Artigo equina 33 jan fev-2011
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Roberto Arruda deSouza Lima
Engenheiro agrônomo,Doutor em
Economia Aplicada,Prof. da ESALQ/USP,
Pesquisador do [email protected]
Carlos Andrés OñateParedes
Mestre em EconomiaAplicada ESALQ/USP
O financiamento para as atividades agropecuáriasé uma das atividades mais complexas entre as diversasmodalidades de crédito. E os problemas surgem sobvárias perspectivas. Para quem necessita dos recur-sos, o agropecuarista, há fortes limitações quanto aosencargos que pode arcar, pois, em geral, as atividadesrurais apresentam baixa rentabilidade, limitando a ca-pacidade de pagamento. Some-se a esta restrição, adificuldade de acesso aos empréstimos formais, essen-cialmente conseqüência dos problemas que os credo-res, reais ou potenciais, enfrentam. Emprestar recursospara atividades rurais é uma operação cara decorrentedos chamados custos de transação. Estes custos en-globam os esforços de identificar tomadores de recur-sos com maior probabilidade de adimplência, monito-rar os financiamentos (para assegurar o uso corretodos recursos, evitando desvios ou redução na capaci-dade de pagamento), além da cobrança, amigável oulitigiosa (que muitas vezes pode representar, também,execução de garantias). Adicione-se a este problema ofato de que o tomador dos recursos possui mais (emelhores) informações sobre a probabilidade deinadimplência que o seu credor. Este quadro implicaem racionamento de crédito, ou seja, há mais pessoasinteressadas em obter financiamento para atividadesagropecuárias do que recursos disponíveis para serememprestados.
Uma das conseqüências dos problemas citados noparágrafo anterior é que poucos agentes atuam nomercado de crédito rural, concentrando as operaçõesem bancos oficiais (basicamente, Banco do Brasil).Entretanto, observa-se que, cada dia mais, cooperati-vas de crédito tem conquistado fatia mais representati-va do mercado. Hoje, mais de 10% dos financiamentosrurais são realizados através de cooperativas. Assim,justifica-se conhecermos um pouco mais desse seg-mento.
O financiamento do agronegócioatravés de Cooperativas de Crédito
Figura 1Brasil: Evoluçãodo volume de créditoconcedido pelascooperativas decrédito rural noBrasil, em milhõesde Reais
Dados do Banco Central do Brasil (BACEN) mos-tram que existiam, em agosto de 2010, 1.382 cooperati-vas de crédito no Brasil, das quais 327 classificadascomo cooperativas de crédito rural (23,7%). Estas ins-tituições têm mostrado um aumento significativo novolume de crédito oferecido no período 1999 - 2009,atingindo crescimento médio anual de 29,7%.
As cooperativas de crédito são entidades que ofe-recem serviços bancários, mas que, em geral, propor-cionam melhores condições no preço dos serviços fi-nanceiros e nas remunerações de capital, além de apre-sentar uma elevada importância na colaboração com odesenvolvimento dos associados. No segmento agro-pecuário existem dois tipos de cooperativas: financei-ras (de crédito) e agrícolas (de produção). As primei-ras realizam intermediação financeira, enquanto queas cooperativas de produção concentram-se em servi-ços agrícolas e pecuários, mas também podem forne-cer crédito. A principal fonte de financiamento das co-operativas de crédito são os recursos oficiais de crédi-to, emprestados para os agropecuaristas realizaremseus investimentos e custeio de produção. Como cons-tituem um sistema de crédito mais descentralizado ehorizontal, as cooperativas de crédito representam ummecanismo que ajuda no aumento da capilaridade dosistema de empréstimos e financiamentos, além de pos-suírem maior facilidade para a análise individual dosempréstimos concedidos aos cooperados, tendo umrisco de default (inadimplência) menor e, portanto, atin-gido um equilíbrio entre a oferta e demanda de emprés-timos que diminui o racionamento de crédito no mer-cado.
O sistema cooperativista de crédito brasileiro écomposto por cooperativas singulares, centrais e con-federações. As singulares, conhecidas como entida-des de 1º grau, prestam serviços diretamente aos as-sociados e são constituídas por um mínimo de 20 pes-soas físicas. As centrais, também conhecidas comoentidades de 2º grau, têm uma atuação marcante naárea operacional, na industrialização, armazenamento,transporte e venda dos produtos das filiadas, e nocaso das cooperativas de crédito, a assistência finan-ceira e a centralização financeira; entanto que as con-federações que também são chamadas de entidadesde 3º grau, estão constituídas por centrais e têm porobjetivo orientar e coordenar as atividades das filia-das. No Brasil, a única confederação classificada comoinstituição financeira é a UNICRED BRASIL. As ou-tras três confederações – SICOOB BRASIL, SICREDIe a Confederação Brasileira das Cooperativas de Cré-dito (CONFEBRÁS) – atuam como entidades de repre-sentação política e prestação de serviços às coopera-tivas filiadas.
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As cooperativas dividem-se em três blo-cos: i) vertical, ii) horizontal e iii) indepen-dente. O vertical caracteriza-se pela estru-tura piramidal, com as cooperativas singu-lares na base, as centrais na zona intermé-dia e as confederações no topo. O perfilhorizontal representa redes de cooperativassolidárias, urbanas ou rurais, organizadassob forma radial, com várias singulares vin-culadas a uma cooperativa central. O blocoindependente é composto por cooperativasque possuem estrutura de primeiro nível.
Segundo BACEN (2010c), em agosto2010 registraram-se 1382 cooperativas decrédito no Brasil, cuja classificação é mos-trada na Tabela 1. Observa-se que as coo-perativas de crédito mútuo/empregados sãoas instituições com maior representaçãodentro do total do sistema (36,5%). No en-tanto, as cooperativas de crédito rural têmuma contribuição importante, alcançando23,7% do total.
Em relação ao número de cooperados, oaumento tem sido constante. No período de2001 a 2008, apresentado na Figura 2, hou-ve um crescimento anual médio de 17% nonúmero de associados, tendo os incremen-tos porcentuais mais importantes nos anos2005 e 2007 e 2009 (24%, 21% e 20% respec-tivamente). Destaca-se que grande parte dosassociados não são usuários de todos osserviços ofertados pelas cooperativas decrédito, mas tão-somente detentores de ca-pital social.
A menor estrutura física e de pessoaldas cooperativas permite a cobrança de ju-
ros abaixo do praticado pelos bancos. Estu-dos acadêmicos já verificaram que isto real-mente ocorre na prática. Por exemplo, Bialoskor-ski Neto e Balieiro (2001) verificaram que emjulho de 1999 as taxas de juros aplicadas pelascooperativas de crédito foram 7.58% mais bai-xas que as taxas de juros cobradas pelos ban-cos do Estado de São Paulo. Estes autores afir-maram que o diferencial de taxas de juros entreos bancos comerciais e as cooperativas de cré-dito pode implicar em benefícios para a socie-dade, pois os cooperados poderiam poupar estedinheiro ou investi-lo na economia de uma de-terminada região.
Algumas características específicas das co-operativas de crédito agropecuário têm sidoutilizadas para explicar a razão de terem custosmais baixos que a média do mercado financei-
ro. A primeira dessas características resi-de no fato das cooperativas de créditoproverem serviço de intermediação finan-ceira em nível local. Assim, os seus mem-bros poupam custos de transação signi-ficativos, já que de outra forma estes pro-dutores deveriam gastar tempo e dinhei-ro viajando aos principais centros urba-nos onde estão localizadas as agênciasdos bancos. Note que a dispersão geo-gráfica dos produtores agropecuários éum fator que dificulta a coleta de infor-mações do perfil tecnológico e a reputa-ção do produtor, sendo as cooperativasde crédito e os agentes não financeiros(como fornecedores de insumos e com-pradores de produtos agrícolas) as enti-dades que, pelo fato de terem um maiorcontato com o setor produtivo, geralmen-te incorrem em menores custos para ob-ter informações dos seus associados eclientes.
Outra característica importante refe-re-se à familiaridade que existe entre osfuncionários da instituição e os associ-ados. Esta relação é determinante no mo-mento da avaliação dos créditos solici-tados, pois a característica de familiari-dade ajuda à cooperativa obter referên-cias ou informações mais precisas queas coletadas por outras instituições fi-nanceiras.
Quando a cooperativa de crédito di-minui a assimetria de informação comseus associados, pode ofertar produtosde crédito com menores custos de tran-sação, já que tendo um conhecimentoantecipado da confiabilidade dos deve-dores, o risco de inadimplência diminui-ria e a rentabilidade da instituição esta-ria garantida.
Figura 2 - Brasil: Quantidade de cooperados no Brasil (milhões de pessoas)
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Tabela 1 - Brasil: Classificação das Cooperativas de Crédito por tipo, em agosto de 2010
Tipo de Cooperativa Quantidade Participação
Confederação 1 0,1%
Cooperativas Centrais 38 2,7%
Crédito Rural 327 23,7%
Crédito Mútuo / Atividade Profissional 192 13,9%
Crédito Mútuo / Empregados 505 36,5%
Crédito Mútuo / Vínculo Patronal 45 3,3%
Crédito Mútuo / Empreendedores - Micros e Pequenos 30 2,2%
Crédito Mútuo / Livre Admissão - até 300 mil habitantes 164 11,9%
Crédito Mútuo / Livre Admissão - de 300 mil a 750 mil habitantes 39 2,8%
Crédito Mútuo / Livre Admissão - de 750 mil a 2 milhões habitantes 15 1,1%
Crédito Mútuo / Origens Diversas 17 1,2%
Luzzatti 9 0,7%
TOTAL 1.382 100,0%
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