Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

14
ABRIL DE 2016. ANO VII. NÚMERO 27 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA Arrocha Jornal JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ HIDALGO NAVA Meio ambiente em alerta Lixo representa problema crônico Pequenos gestos geram mudanças Poluição afeta riachos urbanos Páginas 7, 8, 9 Página 14 Página 3

description

Jornal Laboratório do curso de comunicação - Jornalismo da UFMA de Imperatriz - Maranhão

Transcript of Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

Page 1: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

ABRIL DE 2016. ANO VII. NÚMERO 27 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

ArrochaJorn

al

JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ

HID

ALG

O N

AV

A

Meio ambiente em alerta

Lixo representa problema crônico

Pequenos gestos geram mudanças

Poluição afetariachos urbanos

Páginas 7, 8, 9Página 14Página 3

Page 2: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

2 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

EDITORIAL

Reportagem: Artemisa Lopes, Brigithy Silva, Elvira Santana, Emerson Falcão, Isabel Lima, Jhonatha Santos, Juliana de Sá, Laura Zacca, Lícia Rodrigues, Lindiane Sousa, Maisa Oliveira, Raphael Assis, Raquel Reis, Reginaldo Santos e Sol Lopes.

Fotos: Artemisa Lopes, Bárbara Fernandes, Caroline Duarte, Denise Falcão, Elvira Santana, Emerson Falcão, Helene Lavigne, Hidalgo Nava, Isabel Lima, Islene Lima, Jaysa Karla, Jhonatha Santos, Kelver Padilha, Laudecy Bilio, Lindiane Sousa, Lucas Andrade, Maísa Oliveira, Nilo Lima, Rafael Pestana, Ricardo Kadett, Solange Lopes e Valdecy Marques.

Diagramação: Beatriz Farias, Edeui de Oliveira, Erika Nogueira, Gustavo Araújo, Even Grazielly, Ilberty de Oliveira, Julie Anne dos Reis Paz, Junior Rodrigues, Lara Borralho, Leonardo Castro Araújo, Letícia Holanda, Luziel Costa Carvalho, Manoel Pereira Alencar, Mariana de Paula Medeiros de Sousa, Maron Ramos, Máxima Santos, Samanta Mesquita e Sanny Oliveira de Jesus.

Publicação laboratorial interdis ciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da Univer sidade.

Jornal Arrocha. Ano VII. Número 27. Março de 2016.

Professores: Leila Sousa (Laboratório de Jornalismo Impresso) e Yara Medeiros (Laboratório de Progra-mação Visual) e Miguel Angel Lomillos (Laboratório de Fotojornalismo).

Acesse o jornal em:www.imperatriznoticias.com.brFone: (99) 3221-7625 Email: [email protected]

Contatos:

Monitoras de Programação Visual: Edmara Silva e Natália Catherine.

Agradecimentos: ao professor Alexandre Maciel por motivar e dar dicas preciosas para a edição.

Reitor: Nair Portela | Diretor do Campus de Imperatriz - Gabriel Araújo Leite | Coordenador do Curso de Jornalismo - Antonio Carlos Claudino. ArrochaJo

rnal

Nunca se falou tanto sobre o meio ambiente. Termos como “sustentabilidade” e “aquecimento global” já começam a fazer parte de nossas conversas diárias.

Os olhos do mundo finalmente começam a se voltar para a questão ambiental. A COP-21, Conferência do Clima da ONU, ocorrida no final de 2015, mostra que as lideranças mundiais finalmente começam a levar à sério o combate ao aumen-to da temperatura do planeta. O documento ali assinado por repre-sentantes de 195 países é um grande avanço em relação às conferências passadas, que pouco iam além de promessas vazias.

Recentemente presenciamos o maior desastre natural da história de nosso país. O impacto total da tragédia de Mariana ainda está para ser revelado, porém, duas coisas estão claras: nossas autoridades são ineficazes em fiscalizar e grandes empresas negligenciam a segurança ambiental por não estarem dispos-tas a ceder um pouco dos bilhões que lucram de nossos recursos naturais.

Apesar de muito bem-vinda, há um problema nessa conscientização ambiental dos dias de hoje. Existe

a sensação de que as soluções para os problemas estão muito distantes, apenas nas mãos dos líderes mun-diais e das grandes corporações. Porém, muito pode ser feito por cada um de nós, a conscientização acompanhada de ação tem o poder de provocar grandes mudanças.

O objetivo desta edição do Arrocha é justamente o de mostrar a realidade do meio ambiente de nossa região e problemas que mui-tas vezes passam despercebidos pela maioria da população. No entanto, queremos mais que apenas cons-cientizar, queremos que ao ler cada uma de nossas reportagens, nossos leitores saibam que existem atitudes a serem tomadas, hábitos a serem adquiridos e autoridades a serem cobradas em nossa cidade para construção de um mundo melhor para todos nós e para as próximas gerações.

Arrocha: É uma expressão típica da região tocantina e também é um ritmo musical do Nordeste. Significa algo próximo ao popular desembucha. Mas lembra também “a rocha”, algo inabalável como o propósito ético desta publicação.

CHARGE POR ESAÚ MORAES

Page 3: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

3ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

“E era naquelas águas dos riachos Cacau e Bacuri, que, juntos, com meu

pai, um pescador, pescávamos com redes e tarrafas as mais variadas espécies de peixes que povoavam nossos rios. Ladina [atualmente em completa extinção], curimatá, branquinha, sardinha, piau, traíra, pacu, piranha, mandubé, mandi, barbado, jaú e surubim, já não pes-camos mais ali”, recita Domingos César em um de seus poemas do livro “Ecologicamente Pensando”, publicado com o intuito de alertar sobre os riscos que os riachos da cidade correm de desaparecerem.

Em 1983, os córregos não serviam apenas como um dos afluentes para o rio Tocantins, mas também como ambiente para o banho, para as donas de casa lava-rem roupas e também para a pesca de uma diversidade de espécies de peixes.Exemplos que manifestam o quanto a água era pura.

Um estudo sobre o Riacho do Meio, feito por Daniela Sousa, ex--acadêmica da Universidade Estadu-al do Maranhão (UEMA), revela que no ano de 1958, com a construção da BR-010 durante o governo de Juscelino Kubitschek, a população aumentou e precisou construir casas nas margens dos riachos e se adaptar àquele ambiente para poder ficar mais perto do centro urbano.

Segundo o ambientalista e diretor de Relações Públicas do Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMMAM), Domingos César, a construção irregular de casas às margens dos córregos e o despejo de detritos são os maiores contribuintes para o desequilíbrio ambiental dessas regiões e ainda afirma que se assim continuar, o rio não poderá mais suprir a demanda da cidade. “Daqui a 50 anos, o rio Tocantins poderá se tornar um grande deserto”, alerta.

Dona Maria José Mendes de Sousa é moradora da Rua Mara-nhão às margens do riacho Bacuri.

Riachos sofrem com poluição e descaso

DEGRADAÇÃO DAS ÁGUAS Pequenos riachos são as veias que alimentam um rio maior, em Imperatriz a poluição sistemática de esgotos e lixo despejados nos córregos urbanos geram efeito em cadeia que prejudica o rio Tocantins

Falta de cuidado com a conservação de córregos urbanos como o riacho Capivara, completamente poluído, é comum. A mesma situação se repete em outros três córregos que cortam a cidade de Imperatriz: Bacuri, Cacau e Riacho do Meio

Mau cheiro, águas degradadas e lixo são recorrentes no riacho Bacuri. Local já foi utilizado para pesca e lazer e atualmente está tomado por poluição

Casada e mãe de três filhos, a dona de casa revela que para pagar um aluguel menor, acabou trocando a Vila Lobão pela atual residência no bairro Bacuri, mas afirma que devi-do às enchentes só tem acumulado prejuízos. O último do qual lembra foi durante o período chuvoso que ocorreu no mês de fevereiro de 2014 na cidade de Imperatriz, quando as casas de sua família e de seus vizinhos ficaram alagadas. As inten-sas chuvas levaram não apenas os móveis de dona Maria, mas também seus sonhos. “Preciso enfrentar essa situação porque não tenho para onde ir. Não adianta eu contar essas coisas para você porque já me acos-tumei. Enquanto não estiver no que é meu, minha vida vai ser assim”.

Os cinco riachos, Bacuri, Cacau, Santa Tereza, Capivara e Riacho do Meio, afluentes do Rio Tocantins, sofrem com a progressiva devasta-ção dos recursos hídricos, principal causa da realidade vivida pelos cidadãos que residem às margens dos riachos.

Para Domingos, os riachos servem como “veias” que alimen-tam o rio, pois a água da chuva é levada em direção a ele assim como o esgoto doméstico e industrial que é derramado dentro das águas. A opinião do ambientalista é com-partilhada com a do especialista e professor de Recursos Hídricos da Universidade Estadual do Mara-nhão, (UEMA), Marcelo Silva, que realizou estudos sobre os impactos ambientais no rio Tocantins com base em análises físico-químicas dos organismos produzidos no leito dos rios.

De acordo com os resultados que obteve, o assoreamento dos riachos é causado pela quantidade de lixo presente em seu interior. Ele é composto por bactérias e outros organismos que acabam contaminando o lençol freático. “O rio Tocantins tem uma grande quantidade de carga de água, por isso dilui rapidamente os sedimen-tos tóxicos que recebe dos riachos, Bacuri, Capivara e Cacau, por exem-

plo. Ótimo, mas por quanto tempo ele vai aguentar fazer isso? Impe-ratriz não trata seus esgotos da maneira adequada e talvez seja um problema não para daqui a 10 anos, mas para 50 anos. Isso porque as cidades vão crescer tanto, que a carga de resíduos irá aumentar e o Tocantins não vai conseguir suprir essa demanda.Outro grande fator que contribui para piorar o cenário é o desmatamento das matas cilia-res às margens dos córregos. Ainda segundo Marcelo, os riachos pos-suem uma capacidade de autorege-neração, se o processo de poluição for parado a tempo, ele próprio tem a capacidade de se recuperar

Solução - “Todo corpo hídrico tem um poder de autodepuração. Po-luição nada mais é do que exces-so de nutriente. Se aquela carga de esgoto for anulada, mesmo que não se faça mais nada, só tire o esgoto dali, vai levar um bom tempo, mas ele vai se recuperar.”, explica o professor Marcelo Silva. Além de um processo de arbori-zação nas margens dos riachos, a cultivação das áreas das nas-centes iria acelerar e muito na recuperação.

Imperatriz conta hoje, com a entidade Anjos do Rio, criada em 2000. Bosco Brito, presidente da ONG é amante do rio Tocantins

e defensor do meio ambiente. Ele conta que, cansado do descaso das autoridades ele mesmo encabeçou a iniciativa de limpeza e preser-vação das águas. A ONG trabalha com a conscientização e a limpeza do leito do rio e a preservação das nascentes dos riachos de Impe-ratriz. Bosco conta com algumas instituições para apoiar o projeto e faz um convite a todos aqueles que sentirem o desejo de lutar pela causa se juntar a equipe de volun-tários do projeto. Para conhecer mais sobre o projeto Anjos do Rio acesse: www.facebook.com/proje-toanjosdorio ou procure por João Bosco Brito.

MAISA OLIVEIRA

RICARDO KADETT

MAISA OLIVEIRA

Page 4: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

4 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

Arara azul, uma das espécies da fauna brasileira com maior risco de extinção

dá nome ao Horto Florestal de Imperatriz. A reserva de 30 hectares de floresta fica localizada a 10 km da cidade que é conhecida como “Portal da Amazônia”. O Horto Arara Azul foi criado como forma de compensação pelos impactos ambientais da construção da Ferrovia Norte-Sul em 1997 e abandonado há mais de cinco anos pela Valec, empresa pública veiculada ao Ministério dos Transportes responsável pela construção e conservação da ferrovia e manutenção do horto.

De acordo com dados da secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Imperatriz (Sepluma), o projeto inicial do horto oferecia área para readaptação de animais silvestres com o auxílio do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de cultivos de mudas de árvores nativas e espaço para visitação.

“Ambiente ecologicamente sustentável é direito de todos”, afirma a ambientalista Lohana Medeiros, conforme está na Constituição Federal de 1988. Para ela, o local é ideal para estabelecer sintonia entre o crescimento urbano da região e a preocupação com a preservação da natureza. Por ser próximo da área urbana de Imperatriz, o local tem que fazer

parte do cotidiano das pessoas. “O horto tem que voltar a ser realidade, antes que o crescimento imobiliário invada seu território”, relata a ambientalista já preocupada com o aumento de casas nas proximidades do local.

Animais sem abrigo – O Arara Azul oferecia estrutura para triagem e readaptação de animais da fauna local que eram encontrados em cativeiros como: aves, macacos,

jabutis, jaguatiricas e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (Ibama) os libertava em reservas do estado do Maranhão. “O horto é importante para melhor atuação do instituto aqui em Imperatriz”, relata a representante do Ibama na região Tocantina, Rosa Arruda.

Atualmente o instituto não acolhe os animais nem em curto prazo. O abrigo que existia foi interditado pelo Ministério

Público porque era dentro da cidade e próximo a muitas residências.O Ibama envia para a sede em São Luís, todos os animais resgatados de cativeiros que precisam ser acompanhados por profissionais e readaptados a vida silvestre.

Futuro – Atualmente existe um diálogo entre a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e o munícipio de Imperatriz para

Horto Arara Azul sofre risco de extinçãofazer do local um parque florestal, uma área verde acessível a todos. Para concretizar a iniciativa é necessário primeiramente a doação do terreno para a prefeitura ou universidade pois, as terras são de responsabilidade da Valec. “O maior interesse é que as pessoas, principalmente as crianças tenham mais contato com o verde e despertem o interesse pela conservação e proteção da natureza”, diz o professor de Agronomia da UEMA e um dos idealizadores do projeto, Paulo Henrique Catunda. A área tem pouco uso pela população, fazendo falta para as aulas práticas dos cursos de Engenharia Florestal, Agronomia, Biologia, Química e Veterinária do polo imperatrizense da UEMA, e também para as aulas de educação ambiental de crianças e jovens. Os 30 hectares poderiam ser utilizados para vivenciar o contato com a natureza.

A intenção da universidade em conjunto com os órgãos públicos é que o Horto Florestal Arara Azul, quando for reativado seja referência no estado do Maranhão no que diz respeito a desenvolvimento, sustentabilidade e lazer.

Em resposta ao caso, a Valec informou que está aguardando a chancela do Ibama para transferência da área para outra entidade e que irá informar a sociedade quando ocorrer. Sobre o horto estar desativado a empresa não deu mais informações.

JULIANA DE SÁ

Projeto de compensação ambiental, o Horto Florestal de Imperatriz, é desconhecido por parte da população. Gera prejuízos, sofre com o abandono e o impasse de responsabilidades na gestão

Às margens da Ferrovia Norte-Sul, atualmente o horto está desativado. O local possui vigilância 24 horas e o acesso não é autorizado

RAFAEL PESTANA

A inexistência de árvores é ocasionada em muito pelo crescimento vertical e

expansão urbana que Imperatriz vem sofrendo nos últimos anos. Isso tem feito com que a pouca arborização existente, ainda seja suprimida em detrimento das grandes obras de infraestrutura e modernização que acontecem na cidade.

Para sanar o problema, o poder executivo local, enviou à câmara municipal, em 2003, a lei número 1.068/2003, aprovada por unanimidade pelos vereadores. O documento tem por objetivo principal, disciplinar a proteção e ampliação da arborização na zona urbana do município de Imperatriz.

Para o biólogo Dailson Coelho Abreu, o plano de arborização para Imperatriz, esbarra numa política ambiental ineficiente. “A primeira questão a ser discutida, é o planejamento urbano da cidade. Em Imperatriz, as árvores são tidas como obstáculos. Basta você ter como exemplo a rede elétrica. Aqui é muito comum a companhia energética cortar árvores. Por que na sua interpretação, atrapalham a distribuição de energia elétrica”. Afirma o biólogo.

Por outro lado, a Companhia Energética do Maranhão (CEMAR), afirma que, as supressões ocorrem somente quando há risco de interrupção no fornecimento de energia elétrica. A legislação ambiental vigente permite as podas e supressão para garantir a segurança do sistema elétrico, como dispõe o decreto nº 35.851, de 16 de julho de 1954: § 2, º, que institui a faixa da servidão e segurança do sistema, como informa a Assessoria jurídica e de comunicação da Cemar.

Com o objetivo de cuidar da arborização nas vias e praças públicas da cidade, foi criado um departamento exclusivo, “o Verde Urbano”, ligado à secretaria Municipal do Planejamento Urbano

e Meio Ambiente (SEPLUMA). Para a coordenadora do departamento, Gilene Oliveira Araújo, as ações de arborização demandam parcerias. “Não adianta plantar árvores numa cidade como Imperatriz, sem que a população se sinta tão responsável

em cuidar da árvore, quanto o poder público”, destaca Oliveira.

Um bom exemplo de preservação de árvores é o que pode ser observado na Rua 15 de novembro, no centro de Imperatriz. Árvores que resistem ao desenvolvimento. Um verdadeiro contraste positivo na cidade. Para a dona de casa, Maria do Socorro, é um privilégio residir em meio à natureza. “ Me sinto feliz em ter árvores na porta da minha. Faz uma sombra gostosa ao longo do dia. Sem falar que corre um ventinho que alivia bastante o calor”, relata a moradora.

Já para o microempresário Antônio Carlos, a falta de árvores

Arborização urbana: o verde que Imperatriz necessitaEMERSON FALCÃO

no setor comercial de Imperatriz é o reflexo da falta de política pública voltada para esta finalidade. “Como poderemos plantar árvores em calçadas tão estreitas? Inicialmente deveria haver a padronização das calçadas e ruas para só depois pensar na arborização das vias”, reclama o microempresário.

Outro grande problema que se aproxima, é a retirada das árvores localizadas na BR 010, em todo perímetro urbano de Imperatriz. Tudo por conta da obra na travessia urbana da cidade. A obra visa melhorar a trafegabilidade em toda extensão da rodovia e construção de rotatória, viadutos

A população deve ser responsável em cuidar das

árvores tanto quanto o poder público

que facilitem a interligação dos bairros de Imperatriz.

A remoção dessas árvores é prevista nos estudos de impacto ambiental, muito embora seja contestado pelo ministério público e pela sociedade civil organizada.

Dentre as espécies mais comuns na extensão da rodovia, estão as mangueiras, amendoeiras, ingazeiras, ipês, barrigudas e até os recém-plantados oiti e nins.

O caso merece uma atenção especial dos órgãos competentes, a fim de encontrar uma solução que cause o menor impacto ambiental possível a arborização da BR-010.

Ainda são poucas as vias e espaços públicos na cidade de Imperatriz que dispõem de arborização, com isso a cidade se torna cada vez mais quente

PLANTIO DE ÁRVORES

EMERSON FALCÃO

Page 5: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

5ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

SAÚDE

Queimadas: prática cultural

Em outubro de 2015, o Maranhão foi recordista de focos de incêndio no país. Os moradores da região sul do estado conviveram por dois meses com fumaça densa, bastante prejudicial à saúde

LINDIANE SOUSA

O tempo aparentemente nublado, nos meses de outubro e novembro,

não era sinal de chuva e, sim, um alerta visível das mudanças climáticas, adicionada ao incêndio que tomou uma área de 220 mil hectares da reserva indígena de Arariboia, que abriga o povo Guajajara e um grupo de índigenas isolados Awá-Guajá, no município de Arame, a noroeste do estado do Maranhão.

Segundo o professor Luiz Carlos, doutor em Geografia da Universidade Estadual do Maranhão, a apresentação de fumaça no mês de outubro e novembro estava associada às queimadas, não só em Arariboia, mas também na aldeia Krikati e no povoado de Sítio Novo, em virtude de incêndios de outras regiões, até mesmo no Pará, no Tocantins e noroeste da região.

Em outubro foram registrado 5.507 focos. Neste mês, o Estado foi o primeiro do ranking do INEP (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais). Em outubro de 2014 foram 5.812 incêndios em todo território maranhense. Dados do INEP registraram, em 2015, 20,8 mil focos de queimadas, taxa acima da média histórica de 19,9 mil.

Cleide Cardoso, diretora de departamento e licenciamento da Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente (Sepluma) e professora de Biologia, explica

que “a poluição atmosférica tem a proporção de dano muito grande”, pois se dissipa em toda a atmosfera.

"Embora não esteja acontecendo uma queimada aqui em Imperatriz, no entorno tem muita chácara, roça. Inclusive o município de Açailândia, que já tem uma concentração um pouco maior de siderúrgicas, tem como resultado a combustão e a emissão de poluentes, que não ficam concentrados só naquela região. A poluição pode se dissipar por toda atmosfera e de acordo com a corrente de vento, ela vai atingir outras regiões que ficam próximas".

"A população tem a cultura antiga de usar a queimada no preparo da terra, para roça e pastagem, a combustão certamente é um dos fatores que agravam a qualidade do ar. Existe a necessidade de conscientização desses agricultores, sendo

Queimada praticada sem mensurar as consequências, deixa população vulnerável a adquirir problemas respiratórios muitas vezes graves

necessário realizar mais campanhas e projetos", informa Cleide Cardoso.

O artigo 41 da Lei nº 9.605 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, prevê pena de reclusão de dois a quatro anos e multa para quem provoca incêndio em mata ou floresta. O parágrafo único do artigo prevê que, se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, por acarretar o extermínio de animais da fauna silvestre.

“A fiscalização em Imperatriz é direcionada à própria indústria ou fábrica que tenha uma atividade proveniente de dispersão de gases poluentes. Nós averiguamos para manter um controle de emissão, como também prevenir possíveis impactos”, explica Cleide Cardoso.

Doenças no ar - "Outro período que é preciso ter cuidado com a poluição atmosférica é nos meses de julho, agosto, setembro e outubro, quando a umidade é muito baixa na região", explica o professor Luiz Carlos.

O tempo seco e baixa umidade do ar fica mais propício a queimadas como também é extremamente danoso para saúde provocando mais calor.

"Em relação à saúde, aumentam os problemas respiratórios, atingindo principalmente crianças, idosos e alérgicos", relata o professor Luiz Carlos.

Sobre a saúde da população em períodos de muito calor e baixa umidade do ar, a clínica geral Hebe Gomes, do Hospital Infantil de Imperatriz, alerta para os danos que os poluentes causam nas vias respiratórias da população."Os poluentes aéreos afetam o sistema respiratório de várias maneiras. O principal é a irritabilidade que eles causam. Na respiração, você tem uma limpeza nasal. Como a quantidade de poluentes é muito grande, acaba que afeta o sistema respiratório e começa a causar uma irritabilidade Tem crianças mais suscetíveis, como é o caso dos asmáticos e prematuros."

O senhor Sudário Pereira, 67 anos, possui renite alérgica e complementa o alerta feito pela médica. “Tem noites que não consigo dormir, ela se intensifica começo a respirar constantemente, acredito que a crise adicionada a média de poluição do ar é um dos fatores que provocam mais irritabilidade”.

De acordo com Hebe Gomes, a mudança de um clima para outro já agrava o quadro do paciente com maior sensibilidade nas vias aéreas. No inverno o problema acontece em decorrência das pessoas se aglomerarem mais em ambientes fechados. Já no verão são consequências das elevadas queimadas que ocorrem na região.

As queimadas na região de Imperatriz e em seu entorno acontecem principalmente no segundo semestre a partir de agosto. É mais comum a concentração ocorrer em agosto, setembro e outubro em virtude do fenômeno El Niño. Em 2015,

LINDIANE SOUSA

Hábito de queimar lixo e pastagens colabora para intensificar a poluição do ar. Crianças, idosos e pessoas alérgicas são os mais atingidos

LINDIANE SOUSA

houve um veraneio maior. Dessa forma, o período se alargou. A vegetação ficou mais tempo seca. Com isso, os incêndios se estenderam, inclusive até o começo de dezembro.

Queimadas, roças e pastagem - A intensificação das queimadas ocorre ainda por prática cultural, o professor Luiz Carlos explica como funciona o manejo tradicional chamada de roça do toco, pelos agricultores familiares.

"Eles colocam fogo na broca e as cinzas servem de fertilizante natural. Eles plantam, e geralmente a colheita é relativamente boa. Em virtude disso, porém, no ano seguinte, se for usar o mesmo espaço, a produção cai bastante. Aí tem que ir pra outro lugar”, conta.

Por isso o manejo tradicional traz um dano ambiental muito grande, por que cada ano áreas são ocupadas e a fertilidade dos solos exauridas. O período do ano em que as terras são deixadas sem semeadura para repousarem (pousio), tem duração de 15 a 20 anos até o porte de floresta.

“A população tem a cultura antiga de usar a queimada no preparo da terra. Existe a necessidade de conscientizaçãodesses agricultorese a realização de campanhas”

“A poluição atmosférica tem proporção de dano muito grande”

Page 6: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

6 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

SANEAMENTOGrande parte da população faz uso de esgotos clandestinos que poluem riachos e lençóis freáticos, ocasionando problemas de saúde. Em Imperatriz, a rede beneficia apenas 25% da população

“Diariamente quando estou pescando, observo os esgotos caírem em

diversos pontos do rio, vindo de ribeirinhos e dos edifícios. Observo que as pessoas não se preocupam com a poluição aquática, acredito que se esta situação continuar o rio logo vai acabar”. É o que relata, com tristeza, o senhor João Paulo da Silva Sousa, barqueiro e pesca-dor há 25 anos no rio Tocantins.

João de Sousa Reis, ex-traba-lhador da antiga olaria da cidade, relembra os tempos em que os rios eram limpos.“Como eram belas as águas do riacho Bacuri, trans-parentes, nas quais era possível banhar, lavar roupa, e até mesmo pescar. Bons tempos que hoje ficam somente na memória. Tive a oportunidade de acompanhar esse

período do Bacuri durante os anos de 1975 a 1990”. Ele observou no decorrer dos anos que a situação dos riachos foi modificada devido a ação humana, trazendo poluição por meio de esgotos despejados nas águas.

A poluição do riacho Bacuri, por exemplo, traz consequências sérias para o meio ambiente, ocasionadas pelo desmatamento e ocupação das margens pelas populações ribei-rinhas que também lançam lixo e outros tipos de materiais contami-nantes nas águas. De acordo com o professor doutor Robert Guimarães do IFMA (Instituto Federal do Ma-ranhão), o riacho Bacuri se encontra contaminado e sem condições para o uso individual e coletivo, devido ao lançamento de esgoto doméstico in natura em toda a extensão urbana. O fato é agravado por indústrias locais que lançam o esgoto resultante dos

processos produtivos diretamen-te nas águas dos rios e riachos de Imperatriz.

De acordo com os dados levan-tados por Guimarães, apenas vinte por cento da população possui tratamento de esgoto. “A cidade de Imperatriz possui uma péssima cobertura na rede de esgotos, sen-do que boa parte destes esgotos foi feito pela própria população, sem acompanhamento profissional, in-terligando o seu esgoto com a rede da Caema”, diz o professor.

Através de propostas educativas e trabalhos de conscientização da população sobre o saneamento bá-sico adequado, Guimarães acredita que a situação poderia ser ame-nizada. Segundo o professor, não existe preocupação das autoridades locais em relação ao esgoto, para que possam trabalhar em parceria com a Caema, fato que contribui

para a falta de esgotos com a estru-tura adequada na cidade. “O esgoto é um dos maiores causadores de doenças de veiculação hídrica no Brasil. O esgoto capitado antes de chegar na estação de tratamento, não possui uma boa cobertura, apresen-tando sérios problemas de manuten-ção”. Como boa parte da população de Imperatriz construiu seu esgoto, é possível notar a contaminação dos lençóis freáticos que causam doen-ças pela ingestão de água contami-nada”, alerta Robert com base em pesquisas realizadas no município.

Nos bairros de Imperatriz, a reclamação da população pela falta de saneamento e a existência de esgotos irregulares é constan-te. O mercadinho, por exemplo, é o maior e um dos mais antigos centros comerciais da cidade e enfrenta sérias dificuldades rela-cionadas ao saneamento básico. No local é possível encontrar produtos alimentícios ao lado de esgotos irregulares, ocasionando uma situação de insalubridade pública. “Sou vendedora de verduras e o esgoto passa na calçada, perto das mercadorias, porém estamos acos-tumados com a situação não temos prejuízos, pois clientes e vendedo-res acostumaram com a situação de insalubridade pública”, é o que comenta a senhora Maria Luiza Gomes Marinho, que trabalha no Mercadinho há 17 anos.

A Caema há quatro décadas é a empresa responsável pela rede de tratamento de água e esgoto na cida-de de Imperatriz. De acordo com o gerente regional, Denílson Freitas, a

empresa atende 25% do esgoto de Im-peratriz. Os bairros beneficiados pelo serviço são: Centro, Nova Imperatriz, Avenida Industrial, Juçara, Itamar Guará, Parque Amazonas, Recanto Universitário, parte do bairro São José e Santa Inês.

Em relação aos bairros não bene-ficiados, o gerente da Caema soli-cita que os moradores realizem as instalações de fossas sépticas, pois a empresa não tem como cobrir toda a cidade. “Na parte da cidade que não tem rede de esgoto, a população tem que fazer suas fossas sépticas, para poder coletar esse esgoto. In-felizmente, não temos como cobrir toda a cidade, isso é um problema que já tem quatro décadas. Não se resolve em um ano de gestão, o que não foi feito em quarenta anos. Isso é um problema que está sendo resolvido com o plano piloto para os bairros onde os trabalhos estão sendo feitos”, explica Denílson.

Questão de educação - Outro problema requecorrente em Imperatriz é o entupimento dos bueiros e o alaga-mento das vias no período chuvoso. O gerente da Caema alerta que a população precisa se conscientizar e não jogar lixo nas vias. “Água de chuva e outros líquidos não entopem bueiros, o que ocasiona essa situação é a falta de educação da população que na maioria das vezes não orga-niza o seu lixo e o mesmo entope os bueiros. Vem um representante da Caema, soluciona o problema depois vem outro morador, e joga lixo no local inadequado e entope o bueiro”, acredita Freitas.

“Quando eles forem querer cuidar disso aqui, vai ser tarde demais”, lamenta

o pescador conhecido como “Seu Navon” ao mostrar os pontos em que os esgotos da cidade invadem as águas do rio Tocantins.

Devido sua magnitude, o rio Tocantins resiste ao constante de-pósito de rejeitos que tem recebido no decorrer dos anos e ainda não teve o mesmo destino dos principais riachos que cortam a cidade como Bacuri, Capivara e Cacau, nos quais a atividade pesqueira já não é mais viável nos dias de hoje devido à poluição.

Muitos pescadores reclamam que hoje é mais difícil encontrar peixes no rio do que era no passa-do. No entanto, a poluição não é a única ameaça à pesca na região. Um dos grandes vilões é a cons-

trução de hidrelétricas ao longo do rio.

“O projeto que existe hoje para o rio Tocantins seria de dez centrais hidrelétricas e os lagos dessas cen-trais se interligariam. Nós passaría-mos a não mais ter o rio Tocantins e sim os lagos Tocantins.”, alerta o biólogo e professor da UEMA, Mar-celo Silva. Ele também explica que são necessários mecanismos que permitam a passagem dos peixes de piracema por essas hidrelétricas e que a maioria não oferece tais re-cursos. O uso de escadas está sendo testado, porém a eficiência ainda não foi comprovada.

Na tentativa de solucionar o problema, existe o plano de captu-rar os peixes para que eles possam se reproduzir em cativeiro e depois retornarem ao rio. De acordo com o biólogo, isso apenas amenizaria a situação, porém não seria a saída ideal. “Algumas espécies, que seriam

nativas [da região], gradualmente a sua população vai diminuindo até desaparecer e outras espécies vão se estabelecer e a gente não sabe como vai ficar a estrutura da comunidade quando isso acontecer. Os princi-pais peixes pescados e consumidos aqui na região são de piracema, peixes que necessitam fazer um lon-go percurso para poder estimular a maturação de seus ovos e assim reproduzir”, explica o professor.

Respeitar o período da piracema é de extrema importância para a preservação dos peixes. Além das dificuldades impostas pela presença de hidrelétricas, as espécies também enfrentam a inconsequência dos pescadores que infringem a lei que proíbe a pesca e comercialização desses peixes durante seu período de reprodução aqui na região.

Apesar de toda a orientação dada pela Marinha sobre a estação da piracema e do salário mínimo que recebem para não pescarem durante o período de reprodução dos peixes, muitos pescadores ignoram a legislação e mantém nor-

População convive com rede irregular de esgoto

Nos bairros de Imperatriz é comum encontrar saneamento inadequado que é responsável inclusive por doenças veiculadas pela água

RAQUEL REIS

HELENE LAVIGNE

Esgoto a céu aberto divide espaço com o comércio de alimentos no tradicional MercadinhoJA

YSA

KA

RLA

malmente suas atividades. “Basta subir um pouco o rio e você vê várias redes de arrasto. Rede de ar-rasto pega tudo quanto é peixe que está subindo para a piracema, para se reproduzir”, explica o pescador João Henrique. A falta de fiscaliza-ção agrava ainda mais a situação. “Três anos que pesco aqui no rio e só vi uma vez o Ibama fiscalizan-do”, conta o pescador.

A alta demanda e a escassez de recursos e pessoal são as maiores dificuldades que o Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de Imperatriz enfrenta para combater as infrações dos pescadores de for-ma mais efetiva. “Espero que haja uma reestruturação e um concurso o mais rápido possível”, desabafa a diretora executiva do Ibama de Imperatriz, Rosa Arruda.

A piracema na região tem início em 1º de novembro e se estende até o último dia de fevereiro. Atualmente, o Ibama realiza apenas dois períodos de fiscalização, cerca de dez dias apenas, o que passa longe do ideal.

Para amenizar a situação, o órgão fecha parcerias com outras entidades como Marinha, Ibama dos estados vizinhos e a Polícia Estadual do Meio Ambiente de Tocantins, Naturatins.

Punição - De acordo com a legis-lação vigente, as multas aplicá-veis aos infratores começam no valor de R$ 700 e podem chegar até a quantia de R$ 100 mil, além de R$ 20 por quilo de peixe apreendido.“Levamos em conside-ração a situação social do infrator na hora de estipular o valor da multa”, comenta Arruda.

A possibilidade de pagar altas multas e até perder a licença para pescar parecem não intimidar os pes-cadores infratores. Basta fazer uma visita à tradicional “feirinha” para perceber isso. Peixes em período de reprodução como o mapará, avoador e piau atualmente são vendidos por cerca de dez reais o quilo. Se não houver progresso na conscientização dos pescadores e melhor estrutura para os órgãos fiscalizadores, o preço pela falta de peixes será incalculável.

RAPHAEL ASSIS

Pesca segue ameaçada

Page 7: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

7Jorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016 Arrocha

ELVIRA SANTANA Lei deve garantir gestão responsável de resíduos ELVIRA SANTANA

Todo dia ela faz tudo sempre igual. Acorda cedinho, prepa-ra uma farta mesa de café da

manhã e vai cuidar da higiene da casa. É assim a rotina da funcioná-ria pública aposentada Altiva Diniz Silva, 65 anos. Segundo a aposentada, a limpeza do lar é uma prioridade, mas confessa nunca ter pensado no destino final do lixo que deposita na lixeira em frente a sua residência. “Sempre tive a ideia de que a limpeza é fundamental para nos mantermos saudáveis, mas nunca parei para pensar onde vai parar os sacos que o caminhão recolhe na minha porta”, afirma.

De acordo com dados do estudo “Consumo Sustentável”, realizado em 2014 pela ONG WWF-Brasil, nos últimos dez anos o país sofreu um aumento populacional de 6% sendo que no mesmo período, o volume de lixo apresentou um cres-cimento de 29%. Mais que o dobro da população. O problema não está apenas no aumento da produção de lixo, mas no descarte inadequado. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelp), de 78,6 milhões de toneladas produzidas no país em 2014, 29,6% foram en-viados para locais inadequados.

O IBGE apontou que em 2013, 66,5% dos municípios brasileiros ainda não possuíam um Plano de Re-síduos Sólidos. O advogado especia-lizado em Direito Ambiental que foi delegado na Comissão Maranhense de Meio Ambiente na IV Conferên-cia Nacional de Meio Ambiente em 2013, com o tema “Resíduos Sóli-dos” em Brasília, Alberlan Raposo, informa que: “o plano está previsto na lei de n° 12.305/10 que institui a

Política Nacional de Resíduos Sólidos e impõe obrigações aos empresários, ao go-verno e aos cidadãos no gerenciamento dos resíduos produzidos em sua cidade. Mesmo com a prorrogação e a moro-sidade do poder público, a Lei dos Resíduos Sólidos é uma vitória significativa a favor do meio ambiente”. É o que esclarece Raposo, que afirma ainda acreditar que a lei vai contribuir para formação de uma sociedade mais consciente e com maior qualidade de vida.

De acordo com o advogado, o Senado prorrogou o prazo para o cumprimento da lei para os anos de 2018 a 2021. “Contando de agora, temos cinco anos de pra-zo. Parece muito tempo, mas isso não impede que os municípios criem seus Planos de Gerencia-mento, pois é somente através do plano que as cidades irão receber os recursos do Governo Federal, financiamentos e incentivos para serem aplicados na área de limpe-za urbana e eliminação dos lixões que é o principal objetivo da lei”.

No Maranhão, 97,7% das ci-dades não tem aterro sanitário. O município de Imperatriz se encontra dentro da lamentável estatística do estado. O dado é do relatório do Ministério Público Maranhense (MP-MA), por meio do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente, Urbanismo Patri-mônio Cultural (Caou-MA). Todo o lixo de 214 cidades maranhenses é descartado de maneira descon-trolada.

As acadêmicas do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão - Campus de Imperatriz, Weslaine de Oliveira Pereira e Rai-

mara Guimarães da Silva, estão desenvolvendo um projeto

de pesquisa através do Programa de Educa-

ção Tutorial (PET), com a temática “A Aplicação da Política de Resí-duos Sólidos em Imperatriz”.

De acordo com as estudan-tes, o objetivo do projeto é

analisar as ações realizadas no

município para a eliminação do lixão e

o incentivo a coleta sele-tiva, seguindo as diretrizes

estabelecidas na lei 12.305/10,

que institui a Política Nacio-nal de Resíduos Sólidos.

Weslane Oliveira relata que o ob-jetivo do projeto era chamar a aten-ção para conscientização do público acadêmico e da comunidade em geral sobre a aplicabilidade da lei de resíduos sólidos e também “pela ne-cessidade emergencial de um Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Imperatriz. A prefeitura tem agido apenas com ações pontuais, todas as empresas contratadas até agora não conseguiram realizar o plano. E os recursos só vão ser repassados se a cidade tiver o documento feito e aprovado”, completa a estudante.

A pesquisa desenvolvida no PET aponta que as iniciativas ainda são pouco significativas, apenas ações educativas. “A Secretaria de Meio Ambiente intitula de projeto piloto a realização de seminários, palestras em escolas e o incen-tivo à coleta com a implantação de lixeiras de coleta seletiva nos órgãos públicos e nos shoppings da cidade, diz Guimarães.

A ação mais concreta que o pro-jeto encontrou segundo a pesquisa das estudantes da UFMA, é um incentivo à única associação de catadores de material reciclável de Imperatriz, a Ascamaris, disponibi-lizando um caminhão uma vez na semana, para recolher os materiais armazenados pelos associados em vários pontos da cidade para levar à sede da associação.

A bióloga e coordenadora de Licenciamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Imperatriz, Janaires Cazais, res-pondendo pelo órgão, afirma que o Plano de Resíduos Sólidos está sendo reformulado por uma equipe especializada do núcleo de projetos do município e foi repro-

vado por não atender aos requisi-tos previstos na Lei dos Resíduos Sólidos. Segundo a bióloga, um dos entraves para a realização do Plano é definir o local que vai abrigar o aterro sanitário, pois o terreno tem que atender a uma série de normas para que seja regulamentado.

A estudante e pesquisadora do PET, Raimara Guimarães, atri-bui a falta do plano de resíduos sólidos no município ao descaso com temas relacionados ao meio ambiente. “O que percebemos é que falta interesse mesmo por parte do poder público. Infeliz-mente, os assuntos ligados ao meio ambiente ainda não têm tanta importância quanto à saúde e educação, sendo que ambos po-dem estar ligados diretamente.” No entanto, a estudante ressalta

Falta do Plano de Resíduos Sólidos do município adia o fim do lixão em Imperatriz, a principal alegação da Sepluma é a inexistência de um terreno adequado para abrigar o aterro que é obrigatório por lei

Dos 78,6 milhões de toneladas de lixo produzidas no país em 2014, 29,6% foram para locais inadequados

PLANEJAMENTO

ELV

IRA

SA

NT

AN

A

que a iniciativa do projeto reali-zado pelo PET, pode ter um papel social muito importante, cons-cientizando a todos e chamando a atenção das autoridades compe-tentes.

“Nunca parei para pensar onde vai parar os sacos que o caminhão recolhe na minha porta”

1 - Opte por comprar alimentos produzidos de forma orgânica em sua região.

2 - Evite adquirir legumes, frios, carnes e embutidos em bandeja de isopor.

3 - Separe os resíduos secos dos orgânicos para não contaminar embala-gens que podem ser recicladas ou reaproveitadas.

4 - Faça uma composteira para descartar os resíduos orgânicos e produzir adubo.

5 - Monte uma horta vertical com vasos de legumes e temperos na sua janela ou jardim.

FAÇA SUA PARTE

Page 8: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

8 Jorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016Arrocha

“No local tem uma fumaça constante, um mau chei-ro insuportável. Urubus

e moscas por todos os lados.” Esta é a situação do lixão de Imperatriz relatada por Mariano Silva, 51 anos, que mora e trabalha no local há 10 anos.

No Maranhão, 97,7% das cidades não tem aterro sanitário, o mu-nicípio de Imperatriz se encontra dentro da estatística. O dado é do relatório do Ministério Público Maranhense (MP – MA), por meio do Centro de Apoio Operacional de Meio Ambiente, Urbanismo e Patri-mônio Cultural (CAOU- MA).

“O lixão não está dentro das normas municipais, estaduais ou nacionais, muito menos das nor-mas globais, tanto na estrutura, quanto na localização. A estrutura

está ruim, pois, é um local de fácil acesso tanto para pessoas quanto para animais. Não tem muros ou cercas. A cidade está crescendo e as pessoas estão tendo mais facilidade de adentrar o local”, afirma o pro-fessor doutor do curso de Biologia da UFMA, Marcelo Soares.

A Lei de Resíduos Sólidos, 12.305/2010, institui a extinção dos lixões no Brasil. O documento cita os danos que esses locais causam ao meio ambiente, tais como: poluição do ar, poluição do solo e poluição das águas. De início, os estados brasi-leiros teriam até o ano de 2014 para criar aterros sanitários e depositar os resíduos nesses locais, de maneira correta de acordo com cada tipo de lixo. No entanto, a lei foi prorrogada e atualmente o prazo para a criação de locais apropriados para o depósito do lixo urbano é inicialmente o ano de 2018.

De acordo com Empresa de Lim-peza Pública e Resíduos Especiais (Abrelp), de 64 milhões de toneladas de lixo produzidas em um ano no Brasil, 37,5% foram enviados para locais inadequados. O lixo hospitalar é um resíduo especial despejado de maneira incorreta no lixão de Impe-ratriz. Segundo o professor Marcelo Soares, os resíduos são jogados de qualquer forma no lixão juntamente com outros tipos de lixo. Os catado-res são os mais afetados. Podem se ferir e adquirir doenças, se contami-nando e podendo contaminar pes-soas e animais que lá residem.

Maristela Sousa, 57 anos, traba-lha há 25 anos no lixão e relata que no local os catadores trabalham sem o uso de Equipamentos de Proteção Individual. A falta dos equipamen-tos traz riscos à integridade pessoal dos trabalhadores, como riscos de contaminação e de adquirir alguma

doença. “Existem pessoas trabalhan-do e outras moram lá em barracos, feitos com papelões, lona e caixotes em situação bem precárias”. É o que informa Gildázio Gomes, 40 anos, que trabalha há anos na pesagem do lixo doméstico.

De acordo com Janaires Cazais Correia, bióloga e coordenadora de Licenciamento Ambiental da Seplu-ma, ainda não há previsão para a construção do aterro sanitário em Imperatriz. “Dependemos da escolha de um local adequado, pois precisa ser observada a distância das áreas de mananciais. Os lençóis freáticos são superficiais demais. A estrutura do local dentro do plano de resíduos, deve ser de acordo com as leis e as normas pertinentes a esse tema, devem ser observados todos esses procedimentos legais que são estabe-lecidos para construção desse tipo de aterro”, informa a coordenadora.

O lixo eletrônico é um dos grandes vilões da atualidade e seu descarte de forma in-

devida pode causar a poluição do solo e dos lençóis freáticos.

Diante do problema que afeta o mundo inteiro, é necessário cons-cientizar a população para ameni-zar os impactos causados ao meio ambiente e consequentemente à saúde humana. Como fazer isso? Uma das alternativas é através da reciclagem e do depósito adequado desse tipo específico de lixo.

Eremilton Soares, microempre-sário, é proprietário de uma oficina eletrônica em Imperatriz e vende a dezesseis reais o quilo de placas eletrônicas extraídas de computa-dores e televisores velhos. “Tiramos algumas coisas que podem ser reaproveitadas dos televisores e eletrodomésticos, inclusive as pla-cas. O que sobra jogamos no lixo comum”, diz Soares.

Em se tratando de lixo eletrô-nico, a dúvida que paira na cabeça das pessoas é em relação a existên-cia ou não de postos de coletas dos resíduos. Devido a falta de divulga-ção, as pessoas não têm o costume de separar de forma adequada os resíduos e acabam jogando o lixo eletrônico junto ao comum.

O funcionário público, Cristiano Marinho, guarda o primeiro note-book e um celular velho em casa por não saber onde fazer o depósito dos materiais. “Acredito que o aces-so à informação sobre onde e como descartar esse tipo de material, as-sim como pontos de recebimento, devem começar a ser divulgados para a conscientização das pessoas para o descarte correto desse tipo de lixo”, esclarece.

No Brasil, a lei 12.305/2010 ins-titui a política de resíduos sólidos. Estão sujeitas a essa lei pessoas físicas, jurídicas, direito público, direito privado, responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos sólidos. O documento obriga as empresas a receberem de volta dos clientes os aparelhos ele-trônicos e eletrodomésticos que não funcionam mais e posteriormente devolverem para os fabricantes ou importadores. Porém, no país, so-mente as empresas de grande porte fazem isso. Em Imperatriz, algumas empresas, recolhem apenas pilhas, baterias e celulares velhos, sendo a maioria de telefonia móvel.

André Luís, gerente de uma rede de supermercados conhecida nacio-nalmente, com filial em Imperatriz. Afirma que faz o recolhimento de pilhas e baterias usadas, que poste-riormente são recolhidas por uma

empresa especializada em recicla-gem de lixo eletrônico, a E-cycle. “Não precisa preencher nenhum formulário de entrega e nenhum valor é cobrado por isso”, afirma.

Cristy Handson, professor do curso de Especialização em Gestão de Resíduos e Fluentes Industriais da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão), afirma que os re-síduos são perigosos por conter substâncias tóxicas e químicas. Muitas delas em contato com o solo podem prejudicar ou dificultar a fertilidade.

“A lei que rege a Política Nacional de Resíduos Sólidos tramitou por mais de 20 anos até que pudesse ser aprovada. O Brasil perdeu muito tempo na gestão de resíduos, tomou muito prejuízo, teve muitas áreas contaminadas por conta da má ad-ministração. Além de prejudicar a saúde humana”, disse o professor.

Handson cita alguns males causados pelos metais presentes no lixo eletrônico, como o cádmio contido em baterias de celulares, que se acumula por exemplo nos rins, fígado e ossos, podendo levar a disfunções renais.

O mercúrio é facilmente absor-vido pelas vias respiratórias. Pode causar problemas nos pulmões, náuseas, diarréia e elevação da pressão arterial. O níquel pode cau-sar irritação nos pulmões, bronqui-te crônica e reações alérgicas.

Alto custo de reciclagem - O professor Cristy Handson afirma que o alto custo e a taxa de recuperação a nível financeiro dos resíduos ele-trônicos, não é tão atrativo como é

Com a aplicação da lei de resí-duos sólidos e a criação do aterro sanitário em Imperatriz, Janaires Correia afirma que coleta de lixo mudará totalmente. “Quando você coleta não vamos mais ter aque-les caminhões que pegam o lixo e jogam tudo junto. Quando vier a coleta seletiva que a população inteira esteja consciente da sua responsabilidade socioambiental, aí sim vai mudar.” Ela explica que a dinâmica do procedimento é cada bairro ter mais de um ponto de co-leta desses resíduos selecionados. Os coletores receberão uma qualifi-cação específica junto a Ascamaris (Associação dos Catadores de Ma-teriais Recicláveis de Imperatriz) e à coordenadora do projeto Ivanice Cândido. “Eles aprenderão a pro-duzir objetos a partir de materiais recicláveis como bijuterias, ilumi-narias e outros”, acredita Janaires.

SOL LOPES

PRAZO ADIADO

Aterro sanitário sem data para ser construído

Eletrônicos têm descarte incorreto em Imperatriz

DENISE FALCÃO

Resíduos são jogados de qualquer forma no lixão juntamente com outros tipos de lixo, atraindo a presença de urubus, ratos, cães e outras espécies de animais. Catadores são os mais prejudicados, podendo se ferir e contrair doenças

o dos plásticos, alumínio, cobre e ferro. “Hoje a nossa reciclagem está mais atrelada ao retorno finan-ceiro e esses resíduos eletrônicos por mais que tenha uma legislação específica não têm muito efeito, por não ter um retorno financeiro maior.”

Para quem busca pagar menos na conta de energia elétrica, existe o programa Ecocemar, que faz a troca de resíduos sólidos por bônus na fatura mensal. O projeto oferece descontos para quem entregar nos pontos de coleta baterias de carros e motos, além de outros tipos de resíduos sólidos.

REGINALDO SANTOS

Basta ir até o ponto de coleta que fica na BR 010, levando uma conta de luz, fazer o cadastro e pronto é só guardar os materiais e depois trocar por descontos na pró-xima conta.

Eletroeletrônicos abrigam resíduos perigosos que podem gerar infertilidade dos solos e atingir a saúde

HID

ALG

O N

AV

A

Supermercado Atacadão – Br 010Azires Telecom Ltda ME (Oi) – Rua Rio Grande do Norte, 742, Centro.Lojas da operadora de telefonia móvel Tim – Avenida Getúlio Vargas e Dorgival Pinheiro de Sousa.Lojas da operadora de telefonia móvel Vivo – Avenida Getúlio Vargas - Centro.

Lei de Resíduos Sólidos de 2010 institui a extinção dos lixões no Brasil. Documento menciona danos ao meio ambiente e à saúde humana como dengue, tétano, leptospirose e febre tifóide

ONDE DESCARTAR

Page 9: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

9Jorn

al

ANO VII. NÚMERO 27IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016 Arrocha

O brasileiro gera, em média, 1,062 quilo de lixo por dia, segundo pesquisas do

panorama dos resíduos sólidos da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

A coleta seletiva de lixo pode trazer diversos benefícios para o meio ambiente. Proporcionando saúde para os moradores da cidade e a preservação dos recursos am-bientais necessários à conservação da fauna e da flora.

Para a bióloga Janaires Corrêa, “é extremamente impactante. O meio ambiente não dá conta de absorver todo esse resíduo. Des-sa forma, a poluição hídrica está aumentando trazendo sérios riscos para a fauna e flora dos ecossiste-mas aquáticos, sem falar na polui-ção de solo e ar. Se continuarmos assim não vai ter mais espaço. Por isso a importância de fazer acontecer a Política Nacional de Resíduos Sólidos”. Mais de 41% das 78,6 toneladas de resíduos sólidos gerados no país em 2014, tiveram os lixões e aterros controlados como destinação final. 78 milhões de brasileiros ou 38% da popula-ção não têm acesso ao serviço de

tratamento adequado. O que faz a cidade tomar outras medidas para a coleta dos resíduos.

É através da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Imperatriz (Ascamari) que o lixo reutilizável como papéis, plásti-cos, metais e vidros, pode ter uma destinação correta. Para Janaires Corrêa “são os atores principais para tornar a coleta seletiva pos-sível. Sem eles o ciclo da recicla-gem não acontece”. Presidida por Antonio Teles, a Ascamari surgiu em 21 de abril de 2010 pelo projeto “Reciclando Vidas”, uma iniciativa dos catadores com apoio da Cáritas Brasileira. O objetivo era preservar o meio ambiente (solo, água e ar) e melhorar as condições sociais dos catadores e da população em geral. A ONG conta com cerca de 40 cata-dores cadastrados

“O maior objetivo da Ascamari não é ganhar muito dinheiro, a gente sabe que é difícil. É aprender que esse material é nosso e que nós precisamos viver bem. E para viver bem precisa ter esses detalhes. Já estamos pensando em fazer uma oficina para recuperação de móveis dos materiais recolhidos”, salienta o presidente da Ascamari Antônio Teles.

Muitas pessoas que estão sem emprego buscam na coleta seletiva uma oportunidade de trabalho. E as pessoas que já tem trabalho complementam a renda com a coleta seletiva de forma alternativa. Segundo a secretária da Ascamari, Maria Socorro Oliveira, a impor-tância da ONG é grande devida ajuda prestada aos catadores. E tem como propósito manter os coletores unidos para que um dia possam formar um grande grupo e fundar uma indústria, mas isso é um projeto para os próximos 5 ou 10 anos.

“A Ascamari tem como objeti-vo também recuperar as pessoas. Temos uma campanha contra a bebida alcoólica. Todo dia 13 de junho, fazemos uma reunião com 70 militantes em nível nacional.”

Há ainda a fabricação de sabão no bairro São José. O sabão reco-lhido e outras vezes recebido de doações de empresas passa por um processo de reciclagem e vem se tornar renda para as coletoras desse local. “O óleo é um material

muito valioso para a fabricação de sabão, nós sabemos que tem ou-tras utilidades, mas ainda não chegamos lá. Temos o objeti-vo de conscientizar a popu-lação para que não jogue nenhum tipo de material fora, pois todos têm o seu valor”, acentua Antônio Teles.

Coleta - A Ascamari tem uma parceria com a pre-feitura da cidade e com empresas particulares para uma coleta seletiva de materiais.

Essa coleta é dividida em pontos específicos (ver box) que facilitam o recolhi-mento para os coletores e para as pessoas que desejam contribuir com a ação.

A bióloga Janaires Corrêa ressal-ta que a coleta seletiva é “essencial para a dinâmica dos ecossistemas. Quando se recicla estamos evitan-do uma quantidade enorme de ma-teriais que iriam para o solo, água, sem falar nos gases que estariam sendo lançados na atmosfera”.

É necessário que a população em geral tenha não apenas o co-nhecimento da iniciativa, mas que entenda a importância.

Para que essa atividade acon-teça de forma mais contundente é preciso que as pessoas contribuam. Separando os resíduos recicláveis e depositando nos locais adequados, ou seja, os pontos de coleta. Para Antônio Teles, uma maior contri-buição por parte das pessoas au-mentaria a renda dos catadores e a Ascamari teria como cuidar melhor dos seus sócios.

O papelão é o material de menor valor de venda para os catadores, a procura é muito pequena e fica por volta dos R$ 0,07 centavos o quilo, podendo chegar à R$00,10 centa-vos. O de maior valor é o cobre, porém esse material é muito difícil de encontrar, na maioria das vezes fica na própria empresa. O quilo do cobre fica por volta dos R$11,00 reais. “Primeiro as pessoas têm que compreender por que reciclar e a sua importância dentro do proces-so de coleta seletiva e sabendo pra onde destinar seus resíduos. Tudo isso acontece através de campa-nhas educativas eficientes que verdadeiramente mude atitudes”, comenta Janaires.

O lixo sem destinação correta que são aqueles jogados a céu aber-to, nas ruas, calçadas, em terrenos abandonados e locais proibidos são responsáveis pela proliferação de doenças graves tais como: dengue e leishimaniose, transmitidas por mosquitos; toxoplasmose, trans-mitida por cães e gatos; leptospiro-se, peste bubônica e tifo murino, transmitidas por ratos e pulgas. Para as empresas que não estão contempladas no projeto da Asca-mari, Janaires Corrêa enfatiza que “é preciso fazer acontecer a logísti-ca reversa. Associar-se a Ascamari para destinar seus resíduos e dessa forma a dinâmica acontece sem precisar chegar nos lixões”.

O alumínio que leva entre 200 e 500 anos para se decompor na na-tureza, através da reciclagem, pode ter um reaproveitamento de quase

100% reduzindo custos e retor-nando para as linhas de produção. O processo ainda ajuda a reduzir o uso de recursos naturais, dimi-nuindo a quantidade de lixo e das despesas com coleta, aumentando a vida útil dos aterros.

De acordo com um levantamento da Abrelpe, considerando metas pre-vistas na Política Nacional de Resí-duos Sólidos, o país precisa investir R$ 11,6 bilhões até 2031 na infraes-trutura para universalizar a desti-nação final dos resíduos de forma adequada. Outros R$ 15,59 bilhões ao ano seriam necessários para custear a operação e manutenção das plantas que serão construídas. Tudo isso em decorrência do pouco investimento do Brasil em infraes-trutura e saneamento que traz uma média de 2,2% do PIB ao ano.

Dos municípios brasileiros 64,8% tem iniciativas de coleta sele-tiva. O aterro sanitário entra como peça chave para os catadores, pois ele só receberia os dejetos. E os materiais recicláveis poderiam ter a Ascamari como destino contribuin-do como fonte de renda e melhoria de suas condições sociais.

Atenção especial - Existem ainda outros materiais que não podem

BRIGITHY SILVA

“O maior objetivo da Ascamari não é ganhar muito dinheiro. É aprender que esse material é nosso e que nós precisamos viver bem”

Quando o lixo é sustento de vidaSUSTENTABILIDADE

Fonte de renda e oportunidade está nas mãos dos coletores de materiais recicláveis

Alumínio é o material mais valioso no Brasil e leva entre 200 e 500 anos para se decompor

KELVER PADILHA

KELVER PADILHA

Grande consumo

de materiais recicláveis em

uma residência pode ser o sustento de outra

Lei de Resíduos Sólidos de 2010 institui a extinção dos lixões no Brasil. Documento menciona danos ao meio ambiente e à saúde humana como dengue, tétano, leptospirose e febre tifóide

Caema - Francisco Gomes (Chico)Endereço: Rua Antônio de Morais, 60, Bairro da Caema –atrás do prédio da Caema.

Planalto - Maria do Socorro OliveiraEndereço: Rua Dom Marcelino, 91.

Conjunto Planalto II – RaimundaEm frente à igreja Assembleia de Deus Congregação Luz

São José - Neuziedna Souza, (99) 9174-4557Endereço: Rua São José, 04, São José – Entre as ruas 07 e 08, próximo à igreja Assembleia de Deus Congregação Deus Forte

Vila Cafeteira - Antônio TelesEndereço: Rua Duque de Caxias, 125, Vila Cafeteira – esquina com Rua Carolina

Vila Fiquene - José Ferreira (Zezinho), (99) 9169-4912Endereço: Avenida Cacalzinho, s/n, Recanto Universitário Vila Fiquene – Prédio da Ascamari.

PONTOS DE COLETA

DE MATERIAIS

ser reciclados e que merecem um destino especial. Entre eles, temos pilhas e baterias que contaminam o solo, lâmpadas fluorescentes que soltam vapor contendo mercúrio (gás tóxico que contamina o ar), chumbo, entre outros. Estes mate-riais devem ser coletados separada-mente. O descarte das pilhas deve ser feito enviando o material ao fabricante ou separando-o do lixo comum para facilitar a destinação correta [veja matéria ao lado].

Materiais hospitalares, como algodão, seringas, agulhas, luvas, sangue coagulado, órgãos e teci-dos removidos, estão geralmente infectados com vírus e bactérias precisam ser incinerados.

Sem uma destinação adequada, a população está sujeita a diversos tipos de doenças encontradas nos resíduos sólidos, tais como: febre tifóide que tem um tempo de vida no lixo entre 29-70 dias; tubercu-lose, cujo tempo está entre 150-180 dias; poliomelite, 20-70 dias; cóle-ra, 1-13 dias de vida.

“Se nós não mudarmos nossas atitudes de armazenar o nosso lixo adequadamente e colocar na porta no dia da coleta, a tendência é que essas doenças proliferarem cada dia mais”, ressalta Janaires.

Page 10: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

10 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

Não é de hoje que se ouve falar que cães e gatos costumam ser os

melhores amigos do ser humano. Segundo o IBGE, cerca de 50% dos lares brasileiros possuem cães, e outros 20% optam por gatos. Porém, estima-se que mais de 30 milhões de animais encontram-se em situação de abandono no Brasil.

Abandono ou maus-tratos a animais é crime, previsto na lei 9.605/98, podendo acarretar em detenção e multa. Cães, gatos e até mesmo animais exóticos, nos dias de hoje, estão tomando o gosto populacional, chegando até mesmo

a tomar o lugar das crianças pela preferência. Os animais representam uma parte vital do meio ambiente e merecem ser respeitados como tal. Porém, enquanto muitos recebem amor e carinho, outros esperam a chance de serem notados.

“Nosso trabalho é 100% voluntário. Nós nos compadecemos da situação dos animais”. A fala é de Cleomar Lima Silva, voluntária há cerca de um ano no Grupo de Proteção aos Animais de Imperatriz (GPAI). A ONG conta com uma página no Facebook, com mais de cinco mil curtidas. A rede social é um meio de divulgação do trabalho grupo.

Cleomar Silva esclarece ainda que os animais resgatados são

ARTEMISA LOPES

ART

EMIS

A L

OPE

S

É crescente o número de animais abandonados

ANIMAIS NAS RUASDe acordo com a lei 9.605/98, abandono ou maus-tratos de animais é crime e pode acarretar em multa e detenção. Em Imperatriz, mil animais vivem em condições de risco

Viu algum animal abandonado, doente ou ferido?

Ligue para o Centro de Zoonoses de Itz (Celular: 9 96312604)Endereço: R. Barão do Rio Branco, 10 - Entroncamento, Imperatriz - MA, 65900-970

Gostaria de ser voluntário no GPAI? Entre em contato com Maria Regina pelo Whatsapp ou ligue 99 - 98113-1283

Quer ajudar o grupo GPAI com uma doação? Deposite qualquer quantia nesta conta:

GPAI - Agência: 3151 Operação: 003 Conta corrente: 2532-6Banco Caixa Econômica Federal CNPJ / GPAI: 22274800000133

Imperatriz abriga 25 mil cães e 15 mil gatos, tanto na zona urbana como na zona rural, e grande parte desses animais estão abandonados nas ruas e na maioria das vezes feridos e doentes. E há como salvá-los do abandono e descaso

Cerca de 450 cavalos são retirados das ruas de Imperatriz por ano e 10% são doados para zona rural

levados para as casas dos próprios voluntários e, muitas vezes, acabam sendo adotados de vez. Eles também recebem atendimento veterinário antes de serem colocados para a adoção. “Eu cuido de sete gatos e um cachorro. Nós damos ração e até temos parceria com um supermercado local, que conhece a nossa causa e nos ajuda”, diz.

O grupo também realiza feiras e bazares para a arrecadação de recursos para castração dos animais. Sônia Maria de Sousa, presidente do GPAI desde sua formação, há um ano, conta que foram arrecadados quatro mil reais na última feira, realizada em maio de 2015, para a castração de gatos. No total, foram 100 felinos; dentre eles 70 fêmeas e 30 machos.

Melhor amigo? - Segundo Sônia Sousa, inicialmente o grupo apenas contava com troca de mensagens através do Whatsapp para encontrar os animais. Ao todo, o grupo contém 60 voluntários, sendo 10 ativos. Além disso, a ONG possui uma conta bancária, onde as pessoas podem oferecer doações. Há dificuldades para realizar o trabalho e ao mesmo tempo que é gratificante, é desgastante. “Nós vemos a necessidade deles [os animais]. Somos protetores independentes. Nós cuidamos, medicamos e eles são castrados. Cada um faz o que pode”.

Paulo Henrique Soares e Silva, veterinário há 22 anos e coordenador do Centro de Zoonoses de Imperatriz desde 2000, conta que recebe ligações da população para resgatar os animais.

“Muitas vezes, eles são deixados nas avenidas e acabam indo parar em algum lugar amplo, como colégios, por exemplo”, explica. Segundo ele, Imperatriz conta com 25 mil cães e 15 mil gatos domiciliares, tanto na zona urbana quanto rural. Com base nesses números, estima-se que de dois a três por cento, habitam as ruas da cidade, cerca de mil animais.

A veterinária Clenia Maria dos Santos é colaboradora da causa GPAI e diz que já cuidou de animais vindos das ruas em diversas situações, inclusive paraplégicos, e que já castrou mais de três mil gatos. Para ela, é praticamente impossível não se sensibilizar e alerta para o risco das doenças, como a leishmaniose. “Aqui os animais chegam mais doentes do que machucados. Vejo animais correndo todo o tipo de riscos”, esclarece.

Paulo ainda conta que resgata cerca de 1.500 animais ao ano. Desses, 1.200 são doentes, que,

muitas vezes, acabam morrendo; e 300 são de rua. E ainda retira cerca de 450 cavalos das ruas.

Os cavalos são outro grande problema na cidade, que conta com dois mil animais. Eles são, motivo de acidentes na Avenida Pedro Neiva de Santana, que liga Imperatriz ao município de João Lisboa, e é um local de tráfego intenso. Os cavalos, segundo o médico veterinário, não chegam a representar o abandono, mas sim o descaso, muitas vezes de carroceiros. “Eles são soltos pelos donos para comerem e acabam indo para a pista, surpreendendo os motoristas”.

Cerca de 90% dos cavalos são retirados das ruas pelo Centro de Zoonoses, e 10% deles acabam sendo doados para moradores da zona rural, onde poderão ter mais utilidade. “Não faz sentido entregar um cavalo para alguém que mora na zona urbana de Imperatriz. Principalmente porque ele pode voltar para as ruas”, declara.

“Os animais representam uma parte vital do meio

ambiente e merecem ser respeitados”

Quando um cavalo é capturado o dono tem até oito dias para contatá-los. “O dono vem até aqui e paga uma taxa de R$ 65,00 para liberar o animal. Caso contrário, nós o selecionamos para doação”.

Além disso, ele adverte o cuidado que a população precisa ter com as inúmeras doenças trazidas pelos animais, como a popular “raiva”. “Cães e gatos podem transmitir a raiva e a sarna, como também a leptospirose. Além disso, existe a toxoplasmose, mais comum em gatos. Também existe a “larva mirglans”, que todos conhecem como bicho geográfico”, cita.

Não é só de tristezas e desapontamentos a situação dos animais abandonados em Imperatriz. Para o veterinário, nem tudo está de fato perdido. Paulo Henrique garante que está bastante acostumado a ver o sofrimento dos animais. É importante que haja pessoas dispostas a trazer esperança e que se deixem levar pelo olhar acolhedor de um animal. “Basta que cada um de nós mude o jeito como trata os animais. Adotar um animal de rua e incitar essa conduta pode ser a solução”, aconselha.

VALDECY MARQUES

Page 11: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

11ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

LÍCIA RODRIGUES

BÁRBARA FERNANDES

ENTREVISTA

“Cada um faça sua parte”, quem nunca ouviu? Em entrevista, a bióloga e professora do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Rubeny Brígida Albado, ressaltou a importância da mudança par-

tir da população. Afinal, nada mais lógico que a conscientização começar da base.

Rubeny Albado tornou-se especialista em educação ambiental, pla-nejamento educacional, participou do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educa-ção de Jovens e Adultos (PREJA). Completou 35 anos de carreira na área de ciências biológicas, participou de grandes conferências no país, dentre elas, a Rio +20. A professora acredita que para cuidar do meio ambiente, não é necessário apenas grandes ações. Uma pessoa que resolve limpar seu quintal, plantar uma árvore e ter a consciência dos cuidados com o meio em que vive, é capaz de promover mudanças profundas e ajudar a ter uma cidade “naturalmente linda” e com doenças controladas.

Imperatriz está seguindo um cres-cimento horizontal ou vertical? Quais os problemas?Vertical. Ficou determinado a par-tir da Rio + 20 que todos os con-domínios devem ser verticalizados, pois é sabido que a população está crescendo muito. Quando ela au-menta, precisa-se de espaço para se acomodar. Com isso, nossa litosfera (solo), não está tendo mais área de descanso e respiração, estão sendo todas invadidas por moradias. E outra parte está sendo trabalhada para a agricultura e agropecuária. Então nossos biomas não estão ten-do mais condições de se desenvol-verem como o planeta precisa. Isso é prejudicial e já estamos tendo a consequência, no caso, o aqueci-mento global. Isso cria um isola-mento de área climatizada. Hoje nós temos que recorrer a profis-sionais que estudaram e sabem os recursos de como deixarem essas áreas ventiladas, distanciados um dos outros permitindo a ventilação, e não esquecer da arborização. Hoje estamos vendo um novo tipo de ar-borização nos próprios prédios.

Existe um código de preservação ambiental específico para a cidade? Existe. Nós temos a lei 850, o código de postura municipal, ele é embasa-do e assegurado nas leis ambientais. Fala sobre resíduos sólidos, respei-to, como devemos agir, sobre os ma-nanciais, riachos, a lei da poluição sonora, visual. Temos até a lei que está esquecida e tem que voltar a se fazer presente, ser pautada nova-mente, na mesa do nosso secretário de meio ambiente, que é a acessi-bilidade. Tem um órgão aqui que eu admiro e que funciona, que é a promotoria do meio ambiente. No entanto, precisa-se de um meio de comunicação para se fazer conheci-do esse código. Cabe a nós também

enquanto alunos, profissionais, ci-dadãos, não esquecermos de cuidar do meio ambiente, mas assumir uma posição de responsabilidade. Creio que estamos aqui para cumprir uma missão, e se não tiver esse ambien-te com essa qualidade, como vamos cumprir? Inclusive de cobrar o que lá está escrito. É nosso código de pos-tura!

Quais os projetos desenvolvidos até agora? De que forma a popu-lação pode ajudar?Estamos com um projeto de recu-perar a mata ciliar do riacho Capi-vara, mas encontramos muitos obs-táculos. No final da rua Ceará com a Floriano, fizemos uma limpeza e o plantio no local, mas logo aci-ma não pudemos, porque tem uma construção bem na margem que nos impede de atuar. É uma mar-gem! As autoridades precisam ver este caso. Fiquei muito triste por que foi um trabalho que envolve-mos a comunidade próxima. Cinco dias depois da nossa atuação, me passaram uma mensagem com ima-gens de carroceiros que estavam novamente jogando resíduos da construção civil onde tínhamos fei-to o serviço. As nossas mudas que ali plantamos, ficaram sufocadas com o lixo que eles retornaram. Pe-gam os resíduos com as pessoas os quais os contratam, para retirarem os resíduos das suas portas, não sendo responsáveis a tal ponto para verem onde vai ser lançado. Querem que retirem da porta deles, mas não estão vendo qual o destino exato que vai ser lançado aquele resíduo que ele gerou. Ou seja, solucionam o problema da porta deles, mas aca-bam gerando outro problema, que é contaminar a margem dos nossos riachos, um lugar indevido.

Você considera válida a política de compensação ambiental?Desde que ela seja feita sem querer beneficiar algo ou alguém e pisar em cima das leis. Eu creio que é neces-sária essas compensações, por que não podemos evitar o crescimento. Há questionamentos com relação a Suzano. Sem sombra de dúvidas ela impacta, diz que não, mas sabemos que ela trouxe grande impactação para Imperatriz. Agora, qual a com-pensação? Chegou para cidade?

Você disse que empresas, como a Suzano, causavam grande impacto na cidade. Que impactos são esses?Primeiro, o social. Segundo, os car-

ros pesados que acabam com a pavi-mentação das nossas vias. Terceiro, a contaminação do nosso rio. Eles falam que não há contaminação, mas não deixam a gente entrar pra olhar. Quarto, eucalipto é mono-cultura, e isso é prejudicial para na-tureza, exaure o solo e reduz a bio-diversidade. Sem dizer das famílias que eles retiraram. É preciso acom-panhá-las, saber quais projetos a empresa está executando em prol do desenvolvimento ambiental e so-cial. Não conhecemos os projetos.

Quais as consequências do assorea-mento nas lagoas de nossa cidade?São várias as consequências. Pri-meiro, vai agredir a reprodução de peixes, mata grande parte da biodiversidade dos riachos, modi-fica a paisagem e etc. Hoje temos isso causado pelo desmatamento da mata ciliar. Há necessidade das nossas autoridades reverem e terem projetos para essa recuperação, se não quiser, o MMA tem verba para esses projetos. Basta a gente arre-gaçar as mangas e querer fazer va-ler, quando estamos numa função dessas. Você perguntou as conse-quências, mas vou até falar o que causa também. A extração de areia, está causando um grande desequi-líbrio. Nossa água está escassa. Nós temos que dar graças a Deus pelo rio Tocantins, mas ele está gritan-do. Há poluição demasiada. Volto a dizer, educação ambiental tem que ser trabalhada em todas as áreas, nas empresas e de uma forma mais contundente nas escolas. E a Seplu-ma deve fazer parceria com a edu-cação, nas três esferas (municipal, estadual e federal), quem vai ga-nhar é a população.

É possível recuperar hoje as nas-centes dos riachos? Quais seriam as possibilidades?É possível sim, porque não estão to-talmente perdidos. Agora, deve ser feito projetos específicos de recupe-ração e revitalização das margens, cercar as margens, começando desde a área rural, onde nasce, até onde de-semboca no rio Tocantins. Ou seja, cercar as margens, recuperar a mata ciliar, e retirar todo esgoto que é jorrado dentro deles. Mas para isso tem que haver políticas de educação ambiental, é essencial este setor agir. Neste caso, teria que trabalhar pri-meiro a sensibilização dos morado-res, tentando mudar o seu comporta-mento em prol da saúde dos riachos.Quais os tipos de árvores adequa-

E para o processo de arborização urbana?Para a arborização urbana é dife-rente. Analisa-se a espessura da cal-çada, a rede elétrica, ou seja, cada rua também tem suas especificida-des. A árvore não deve ser do tipo que produz frutos grandes, o siste-ma radicular (raízes) deve ser pro-fundo para não prejudicar as calça-das, e várias outras características necessárias.

De que forma a cidade poderia ser reestruturada para que favorecesse e privilegiasse os espaços naturais? Seria a canalização dos riachos? A retirada dos ribeirinhos das orlas?Sem sombra de dúvidas, tem que ter políticas sociais para a retirada dos ribeirinhos. Todo ano é a mesma coisa. É questão de calamidade pú-blica, retiram eles e eles retornam.Tem que ser uma política séria, de auxílio aos ribeirinhos, e comprome-

Donos da mudança

Professora e pesquisadora Rubeny Albado fala sobre problemas ambientais e de como a população pode contribuir para uma cidade melhor

“Nós temos que dar graças a Deus pelo rio Tocantins, mas ele está gritando”

das para a revitalização dos ria-chos?Primeiro se faz uma pesquisa para saber quais as árvores nativas – o re-comendável é colocar elas. Mas tem as consideradas comuns, como a pata de vaca, o ipê e outras. É necessário que seja feito esse estudo específico bem pormenorizado para ambos per-manecerem na sua própria natureza. Cada área é um processo, o mais im-portante é fazer junto da comunida-de. Nós temos a Lei Federal11.445/07 de saneamento básico, que proíbe o lançamento de esgotos nos riachos e nos rios, mas que infelizmente não é cumprida.

“Creio que estamos aqui para cumprir uma missão, e se não tiver esse ambiente com essa qualidade, como vamos cumprir?”

timento com o ambiente. Com os re-cursos para moradia, no caso o PAC [Programa de Aceleração do Cresci-mento], recolocaria eles em suas ca-sas e imediatamente derrubaria toda aquela área construída na orla dos riachos e recuperasse como uma área de APP [Área de Preservação Perma-nente], como devidamente tem que ser. Deveria ser área de proteção e de responsabilidade da Marinha.

Se neste momento você tivesse a oportunidade de falar para toda a cidade a respeito do assunto aqui abordado, o que você diria?Cada um fazer sua parte. Existe uma frase que diz assim: “haja local pen-sando no global”. Para nossa cidade eu diria assim: “se cada um de nós cumpríssemos com a nossa respon-sabilidade, limpando o nosso terrei-ro, o nosso quintal, a frente da nos-sa casa, plantando uma árvore, nós estaríamos numa cidade de beleza naturalmente linda, essa cidade se-ria uma das mais limpas, e nós não teríamos nenhum problema de den-gue, não iríamos perder para o mos-quito Aedes aegypti que está cres-cendo seu potencial. Hoje trazendo uma Chikungunya, Zika vírus. O que é isso? Perdendo pra um inseto? Isso mostra o quanto estamos desprepa-rados”. Não devemos cobrar só do poder público, mas cobrar de si mes-mo. Vamos cuidar da nossa cidade, ela merece.

A Suzano afirma que, por meio de sua Estação de Tratamento de Efluen-tes (ETE), faz o tratamento da água que é utilizada em seu processo e devolvida ao rio Tocantins, e reforça que um efluente de fábrica de papel e celulose não emite metais ou quaisquer subs-tâncias em concentrações tóxicas.

Sobre as áreas de plantio de eucalipto, a empresa explica que sua política de compra de terras prioriza áreas não ocupadas por comunidades, sendo a maioria delas subutilizadas e ou de pastagem.

Sobre a operação de transporte, a empresa informou que possui todas as autorizações especiais de transportes para a veiculação nas vias, emitidas pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e que trabalha em conjunto com o poder público na identificação das vias de acesso à fábrica e que possui uma equi-pe técnica específica de infraestrutura para manutenção destas.

A empresa dispõe também de um programa de visitas aberto ao público, além de um canal de comunicação com a comunidade, o Suzano Responde.

EMPRESA EXPLICA PROCEDIMENTOS

Page 12: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

12 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

Todo barulho que causa per-turbação ou incômodo pode ser considerado poluição so-

nora. A percepção e noção do que é o ruído, pode variar de pessoa para pessoa, mas o organismo tem limites físicos para suportá-lo. Problemas de saúde como pressão alta, insônia e surdez podem ser provocados pela exposição ao ba-rulho em excesso, além de perda da qualidade de vida e bem estar. O direito coletivo ao silêncio é assegurado em lei e muitas vezes é desrespeitado.

Quando se fala em meio am-biente, a poluição sonora geral-mente é esquecida, pois o foco sempre se volta para o ar, rios e solo. O que poucos sabem é que a poluição vai muito além de um barulho “chato”. Com mais inten-sidade, a poluição sonora gera muitos problemas e conflitos. A

Lei nº 126/1977, Lei do Silêncio que estabelece restrições objetivas para a geração de ruídos durante dia e noite, em especial no caso de bares e casas noturnas, ainda é pouco obedecida.

A Organização Mundial de Saú-de (OMS) considera que para não causar prejuízos à saúde do corpo, o som deve ficar em até 50db (deci-béis - unidade de medida do som). Ultrapassando essa margem, os efeitos negativos começam a apare-cer a curto ou longo prazo. Ou seja, alguns problemas podem levar anos até serem notados, mas ocorrem.

Casos - “Começa na quinta e vai durante todo fim de semana. Não tem quem aguente o barulho. Pensamos em pegar assinaturas para poder fechar”, relata Marce-lo Amorim morador da Avenida Imperatriz, no bairro São José. Os moradores questionam a localiza-ção indevida de uma casa de show que fica próximo a residências e

desrespeita a lei do silêncio cons-tantemente.

Mas não são somente bares ou casas de shows que ultrapas-sam os limites no volume. Igrejas também recebem reclamações por parte de vizinhos por conta da constância no abuso do volume em suas reuniões. Chico da Ban-ca, morador do Bacuri, desabafa: “próximo a minha casa têm duas igrejas que fazem muito barulho, perturbam muito no fim de se-mana, que para eles só acaba na segunda”. Chico trabalha o dia inteiro em uma banca que fica localizada na Praça de Fátima e afirma que não sente incômodo com o ruído do dia-a-dia do cen-tro comercial. “Sem esse barulho o mercado não funciona, esse ba-rulho é atrativo para as vendas.”

No Calçadão, a Secretaria de Planejamento Urbano e Meio Ambiente(Sepulma) estipula uma taxa mensal para a utilização de caixas de som como meio publici-

tário para os lojistas. Leide Daia-na Dias, gerente de loja, explica que “pagamos uma taxa durante todo o ano para poder usar o som na porta da loja, só que eles têm um aparelho que mede o volume, e aí eles vem e marcam lá no som como deve ficar para não ser po-luição sonora”.

A gerente também relata que até o presente momento não teve nenhum problema de saúde, e que não há registros de problemas de trabalho com algum funcionário, em virtude da utilização do som.

Para reduzir o número de re-clamações relacionadas ao proble-ma e garantir o direito de todos previsto em lei, a promotoria dis-ponibilizou no segundo semestre de 2014 à Prefeitura de Impera-triz, através de recursos adquiri-dos por multas impostas, um total de 14 decibelímetros (aparelhos responsáveis pela medição do som), em pleno funcionamento e de última geração que são devida-mente calibrados para uma corre-ta medição, controle e fiscaliza-ção dos agentes poluentes. Toda ação é realizada pela Sepluma, em conjunto com a Polícia Militar do município.

Lei do Silêncio - De acordo com a Lei do Silêncio é permitido no perío-do diurno em áreas residenciais, som com volume de até 55 deci-béis (dBA) e no período noturno até 45 dBA. Esse índice varia de acordo com a região do município (veja box).

Dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-

ticas (IBGE), em 2010, mostram que Imperatriz possuía 234.547 mil habitantes e hoje ultrapassa a casa dos 250.000. Juntamente com o crescimento populacional, o comércio também avançou. O trânsito se tornou mais caótico, as construções verticais cada vez mais ganhando seu espaço, novas casas de show, bares, etc.

Queixas de barulho excessivo em bares, igrejas, som automotivo e som alto na residência de vizi-nhos são as mais frequentes re-cebidas pela Promotoria de Meio Ambiente de Imperatriz. Para atuação da Promotoria em juízo, é preciso uma ação que se enqua-dreem interesse coletivo, onde não só uma pessoa é beneficiada, mas um grupo. Quando são casos específicos e isolados, a promoto-ria recomenda que o prejudicado procure um advogado para defen-der seus direitos, em uma ação individual

A poluição sonora se enquadra como crime ambiental quando afe-ta a saúde de seres humanos e ani-mais. Portanto, existe pena prevista para os poluidores, uma ação civil de indenização por perdas e danos. De acordo com o promotor de meio ambiente em Imperatriz, Jadilson Siqueira, para denunciar o abuso sonoro, o prejudicado deve entrar em contato com o número 190 e acionar a Polícia Militar. “Para que as medidas legais e cabíveis sejam tomadas, a pessoa deve ligar e de-nunciar, pois, o policial está orien-tado, nos cursos que nós fizemos, a comparecer no local e prestar o serviço solicitado”.

Carro de som, motos, pedestres: esse cenário é repleto de ruídos no centro da cidade em um dia comum. Sons que em excesso podem levar a problemas de saúde e por isso são controlados por lei

POLUIÇÃO SONORA : n o ú l t i m o v o l u m eJHONATHA SANTOS

Poluição sonora vai além do incômodo auditivo do som alto de carros e caixas de som, o barulho pode causar danos não só aos ouvidos

JHONATHA SANTOS

Índices de poluição sonora Os índices de poluição sonora aceitáveis estão determinados de acordo

com a zona e horário segundo as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) (n.º 10.151). Conforme as zonas, os níveis de decibéis máxi-mos permitidos nos períodos diurnos e noturnos, são os seguintes:

Zona de hospitais Diurno: 45 | Noturno: 40

Zona Residencial Urbano Diurno: 55 | Noturno: 50

Centro da cidade (negócios, comércio, administração)Diurno: 65 | Noturno: 60

Seu smartphone ou tablet pode ser uma ferramenta de medição dos de-cibéis. Aplicativos para plataformas Adroid e iOS estão disponíveis gra-tuitamente e garantem essa funcionalidade. Testamos o “Decibelímetro: Sound Meter”, disponibilizado para usuários Android na Google Play, e também o “Decibel Ultra”, para usuários iOS.

Ambos aplicativos cumprem o que prometem, a medição através do mi-crofone do próprio aparelho, sem a necessidade de qualquer outro acessó-rio. Tudo que você precisa é entrar na sua loja de aplicativos diretamente do seu aparelho, baixar e começar a usar. Apesar do aplicativo estar disponível em inglês, são bem simplificados e intuitivos e não detectamos dificuldades na utilização que possibilita qualquer pessoa aproveitar essa ferramenta.

JHONATHA SANTOS

Grande ferramenta para atrair consumidores, os locutores com caixas de som em portas de lojas devem seguir legislação específica e pagar taxa

BARULHO

Use seu telefone para aferir o som

Page 13: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

13ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

ENSAIO

ISABEL LIMA EMERSON FALCÃO

ISABEL LIMA

ARTEMISA LOPES

HIDALGO NAVA

Page 14: Arrocha 27 - Meio Ambiente em Alerta

14 ArrochaJorn

al

ANO VII. NÚMERO 27 IMPERATRIZ, ABRIL DE 2016

Manhã normal de segunda--feira em Imperatriz, pou-co antes das sete horas

da manhã, já é possível ver a con-centração de carros nos principais cruzamentos da cidade, enquanto as pessoas se deslocam para os seus compromissos. Nesse horário, a jovem Beatriz Sousa, 18 anos, se dirige para a escola, mas não vai a pé ou de carro: ela faz todo o trajeto utilizando um skate, fiel companheiro. “Não tenho muito tempo para ir à praça [Mané Gar-rincha] praticar, então uso o skate como meio de transporte mesmo, para não ficar parada”, afirma. Em outro ponto da cidade, Eduardo Nery, 25 anos, percorre o caminho até a UFMA – Universidade Federal do Maranhão – Campus Bom Jesus, parando na casa de colegas para irem juntos até a universidade: ele faz parte de um grupo de caronas.

Eduardo e Beatriz podem se juntar à Jesus Marmanillo, 36 anos, professor universitário, que percor-re todos os dias o trajeto do traba-lho para casa pedalando, prática que assegura ter iniciado de forma quase imperceptível. “Começou como um lazer infantil, quando ga-nhei a primeira bicicleta, e depois percebi que podia usar como meio de transporte”, afirma.

O que os três têm em comum é a forma de reinventar o transporte dentro da cidade, já que atualmente a frota de Imperatriz é composta por aproximadamente de 134 mil veícu-los, entre carros, motos e meios de transporte maiores, como caminhões e ônibus, conforme o Departamento Trânsito do Maranhão (Detran), di-vulgou em janeiro de 2016. Além dos dados registrados, por ser um polo econômico e universitário, o muní-cipio agrega ainda mais transportes

Atitudes sustentáveis a favor de uma vida melhor de circulação diária, tanto comercial, quanto de passeio.

E os usuários dos meios alterna-tivos afirmam que os transportes não deixam a desejar no quesito tempo de deslocamento, Marma-nillo conta que em horário de pico utiliza o mesmo tempo de um carro no caminho para casa. “No horário de pico, gasto o mesmo que alguém que vai de carro, já que não pego engarrafamento. E também posso vivenciar a cidade de outra manei-ra, diferente de quem vai fechadi-nho atrás dos vidros ou capacetes”.

Para Sousa, os benefícios são outros: os problemas respiratórios desapareceram com a prática do skate como transporte alternativo. “Antes de começar a andar tinha muitos problemas, mas hoje não. Quando deixo por muito tempo, os problemas voltam”, comenta.

Ressignificando conceitos - Fernanda Barros, 38 anos, mora em uma casa com sofá, rack para televisão, duas mesas, uma delas com tampo de vidro, suporte para pratos, xícaras e outro para panelas, duas estantes e diversos bibelôs de decoração.

O que há de diferente na casa de Fernanda? Tudo é produzido com material reciclado. Mesas, sofá e es-tantes de paletes, pufes recheados de papel, peças de decoração feitas de garrafas de vidro e plástico.

Oriunda de uma família de arte-sãos, Barros teve a ideia de decorar o casamento com paletes e caixotes de madeira. “Comecei a procurar esses materiais que seriam descar-tados para decorar minha festa. De-pois do casamento, eu juntei todo o material na minha casa e comecei a criar a mobília e o material de deco-ração”, conta.

Já para Vanusa Lima, 46 anos, o olhar para as grandes construções é sempre diferente. Enquanto a ci-

ISABEL LIMA

Moradores de Imperatriz apostam em práticas para o cuidado com o meio ambiente. Deixar o carro na garagem, fornecer carona para colegas ou reaproveitar materiais são algumas das alternativas

PRÁTICAS INDIVIDUAIS

dade cresce, ela observa o lixo das obras, em busca de latas de tinta para aumentar sua “horta urbana”. Lima exibe com satisfação uma variedade de plantas, composta por mais de 10 ervas comestíveis e al-gumas ornamentais.

Boa parte de seus cultivos está alojada em latas de tintas, pneus, cestas velhas de bicicletas e até um vaso sanitário que iria para o lixo. Tudo recheado com um composto orgânico, produzido em casa: uma mistura de adubo animal, terra e cascas de alimentos.

“Tenho uma rotina muito cor-rida, mas sempre encontro tempo para dedicar às plantas. Como viajo bastante, por vezes passo alguns dias longe, tensa. Mas quando retorno para casa e posso cuidar, é como uma terapia. Sempre tem alguma para fazer, mudar ou trocar de vaso, se não, pinto as latas para as próximas plantas, mexo na com-postagem”, expõe.

“O problema é que as pessoas não entendem que qualquer lixo

jogado nas ruas, nos riachos, nos esgotos vai desaguar no rio”, afirma Domingos César, ambientalista e di-retor de Relações Públicas do Con-selho Municipal de Meio Ambiente (Commam).

Em Imperatriz, a falta de consci-ência ambiental é a principal causa para a inexistência de um ambiente ecologicamente saudável. Um rio sujo, lixo nas ruas, esgotos a céu aberto são alguns dos problemas vi-síveis no cotidiano. “O ambiente eco-lógico de Imperatriz é o mais difícil possível. O problema é que o povo de Imperatriz não tem consciência ambiental, se tivesse não estaria nes-sa situação. A prefeitura tem feito a sua parte”, assevera, Domingos César.

Os vestígios de uma sociedade pouco ecológica são visíveis quan-do deparamos com o maior ponto turístico da cidade, a Beira-Rio, com papéis, plásticos, comidas e outros detrimentos espalhados pelas ruas e calçadas da mesma. A proprietá-ria da Peixaria da Tia, na Beira-Rio,

Elisabeth Taveira, que se mudou de Grajaú para Imperatriz em 1978, quando questionada sobre a água do rio Tocantins declara: “Não é lim-pa. Para consumo é preciso ferver a água e filtrar”. Sobre a Beira-Rio ela opina: “Para mim a Beira-Rio é um ambiente familiar, mas não a consi-dero limpa”.

A situação mais evidente de degradação ambiental encontra-se no rio Tocantins, que conforme garante Domingos César, está com-pletamente contaminado: “O rio é cortado por cinco grandes riachos: o Cacau, Riacho do Meio, Bacuri, Santa Teresa e o Capivara, e todos eles são desrespeitados. Jogam tudo que não presta dentro dos riachos e em função disso em épocas de chu-va eles enchem e alagam a cidade”.

De acordo com o ambientalista, a preservação dos recursos natu-rais depende de cada cidadão que sabendo de sua responsabilidade deve colaborar para que as próxi-mas gerações possam usufruir dos mesmos benefícios.

A reciclagem, um fator im-portante para a preservação de recursos naturais e a carência de informações sobre o tema é visível

quando se interroga moradores da cidade. Gênisis dos Santos Lemos explica que não recicla o lixo “por falta de hábito e orientação”. En-quanto que, o farmacêutico Gabriel Mota confessa: “Não reciclo o lixo, pois não há postos de reciclagem em Imperatriz, não há alternativas”.

Entretanto, o que poucos sabem é que a implementação de postos de reciclagem em Imperatriz já co-meçou, como informou o diretor de Relações Públicas da Commam: “A prefeitura já possui um projeto de lixo seletivo na cidade em parce-ria com a Ascamari (Associação de Catadores de Matérias Recicláveis de Imperatriz), que já está trazendo resultados”, denominado “Reciclan-do Vidas”.

Quando apontado sobre os maiores problemas ambientais de Imperatriz, Domingos César cita: “Jogar lixo nas ruas e nos riachos, derrubar as matas ciliares e a fal-ta de esgotos encanados”. Se cada cidadão sabendo de sua responsa-bilidade de preservar o ambiente contribuísse a situação agravante de Imperatriz seria amenizada.

É preciso mais pessoas como a dona de casa Alcione Almeida que

opta por não jogar sujeira nas ruas. “Procuro sempre manter o lixo em uma sacolinha na bolsa e o descar-tar quando chegar em casa”.

O ambientalista, ainda argumen-ta que a solução para que a popu-lação tenha consciência ambiental é “promover a educação ambiental nas escolas com as crianças”. Sobre educação ambiental, está sendo rea-lizado um Projeto de lei do Senado, nº 221 que busca: “incluir como objetivo fundamental da educação ambiental o estímulo a ações que promovam o uso sustentável dos recursos naturais e a educação am-biental como disciplina específica

Falta de informação é a principal causa dos problemas ambientais de ImperatrizLaura Zacca

Atualmente os veículos, princi-palmente os carros, já contam com sistemas de queima de combustí-veis que liberam menos poluentes. Os carros mais antigos, ainda com carburador, costumam poluir 10 vezes mais.

Para saber se seu veículo é amigo do meio ambiente, o “Nota Verde” do Ibama, um programa desenvolvido para analisar o nível de emissão de poluentes pelos au-tomóveis, disponibiliza um banco de dados com 828 variações de mo-delos de carros no Brasil. Consulte no site: ibama.gov.br/servicoson-line/ctf/publico/sel_marca_mode-lo_rvep.phh

no Ensino Fundamental e Médio”. Além da educação ambiental nas

escolas outra opção para sensibili-zar a população segundo Domingos César: “É um maior esclarecimento na mídia conscientizando as pesso-as e se isso não funcionar a Secreta-ria de Meio Ambiente deveria então punir”. A carência de informação contribui para a falta de conscien-tização ambiental da população local e o desdobramento da atual condição ecológica de Imperatriz. Para que essa situação melhore “é necessário que haja a ação conjunta dos órgãos responsáveis e da popu-lação”, opina o ambientalista.

Lixo nas ruas é um dos problemas ambientais visíveis no cotidiano da população de Imperatriz

Fernanda Barros exibe o hall da casa, decorado com paletes e outras peças reaproveitadas

ISABEL LIMA

Seu carro é sustentável?

LAUDECY BILIO