(Artigo) Limites Éticos, por Rivaldo Chinem

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Acessível em http://www.megabrasil.com.br/NovoJCC/MateriaCompleta.aspx?idMateria=23580 em 23mar15, às 09h11

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Limites éticos Rivaldo Chinem 19/3/2015 09:00:00

Flávio Canalonga, parceiro de inúmeras reportagens, fotógrafo dos melhores, sempre dizia que gostava do pessoal novo no jornalismo porque eles traziam ânimo para os mais experientes. Perguntado em uma palestra se sou favorável ou contra o fato de alguns profissionais da área se passar por outra pessoa na busca pela informação, se isso era ou não ético, tive de responder de forma cruel aos ouvidos atentos daquela plateia de novatos ou pretensos e futuros profissionais da mídia. Respondi que na busca pela verdade valia tudo. Mesmo mentir? - insistiu outro estudante.

Como o espírito crítico norteia a vida e a cabeça dos jovens que tanto encantavam meu amigo Canalonga, dei o exemplo de uma pessoa a quem fui encarregado de entrevistar, um torturador confesso, que havia colocado no pau família inteira de operários sob acusação de uma fábrica de tratores de terem desviado material. A mãe dos rapazes suspeitos, ela mesma submetida à longa sessão de choques elétricos e de pauladas, havia descrito como agia este policial, truculento e sádico. Fui à delegacia onde ele estava lotado. Esperei horas. Quando chegou, me identifiquei como religioso, não podia dizer em meio àquela multidão que passava nos corredores escuros que era repórter, caso contrário nem seria atendido. Visivelmente nervoso, pedi calma e apontei o banco para que se sentasse ao meu lado. Disse que havíamos feito oração em seu nome, que a “comunidade religiosa” estava preocupada com suas atitudes agressivas e ferozes, que ele nunca seria perdoado, mas que eu mesmo faria sua absolvição, caso ele confessasse para mim que havia torturado. Ele confessou. Foi manchete na última página do jornal, que em muitas bancas, por iniciativa dos jornaleiros, se transformou em primeira página. Soube por um advogado que militava na área de direitos humanos que o meu entrevistado cursava Direito à noite e que nunca havia revelado sua profissão para os colegas. Ao entrar na classe, todos o esperavam com o jornal na mão. Ele foi embora da faculdade e nunca mais voltou. Anos mais tarde me contaram que o torturador concluiu o curso.

Não sei se a atenta plateia de jovens estudantes se convenceu do que afirmei, que vale tudo na busca da notícia, mas hoje, passadas tantas décadas do fato relatado, não sei se faria da forma que fiz, mas sei que corria o risco de voltar para a redação sem a notícia e ouvir a ordem do meu chefe: “se vira”.

Rivaldo Chinem é autor vários livros, como “Terror Policial” com Tim Lopes (Global), Sentença – Padres e Posseiros do Araguaia” (Paz e Terra), “Imprensa Alternativa – Jornalismo de Oposição e Inovação” (Ática), “Comunicação Corporativa” (Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro), “Marketing e Divulgação da Pequena Empresa” (Senac) na 5ª.edição, “Assessoria de Imprensa – como fazer” (Summus) na 3ª. Edição, “Jornalismo de Guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet” editora Disal, , “Comunicação empresarial – teoria e o dia-a-dia das Assessorias de Comunicação” , editora Horizonte, “Introdução à comunicação empresarial”, editora Saraiva, “Comunicação Corporativa” editora Escala com prefácio de Heródoto Barbeiro ; e "Comunicação empresarial - uma nova visão da empresa moderna" (Discovery Publicações).