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www.kol-shofar.org AS MULHERES E O SEU PAPEL NA ASSEMBLEIA DOS CRENTES Génesis 1:26-28 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. (27) Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (28) Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. O que nos interessa reter desta importante passagem para o tema em análise neste estudo é que quando Deus nos diz que fez “o homem à Sua imagem”, isso significa, não que tenha criado o género masculino à Sua imagem mas sim que criou a humanidade à Sua imagem. O termo traduzido por “homem” na passagem acima é o termo “Adam” ou “Adão” uma vez transliterado para Português. Poder-se-ia pensar que teria sido de facto o homem Adão que teria sido criado à imagem e semelhança de Deus e não a sua mulher Chava (Eva). Porém, o termo “Adam” não só é usado para designar o primeiro homem da narrativa bíblica como significa humanidade de uma maneira geral. Na passagem acima é claramente este o seu significado, pois: Ao criar o homem (Adam), Deus diz: “Criou, pois, Deus o homem (Adam) à sua imagem … homem e mulher os criou.” – O homem é então uma designação genérica para humanidade, humanidade essa composta por elementos de ambos os sexos – homens e mulheres. Adicionalmente, ser criado à imagem e semelhança de Deus, implica frutificar e multiplicar-se, ou seja, gerar vida (algo do domínio Divino) e exercer domínio sobre a criação de Deus (v.28). Atendendo a que a mulher é criada como a ajudadora do homem (Gén.2:18), e que um homem não se consegue reproduzir sem uma mulher, ser imagem e semelhança de Deus é algo que o homem não consegue sem ser com a ajuda de uma mulher. “Então Deus os abençoou” indica claramente também que a bênção de Deus veio sobre ambos – homem e mulher – indistintamente. Daqui retiramos que nem o homem nem a mulher sozinhos conseguem levar a cabo o propósito de Deus de sermos os seus representantes – a Sua imagem e semelhança – à face da Terra. Significa também que, quer os homens quer as mulheres, partilham igualmente a responsabilidade de serem portadores da Sua imagem, imagem essa que, no entanto, apenas se atinge mediante a união de um homem a uma mulher.

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AS MULHERES E O SEU PAPEL NA ASSEMBLEIA DOS CRENTES

Génesis 1:26-28 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra. (27) Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (28) Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

O que nos interessa reter desta importante passagem para o tema em análise neste estudo é que quando Deus nos diz que fez “o homem à Sua imagem”, isso significa, não que tenha criado o género masculino à Sua imagem mas sim que criou a humanidade à Sua imagem. O termo traduzido por “homem” na passagem acima é o termo “Adam” ou “Adão” uma vez transliterado para Português. Poder-se-ia pensar que teria sido de facto o homem Adão que teria sido criado à imagem e semelhança de Deus e não a sua mulher Chava (Eva). Porém, o termo “Adam” não só é usado para designar o primeiro homem da narrativa bíblica como significa humanidade de uma maneira geral. Na passagem acima é claramente este o seu significado, pois:

• Ao criar o homem (Adam), Deus diz: “Criou, pois, Deus o homem (Adam) à sua imagem … homem e mulher os criou.” – O homem é então uma designação genérica para humanidade, humanidade essa composta por elementos de ambos os sexos – homens e mulheres.

• Adicionalmente, ser criado à imagem e semelhança de Deus, implica frutificar e multiplicar-se, ou seja, gerar vida (algo do domínio Divino) e exercer domínio sobre a criação de Deus (v.28). Atendendo a que a mulher é criada como a ajudadora do homem (Gén.2:18), e que um homem não se consegue reproduzir sem uma mulher, ser imagem e semelhança de Deus é algo que o homem não consegue sem ser com a ajuda de uma mulher.

• “Então Deus os abençoou” indica claramente também que a bênção de Deus veio sobre ambos – homem e mulher – indistintamente.

Daqui retiramos que nem o homem nem a mulher sozinhos conseguem levar a cabo o propósito de Deus de sermos os seus representantes – a Sua imagem e semelhança – à face da Terra. Significa também que, quer os homens quer as mulheres, partilham igualmente a responsabilidade de serem portadores da Sua imagem, imagem essa que, no entanto, apenas se atinge mediante a união de um homem a uma mulher.

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Génesis 2:24 Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.

Até mesmo o acto de a mulher ser descrita em Gén.2:18 como a adjutora do homem (Heb: ezer) pressupõe que a sua posição em relação ao homem é uma de força e não de fraqueza ou inferioridade. Ela é afinal alguém que é capaz de ajudar o homem em algo que ele não é capaz de fazer sozinho – ser a imagem e semelhança de YHWH. O Pecado Sem entrar em grandes pormenores, importa, no entanto, tecer algumas considerações acerca do que aconteceu após a chamada queda do homem, queda essa para a qual a mulher teve um papel decisivo.

Génesis 3:6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.

Importa aqui entender que, de acordo com o entendimento do apóstolo Paulo, Eva foi, de facto enganada pela Serpente, mas o mesmo não se passou com Adão.

1Timóteo 2:14 E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.

Mais uma vez não vamos tecer grandes considerações sobre o que se terá passado mas apenas analisar brevemente a consequência:

Génesis 3:16 E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.

Convém esclarecer que a dor que a mulher doravante sentiria no acto de dar à luz, não é uma maldição de Deus. Na sequência deste episódio Deus apenas amaldiçoa a Terra e a Serpente. Podemos considerar que a dor sentida pela mulher no parto bem como o esforço que Adão sentiria ao trabalhar a terra (coisas que até aí e para ambos eram feitas com prazer) seriam apenas as consequências inevitáveis da sua rebeldia para com Deus. Mas olhemos para a última frase acima: “o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.”

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A palavra “desejo” é a palavra Hebraica teshuqah que aparece três vezes apenas nas Escrituras Hebraicas (vulgo Antigo Testamento) – em Gén 3:6; 4:7 e Cant.Sal.7:11. Enquanto que em Cantares de Salomão este termo é uma provável referência a desejo sexual, a sua ocorrência em Génesis 4:7 (em que Deus fala com Caim) é-nos muito informativa pois não só se encontra em grande proximidade ao texto que estamos a analisar como a sua estrutura é idêntica. Vejamos: Gén. 3:16 …o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.

Gén. 4:7 …se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.

A palavra “desejo” significa domínio ou controlo. Ou seja, nesta segunda passagem, o pecado procuraria controlar, dominar Caim. No entanto, é-lhe dada a admoestação de que ele o deve dominar (Heb: mashal) no sentido de subjugar ou conquistar. Com este esclarecimento podemos mais claramente entender Gén.3:16 da seguinte forma:

…procurarás dominar o teu marido mas ele te subjugará. Como procurará a mulher dominar o seu marido? Claramente não através da força física pois aí claramente está em desvantagem. Pedro concorda:

1Pedro 3:7 Igualmente vós, maridos, vivei com elas [vossas mulheres] com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil…

Portanto, claramente, não seria pela força que a mulher tentaria controlar o homem mas por outros meios que não cabem no âmbito deste trabalho analisar. Sejam eles quais forem, a realidade será que a última palavra caberá sempre aos maridos – ele te dominará/subjugará – provavelmente devido à sua superior força física. A Submissão A situação acima descrita é a situação genérica que prevaleceria depois da queda – a mulher a tentar dominar o homem e este a fazer a sua própria vontade. Não é por acaso que a expressão “Guerra dos sexos” se popularizou. Não é por acaso também que a maior parte das recomendações que encontramos nos Escritos Apostólicos (vulgo Novo Testamento) vão precisamente ao encontro desta situação:

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Efésios 5:25 Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela. Efésios 5:28-29 Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. (29) Pois nunca ninguém aborreceu a sua própria carne, antes a nutre e preza, como também Cristo à igreja;

O paralelismo com o que Yeshua fez pela sua noiva, dando a sua vida por ela, é por demais evidente e explorado pelo apóstolo. Isto não significa, porém, que Yeshua tenha abdicado de ser “O Cabeça”, i.e. de deter a autoridade sobre todo o corpo que é a igreja. Isto implica colocar os interesses e bem-estar das mulheres a par (nalguns casos mesmo à frente) dos seus próprios interesses. Não fazer a sua própria vontade negligenciando a da sua mulher como seria a sua condição natural após a queda mas sim aniquilar-se a si próprio se necessário for para zelar pelo bem-estar da sua mulher1. O exemplo extremo é Yeshua a dar a sua vida pela da Sua noiva. No que toca às mulheres:

Colossenses 3:18 Vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor. Efésios 5:22 Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Efésios 5:24 Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos. 1Pedro 3:1 Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos… 1Pedro 3:5 …as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam submissas a seus maridos;

À tendência dominante da mulher Deus recomenda precisamente o contrário – submissão ao marido. Este tipo de atitudes é contrário à nossa natureza carnal. Em muitas mulheres, mesmo crentes, existe total repulsa e indignação à ideia de se submeterem a um homem, mesmo ao seu próprio marido. 1 Há que ler o contexto. Isto não implica que o homem se transforme no capacho da mulher, satisfazendo os seus mais pequenos caprichos. Implica sim, como marido, i.e., na qualidade de protector da sua mulher, estar disposto até mesmo ao derradeiro sacrifício por ela, sem nunca abdicar da sua posição de autoridade e liderança do casal.

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Mas o que se entende por submissão? Convém notar que em lado algum nas Escrituras é dito que compete ao marido assegurar que a sua mulher se lhe submete. De forma alguma. A submissão tem de ser de livre e espontânea vontade e nunca através de coação ou não seria submissão mas sim subjugação. A mulher é exortada a submeter-se livremente ao seu marido sabendo que ao fazê-lo está a cumprir os desígnios de Deus, manifestando no seu casamento o modelo entre Deus e a Sua igreja. Na realidade, a submissão acaba por ser mútua pois nunca nenhuma relação de amor é sem submissão de parte a parte. Ao serem exortados a colocar o bem estar das suas esposas a par do seu próprio, os maridos estão a ser exortados a se submeterem de certa forma, também, às necessidades das suas mulheres2. Uma vez mais, o melhor exemplo disto é o próprio Yeshua. No entanto, a decisão final em qualquer assunto deverá ser da competência do marido e a mulher é exortada a respeitar livremente essa hierarquia. Isto não significa que um assunto não possa e deva ser discutido e decidido a dois mas a decisão final, a que deve contar, deve ser a do marido como cabeça do casal, sobretudo em casos de divergência de opinião. O termo “submissão” é esclarecedor. O termo grego é hupotasso que é composto de duas palavras: hupo que significa “debaixo de…” e tasso que significa “pôr em ordem”. Assim hupotasso traduz a ideia de livre e espontaneamente nos colocarmos debaixo da autoridade de alguém. Convém salientar que nada disto implica que a mulher se submeta a um marido abusivo, infiel ou imoral. O que aqui é enunciado é a regra destinada ao povo de Deus em que os maridos não devem ser nenhuma dessas coisas. As excepções apenas confirmam a regra. Convém ainda salientar que o acto de submissão a que a mulher é exortada, é dirigido apenas e só ao seu marido, não a qualquer outro homem. Tito é bem claro quanto a isso:

Tito 2:3-5 as mulheres idosas, semelhantemente, que sejam reverentes no seu viver, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras do bem, (4) para que ensinem as mulheres novas a amarem aos seus maridos e filhos, (5) a serem moderadas, castas, operosas donas de casa, bondosas, submissas3 a seus maridos, para que a palavra de Deus não seja blasfemada.

2 Atenção ao contexto – ver nota anterior. 3 Algumas traduções dizem “sujeitas” mas o significado é o mesmo.

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Note-se que de acordo com a carta de Paulo a Tito, uma mulher que não seja submissa a seu marido, desonra a Palavra de Deus. Isto porque subverte a imagem de submissão que a própria Palavra de Deus exige das mulheres por forma a transmitir a imagem do relacionamento entre Deus e o Seu povo. Numa passagem que analisaremos mais à frente, Paulo diz também:

1Timóteo 2:12 Pois não permito que a mulher… tenha domínio sobre o homem4…

Se de facto entendermos que a submissão da mulher ao seu marido – aliás o casamento de uma maneira geral – procura espelhar a relação submissa dos crentes para com o seu noivo Yeshua, tudo se torna de mais fácil compreensão. É isto mesmo que Paulo nos diz:

Efésios 5:25-33 Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, (26) a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, (27) para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. (28) Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. (29) Pois nunca ninguém aborreceu a sua própria carne, antes a nutre e preza, como também Cristo à igreja; (30) porque somos membros do seu corpo. (31) Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne. (32) Grande é este mistério, mas eu falo em referência a Cristo e à igreja. (33) Todavia também vós, cada um de per si, assim ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie a seu marido.

Não cabe na cabeça de ninguém que no casamento entre Deus e o Seu povo Israel, seja a noiva a ditar as regras. É por isso que no pedido de casamento no Sinai, Deus expressa-se da seguinte forma:

Êxodo 19:5-6 Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; (6) e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.

O que Deus aqui exige do Seu povo é a sua submissão voluntária à Sua vontade, i.e. aos Seus mandamentos e estatutos. O que Paulo nos diz acima é que o casamento terreno entre um homem e uma mulher mais não deve ser do que um modelo do casamento celestial entre Deus e o Seu povo.

4 Algumas traduções dizem “sobre o marido” pois a palavra grega para homem (tal como a hebraica) também significam marido.

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É por isto mesmo que nos versículos que antecedem a passagem de Efésios acima transcrita, Paulo nos diz:

Efésios 5:22-24 Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; (23) porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. (24) Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos.

Entenda-se “cabeça” nesta passagem como sinónimo de autoridade. Sempre que isto não acontece, este modelo é desvirtuado. A imagem de Deus que só pode ser transmitida pela união entre um homem e uma mulher é alterada e passamos a transmitir uma imagem diferente. Ao transmitir uma falsa imagem – diferente e até oposta àquela que Deus pretende – estamos a idolatrar, i.e. a seguir um caminho desvirtuado pelo inimigo. Este mesmo raciocínio é reiterado por Paulo na primeira carta aos Coríntios:

1Coríntios 11:3 Quero porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, o homem a cabeça da mulher5, e Deus a cabeça de Cristo.

Mas apesar de tudo isto este modelo não passa disso mesmo – um modelo – com as suas insuficiências. O marido nunca poderá ser o salvador da sua mulher, como O Messias é. Da mesma forma, nunca poderá o marido exigir da mulher o mesmo nível de submissão que O Messias exige, uma vez que O Messias é perfeito mas o marido não. O modelo tem, portanto, limitações, mas ainda assim Paulo exorta a mulher a submeter-se ao seu marido da mesma forma que a igreja se submete a Yeshua. Esta submissão, no entanto, não deve ser equacionada com obediência estrita e cega. Como já dissemos, numa relação de amor, como deve ser a de um marido com sua mulher, existe submissão mútua. Mesmo nesta passagem de Efésios 5 é-nos dito isso mesmo. Esta passagem começa no versículo 18. Podemos considerar que a estrutura desta passagem é a que de seguida se apresenta:

Efésios 5:18 …enchei-vos do Espírito Como?

19 falando entre vós… 20 dando graças a Deus… 21 sujeitando-vos uns aos outros… Como?

22 mulheres aos vossos maridos…

5 Entenda-se “homem” nesta passagem no sentido de “marido”, conforme acontece na passagem aos Efésios.

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25 maridos às vossas mulheres (amando-as e dando a vossa vida por elas).

Na realidade podemos dizer que o zelo de um marido pela sua esposa pode ter consequências superiores ao da esposa pelo marido uma vez que é equacionado com o sacrifício de Yeshua – dar a sua vida por ela. Na verdade, no que toca à relação de Yeshua com a sua noiva, ele cometeu o derradeiro sacrifício por ela. À noiva não é pedido nada de tão dramático – embora também lhe seja pedida a sua vida6. Em todos os Escritos Apostólicos não encontramos uma única passagem que diga que uma mulher deve obedecer ao seu marido, ao contrário do que acontece com os filhos em relação aos pais (Col.3:20) e com os servos em relação aos seus senhores (Col.3:22). Encontramos sim várias a exortar à submissão. Enquanto que, no mundo Greco-Romano, as mulheres eram equiparadas a crianças e a escravos7, a Palavra de Deus não faz isso. Antes retrata-as numa posição de amor, lado a lado com os seus maridos, cada um, no entanto, com o seu papel e função no que toca a retratar o modelo do casamento de Deus com a Sua noiva. Por isso mesmo, sempre debaixo de uma relação de autoridade estabelecida pelo próprio Deus e em consonância com o ensinamento das Escrituras:

1Pedro 3:1-7 Semelhantemente vós, mulheres, sede submissas a vossos maridos; para que também, se alguns deles não obedecem à palavra, sejam ganhos sem palavra pelo procedimento de suas mulheres, (2) considerando a vossa vida casta, em temor. (3) O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos, (4) mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, que és, para que permaneçam as coisas (5) Porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam submissas a seus maridos; (6) como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, se fazeis o bem e não temeis nenhum espanto. (7) Igualmente vós, maridos, vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações.

Esta submissão mútua é, afinal, aquilo que Deus exige de todos nós:

Mateus 20:26 …todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal.

6 No sentido de passar a viver de acordo com os preceitos de Deus – a Sua Lei. Isto significa submeter-se voluntariamente à vontade do seu esposo. 7 Aristóteles considerava as mulheres como cidadãos de segunda categoria – algures entre escravos e homens livres.

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Debaixo da Autoridade Masculina Desde o início que nas Escrituras a mulher está debaixo da guarda de um ente masculino. Inicialmente o pai (podendo ser também um irmão em caso da morte do pai) e mais tarde o seu marido. Em toda a sua vida a sua cobertura (um conceito habitualmente não falado nas igrejas hoje em dia mas que representa autoridade) é um familiar masculino. É a este homem que compete protegê-la, guardá-la e cuidar dela. A Torá apresenta este conceito claramente, por exemplo na seguinte passagem:

Números 30:3-8 Também quando uma mulher, na sua mocidade, estando ainda na casa de seu pai, fizer voto ao Senhor, e com obrigação se ligar, (4) e seu pai souber do seu voto e da obrigação com que se ligou, e se calar para com ela, então todos os seus votos serão válidos, e toda a obrigação com que se ligou será válida. (5) Mas se seu pai lho vedar no dia em que o souber, todos os seus votos e as suas obrigações, com que se tiver ligado, deixarão de ser válidos; e o Senhor lhe perdoará, porquanto seu pai lhos vedou. (6) Se ela se casar enquanto ainda estiverem sobre ela os seus votos ou o dito irreflectido dos seus lábios, com que se tiver obrigado, (7) e seu marido o souber e se calar para com ela no dia em que o souber, os votos dela serão válidos; e as obrigações com que se ligou serão válidas. (8) Mas se seu marido lho vedar no dia em que o souber, anulará o voto que estiver sobre ela, como também o dito irreflectido dos seus lábios, com que se tiver obrigado; e o senhor lhe perdoará.

Quando um pai ou marido têm o poder para anular um voto feito pela sua filha ou mulher isto claramente denota a sua autoridade sobre ela. Note-se que o mesmo não é dito a respeito de um filho. É possível que o motivo pelo qual a Torá nada diz acerca dos filhos varões seja porque eles, nessa qualidade, estão desde cedo a ser educados e treinados para um dia assumirem eles o papel de cabeça de casal. Isto demonstra que, no que toca a assuntos espirituais, como votos a Deus, é o pai ou o marido que detêm a autoridade, não a mulher. Note-se que logo no versículo seguinte, o mesmo não se aplica no caso de mulheres viúvas ou divorciadas, porque nestes casos estas mulheres não terão sobre si uma cobertura (autoridade) masculina:

Números 30:9 No tocante ao voto de uma viúva ou de uma repudiada, tudo com que se obrigar ser-lhe-á válido.

A passagem que por excelência define casamento é a seguinte:

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Génesis 2:24 Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.

Muito poderia ser dito acerca desta pequena frase mas para efeitos do nosso estudo note-se apenas que a directiva de deixar pai e mãe é dada ao homem apenas. Obviamente a noiva também acaba por deixar o seu pai e a sua mãe, mas a iniciativa não é sua mas do seu pai – algo que é corroborado pelo modelo milenar dos povos, segundo o qual cabe ao jovem pedir a mão da noiva ao pai desta. Nos Escritos Apostólicos, por várias vezes encontramos a frase “casar e dar em casamento”8 para descrever o matrimónio. Obviamente o termo “casar” é dito em relação ao noivo e “dar em casamento” em relação à noiva, pois esta permanece sob a guarda de seu pai – sob a cobertura deste – até à altura em que ele decida entregar a sua guarda ao que vier a ser seu marido. A noiva é a única que é “dada em casamento.” Isto não significa que a mulher seja vista como um objecto mas, pelo contrário, porque é considerada preciosa e simultaneamente frágil e mais vulnerável, é, por isso mesmo, o objecto desta protecção. Curiosamente, nas Escrituras encontramos sistematicamente a descrição do pai como o protector da filha, mas não do filho. Certamente isto deve-se não só à maior vulnerabilidade da filha mas também e sobretudo ao modelo que a Palavra de Deus procura transmitir em que a família humana representa a família celestial. Deus é o nosso guarda e protector tanto como nosso Marido como nosso Pai. É esta fragilidade e protecção que encontramos em Ezequiel 16 numa passagem em que Deus descreve o encontro com uma Israel frágil, desamparada e impotente, de quem Ele cuida e toma por Sua mulher:

Ezequiel 16:6-8 E, passando eu por ti, vi-te banhada no teu sangue, e disse- te: Ainda que estás no teu sangue, vive; sim, disse-te: Ainda que estás no teu sangue, vive. (7) Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo. E cresceste, e te engrandeceste, e alcançaste grande formosura. Formaram-se os teus seios e cresceu o teu cabelo; contudo estavas nua e descoberta. (8) Então, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a minha aba, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei num pacto contigo, diz o Senhor Deus, e tu ficaste sendo minha.

Voltando a Génesis 2:24, a palavra traduzida por “unir-se-á” é a palavra hebraica dabaq. Esta palavra surge noutras passagens em que a união entre Deus e o Seu povo é o tema, uma vez mais demonstrando que o casamento entre um homem

8 Mat.22:30; Mar.12:25; Luc.17:27; 20:34-35.

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e uma mulher mais não é que um modelo do casamento de Deus com o Seu povo.

Deuteronómio 10:20 Ao Senhor teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te apegarás, e pelo seu nome; jurarás.

Deuteronómio 11:22 Porque, se diligentemente guardardes todos estes mandamentos que eu vos ordeno, se amardes ao Senhor vosso Deus, e andardes em todos os seus caminhos, e a ele vos apegardes,

Esta última passagem, muito particularmente, revela uma vez mais a natureza submissa que a noiva (Israel) deve ter para com o Noivo (Deus): diligentemente guardando os Seus mandamentos e andando nos Seus caminhos. Outras passagens sobejamente conhecidas que nos falam de Deus como marido e de Israel como mulher ou noiva, também revelam que é ao Marido (neste caso ao Noivo) que compete a liderança/domínio no sentido de autoridade. Tal é o caso com a passagem que define o Novo Concerto:

Jeremias 31:31-32 Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, (32) não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.

Note-se que quem toma Israel pela mão e a conduz para fora do Egipto é Deus. É o Noivo que assume o papel de liderança, como seria de esperar. AS MULHERES NA ASSEMBLEIA DOS CRENTES Se o que dissemos até aqui pode ser mal visto por muitos, o que vamos abordar daqui para a frente é certamente passível de gerar contestação face ao conceito que hoje prevalece nas sociedades dominadas por séculos de filosofias greco-romanas, precisamente as que se afastaram dos conceitos de raiz hebraica em que nos são transmitidas as Escrituras e os escritos apostólicos – precisamente os que nos interessa conhecer em profundidade, pois são destes que nos vem o verdadeiro conhecimento para a vida. Hoje em dia, é frequente encontrarmos muitas congregações cristãs / messiânicas lideradas por mulheres e/ou com mulheres como pregadoras ou pastoras e como membros de órgãos directivos. Por outro lado, muitas outras congregações existem que se opõem veementemente, por vezes, a tais práticas.

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Numa época como a que nos encontramos em que cada vez há mais gente a sair das igrejas e da confusão doutrinal que nelas prevalece – “sai dela povo meu” – e a regressar às raízes hebraicas da sua fé, identificando-se como Israel e voltando aos caminhos antigos, i.e. à Torá de YHWH sem nunca renunciar a Yeshua como Messias de Israel e nosso Salvador e Redentor, é perfeitamente natural e expectável que em núcleos constituídos por filhos e filhas de Deus das mais variadas proveniências, por vezes surjam divergências devido a várias questões doutrinais, entre elas, o papel da mulher nas assembleias de crentes e/ou igrejas. É precisamente para tentar dar resposta a estas questões que surge este trabalho. Gálatas 3:28

Gálatas 3:28 Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

Esta é a passagem por excelência usada pelas chamadas feministas evangélicas (à falta de um melhor termo) para defender a legitimidade do acesso das mulheres aos púlpitos ou à direcção de congregações. Juntamente com alguns exemplos que nos são dados nas Escrituras de mulheres que ocuparam posições de liderança (que analisaremos mais à frente), esta passagem é usada para fazer tábua rasa de todo o demais exemplo e ensino bíblico sobre o papel das mulheres. Sem que possam renunciar à autoridade das Escrituras como Palavra intemporal de Deus, esta passagem em particular é usada para dizer que após Yeshua deixou de haver quaisquer diferenças entre os sexos. E em parte isto é verdade. Na realidade, nalguns aspectos, não é após Yeshua mas sim desde sempre que podemos afirmar que para Deus não há homem nem mulher pois todos são um. Porém, o uso específico desta passagem – fora de contexto como iremos ver – propositadamente alheada de todo um conjunto muito maior de passagens que estipulam claramente o papel das mulheres nas assembleias de crentes e na sociedade em geral, atribui a todo o argumento um carácter falacioso. Comecemos por situar esta passagem no seu devido contexto por forma a percebermos com maior clareza o que Paulo aqui quis dizer. A carta aos Gálatas é escrita com um tema específico em mente: o esclarecimento dos irmãos quanto à forma como não-judeus podiam entrar nos concertos e promessas dadas a Israel e lá permanecerem. Muitos dos crentes judeus, sobretudo os provenientes das escolas farisaicas, traziam consigo toda uma bagagem em termos de leis orais (tradições humanas) que consideravam essenciais para que um não-judeu pudesse ser participante dos concertos e

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promessas dadas a Israel. Estas tradições procuravam “transformar” um não-judeu num judeu por meio de rituais inventados e instituídos pelos homens o que acabava por negar o papel de Yeshua no plano de Deus para a salvação. Na carta aos Gálatas, Paulo bate-se contra estas tradições indevidamente trazidas para dentro da comunidade de crentes e procura estabelecer dois pontos essenciais:

• A justificação que serve de base à santificação baseia-se apenas na nossa fé em Yeshua como Messias de Israel; e,

• Isto é uma verdade insofismável e aplicável a toda a gente, seja qual for a sua origem (seja ou não judeu).

No capítulo 3, em que se insere esta passagem, Paulo demonstra que mesmo Abraão fora justificado 430 anos antes da dádiva da Torá no Sinai. Este versículo 28 surge a jeito de conclusão de que a redenção encontrada em Yeshua se baseia tão só e apenas na fé que Nele depositamos (e não em quaisquer obras) e de que isto é verdade para toda e qualquer pessoa, seja qual for a sua origem étnica (judeu ou gentio), estatuto social (servo ou livre) ou sexo (homem ou mulher). Depois, sendo a fé um dom de Deus que nos conduz a Yeshua, é pela mesma fé que somos impelidos a andar nos caminhos que YHWH nos propôs desde o princípio – a Sua Torá, da mesma maneira que Ele andou perante O Pai. No que toca à aplicação do plano de salvação de Deus à vida de um indivíduo, nenhuma destas coisas (etnicidade, estatuto social ou sexo) importa, pois todos somos iguais perante Deus. Todos somos pecadores e todos somos justificados pelo sangue de Yeshua. Pedro confirma a conclusão de Paulo:

1Pedro 3:7 Igualmente vós, maridos, vivei com elas [vossas mulheres] com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as vossas orações.

É, no entanto, um argumento falacioso, pegar neste versículo e com base nele argumentar que doravante todas as diferenças entre os sexos foram anuladas. A função de cada um permanece distinta por forma a representar o modelo que Deus pretende transmitir. Da mesma forma, desejos, necessidades e anatomia permanecem distintos. Esta afirmação de Paulo não é feita com o intuito de obliterar diferenças essenciais da natureza e das funções atribuídas por Deus a cada sexo mas sim com o objectivo de demonstrar que no que toca à Salvação não há diferenças e todos são igualmente preciosos aos olhos de Deus. No que toca por exemplo à comparação entre escravo e livre que Paulo faz na mesma passagem, podemos dizer com segurança que um servo continuou a ser

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um servo e a sua função enquanto tal continuou a ser a de servir o seu senhor. Isso não mudou com a afirmação de Paulo, da mesma forma que não mudaram os papéis atribuídos a homens e a mulheres. O mesmo Paulo confirma isto mesmo noutra passagem:

Colossenses 3:22 Vós, servos, obedecei em tudo a vossos senhores segundo a carne, não servindo somente à vista como para agradar aos homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor.

Usar a passagem de Gálatas 3:28 para defender outra posição que não esta, constitui um abuso e um argumento falacioso pois retira a passagem do seu contexto, forçando-a a dizer uma coisa que o seu autor nunca pretendeu dizer. 1Coríntios 14:34, 11:5 e 1Timóteo 2:11-14

1Coríntios 14:34-35 As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. (35) E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa os seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja.

Esta passagem levanta múltiplos problemas não só a quem defende que às mulheres é lícito pregar e/ou exercer cargos de liderança nas igrejas mas sobretudo à luz do que o mesmo apóstolo havia escrito uns escassos três capítulos atrás na mesma carta:

1Coríntios 11:5 …toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada.

Afinal, em que ficamos? Está Paulo a contradizer-se? Sem entrar em grandes análises ao contexto do capítulo 11 de 1Coríntios (que por si só merece um estudo à parte) digamos apenas que neste capítulo Paulo assume claramente no versículo acima que às mulheres é lícito orar e profetizar. Porém uns meros três capítulos mais à frente diz que devem estar caladas e que é indecente que a mulher fale nas igrejas. No último versículo deste capítulo (v.40) ele exorta a que tudo se faça com ordem e decência o que à partida exclui as mulheres de falarem nas igrejas uma vez que ele classifica isso como indecente.

1Coríntios 14:35 … é indecente que as mulheres falem na igreja.

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1Coríntios 14:40 …faça-se tudo decentemente e com ordem.

Afinal em que ficamos? É lícito à mulher orar e profetizar na igreja ou deve ela estar em silêncio porque é indecente que ela fale? E se é lícito que ela ore e profetize, o que se entende por profetizar? A passagem de 1Coríntios 14 levanta algumas dificuldades, é certo. De acordo com ela pode parecer que uma mulher não deve sequer abrir a boca mas sim estar em absoluto silêncio. Mas deixemos as Escrituras interpretar as Escrituras. Certo é que quando nos deparamos com uma passagem mais confusa ou de difícil interpretação, existe habitualmente outra que lança luz sobre ela e tal é também o caso aqui. Assim, comparemos esta passagem com outra do mesmo autor em que ele também fala do mesmo tema:

1Timóteo 2:11-14 A mulher aprenda em silêncio com toda a submissão. (12) Pois não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem, mas que esteja em silêncio. (13) Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. (14) E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão;

Paulo nesta passagem é bem mais explícito no que diz do que em 1Coríntios 14. Coloquemos então estas passagens lado a lado para analisar a sua estrutura:

1 Coríntios 14 1 Timóteo 2

“as mulheres estejam caladas… não lhes é permitido falar” (34)

“não permito que a mulher ensine…mas que esteja em silêncio” (12)

“estejam submissas” (34) “nem tenha domínio sobre o homem” (12)

“se querem aprender alguma coisa” (35) “A mulher aprenda” (11)

“perguntem em casa a seus próprios maridos” (35) “em silêncio com toda a submissão” (11)

“como também ordena a Lei” (34) Adão e Eva na criação e no pecado (14,15)

Se o mesmo autor – Paulo – tem duas passagens com estruturas e raciocínio idênticos, a falar do mesmo tema, é perfeitamente legítimo que procuremos esclarecer a passagem mais dúbia à luz da mais clara. Claramente quando Paulo aos Coríntios diz que “as mulheres estejam caladas” e “não lhes é permitido falar” o que ele quer dizer é que não deve ENSINAR nas

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assembleias mas antes estar em silêncio. Uma mulher que publicamente ensine homens (pregando numa assembleia) estará claramente numa posição de autoridade sobre esses mesmos homens (inclusive o seu marido), algo que o apóstolo e a demais Palavra de Deus não permitem. A mulher deve, pelo contrário, assumir uma posição de submissão em relação primeiramente ao seu marido e em segundo lugar em relação a homens de uma maneira geral evitando assumir papeis que a levem a exercer autoridade ou domínio sobre estes. Casos como os de algumas igrejas que não autorizam mulheres pregadoras e/ou “pastoras” mas que depois as admitem em órgãos directivos que, entre outras coisas, definem doutrina, são casos de uma incoerência absurda. Por um lado é-lhes vedado o acesso ao púlpito para que não ensinem homens como diz o apóstolo mas por outro ao serem colocadas em órgãos directivos responsáveis pela definição da doutrina da igreja e pela eleição e afastamento de pregadores, é-lhes dada autoridade e domínio sobre os próprios pregadores e consequentemente sobre toda a igreja. Convenhamos que é dar uma no cravo e outra na ferradura. Regressando a 1Coríntios 14, convém salientar que a passagem que temos vindo a analisar se encontra inserida num contexto de ordem e decência nos cultos9 conforme já vimos no versículo 40. No que toca à ordem nos cultos, é muito provável que nas primeiras sinagogas messiânicas se seguisse o modelo que ainda hoje prevalece nas sinagogas judaicas em que as mulheres se encontram separadas dos homens (mesmo fora do seu alcance visual). Claramente em 1Coríntios a submissão que é exigida às mulheres é a que elas devem aos seus maridos em termos de relação de autoridade. A afirmação “interroguem em casa os seus próprios maridos” deixa isso bem claro e é indicativa de que a congregação de Corinto padecia de um problema de ordem nos cultos devido ao facto de haverem múltiplas conversas paralelas que prejudicavam a ordem dos trabalhos. Imaginemos múltiplas mulheres a interrogar a vizinha do lado sempre que não percebia alguma coisa ou a gritar para o seu marido no outro extremo da sala. Aqui convém fazer um parêntesis para procurar esclarecer os versículos 36 e 37 de 1Cor.14:

1Coríntios 14:36-37 Porventura foi de vós que partiu a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? (37) Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.

Em primeiro lugar a quem é que Paulo se dirige quando diz “vós” no versículo 36? Obviamente ele dirige-se aos mesmos destinatários a quem se dirigia atrás.

9 Sendo indecente, conforme já vimos (v.35), que uma mulher ensine na assembleia.

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Quando ele, nos versículos anteriores, se refere às mulheres, fá-lo na terceira pessoa, logo não é a elas que ele se dirige neste versículo nem tão pouco assim deve ser interpretado no versículo 36. Logo na abertura da carta vemos que esta é dirigida genericamente à comunidade Corinto e sendo as mulheres referidas na terceira pessoa, ela seria, com toda a certeza dirigida primariamente aos homens da comunidade. Para melhor entendermos estes versículos convém chamar a atenção para uma pequena frase acerca da qual os tradutores se dividem quanto ao pertencer à frase anterior ou à frase sobre as mulheres. Mesmo a JFA que temos vindo a reproduzir neste trabalho, apresenta este texto de forma diversa consoante a versão: JFA Revista e Corrigida (1898) JFA Revista e Actualizada (1956) 1Coríntios 14:33-34 porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.

1Coríntios 14:33-34 porque Deus não é Deus de confusão, mas sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei.

Pessoalmente, creio que faz mais sentido, dado o contexto, que esta frase esteja associada à frase das mulheres. Creio que faz muito mais sentido aí do que numa afirmação peremptória sobre Deus não ser Deus de confusão. A versão Revista e Actualizada da JFA (mais recente que a Revista e Corrigida) assume também esta posição, tendo alterado a sua redacção anterior. Outras traduções que apresentam este texto desta forma são as seguintes:

1Coríntios 14:33-34 …Tal como acontece em todas as comunidades de crentes, as mulheres não devem tomar a palavra nas reuniões da comunidade. Não convém que elas falem em público. Devem ser submissas como diz a Lei de Moisés. (Português Corrente) 1Coríntios 14:33-34 …Como acontece em todas as Igrejas dos santos, estejam caladas as mulheres nas assembleias, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei. (Bíblia de Jerusalém) 1Coríntios 14:33-34 …Como em todas as Igrejas dos santos, as mulheres devem estar em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar. Pelo contrário, que estejam submissas, como, de facto, a Lei diz. (Net Bible – tradução livre)

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1Coríntios 14:33-34 …Como em todas as congregações do povo de Deus, que as esposas permaneçam em silêncio quando a congregação reúne; não lhes é certamente permitido pronunciar-se. Pelo contrário, que permaneçam em submissão como também diz a Torá. (Complete Jewish Bible – tradução livre)

Ao encararmos esta pequena frase como fazendo parte do raciocínio sobre as mulheres, a afirmação de Paulo que se segue a jeito de conclusão já faz mais sentido:

1Coríntios 14:36-37 Porventura foi de vós [Coríntios] que partiu a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? (37) Se alguém se considera profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor.

Claramente, a igreja de Corinto padecia de um problema de ordem nos cultos, conforme já vimos. Claramente também que esse problema tinha a ver com o facto de haver mulheres a perturbar a ordem dos trabalhos com as suas questões e comentários. Assim, Paulo, apelando à ordem, afirma que às mulheres não é lícito falar durante a reunião, tal como também não acontece em nenhuma outra congregação. Na eventualidade de, por obstinação, pretenderem persistir no erro, i.e., a permitir às mulheres a liberdade que obviamente permitiam, Paulo pergunta “foi de vós [Coríntios] que partiu a palavra de Deus?” Não terá sido antes dos judeus? Então, se na realidade se consideram filhos de Deus, aceitem o que eu vos digo como mandamentos do Senhor.

Por outras palavras, o que Paulo diz é que a comunidade de crentes em todas as partes segue o exemplo de culto judaico (uma vez que são eles os fieis depositários da Palavra de Deus) e como tal, não é permitido em qualquer comunidade, que as mulheres falem/ensinem na congregação. Assim sendo, Paulo não permite que assim se faça tão pouco em Corinto e indica que esta sua disposição tem por base a Torá. Se eles quiserem, no entanto, ignorar e ser diferentes a todos os outros, que ignorem, mas fazem-no sabendo de antemão que estão a desobedecer a Deus. A jeito de conclusão acrescenta ainda:

1Coríntios 14:40 Mas faça-se tudo decentemente10 e com ordem.

Mudando um pouco de tema, a passagem de 1Coríntios 14 incide também e muito particularmente sobre o exercício da profecia no seio da assembleia de crentes. O versículo 29 deixa isso bem claro.

10 O que, conforme já vimos atrás, exclui as mulheres de falar nas igrejas, uma vez que isso é considerado indecente.

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1Coríntios 14:29 E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem.

Por tudo quanto vimos, quer o profetizar quer o julgar da profecia são coisas nas quais uma mulher não deve participar mas ser apenas ouvinte. O acto de julgarem uma profecia (proferida por um profeta do sexo masculino) colocá-las-ia numa posição de autoridade sobre esse mesmo profeta. Algo que não deve acontecer pois subverte o modelo que Deus instituiu e pretende transmitir. Mas não pode uma mulher profetizar? Mais uma vez, que dizer de 1Coríntios 11:5?

1Coríntios 11:5 …toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada.

Profecia nos Escritos Apostólicos Ao contrário do que se possa pensar, o termo “profecia” nos Escritos Apostólicos (vulgo Novo Testamento) não significa necessariamente o mesmo que o mesmo termo nos Escritos Hebraicos (vulgo Antigo Testamento). O profeta nos Escritos Hebraicos era alguém que transmitia directamente a vontade de Deus. Era, por assim dizer, um porta-voz. Por esse motivo muitas profecias começam precisamente com “Assim diz YHWH:…” passando depois a relatar as palavras exactas de Deus. Desobedecer às palavras dos profetas era o mesmo que desobedecer ao próprio Deus.

Deuteronómio 18:19 E de qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu exigirei contas. 1Samuel 8:7 Disse YHWH a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles. 1Reis 20:36 Pelo que ele lhe disse: Porquanto não obedeceste à voz de YHWH, eis que, em te apartando de mim, um leão te matará. E logo que se apartou dele um leão o encontrou e o matou.

No entanto, não é isto que se verifica nos Escritos Apostólicos em que claramente vemos que as palavras de um profeta, não acarretam a mesma autoridade e devem inclusive ser provadas. Em Actos 21 vemos Paulo aparentemente a desobedecer ao que parece ser um mandamento directo que lhe é transmitido por alguém (um profeta) por influência do Espírito Santo:

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Actos 21:4 … e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém.

Que esta revelação é do Espírito, a passagem deixa bem claro. No entanto, Paulo segue viagem… Mais adiante na viagem ele é novamente interpelado por outro profeta:

Actos 21:10-14 Demorando-nos ali por muitos dias [em Cesareia], desceu da Judeia um profeta, de nome Ágabo; (11) e vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios. (12) Quando ouvimos isto, rogamos-lhe, tanto nós como os daquele lugar, que não subisse a Jerusalém. (13) Então Paulo respondeu: Que fazeis chorando e magoando-me o coração? Porque eu estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. (14) E, como não se deixasse persuadir, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor; e calamo-nos.

Este episódio revela-nos vários aspectos curiosos. Uma vez mais vemos Paulo a ser advertido do fim que o esperava se persistisse em prosseguir para Jerusalém – o v.14 dá mesmo a entender que seria essa a vontade de Deus. Uma vez mais vemos que este profeta que lhe é enviado fala em nome de Deus (“Isto diz o Espírito Santo:…”) algo que não vemos acontecer com frequência nos Escritos Apostólicos. No entanto desta vez, o que o Espírito transmite pela boca deste profeta é apenas um aviso. A exortação para que ele não fosse, não é de Deus mas das pessoas que ali estavam e que também ouviram a profecia. Provavelmente foi algo do mesmo género que se passou aquando da primeira advertência, ou seja, não seria o Espírito Santo a dar um mandamento directo a Paulo para ele não ir, caso contrário ele estaria a desobedecer a Deus, mas o Espírito terá revelado o que aconteceria e o que nós lemos no versículo 4 são as preocupações das pessoas, exortando-o para que não fosse. Exactamente o que se vem novamente a passar em Cesareia. Mas voltando ao tema da profecia. No capítulo 14 de 1Coríntios, precisamente o mesmo que temos vindo a analisar, encontramos um comentário interessante:

1Coríntios 14:37-38 Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor. (38) Mas, se alguém ignora isto, que ignore.

Ou seja, os profetas podem ter as suas ideias, mas as palavras de Paulo são mandamentos de Deus. Isto dá-nos a entender que os profetas poderão nem sempre ter razão. No mesmo capítulo e num versículo que já referimos ele diz:

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1Coríntios 14:29 E falem os profetas, dois ou três, e os outros julguem.

Se as palavras dos profetas carecem de ser julgadas, i.e. avaliadas, é porque, obviamente, poderão nem sempre estar certas. Na primeira carta aos Tessalonicenses ele diz também:

1Tessalonicenses 5:20-21 não desprezeis as profecias, (21) mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom;

As profecias não devem ser desprezadas, mas devem ser provadas para que retenhamos apenas o que estiver certo – isto só prova que algumas profecias podem estar erradas. Paulo nunca escreveria isto a respeito das profecias dos Escritos Hebraicos, pois essas eram Palavra de Deus. Claramente então o termo profecia nos Escritos Apostólicos refere-se a comentários que uma ou mais pessoas pudessem fazer a respeito de uma dada passagem por exemplo, ou de qualquer outra coisa – ideias da sua cabeça, opiniões ou revelações que achassem ter tido.

1Coríntios 14:3 Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação.

Simplesmente porque tais “profecias” poderiam não ser revelações do Espírito Santo, havia a necessidade de as provar, julgar ou avaliar de forma a rejeitar o que estivesse errado e a reter apenas o que fosse bom. Cuidado portanto quando ouvimos coisas como “Deus disse-me…” ou “O espírito falou-me…”. Nunca devemos aceitar tais “revelações” como correctas sem as validar à luz da Palavra de Deus, só porque alguém diz que teve uma revelação divina. O facto de alguém ou nós próprios termos tido um súbito novo entendimento acerca de uma dada passagem, por exemplo, não significa necessariamente que esse novo entendimento tenha vindo por revelação divina. Pode até nem estar correcto. Cuidado portanto com o uso de tais expressões. Tenhamos bem presente que um dia teremos de prestar contas a Deus. Não queiramos ter o desprazer de o ouvir dizer “Eu disse O QUÊ?...” Podemos então ter uma ideia de como seria uma reunião nestas comunidades de crentes do 1º Século. Dois ou três irmãos profetizariam, i.e. apresentariam os seus estudos, sermões, comentários e opiniões, ao que se seguiria uma discussão ou avaliação pelos demais irmãos por forma a confirmar ou rejeitar à luz das Escrituras, aquilo que havia sido apresentado. As mulheres seriam meras assistentes. No caso de serem casadas e estarem presentes com os seus maridos ou ainda solteiras e estarem com seus pais, deveriam colocar as suas dúvidas ao homem que fosse a sua cabeça (marido ou

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pai consoante o caso) mas só o deveriam fazer em casa por forma a que não se gerassem conversas paralelas que perturbassem a assembleia11. No caso de serem viúvas, divorciadas ou casadas com um marido descrente – únicas situações em que uma mulher não teria sobre si uma autoridade masculina em presença – é possível que pudessem fazer perguntas mas com o devido cuidado e postura pois questionar o expositor poderia conduzir a uma situação de estar a julgar ou por à prova o ensinamento, opinião ou profecia de um irmão e como tal a exercer autoridade sobre ele. Mas não pode uma mulher profetizar? Que dizer então de 1Coríntios 11:5?

1Coríntios 11:5 …toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua cabeça, porque é a mesma coisa como se estivesse rapada.

Comecemos por olhar novamente para 1Timóteo 2.

1Timóteo 2:8-10 Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda. (9) Quero, do mesmo modo, que as mulheres se ataviem com traje decoroso, com modéstia e sobriedade, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos custosos, (10) mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.

O contexto desta passagem claramente aponta para serviços públicos:

1Timóteo 2:1 Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens,

Ao descriminar a forma como estas acções deveriam ter lugar Paulo é bem claro que os homens devem orar “em todo o lugar.” Quer isto dizer que aos homens é lícito conduzir orações públicas – pois é disso que trata esta passagem – em qualquer lugar, ou seja, no Templo, na assembleia de crentes ou mesmo na praça pública. Ao fazê-lo devem apresentar-se publicamente e perante Deus como exemplos de uma vida santa e irrepreensível. O que está em causa nesta passagem é precisamente isto – o exemplo público que cada membro da assembleia de crentes deve dar publicamente. O facto de Paulo dar, nesta passagem, indicações distintas aos homens e às mulheres indica que a cada um cabem papeis diferentes nestas “súplicas, orações, intercessões, e ações de graças”.

11 Caso a assembleia se reunisse com mulheres de um lado e homens do outro à semelhança do modelo seguido nas sinagogas – o que é altamente provável – elas teriam mesmo que aguardar pelo final para fazerem as suas perguntas aos seus maridos ou pais, caso contrário estariam a gritar de um extremo da sala para o outro.

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Não podemos negar que às mulheres é lícito orar, sobretudo atendendo a 1Coríntios 11:5, mas torna-se evidente que no que toca a conduzir orações públicas, apenas os homens são mencionados, podendo orar “em todo o lugar.” Já no que toca às mulheres, o seu papel nestas reuniões públicas é descrito como devendo também ser um exemplo de santidade pela forma como se apresentam em público mas em lado algum desta passagem Paulo lhes atribui a tarefa de conduzir as orações. Podemos então concluir que as mulheres poderão orar em privado certamente e mesmo em público desde que apenas na presença de outras mulheres. Já no que toca ao profetizar e ensinar a conclusão é idêntica. Vejamos o que Paulo escreve a Tito:

Tito 2:2-5 Exorta os velhos a que sejam temperantes, sérios, sóbrios, sãos na fé, no amor, e na constância; (3) as mulheres idosas, semelhantemente, que sejam reverentes no seu viver, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras do bem, (4) para que ensinem as mulheres novas a amarem aos seus maridos e filhos, (5) a serem moderadas, castas, operosas donas de casa, bondosas, submissas a seus maridos, para que a palavra de Deus não seja blasfemada.

A função de ensino atribuída aqui às mulheres mais velhas incide apenas sobre as mulheres mais novas e não sobre qualquer homem. É certo que uma mulher pode ensinar/profetizar, no entanto a passagem acima indica o alvo do seu ensino como devendo ser dirigido a outras mulheres. O acto de cantar hinos por exemplo é algo que está aberto a toda a congregação e que também serve de ensino:

Colossenses 3:16 …ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.

Nalguns casos as mulheres poderão mesmo ensinar homens, como no caso de Priscila que ensinou Apolo.

Actos 18:26 Ele [Apolo] começou a falar ousadamente na sinagoga: mas quando Priscila e Áquila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus.

Note-se, no entanto que este ensino é feito em privado (“levaram-no consigo”) e sempre na presença de seu marido Áquila.

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1Timóteo 2:12 …não permito que a mulher ensine, nem tenha domínio sobre o homem…

Nesta passagem, a conjunção negativa “nem” revela precisamente que o tipo de ensino que está vedado à mulher é o que a leva a assumir uma posição de domínio sobre o homem, ou seja, a mulher na função de professora com o homem subordinado a uma posição de aluno. Adicionalmente, Paulo é bem claro noutras passagens que o presbítero deve ser um homem:

1Timóteo 3:2 É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar; Tito 1:6 alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, tendo filhos crentes que não sejam acusados de dissolução, nem sejam desobedientes.

Mulheres Profetas e/ou em posições de Liderança Apesar de tudo o que vimos não podemos negar que ao longo das Escrituras Sagradas encontramos alguns exemplos de mulheres profetas e/ou em posições de liderança na comunidade. A questão, no entanto, é que são realmente apenas alguns exemplos. No período compreendido pela narrativa bíblica que começa com Adão e que abrange 6000 anos de história da humanidade, realmente apenas encontramos alguns casos pontuais. Como tal, estas situações a que alguns (e sobretudo algumas) se agarram como prova de que às mulheres é lícito ensinar e pregar em assembleias mistas, devem ser entendidas como as excepções e não como a regra. Estas excepções serão ainda mais reduzidas em número se nos dermos ao trabalho de as analisar com atenção. As Filhas de Filipe Comecemos com uma passagem que lemos atrás e que deve estar bem presente ainda na nossa memória que nos fala de quando Deus manda um profeta da Judeia ir ter com Paulo a Cesareia para lhe dizer o que lhe aconteceria em Jerusalém para onde ele ia. Desta vez leiamos a passagem desde o versículo 8:

Actos 21:8-11 Partindo no dia seguinte, fomos a Cesareia; e entrando em casa de Felipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. (9) Tinha este quatro filhas virgens que profetizavam. (10) Demorando-nos ali por muitos dias, desceu da

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Judeia um profeta, de nome Ágabo; (11) e vindo ter conosco, tomou a cinta de Paulo e, ligando os seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus ligarão em Jerusalém o homem a quem pertence esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios.

Um aspecto curioso e altamente relevante para o nosso estudo é que esta profecia aconteceu enquanto Paulo estava hospedado em casa de Filipe o evangelista em Cesareia. A mesma passagem fornece-nos um pormenor aparentemente irrelevante: Filipe tinha quatro filhas e todas elas profetizavam. Porquê este pormenor se nenhuma das filhas entra na história? Se calhar por isso mesmo… A questão que se coloca é: se Deus quis de facto enviar uma mensagem a Paulo – e claramente quis pois a mensagem é do Espírito Santo – porquê mandar um profeta vindo de fora da cidade para levar a mensagem a Paulo, quando este estava hospedado numa casa onde havia quatro profetizas? Tudo indica que Deus teve o cuidado de enviar uma mensagem a Paulo através de outro homem e não de uma mulher apesar de ele contactar diariamente com quatro profetizas. Se Deus se tem servido de qualquer uma delas isso geraria uma situação em que Paulo estaria a ser instruído por uma mulher. Sempre que YHWH tem servos Seus capazes para profetizar, não se serve de mulheres para anunciar a Sua vontade. Febe de Cencreia

Romanos 16:1-2 Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é serva da igreja que está em Cencreia; (2) para que a recebais no Senhor, de um modo digno dos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque ela tem sido o amparo de muitos, e de mim em particular.

Esta passagem tem sido usada para alegar que Febe ocupava uma posição de liderança ou de ensino na igreja de Cencreia. Porém a palavra correctamente traduzida “serva” é a palavra grega “diakonos” que significa tão só e apenas isso, servo ou serva. O uso desta palavra neste contexto não obriga a encarar Febe como detentora de uma posição oficial – como é o caso por exemplo em Filipenses 1:1 e 1Timóteo 3:8 – embora possa também ser esse o caso. O contexto desta passagem apenas indica que Febe era uma obreira, uma pessoa dedicada e laboriosa na comunidade de Cencreia, nada mais e nada menos. Não implica sequer uma ordenação oficial como diaconisa, como é o caso nas outras passagens indicadas acima. O facto de Paulo exortar os santos de Roma a prestar assistência a Febe não implica que eles se submetam debaixo da sua autoridade. A palavra grega correctamente traduzida por ajuda é “paristemi”. Paulo usa esta mesma palavra noutra passagem:

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2Timóteo 4:17 Mas o Senhor esteve ao meu lado [paristemi]…

Ora ele não está certamente a dizer que, pelo facto do Messias lhe ter prestado ajuda, que ele – Paulo – exercia autoridade sobre o Senhor. Logo, não podemos igualmente concluir semelhante coisa na passagem acima. Adicionalmente, quando em Romanos 16:2 nos é dito que Febe “tem sido o amparo de muitos”, inclusive de Paulo, a palavra grega traduzida por amparo é “prostatis” que significa ajudadora. O facto de ela ter sido ajudadora de Paulo bem como de mais irmãos, não implica obviamente que ela tenha exercido autoridade sobre Paulo e esses demais irmãos. Logo, usar esta passagem para afirmar que Febe ocupava uma posição de liderança e/ou de ensino na igreja de Cencreia é abusivamente ler no texto algo que lá não está. Evódia e Síntique

Filipenses 4:2-3 Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor. (3) E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.

Uma vez mais assume-se abusivamente que o facto de estas mulheres trabalharem no evangelho lado a lado com o apóstolo significa que eram, tal como ele, detentoras de autoridade na igreja. Mais uma vez isto é ler algo no texto que lá não está. Todos os crentes são designados em 1Coríntios como “cooperadores de Deus”:

1Coríntios 3:9 Porque nós somos cooperadores de Deus…

Ora isto obviamente não implica que estejamos autorizados a actuar como se fôssemos Deus. Números incontáveis de mulheres, têm, ao longo dos séculos, assistido pastores e pregadores sem que se tenham tornado, elas próprias, pastoras e pregadoras. Mais uma vez, é abusivo concluir desta passagem que estas mulheres ocupavam uma posição de autoridade e ensino na igreja.

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Junias (a Apóstola?)

Romanos 16:7 Saudai a Andrónico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros de prisão, os quais são bem conceituados entre os apóstolos, e que estavam em Cristo antes de mim.

Primeiro que tudo o nome Júnias aparece em grego numa forma gramatical que impossibilita a determinação do sexo da pessoa a que se refere. Tanto pode ser um nome feminino como masculino. Orígenes, um escritor do século III d.C. considerou tratar-se de um homem e não de uma mulher. Mas a grande questão desta passagem é a frase “bem conceituados entre os apóstolos”. Esta frase pode ser interpretada como “apóstolos bem conceituados” o que seria o mesmo que dizer que Andrónico e Júnias seriam apóstolos populares. A ser verdade, é curioso que não exista mais nenhuma referência a eles nas Sagradas Escrituras. Mais, a ser verdade e a considerar Júnias como mulher, isso faria dela uma apóstola. Na realidade o que esta frase “bem conceituados entre os apóstolos”quer dizer é que estes dois irmãos eram conhecidos e respeitados no meio dos apóstolos. Não que eles próprios fossem apóstolos, mas simplesmente que eram bem conhecidos pelos apóstolos. A título de nota, a palavra “apóstolo” significa apenas enviado (no sentido de mensageiro) e não tem necessariamente de ser usada no sentido de alguém que detém autoridade na igreja. Um exemplo é a passagem que está em João 13:16. Ana

Lucas 2:36-37 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era já avançada em idade, tendo vivido com o marido sete anos desde a sua virgindade; (37) e era viúva, de quase oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações.

Qual seria o ministério desta mulher, não sabemos. Sabemos apenas que é chamada de profetisa e que “não se afastava do Templo”. O Templo de onde ela não se afastava tinha um pátio para as mulheres e outro para os homens. Se ela “não se afastava do Templo”, teria necessariamente de estar no pátio das mulheres e fosse qual fosse o seu ministério, muito provavelmente seria aí exercido. Não podemos provar por esta passagem que Ana pregasse para audiências mistas ou que ensinasse homens. Uma vez mais, argumentar tal coisa é tirar conclusões abusivas que o texto não permite e a história estima pouco prováveis.

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Miriam Miriam, a irmã de Moisés e Aarão é descrita como profetisa e líder no seio do povo de Israel.

Miqueas 6:4 Pois te fiz subir da terra do Egipto, e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti a Moisés, Arão e Miriã.

Porém não existe evidência alguma de ela alguma vez ter profetizado, pregado, instruído ou mesmo liderado homens. Pelo contrário, a passagem seguinte indicia que o seu ministério era dirigido a mulheres:

Êxodo 15:20 Então Miriã, a profetisa, irmã de Arão, tomou na mão um tamboril, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris, e com danças.

Que “todas as mulheres saíram atrás dela” sugere que ela exercia liderança, sim, mas apenas entre as mulheres de Israel. Hulda Hulda a profetisa é mencionada apenas uma vez e em circunstâncias pouco usuais o que mais uma vez atesta a natureza excepcional destes casos.

2Reis 22:14 Então o sacerdote Hilquias, e Aicão, e Acbor, e Safã, e Asaías foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Salum… ela habitava então em Jerusalém… e lhe falaram.

O mesmo episódio aparece narrado em 2Crónicas 34:22 e seguintes. A natureza excepcional deste episódio reside no facto de vermos vários homens e entre eles Hilquias o Sumo-Sacerdote (v.4), a consultar uma mulher para serem instruídos acerca da vontade de Deus. Jeremias era nesta altura profeta em Israel mas estava em início de ministério e residia em Anatote, território de Benjamim, que, não sendo longe de Jerusalém, também não é propriamente próximo sobretudo para quem se desloca a pé. Essa pode ser a razão pela qual estes distintos homens consultaram Hulda, uma profetisa, pois ela residia em Jerusalém. Seja qual for a razão que os levou a consultar Hulda, este episódio é perfeitamente excepcional em todo o relato bíblico. É altamente provável que a consulta destes homens à profetisa fosse feita na presença de seu marido Salum e com o consentimento deste. Não seria aliás, próprio, que uma mulher casada recebesse uma série de homens em casa sem ser na presença do marido. O facto de Salum ser referido na passagem e

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identificado como o marido de Hulda, indica quem era a sua cobertura, ou seja, quem detinha a autoridade sobre ela. Débora Para o final ficou aquela que é a mulher mais usada pelos defensores e defensoras da legitimidade das mulheres pregadoras e/ou dirigentes de igrejas: Débora – Profeta e Juíza de Israel.

Juízes 4:4-5 Ora, Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo. (5) Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ter com ela para julgamento.

Começamos por salientar que mesmo como juíza em Israel, Débora é uma excepção. Nos cerca de 400 anos coberto pelo livro de Juízes12, não nos é dada a conhecer mais nenhuma juíza. No vasto número de juízes de que nos fala a Palavra de Deus, existe apenas uma mulher. Salientamos ainda que, há semelhança de Hulda, também Débora é referida como a mulher do seu marido – neste caso, Lapidote – a sua autoridade e cobertura masculina. Há semelhança do que dissemos no caso de Hulda, também aqui afirmamos que muito provavelmente Débora apenas receberia homens na sua propriedade com autorização e até possivelmente na presença do seu marido. O texto não nos diz isso mas o contexto cultural do povo permite-nos fazer essa dedução. À semelhança de Hulda, também com Débora não encontramos qualquer evidência no texto bíblico de que ela se dirigisse às massas. Pelo contrário, “os filhos de Israel subiam a ter com ela para julgamento.” A eleição por Deus de uma mulher como juiz naquele tempo não é casual. YHWH não faz as coisas ao acaso. Ele elege uma mulher precisamente para envergonhar o povo de Israel que naquela altura vivia uma situação de extrema fraqueza. A eleição de uma mulher não é motivo de orgulho mas sim de vergonha. A própria Débora tem consciência disso e reflecte isso na sua canção.

Juízes 5:6-9 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, cessaram as caravanas; e os que viajavam iam por atalhos desviados. (7) Cessaram as aldeias em Israel, cessaram; até que eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel. (8) Escolheram deuses novos; logo a guerra estava às portas; via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel? (9) Meu coração

12 O livro de Juízes não cobre a totalidade do período dos juízes em Israel. Eli e Samuel, os últimos juízes não aparecem no livro de Juízes mas já no livro de 1Samuel. Ver 1Sam.4:18; 7:15-17.

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inclina-se para os guias de Israel, que voluntariamente se ofereceram entre o povo. Bendizei ao Senhor.

Israel nesta altura estava a ferro e fogo flagelada que era por cananeus e filisteus. O povo não resistia e deixava-se dominar pelos seus inimigos. O facto relatado por Débora de as caravanas terem cessado e os viajantes seguirem por atalhos desviados (v.6) espelha isso mesmo. O povo via-se obrigado a usar atalhos evitando assim as estradas principais. Quando ela diz que as aldeias cessaram (v.7) isso significa que o povo teve de as abandonar e esconder-se no deserto e nas grutas mas aponta também e sobretudo para uma ausência de liderança nas aldeias. Já não havia juízes. Poucos havia capazes de aplicar a justiça e mover guerra aos inimigos de Israel. Isto, até ela surgir. A ideia aqui não é de orgulho para as mulheres mas sim de vergonha e repreensão para o povo e particularmente para os homens. Estes haviam-se demitido das suas funções. Poucos homens haviam capazes de tomar atitudes de homens e de fazer o que era necessário. Assim, Deus chama uma mulher para vergonha do próprio povo. Quando Débora afirma que a liderança em Israel havia cessado “até que eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel”, isto não é Débora a vangloriar-se mas sim a acusar os homens da nação por se terem demitido das suas funções fazendo com que tivesse de ser uma mulher a desempenhar as suas tarefas. Este episódio não deve ser motivo de celebração da parte de ninguém. Pelo contrário deve ser motivo de vergonha nacional. Isaías dá-nos a entender isso mesmo quando escreve:

Isaías 3:12 Quanto ao meu povo… mulheres dominam sobre eles. Ah, povo meu! os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas.

“Escolheram deuses novos; logo a guerra estava às portas” – eis a causa dos problemas do povo – a sua infidelidade ao Deus de Abraão, Isaac e Jacob. Para vergonha sua “via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?” O povo de Israel nem tão pouco se defendia dos seus inimigos. Estavam completamente acobardados, desorganizados e entre eles reinava a anarquia e a idolatria. Débora louva os poucos que ainda vão sendo fiéis a Deus e que vão fazendo o que era sua obrigação como homens – combater o inimigo. O que se passa com Débora é precisamente o que Paulo diz aos Coríntios:

1Coríntios 1:27 …Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes;

Débora, uma mulher fraca, foi escolhida por Deus para envergonhar os homens da nação e para os exortar à fidelidade e à luta.

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Conclusão Que fique bem claro que a razão pela qual a Palavra de Deus não permite que uma mulher ocupe cargos de ensino ou de autoridade na igreja, como sejam os cargos de pregador, pastor ou bispo, nada tem a ver com uma incapacidade inata para os desempenhar. Nada disso. Muitas mulheres há com grande conhecimento das Escrituras e que se expressam publicamente melhor que muitos homens. Porém, Deus estabeleceu determinadas imagens ou ilustrações que procuram transmitir a relação entre o Seu Filho e a sua igreja ou noiva. De todas a mais importante é a figura do casamento em que os dois – marido e mulher – se tornam um só mas no qual compete ao marido ser a cabeça do casal, ou o cabeça da mulher. Se se permitisse a inversão dos papéis, a mensagem transmitida pela imagem seria distorcida e a imagem seria, ela própria, uma falsa imagem. É por esta razão, e apenas por esta razão, que às mulheres não é permitido o exercício de cargos de autoridade na igreja de Deus. Que fique bem claro, que no que toca à salvação, para Deus não há nem homem nem mulher, pois todos sendo pecadores, todos são justificados perante Deus de igual forma – pelo sangue de Yeshua. Porém, cada um é chamado pelo mesmo Deus a desempenhar papeis diferentes tendo em vista a transmissão de uma imagem ilustrativa da relação entre Deus e a igreja. A Palavra de Deus abunda com o nome de mulheres que serviram a Deus com dignidade e honra e sempre dentro das funções que o próprio Deus lhes atribuiu. Mulheres essas cujos nomes serão recordados como exemplos muito após o politicamente correcto feminismo evangélico dos nossos dias estar morto e enterrado. Rui Quinta Lisboa, Maio de 2010