

escorregamento é insuficiente para auxiliar a manutenção do perfil de velocidades. A utilização da

rugosidade no chão melhora a manutenção do perfil de velocidades de forma significativa,

verificando-se ainda que a introdução do modelo MMK tem efeito muito reduzido no perfil de

velocidades. Como é possível verificar, a utilização de uma rugosidade não tem um efeito suficiente

para manter o perfil de camada limite. Esta insuficiência é ainda assim apenas significativa (>5 %)

para valores entre os 5 m (zmin correspondente ao perfil do tipo III) e os 12 m. Junto ao solo, verificam-

se variações maiores mas o valor da velocidade também é mais baixo.

Page 60: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

47

Figura 8-1 - Variação da velocidade à saída do domínio (%) em x = 9L relativamente ao perfil de entrada do tipo

CLA (perfil para terreno tipo III) Caso 1 – Tensão tangencial nula no chão, Caso 2: Condição de não

escorregamento no chão com superfície lisa, Caso 3: Roughness Height 6 m no chão, Caso 4: Roughness

Height 6 m no chão + modelo MMK.

Aumentando o valor de roughness height para 20 m no caso 3, verificou-se que o efeito deste

aumento é nulo, pelo que a utilização desta alteração da condição de parede tem um efeito limitado.

Esta situação deve-se ao facto de o aumento da rugosidade poder levar a que se esteja cada vez

mais longe das quatro condições de simulação apresentadas no capítulo 7.4, pelo que o seu efeito se

anula.

Variação da velocidade (%)

Alturaz[m]

0 10 20 30 400

10

20

30

40

50

60

70

Terreno tipo zeroTerreno tipo IIITerreno tipo IVPerfil CLA entrada

Figura 8-2 – Variação da velocidade à saída do domínio (%) relativamente ao perfil de entrada do tipo CLA (são

representados os casos dos tipos 0, III e IV).

A Figura 8-2 representa diversos casos em que foi analisada a manutenção do perfil de

velocidades entre as fronteiras de entrada e saída do domínio em vazio. Dos dados obtidos verifica-

se que, tal como esperado, existe grande dificuldade de manter a forma da camada limite atmosférica

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48

nomeadamente no caso dos perfis mais pronunciados. Verifica-se que no caso do terreno tipo IV o

perfil de velocidades fica completamente alterado para as alturas relevantes para o edifício, pelo que

o cálculo dos coeficientes de pressão fica bastante condicionado.

Figura 8-3 – Contorno da velocidade vertical (no eixo dos zz) para um perfil de velocidade à entrada

correspondente ao terreno tipo IV do EC1.

A Figura 8-3 mostra o campo de velocidades no sentido do eixo dos zz (vertical) ao longo do

plano vertical central do domínio para o perfil de terreno tipo IV, para o qual se verificaram as maiores

diferenças entre o perfil à entrada e à saída. Como se pode verificar, as velocidades verticais têm em

todo o domínio valores negativos, ou seja o escoamento é descendente. Isto leva a que a velocidade

na zona inferior aumente, tal como mostrado na Figura 8-2. As velocidades positivas na zona inferior

junto à entrada serão motivadas pelo facto de se impor um perfil constante abaixo de minz (neste

caso 10 m) e de esta condição constante não estar em equilíbrio físico com o problema.

A verificação da manutenção do perfil de k ao longo do domínio foi igualmente realizada. Devido

à definição da lei de parede rugosa, que implica sempre um pico na dissipação da energia turbulenta

no segundo elemento acima do solo, e também devido ao facto de o perfil logarítmico (que implica

k k uniforme) não ser uma descrição precisa da variação da turbulência para uma CLA, a

manutenção de k junto às paredes não é, em geral, conseguida [38].

Page 62: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

49

Figura 8-4 – Variação de κ ao longo do domínio, partindo de uma distribuição constante, correspondente ao

terreno do tipo III, até à fronteira de saída. Representa-se também o plano médio longitudinal vertical. Esquerda

– Sem modelo MMK - caso 3; Direita – Com o modelo MMK – caso 4.

O caso representado na Figura 8-4 esquerda (caso 3), em que se incluiu uma rugosidade

numérica no chão e sem o modelo MMK, foi aquele em que se obteve melhores resultados na

manutenção de k . No caso 4, em que foi utilizado o modelo MMK e a rugosidade (caso 4), o chão

com rugosidade tem efeito bastante reduzido na produção de κ, o que poderá estar relacionado com

o facto do modelo MMK limitar a produção de energia turbulenta. O resultado representado na Figura

8-4 à direita é semelhante ao que se obtém utilizando apenas a condição de fronteira de não

escorregamento no chão.

8.2. Verificação dos Valores de y+

Os valores de +y foram também verificados, de forma a permitir o uso da lei de parede padrão. O

parâmetro adimensional +y é utilizado para verificar a correcta representação da camada limite do

obstáculo pela primeira camada de volumes junto da parede e é definido por:

µρ Pyuy

*

=+ (8.1)

em que ρ , µ são, respectivamente, a massa volúmica e viscosidade no centro do primeiro volume e

Py a distância do centro desse elemento à parede.

O valor da espessura do primeiro elemento foi progressivamente alterado de modo a chegar à

condição 30030 << +y , obtendo-se um valor de 2 cm para essa espessura. Tal como representado

na Figura 8-5, os valores de +y são sempre superiores a 30 e apenas são superiores a 300 numa

pequena zona na face frontal.

Page 63: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

50

Figura 8-5 - Valores de y+ no centro da primeira camada de volumes de controlo que envolvem o cubo. O

escoamento tem o sentido positivo do eixo dos yy. Esquerda: valores na face frontal, tecto e face lateral direita.

Direita: Face de Tardoz.

8.3. Caracterização dos campos de velocidades com perfil incidente uniforme

De forma a verificar o modelo a ser utilizado para escoamentos do tipo camada limite, foi

realizado, numa primeira, fase o cálculo para um escoamento incidente uniforme e sem turbulência à

entrada. Assim, foi imposta uma velocidade uniforme à entrada, com um valor de 10 m/s, bem como

valores de κ e ε iguais a zero. No cubo e na fronteira chão na zona do cubo e a jusante, foi definida

a condição fronteira de não escorregamento. Na fronteira chão a montante do cubo foi definida uma

condição de tensão de corte nula, de modo a não alterar o perfil de velocidades até ao obstáculo.

Tanto no caso de escoamento uniforme como de escoamento em CLA, a convergência dá-se

para cerca de 2000 iterações e ao fim de 16 horas num computador com um processador Intel P4

D930, 3 GHz, com 2 GB de memória RAM.

De forma a permitir uma melhor compreensão das características do escoamento em torno do

edifício, apresenta-se, neste subcapítulo e no seguinte, as distribuições da velocidade para vários dos

planos representativos. Neste subcapítulo mostram-se unicamente os casos em foi imposto à entrada

um perfil de velocidades uniforme, enquanto no seguinte os casos de perfil incidente do tipo CLA.

A Figura 8-6 mostra os valores absolutos da velocidade no plano horizontal que passa no centro

do cubo. Como é possível verificar, a influência do obstáculo é visível a montante do mesmo em

forma de bolha, a que corresponde também um aumento de pressão estática no domínio a montante.

Após as arestas de separação, o obstáculo fica envolvido por uma superfície de separação, ou seja,

existe um plano imaginário que rodeia o obstáculo que separa duas zonas distintas. Junto às paredes

laterais e ao tecto (no interior da superfície de separação), a velocidade do escoamento é muito baixa

e apresenta um comportamento recirculativo. No exterior desta superfície, a velocidade é alta e com

uma direcção bem definida. Para jusante do obstáculo, esta diferença entre a zona de escoamento

preferencial e a zona de recirculação leva à formação de uma esteira. À medida que nos afastamos

do obstáculo, a diferença entre as duas zonas vai esbatendo-se, ou seja, a direcção e o módulo da

velocidade na esteira torna-se próxima da exterior, tendendo o conjunto no limite para uma situação

Page 64: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

51

próxima da inicial (apesar de ser difícil do ponto de vista computacional ter um domínio

suficientemente longo para o reproduzir) . Como se pode verificar, a esteira a jusante não é

completamente simétrica, o que se verifica nomeadamente junto ao solo e está relacionado, por um

lado, com o facto de a malha ser não estruturada (e não-simétrica) nesta zona, e também

possivelmente com alguma insuficiência da discretização do domínio na zona junto ao solo, tendo em

conta os gradientes de velocidades aí verificados. Verifica-se ainda que o efeito de blocagem não é

significativo, uma vez que a largura do domínio parece ser suficiente para acomodar as variações

transversais de velocidade provocadas pelo obstáculo.

Figura 8-6 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do cubo, para um

escoamento do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s. A velocidade à entrada tem o sentido positivo

do eixo dos yy.

Na Figura 8-7 apresenta-se a distribuição da intensidade da velocidade no plano vertical central.

É interessante verificar como a zona de recirculação parece estar bem definida neste plano vertical,

correspondendo aproximadamente à zona a azul a jusante do obstáculo. Nesta zona verifica-se uma

recirculação, com o escoamento no sentido do eixo dos yy a ser negativo junto ao solo. Para além

disso, a alteração do escoamento provocada por este obstáculo induz um perfil de velocidades à

saída. Apesar de este efeito desaparecer se o domínio for suficientemente longo e não houver outros

obstáculos, ele permite ter a percepção de como a rugosidade aerodinâmica (neste caso o cubo)

conduz à formação da CLA.

Page 65: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

52

Figura 8-7 - Contornos do módulo da velocidade no plano longitudinal vertical que passa no centro do cubo, para

um escoamento incidente do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s. A velocidade à entrada tem o

sentido positivo do eixo dos yy.

A Figura 8-8 apresenta os valores do campo de velocidades para o plano transversal que passa

no centro do cubo. Como é possível verificar, a zona de separação está bastante bem definida e o

obstáculo apenas afecta uma zona em seu redor de reduzidas dimensões. Verifica-se assim ser

correcto o pressuposto que levou ao refinamento selectivo da malha, ou seja, que a zona com os

maiores gradientes de velocidade se situaria num paralelepípedo com base LL 33 × e altura L2 , em

que L é a aresta do cubo.

Page 66: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

53

Figura 8-8 - Contornos do módulo da velocidade no plano vertical transversal que passa no centro do cubo, para

um escoamento do tipo uniforme com valor de referência de 10 m/s.

Figura 8-9 – Contorno da velocidade vertical (no eixo zz) junto ao cubo, no plano longitudinal vertical que passa

no centro do cubo

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54

A Figura 8-9 mostra o pormenor de como a componente vertical se distribui no espaço em torno

do cubo. Em termos gerais, verifica-se que a velocidade tem o sentido ascendente na zona a

montante do cubo e acima deste, e descendente a jusante. O facto de na zona a montante junto do

cubo o escoamento ser sempre ascendente significa, em particular, que o escoamento junto ao solo

tem tendência a desviar-se do cubo sem provocar recirculação na zona frontal. Assim, o escoamento

nesta zona comporta-se como um escoamento de fluido perfeito, ou seja, o ponto de estagnação

situa-se na intersecção da face frontal com o chão e não há inversão do sentido do escoamento. Na

zona da face de tardoz, o escoamento é ascendente, o que se deve ao efeito de enrolamento dentro

da bolha de recirculação, que tem o sentido dos ponteiros do relógio nesta figura.

8.4. Caracterização dos campos de velocidades com perfil incidente tipo CLA

Na Figura 8-10 e seguintes, o perfil de velocidades incidente é do tipo CLA, sendo nos exemplos

apresentados correspondente ao terreno tipo III do EC1. Na Figura 8-10, e comparando com a Figura

8-9, são notórias as diferenças no escoamento em redor da face frontal que estão relacionadas com a

mudança do perfil incidente. Assim, verifica-se que, na Figura 8-10, o ponto de estagnação está

localizado a cerca de 70% da altura da face frontal. Abaixo deste o escoamento é descendente e

acima é ascendente. O escoamento descendente tem tendência a recircular (ver caso B da Figura

3-2) e a passar junto à zona inferior das paredes laterais. Esta alteração tem influência

nomeadamente nos coeficientes de pressão da face frontal, bem como em outras características do

escoamento.

Figura 8-10 - Contorno da velocidade vertical (no eixo zz) junto ao cubo, no plano longitudinal vertical que passa

no centro do cubo. Escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s.

Page 68: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

55

Figura 8-11 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do cubo, para um

escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s.

Figura 8-12 – Contornos do módulo da velocidade no plano vertical longitudinal que passa no centro do cubo,

para um escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s.

Page 69: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

56

Na Figura 8-11, e comparando com a Figura 8-6, verifica-se que a esteira é mais aguçada e que a

perturbação da zona transversal é maior. Estes efeitos estão relacionados com uma menor

importância da separação nos cantos superiores da face frontal (tornando a esteira mais aguçada) e

com o escoamento preferencial pela zona lateral, que induz uma maior perturbação transversal.

Na Figura 8-12 é possível verificar que as características da esteira no plano vertical longitudinal

são semelhantes ao caso com o perfil incidente uniforme. Na Figura 8-13 a perturbação transversal

do escoamento parece ser significativa, com alteração do perfil de velocidades

Figura 8-13 - Contornos do módulo da velocidade no plano horizontal que passa no centro do cubo, para um

escoamento do tipo CLA tipo III e um valor de bU de 10 m/s.

8.5. Verificação dos coeficientes de pressão para escoamento incidente uniforme

As Figura 8-14 e Figura 8-15 apresentam os resultados obtidos para os alinhamentos centrais

neste caso, com e sem modelo MMK, e a comparação com resultados experimentais obtidos em [26].

A Figura 8-16 representa os coeficientes de pressão em todas as faces do edifício para o modelo

MMK.

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57

Figura 8-14 - Coeficientes de pressão nos alinhamentos principais centrais das faces. Comparação entre

modelos com e sem MMK e resultados experimentais de Castro & Robbins [26] para um perfil de velocidades

uniforme.

Figura 8-15 - Semelhante à Figura 8-14 mas para os alinhamentos centrais secundários.

A partir da observação das Figura 8-14 e da Figura 8-15 constata-se que na face frontal

(alinhamentos A) os resultados reproduzem bem os dados experimentais e não existe grande

diferença entre os dois modelos de turbulência. Na face superior (B) e faces laterais (D) - nos

alinhamentos principais - verifica-se uma diferença significativa entre os resultados numéricos e os

resultados experimentais, nomeadamente junto às arestas onde se verifica a separação. Junto às

arestas de separação, os coeficientes de pressão negativos têm um valor bastante mais elevado do

que o verificado experimentalmente, verificando-se depois uma inversão, ou seja, os coeficientes

tornam-se inferiores aos valores experimentais. Os valores de pico de sucção com o modelo MMK,

são ligeiramente superiores aos verificados com o modelo k -ε , embora ambas as distribuições não

representem adequadamente os coeficientes junto às arestas de separação.

Page 71: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

58

Não se verificam grandes diferenças entre os dois modelos de turbulência em todos os resultados

apresentados. Nos alinhamentos secundários, embora existam diferenças entre os resultados

numéricos e experimentais, o andamento é semelhante.

0.5

0.5

0.5

0.5

0.50.6

0.6

0.6

0.6

0.6

0.7

0.70.7

0.7

0.7

0.8

0.8

0.8

0.8

0.9

0.9

0.9

-1.6 -1.5-1.4 -1.3-1.2-1.1-1.0

-1.0-0.9

-0.8

-0.7

-0.6

-0.6

-0.5

-0.5

-1.5 -1.4-1.3 -1.2-1.1-1.0 -1.0-0.9

0.8-0.8

-0.7

-0.7

0.6-0.6

-0.5

-0.4 -0.4

-0.3

-0.3cp

10.90.80.70.60.50.40.30.20.10

-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7-0.8-0.9-1-1.1-1.2-1.3-1.4-1.5-1.6

Figura 8-16 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente uniforme com o modelo MMK .

O escoamento tem o sentido positivo do eixo dos yy. O cubo é representado rebatido em torno da face tecto, ou

seja, em baixo apresenta-se a face frontal, ao centro o tecto, à direita a face direita e em cima a face de tardoz (o

mesmo tipo de rebatimento é usado nas figuras com perfis incidentes do tipo CLA).

8.6. Coeficientes de pressão para escoamentos do tipo camada lime

As Figura 8-17 e a Figura 8-18 representam os coeficientes de pressão obtidos para um perfil

incidente do tipo III, com e sem o modelo MMK, e a comparação com os resultados experimentais de

Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23], obtidos para um escoamento do tipo camada limite descrito

por um perfil do tipo lei de potência com 21,0=α , semelhante ao perfil logarítmico correspondente

ao terreno do tipo III.

Page 72: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

59

Figura 8-17 - Coeficientes de Pressão nos alinhamentos centrais principais das faces. Comparação entre

modelos com e sem MMK e resultados experimentais de Stathopoulos e Dumitrescu-Brulotte [23] para um perfil

de velocidades descrito por uma função potência com 21.0=α .

Figura 8-18 - Semelhante à Figura 8-17 mas para os alinhamentos centrais secundários

Os resultados mostram que o modelo MMK é essencial para tratar os casos em que a turbulência

incidente é elevada, como é o caso de escoamentos do tipo camada limite. Este facto é

especialmente notório na zona A da Figura 8-17, uma vez que os valores de pC tornam-se

superiores a 1 na face frontal sem a modificação MMK, o que é fisicamente não realista. Este facto

deve-se ao melhor tratamento que se consegue com o modelo MMK da distribuição da viscosidade

turbulenta tv na face frontal do obstáculo [36].

Para verificar que esta diferença de comportamento em relação ao caso com perfil de velocidades

de vento uniforme, se devia, não à forma do perfil em si, mas sim à turbulência imposta nos casos em

que se reproduzia a CLA, foi corrido um caso em que se impunha k =0 na fronteira de entrada.

Verificou-se que, com o modelo k -ε standard sem energia cinética turbulenta à entrada, os

Page 73: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

60

coeficientes na face frontal convergiam para valores semelhantes mas ligeiramente abaixo dos

resultados experimentais e com o modelo MMK.

Apesar do ajustamento na face frontal ser satisfatório para os casos com o modelo MMK, verifica-

se no alinhamento secundário que o escoamento não está tão bem descrito junto às arestas verticais

desta face e aos cantos inferiores. Este último facto poderá estar relacionado com a excessiva

velocidade junto ao solo reportada na Figura 8-1. A variação da pressão ao longo das faces em que

há separação tende para valores mais elevados do que os obtidos experimentalmente na zona junto

à aresta e para valores inferiores na zona central das faces de separação. Este facto é igualmente

reportado em [36] e deve-se à dificuldade em reproduzir a separação. Este efeito poderá justificar os

valores das zonas B e D da Figura 8-17, bem como da Figura 8-14.

A distribuição dos coeficientes de pressão obtidos para os perfis de CLA previstos no EC1 estão

representados nas Figuras 8.19 a 8.22, que têm as características resumidas na Tabela 4-1 e cujo

andamento do perfil de velocidades está representado na Figura 4-1. À medida que o perfil de

velocidades vai sendo mais pronunciado, os valores de pC vão-se alterando, nomeadamente na face

frontal. Não foi possível obter um cálculo realista dos valores correspondentes ao terreno tipo IV, uma

vez que o perfil de velocidades se altera muito ao longo do domínio, nomeadamente à altura de

referência (30 m) - Figura 8-2.

Mesmo sendo o perfil de terreno tipo zero muito pouco pronunciado, as maiores diferenças

verificam-se na passagem de um escoamento uniforme para este primeiro perfil. A distribuição

apresentada na Figura 8-16 (perfil uniforme) apresenta o ponto de estagnação na face frontal junto ao

solo, enquanto que a partir da Figura 8-20 (Perfil Tipo Zero) o ponto de estagnação passa a localizar-

se sensivelmente a 2/3 da altura, subindo depois ligeiramente até cerca de 3/4 da altura do obstáculo

(Perfil Tipo III Figura 8-22).

Os coeficientes nas faces de sucção não apresentam grandes alterações para os diferentes

perfis, sendo em geral inferiores aos do perfil incidente uniforme.

A Figura 8-23 mostra os resultados apresentados em [37] para os coeficientes de pressão para

um perfil incidente com α = 0.25, aproximadamente entre os Perfis Tipo III e IV do EC1. Os

resultados obtidos por aqueles autores são semelhantes aos apresentados no presente estudo, com

as características já descritas anteriormente, embora haja uma pequena diferença no andamento dos

pC nos cantos no tecto junto à aresta de separação.

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61

.4

0.40.5

0.5

0.5

0.5

0.50.50.5

0.6

0.6

0.60.6

0.6

0.6

0.7

0.7

0.7

0.7

0.70.8

0.8

0.8

0.8

-1.6 -1.4-1.3 -1.2-1.1 -1.0 -0.9-0.8

-0.8-0.7

-0.6-0.6

-0.5

-0.4

-0.4

-1.3 -1.21.2 -1.1-1.0 -0.9-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

0.3

-0.3 -0.3

-0.3

-0.3

-0.2

-0.2cp10.90.80.70.60.50.40.30.20.10

-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7-0.8-0.9-1-1.1-1.2-1.3-1.4-1.5-1.6

Figura 8-19 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo zero do EC1 e utilizando

o modelo MMK.

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62

0.4

0.4

0.5

0.5

0.5

0.5

0.6

0.6

0.6

0.6

0.6

0.7

0.7

0.7

0.7

0.7

0.70.8

0.80.8

0.8

-1.5-1.4 -1.3-1.2 -1.1 -1.0-0.9-0.8 -0.7

-0.6

-0.5

-0.4-0.4

-1.4 -1.4-1.3 -1.2-1.1-1.0 -0.9-0.8

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4

-0.30.3

-0.3

0.3

-0.3

-0.3

-0.3-0.2

-0.2

-0.2

cp10.90.80.70.60.50.40.30.20.10

-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7-0.8-0.9-1-1.1-1.2-1.3-1.4-1.5-1.6

Figura 8-20 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo I do EC1 e o modelo

MMK.

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63

0.2

0.4

0.4

0.4

0.5

0.5

0.5

0.5

0.6

0.6

0.6

0.6

0.6

0.6

0.7

0.7

0.7

0.7

0.7

0.7

0.8

0.8

0.8

-1.3 -1.2 -1.1-1.0-0.9 -0.8-0.7

-0.7

-0.6

-0.5

-0.4 -0.4

-0.3

-1.6 -1.4-1.3-1.2 -1.1-1.0-0.9-0.8

-0.7-0.6

-0.6

-0.5

-0.4

0.3-0.3

-0.3

-0.3

-0.3

-0.3

-0.2

-0.2

cp10.90.80.70.60.50.40.30.20.10

-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7-0.8-0.9-1-1.1-1.2-1.3-1.4-1.5-1.6

Figura 8-21 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo II do EC1 e o modelo

MMK.

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64

.0

0.2

0.3

0.3

0.3

0.4

0.4

0.4

0.4

0.5

0.5

0.5

0.5

0.5

0.5

0.6

0.6

0.60.6

0.6

0.7

0.7

0.7

0.8

-1.3 -1.1-1.0 -0.9 -0.8-0.7

-0.6

-0.5-0.5

-0.4

-1.5-1.4-1.3-1.2 -1.1 -1.0-1.0 -0.9-0.8

-0.7-0.6

-0.6

-0.5-0.5

-0.4

-0.3 -0.3

-0.3

-0.3

-0.3

-0.2

-0.2cp10.90.80.70.60.50.40.30.20.10

-0.1-0.2-0.3-0.4-0.5-0.6-0.7-0.8-0.9-1-1.1-1.2-1.3-1.4-1.5-1.6

Figura 8-22 - Valores de pC nas paredes do cubo para o escoamento incidente do tipo III do EC1 e o modelo

MMK.

Page 78: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

65

(a) (b)

(c)

Figura 8-23 – Contornos da distribuição dos coeficientes de pressão obtidos por M. Tsuchiya et al. [37], para um

perfil de velocidades incidente do tipo potência com α = 0.25. (a) Ensaios em túnel de vento, (b) Modelo k-ε

standard sem modificação MMK. (c) Com introdução do modelo MMK

Page 79: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

66

CAPÍTULO 9

9. Conclusões

Neste trabalho pretendeu-se abordar a problemática da simulação da camada limite atmosférica

no cálculo da acção do vento em edifícios. Para atingir este objectivo, o trabalho foi dividido em

quatro partes principais: a definição dos princípios básicos que definem o problema (Capítulos 2 e 3),

a apresentação da formulação regulamentar (Capítulo 4); aplicação do método experimental de

análise (Capítulos 5 e 6); aplicação do método numérico, utilizando a simulação com o método dos

volumes finitos (Capítulos 7 e 8). Tanto na abordagens experimental como na numérica o trabalho

centrou-se em duas tarefas, sendo a primeira relacionada com a obtenção de um perfil de

velocidades e turbulência adequados a uma simulação da CLA, e a segunda relacionada com a

determinação da acção sobre um edifício cúbico de diferentes perfis de CLA incidentes.

A nível experimental, foi desenvolvido no túnel de vento do Laboratório de Estruturas e

Construção do Departamento de Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico a simulação de uma

CLA projectada para uma espessura de 0.70 cm e um perfil de velocidades do tipo potência com α =

0.20. Esta simulação foi realizada utilizando o método de Irwin, utilizando pináculos triangulares e

rugosidade constituída por cubos distribuídos ao longo do túnel. As medições mostraram que a

simulação do perfil de velocidade média foi bem sucedida. A camada limite formada ajustou-se a um

perfil de velocidades com α = 0.21 e uma altura de 0.765 m, o que corresponde a uma escala de

simulação de 1/444. Verificou-se que o perfil de velocidades se ajustava com boa precisão ao perfil

de velocidades médias correspondente ao caso do Terreno Tipo III do EC1.

A análise dos valores da componente flutuante da velocidade mostrou que o perfil de intensidade

de turbulência está razoavelmente reproduzido na parte inferior da CLA (até 10 cm de altura). Na

zona superior, a turbulência é inferior ao valor alvo. A análise espectral dos dados experimentais

mostrou que a distribuição espectral está melhor reproduzida para as frequências mais altas e para

as zonas inferiores da camada limite simulada. Estes resultados mostram que, num túnel de vento

curto, é difícil reproduzir flutuações de velocidade a frequências baixas.

Das medições experimentais dos coeficientes de pressão num cubo com 30 cm de lado concluiu-

se que os valores se ajustam ao obtido por outros autores na face frontal do modelo e que são muito

distantes dos valores alvo nas faces de sucção. Esta disparidade poderá ter sido causada pela

posição do cubo no túnel, muito próximo do ventilador, e uma variação transversal do perfil de

velocidades, gerando um desenvolvimento incorrecto da esteira a jusante do obstáculo.

Page 80: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

67

O mesmo problema foi abordado de forma numérica, através da simulação com o software

FLUENT. Concluiu-se que a simulação numérica de um escoamento tipo CLA sobre um edifício

apresenta duas dificuldades principais. A primeira é o correcto transporte do perfil de velocidades e

turbulência da fronteira de entrada até ao obstáculo. Este problema está relacionado com a forma não

adequada como as funções de rugosidade de parede do FLUENT reproduzem situações de grande

rugosidade aerodinâmica. O segundo problema está relacionado com a correcta reprodução da

separação e das zonas de recirculação, relacionadas com o facto de o corpo ser não-fuselado e

dificultadas pelo elevado número de Reynolds e o facto de o problema numérico estar a ser

formulado de forma estacionária.

Nos primeiros casos analisados, em que se usou apenas a parte do domínio numérico a montante

do cubo, sem qualquer obstáculo, verificou-se que, por um lado, é essencial a aplicação da correcta

condição de fronteira, através da imposição de uma rugosidade numérica. Ainda assim, verificou-se

que a utilização da rugosidade no FLUENT seria insuficiente para manter o perfil de velocidades,

devido ao facto de o código não estar preparado para rugosidades de grande dimensão. Assim,

apenas os perfis correspondentes a terrenos pouco rugosos conseguiram ser convectados até à

fronteira de saída do domínio. Inclusivamente, as alterações do perfil de terreno tipo IV tornaram

irrealista a sua utilização para o cálculo de coeficientes de pressão no modelo.

Os cálculos do escoamento sobre um edifício cúbico permitiram revelar as alterações que se dão

na passagem do perfil incidente uniforme para os perfis de camada limite e como estas distribuições

variam à medida que se impõem perfis com variação mais acentuada. A análise dos campos de

velocidades permitiu verificar a reprodução do ‘vórtice de ferradura’ junto à face frontal do obstáculo,

a que está também associado a subida do ponto de estagnação sobre esta face. Foi também possível

verificar a forma da bolha de separação que é produzida a jusante das arestas da face frontal.

Para o cálculo dos coeficientes de pressão sobre as paredes do obstáculo, foi necessário fazer

algumas alterações no modelo de turbulência k -ε . Verificou-se, nos primeiros casos calculados com

o modelo k-ε standard, que os coeficientes de pressão tomavam valores superiores a 1, o que seria

irrealista. Verificou-se ainda que os valores máximos da sucção no tecto e paredes laterais eram

bastante superiores ao esperado. Desta, forma, e de acordo com a sugestão de outros autores, o

modelo de turbulência foi alterado de forma a reduzir a viscosidade turbulenta junto da face frontal e

da aresta de separação. Esta modificação permitiu obter valores mais realistas na face frontal,

embora não conseguisse ter um efeito tão grande na redução dos picos de sucção junto à aresta de

separação.

Em termos de elementos inovadores, este trabalho apresenta alguns resultados que não foram

anteriormente publicados em revistas internacionais ou publicações de renome. Na parte

experimental é de destacar a utilização da alteração à fórmula de Irwin que permite a formação da

camada limite numa distância de apenas 4.5 vezes a altura dos pináculos. De facto, a simulação

correcta de uma CLA de 70 cm num túnel curto é um resultado de valor assinalável. Na parte

numérica, é de destacar a análise simultânea do transporte da CLA e do escoamento sobre o edifício,

que não é feita habitualmente, mesmo nos estudos mais recentes. A utilização do modelo MMK em

estudos de camada limite e a sua avaliação é igualmente um elemento inovador.

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68

Como sugestões para trabalho futuro, na parte experimental, e dadas as reduzidas dimensões do

túnel de vento do DECIVIL, seria interessante realizar uma simulação parcial da CLA, como a

apresentada no capítulo 5 para o método de Cook. Isto poderia permitir uma maior escala de

simulação num espaço de túnel mais curto. O modelo numérico poderia ser melhorado com o

melhoramento da malha, embora o número de elementos a utilizar esteja limitado

computacionalmente. A utilização de um modelo de turbulência LES (Large Eddy Simulation), embora

muito complexo, poderia trazer avanços significativos a este ramo.

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69

Referências

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acção do vento sobre um edifício cúbico usando os perfis de velocidade do Eurocódigo 1 -

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[4] Eurocode 1: Actions on structures – General Actions – Part 1-4: Wind Actions – Versão de

2004.

[5] M. da Glória Gomes – Acção do Vento em Edifícios – Determinação de coeficientes de

pressão em edifícios em L e U – Dissertação de Mestrado, IST, 2003.

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[14] N. J. Cook – The Designer’s Guide to Wind Loading of Building Structures - Part 1:

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[15] I. S. Gartshore, K. A. de Cross – Roughness Element Geometry Required for Wind Tunnel

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[28] S. Huang, Q. S. Li, S. Xu, Numerical evaluation of wind effects on a tall steel building by

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[30] J. D. Anderson, Computational Fluid Dynamics, McGraw-Hill, New York, 1995.

[31] H. K. Versteeg, W. Malalasekera, An Introduction to Computational Fluid Dynamics – The

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Page 84: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

71

[32] GAMBIT 2.2 User’s Guide, 2004.

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[34] B. Blocken, T. Stathopoulos, J. Carmeliet - CFD simulation of the atmospheric boundary

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[35] P.J Richards, R. Hoxey - Appropriate boundary conditions for computational wind

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[36] S. Murakami, A. Mochida, Y. Hayashi, S. Sakamoto - Numerical study on velocity-pressure

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[37] M. Tsuchiya, S. Murakami, A. Mochida, K. Kondo, Y. Ishida; Development of new k-ε model

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[38] J.-S. Lin, C.-H. Chang, N.-C. Shang; Computational simulation and comparison of the effect

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I

Anexos

A1 - Formulação matemática das equações de Navier-Stokes

O código FLUENT usa os princípios dos volumes finitos para resolver as equações que

descrevem o escoamento. Para problemas de convecção-difusão, no caso de escoamento

estacionário, a equação de transporte de uma propriedade genérica φ , é apresentada por,

( ) ( )φφρ graddivudiv Γ= , (A.1)

onde Γ representa o coeficiente de difusão e u o vector velocidade. O método dos volumes finitos

começa com a forma integral desta equação e para escoamento estacionário tem-se

( ) ( ) dAngraddAnuA A∫ ∫ Γ= .. φφρ . (A.2)

O domínio de solução é subdividido num número finito de pequenos volumes de controlo através

de uma malha. A equação representa o balanço do fluxo nesse volume de controlo. O lado esquerdo

da equação representa o fluxo convectivo e o lado direito contém o fluxo difusivo. As variáveis foram

definidas no centro de cada volume de controlo.

Os cálculos efectuados consideram o escoamento incompressível. A massa específica é

considerada constante uma vez que o número de Mach (Ma) do escoamento é sempre inferior a 0,3.

Nos escoamentos em análise são utilizadas: a equação da continuidade e as equações de

Navier-Stokes em valor médio, todas para escoamento estacionário. Uma vez que se está a

considerar ρ constante, a equação de energia fica desacoplada das equações de continuidade e

quantidade de movimento. Dado que não há interesse em determinar o campo de temperaturas, a

equação de energia não é calculada.

O escoamento incompressível viscoso turbulento é simulado no código FLUENT resolvendo as

equações de Navier-Stokes para o campo médio (Reynolds-averaged Navier-Stokes equations,

RANS). Para as equações de conservação do campo médio, as variáveis são decompostas em duas

componentes, uma média e uma flutuação. Assim, teremos para uma dada variável φ

( ) ( ) ( )txxtx ,, φφφ ′+= , (A.3)

sendo

Page 86: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

II

( ) ( )∫∞→=

T

Tdttx

Tx

0,1lim φφ . (A.4)

Usando esta decomposição, podemos escrever as equações de Navier-Stokes, de conservação

de massa e conservação da quantidade de movimento, na forma

j

ij

j

i

jij

ij

j

j

xR

xu

xxp

xu

u

xu

∂+⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

∂∂

=∂∂

+∂∂

=∂

µρρ11

0

(A.5)

onde se desprezou a acção das forças exteriores, das fontes de calor e a condução de calor.

O fecho das equações é feito modelando o tensor de Reynolds

jiij uuR ′′−= . (A.6)

Para modelar o tensor de Reynolds utiliza-se a hipótese de Boussinesq que relaciona o tensor

com a viscosidade turbulenta, Tv ,

ijijt

jiij kSuuR δρρµ

312

−=′′−= , (A.7)

onde k é a energia cinética turbulenta e sendo ijS o tensor de deformação definido por

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

+∂∂

=i

j

j

iij x

uxuS

21

. (A.8)

De entre os diversos modelos de turbulência existentes no código FLUENT, utilizou-se no

presente trabalho o modelo k - ε standard, de duas equações.

Este modelo é um modelo semi-empírico baseado nas equações de transporte do modelo para a

energia cinética turbulenta k e taxa de dissipação ε. Este modelo assume que o escoamento é

completamente turbulento e que os efeitos da viscosidade molecular são desprezáveis face à difusão

turbulenta.

As equações de transporte de k e ε para escoamento estacionário e incompressível são

respectivamente:

( ) ρεσµ

µρ −+⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

∂∂

=∂∂

kjk

t

ji

iG

xk

xku

x, (A.9)

( )k

CGk

Cxx

ux k

j

t

ji

i

2

21ερεε

σµ

µερ εεε

−+⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

∂∂

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

∂∂

=∂∂

. (A.10)

Nestas equações, kG representa a geração de energia cinética turbulenta devido aos gradientes

da velocidade média. ε1C e ε2C são constantes do modelo. εσ e kσ são os números de Prandl para

k e para ε.

A viscosidade turbulenta pode então ser calculada utilizando os valores de k e ε,

ερ µ

2kCvT = , (A.11)

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III

onde µC é uma das constantes do modelo.

Este modelo assume, por defeito, os seguintes valores para as constantes: 44,11 =εC ;

92,12 =εC ; 09,0=µC ; 0,1=kσ ; e 3,1=εσ .

A geração de energia cinética turbulenta, kG , é definida por

i

jjik xu

uuG∂

∂′′−= ρ . (A.12)

Para aplicar kG na hipótese de Boussinesq, é utilizado

2SG Tk µ−= , (A.13)

onde S é o modulo da taxa média do tensor de deformação definido por

ijij SSS 2≡ . (A.14)

A2 – Código da função definida pelo utilizador (UDF) incluída no FLUENT para impor as características tipo CLA na fronteira de entrada e incluir o modelo MMK

Seguidamente, apresenta-se o programa que foi utilizado neste trabalho para definir o

escoamento tipo CLA na fronteira de entrada e para alterar o modelo de turbulência k - ε standard,

de modo a incluir a modificação MMK.

As três zonas do código ‘DEFINE_PROFILE’ definem respectivamente o perfil de velocidades, os

valores de k e de ε referentes ao perfil de CLA correspondente ao terreno tipo III do EC1

(apresentado como exemplo).

A zona DEFINE_TURBULENT_VISCOSITY corresponde ao código apresentado em [28] de forma

a introduzir a alteração MMK ao modelo k - ε .

O código, depois de compilado e interpretado no FLUENT, permite que sejam impostos os perfis

na fronteira de entrada e que a definição da viscosidade turbulenta seja alterada nas definições de

‘Solver’.

****************************************************************************** perfil III.c UDF for specifying a steady-state velocity profile boundary condition ******************************************************************************* #include "udf.h" #define Z0 0.3 /* constants */ #define ZMIN 5 /* profile for y-velocity */ DEFINE_PROFILE(y_velocityIII,t,i) real x[ND_ND]; /* this will hold the position vector */ real z; /* variable declarations */ face_t f;

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IV

begin_f_loop(f,t) /* loops over all faces in the thread passed in the DEFINE macro argument */ F_CENTROID(x,f,t); z = x[2]; if(z<(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 10*0.215389331563413*log((ZMIN+Z0)/Z0) ; if(z>=(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 10*0.215389331563413*log((z+15+Z0)/Z0) ; end_f_loop(f,t) DEFINE_PROFILE(kappaIII,t,i) real x[ND_ND]; /* this will hold the position vector */ real z; /* variable declarations */ face_t f; begin_f_loop(f,t) /* loops over all faces in the thread passed in the DEFINE macro argument */ F_CENTROID(x,f,t); z = x[2]; if(z<(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 1.925333 ; if(z>=(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 1.925333 ; end_f_loop(f,t) DEFINE_PROFILE(epsilonIII,t,i) real x[ND_ND]; /* this will hold the position vector */ real z; /* variable declarations */ face_t f; begin_f_loop(f,t) /* loops over all faces in the thread passed in the DEFINE macro argument */ F_CENTROID(x,f,t); z = x[2]; if(z<(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 10*0.215389331563413*0.4*10*0.215389331563413*0.4*10*0.215389331563413*0.4/(0.4*(ZMIN+Z0)) ; if(z>=(ZMIN-15)) F_PROFILE(f,t,i) = 10*0.215389331563413*0.4*10*0.215389331563413*0.4*10*0.215389331563413*0.4/(0.4*(z+15+Z0)) ; end_f_loop(f,t) DEFINE_TURBULENT_VISCOSITY(NMK_mu_t,c,t) real mu_t,S,O; real Sxx,Sxy,Sxz; /*Sij*/ real Syx, Syy, Syz; real Szx, Szy, Szz; real Oxx, Oxy, Oxz; /*Vorticity Tensor*/ real Oyx, Oyy, Oyz; real Ozx, Ozy, Ozz;

Page 89: Aplicação numérica e experimental de métodos de simulação ... · simulação da camada limite atmosférica para o estudo da acção do vento sobre edifícios Miguel Filipe Pinho

V

real rho = C_R(c,t); /*density*/ real k = C_K(c,t); /*K*/ real d = C_D(c,t); /*ep*/ Sxx = 0.5*(C_DUDX(c,t)+C_DUDX(c,t)); Sxy = 0.5*(C_DVDX(c,t)+C_DUDY(c,t)); Sxz = 0.5*(C_DWDX(c,t)+C_DUDZ(c,t)); Syx = 0.5*(C_DUDY(c,t)+C_DVDX(c,t)); Syy = 0.5*(C_DVDY(c,t)+C_DVDY(c,t)); Syz = 0.5*(C_DWDY(c,t)+ C_DVDZ(c,t)); Szx = 0.5*(C_DUDZ(c,t) + C_DWDX(c,t)); Szy = 0.5*(C_DVDZ(c,t) + C_DWDY(c,t)); Szz = 0.5*(C_DWDZ(c,t) + C_DWDZ(c,t)); S = sqrt(2*(Sxx*Sxx+Sxy*Sxy+Sxz*Sxz+Syx*Syx+Syy*Syy+Syz*Syz+Szx*Szx+Szy*Szy+Szz*Szz)); Oxx = 0.5*(C_DUDX(c,t)-C_DUDX(c,t)); Oxy = 0.5*(C_DVDX(c,t)-C_DUDY(c,t)); Oxz = 0.5*(C_DWDX(c,t)-C_DUDZ(c,t)); Oyx = 0.5*(C_DUDY(c,t)-C_DVDX(c,t)); Oyy = 0.5*(C_DVDY(c,t)-C_DVDY(c,t)); Oyz = 0.5*(C_DWDY(c,t)-C_DVDZ(c,t)); Ozx = 0.5*(C_DUDZ(c,t)-C_DWDX(c,t)); Ozy = 0.5*(C_DVDZ(c,t)-C_DWDY(c,t)); Ozz = 0.5*(C_DWDZ(c,t)-C_DWDZ(c,t));

O=sqrt(2*(Oxx*Oxx+Oxy*Oxy+Oxz*Oxz+Oyx*Oyx+Oyy*Oyy+Oyz*Oyz+Ozx*Ozx+Ozy*Ozy+Ozz*Ozz));

if((O/S-1)<0) mu_t = O/S*M_keCmu*rho*k*k/d; else mu_t = M_keCmu*rho*k*k/d; return mu_t;

A3 – Pormenores do modelo de CFD

Apresentam-se neste anexo alguns dos pormenores do modelo de CFD, que podem contribuir

para uma melhor compreensão dos cálculos realizados.

Para verificar a convergência do modelo é ao longo do cálculo, é necessário definir um critério de

convergência. Esta monitorização é feita calculando os valores dos resíduos em cada iteração,

comparando com um critério de convergência (ver [29]).

Para uma variável φ , após a definição da malha, esta pode ser escrita no volume P como:

∑−

+=fronteirasn

nfnfPP baa φφ (A.15).

Em que Pa é o coeficiente de centralidade definido como:

Pfronteirasn

nfP Saa −= ∑−

(A.16),

nba são os coeficientes de influência das fronteiras adjacentes e b é o termo constante associado ao

termo fonte:

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VI

φPc SSS += (A.17).

Os resíduos calculados pelo FLUENT (no algoritmo segregado) englobam as contribuições da

Eq.(A.15) em todo o domínio:

∑ ∑−

−+=P fronteirasn

PPnfnf abaR φφφ (A.18).

Para terem um significado físico estes resíduos têm que ser escalados. Na maioria das variáveis

(velocidades, k e ε ) os resíduos escalados são calculados em relação a um factor que tem em

conta a taxa de escoamento ao longo dos elementos do domínio:

∑∑ ∑ −+

=−

PPP

P fronteirasnPPnfnf

a

abaR

φ

φφφ (A.19).

No caso da monitorização dos resíduos da equação da continuidade, o resíduo é calculado como:

( )∑=P

PC çãodemassataxadecriaR (A.20),

e é adimensionalizado com o maior resíduo calculado nas 5 primeiras iterações:

5,,

C

NC

RR

(A.21).

As Figuras A1 e A2 representam o andamento dos resíduos ao longo do cálculo. No primeiro caso

representam-se os resultados para o cálculo com obstáculo e o domínio completo. No segundo caso,

apresenta-se o cálculo dos resíduos para o caso em que se utilizou o domínio a montante para

verificação da manutenção do domínio. Como seria de esperar, é no primeiro caso que os resíduos

convergem para valores mais altos, uma vez que o calculo é mais complexo. No entanto os valores

obtidos enquadram-se no que habitualmente é considerada uma convergência correcta (valores

menores que 10-4).

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VII

Z

Y

X Iterations260024002200200018001600140012001000

1e-02

1e-03

1e-04

1e-05

1e-06

1e-07

epsilonkz-velocityy-velocityx-velocitycontinuityResiduals

Figura A1 – Resíduos Escalados na convergência do cálculo com domínio completo com obstáculo, perfil

incidente CLA correspondente ao terreno tipo III da CLA (modelo ε−k com MMK).

Z

Y

X Iterations50004750450042504000375035003250300027502500

1e-04

1e-05

1e-06

1e-07

1e-08

1e-09

epsilonkz-velocityy-velocityx-velocitycontinuityResiduals

Figura A2 - Resíduos escalados na convergência do cálculo com domínio a montante, , perfil incidente CLA

correspondente ao terreno tipo III da CLA (modelo ε−k com MMK).

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VIII

Nas Figuras A3 a A5 representam-se alguns pormenores da malha final utilizada.

Figura A3 – Representação da malha final. Estão representados a fronteira de entrada (azul) e de saída

(vermelho) e a fronteira-chão e a malha sobre o cubo (preto e cinzento).

Z Y

X

Figura A4 – Pormenor da malha na fronteira-chão na zona em redor do cubo (estruturada) e na restante fronteira

(não estruturada)

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IX

Z

YX

Figura A5 – Plano longitudinal que atravessa o centro do cubo: pormenor da malha junto à aresta superior do

cubo, mostrando a transição entre a zona de camada limite e a restante malha.