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  • 5/24/2018 Apostila D2 - Unidade 2

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    CURSO DE ESPECIALIZAO EM

    VIGILNCIA EM SADE AMBIENTAL

    Disciplina II: Sade e Ambiente

    Unidade III Contribuies da Toxicologia paraa Vigi lncia em Sade Ambiental

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    Disciplina II

    Sade e AmbienteUnidade III Contribuies da Toxicologia

    para a Vigilncia em Sade Ambiental

    Armando Meyer

    Paulo Rubens Guimares BarrocasCarmen Ildes Rodrigues Fres Asmus

    Colaboradora:Leiliane Coelho Andr Amorim

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    Objetivos da Unidade

    Os objetivos de aprendizagem desta unidade so:

    Apresentar os conceitos fundamentais da toxicologia;

    Estimular a reflexo sobre a contribuio dos conhecimentos e das prticas

    da rea de Toxicologia para o campo da Vigilncia em Sade Ambiental.

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    Sumrio

    1-Diviso e reas de atuao da Toxicologia ............................................................. 61.1 A Toxicologia uma cincia multidisciplinar, desenvolvida por especialistas comdiferentes formaes profissionais que, de acordo com diferentes campos de trabalho,pode ser dividida em: Toxicologia Experimental, Toxicologia Analtica e ToxicologiaClnica. ............................................................................................................................................................ 6

    1.2 Toxicologia Experimental .............................................................................................................. 6

    1.3 Toxicologia Analtica ....................................................................................................................... 6

    1.4 Toxicologia Clnica ............................................................................................................................ 7

    1.5 Toxicologia dos Alimentos ............................................................................................................ 7

    1.6 Toxicologia Ambiental ou Ecotoxicologia ............................................................................... 7

    1.7 Toxicologia Ocupacional ................................................................................................................ 8

    1.8 Toxicologia de Medicamentos e Cosmticos .......................................................................... 8

    2. Conceitos bsicos ................................................................................................... 9

    2.1 Definies importantes em Toxicologia ................................................................................... 9

    2.2 Biodisponibilidade e Especiao Qumica ......................................................... .................... 12

    3. Classificao dos agentes txicos ........................................................................ 14

    3.1 Estrutura qumica ........................................................... ................................................................ 14

    3.2 Estado fsico ........................................................... .................................................................. ......... 14

    3.3 rgo alvo ............................................................... .................................................................. ......... 14

    3.4 Uso ................................................................. ................................................................... .................... 14

    3.5 Mecanismo de toxicidade .................................................................. .......................................... 15

    3.6 Potencial txico ............................................................... ................................................................ 15

    4. Fases da Intoxicao ............................................................................................ 15

    4.1 Fase de Exposio ........................................................... ................................................................ 164.1.1 Via ou local de exposio ........................................................... .......................................... 16

    4.1.2 Durao e frequncia da exposio .............................................................. .................... 16

    4.2 Fase Toxicocintica ................................................................... ..................................................... 17

    4.2.1 Absoro .......................................................... .................................................................. ......... 17

    4.2.2 Distribuio ............................................................... ................................................................ 21

    4.2.3 Biotransformao .............................................................. ..................................................... 22

    4.2.4 Excreo ........................................................... .................................................................. ......... 25

    4.2.5 Acumulao ............................................................... ................................................................ 30

    4.3 Fase Toxicodinmica ................................................................ ..................................................... 31

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    4.4 Fase Clnica ............................................................. .................................................................. ......... 31

    5. Interao entre Substncias .................................................................................. 32

    5.1 Efeito aditivo .......................................................... .................................................................. ......... 32

    5.1.1 Efeito sinrgico ................................................................... ..................................................... 33

    5.1.2 Potenciao ............................................................... ................................................................ 33

    5.2 Antagonismo .......................................................... .................................................................. ......... 33

    5.2.1 Antagonismo qumico ................................................................. .......................................... 33

    5.2.2 Antagonismo funcional ............................................................... .......................................... 33

    5.2.3 Antagonismo no competitivo, metablico ou farmacocintico ........................... 33

    5.2.4 Antagonismo competitivo, no metablico ou farmacodinmico ........................ 346. Testes de Toxicidade ............................................................................................ 34

    6.1 Testes de Toxicidade Aguda ............................................................. .......................................... 35

    6.1.1 DL50 .................................................................. .................................................................. ......... 35

    6.1.2 CL50 .................................................................. .................................................................. ......... 35

    6.1.3 Teste de dose nica ........................................................... ..................................................... 36

    6.2 Teste de Toxicidade subaguda ......................................................... .......................................... 36

    6.3 Teste de Toxicidade subcrnica ................................................................. ............................... 366.4 Teste de Toxicidade crnica ............................................................. .......................................... 36

    7. Testes de efeitos especficos ................................................................................ 37

    7.1 Mutagenicidade ............................................................... ................................................................ 37

    7.2 Teratogenicidade ............................................................ ................................................................ 38

    7.3 Carcinogenicidade .......................................................... ................................................................ 39

    8. Definio de Valores de Referncia para a exposio humana a substncias

    qumicas .................................................................................................................... 41

    8.1 NOEL, NOAEL e LOAEL ............................................................ ..................................................... 41

    9. Uso de biomarcadores para avaliao de populaes expostas .......................... 43

    10. Monitoramento ambiental ................................................................................ 47

    11. Monitoramento clnico ..................................................................................... 49

    12. Principais classes de substncias qumicas de interesse para a VSA ............ 56

    12.1Gases txicos .......................................................... .................................................................. ......... 56

    12.2Metais txicos ................................................................... ................................................................ 57

    12.2.1 Mercrio (Hg) ........................................................... ................................................................ 58

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    12.2.2 Cdmio (Cd) .............................................................. ................................................................ 60

    12.2.3 Chumbo (Pb) ............................................................. ................................................................ 62

    12.2.4 Arsnio (As) .............................................................. ................................................................ 63

    12.2.5 Mangans ................................................................... ................................................................ 65

    12.2.6 Cromo ............................................................... .................................................................. ......... 66

    12.2.7 Zinco .................................................................. .................................................................. ......... 67

    12.3Poluentes Orgnicos Persistentes (POPs) ......................................................... .................... 69

    12.4Agrotxicos ............................................................ .................................................................. ......... 69

    13. Estudos de caso .............................................................................................. 70

    13.1Mercrio na Baia de Minamata ................................................................... ............................... 7013.2Cdmio na Bacia do Rio Jinzu no Japo .............................................................. .................... 71

    13.3Chumbo em Santo Amaro da Purificao .......................................................... .................... 72

    13.4Poluentes Orgnicos Persistentes na Cidade dos Meninos ............................................ 74

    14. Referncias bibliogrficas .................................................................................. 75

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    Introduo

    A histria da Toxicologia acompanha a histria da civilizao, pois apesar da

    falta de registros, sabe-se que desde os tempos mais remotos o homem tinha

    conhecimento sobre venenos e plantas txicas (Oga & Siqueira, 2008). Os povos

    pr-histricos j se mostravam conhecedores de alguns princpios da Toxicologia de

    maneira emprica ao utilizarem venenos em suas armas de caa (flechas) para

    obterem sua comida e lutarem por sua sobrevivncia. A palavra grega Toxikontem

    origem neste armamento.

    O conhecimento do homem sobre os produtos qumicos vem se modificando

    continuamente. O Papiro de EBERS (1550 a.C.), de origem egpcia, um dos

    tratados mdicos mais antigos e possui uma lista de cerca de 800 ingredientes

    ativos, como metais (chumbo, cobre), venenos de animais e diferentes vegetais

    txicos (Oga & Siqueira, 2008).

    Paracelsus (1493-1541), alquimista que desenvolveu estudos e ideias

    envolvendo a Farmacologia, a Toxicologia e a Teraputica, revolucionou os

    conhecimentos sobre os compostos qumicos, identificando que elementos qumicos

    como o ferro estavam presentes em nosso organismo e que o desequilbrio entre

    essas substncias gerava doenas. dele a frase: Todas as substncias so

    venenos, no existe nada que no seja veneno. Somente a dose correta diferencia o

    veneno do remdio. Paracelsus estudou diversas doenas relacionadas ao

    trabalho, principalmente as relacionadas exposio por mercrio nos trabalhadores

    das minas de ouro. Ele introduziu axiomas fundamentais que deram uma nova viso

    Toxicologia como Cincia, enfatizando que a experimentao essencial para

    examinar as interaes entre as substncias qumicas e os organismos. Seu

    trabalho publicado em 1567, On the miners sickness and other diseases of miners,

    foi o estudo mais bem descrito, na poca, sobre doenas associadas ao trabalho.

    Aps Paracelsus,outros pesquisadores realizaram estudos e trouxeram

    contribuies de relevncia para a Toxicologia, como Bernardino Ramazzini, autor,

    em 1700, da publicao Discourse on the diseases of workers, dentre outros (Oga

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    & Siqueira, 2008).

    A Toxicologia moderna surge a partir dos estudos com animais relacionados

    s aes txicas das substncias qumicas. A partir dos estudos de Orfila (1787-

    1853) a Toxicologia passa a ser vista como uma disciplina multidisciplinar, j que

    necessita de conhecimentos de qumica, fsica, biologia, medicina, farmacologia,

    estatstica e outras reas de conhecimento para determinar os efeitos dos inmeros

    compostos qumicos sobre a sade humana.

    Portanto, Toxicologia a cincia que estuda os efeitos txicos decorrentes

    das interaes entre substncias qumicas e organismos vivos, a partir de condies

    especficas de exposio.

    Esta cincia parte de trs elementos bsicos:

    1) o agente qumico capaz de produzir um efeito;

    2) o sistema biolgico com o qual este agente ir interagir para produzir o

    efeito;

    3) o efeito adverso (ou txico) resultante desta interao.

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    Disciplina II Sade e AmbienteUnidade III Contribuies da Toxicologia para VSA

    1- Diviso e reas de atuao da Toxicologia

    1.1 A Toxicologia uma cincia multidisciplinar, desenvolvida por

    especialistas com diferentes formaes profissionais que, de acordo com

    diferentes campos de trabalho, pode ser dividida em: Toxicologia

    Experimental, Toxicologia Analtica e Toxicologia Clnica.

    1.2 Toxicologia Experimental

    Determina a toxicidade das substncias qumicas a partir de estudos

    experimentais em animais, dentro de critrios e mtodos de pesquisa

    rigorosos. Estes estudos tm como objetivo identificar os mecanismos de

    ao dos agentes txicos sobre o sistema biolgico e a avaliao dos efeitos

    decorrentes desta ao.

    1.3 Toxicologia Analtica

    Refere-se deteco do agente qumico ou a outro parmetro

    relacionado exposio ao toxicante nos fluidos orgnicos, alimentos, ar,

    gua, solo, entre outros, com o objetivo de prevenir ou diagnosticar as

    intoxicaes. importante para o monitoramento teraputico(acompanhamento de pacientes submetidos a tratamento prolongado com

    alguns tipos de medicamentos), monitoramento biolgico da exposio

    ocupacional s substncias qumicas (anlise toxicolgica dos toxicantes,

    seus metablitos ou alteraes de parmetros bioqumicos secundrios aos

    seus efeitos, em material biolgico de indivduos expostos

    ocupacionalmente), controle antidopagem em competies esportivas,

    controle de farmacodependncia devida ao uso de drogas psicoativas e na

    deteco e identificao de agentes txicos para fins mdico-legais em

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    diversos materiais (biolgicos, alimentos, gua etc.) para uso em ocorrncias

    policiais/legais.

    1.4 Toxicologia Clnica

    Tambm denominada Toxicologia Mdica, tem como objetivo o

    diagnstico das intoxicaes causadas pelas substncias qumicas e na

    prescrio de uma teraputica especfica.

    Existem vrias reas de atuao nas quais os conhecimentos e os

    estudos toxicolgicos podem ser aplicados. Seguem abaixo informaes

    sobre essas reas.

    1.5 Toxicologia dos Alimentos

    Estuda a relao entre os compostos qumicos, de origem natural ou

    no, presentes nos alimentos, que podem causar efeitos adversos sadehumana. Estabelece as condies em que os alimentos podem ser ingeridos

    sem causar danos ao organismo e norteia a legislao.

    1.6 Toxicologia Ambiental ou Ecotoxicologia

    Os processos produtivos industriais geram uma quantidade

    imensurvel de poluentes qumicos, que so lanados nos compartimentos

    ambientais (gua, solo, ar). A Toxicologia Ambiental estuda os efeitos

    nocivos produzidos pela interao destes resduos com os organismos

    humanos O estudo dos efeitos nocivos causados pelos poluentes qumicos

    no ambiente uma modalidade da Toxicologia chamada de Ecotoxicologia.

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    1.7 Toxicologia Ocupacional

    rea da Toxicologia que investiga os efeitos da exposio dostrabalhadores aos agentes qumicos durante a sua atividade de trabalho. Por

    exemplo, no quadro abaixo, podemos observar a associao existente entre

    a exposio ocupacional a algumas substncias qumicas e a ocorrncia de

    alguns tipos de cnceres em trabalhadores, de acordo com o tipo de

    indstria.

    Quadro 1 - Categorias selecionadas de substncias qumicasutilizadas na indstria associadas a cncer:

    1.8 Toxicologia de Medicamentos e Cosmticos

    Estuda os efeitos nocivos dos medicamentos ou cosmticos sobre o

    organismo. Estes efeitos podem ser decorrentes do uso inadequado, de

    susceptibilidades individuais ou de aes txicas tardias no observadas

    durante os testes toxicolgicos realizados. Sob estas condies,

    medicamentos ou cosmticos podem causar desde processos alrgicos at

    quadros clnicos de intoxicaes podendo levar ao bito. Existem tambm

    reaes idiossincrticas que so reaes inesperadas que ocorrem em

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    alguns indivduos, mesmo quando em uso das doses apropriadas de um

    medicamento.

    2. Conceitos bsicos

    2.1 Definies importantes em Toxicologia

    Agente txico ou toxicante a substancia qumica capaz de causar

    dano a um sistema biolgico, alterando uma funo ou levando-o morte,

    sob certas condies de exposio.

    Toxicidade a capacidade inerente ao agente txico de provocar

    efeitos nocivos em organismos vivos.

    Ao Txica a maneira pela qual um agente txico atua produzindo

    dano sobre as estruturas celulares.

    rgo alvo o rgo onde se produz o efeito ou ao; pode no ser o

    rgo que tem a maior concentrao do agente qumico.

    Intoxicao um conjunto de sinais e sintomas que evidenciam o

    efeito txico produzido pela interao entre uma substncia qumica e o

    organismo.

    Xenobiticosso substncias qumicas estranhas ao organismo. Ex.:

    poluentes da atmosfera e metais que no possuam papel fisiolgico

    conhecido (chumbo, mercrio entre outros). Tambm podem ser

    considerados xenobiticos substncias qumicas que normalmente esto

    presentes no organismo, mas que por alguma condio de exposio

    elevada se apresentam em quantidades acima do esperado no organismo,

    podendo levar intoxicao.

    Poluio a introduo pelo homem, direta ou indiretamente, de

    substncias ou energia no ambiente que resulte ou possivelmente venha a

    resultar em efeitos danosos como: impactar os recursos vivos, causar perigos

    sade humana, reduzir a qualidade do ambiente impedindo alguns dosseus usos (pesca, recreao etc.).

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    Desta forma, possvel ter uma atividade poluente, mas poluio no

    pode ser definida como uma atividade, per si. Poluio significa nveis ou

    concentraes de um agente fsico (ex.: som) ou qumico ou biolgico acima

    dos padres observados para o meio em estudo e que pode ter potencial

    efeito nocivo sobre a sade humana.

    Poluente pode ser qualquer substncia que ocorre naturalmente no

    ambiente, mas que em decorrncia de atividades humanas tem sua

    concentrao elevada acima dos nveis naturais. Este tambm

    denominadocontaminante. Por exemplo, micro-organismos que tiveram suas

    concentraes elevadas no mar devido ao lanamento de esgotos; por outro

    lado, existem outras substncias que tm sua origem apenas em atividades

    antropognicas (agrotxicos, plsticos etc.).

    Bioacessvel a frao da concentrao total de uma substncia que

    pode ser remobilizada de seu suporte ou matriz ambiental (ex.: sedimento),

    tornando-se solvel e potencialmente biodisponvel.

    Lbil um termo utilizado principalmente na eletroqumica para

    designar uma frao da concentrao total que reage com o eletrodo sendo,

    portanto,reativo. O seu oposto a frao no reativa, tambm denominada

    inerte. Este termo pode ser utilizado de maneira mais genrica para

    denominar a frao de uma substncia que interage com outras no meio ou

    em diferentes compartimentos ambientais.

    Bioconcentrao o fenmeno no qual um organismo concentra ou

    Bioacumula uma substncia em seu tecido em nveis maiores que a

    concentrao da substncia no meio em que se encontra o organismo (ex.:

    metal em moluscos).

    Biomagnificao est associada ao aumento da concentrao de

    uma substncia ao longo da cadeia trfica. Em geral, uma substncia

    biomagnificada quando possui grande tempo de meia-vida biolgica (ex.:

    metil mercrio) o que faz com que ela v se acumulando progressivamente

    no tecido corporal de um animal (presa). Quando este animal serve de

    alimento para outro (predador), o tecido da presa, impregnado com asubstncia, incorporado ao tecido do predador. Como em geral, este animal

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    predador se alimenta de vrias presas, ele tender a acumular em seu tecido

    corporal maior quantidade da substncia.

    Efeito txico uma alterao biolgica num indivduo ou numa

    populao relacionada com uma exposio a um agente txico.

    Efeito txico agudo o que ocorre ou se desenvolve rapidamente,

    em at 24 horas, aps uma nica, ou mltiplas, administraes de um agente

    qumico.

    Efeito txico crnico o que decorre de uma exposio repetida

    durante um longo perodo de tempo, geralmente com baixas concentraes.

    Pode ser por acumulao ou somatria dos efeitos produzidos. Efeito txico

    local o que ocorre no stio do primeiro contato entre o organismo e o

    agente qumico.

    Efeito txico sistmico o que requer absoro e distribuio do

    agente qumico para um stio distante da sua via de penetrao, onde

    produzir o efeito nocivo.

    Efeitos txicos podem ser reversveis ou irreversveis,dependendo

    da dose, tempo e frequncia da exposio, e tambm da capacidade de

    regenerao do tecido ou do sistema afetado.

    Biomarcadorou indicador biolgico pode ser o prprio xenobitico,

    seus produtos de transformao ou alguma alterao bioqumica ou

    fisiolgica precoce determinada em fluidos biolgicos, ar exalado ou tecidos

    de indivduos expostos.

    Os biomarcadores de exposioindicam a exposio do organismo

    a uma substncia qumica. Eles no refletem os efeitos adversos que este

    xenobitico pode estar causando. Biomarcadores de exposio so usados

    extensivamente na vigilncia sade de trabalhadores expostos a agentes

    txicos. De acordo com a meia-vida biolgica dos biomarcadores, eles

    refletem diferentes tempos de exposio, perodo recente, alguns dias, ou um

    longo perodo de tempo.

    Os biomarcadores de efeitoso parmetros biolgicos que refletem

    a interao do xenobitico com os receptores biolgicos alvo. Podem indicarefeitos txicos no organismo por meio das alteraes bioqumicas,

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    fisiolgicas ou comportamentais mensurveis. Os biomarcadores de

    suscetibilidadepodem refletir fatores genticos ou adquiridos preexistentes

    e independentes da exposio, que influenciam na resposta do organismo a

    uma determinada exposio. Eles permitem identificar na populao os

    indivduos que apresentam maior risco em determinado tipo de exposio.

    So predominantemente genticos, embora vrios fatores - idade, dieta,

    estado de sade, uso de medicamentos, exposio concomitante a outros

    toxicantes e diferenas genticas - possam alterar a suscetibilidade

    individual.

    Devido sua relevncia para a toxicologia, os biomarcadores sero

    novamente discutidos durante esta Unidade.

    2.2 Biodisponib ilidade e Especiao Qumica

    No processo de intoxicao, a primeira etapa a incorporao da

    substncia txica pelos organismos e a sua distribuio interna at atingir

    o(s) rgo(s) alvo(s), onde ocorrero os efeitos txicos. Para estudar este

    processo essencial que entendamos o conceito de Biodisponibilidade. Na

    prtica, na maioria das vezes, apenas uma frao das substncias txicas

    presentes no ambiente estar biodisponvel para os organismos expostos, ou

    seja, apenas esta frao poder ser incorporada pelos organismos e,

    eventualmente, causar efeitos txicos. Portanto, para determinarmos o risco

    que uma determinada substncia apresenta para um dado organismo

    necessrio que determinemos qual a sua biodisponibilidade nas condiesde exposio consideradas.

    A biodisponiblidade especfica para cada substncia e depende das

    condies de exposio analisadas, por isso, no se podem fazer

    extrapolaes, a priori. Entretanto, a biodisponibilidade de uma substncia se

    d basicamente em funo das formas qumicas ou espcies qumicasem

    que esta substncia est presente no ambiente. Cada espcie qumica de

    uma dada substncia possui propriedades qumicas e fsicas especficas (ex.:o metilmercrio, o sulfeto de mercrio e o mercrio metlico possuem

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    solubilidades em gua, presso de vapor e lipossolubilidade muito distintas),

    que por sua vez determinam seu transporte e ciclagem no ambiente, bem

    como, seu metabolismo e biodegradao. Assim, no basta determinarmos a

    concentrao total de uma substncia em um meio para conhecer o seu

    risco, porque suas biodisponibilidade e toxicidade sero definidas pela sua

    especiao qumica no meio. Esta distribuio de uma substncia em

    diferentes espcies qumicas no meio influenciada pelas condies

    ambientais, assim como pela estabilidade destas espcies e cintica de

    converso entre elas (Ure, 1995; Caroli, 1996).

    Na verdade, a ideia conceitual de especiao qumica bastante

    antiga. H muito se sabe que a ingesto moderada de solues aquosas de

    etanol (C2H5OH), de bicarbonato (NaHCO3

    Existem diferentes definies de especiao qumica na literatura (Ure,

    1995):

    ) ou de cianeto (NaCN), mesmo

    contendo o mesmo teor total de carbono, causar efeitos completamente

    diversos sobre o organismo humano, ou seja, o primeiro pode levar a um

    estado de euforia, o segundo pode resolver um problema de azia e o terceiro

    levar morte.

    O processo de identificao e quantificao de diferentes espcies,

    formas ou fases de uma substncia;

    A descrio das quantidades e dos tipos destas espcies, formas ou

    fases presentes;

    O processo que gera uma evidncia atmica ou molecular de um

    analito (definio).

    De acordo com a Unio Internacional de Qumica Pura e Aplicada

    (IUPAC) somente o termo anlise da especiao qumicacaracteriza uma

    determinao quantitativa e, portanto, deve ser sempre utilizado. Podemos,

    ento, dizer que a anlise da especiao de uma substncia se refere

    determinao do estado de oxidao, da concentrao e da composio de

    cada uma das suas espcies qumicas presentes em uma dada amostra

    (Lobinski, 1994).

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    Disciplina II Sade e AmbienteUnidade III Contribuies da Toxicologia para VSA

    Resumindo: especiao qumica pode ser definida como a

    distribuio de uma substncia em diferentes compostos (espcies) qumicos

    presentes no meio. Cada espcie qumica possui caractersticas qumicas e

    fsicas prprias que determinam sua mobilidade, reatividade e ciclagem no

    meio, o que por sua vez define sua toxicidade e risco.

    3. Classificao dos agentes txicos

    Os agentes txicos podem ser classificados de diversas formas, sendo

    as principais descritas a seguir.

    3.1 Estrutura qumica

    Classifica os agentes txicos quanto s famlias dessas substncias:

    metais, hidrocarbonetos alifticos, halogneos, produtos alcalinos, dentre

    outros.

    3.2 Estado fsico

    Esta forma de classificao dos agentes est relacionada com o

    estado fsico da matria: slidos, lquidos, gases, vapores e partculas

    (aerodispersis).

    3.3 rgo alvo

    Nesta forma de classificao, separamos os agentes txicos quanto ao

    tipo de ao txica e aos rgos onde atuam: hepatotxico, nefrotxico,

    neurotxico.

    3.4 Uso

    Classifica o agente txico a partir de sua utilizao no ambiente. Ex.:

    agrotxico, solvente, aditivo alimentar.

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    3.5 Mecanismo de toxic idade

    Os agentes txicos quando absorvidos atuam em diversos rgosalvo. Esta classificao separa as substncias de acordo com o seu

    mecanismo de toxicidade no organismo em nvel celular. Ex: disrruptor

    endcrino (substncias naturais ou qumicas introduzidas no meio ambiente,

    que podem interferir com a sntese, secreo, transporte, ligao, ao ou

    eliminao de hormnios do corpo); agente anticolinestersico (inibidores da

    colinesterase, impedindo a ao desta enzima sobre a ACETILCOLINA,

    levando a um acmulo de acetilcolina no organismo); metemoglobinizante(substncia capaz de induzir a oxidao do ferro da hemoglobina, a qual

    resulta em um pigmento chamado metemoglobina, que incapaz de

    transportar oxignio); adrenrgico (atua no receptor da adrenalina ou tem

    atividade semelhante adrenalina).

    3.6 Potencial txico

    Classificao que se relaciona com o potencial inerente de cada

    agente em produzir danos a organismos. Pode ser classificado em seis

    nveis: extremamente txico, altamente txico, moderadamente txico,

    ligeiramente txico, praticamente no txico e relativamente atxico.

    4. Fases da Intoxicao

    Como j estudado, a intoxicao um conjunto de efeitos nocivos,

    representada pelos sinais e sintomas que revelam o desequilbrio orgnico

    produzido pela interao do agente txico com o organismo.

    Este efeito txico s ser produzido se a interao com o receptor

    biolgico ocorrer em dose e tempo suficientes para quebrar a homeostasia do

    organismo. Existem, a priori, uma srie de processos metablicos envolvidos

    que vo desde o contato do agente txico com o organismo, at o surgimento

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    de sinais e sintomas. A intoxicao pode, portanto, ser dividida em quatro

    fases distintas, descritas a seguir.

    4.1 Fase de Exposio

    Exposio o contato entre o agente txico e o organismo. A

    intensidade da exposio depende de alguns fatores, tais como:

    4.1.1 Via ou local de exposioOs agentes txicos podem ser introduzidos no organismo por meio das

    vias oral (ingesto), drmica (contato com a pele) e/ou respiratria (inalao).

    A depender da via de introduo, o agente txico poder ter maior ou

    menor biodisponibilidade e, consequentemente, efeitos mais os menos

    intensos.

    Exemplo: os inseticidas piretroides, agrotxicos usados na agricultura,

    na pecuria e em controle de vetores, so prontamente absorvidos por viaoral e em quantidade menos expressiva por via drmica. No ser humano, a

    biodisponibilidade cutnea destes compostos de 1%, enquanto que na

    absoro gstrica chega a 36% (Alonzo e Corra, 2008).

    4.1.2 Durao e frequncia da exposio

    A durao e a frequncia de uma exposio so importantes na

    determinao do efeito txico, assim como na intensidade deste. Em estudos

    experimentais em animais, a exposio pode ser classificada, quanto

    durao em:

    - exposio aguda: exposio nica ou mltipla que ocorra em um

    perodo mximo de 24 horas;

    - exposio subaguda: exposio repetida a uma substncia por 1 ms

    ou menos.

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    - exposio subcrnica: exposio repetida a uma substncia por 1 a 3

    meses.

    - exposio crnica: exposio repetida a uma substncia por mais do

    que 3 meses.

    Nas situaes de exposio humana, a frequncia e a durao da

    exposio, ocupacional ou ambiental, so um pouco mais difceis de serem

    estabelecidas. Portanto, considera-se da seguinte forma:

    - exposio aguda: exposio nica ou mltipla que ocorra em um

    perodo mximo de 24 horas;

    - exposio subcrnica: exposio repetida a uma substncia durante

    vrias semanas ou meses;

    - exposio crnica: exposio repetida por muitos meses ou anos, ou

    por toda a vida (Eaton & Klaassen, 2001).

    Estes e outros fatores, como as propriedades fsico-qumicas das

    substncias e tambm a suscetibilidade individual, determinam a

    disponibilidade qumica do xenobitico, ou seja, a frao do mesmo que se

    encontrar disponvel para a absoro pelo organismo exposto (Oga &

    Siqueira, 2008).

    4.2 Fase Toxicoc intica

    Aps a exposio, o agente txico penetra no organismo por meio das

    vias de exposio e sua ao iniciada. Esta fase importante, pois

    determina o quanto da substncia em questo ficar disponvel para reagircom o receptor biolgico exercendo sua ao txica e pode ser dividida em

    absoro, distribuio, biotransformao e excreo.

    4.2.1 Absoro

    Absoro a passagem do toxicante do local de contato para a

    circulao sangunea. Este transporte se d atravs das membranas

    celulares e, a depender da via de exposio, o agente txico pode estar

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    inicialmente localizado no estmago, nas vias respiratrias, no intestino ou na

    derme. Outras vias menos comuns seriam a intramuscular, intravenosa e

    subcutnea, que constituem meios de administrao de agentes

    medicamentosos (Oga, Farsky & Marcourakis, 2008).

    Alguns fatores influenciam o transporte atravs da membrana. E esses

    fatores podem ser da prpria clula ou do agente txico em questo, o que

    facilita ou impede a passagem do agente para o meio intracelular.

    Por exemplo, substncias lipossolveis atravessam mais facilmente as

    barreiras celulares devido estrutura da membrana celular, que tambm

    lipossolvel. Essa passagem de meio extra para intracelular se d por difuso

    passiva. As substncias mais hidrossolveis tero maior dificuldade em

    atravessar as barreiras celulares e dependero de transportes ativos para

    atravess-las.

    A absoro pode ser observada de diversas formas, mas os trs tipos

    mais importantes so:

    Absoro oral O agente txico pode ser absorvido a partir da boca

    at o reto, porm, poucas so as substncias absorvidas na mucosa oral, at

    pelo pouco contato entre elas. O agente txico, ao passar pela boca ser

    absorvido pela mucosa gstrica ou intestinal, a depender de suas

    propriedades fsico-qumicas. Outros fatores influenciam na absoro pelo

    trato gastrointestinal, como por exemplo: o contedo estomacal (o estmago

    vazio propicia maior contato do agente com a mucosa gstrica); as secrees

    gastrintestinais que variam de acordo com a concentrao enzimtica,

    acidez, a idade e o sexo do indivduo. A mobilidade intestinal elevada

    diminuir o tempo de contato do agente com a mucosa, alterando a

    absoro.

    Absoro drmica A pele um rgo formado por mltiplas camadas

    de tecidos, sendo a mais externa a epiderme, que contm uma camada

    chamada estrato crneo, que a barreira limitante para absoro. A derme,

    camada mais interna da pele, formada por tecido conjuntivo e no qual so

    observados vasos sanguneos, folculos pilosos, glndulas sebceas esudorparas.

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    A pele permevel a grande nmero de toxicantes lipossolveis,

    slidos, gases ou lquidos. A absoro de substncias pela pele

    influenciada por diversos fatores, como por exemplo:

    - Superfcie corprea: pessoas com superfcies maiores podem ter

    maior contato com as substncias. Homens possuem, em mdia, 1,77m2

    - Volume total de gua no organismo: quanto maior volume de gua,

    maior a hidratao da pele e, consequentemente, a absoro;

    de

    rea obtendo maior superfcie de contato com o xenobitico;

    - Abraso da pele: feridas e leses facilitam a penetrao de

    substncias txicas;

    - Pilosidade: reas mais pilosas podem absorver de 3,5 a 13 vezes

    mais do que em regies sem pelos;

    - Volatilidade, grau de ionizao e tamanho molecular do agente

    qumico;

    - Tempo de contato do tecido cutneo com o agente qumico;

    - Presena de solventes orgnicos na pele aumentam a absoro de

    qualquer agente qumico devido a sua ao sobre o extrato crneo da

    epiderme, removendo lpides e lipoprotenas desta regio.

    Absoro pela via respiratria

    Os gases e vapores so absorvidos pelas vias superiores atravs das

    mucosas. Essa caracterstica est relacionada hidrossolubilidade da

    substncia: agentes mais hidrossolveis tm maior tendncia reteno

    nesta regio.

    A via respiratria uma importante

    entrada de agentes txicos para o organismo. Partculas slidas ou lquidas

    suspensas no ar atmosfrico, bem como gases e vapores, percorrem um

    caminho que se inicia nas vias areas superiores (fossas nasais, faringe,

    laringe) e inferiores (traqueia, brnquios, alvolos), at alcanar a circulao

    sangunea sistmica ou serem excretadas.

    No caso de material particulado, suspenso no ar, o dimetro pode

    influenciar o caminho percorrido nas vias areas: partculas menores que

    1m podem chegar aos alvolos pulmonares atravs da inspirao, ondepodero ser absorvidas ou removidas. J partculas intermedirias (2 a 5

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    m), geralmente, depositam-se na regio da traqueia e brnquios e partculas

    maiores que 5m, em geral, ficam retidas na regio nasofarngea sendo mais

    comumente removidas por processos mecnicos, como o espirro. Ou seja:

    partculas com dimetros maiores penetram menos no trato pulmonar que

    partculas menores. Alm disso, a diferena de densidade tambm interfere

    na penetrao, j que partculas mais densas so menos absorvidas.

    Nos alvolos pulmonares ocorrem duas fases importantes: a fase

    gasosa formada pelo ar alveolar e a fase lquida representada pelo sangue. O

    epitlio alveolar do pulmo e o endotlio capilar dos vasos sanguneos atuam

    como uma dupla barreira. Uma vez no sangue, o agente txico pode ser

    transportado de duas formas distintas: primeira, dissolvido no sangue, sem

    reagir com ele, neste caso o sangue serve como veculo de transporte da

    substncia; segunda, o txico reage quimicamente com o sangue gerando

    outros produtos txicos.

    Alm dos fatores j elencados, outros alteram a penetrao e reteno

    destas partculas no trato pulmonar. So estes:

    - Hidrossolubilidade: devido umidade, as partculas hidrossolveis

    so retidas parcialmente pela mucosa nasal, no trato pulmonar superior;

    - Condensao: partculas podem se condensar em um bloco de

    partculas maior devido as suas propriedades fsico-qumicas, tempo de

    reteno, dificultando a absoro alveolar;

    - Temperatura: promove maior coliso entre as partculas e,

    consequentemente, maior condensao e reteno pelo aumento do

    movimento Browniano (movimento natural e ao acaso de partculas

    pequenas);

    - Coeficiente de partio sangue/ar: relao de solubilidade dos gases

    nos dois meios, ar e sangue. Que constante para cada gs. Trata-se de um

    equilbrio dinmico entre as molculas de um gs contidas no ar inspirado e

    as dissolvidas no sangue. Para as substncias pouco solveis no sangue, ou

    seja, que tm menor capacidade de serem dissolvidas no sangue e assim

    distribudas para os tecidos, este equilbrio estabelecido rapidamente. Para

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    as substncias muito solveis, ele estabelecido lentamente, pois elas so

    rapidamente dissolvidas e distribudas para o organismo.

    4.2.2 Distribuio

    Ao penetrar na corrente sangunea por absoro ou administrao

    direta, o agente txico est disponvel para chegar a qualquer regio do

    organismo. A distribuio ocorre rapidamente e a velocidade depende do

    fluxo sanguneo e da facilidade com que o agente penetra nas clulas do

    tecido (permeabilidade celular). Assim, o xenobitico atingir seu rgo alvo

    onde se ligar e exercer sua funo txica.

    A distribuio do agente txico ocorre de acordo com a afinidade

    destes pelos tecidos, alm de sofrer influncia de outros fatores, como a

    ligao com protenas plasmticas, diferenas de pH, entre outros. As

    protenas presentes no sangue (ex.: albumina) podem se ligar aos agentes

    txicos, complexando-os e temporariamente os tornando inativos, ou seja,

    incapazes de atravessar as membranas e exercer seu efeito txico. Somente

    a poro no complexada exercer seu efeito txico livremente. Assim,

    qualquer circunstncia que aumente o grau de ligao proteica tende afetar a

    distribuio e, consequentemente, os efeitos do agente txico no organismo.

    A distribuio de um xenobitico para tecidos que recebem grande

    circulao de fluidos, como o corao, crebro e fgado mais rpida que

    para os rgos menos irrigados, como os ossos, dentes e tecido adiposo. A

    durao e a intensidade de um efeito txico iro variar de acordo com aconcentrao do xenobitico nos stios de ao, ou seja, nos rgos e

    tecidos onde eles iro agir.

    Vale ressaltar que cada membrana constitui uma barreira para a

    passagem de substncias do sangue para os tecidos corporais. Merecem

    destaque a barreira hematoenceflica (separa o compartimento sanguneo do

    sistema nervoso central) e a barreira placentria (que protege o feto em

    mulheres gestantes). Estas membranas so menos permeveis a passagemde agentes txicos. Essas barreiras tm funo de grande importncia para a

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    manuteno da vida, pois protegem o crebro e nutrem o feto,

    respectivamente. Ambas apresentam estruturas diferenciadas que lhes

    conferem uma capacidade maior na seletividade das substncias que

    penetram nos tecidos.

    Entretanto, alguns xenobiticos conseguem ultrapassar tais barreiras e

    exercem sua ao txica. o caso do monxido de carbono, chumbo,

    metilmercrio, etanol e dos hidrocarbonetos aromticos policclicos (PAHs)

    que podem atravessar a barreira placentria. O metilmercrio, ligado

    cistena, tambm penetra atravs da barreira hematoenceflica.

    4.2.3 Biotransformao

    Uma vez absorvidas, as substncias devem ser posteriormente

    excretadas, de forma inalterada ou modificadas quimicamente. De acordo

    com as suas propriedades fsico-qumicas, as substncias tero maior ou

    menor facilidade para excreo. Em geral, na urina e nas fezes so

    encontrados metablitos polares e hidrossolveis. Substncias lipoflicas tm

    menor facilidade de excreo porque tm maior potencial de reabsoro por

    atravessarem facilmente as membranas celulares. As substncias hidroflicas

    tm menor facilidade de absoro, porm, so mais bem excretadas pelo

    organismo, principalmente por via renal. O organismo realiza uma srie de

    reaes qumicas, geralmente catalisadas por enzimas, para transformar as

    substncias pouco polares e lipossolveis em substncias mais polares e

    hidrossolveis, a fim de facilitar a sua excreo.Biotransformao toda alterao que ocorre na estrutura qumica da

    substncia no organismo, em geral para tornar um xenobitico mais

    facilmente excretado. Podemos dividir a biotransformao em duas fases

    distintas, a fase pr-sinttica, ou fase I, na qual ocorrem reaes de

    Oxidao, Reduo e Hidrlise; e uma fase sinttica, ou fase II, na qual

    ocorrem reaes de Conjugao, Glicuronidao, Sulfatao, Metilao e

    Acetilao.

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    Como o fgado recebe todo o sangue que perfunde o trato

    gastrintestinal (parte abdominal), pncreas e bao, entra em contato com a

    maior parte dos nutrientes e xenobiticos absorvidos no intestino (via oral)

    antes de serem distribudos. O tecido heptico o que tem a maior

    concentrao das enzimas de biotransformao, embora elas sejam

    amplamente distribudas pelo organismo, podendo ser encontradas nos

    pulmes, rins, glndulas adrenais, pele e mucosa gastrintestinal.

    As reaes da fase I conferem polaridade aos xenobiticos atravs da

    insero de grupamentos hidroxila, amina, carboxila ou sulfidrila, resultando

    em aumento na hidrofilicidade. Podem ser formados metablitos mais txicos

    que os compostos originais, sendo este processo chamado de bioativao.

    O sistema enzimtico principal na fase I o chamado Citocromo P450.

    Este sistema enzimtico tem atuao fundamental nas reaes de oxidao,

    catalisando tambm algumas reaes de reduo. Este sistema

    influenciado por uma srie de substncias, que podem induzir ou inibir a sua

    atividade, alterando a biotransformao de determinados compostos.

    As reaes da fase II se caracterizam por incorporarem cofatores

    endgenos s molculas provenientes das reaes de fase I. As enzimas que

    catalisam as reaes da fase II so as sintetases, responsveis pela sntese

    de cofatores, e as transferases, responsveis pela transferncia dos

    mesmos.

    A maioria dos compostos passa primeiro pelas enzimas da fase I e

    depois pelas enzimas da fase II, durante o processo de biotransformao,

    porm, existem excees. A morfina, a herona e a codena sofrem

    conjugao direta com o cido glicurnico.

    Alguns fatores influenciam a biotransformao dos agentes txicos.

    Eles podem ser classificados como internos, quando relacionados ao prprio

    sistema biolgico, ou externos, quando relacionados s prprias substncias,

    vias de exposio ou do meio ambiente. Entre os fatores internos podem ser

    citados: espcie e raa, fatores genticos, gnero, idade, estado nutricional e

    estado patolgico. Entre os fatores externos esto algumas substncias que

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    interferem nos sistemas enzimticos de biotransformao, como indutores ou

    inibidores enzimticos.

    De acordo com a espcie e a raa existem variaes quantitativas e

    qualitativas no processo de biotransformao dos xenobiticos, dependendo

    da presena ou ausncia de enzimas e da concentrao de cada enzima. Da

    mesma forma, fatores genticos contribuem para a variao entre indivduos

    quanto capacidade metabolizadora de agentes qumicos. Em relao ao

    gnero, observa-se em ratos machos um teor de citocromo P-450, em mdia,

    40% maior do que nas fmeas, o que confere aos machos maiores

    capacidade de biotransformar substncias lipoflicas. Esta diferena parece

    estar associada ao anablica dos hormnios sexuais masculinos, nesta

    espcie. Na espcie humana no observada diferena acentuada na

    capacidade de biotransformar xenobiticos, no entanto, o uso de

    anticoncepcionais hormonais pelas mulheres pode determinar alguma

    alterao na capacidade de biotransformao de algumas substncias.

    Fetos e recm-nascidos so mais susceptveis ao txica de

    xenobiticos porque tm nenhuma ou mnima capacidade bioqumica de

    transform-los, j que as atividades do sistema P-450 so quantitativa e

    qualitativamente reduzidas. O mesmo acontece em pessoas idosas, nas

    quais ocorre queda na intensidade da biotransformao, alm da reduo na

    capacidade de excreo renal, potencializando a toxicidade dos compostos.

    A desnutrio pode levar reduo da atividade enzimtica devido

    diminuio das protenas e de outros elementos nutricionais como ferro,

    clcio, cobre, zinco magnsio, vitaminas do complexo B, tocoferol e cido

    ascrbico que participam da composio e manuteno da integridade do

    sistema oxidase de funo mista (citocromo P-450).

    As doenas hepticas como cirrose, ictercia obstrutiva, hepatite e

    carcinomas comprometem a capacidade do fgado de biotransformar os

    xenobiticos. Diminuio do fluxo sanguneo heptico secundria a outras

    doenas como insuficincia cardaca, por exemplo, tambm compromete a

    biotransformao de xenobiticos e sua consequente depurao.

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    Os fatores externos so substncias que atuam como indutores ou

    inibidores enzimticos nos sistemas de biotransformao. A atividade

    enzimtica do sistema P-450 pode ser estimulada por hormnios esteroidais,

    inseticidas clorados, barbitricos, hidrocarbonetos aromticos policclicos,

    entre outros. Ela tambm pode ser inibida, juntamente com a atividade de

    outras enzimas como as colinesterases e a monoaminooxidase (MAO) por

    outras substncias, causando acmulo de seus substratos no organismo. No

    caso dos frmacos, este acmulo pode ocasionar efeitos teraputicos, e

    efeitos adversos, mais acentuados.

    A biotransformao dos agentes txicos de grande importncia para

    as anlises toxicolgicas. A forma mais comum de encontrarmos um agente

    no organismo como um produto biotransformado. Se conhecermos com

    profundidade os processos de biotransformao da substncia, saberemos o

    que procurar nos exames laboratoriais solicitados, qual tipo de amostra

    procurar, deixando o processo mais fcil e prtico.

    4.2.4 Excreo

    Excreo o processo de eliminao de uma substncia do

    organismo. Vrios fatores influenciam na velocidade e via de excreo, veja-

    os abaixo:

    1) A via de exposio influi na velocidade de absoro, de

    biotransformao e, tambm, na excreo;

    2) A afinidade por elementos do sangue e outros tecidos pois,geralmente, o agente txico na sua forma livre est disponvel eliminao;

    3) A maior facilidade de biotransformao, com o aumento da

    polaridade, maior hidrossolubilidade e maior excreo urinria;

    4) A frequncia respiratria em se tratando de excreo pulmonar,

    uma vez que, com o aumento desta, as trocas gasosas ocorrero mais

    rapidamente;

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    5) A integridade da funo renal uma vez que, sendo esta a principal

    via de excreo dos xenobiticos, quaisquer disfuno destes rgos

    interferir na velocidade e proporo da excreo.

    Basicamente, existem trs vias principais de excreo, mas outras

    tambm sero mencionadas.

    - Excreo Urinria

    Sabe-se que a capacidade de um rgo em realizar uma determinada

    funo est intimamente relacionada com sua anatomia e que os rins

    possuem um desenvolvimento anatmico voltado para a excreo de

    substncias qumicas. Existem trs mecanismos principais responsveis pela

    formao da urina e excreo de substncias: filtrao glomerular, difuso

    tubular passiva e secreo tubular.

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    Os glomrulos renais filtram cerca de 20% do fluxo cardaco (os rins

    recebem 25% deste fluxo) e apresentam poros bastante largos (cerca de 40

    A enquanto o de outros tecidos medem cerca de 4 A). Assim, os glomrulos

    filtram substncias lipossolveis ou hidrossolveis, cidas ou bsicas, desde

    que tenham peso molecular menor do que 60.000. Os xenobiticos ligados a

    protenas no so filtrados devido ao tamanho do seu complexo,

    permanecendo mais tempo no organismo.

    Aps a filtrao as partculas hidrossolveis so excretadas com a

    urina, enquanto as lipossolveis so reabsorvidas pelo tbulo proximal,

    caindo novamente na circulao sistmica. Quanto mais hidrossolveis forem

    as substncias mais excretadas elas sero na urina, que formada em sua

    maior parte de gua. O pH da urina, entre outros fatores, tem grande

    influncia na excreo de substncias. De modo geral, as substncias de

    carter alcalino so eliminadas na urina cida e as substncias cidas na

    urina alcalina, pois nestas condies (elevao do pH da urina) as

    substncias se ionizaro, tornando-se mais hidrossolveis e facilitando a sua

    excreo.

    Outro processo de excreo renal a difuso tubular passiva.

    Substncias lipossolveis, cidas ou bsicas, que estejam presentes nos

    capilares que circundam os tbulos renais, podem atravessar a membrana

    por difuso passiva e carem no lmem tubular. Dependendo do seu pKa e

    do pH do meio, elas podem, ou no, se ionizarem e, consequentemente,

    serem excretadas ou reabsorvidas.

    O terceiro processo de excreo renal a secreo tubular ativa.

    Existem dois processos de secreo tubular renal, um para substncias

    cidas e outro para as bsicas estando estes sistemas localizados,

    provavelmente, no tbulo proximal. A secreo tubular tem as caractersticas

    do transporte ativo, ou seja, exige um carregador qumico, gasta energia,

    um mecanismo competitivo e pode ocorrer contra um gradiente de

    concentrao. Algumas substncias endgenas, tais como o cido rico, so

    excretadas por este mecanismo e a presena de xenobiticos excretadosativamente, pode interferir com a eliminao de substratos endgenos. A

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    Penicilina um exemplo de xenobitico secretado ativamente pelos tbulos.

    O uso de Probenecid (frmaco excretado pelo mesmo sistema) evita que este

    antibitico seja secretado muito rapidamente do organismo. Geralmente, o

    que ocorre no organismo uma combinao dos trs processos de excreo

    renal, para permitir uma maior eficcia na eliminao dos xenobiticos.

    - Excreo fecal

    Os xenobiticos encontrados nas fezes correspondem frao

    ingerida e no absorvida, ou ento, aos xenobiticos que sofreram secreo

    salivar, biliar ou gstrica. As partculas que penetram pelo trato pulmonar

    podem ser eliminadas pela expectorao no trato gastrintestinal (TGI) e, se

    no forem reabsorvidas, sero, tambm, excretadas pelas fezes.

    Dentre as secrees orgnicas, a mais significativa para a excreo

    de xenobiticos a biliar. O fgado tem uma posio vantajosa na remoo

    de substncias exgenas do sangue, principalmente daquelas absorvidas

    pelo trato gastrintestinal. Isto porque, o sangue proveniente do TGI, atravs

    da circulao porta, passa inicialmente pelo fgado, e somente depois entra

    na circulao sistmica. No fgado, parte do xenobitico pode ser

    biotransformado e os metablitos ou mesmo o produto inalterado podem ser

    secretados pela bile no intestino.

    Existem, sabidamente, trs sistemas de transporte ativo para a

    secreo de substncias orgnicas na bile, a saber, para substncias cidas,

    bsicas e neutras. quase certa a existncia de outro sistema para os

    metais. Uma vez secretado no intestino, os xenobiticos podem sofrer

    reabsoro ou excreo pelas fezes.

    - Excreo pelo ar expirado

    Gases e vapores inalados ou produzidos no organismo so

    parcialmente eliminados pelo ar expirado. O processo envolvido a difuso

    pelas membranas que, para substncias que no se ligam quimicamente ao

    sangue, depender da solubilidade no sangue e da presso de vapor. Estes

    xenobiticos so eliminados em velocidade inversamente proporcional reteno no sangue, assim, gases e vapores pouco solveis no sangue so

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    rapidamente eliminados, enquanto aqueles muito solveis no sangue so

    lentamente excretados pelo ar expirado. Em relao presso de vapor, os

    lquidos mais volteis sero, quase exclusivamente, excretados pelo ar

    expirado.

    - Excrees por outras vias

    A eliminao por meio da excreo sudorpara j conhecida h

    alguns anos. Desde 1911 sabe-se que substncias tais como iodo, bromo,

    cido benzoico, cido saliclico, chumbo, arsnio, lcool etc., so excretadas

    pelo suor. O processo parece ser o de difuso passiva e podem ocorrer

    dermatites em indivduos suscetveis, especialmente quando se promove a

    sudorese para aumentar a excreo pela pele.

    A excreo salivar significativa para alguns xenobiticos. Os

    lipossolveis podem atingir a saliva por difuso passiva e os no

    lipossolveis podem ser eliminados na saliva, em velocidade proporcional ao

    seu peso molecular, atravs de filtrao. A saliva tem sido material biolgico

    importante para a deteco de drogas de abuso, como etanol, cocana e

    anfetaminas, j que a coleta deste material menos invasiva que o sangue e

    apresenta menor probabilidade de adulterao que a urina. As substncias

    excretadas pela saliva podem ser reabsorvidas no TGI ou eliminadas pelas

    fezes.

    A excreo de xenobiticos no leite tem grande interesse pelo

    consumo exclusivo por recm-nascidos, um grupo etrio particularmente

    vulnervel a ao txica dos xenobiticos. Geralmente, as substncias

    apolares sofrem difuso passiva do sangue para o leite e como esta secreo

    mais cida do que o sangue (ela tem pH = 6,5), os compostos bsicos

    tendem a se concentrarem mais a. J os compostos cidos tm uma

    concentrao lctea menor que a sangunea. Vrias substncias so,

    sabidamente, eliminadas pelo leite: DDT, PCB (difenil policlorados), chumbo,

    mercrio, arsnio, morfina, lcool etc.

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    4.2.5 Acumulao

    O tecido sseo e o adiposo armazenam agentes txicos e funcionamcomo reservatrios destas substncias txicas.

    Tecido adiposo - Como a lipossolubilidade uma caracterstica

    fundamental para o transporte por membranas e o tecido adiposo tem

    caracterstica de apolaridade, os agentes txicos lipossolveis tendem a se

    concentrar no tecido adiposo. Essa acumulao se d por dissoluo do

    agente no tecido diminuindo a concentrao deste agente no plasma

    disponvel para entrar em contato com o stio de ao.Tecido sseo- Chumbo, Flor, Estrncio so algumas das substncias

    que podem ser armazenadas neste tecido relativamente inerte. Esse

    fenmeno essencialmente qumico, por intermdio do contato entre a

    superfcie ssea (matriz orgnica) e o fluido extracelular. O osso formado

    por uma matriz orgnica e uma matriz inorgnica constituda por

    hidroxiapatita [3Ca3(PO4)Ca(OH)2]. Dependendo do seu tamanho molecular

    e carga eltrica, o agente qumico penetra os cristais de hidroxiapatita

    retirando um dos componentes da estrutura e entrando na constituio da

    mesma. Por exemplo, em contaminaes por Flor (F-

    ), este on facilmente

    alocado na hidroxila (OH) formando fluorapatita; Chumbo e Estrncio entram

    no lugar do Ca. O Fluor causa fluorose ssea ou dentinria (se presente em

    excesso no esmalte dentrio) e o Estrncio radioativo causa osteosarcoma. A

    remoo destes agentes pode ser feita por dissoluo da hidroxiapatita por

    mecanismos celulares prprios do organismo, como a ao de osteoclastos,

    ou pelo aumento da atividade osteoltica provocada por substncias

    qumicas, enzimas etc. O paratormnio, hormnio da paratireoide tem ao

    descalcificante. Disfunes da excreo deste hormnio em pacientes

    contaminados podem aumentar a concentrao plasmtica de agentes

    txicos.

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    4.3 Fase Toxicodinmica

    Nesta fase observamos a ao do agente txico (AT) no organismo.Os agentes interagem com os receptores biolgicos no stio de ao levando

    ao efeito txico. Portanto, a toxicodinmica trata das vrias formas de

    interao entre os agentes txicos e os receptores das clulas e que vo

    determinar o mecanismo de ao txica. No necessariamente o rgo onde

    se efetua a interao ser o rgo que sofrer o dano, e tambm no

    significa que uma grande concentrao do agente em um determinado rgo

    causar a ao txica. Geralmente, os AT se concentram no fgado e nos rins(locais de eliminao) e no tecido adiposo (local de armazenamento), sem

    que haja uma ao ou efeito txico detectvel. Quando se considera a

    complexidade dos sistemas biolgicos (do ponto de vista qumico e

    biolgico), pode-se imaginar o elevado nmero de mecanismos de ao

    existentes para os agentes txicos.

    4.4 Fase Clnica

    a fase em que ocorrem os sinais e sintomas decorrentes do efeito

    txico do xenobitico sobre o organismo. diagnosticado como um quadro

    de intoxicao, ou seja, o conjunto de sinais e sintomas que demonstra o

    desequilbrio orgnico promovido pela ao de uma substncia txica. A

    intoxicao pode ser classificada quanto durao da exposio e quanto

    intensidade dos efeitos.

    Quanto durao da exposio, a intoxicao pode ser classificada

    como AGUDA, SUBAGUDA ou CRNICA, como j visto anteriormente.

    A intoxicao aguda se caracteriza por exposies de curta durao,

    absoro rpida do agente qumico, uma dose nica ou vrias doses, em um

    perodo no maior que 24 horas, com os efeitos aparecendo, em geral,

    rapidamente, e a morte ou a cura so o resultado imediato. Na intoxicao

    crnica os efeitos se manifestam porque o agente txico se acumula no

    organismo, ou seja, a quantidade absorvida maior que a eliminada, ou

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    porque os efeitos produzidos pelas exposies repetidas se somam sem

    acumulao do agente txico.

    Quanto intensidade dos efeitos, a intoxicao pode ser classificada

    como letal, grave, moderada ou leve, de acordo com a intensidade dos sinais

    e sintomas clnicos observados e o risco de bito.

    O diagnstico da intoxicao feito com avaliao clnica e anlises

    toxicolgicas. Abaixo apresentada uma sntese dos efeitos nocivos sobre

    os diversos sistemas do organismo que podem ser decorrentes do processo

    de intoxicao por xenobiticos.

    Sistema respiratrio: dano nas clulas do trato respiratrio; enfisema;

    irritao; constrico dos brnquios; dispneia; alergia.

    Pele: vermelhido; edema (inchao); coceira; alergia.

    Fgado: acumulao excessiva de lipdeos; necrose; colestase.

    Rim: efeitos sobre os tbulos renais; morte das clulas; alterao da

    funo renal.

    Sistema nervoso: falta de oxignio no crebro; perda de mielina;

    efeitos nos neurnios perifricos.

    Sistema reprodutivo: reduo na produo de esperma; reduo da

    fertilidade; toxicidade reprodutiva.

    5. Interao entre Substncias

    Quando uma substncia altera o efeito de outra, dizemos que ocorreu

    uma interao entre elas. Esta interao pode ocorrer nas fases de

    exposio, toxicocintica e toxicodinmica. Destas interaes ocorrem

    diversos efeitos.

    5.1 Efeito aditivo

    Quando dois ou mais agentes txicos interagem e produzem um efeito

    quantitativamente igual soma dos efeitos individuais de cada substncia.

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    5.2. Efeito sinrgico

    O sinergismo observado quando os efeitos causados por dois oumais agentes txicos so maiores que a soma dos seus efeitos.

    5.3. Potenciao

    A potenciao caracterizada quando os efeitos de um composto so

    aumentados por atuar junto com um agente no txico.

    5.4. Antagonismo

    o inverso da adio, determinado quando uma substncia interfere

    com outra diminuindo os efeitos finais, tornando-os menos intensos do que

    quando ocorrem em separado.

    5.4.1. Antagonismo qumico

    O antagonismo qumico ou neutralizao ocorre quando uma

    substncia inativa a ao da outra por inteiro. Esta reao qumica aconteceentre os dois compostos, por exemplo, os agentes quelantes como EDTA que

    sequestram metais do organismo, inativando-os.

    5.4.2. Antagonismo funcional

    O antagonismo funcional ocorre quanto uma substncia causa um

    efeito diametralmente oposto no organismo. Os medicamentos da classe dos

    barbitricos, por exemplo, diminuem a presso sangunea e a norepinefrina

    atua aumentando a presso.

    5.4.3. Antagonismo no competitivo, metablico ou

    farmacocintico

    Agentes que quando administrados atuam na movimentao (cintica)

    do outro agente causador de efeitos txicos diminuindo sua concentrao nos

    stios de ao e diminuindo sua permanncia no organismo. Por exemplo: o

    bicarbonato de sdio estimula a secreo urinria dos barbitricos;

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    5.4.4. Antagonismo competitivo, no metablico ou

    farmacodinmicoConhecidos como bloqueadores, os dois frmacos competem pelo

    receptor biolgico ou stio de ligao. Este conceito bastante utilizado no

    tratamento de intoxicaes com a atropina e o naxolone, usados para o

    tratamento de intoxicaes por organofosforados e opiceos,

    respectivamente.

    6. Testes de Toxic idadeA avaliao da toxicidade das substncias qumicas realizada,

    geralmente, a partir de estudos com animais de laboratrio e levantamentos

    epidemiolgicos e clnicos. O principal objetivo dos estudos de toxicidade

    identificar a magnitude do dano sade produzido por essas substncias,

    assim como, avaliar a relao entre o agente txico e o seu respectivo efeito.

    Os estudos e testes de toxicidade no so realizados para provar que

    uma substncia segura. Eles servem, fundamentalmente, para identificar osefeitos txicos que tal substncia possa produzir. Alguns desses testes so

    padronizados e recomendados por agncias regulamentadoras, como a Food

    and Drug Administration(FDA), a Environmental Protection Agency(EPA) e a

    Organization for Economic Cooperation and Development (OECD),

    responsveis pelo controle da comercializao de novos produtos qumicos

    no mercado. De acordo com a durao e frequncia da dose administrada, os

    estudos de avaliao de toxicidade podem ser agudos, subcrnicos ecrnicos. Nos estudos de toxicidade aguda, os animais recebem uma nica

    dose, enquanto nos de toxicidade subcrnica e crnica podem receber doses

    repetidas continuamente por vrias semanas e at por meses, ou por toda a

    vida.

    No Brasil, a Resoluo 1/78 do Conselho Nacional de Sade

    estabelece cinco tipos de ensaios de toxicidade: aguda, subaguda, crnica,

    teratognia e embriotoxicidade e estudos especiais. Este conjunto de testes

    deve ser realizado para cada nova substncia a ser utilizada ou produzida em

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    larga escala, geralmente acima de 1 tonelada/ano. De acordo com situaes

    especficas podem-se definir quais os testes a serem realizados. Segundo

    Barros e Davino (In Oga e cols, 2008) a lista de testes varia de pas a pas,

    porm, em geral, inclui os seguintes itens: informaes preliminares,

    toxicidade aguda, subcrnica (curta durao) e crnica, mutagnese e

    carcinognese, reproduo e embriofetotoxicidade, toxicocintica, efeitos

    locais sobre a pele e olhos, sensibilizao cutnea e ecotoxicidade.

    6.1 Testes de Toxicidade Aguda

    6.1.1 DL50

    O ponto de partida para os estudos de avaliao de toxicidade o

    estudo de toxicidade aguda. A Dose Letal (DL 50) a dose de uma

    substncia qumica que provoca a morte de 50% de um grupo de animais da

    mesma espcie, quando administrada pela mesma via. O estudo de

    toxicidade aguda necessrio para a determinao da dose consideradaletal para os animais expostos e pode identificar o rgo-alvo para os estudos

    de toxicidade crnica. As substncias que apresentam uma DL50 menor,

    para uma determinada espcie animal, so mais txicas do que com uma

    dose letal superior. Roedores, ratos e camundongos so as espcies animais

    mais utilizadas nos estudos de toxicidade, pois podem ser facilmente

    manuseadas e a um custo mais acessvel. Alm disso, essas espcies tm

    uma expectativa de vida de dois a trs anos, facilitando assim, a observao

    dos efeitos da exposio ao longo de sua vida, de forma relativamente

    rpida.

    6.1.2 CL50

    A Concentrao Letal (CL 50) a concentrao atmosfrica de uma

    substncia qumica que provoca a morte de 50% de um grupo de animais

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    expostos, em um tempo definido. A CL50 refere-se inalao do agente

    txico e a DL50 caracterizada pela administrao por outras vias.

    6.1.3 Teste de dose nica

    Este estudo caracterizado pela administrao ou exposio

    substncia qumica numa dose nica (ou mltipla num espao de 24 horas),

    na qual so observados os efeitos causados pelo agente txico.

    6.2 Teste de Toxicidade subagudaO tempo de exposio deste estudo de dias at um ms. Determina

    as alteraes ocorridas no organismo alvo neste perodo.

    6.3 Teste de Toxicidade subcrnica

    O tempo de exposio deste tipo de testes de 1 a 3 meses. So

    usadas trs doses experimentais (mnima, intermediria e mxima) sendoque a dose mxima no deve produzir um ndice de letalidade acima de 10%

    (para que no inviabilize as avaliaes histopatgicas e bioqumicas).

    Os principais objetivos destes testes so:

    - Determinar a dose na qual nenhum efeito observado No observed

    effects level (NOEL): que significa a dose mxima na qual no se observa

    efeito.

    - Estudar mais efetivamente rgos alvos e determinar aqueles com

    mais suscetibilidade.

    - Prover dados sobre dosagens seletivas para estudos de toxicidade

    crnica.

    6.4 Teste de Toxic idade crnica

    Este estudo semelhante ao subcrnico, porm, o perodo de

    exposio maior do que trs meses ou por quase toda a vida do animal.

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    Como no teste anterior, este tambm procura avaliar os efeitos txicos da

    substncia de acordo com a via de exposio, ou de uso prescrito, caso seja

    um frmaco.

    O protocolo experimental compreende as observaes e alteraes

    especificadas no estudo de toxicidade subcrnica, e outros parmetros

    bioqumicos que permitem uma melhor avaliao de todos os rgos e

    funes, principalmente funo renal e heptica.

    Os principais objetivos deste estudo so:

    - Verificar nveis mximos de dose das substncias que no produzem

    efeitos discernveis de doena quando administrados durante a maior parte

    da vida do animal;

    - Verificar os efeitos txicos que no so resultantes dos estudos de

    toxicidade subcrnica;

    - Procurar determinar o mecanismo de ao txica das substncias

    qumicas.

    7. Testes de efeitos especficos

    7.1 Mutagenicidade

    Os efeitos mutagnicos das substncias qumicas podem ser

    avaliados atravs de ensaios com micro-organismos e em organismossuperiores. Os ensaios com micro-organismos, realizados in vitro, so

    indicados na triagem rotineira dos agentes txicos. Estes ensaios avaliam

    basicamente o dano provocado ao DNA pela substncia qumica estudada ou

    seu produto de biotransformao.

    No estudo do potencial mutagnico de um composto, os ensaios com

    animais de laboratrio oferecem grandes vantagens, especialmente a de

    reproduzir as condies de exposio do homem. Nestes ensaios, as

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    alteraes cromossmicas so identificadas na medula ssea do fmur de

    ratos e camundongos expostos experimentalmente ao agente txico.

    7.2 Teratogenicidade

    A avaliao do efeito teratognico de um composto qumico, por meio

    de mtodos experimentais em animais de laboratrio, executada de acordo

    com um protocolo complexo envolvendo trs fases distintas.

    A primeira fase tem por objetivo avaliar o potencial txico do

    composto qumico sobre a fertilidade e o desempenho reprodutivo.

    Compreende o tratamento dos animais, machos e fmeas, durante um

    perodo de, no mnimo, 60 dias antes do acasalamento e, depois, das fmeas

    durante a gestao e lactao. Ao meio termo da gravidez procede-se o

    sacrifcio da metade dos animais do grupo experimental para a verificao da

    existncia de anormalidades intrauterinas. Ao fim, so observados nmero,

    sexo, peso corpreo e anormalidades externas em todos os filhotes.

    Na segunda fase, as informaes so obtidas a partir da

    administrao de doses dirias da substncia qumica na dieta de animais

    fmeas grvidas no perodo da organognese. Neste estudo feita uma

    avaliao minuciosa e detalhada da me e filhotes.

    Os estudos da terceira fase avaliam os efeitos da substncia sobre o

    desenvolvimento peri e ps natal. A administrao da substncia qumica

    feita durante o perodo que compreende o ltimo tero da gestao at o

    desmame. Neste estudo avaliado o desenvolvimento somtico, neuromotor,

    sensorial e comportamento da prole.

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    7.3 Carcinogenicidade

    As evidncias primrias que podem apontar o potencial carcinognico

    das substncias qumicas so de origem epidemiolgica ou experimental em

    roedores. Nos estudos experimentais em roedores, esses efeitos devem ser

    observados em pelo menos duas espcies de animais, com uma durao

    mxima de 130 semanas em ratos, 120 semanas em camundongos e 130

    semanas em hamsters.So utilizadas, no mnimo, duas doses da substncia.

    A maior dose a dose mxima tolerada (DMT), definida como sendo aquela

    que no provoca no animal uma perda de peso superior a 10% e no induz

    mortalidade ou sinais clnicos de toxicidade. A menor dose corresponde

    metade da DMT. Cada grupo experimental constitudo de, pelo menos, 50

    animais. Todos os animais utilizados no experimento so submetidos

    necropsia completa.

    A avaliao final do risco de carcinogenicidade para o homem, alm

    das evidncias primrias, obtida pela execuo de testes de curta durao(evidncias secundrias). Estes testes podem ser agrupados em trs

    categorias gerais:

    - Testes que detectam leso do DNA, incluindo o estudo da formao de

    ligaes entre o DNA e os produtos ativos formados na biotransformao do

    agente txico, quebra de fitas, induo de prfagos e reparo do DNA;

    - Testes que evidenciam alteraes dos produtos gnicos ou das funescelulares;

    - Testes que avaliam alteraes cromossmicas.

    A evidncia de Carcinogenicidade considerada limitada nas seguintes

    situaes:

    - nmeros reduzidos de experimentos;

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    - impropriedade de dose e vias de administrao;

    - emprego de uma nica espcie animal;

    - durao imprpria do experimento;

    - nmero reduzido de animais;

    - dificuldade em diferenciar as neoplasias malignas e benignas.

    A evidncia inadequada indicada nas seguintes situaes:

    - a no excluso do acaso nos estudos realizados;

    - a existncia de vcios no delineamento experimental;

    - a existncia de outros estudos que demonstrem a ausncia de

    carcinogenicidade.

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    8. Definio de Valores de Referncia para a exposio

    humana a substncias qumicas

    Extrapolao dos dados dos testes toxicolgicos.

    8.1 NOEL, NOAEL e LOAEL

    A partir dos testes de toxicidade, determinamos algumas referncias

    de concentraes dos agentes administrados nas quais no so observados

    efeitos ou efeitos adversos.

    NOEL Observed Effect Level Maior dose do agente txicoadministrada na qual NO SE OBSERVA EFEITO ALGUM na cobaia;

    NOAEL Observed Adverse Effect Level Maior dose do agente

    txico administrada na qual NO SE OBSERVA EFEITO ADVERSO na

    cobaia;

    LOAEL Lowest Observed Adverse Effect Level Menor dose

    administrada do agente txico na qual se observa EFEITO ADVERSO.

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    Disciplina II Sade e AmbienteUnidade III Contribuies da Toxicologia para VSA

    - Uso do Fator de Incerteza (FI)

    O Fator de Incerteza (FI) um valor, geralmente mltiplo de 10, pelo

    qual o valor do NOAEL OU LOAEL dividido de acordo com as limitaes

    existentes nos testes do qual so originados. Estas limitaes so, por

    exemplo, extrapolao de dados de estudos obtidos com exposio no

    crnica para exposio crnica, diferenas entre as espcies, variaes na

    sensibilidade entre os indivduos da populao (quanto idade, ao grau de

    nutrio, ao estado de sade etc.), quando utilizado um valor de LOAEL e

    no de NOAEL. Como cada uma destas condies limitantes traz incertezas

    para o clculo da Dose de Referncia para a exposio humana, o valor do

    NOAEL OU LOAEL dividido por um valor mltiplo de 10 para cada um dos

    fatores de incerteza existentes.

    - Dose de Referncia

    O valor do NOAEL utilizado como base para o clculo da dose de

    referncia (DRf), pela aplicao de fatores de incerteza (FI) e fatores de

    ponderao (FP). A dose de referncia pode ser definida como uma

    estimativa de exposio diria de uma populao humana, incluindo os

    indivduos mais sensveis, dose essa que, provavelmente, no apresenta

    risco de produzir efeitos adversos durante toda a vida. A DRf expressa em

    miligrama por quilograma de peso corpreo por dia (mg/Kg-dia), conforme a

    equao:

    DRf =

    FI x FP

    NOAEL

    Na qual o fator de incerteza est explicado anteriormente e o Fator de

    Ponderao um fator de incerteza adicional, maior do que zero e menor ou

    igual a dez, cuja magnitude depende de um julgamento profissional de outras

    incertezas cientficas do estudo, no tratadas como fatores de incerteza

    propriamente ditos.

    A dose de referncia no se aplica para efeitos cancergenos.

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    - Ingesto Diria Aceitvel (IDA)

    Um pouco diferente do clculo da dose de referncia, a dose de

    Ingesto Diria Aceitvel calculada com os valores de NOEL e no de

    NOAEL como naquele referencial. A IDA expressa em miligrama por

    quilograma de peso corpreo por dia (mg/Kg-dia).

    9. Uso de biomarcadores para avaliao de populaes

    expostas

    A Monitorizao biolgica corresponde medio e avaliao dos

    agentes qumicos ou de seus produtos de biotransformao em tecidos,

    secrees, excrees e ar exalado, ou alguma combinao destes, para

    estimar a exposio ou risco sade, quando comparados com uma

    referncia apropriada. Os indicadores que refletem essa medio so

    denominados biomarcadores e so classificados em trs tipos:

    a.Biomarcadores de exposio: substncias exgenas, ou seus metablitos,

    ou o produto de uma interao entre um agente xenobitico e alguma clula

    ou molcula-alvo que mensurado em um compartimento dentro do

    organismo. Biomarcador de exposio (ou dose) a substncia no

    organismo (p. ex., chumbo no sangue) ou um produto de sua metabolizao

    (p. ex., fenol urinrio, metablito do benzeno). Indica apenas que houve

    exposio substncia qumica e que esta foi absorvida.

    O biomarcador de exposio estima a dose interna da substncia pela

    sua concentrao em fluidos biolgicos como sangue, urina, ar exalado e

    outros; ou de seus produtos de biotransformao, possibilitando a

    quantificao da substncia quando sua toxicocintica conhecida. Refletem

    a distribuio da substncia no organismo.

    Dependendo da substncia qumica e do parmetro biolgicoanalisado, o termo dose interna pode abranger diferentes concepes. O

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    biomarcador de dose interna pode refletir a quantidade absorvida

    imediatamente antes da amostragem, como, por exemplo, a concentrao de

    um solvente no ar alveolar ou no sangue durante a jornada de trabalho de

    indivduos expostos; pode refletir a quantidade absorvida no dia anterior,

    como por exemplo, a concentrao do solvente no ar alveolar ou no sangue

    coletados 16 horas aps o fim da exposio; ou refletir a quantidade

    absorvida durante meses de exposio, quando a substncia tem um tempo

    de meia-vida longo, como, por exemplo, a concentrao de alguns metais no

    sangue.

    Por ltimo, como uma forma ideal, a dose interna pode representar a

    dose verdadeira (ou efetiva), ou seja, a quantidade da substncia ligada ao

    stio alvo ou biodisponvel para interagir. Estes indicadores podem ser viveis

    quando o rgo crtico for acessvel (por exemplo, a hemoglobina, no caso da

    exposio ao monxido de carbono) ou quando o agente txico interage com

    constituintes do sangue de forma similar aos constituintes do rgo crtico

    (por exemplo, alquilao da hemoglobina, refletindo a ligao com DNA notecido alvo). Neste caso, a dose interna pode ser o produto da interao entre

    um xenobitico e alguma molcula crtica ou clula, como a medio dos

    aductos covalentes formados com a substncia qumica e que podem ser

    mensurados num compartimento dentro do organismo. No entanto, a maioria

    dos indicadores biolgicos de dose interna reflete apenas a exposio, ou

    seja, a quantidade absorvida do toxicante no organismo.

    Alguns biomarcadores de dose interna, como benzeno no sangue, cido

    hiprico na urina, 2,5 hexanodiona na urina, refletem apenas a exposio

    recente ao benzeno, tolueno e n-hexano, respectivamente. Enquanto outros,

    como chumbo e mercrio, aps a quelao, refletem a exposio mdia dos

    ltimos meses, e o cdmio na urina reflete a exposio dos ltimos anos.

    b.Biomarcadores de efeito: alterao bioqumica, fisiolgica, comportamental

    ou outra dentro de um organismo que, dependendo da magnitude, pode serreconhecida como associada a um estabelecido ou possvel dficit da sade

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    ou doena. So aqueles que revelam alteraes no organismo resultantes da

    ao do agente qumico em qualquer tecido, rgo ou sistema. Biomarcador

    de efeito demonstra uma ao da substncia sobre o organismo. Por

    exemplo, ALA-U para o chumbo, que indica uma ao do Pb de inibio das

    enzimas da cadeia de formao do heme no organismo humano. Outro

    exemplo: dosagem da acetilcolinesterase para organofosforados. O aumento

    da acetilcolinesterase resultante da ao txica dos organofosforados de

    inibio da enzima acetilcolina.

    Os biomarcadores de efeito refletem a interao do agente qumico

    com os receptores biolgicos e so muito utilizados para confirmao de

    diagnstico clnico. Um biomarcador de efeito considerado ideal aquele

    identificado ainda em uma fase reversvel, quando no representa agravo

    sade.

    Alguns indicadores biolgicos de efeito podem ser especficos para um

    determinado xenobitico ou seu metablito. Eles possibilitam a avaliao daao de uma substncia qumica no rgo alvo (ou stio crtico) a partir da

    medida de uma alterao biolgica associada a esta ao. No entanto, esta

    medida pode ter como limitao a dificuldade de acesso a certos tecidos do

    organismo. De f