Audiência geral, 76

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P1 • Boletim de Espiritualidade • Nº76 • dezembro de 2020 Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal [email protected] • Tlf. 249 530 650 1 DEZEMBRO 2020 Ano VII 76 76 Agenda dezembro 2020 2 T. Vedras (Varatojo) – Encontro sobre a encíclica «Fratelli Tutti» 3 a 6 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 4 a 8 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 5 Rumos: Encontro online de Oração para Jovens (Rumos) – 21h 5 Viana do Castelo (Convento do Carmo) – Retiro de Advento 7 Fátima (Santuário) – Recoleção com Cón. Jorge Alberto da Silva Seixas 9 a 13 Colares (Praia grande) – Exercícios Espirituais 9 a 17 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Colares (Praia grande) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios espirituais – P. Francisco Campos 12 Edith Stein: colóquio Online 12 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São João da Cruz 16 T. Vedras (Varatojo) – Encontro sobre a encíclica «Fratelli Tutti» 15 Porto (C. Cultura Católica) – A vocação e missão dos leigos – Marcos Faria 17 a 20 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 18 a 20 Avessadas – Fim de semana com Edith Stein 26 a 30 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 26 a 31 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais Agenda janeiro 2021 5 Porto (C. Cultura Católica) – A família como Igreja doméstica – Emanuel Brandão de Sousa 8 a 10 Fátima (Domus Carmeli) – XVIII Rumos 9 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São João da Cruz 22 a 24 Fátima (Domus Carmeli) – Escola de Oração: Formação de Animadores 23 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São João da Cruz 23 e 24 Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios espirituais – P. António Freitas 29 a 31 Avessadas – Workshop Música e Espiritualidade. – Fr. Francisco Braguês 31 a 5fev Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios Espirituais para Sacerdotes e Diáconos A oração sabe acalmar a inquietação: mas nós estamos inquietos, queremos sempre as coisas antes de as pedirmos, e queremo-las imediatamente. Esta inquietação fere-nos, e a oração sabe acalmar a inquietação, sabe transformá-la em disponibilidade. Papa Francisco, Audiência geral, 18 de novembro de 2020.

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P1 • Boletim de Espiritualidade • Nº76 • dezembro de 2020 Ordem dos Carmelitas Descalços em Portugal • [email protected] • Tlf. 249 530 650

1 DEZEMBRO 2020 Ano VII 76 76

Agenda dezembro 20202 T. Vedras (Varatojo) – Encontro sobre a encíclica

«Fratelli Tutti» 3 a 6 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 4 a 8 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 5 Rumos: Encontro online de Oração para Jovens

(Rumos) – 21h 5 Viana do Castelo (Convento do Carmo) – Retiro

de Advento 7 Fátima (Santuário) – Recoleção com Cón. Jorge

Alberto da Silva Seixas 9 a 13 Colares (Praia grande) – Exercícios Espirituais 9 a 17 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Colares (Praia grande) – Exercícios Espirituais 10 a 13 Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios

espirituais – P. Francisco Campos 12 Edith Stein: colóquio Online 12 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São

João da Cruz 16 T. Vedras (Varatojo) – Encontro sobre a encíclica

«Fratelli Tutti» 15 Porto (C. Cultura Católica) – A vocação e missão

dos leigos – Marcos Faria

17 a 20 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 18 a 20 Avessadas – Fim de semana com Edith Stein 26 a 30 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais 26 a 31 Braga (Casa de Soutelo) – Exercícios Espirituais

Agenda janeiro 20215 Porto (C. Cultura Católica) – A família como Igreja

doméstica – Emanuel Brandão de Sousa 8 a 10 Fátima (Domus Carmeli) – XVIII Rumos 9 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São

João da Cruz 22 a 24 Fátima (Domus Carmeli) – Escola de Oração:

Formação de Animadores 23 Foz do Douro (Carmelitas) – Guias para Deus: São

João da Cruz 23 e 24 Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios

espirituais – P. António Freitas 29 a 31 Avessadas – Workshop Música e Espiritualidade.

– Fr. Francisco Braguês 31 a 5fev Algarve (S. Lourenço do Palmeiral) – Exercícios

Espirituais para Sacerdotes e Diáconos

A oração sabe acalmar a inquietação: mas nós estamos inquietos, queremos sempre as coisas antes de as pedirmos, e queremo-las imediatamente. Esta inquietação fere-nos, e a oração sabe acalmar a inquietação, sabe transformá-la em disponibilidade.Papa Francisco, Audiência geral, 18 de novembro de 2020.

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A Palavra e o NatalArmindo Vaz, OCD

O Natal que se aproxima no turbilhão de uma pandemia celebra o dia glorioso em que se entregou ao tempo e entrou na história humana o Filho de Deus. A fé do evan-gelista João identifica-o com a Palavra, pensando Deus como o Mistério que quer comunicar e ‘dizer’ o seu Ser aos humanos: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus… E a Palavra fez-se carne e armou a sua tenda entre nós” (Jo 1,1.14). Fez-se carne em Jesus, que lhe deu corpo sem a limitar, a carne que na antropologia bíblica é a dimensão vulnerável, frágil, transitória, do ser humano: a carne que sente frio e calor, fome, sede e cansaço; a carne que tem desejos e tentações; a carne que chora e sangra; a carne que é acariciada, beijada e “envolta em panos”. O Natal celebra essencialmente o início histórico dessa Incarnação da Pala-vra eterna de Deus na transitoriedade do humano – Incar-nação que abrange toda a vida terrena de Jesus. Celebra a vinda do Filho de Deus aos filhos dos homens: em Jesus e por Jesus, o Deus eterno (que no povo de Israel já se tinha revelado como «Deus connosco») nasceu como «Deus em nós», assumiu a condição de Homem, os nossos afectos, a nossa fraqueza, como qualquer filho de mulher. Revelando assim plenamente a sua imagem, penetrou no espaço e no tempo, trazendo o divino ao humano. Nasceu em nós para dar o mais alto sentido à fragilidade humana – agora assolada até por uma pandemia – e para que cada um seja salvo na medida em que toma consciência da entrada de Deus na sua vida, lhe dá as boas-vindas e se deixa salvar por Ele.

Esse pode ser o milagre do Natal – «milagre» visto pela fé como intervenção grandiosa de Deus a favor dos huma-nos: “a Palavra era a luz verdadeira que, vindo a este mundo, ilumina todo o homem…; a todos quantos a rece-beram [à Palavra] deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus”. Os que acreditam no Filho tornam-se filhos. O oposto a este milagre é o drama: “veio aos seus e os seus não a acolheram” (Jo 1,9.12 e 11). Lucas di-lo com outra palavra: “Maria deu à luz o seu filho primogénito… e recli-nou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (2,7). Assim, o Natal passou-se e passa-se entre o milagre dos que aceitam Jesus e o drama dos que não o querem hospedar: “a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz…; quem acredita no Filho tem a vida definitiva; mas quem resiste ao Filho não verá a vida” (Jo 3,19.36). Entre o milagre e o drama, as alternativas (frieza, indiferença, fazer de conta que não me diz respeito) não satisfazem. E as consequên-cias para os que desencadeiam o drama são pouco lison-jeiras: ao não darem lugar na sua fé, nos pensamentos, na agenda e nas palavras a Jesus, fecham-se aos benefí-cios do imenso potencial do seu amor. De facto, foi pelo amor que ele pautou a vida: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (Jo 13,1). Nasceu do amor, morreu por amor. Com este enquadramento da vida, sugeria que o amor é a experiência-limite que salva a existência humana, sendo o resto mera decoração.

Foi logo pelo Amor – pelo seu Espírito – que Deus Pai fez de Jesus seu Filho e por Jesus entrou na paisagem humana: “Maria, o Espírito Santo virá sobre ti…; por isso, aquele que é concebido santo será chamado Filho de Deus” (Lc 1,35). As palavras do Natal de Jesus nos evangelhos trans-parecem experiências de intimidade e interioridade, de bondade e doçura, de novidade e esperança: inspiram afecto. Vozes angélicas cantam loas e convidam à alegria. Uma estrela orienta os pagãos até Jesus. A saudação de Isabel a Maria que visita a família, anunciações celestes – a Palavra de Deus simbolizada num enviado – a Maria, a José, ao pai de João e aos pastores pintam o céu a descer à terra, a transcendência a entrar na imanência. Mas o tom que paira de leve sobre as cenas do seu venturoso nasci-mento e sobre as respectivas personagens é o do amor de Deus. Elas escutam o inefável, experimentam o divino, descobrem um mundo não mágico mas super-real, escon-dido aos distraídos actores do drama. O Natal de Jesus (e toda a sua vida terrena) revela definitivamente o amor de Deus na história humana. Não nos vem tirar nada nem exigir o impossível. Traz paz. Pede amor possível.

Francisco pede a «cultura do encontro» (Fratelli tutti, 30). Ora, bom lugar de encontro no Natal é o presépio. Lá, cren-tes e não crentes, nobres e pobres, reis e pastores, pais e filhos, ficam todos encantados, no sentimento comum da ternura. Mas não se concebe o presépio e o Natal sem Jesus. Os presentes de Natal não podem encobrir a manje-doura de rendinhas, envoltórios, embrulhos coloridos, laçarotes, vistosos adornos, fantasias e lâmpadas de néon, a taparem o Nascido celebrado. Dariam o secundário. Trairiam o coração do Natal, tornando-o palavra gasta ou comercial. Os bons presentes de Natal dão também Jesus, que desperta em nós o humano, numa lógica de conver-são que estreita o humano com o divino.

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Studia CarmelitaChamada para Trabalhos

A Escola de Oração que os Carmelitas Descalços têm realizado a partir de Fátima terminou a segunda edição no passado mês de novembro, desta vez apenas em versão online. Tendo em conta as atuais restrições de movimentações, os organizadores desta Escola vão contar mais com esta possibilidade de partici-pação online. As próximas atividades são o Encontro de Formadores agendado para os dias 22 a 24 de janeiro de 2021, o Retiro pensado para os dias 26 a 28 de fevereiro de 2021 e um módulo sobre Lectio Divina dos Salmos, para os dias 4 a 6 de junho de 2021. Ao aproximar-se cada uma destas datas, decidiremos se mantemos o regime presencial, online ou misto. Entretanto, para alimentar e reavivar tudo quanto fomos recebendo, propomos para os participantes das duas edições encontros mensais, apenas via online, de cerca de uma hora, para podermos recordar e aprofundar os conteúdos recebidos e para os podermos rezar juntos. Para quem ainda não teve a oportunidade de viver a alegre expe-riência de um curso da Escola de Oração pode ir organizando a sua agenda para participar no curso com que vamos sonhando para o ano pastoral 2021-2022.

Estão abertas as inscrições para o VII Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos de Religião, organizado pelo Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Reli-gião (CITER), o Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos (CEFH), ambos da Universidade Católica Portuguesa e o Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC SP), com o tema «Religião, mobilidade e cidadania». O simpósio acontecerá nos dias 27 a 29 de janeiro de 2021, na UCP, no Polo regional de Braga.

O Colóquio sobre Edith Stein agendado para o dia 12 de dezembro será apenas online. Tendo em conta os atuais condicionamentos decorrentes da pandemia, esta será a melhor forma de participar. Enviaremos, a seu tempo, informação a cada inscrito para esta atividade a fim de poder participar nas melhores condi-ções nesta atividade.

Escola de OraçãoEncontros mensais

VII Simpósio de Estudos de ReligiãoAbertas as inscrições para o Simpósio Luso-Brasileiro

Colóquio sobre Edith SteinApenas online

A Comissão de Estudos Históricos e Património Cultural da Ordem dos Carmelitas Descalços (CEHPC-OCD) depois de em 2019 ter editado o número inaugural da Revista STUDIA CARMELITA, pensada como espaço de divulgação da pesquisa em torno da História e Património Cultural da OCD em Portugal e no Mundo Lusó-fono (e nas suas relações com outras geografias), vem agora fazer uma nova chamada de trabalhos para o número referente a 2020, que será dedicado ao estudo da pintura artís-tica nos conventos da OCD. Assim, convidamos todos os investigadores a candidatarem os seus trabalhos inéditos, os quais devem abranger alguns pontos essenciais como: nor-mativa, exemplares realizados para os núcleos conventuais de enco-menda particular ou da Ordem (ainda que já desaparecidos ou deslocados), pintura executada pelos seus mem-bros, ou quaisquer outros trabalhos que se enquadrem na temática, quer no âmbito do território nacional, quer nos antigos territórios ultramarinos onde a OCD tinha presença, duran-te o período temporal que decorre desde a sua fundação em Portugal no ano de 1581, até à extinção das Ordens Religiosas no ano de 1834.

Os trabalhos apresentados devem inserir-se nas quatro secções da STUDIA CARMELITA: Estudos, Fontes, Recensões e Vária. Todas as propos-tas de trabalho serão submetidas à Comissão Científica e Consultiva da Revista, bem como a especialistas externos, caso isso se justifique. Os textos propostos para publicação deverão ser remetidos, para poste-riores arbitragens científicas, até ao final de dezembro de 2020 para o email [email protected] As normas aplicáveis e outras infor-mações poderão ser consultadas no site da CEHPC-OCD: https://historia.carmelitas.pt/normas/

A STUDIA CARMELITA é uma revis-ta científica on-line, de periodicidade anual, da responsabilidade da CEHPC--OCD.

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A Mariposilha BrancaFrei João Costa, OCD

1. Os dias estão mais e mais curtos: despertam mais tar-de e a noite cai sobre nós mais cedo, o sol não aque-ce tanto e as árvores despem-se das folhas. Dentro em breve tudo o mais morrerá para renascer na primavera. Impossível, por isso, não pensar no fim, pois tal como caem as folhas sobre os passeios, cai o frio sobre nós. E fechamo-nos em casa. E não é só o frio e a chuva que nos encarceram em casa; temerosos também nos recluí-mos por causa da covide, com medo dos contágios que não param de crescer à nossa volta! Enfim, parece-nos que só estamos seguros no resguardo do lar. E presos ali e ali limitados a quatro paredes e ao teletrabalho, é, porém, impossível que, de quando em vez, não nos as-saltem pensamentos sobre o dia em que também sobre nós descerá o véu do the end e seremos levados a julga-mento diante do trono do Altíssimo.

2. Neste enclausuramento a que o inverno nos obriga e a que nos impele o medo ao novo coronavírus, dei por mim a lembrar-me da força transformadora da parábola do bicho da seda contada por Santa Teresa de Jesus.

Creio que nos fará bem meditá-la, nós que estamos a celebrar o último domingo do ano cristão, e nos apres-tamos a iniciar um novo. (Havemos de notar que neste domingo o evangelho nos chama a juízo, não só aos en-clausurados pelo medo e pelo inverno, mas a todos — a todos mesmo —, pois que o processo de transformação é caminho a que tarde ou cedo não escapamos, e sobre cujos frutos um dia prestaremos contas.)

Creio bem que este punhado de adversidades (ou po-tencialidades?) que nos cercam bem pode ser usado por Deus para mais nos atrair ao seu coração e nos transfor-mar rumo à união total com Ele. Sim, o seu amor tudo pode. E mal estaríamos nós se o poder do amor não fos-se transformante e capaz de nos oferecer um rumo para a liberdade, a beleza e a grandeza de Deus presente no comum das relações humanas do dia a dia.

Sobre a beleza de tal transformação a que todos es-tamos chamados, diz Santa Teresa no seu livro Castelo Interior:

3. «Eis como se cria a seda: Os ovos eclodem com o calor, quando começa a haver folhas nas amoreiras; então, esse bichinho que estivera como morto começa a viver. E quan-do crescem as folhas, cada verme alimenta-se e com a bo-quinha, vai fiando a seda, que tira de si mesmo. Tece um casulinho muito apertado, onde se encerra; então desapa-rece o verme, que é muito feio, e sai do mesmo casulo uma borboletinha branca, muito graciosa.»

4. Na parábola o bicho da sede cresce, vai duma situação de aparente não vida para a vida, e depois de ter cres-cido, começa a alimentar-se para, já adulto, fiar, com a boca, o casulo, onde se fecha, para de seguida abando-ná-lo feito uma bela mariposilha branca.

A parábola de Santa Teresa de Jesus tem tudo o que poderá fazer destes dias de confinamento um poderoso movimento da graça divina em favor da humanidade: um bichinho (feio), um casulinho (confinamento), um processo de transformação (mariposilha branca). Creio

que aqui está tudo, e nem faltam sequer as boas obras (o fio da seda) em favor dos demais!

Estes duros dias que nos toca viver, são, pois, uma graciosa oportunidade de radical transformação de bi-chinho feio em bela mariposilha branca, apesar de se apresentarem tão adversos pelo quanto transportam no ventre e que tanto nos assustam: infecções incontáveis, dor própria e alheia, e a tragédia da morte.

Assim são os santos: veem luz onde nós só vemos uma horrenda e dura noite escura. Aliás, talvez mais poeticamente, num curto verso, São João da Cruz, espe-rançadamente, declarou o mesmo, ao dizer: «Matando, morte em vida me tens trocado».

5. Sim, vivamos estes dias da era da covide com perspec-tiva de grandeza: algo no bichinho feio que somos tem de morrer no casulo das nossas moradas, para que pas-sada a tribulação, a mariposilha que estamos chamados a ser, se liberte e se encante com a luz quente do sol e o perfume das flores!

Sejamos expectantemente positivos, portanto; desa-fiadoramente positivos. O que, porém, não nos livrará de termos de levar em conta que mesmo sendo uma mariposilha — e que beleza, que beleza se tal suceder ainda nesta terra de peregrinos! —, um dia vamos a con-tas com Deus. Sim, que de contas a prestar fala o evan-gelho deste último domingo do ano cristão. Então não é que no fim vamos todos, todos mesmo, a juízo? E que tal como um pastor sabe distinguir e separar cabras de ovelhas, assim também o Supremo Juiz saberá distinguir e apartar quem merece o prémio da vitória (os bons) e o prémio da abominação (os maus)!

6. Contemplemos neste último domingo do ano cristão a nossa vida desde o espelho da nossa fé: Jesus, que, sem condições, entregou a sua vida pela salvação de todos; e tenhamos, pois, por certo, que tal juízo sê-lo-á também para nós, claro. E, curiosamente, não será nem sobre o muito que acreditámos, nem sobre o muito que rezá-mos, nem sobre o muito que pensámos em Deus. Será antes sobre o que fizemos e sobre o que não fizemos aos mais pequeninos e aos frágeis. O que, pois, nos há--de salvar (transformando-nos definitivamente em ma-riposilhas brancas) será o bem feito aos mais pequeni-nos, que eles são no hoje da nossa vida o rosto e o corpo sofredor de Cristo: se vês um pobre vês a Cristo, pelo que serão, eles, os pobres, os teus juízes, no Juízo Final!

7. Sim, iremos a juízo, não tenhamos dúvidas; mas como disse um santo: se em tal juízo eu tivesse de escolher o juiz entre a minha mãe e Deus, eu escolheria sempre Deus!