Art - Tomanary - Metodo Sujeito Único

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    Psicologia em Pesquisa | UFJF | 4(02) | 150-155 | julho-dezembro de 2010

    150Velasco, S.M.; Mijares, M.G & Tomanari, G.Y.

    Fundamentos Metodolgicos da Pesquisa em Anlise Experimental do Comportamento

    Methodological Principles of Research in Experimental Analysis of Behavior

    Saulo Missiaggia VelascoI

    Miriam Garcia-MijaresI

    Gerson Yukio Tomanari I

    O mtodo de pesquisa tendo o sujeito como seu prprio controle uma das marcas da Anlise Experimental doComportamento. Os modos como o analista do comportamento formula perguntas, mensura comportamentos, realizacomparaes experimentais, analisa dados e deriva concluses so relativamente distintos dos mtodos praticados em outroscampos da Psicologia. O objetivo deste trabalho apresentar introdutoriamente as principais caractersticas desse modopeculiar de investigao cientfica, explicitando as relaes que suas estratgias e tticas mantm com um conjunto deconcepes filosfico-conceituais acerca da natureza de seu objeto de estudo, ou seja, o comportamento dos organismos.

    Palavras-chave: Behaviorismo; anlise experimental do comportamento; mtodos de pesquisa; sujeito nico.

    e research method that applies single-subject designs is a hallmark in the Experimental Analysis of Behavior. e waysbehavior analysts state their questions, measure behavior, perform experimental comparisons, analyze data and deriveconclusions are relatively distinct from the methods applied in other fields of Psychology. e goal of the current paper is tosummarize the main features of this peculiar strategy of scientific research, as well as to make explicit the relationships thattheir strategies and tactics maintain with a set of theoretical conceptions regarding the nature of its object of investigation,that is, the behavior of the organisms.

    Keywords: Behaviorism; experimental analysis of behavior; research methods; single-subject design.

    Os mtodos de pesquisa da Anlise Experimentaldo Comportamento, os quais se apiam em uma filosofiada cincia denominada Behaviorismo Radical (Skinner,1945; 1974), refletem a concepo de que o comporta-mento deve ser tomado como um objeto de estudo por elemesmo. Esse compromisso com o estudo direto do com-portamento acompanhado por uma convico de que

    suas variveis controladoras devem ser buscadas no am-biente em que o indivduo se comporta (Baron & Perone,1998). Tal convico, por sua vez, compele o analista docomportamento a formular perguntas experimentais acer-ca dos efeitos da manipulao de variveis ambientais ouestmulos (as variveis independentes) sobre mudanas nocomportamento (a varivel dependente).

    Procedimentos Operante-Livres e Procedimentos

    de Tentativas DiscretasNa investigao de relaes funcionais entre va-

    riveis dependentes e independentes, a tradio de pes-

    Resumo

    Abstract

    quisa em Anlise Experimental do Comportamento secaracteriza, primordialmente, por empregar os denomi-nados procedimentos operante-livres . Quando Skinnerfundou seu programa de pesquisa, na terceira dcadado sculo passado, procedimentos operante-livres sediferenciaram dos procedimentos de tentativas discre-tas que, ento, vigoravam na Psicologia (Perone, 1991;

    Skinner, 1938).Procedimentos operante-livres so aqueles que per-

    mitem que o sujeito se comporte a qualquer momentodurante a sesso experimental, sem sofrer restries doequipamento ou do experimentador (Ferster, 1953).Ou seja, o sujeito tem acesso contnuo ao manipulan-do, podendo responder livremente a qualquer momento.Exemplos de manipulandos comumente usados em pes-quisas comportamentais so alavancas para ratos, discosiluminados para pombos, botes e teclas para humanos.Sem dvida, mover alavancas, bicar discos e pressionarbotes so respostas demasiadamente simples, mas poressa razo, pela simplicidade e facilidade de mensurao,

    I Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo

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    que foram escolhidas. Alm disso, para a Anlise Experi-mental do Comportamento, a forma ou a topografia daresposta pode ser pouco relevante no processo de anli-se de relaes funcionais, pois diferentes topografias deresposta podem compartilhar funes semelhantes. Porexemplo, pedir oralmente ao garom que traga a conta ou

    gesticular com as mos so comportamentos muito dis-tintos na forma, porm semelhantes na funo que am-bos exercem. Tecnicamente falando, dizemos que ambosos comportamentos pertenceriam a uma mesma classede respostas. Outra caracterstica marcante dos procedi-mentos operante-livres que a taxa de resposta (isto ,o nmero de respostas emitidas por unidade de tempo)tende a ser utilizada como a medida primordial do com-portamento (Skinner, 1969).

    A principal concepo subjacente ao uso de pro-cedimentos operante-livres e de taxa de respostas comomedida a de que o comportamento a relao dinmicae contnua do organismo com o ambiente ambienteque, por sua vez, exerce uma ao seletiva sobre o com-portamento, que ento passa a ser chamado de operanteou instrumental (Skinner, 1938; 1953). Portanto, essarelao que dever ser tomada como um objeto de estudoem si mesma (Sidman, 1960), e a freqncia com que elaocorre ao longo do tempo uma de suas caractersticas

    mais gerais e relevantes (Skinner, 1969). Contudo, medi-das auxiliares, como durao e intervalo entre respostas,tambm tm sido utilizadas para responder a especifici-dades de determinadas perguntas experimentais.

    Com relao aos procedimentos de tentativas dis-cretas, estes caracterizam-se por restringir o responder amomentos isolados de observao, seja tirando o sujeitodo equipamento experimental durante os intervalos entretentativas, seja removendo ou desativando o manipulan-do de respostas. Com esse tipo de procedimento, a con-

    tinuidade natural do comportamento interrompida ecada resposta analisada individualmente. Deste modo,o comportamento no mais pode ser medido em termosde taxa de resposta. Em vez disso, empregam-se medi-das como a porcentagem de tentativas em que a respostaocorre e a latncia de emisso da resposta (Perone, 1991).

    A escolha por um dos dois tipos de procedimento

    envolve mais do que uma simples opo metodolgica.

    Diferentes compromissos esto implcitos em cada um

    deles. A opo por procedimentos operante-livres refletea procura de ordem em propriedades dinmicas do com-portamento por meio do isolamento e da manipulaode variveis ambientais ao longo de um contnuo tempo-

    ral. Por outro lado, procedimentos de tentativas discretasenvolvem a noo de que o estudo do comportamentofornece uma medida de processos ou estruturas do orga-nismo que no podem ser estudados diretamente (Pero-ne, 1991). Nesse caso, a interrupo do comportamentono atrapalharia a anlise do processo estudado.

    Os dois tipos de procedimentos tambm se dis-tinguem quanto ao tratamento dado variabilidade nocomportamento. De um ponto de vista metodolgico,a existncia de dados irregulares com o uso de procedi-mentos operante-livres atribuda a variveis externasno programadas. Portanto, a reduo da variabilidade buscada aumentando-se o controle experimental. preciso esclarecer, contudo, que o fato da Anlise Ex-perimental do Comportamento buscar ordem ou re-gularidade no seu objeto de estudo no implica que anatureza do comportamento seja estritamente regular.Em outras palavras, a natureza fluida e varivel do com-portamento, reconhecida em alguns textos skinnerianos(e.g., Skinner, 1953; 1989), sempre ir impor limites nocontrole possvel da variabilidade.

    Com relao aos procedimentos de tentativas dis-cretas, a reduo variabilidade frequentemente trata-da agrupando-se os desempenhos de vrios sujeitos emmdias e realizando-se comparaes estatsticas entre

    os grupos de sujeitos expostos s diferentes condies(i.e., grupo experimental e grupo controle). O objetivodessa anlise revelar se as variaes entre grupos (dife-renas entre as mdias dos diferentes grupos) excedemas variaes intra-grupo (diferenas entre sujeitos deum mesmo grupo). Nos casos em que a variao entregrupos excede a variao intra-grupo com significnciaestatstica, conclui-se que a varivel independente teveum efeito sobre o comportamento dos sujeitos a ela ex-postos (o grupo experimental).

    At princpios do sculo passado, a pesquisa emPsicologia era dominada pelo delineamento estatstico epelo estudo de grupo (Matos, 1990). A principal conse-qncia desse tipo de abordagem que o agrupamentodos dados na forma de desempenhos mdios pode obs-curecer excees no nvel individual, de modo que asmdias do grupo podem no corresponder ao desempe-nho de nenhum indivduo. Alm disso, pesquisadoresque empregam anlises estatsticas devem estar prepara-

    dos para aceitar a presena de diferenas incontrolveisentre sujeitos como uma caracterstica invarivel de seusexperimentos (Baron & Perone, 1998).

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    Delineamento do Sujeito-nico (O Sujeitocomo seu Prprio Controle)

    Em Anlise Experimental do Comportamento, aquesto das diferenas entre sujeitos no comprometea anlise de dados. Ao contrrio, cada sujeito tratado

    como um indivduo particular, distinto de qualquer ou-tro. A busca pelos determinantes funcionais do compor-tamento usando procedimentos operante-livres supe asingularidade do fenmeno estudado e, por isso, o usode delineamentos de sujeito-nico. Alteraes nas re-gularidades do comportamento em termos de suas pro-priedades dinmicas s podem ser observadas subme-tendo-se um sujeito de cada vez a diferentes condiesexperimentais (Matos, 1990). A lgica subjacente a essa

    ttica a de que o comportamento apresentado em umacondio A sirva como controle (linha de base) para seavaliar os efeitos de variveis introduzidas, retiradas oumodificadas em uma outra condio B (delineamento

    A-B). a isso que se refere a expresso usar o sujeitocomo seu prprio controle e por isso que Skinner(1966) afirmou que preferia estudar um sujeito por milhoras a estudar mil sujeitos por uma hora.

    Delineamentos de sujeito-nico requerem, portan-to, que o comportamento de um mesmo indivduo seja

    medido contnua e repetidamente ao longo de cada con-dio at que se obtenha um estado-estvel, ou seja, atque o comportamento de interesse demonstre variaesmnimas de uma observao outra (Sidman, 1960).S ento altera-se a condio em vigor acrescentando--se, removendo-se ou modificando-se o valor da varivelindependente investigada. Como antes, o sujeito man-tido na nova condio at que um novo estado-estvelse estabelea. Essa ttica possibilita a avaliao do efeitocompleto de cada condio sobre o comportamento dosujeito (Johnston & Pennypacker, 1993). Alm disso, aregularidade dos dados ao longo de uma mesma condi-o uma importante medida do controle experimentalalcanado. Quando os dados so pouco estveis, deve-secontinuar buscando formas de aumentar o controle sobreas variveis experimentais e externas a fim de se reduzira variabilidade a um valor mnimo tolervel (i.e., aqueleque capture to somente a variao natural do compor-tamento). S assim que medidas obtidas na condio

    controle podem fornecer uma linha de base confivelpara se avaliar o efeito das manipulaes realizadas nacondio experimental. Em outras palavras, somente se o

    comportamento estvel dentro de cada condio quemudanas estveis entre condies podem ser atribudass manipulaes na varivel independente (Baron & Pe-rone, 1998; Perone, 1991).

    Critrios de Estabilidade

    A despeito da variabilidade intrnseca do com-portamento, estabilidade a essncia do delineamentode sujeito-nico. Portanto, uma importante tarefa doanalista experimental do comportamento o estabeleci-mento de critrios aceitveis para se reconhecer um es-tado como estvel. Existem diversas formas de se definircritrios de estabilidade, mas todas tm em comum atarefa de impor limites sobre a variao sistemtica (ten-

    dncia) e assistemtica dos dados. Um estado-estvel,portanto, deve ser isento, tanto quanto possvel, de ten-dncias e variaes assistemticas (Perone, 1991).

    Tendncias podem ser verificadas ou por inspeovisual de dados dispostos graficamente, observando-se ainexistncia de aumentos ou diminuies nos valores davarivel dependente ao longo de um determinado nme-ro de sesses terminais (normalmente, entre 5 e 10), ouainda pela ausncia de inclinao em uma reta traadaao longo dos dados de tais sesses. J o nvel de variao

    assistemtica tolerada pode ser definido tanto em termosquantitativos (critrios relativos ou absolutos) quanto emtermos no-quantitativos (critrios de tempo fixo ou deinspeo visual). A descrio desses critrios, sumarizadaa seguir, encontra-se detalhadamente discutida em Barone Perone (1998) e Perone (1991).

    Critrios relativos especificam o nvel de variaotolervel em termos da porcentagem mxima de mu-dana permitida entre as sesses terminais de uma mes-ma condio. Por exemplo, consideram-se as 6 ltimassesses de uma determinada fase experimental e calcula--se a mdia da taxa de respostas relativa s 3 primeirase s 3 ltimas sesses, separadamente. A diferena en-tre estas duas mdias dividida pela mdia total das 6sesses. O comportamento julgado estvel se a razoobtida no exceder 5%. Ou seja, a variao mdia dataxa de respostas dentro de cada bloco de 3 sesses deveser suficientemente pequena em relao mdia totalenvolvendo todas as 6 sesses.

    Critrios absolutos estabelecem limites fixos de

    variao tolervel entre sesses. Por exemplo, tomam-seas 6 sesses finais de uma fase experimental, calcula-sea mediana da taxa de respostas nas 3 primeiras e nas 3

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    ltimas sesses e considera-se o comportamento estvelcaso no haja uma diferena de mais do que 2 respostas/min entre as duas medianas.

    Critrios de tempo fixo estabelecem a durao to-tal da condio experimental e o tamanho da amostraque ser considerada como representativa do estado-

    -estvel. Por exemplo, a durao de uma condio podeser fixada em 50 sesses e os dados obtidos nas 5 lti-mas sesses tomados como representativos do estado--estvel. Por um lado, a utilizao de critrios de tempofixo simplifica as decises que o pesquisador deve to-mar durante a conduo do experimento eliminando-sea necessidade dos clculos de ndices de estabilidade;por outro, ao se estabelecer uma durao fixa para cadacondio, exige-se que o pesquisador conhea suficien-temente o processo comportamental sob investigao eantecipe as diferenas individuais ajustando o critriopara acomodar os sujeitos mais lentos (Sidman, 1960).

    Ainda assim, como no h medidas diretas de tendn-cias e variaes assistemticas, no h como garantir queos dados das sesses terminais iro representar, de fato,um estado-estvel. Portanto, no momento da divulga-o do trabalho, recomendado que o pesquisador de-monstre a adequao do critrio adotado, descrevendoos resultados com detalhes suficientes para que o leitor

    possa julgar o nvel de estabilidade realmente alcanado.Critrios de inspeo visual implicam em avalia-es qualitativas de tendncias e variaes assistemticasatravs do exame de dados organizados graficamente.Porque depende de critrios nem sempre claramentedescritos, Sidman (1960) faz duas recomendaes ao seutilizar este mtodo: 1) critrio de inspeo visual deveser restrito ao estudo de variveis que tenham efeitosbvios; 2) os investigadores devem divulgar os critriosusados para julgar a estabilidade dos dados. Alm disso,os resultados tambm devem ser descritos detalhada-

    mente de modo a permitir ao leitor verificar o grau deestabilidade obtido.

    Critrios de estabilidade constituem um elemen-to indispensvel do delineamento de sujeito-nico e,certamente, desempenham um papel essencial no graude controle experimental a ser alcanado e na qualida-de dos dados a serem produzidos. Infelizmente, porm,no h uma receita rgida que determine o melhor cri-trio a ser aplicado em cada caso. A deciso por adotarum ou outro critrio deve, entretanto, ser pautada noconhecimento profundo das variveis sob investiga-o e das especificidades dos sujeitos pesquisados. Dequalquer modo, importante considerar que critrios

    muito flexveis iro tolerar altos nveis de variabilidadeincontrolada, os quais podero obscurecer os efeitos dasoperaes experimentais. Por outro lado, critrios mui-to rgidos podero nunca ser atingidos, o que tambmimpedir a demonstrao de relaes ordenadas entre asvariveis sob investigao.

    Em ltima instncia, um critrio de estabilida-de ser adequado se permitir que pesquisadores sele-cionem um estado do comportamento que possa serreplicado (Sidman, 1960). Considerando que at oscritrios mais rgidos podem ser atingidos ao acaso, areplicao de condies entre e intra sujeitos a chavepara a validao de um critrio de estabilidade (Baron& Perone, 1998; Perone, 1991). O delineamento ex-perimental de uma investigao trata de como estasreplicaes devem ser planejadas.

    Delineamentos Experimentais e ValidadeInterna

    preciso mais do que a verificao de variaesmnimas entre uma mesma condio e de mudanasclaras no desempenho quando as condies so altera-das para se afirmar a existncia de uma relao funcionalentre as operaes experimentais e o comportamento.

    Para se garantir que a manipulao na varivel indepen-dente seja a causa das mudanas observadas na variveldependente, isto , para atestar a validade interna de umexperimento, preciso ainda que as mudanas observa-das sejam replicveis intra-sujeito.

    A ttica tipicamente utilizada de replicao intra--sujeito envolve comparaes entre conjuntos de da-dos coletados ao longo de pelo menos trs condiessucessivas, sendo a primeira diferente da segunda e a

    terceira semelhante primeira (delineamento A-B-A).Inicialmente, observa-se o comportamento do sujeitona condio de linha de base A at se obter um estado--estvel. Em seguida, impe-se a condio experimentalB (inserindo variveis em A ou removendo variveis de

    A). Aps um novo estado-estvel ser alcanado, retorna--se condio A inicial (removendo variveis anterior-mente introduzidas em A ou reinserindo variveis ante-riormente removidas de A) at que o comportamentonovamente se estabilize. Se a replicao da condio Are-estabelecer o padro comportamental inicialmenteobservado em linha de base, ento, as mudanas veri-ficadas na condio B podem ser atribudas manipu-

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    lao da varivel independente e no a fatores externoscoincidentes que atuaram ao longo da passagem dotempo, da exposio repetida aos procedimentos experi-mentais ou de problemas nos instrumentos de coleta dedados (Perone, 1991). Por promover um retorno con-dio de linha de base aps a implementao da condi-

    o experimental, esse tipo de delineamento tambm conhecido como delineamento de reverso.

    Delineamentos de reverso tambm podem en-volver a replicao de um nmero maior de condies,como, por exemplo, em um delineamento A-B-A-B.Quanto maior o nmero de condies replicadas, maisconvincentes as evidncias de que as mudanas com-portamentais verificadas se devem s manipulaes navarivel independente, ou seja, maior a validade internado experimento. Tambm possvel comparar mais deduas condies distintas, sucessivamente, como em umdelineamento A-B-A-C-A, no qual trs diferentes con-dies so comparativamente analisadas; ou, ainda, es-tudar os efeitos combinados de duas ou mais variveis,como em um delineamento A-AB-A, no qual se avalia ainterao entre as condies A e B.

    Os chamados delineamentos paramtricos per-mitem comparar diversos nveis quantitativos de umamesma varivel independente. Nesse caso, os diferentes

    valores da varivel independente so impostos, ao longode sucessivas condies experimentais, em ordem ascen-dente, descendente ou irregular. Replicaes das condi-es em diferentes seqncias informam se os diferentesresultados devem-se s manipulaes paramtricas davarivel independente ou se dependem da seqncia es-pecfica programada, ou mesmo de fatores associados passagem do tempo. Quando a replicao de muitascondies em uma seqncia variada se mostra impra-ticvel, a validade interna de um estudo paramtrico

    pode ser verificada replicando-se pelo menos uma dascondies em uma fase do experimento temporalmentedistante de sua primeira implementao. Finalmente,para minimizar os efeitos de uma condio experimen-tal sobre outra, pode-se introduzir uma mesma condi-o de linha de base entre os diferentes nveis de mani-pulao da varivel independente.

    Os delineamentos de reverso assumem, natu-ralmente, que as mudanas comportamentais imple-

    mentadas so reversveis. Delineamentos de linha debase mltipla, por outro lado, permitem a avaliaode efeitos comportamentais irreversveis. Nesse tipo dedelineamento, dois ou mais comportamentos so ob-

    servados simultaneamente at que cada um atinja umestado-estvel independente. Depois disso, a condioexperimental imposta sobre cada comportamentoem diferentes momentos do experimento. Caso cadacomportamento se altere somente depois de entrar emcontato com a varivel independente, supe-se que tais

    mudanas decorreram das manipulaes experimentaise no da operao de variveis externas associadas pas-sagem do tempo. Esse tipo de delineamento usado,principalmente, em estudos com humanos em situaoteraputica, em que, muitas vezes, h impedimentos ti-cos com relao reverso do tratamento realizado.

    Algumas vezes, manipulaes experimentais re-querem o arranjo de duas ou mais condies em umamesma sesso experimental. Nesses casos, empregam--se os chamados delineamentos de elementos mltiplos,nos quais os efeitos de diferentes variveis so compa-rados quase que simultaneamente. Essa ttica possui avantagem de equalizar os efeitos de variveis indesej-veis ao longo das mltiplas condies analisadas. Mas,por outro lado, deve-se considerar a possibilidade deque ocorram interaes entre os diferentes elementosanalisados simultaneamente.

    Validade Externa

    Apesar do que pode sugerir o nome sujeito--nico, pesquisas em Anlise Experimental do Com-portamento raramente empregam apenas um sujeito. Otermo nico se refere unidade de anlise considera-da, o comportamento do indivduo, e no ao nmerode sujeitos pesquisados, o tamanho da amostra (Perone,1991). Vrios sujeitos podem ser expostos s mesmascondies experimentais e at mesmo a variaes dessascondies, mas o importante que seus dados sejamtratados individualmente. Na verdade, a replicaodos dados em diferentes sujeitos e sob diferentes con-dies que fornece representatividade e generalidade sconcluses de um estudo; em outras palavras, que atestasua validade externa.

    Sidman (1960) apontou duas formas de repli-cao entre sujeitos que promovem a validao exter-na de um estudo. A primeira, chamada de replicaodireta, envolve a repetio de um experimento com

    novos sujeitos, mantendo-se estveis os procedimen-tos e parmetros do experimento original. A segunda,chamada de replicao sistemtica, refere-se repli-cao de uma relao funcional sob circunstncias

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    que diferem daquelas em que a relao foi original-mente observada. Esse tipo de replicao pode envol-ver tanto mudanas nas condies experimentais, nosequipamentos, nas variveis dependentes e indepen-dentes, quanto o emprego de diferentes populaesou espcies de sujeitos.

    Consideraes Finais

    O conjunto de estratgias e tticas que caracteri-zam o mtodo de investigao da Anlise Experimentaldo Comportamento reflete uma clara preocupao como estudo cientfico do comportamento. O mtodo detratamento e anlise de dados, caracterizado por pro-cedimentos operante-livres, dispe unidades comporta-

    mentais (classes de respostas) e ambientais (classes deestmulos) na seqncia temporal em que ocorrem, per-mitindo a visualizao de relaes ordenadas entre taisunidades. Esse tipo de abordagem permite uma anli-se da relao dinmica que o comportamento mantmcom o ambiente e s pode ser levada a cabo delineando--se comparaes entre condies experimentais tendo osujeito como o seu prprio controle.

    O controle experimental sobre as variveis in-dependentes e externas verificado pela ausncia de

    tendncias e variaes assistemticas ao longo de cadacondio (estado-estvel), o que permite avaliar o efeitode cada uma delas sobre o comportamento. Decisessobre estabilidade so baseadas em critrios que estabe-lecem os limites de variao sistemtica e assistemticatolerados ao longo de uma mesma condio. Evidn-cias convincentes de que as mudanas verificadas nocomportamento so, de fato, funo das manipulaesna varivel independente (validade interna) requerem,portanto, variaes mnimas em uma mesma condio,

    mudanas sistemticas ao longo de diferentes condi-es, alm de replicaes de condies em um mesmosujeito. Um vez que cada indivduo exposto a diversosnveis da varivel independente, somente replicaespermitem dissociar seus efeitos daqueles exercidos porvariveis externas relacionadas passagem do tempo oua repetidas exposies ao procedimento. Finalmente, abusca por reproduzir as relaes funcionais observadasem diferentes indivduos e populaes, sob diferentescondies experimentais e com diferentes classes de res-postas, permite que se acesse a generalidade dos dadosproduzidos atestando a validade externa do estudo.

    Referncias

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    Endereo para correspondncia:Gerson Yukio TomanariInstituto de Psicologia, USP

    Av. Prof. Mello Moraes, 1721So Paulo, SP 05508-030E-mail: [email protected]

    Recebido em Julho de 2010

    Revisto em Setembro de 2010

    Aceito em Outubro de 2010