AS REFORMAS TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA:...

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AS REFORMAS TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA: COMENTÁRIOS PRELIMINARES SOBRE O FIM DO TRABALHO ASSALARIADO Lucas Demeda dos Santos (UCS/Prefeitura Municipal de Caxias do Sul) Ramone Mincato (Orientadora) O Brasil vivencia em 2017 alterações importantes no conjunto de normas que re- gem as relações de trabalho: - o governo federal aprovou um pacote de medidas que desregulamenta direitos trabalhistas e flexibiliza as relações entre trabalho e capital; - e discute, até o momento da redação deste texto, uma reforma previdenciária que torna mais rígidas às condições de acesso à aposentadoria. Estas reformas chegam em um momento de mudanças-chave: - no campo econômico-social, há o aprofundamento de transformações estruturais percebidas desde o século XX (acumulação flexível, revolução nas comunicações, glo- balização do capital), acompanhado pelo agravamento da crise social, com o aumen- to do desemprego estrutural e da pobreza relativa; - no campo político-ideológico, uma crise institucional e crescente perda de legitimi- dade dos governos, cujas políticas econômicas liberais são acompanhadas por práti- cas políticas anti-democráticas. Neste contexto, problematiza-se as implicações das reformas trabalhista e pre- videnciária no mundo do trabalho. O objetivo deste estudo é analisar a influência das reformas na garantia de direitos e na formatação da força de trabalho, por meio de revisão bibliográfica e pesquisa documental, tendo em vista verificar como elas apontam para o fim do trabalho assalariado. O texto está estruturado na apresentação de um referencial teórico sobre o Estado (OFFE, RONGE; 1984), as políticas sociais e o trabalho assalariado (OFFE; LENHARDT, 1984); na contextualização da reforma trabalhista no Brasil no cenário mais amplo da crise do capitalismo a partir dos anos 1970 (ANTUNES, 1995); e na apresentação das reformas e suas implicações na garantia de direitos e no novo perfil da força de trabalho. INTRODUÇÃO O ESTADO CAPITALISTA A teoria do Estado capitalista, na tradição marxista, se divide em duas perspec- tivas. A primeira considera o estado como instrumento das classes dominantes, sendo mera ferramenta da burguesia. A segunda, aceita por Offe e Ronge (1984) e seguida aqui, assume que o Estado “protege e sanciona instituições e relações so- ciais que [...] constituem o requisito institucional para a dominação de classes do capital” ( p. 123). Nesta concepção, o Estado nao “serve” diretamente a burguesia, mas tem a função de manter certas relações sociais. No caso, do capitalismo, acaba por garantir a burguesia como classe dominante devido às próprias configurações do sistema. Formalmente, porém, “serve” às relações de classe estabelecidas. O Estado capitalista, conceituado como a “forma institucional do poder público em sua relação com a produção material” (OFFE; RONGE, 1984, p. 123), é caracteri- zado por quatro condições fundamentais: - a privatização da produção; - a dependência dos impostos; - a acumulação como ponto de referência; - a legitimação democrática. AS POLÍTICAS SOCIAIS E O TRABALHO ASSALARIADO U m dos problemas estruturais do Estado capitalista consiste na “transformação du- radoura de trabalho não assalariado em trabalho assalariado” (OFFE; LENHARDT, 1984, p. 15). Não há razões para imaginar que a população “desapropriada” de sua auto- nomia na gênese do capitalismo e em seguida a partir dos processos contínuos de inovação tecnológica e crises cíclicas do sistema passe a vender espontaneamente sua força de trabalho. Nada impede que as pessoas optem por outros meios de so- brevivência fora do mercado de trabalho, como a migração, o roubo, a mendicância, ou a adesão a movimentos pós-capitalistas, como a auto-organização socialista. Para atrair e manter os proprietários da força de trabalho no mercado, são ne- cessárias “estratégias de proletarização ativa”, que desencorajem outros modos de vida ou tornem mais “atrativa” a condição do trabalho assalariado (OFFE; LENHARDT, 1984). Essas medidas não podem ser empreendidas pelo proprietário do capital, já que este tende a explorar ao máximo a força de trabalho, buscando aumentar a acumu- lação em curto prazo. O papel de preservar o trabalho assalariado recai sobre o Estado, que operacio- naliza esse objetivo por meio das políticas sociais. Conforme Mincato (2012), o pro- prietário do capital remunera o trabalho por meio do salário direto, que assegura a subsistência do trabalhador. Já as políticas sociais (programas e benefícios sociais e previdenciários, por exemplo) constituem um salário indireto que busca assegurar a reprodução do trabalho assalariado ao longo do tempo. M UDANÇAS CONTEMPORÂNEAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO DISCUSSÃO/CONSIDERAÇÕES REFERÊNCIAS A s transformações contemporâneas no mundo do trabalho podem ser detecta- das a partir da década de 1960 e 1970, quando uma diminuição no rítmo de acumulação do capital nos países capitalistas centrais motiva mudanças profundas nos processos produtivos (ALVES, 2000), que podem ser abarcadas pelo conceito de “acumulacao flexível”, exemplificado principalmente pela prática organizacional do toyotismo, cujas caracteristicas definidoras são: - produção flexível, com foco em atender a demanda do consumidor, trabalhando a partir de pedidos e a manutenção estoque mínimo; - aposta na utilização de subcontratadas para atender partes do processo de produção para ganho de agilidade e economia no processo. Tal configuração exige uma igual flexibilização das relações de trabalho que, para Antunes (1995), afeta duramente a subjetividade da classe trabalhadora e constitui uma intensificação da exploração, já que desestrutura as instituições e processos de luta sindical e trabalhista existentes e torna o trabalhador refém de um ritmo de trabalho intermitente e configurado a partir de estritos padrões de qualidade. É possível, em análise preliminar, relacionar a permissão da terceirização de mão de obra para atividades-fim das empresas (BRASIL, 2017a) com a primeira fase da liberalização das relações de trabalho ocorridas no Brasil a partir da década de 1990, na esteira do modelo de “acumulação flexível” internacional. Naquele mo- mento, a flexibilização trabalhista provocou aumento no desemprego estrutural e do trabalho precarizado. Estudos também indicam que o terceirizado tem condições objetivas de trabalho piores do que as do trabalhador em geral, embora dados nesse sentido sejam escassos. A reforma trabalhista (BRASIL, 2017b), ao defender que o acordado entre capital e trabalho se sobreponha à lei, afasta o Estado do papel de definidor de parâmetros de negociação entre as partes. Além disso, ao retirar a obrigatoriedade do imposto sindical, uma das principais fontes de financiamento das entidades representantes dos trabalhadores, reequilibra o jogo de forças e deixa o capital com maior capaci- dade de mobilizatória, fruto de seu poder econômico. Ao considerar, historicamente, que o capital apresenta a tendência de superexplorar a força de trabalho, pode-se inferir que tal medida ameaçe a reprodução do trabalho assalariado no país no lon- go prazo. A reforma da previdência (BRASIL, 2016), caso efetivamente seja aprovada, atua no mesmo sentido. Cortando direitos e dificultando o acesso à benefícios, ela diminui a atratividade do trabalho assalariado e prejudica sua renovação em prol da tenta- tiva de aumentar a acumulação de capital no curtíssimo prazo. Offe e Lenhardt (1984) alertam que os resultados das políticas sociais nunca são os esperados por seus proponentes, mas dependem de resultados dos conflitos sociais que ocorrem a partir de sua aplicação. Este trabalho, com base em resgate teórico de alguns conceitos, buscou extrapolar esse princípio e refletir sobre possí- veis consequências de políticas recentemente implantadas/discutidas no território nacional, inserindo-as num contexto histórico mais amplo. Tratam-se de comentários iniciais, com o objetivo de fomentar a discussão sobre o tema. Cabe questionar: caso, com base no apresentado até aqui, as reformas tra- balhista e previdenciária coloquem em risco a reprodução do trabalho assalariado, como o sistema capitalista reagirá, estruturalmente? O fim do trabalho assalariado, alicerce da relação de exploração entre capital e trabalho, sinaliza para o fim do ca- pitalismo? A partir disso, pode-se esperar o fim da exploração capital-trabalho ou sua intensificação? Dado ao grau de adaptabilidade do sistema, as engrenagens se moverão novamente em direção a uma maior mediação do Estado? Essas e outras questões devem ser enfrentadas por estudos futuros, que acom- panhem de perto as transformações no mercado e nas relações de trabalho brasilei- ras a partir do dinâmico contexto contemporâneo. - ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: Reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000. - ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995. - BRASIL. Lei Nº 13.429, de 31 de Março de 2017. Brasília, 2017a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/ L13429.htm>. Acesso em: 01 jul. 2017. - BRASIL. Lei Nº 13.467, de 13 de Julho de 2017. Brasília, 2017b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/ L13467.htm>. Acesso em: 01 jul. 2017. - BRASIL. PEC 287/2016. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2119881>. Acesso em: 01 jul. 2017. - MINCATO, Ramone. Políticas públicas e sociais: uma abordagem crítica e processual. In: OLIVEIRA, Mara de; BERGUE, Sandro Trescastro (Org.). Políticas públicas: definições, interlocuções e experiências. Caxias do Sul: Educs, 2012. p. 81-97. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/ POLITICAS_PUBLICAS_EDUCS_EBOOK_2.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2017. - OFFE, Claus; LENHARDT, Gero. Teoria do Estado e Política Social: Tentativas de Explicação POlítico-Sociológica para as Funções e os Processos Inovadores da Política Social. In: OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 10-55. - OFFE, Claus; RONGE, Volker. Teses sobre a fundamentação do conceito de “Estado Capitalista” e sobre a pesquisa política de orientação materialista. In: OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 122-139. Foto: Sebastião Salgado, Trabalhadores (1993)

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AS REFORMAS TRABALHISTA E PREVIDENCIÁRIA: COMENTÁRIOS PRELIMINARES SOBRE O FIM DO TRABALHO ASSALARIADOLucas Demeda dos Santos (UCS/Prefeitura Municipal de Caxias do Sul)Ramone Mincato (Orientadora)

O Brasil vivencia em 2017 alterações importantes no conjunto de normas que re-gem as relações de trabalho:

- o governo federal aprovou um pacote de medidas que desregulamenta direitos trabalhistas e flexibiliza as relações entre trabalho e capital; - e discute, até o momento da redação deste texto, uma reforma previdenciária que torna mais rígidas às condições de acesso à aposentadoria. Estas reformas chegam em um momento de mudanças-chave: - no campo econômico-social, há o aprofundamento de transformações estruturais percebidas desde o século XX (acumulação flexível, revolução nas comunicações, glo-balização do capital), acompanhado pelo agravamento da crise social, com o aumen-to do desemprego estrutural e da pobreza relativa; - no campo político-ideológico, uma crise institucional e crescente perda de legitimi-dade dos governos, cujas políticas econômicas liberais são acompanhadas por práti-cas políticas anti-democráticas. Neste contexto, problematiza-se as implicações das reformas trabalhista e pre-videnciária no mundo do trabalho. O objetivo deste estudo é analisar a influência das reformas na garantia de direitos e na formatação da força de trabalho, por meio de revisão bibliográfica e pesquisa documental, tendo em vista verificar como elas apontam para o fim do trabalho assalariado. O texto está estruturado na apresentação de um referencial teórico sobre o Estado (OFFE, RONGE; 1984), as políticas sociais e o trabalho assalariado (OFFE; LENHARDT, 1984); na contextualização da reforma trabalhista no Brasil no cenário mais amplo da crise do capitalismo a partir dos anos 1970 (ANTUNES, 1995); e na apresentação das reformas e suas implicações na garantia de direitos e no novo perfil da força de trabalho.

INTRODUÇÃO

O ESTADO CAPITALISTA

A teoria do Estado capitalista, na tradição marxista, se divide em duas perspec-tivas. A primeira considera o estado como instrumento das classes dominantes,

sendo mera ferramenta da burguesia. A segunda, aceita por Offe e Ronge (1984) e seguida aqui, assume que o Estado “protege e sanciona instituições e relações so-ciais que [...] constituem o requisito institucional para a dominação de classes do capital” ( p. 123). Nesta concepção, o Estado nao “serve” diretamente a burguesia, mas tem a função de manter certas relações sociais. No caso, do capitalismo, acaba por garantir a burguesia como classe dominante devido às próprias configurações do sistema. Formalmente, porém, “serve” às relações de classe estabelecidas. O Estado capitalista, conceituado como a “forma institucional do poder público em sua relação com a produção material” (OFFE; RONGE, 1984, p. 123), é caracteri-zado por quatro condições fundamentais: - a privatização da produção; - a dependência dos impostos; - a acumulação como ponto de referência; - a legitimação democrática.

AS POLÍTICAS SOCIAIS E O TRABALHO ASSALARIADO

Um dos problemas estruturais do Estado capitalista consiste na “transformação du-radoura de trabalho não assalariado em trabalho assalariado” (OFFE; LENHARDT,

1984, p. 15). Não há razões para imaginar que a população “desapropriada” de sua auto-nomia na gênese do capitalismo e em seguida a partir dos processos contínuos de inovação tecnológica e crises cíclicas do sistema passe a vender espontaneamente sua força de trabalho. Nada impede que as pessoas optem por outros meios de so-brevivência fora do mercado de trabalho, como a migração, o roubo, a mendicância, ou a adesão a movimentos pós-capitalistas, como a auto-organização socialista. Para atrair e manter os proprietários da força de trabalho no mercado, são ne-cessárias “estratégias de proletarização ativa”, que desencorajem outros modos de vida ou tornem mais “atrativa” a condição do trabalho assalariado (OFFE; LENHARDT, 1984). Essas medidas não podem ser empreendidas pelo proprietário do capital, já que este tende a explorar ao máximo a força de trabalho, buscando aumentar a acumu-lação em curto prazo. O papel de preservar o trabalho assalariado recai sobre o Estado, que operacio-naliza esse objetivo por meio das políticas sociais. Conforme Mincato (2012), o pro-prietário do capital remunera o trabalho por meio do salário direto, que assegura a subsistência do trabalhador. Já as políticas sociais (programas e benefícios sociais e previdenciários, por exemplo) constituem um salário indireto que busca assegurar a reprodução do trabalho assalariado ao longo do tempo.

MUDANÇAS CONTEMPORÂNEAS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

DISCUSSÃO/CONSIDERAÇÕES

REFERÊNCIAS

As transformações contemporâneas no mundo do trabalho podem ser detecta-das a partir da década de 1960 e 1970, quando uma diminuição no rítmo de

acumulação do capital nos países capitalistas centrais motiva mudanças profundas nos processos produtivos (ALVES, 2000), que podem ser abarcadas pelo conceito de “acumulacao flexível”, exemplificado principalmente pela prática organizacional do toyotismo, cujas caracteristicas definidoras são: - produção flexível, com foco em atender a demanda do consumidor, trabalhando a partir de pedidos e a manutenção estoque mínimo; - aposta na utilização de subcontratadas para atender partes do processo de produção para ganho de agilidade e economia no processo. Tal configuração exige uma igual flexibilização das relações de trabalho que, para Antunes (1995), afeta duramente a subjetividade da classe trabalhadora e constitui uma intensificação da exploração, já que desestrutura as instituições e processos de luta sindical e trabalhista existentes e torna o trabalhador refém de um ritmo de trabalho intermitente e configurado a partir de estritos padrões de qualidade.

É possível, em análise preliminar, relacionar a permissão da terceirização de mão de obra para atividades-fim das empresas (BRASIL, 2017a) com a primeira fase

da liberalização das relações de trabalho ocorridas no Brasil a partir da década de 1990, na esteira do modelo de “acumulação flexível” internacional. Naquele mo-mento, a flexibilização trabalhista provocou aumento no desemprego estrutural e do trabalho precarizado. Estudos também indicam que o terceirizado tem condições objetivas de trabalho piores do que as do trabalhador em geral, embora dados nesse sentido sejam escassos. A reforma trabalhista (BRASIL, 2017b), ao defender que o acordado entre capital e trabalho se sobreponha à lei, afasta o Estado do papel de definidor de parâmetros de negociação entre as partes. Além disso, ao retirar a obrigatoriedade do imposto sindical, uma das principais fontes de financiamento das entidades representantes dos trabalhadores, reequilibra o jogo de forças e deixa o capital com maior capaci-dade de mobilizatória, fruto de seu poder econômico. Ao considerar, historicamente, que o capital apresenta a tendência de superexplorar a força de trabalho, pode-se inferir que tal medida ameaçe a reprodução do trabalho assalariado no país no lon-go prazo. A reforma da previdência (BRASIL, 2016), caso efetivamente seja aprovada, atua no mesmo sentido. Cortando direitos e dificultando o acesso à benefícios, ela diminui a atratividade do trabalho assalariado e prejudica sua renovação em prol da tenta-tiva de aumentar a acumulação de capital no curtíssimo prazo. Offe e Lenhardt (1984) alertam que os resultados das políticas sociais nunca são os esperados por seus proponentes, mas dependem de resultados dos conflitos sociais que ocorrem a partir de sua aplicação. Este trabalho, com base em resgate teórico de alguns conceitos, buscou extrapolar esse princípio e refletir sobre possí-veis consequências de políticas recentemente implantadas/discutidas no território nacional, inserindo-as num contexto histórico mais amplo. Tratam-se de comentários iniciais, com o objetivo de fomentar a discussão sobre o tema. Cabe questionar: caso, com base no apresentado até aqui, as reformas tra-balhista e previdenciária coloquem em risco a reprodução do trabalho assalariado, como o sistema capitalista reagirá, estruturalmente? O fim do trabalho assalariado, alicerce da relação de exploração entre capital e trabalho, sinaliza para o fim do ca-pitalismo? A partir disso, pode-se esperar o fim da exploração capital-trabalho ou sua intensificação? Dado ao grau de adaptabilidade do sistema, as engrenagens se moverão novamente em direção a uma maior mediação do Estado? Essas e outras questões devem ser enfrentadas por estudos futuros, que acom-panhem de perto as transformações no mercado e nas relações de trabalho brasilei-ras a partir do dinâmico contexto contemporâneo.

- ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: Reestruturação produtiva e crise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000.- ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.- BRASIL. Lei Nº 13.429, de 31 de Março de 2017. Brasília, 2017a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13429.htm>. Acesso em: 01 jul. 2017.- BRASIL. Lei Nº 13.467, de 13 de Julho de 2017. Brasília, 2017b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13467.htm>. Acesso em: 01 jul. 2017.- BRASIL. PEC 287/2016. Brasília, 2016. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2119881>. Acesso em: 01 jul. 2017.- MINCATO, Ramone. Políticas públicas e sociais: uma abordagem crítica e processual. In: OLIVEIRA, Mara de; BERGUE, Sandro Trescastro (Org.). Políticas públicas: definições, interlocuções e experiências. Caxias do Sul: Educs, 2012. p. 81-97. Disponível em: <https://www.ucs.br/site/midia/arquivos/POLITICAS_PUBLICAS_EDUCS_EBOOK_2.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2017.- OFFE, Claus; LENHARDT, Gero. Teoria do Estado e Política Social: Tentativas de Explicação POlítico-Sociológica para as Funções e os Processos Inovadores da Política Social. In: OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 10-55.- OFFE, Claus; RONGE, Volker. Teses sobre a fundamentação do conceito de “Estado Capitalista” e sobre a pesquisa política de orientação materialista. In: OFFE, Claus. Problemas Estruturais do Estado Capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 122-139.

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