AVALIAÇÃO DAS ÁREAS PSICOMOTORAS NA SÍNDROME DE …
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
CAROLINA CUNHA BARROS NOBRE
AVALIAÇÃO DAS ÁREAS PSICOMOTORAS NA SÍNDROME DE DOWN:
CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL
CAMPINAS
2015
2
CAROLINA CUNHA BARROS NOBRE
AVALIAÇÃO DAS ÁREAS PSICOMOTORAS NA SÍNDROME DE DOWN:
CONTRIBUIÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos
exigidos para a obtenção do título de Mestra em Saúde,
Interdisciplinaridade e Reabilitação na área de concentração
Interdisciplinaridade e Reabilitação.
ORIENTADORA: LUCIA HELENA REILY
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA
ALUNA CAROLINA CUNHA BARROS NOBRE,
E ORIENTADA PELA PROF.ª. DRª LUCIA HELENA REILY.
CAMPINAS
2015
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4
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AGRADECIMENTOS
A DEUS, pela vida, por me propiciar oportunidades de estudo e de me
fortalecer para continuar essa jornada de lutas e vitórias, possibilitando meu
crescimento pessoal e profissional.
A MINHA MÃE Marinete e MEU PAI Antonio, pessoas que devo tudo o
que sou e conquistei; pessoas batalhadoras, que são minha fonte de inspiração
diária, apoiadores e colaboradores para que esse projeto se tornasse
realidade.
A MINHA FAMÍLIA, especialmente ao meu esposo Paulo, companheiro e
colaborador nesses momentos de batalhas e conquistas; MINHAS FILHAS
Gabriela e Giovana, as quais me inspiram a continuar nessa caminhada de
estudos. Ao meu irmão e parentes, mantiveram apoio e carinho e meu sobrinho
Matheus que colaborou com seus conhecimentos.
AOS AMIGOS de Mestrado que compartilharam comigo momentos de
aprendizado.
A Thaís Diniz e Liana Tannus pessoas que me incentivaram entrar
nessa caminhada.
A MINHA ORIENTADORA, Lucia Helena Reily, um agradecimento
carinhoso por todos os momentos de paciência, compreensão e competência.
A BANCA EXAMINADORA, Rita de Cássia Ietto Montilha, Maria Luisa
G.S. Ballarin, Fábio Bruno de Carvalho, agradeço a possibilidade de trocas,
crescimento e incentivo.
A TODOS OS PARTICIPANTES desse estudo, as crianças, pais e
profissionais do CEESD, pela disposição, colaboração e participação na
pesquisa, sem os quais esse projeto não se concretizaria.
AOS PROFESSORES DA PÓS-GRADUAÇÃO DA FCM UNICAMP,
pelos momentos partilhados, que fizeram parte desse caminhar, principalmente
Rita de Cássia Ietto Montilha e Maria Elisabete Gasparetto pelas experiências e
trocas que puderam me proporcionar.
6
Enfim, a todos aqueles que de uma maneira ou de outra contribuíram
para que este percurso pudesse ser concluído.
FONTE: SITE WWW.LIMEIRA.SP.GOV.BR
“Sonho que se sonha só é
apenas um sonho;
um sonho que se sonha junto
vira realidade”
(Carlos Drummond Andrade)
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RESUMO
A síndrome de Down é uma condição genética associada à deficiência
intelectual. Ocorre devido a uma anormalidade cromossômica, denominada de
trissomia 21. O presente estudo tem como objetivo avaliar as áreas
psicomotoras de crianças com síndrome de Down de 7 a 12 anos do Centro de
Educação Especial Síndrome de Down (CEESD) por meio da Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco Rosa Neto (2002). Além disso,
buscou-se discutir os resultados da avaliação à luz de outras possibilidades de
conhecimento corporal envolvendo, de maneira expressiva, essas mesmas
áreas psicomotoras, por meio de movimento corporal e do desenho. O trabalho
procura refletir sobre as contribuições da terapia ocupacional para a elaboração
de um programa de atuação envolvendo avaliação das áreas motoras,
acrescentando também uma preocupação com as atividades expressivas em
prol do desenvolvimento psicomotor. A pesquisa foi realizada em três etapas,
1) avaliação das áreas psicomotoras por meio da aplicação do instrumento; 2)
realização com uma criança do grupo de atividades de observação de imagens
fotográficas de crianças com síndrome de Down em poses de dança,
reprodução dos movimentos corporais observados na imagem e representação
gráfica da imagem observada (desenho); 3) análise e discussão de dados. O
registro dos dados foi realizado por meio de anotações em caderno de
campo,registro fotográfico e filmagem. O estudo discutiu que existe a
necessidade de um instrumento para avaliar as áreas psicomotoras das
crianças atendidas pelo terapeuta ocupacional. Nesta dissertação, considerou-
se a avaliação com a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco
Rosa Neto (2002) que contribuiu para estabelecer um parâmetro geral de cada
criança avaliada, bem como um perfil motor, entretanto, outros meios mais
flexíveis que propõem atividades expressivas como os movimentos corporais e
o desenho também permitem conhecer o desempenho da criança quanto às
áreas psicomotoras. As duas ferramentas se complementam e podem ser
utilizadas pelo terapeuta ocupacional para a avaliação das áreas psicomotoras
de pessoas com síndrome de Down. Conclui-se que a avaliação se enriquece
quando os dados objetivos são acrescidos de dados expressivos, os quais se
mostram de suma relevância para se traçar um plano terapêutico.
8
Palavras-chave: Terapia Ocupacional; Educação Especial; Síndrome de
Down; Desempenho Psicomotor; Dança.
9
ABSTRACT
Down syndrome is a genetic condition associated with intellectual
disability. It occurs due to a chromosomal abnormality called trissomy 21. This
study aims to evaluate psychomotor areas of children with Down syndrome 7 to
12 years at the Special Education Centre Down Syndrome (CEESD) through
the Development Scale Motor (EDM) developed by Francisco Rosa Neto
(2002). In addition, we attempted to discuss the evaluation results in light of
other possibilities involving knowledge of the body, more significantly, these
same psychomotor areas, through body movement and drawing. The study
reflects on the contributions of occupational therapy to working out a program
involving assessment of motor areas, also adding a concern about including
expressive activities to enhance psychomotor development. The research was
divided into three stages: 1) assessment of psychomotor areas through the
application of the instrument; 2) sequence of activities with one child of the
group in which the child was asked to look at photographic images of children
with Down syndrome in dance poses, reproduce the body movements observed
in the photos and then represent at the image by drawing the pose in question;
3) data analysis and discussion. The recording of data was performed using
notes in a journal, photographic recording and filming. The study discussed that
an instrument to assess the psychomotor areas of children is needed in the
clinical practice of occupational therapists. In this thesis, the assessment using
Francisco Rosa Neto’s Motor Development Scale (EDM) of, contributed to
obtaining general parameters of the children under assessment, as well as
tracing profiles. Nevertheless, other more means such as using expressive
activities such as body movement and drawing also enable the therapist to
understand the child’s development in the psychomotor areas. Both tools can
be used to complement each other by the occupational therapist to evaluate the
psychomotor areas of people with Down syndrome. In conclusion, the
assessment is enriched when objective data are supplemented with expressive
data, which is paramount to mapping out a treatment plan.
Keywords: Occupational Therapy; Special education; Down's syndrome;
Psychomotor performance; Dancing.
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Movimentos de mãos e braços 50
Figura 2 – Movimentos de braços 51
Figura 3 – Desenho da figura humana 76
Figura 4 – Desenho referente pose da foto 1 77
Figura 5 – Desenho referente pose da foto 2 78
Figura 6 – Desenho referente pose da foto 3 79
Figura 7 – Desenho referente pose da foto 4 80
Foto 1 - Menina com braços erguidos 41
Foto 2 - Menina em posição sentada com pés juntos 42
Foto 3 - Menina na ponta dos pés com braços esticados ao lado 43
Foto 4 - Menino sentado com braço esquerdo erguido 44
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Pontuação de imitação de gestos simples de mãos e braços 52
Tabela 2 – Pontuação para teste de rapidez 52
Tabela 3 – Resultados de Lateralidade dos participantes 56
Tabela 4 – Lateralidade de mãos, olhos e pés 56
Tabela 5 – Pontuação Geral da Lateralidade 57
Tabela 6 – Resultados Gerais de Áreas Psicomotoras 73
Tabela 7 – Pontos favoráveis e desfavoráveis a aplicação da EDM 74
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO – Atuação do profissional da Terapia Ocupacional............
Objetivos..........................................................................
13
19
CAPÍTULO 1 – Síndrome de Down: conceituação, motricidade e
desenvolvimento da consciência corporal...................................................
1.1 Síndrome de Down – Conceituação e sistemas de
classificação.................................................................................................
1.2 Motricidade e desenvolvimento da consciência
corporal em síndrome de Down...................................................................
1.3 Atividades expressivas para crianças com síndrome
de Down.......................................................................................................
20
20
25
29
CAPÍTULO 2 – Material e método...............................................................
2.1 Escala de Desenvolvimento Motor de Francisco
Rosa Neto (EDM).........................................................................................
33
37
CAPÍTULO 3 – Resultados e discussão......................................................
3.1 Sob o olhar expressivo.................................................
3.1.1Ilustrando as duas ferramentas de avaliação..............
46
75
81
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 89
APÊNDICE I................................................................................................. 94
APÊNDICE II................................................................................................ 96
ANEXO I....................................................................................................... 116
ANEXO II...................................................................................................... 117
ANEXO III..................................................................................................... 118
ANEXO IV.................................................................................................... 119
13
INTRODUÇÃO
Este estudo focaliza crianças com síndrome de Down considerando a
perspectiva da Terapia Ocupacional, buscando assim contribuir para o
conhecimento das áreas psicomotoras, visto que se tem pouca literatura a esse
respeito.
A preocupação central deste trabalho se dirige aos procedimentos
utilizados para a avaliação das áreas psicomotoras em crianças com síndrome
de Down, tendo em vista a importância da formação global do indivíduo como
ser humano. Considera-se fundamental o desenvolvimento de um trabalho de
base nesta área com esta população, devido às interferências do esquema
corporal no desenvolvimento de áreas psicomotoras que incluem a
coordenação visuomotora, global, fina, equilíbrio, lateralidade, organização
espacial, temporal. Entre outros, estes elementos são necessários para o
desenvolvimento e aprimoramento também de questões cognitivas, processo
relevante para a educação das pessoas com síndrome de Down.
O interesse por este estudo surgiu devido a minha experiência
profissional, como terapeuta ocupacional há quinze anos, atuando nas áreas
de reabilitação, neurologia (infantil e adulto) e ortopedia, com atendimentos
clínicos em consultório, instituições, hospitais e domicílios e trabalhando por
oito anos em uma instituição do município de Campinas – SP que atende
pessoas com síndrome de Down e suas famílias.
Já o interesse por atividades corporais, mais especificamente a dança,
surgiu devido à minha formação em balé clássico, como bailarina. Na minha
prática profissional, tenho percebido que o trabalho de psicomotricidade,
incluindo a educação do esquema corporal, vem sendo realizado com pessoas
com síndrome de Down, na maioria das vezes, em contextos isolados,
buscando desenvolver as habilidades desejadas por meio de técnicas
específicas.
Para além do desenvolvimento motor, preocupo-me com o potencial
expressivo da criança com síndrome de Down, que muitas vezes fica relegado
14
a segundo plano quando o enfoque da terapia não olha para o indivíduo no seu
todo.
Por ser uma área profissional que se preocupa com a qualidade de vida
do ser humano, sua participação no meio social e o desenvolvimento de suas
habilidades com plenitude, considero a terapia ocupacional uma profissão que
oferece um olhar privilegiado para auxiliar as pessoas a desenvolverem suas
capacidades de movimento na presença de importantes limitações, com o
intuito de ampliarem suas possibilidades expressivas.
Segundo a Associação Brasileira de Terapia Ocupacional (ABRATO), a
Terapia Ocupacional é uma profissão de nível superior reconhecida e
regulamentada pelo Decreto Lei nº 938/69 e pelas resoluções do Conselho
Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) nº 08/1978,
10/1978, 81/1987 que atribuem competência ao Terapeuta Ocupacional para o
diagnóstico do desempenho ocupacional nas áreas das atividades de vida
diária, atividades instrumentais de vida diária, trabalho e produtivas, lazer ou
diversão e nos componentes de desempenho sensório-motor, integração
cognitiva, e componentes cognitivos, habilidades psicossociais e componentes
psicológicos, por meio da utilização de métodos e técnicas terapêuticas
ocupacionais.
A terapia ocupacional representa uma maneira original de compreender
as atividades dos seres humanos, as relações entre o que fazem e o que são;
repousa sobre a ideia de que, graças às suas atividades, o ser humano se
remodela constantemente. Ao tentar alcançar um equilíbrio dinâmico entre o
“agir” (doing), o “ser” (being) e o “tornar-se” (becoming), a terapia ocupacional
favorece a saúde e o bem-estar do individuo1.
O modelo pessoa, ambiente, atividades (Person-environment-occupation
mode) concebe as atividades de uma pessoa como resultado de sua interação
com o meio, tanto cultural como socioeconômico, institucional, físico e social2.
15
Os primeiros princípios teóricos que direcionaram a terapia ocupacional
foram organizados em torno da busca do significado da ocupação humana, e
que, podem ser vistos a partir de três eixos:
a primeira é que os humanos foram conhecidos como possuidores de uma natureza ocupacional; a segunda, que a doença foi vista como possuindo um potencial para interromper ou romper a ocupação; a última, que a ocupação foi reconhecida como um organizador natural do comportamento humano, que poderia ser usada terapeuticamente para refazer ou reorganizar o comportamento cotidiano. (p.34 e 35)3
Complementando essa visão de homem enquanto indivíduo para a
ocupação, reconheceu-se também que o ser humano, como um todo, entrega
sua parte integrante de produtividade para a sobrevivência e o lazer como uma
característica que preparava os jovens para a competência da vida adulta.
No decorrer dos anos 1940 e 50 surgiu uma nova corrente científica
chamada reducionismo, cuja influência na área da saúde levou à criação do
modelo médico centrado na bioquímica, biofísica e na perspectiva psicanalítica
da psiquiatria; segundo o mesmo autor, os princípios do modelo da ocupação
não eram científicos3.
Uma nova estratégia de aplicação da ocupação surgiu em resposta ao
desafio reducionista, resultando na substituição do treinamento de hábitos pela
aplicação de exercícios. Assim, o valor da terapia ocupacional voltou-se para a
obtenção do exercício pela atividade.
Com base nas discussões o uso da atividade com o propósito do
exercício exigiu a criação de procedimentos que deveriam ser seguidos para a
obtenção de sucesso no tratamento. Os procedimentos são: a análise da
atividade, sua adaptação, seleção e graduação. Para configurar o uso da
atividade cientificamente é necessária a sua análise3.
O uso da atividade como produção, surgiu em seguida, na articulação da
conceituação social para medir o comportamento humano. Há o conceito social
de produtividade, o homem como uma peça dentro de um sistema de trabalho
16
social. Com isso, na terapia ocupacional, temos um exemplo de positivismo.
“Prever como a atividade pode acontecer (análise da atividade), o que ela pode
causar, o que ela pode melhorar ou prejudicar, para prover o comportamento
esperado pela sociedade, via um tratamento adequado, eficaz e científico”
(1988,p.42)3.
É importante ressaltar que, nessa abordagem, o enfoque da atividade é
ser um instrumento que permita uma investigação de como a pessoa usa o seu
potencial de desempenho e um instrumento que permite capacitar o indivíduo,
através de treinamento à execução de uma tarefa com eficiente uso de tempo e
energia, ou seja, o homem visto como uma máquina.
Nas décadas de 1950 e 60, alguns autores foram precursores do
entendimento psicodinâmico da ação em terapia ocupacional, entendendo o
fazer humano como carregado de conteúdo simbólico, a atividade como
expressão4,5.
Nessa visão, a atividade e o terapeuta são entendidos como recursos
terapêuticos com os quais o paciente pode agir e reagir. O valor do uso da
atividade não está simplesmente na dinâmica da atividade, mas na
psicodinâmica da ação do sujeito que a executa3. Valoriza-se o relacionamento
terapeuta – paciente, a expressão dos sentimentos, atitudes e ideias por meio
da execução da atividade. Para melhor compreensão do uso da atividade, a
autora sugere que pensemos nas expressões de alguns autores a livre
produção, material projetivo, criação livre e criação dirigida4. Já as atividades
expressivas aparecem também nos trabalhos de Nise da Silveira, psiquiatra
que atuava numa abordagem de terapêutica ocupacional; segundo ela, as
atividades plásticas (expressivas) permitem que o homem proceda ao
relacionamento e à fixação das coisas significativas, tanto nas suas
experiências internas quanto nas externas6.
Nise da Silveira, que foi membro do partido comunista, sendo presa
durante vários meses, parece partilhar da concepção Marxista de homem e da
natureza, entendendo o homem como um ser social e histórico, que produz,
cria e transforma a natureza e a si mesmo, através do seu trabalho.
17
Já Adolfo Sãnches Vásquez procura distinguir a atividade propriamente
humana da atividade em geral, com o intuito de esclarecer que “toda práxis é
atividade, mas nem toda atividade é práxis” (p.219)7.
A atividade prática como atividade humana se manifesta na criação
artística, no trabalho ou na prática revolucionária e a práxis pode assumir
diferentes formas dependendo de qual maneira a atividade pratica é exercida,
sendo fundamental a práxis produtiva e a práxis criadora. A produtiva é
efetivada com o trabalho do homem com a natureza, sendo o homem um ser
social, essa práxis só é executada em determinadas situações sociais. Já a
práxis criadora é determinada por uma necessidade humana de expressão e
objetivação3.
Com isso, a visão da terapia ocupacional, por meio dessa prática,
pretende mostrar o significado de terapia que leva o indivíduo a lidar com a sua
realidade de vida, podendo promover a transformação de si mesmo e do meio
social no qual está inserido. Percebe-se nesse processo que a Terapia
Ocupacional contempla, já na sua constituição histórica, uma preocupação com
a expressividade e produção cultural humana.
Como discorri acima, na terapia ocupacional as atividades são utilizadas
e entendidas de maneiras diversificadas, e a compreensão desses diferentes
sentidos, demanda investigações. Entretanto no cenário brasileiro há poucos
estudos de nível de mestrado e doutorado na área da terapia ocupacional em
geral, mesmo porque apenas três universidades têm programa de pós-
graduação nessa área de conhecimento, quais sejam, a Universidade São
Paulo (USP), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG).
Na revisão da literatura, encontram-se poucos trabalhos sobre terapia
ocupacional na atuação com pessoas com síndrome de Down e menos ainda
relacionado com as áreas psicomotoras. De acordo com a busca realizada por
meio da internet, utilizando os sites de busca como o Google Acadêmico,
usando os descritores síndrome de Down e dança, constatei esse dado e
18
citarei dois mais relevantes e que nos mostram outros objetivos e resultados,
diferentes do que pretendo nesse estudo.
O primeiro é Dança e deficiência: uma revisão bibliográfica em teses e
dissertações nacionais8, no qual o estudo tem como objetivo identificar e
analisar a produção científica acerca da dança para pessoas com deficiência
em teses e dissertações nacionais. Os resultados demonstraram: aumento na
produção nos últimos cinco anos; prevalência de estudos junto à população de
adultos com deficiência física; predominância de pesquisas envolvendo estudo
de caso e Laban como aporte teórico; quanto ao eixo temático, prepondera o
processo de ensino-aprendizagem da dança para as pessoas com deficiência;
é colocada maior evidência à dança contemporânea e dança em cadeira de
rodas. Assim, foi possível reconhecer as principais tendências científicas
envolvendo a interface dança e pessoas com deficiência.
Outro trabalho foi A Influência da dança no desenvolvimento da
coordenação motora em crianças com síndrome de Down,9 este estudo
pretendeu avaliar comparativamente dois grupos de crianças (2 a 6 anos) com
síndrome de Down, para mostrar as diferenças nos níveis de coordenação
motora do grupo que participa de práticas de dança e do que não, com apoio
de um teste de dança.
Essa realidade de quase ausência de pesquisas que focalizam o tema
do presente estudo evidencia a relevância dessa dissertação que poderá
contribuir para a melhoria no atendimento as pessoas com síndrome de Down
e para o planejamento dos serviços de educação e saúde destinados a essa
população que consideram a importância das vivências culturais e do bem-
estar social, a partir dos resultados e discussões da pesquisa.
Na presente dissertação, trabalha-se sob perspectiva de que terapia
ocupacional valoriza a atividade como possibilidade humana de transformação,
desenvolvimento e expressão. De acordo com os conceitos que serão
apresentados na dissertação (síndrome de Down, áreas psicomotoras, dança e
desenho) e a relação existente entre os mesmos, pode-se ter a visão da terapia
19
ocupacional com o olhar sobre o indivíduo, seu corpo, sua relação com o meio
e o seu fazer (práxis).
Objetivos
Assim, o objetivo geral deste estudo foi avaliar, por meio da Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco Rosa Neto (1996)10, as áreas
psicomotoras em crianças de 7 a 12 anos de idade, com síndrome de Down e
os efeitos da utilização de movimentos corporais e atividades de expressão
gráfica. Já os objetivos específicos foram avaliar o desempenho das áreas
psicomotoras de sete crianças com síndrome de Down do Centro de Educação
Especial Síndrome de Down (CEESD) do município de Campinas e descrever
como a terapia ocupacional pode contribuir com a elaboração de um programa
de atuação envolvendo atividades expressivas em prol do desenvolvimento
psicomotor de crianças com síndrome de Down.
Além disso, buscou-se discutir os resultados da avaliação à luz de outras
possibilidades de conhecimento corporal envolvendo, de maneira expressiva,
essas mesmas áreas psicomotoras, por meio de movimento corporal e do
desenho.
Considerando a diversidade de modos de aprendizagem de pessoas
com síndrome de Down (pela linguagem, pelo visual, pela ação corporal, por
exemplo), a proposta de atividade de expressão gráfica e movimentos
corporais pretenderam proporcionar vivência prática como contraponto
qualitativo para a avaliação formal da Escala.
O trabalho procura refletir sobre as várias maneiras como a terapia
ocupacional pode contribuir com a elaboração de um programa de atuação
envolvendo atividades expressivas em prol do desenvolvimento psicomotor de
pessoas com síndrome de Down.
20
CAPÍTULO 1 – SÍNDROME DE DOWN: CONCEITUAÇÃO, MOTRICIDADE E
DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA CORPORAL
1.1. Síndrome de Down – Conceituação e sistemas de classificação
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças –
CID)11 foi adotada internacionalmente em 1893, passando a ser utilizada como
uma Classificação de Causas de Mortes. A Classificação Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) deixou de ser apenas uma
classificação de causas de morte para tornar-se, a seguir, também, uma
classificação de doenças propriamente dita e de motivos de consulta. Tem
como objetivo padronizar a codificação de doenças e outros problemas
relacionados à saúde. A partir da sexta Revisão, em 1948, a responsabilidade
pela CID e as sucessivas revisões passou para a Organização Mundial de
Saúde (OMS)12.
A CID -1013 fornece códigos relativos à classificação de doenças e de
uma variedade de sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias
sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. Atualmente, a cada
estado de saúde, é atribuída uma categoria única à qual corresponde um
código CID 10 (Décima revisão).
Especificamente, a patologia em questão nessa dissertação a
Síndrome de Down é uma condição genética, reconhecida há mais de um
século por John Langdon Down.
Sabe-se, hoje, que a síndrome de Down (SD) é a mais frequente forma
de deficiência mental causada por uma alteração cromossômica
microscópica14; por se tratar de uma alteração cromossômica, é classificada na
CID 10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde), no capítulo XVII das Malformações congênitas, deformidades e
anomalias cromossômicas, no grupo das Anomalias cromossômicas não
21
classificadas em outra parte entre Q 90 e Q 99. Dentro desse grupo, existem
especificidades na trissomia:
CID10 – Q90Síndrome de Down
CID10 – Q90.0 Trissomia 21, não disjunção meiótica
CID10 – Q90.1 Trissomia 21, mosaicismo (não-disjunção mitótica)
CID10 – Q90.2 Trissomia 21, translocação
CID10 – Q90.9 Síndrome de Down não especificada
(p.812)13
Em questionamento às limitações da CID - 10 no âmbito dos impactos
sociais das deficiências, e por demanda social, foi discutido um novo sistema
de classificação nos anos 1980. Elaborou-se então, a Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que resultou da
revisão da anterior Classificação Internacional das Deficiências, Incapacidades
e Desvantagens (International Classification of Impairments, Disabilities and
Handicaps – (ICIDH), versão experimental publicada em 1980 pela OMS.
Em 1993, a OMS deu início a um processo de revisão da ICIDH que
originou à CIF, para o qual contou com uma ampla participação internacional
(diferentes países e entidades, grupos de trabalho, elevado número de
especialistas, organizações não governamentais, etc.). A participação ativa de
pessoas com incapacidades e das suas organizações e suas contribuições foi
um aspecto que a OMS realça como significativo no desenvolvimento da CIF15.
A 54ª Assembléia Mundial de Saúde, em Maio de 2001 aprovou o novo
sistema de classificação com a designação de International Classification of
Functioning, Disabilities and Health, conhecida abreviadamente
por ICF, visando a sua utilização nos diferentes países membros. Na sua
versão oficial para a língua portuguesa, aprovada pela OMS, ela intitula-se CIF
- Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde.
Com a adoção da CIF, passa-se de uma classificação de "consequência
das doenças" (versão de 1980) para uma classificação de "componentes da
saúde" (CIF), para descrever, avaliar e medir a saúde e a incapacidade, tanto
22
nível individual como nível da população. É uma classificação com múltiplas
finalidades, para ser utilizada de forma transversal em diferentes áreas
disciplinares e setores: saúde, segurança social, economia, política social,
educação, emprego, desenvolvimento de políticas e de legislação em geral e
alterações ambientais. Por isso, as Nações Unidas tem essa classificação
como uma das suas classificações sociais, considerando-a como o quadro de
referência apropriado para a definição de legislações internacionais sobre os
direitos humanos, bem como, de legislação nacional.
Nos setores da saúde principalmente, a CIF e a CID-10 são as duas
classificações utilizadas: têm objetivos distintos e podem ser utilizadas de
forma complementar.
A CID-10 fornece uma estrutura de base etiológica, com intuito de
proporcionar um diagnóstico de doenças, perturbações ou outras condições de
saúde e a CIF classifica a funcionalidade e a incapacidade, associadas a uma
condição de saúde16.
No contexto da CIF, essa classificação, apresenta seus três
componentes: funções do corpo, atividade e participação e contexto, assim, no
caso dessa pesquisa, a síndrome de Down se classifica de acordo com as
características individuais dessas pessoas; para classificar, consideram-se
suas funções corporais, sua participação, atividades e contexto que vive15.
A síndrome de Down é uma condição genética associada a retardo
mental. Ocorre devido a uma anormalidade cromossômica, que pode ser de
três tipos diferentes. A causa mais comum é a trissomia 21, ou trissomia
simples, que se caracteriza pela presença de um cromossomo extra no par 21,
disfunção essa que ocorre no momento da divisão celular, representando 95%
dos casos. Outra causa é o mosaicismo, que representa 2% dos casos e
ocorre quando um par de cromossomos não se divide durante a divisão celular
por meiose e uma célula haplóide fica com 24 cromossomos e a outra com 22.
Já a translocação é a causa mais rara. Essa anormalidade cromossômica
ocorre quando dois cromossomos crescem juntos, aparentando ser apenas um,
23
mas com o material genético de dois. Assim, as pessoas com síndrome de
Down possuem 47 cromossomos, um a mais, sendo que este cromossomo
extra é proveniente do pai ou da mãe. O cromossomo 21 está sendo mapeado
para que se possa identificar os segmentos que se relacionam com os vários
sinais e sintomas característicos da síndrome17.
A causa exata que gera uma criança com síndrome de Down ainda não
foi descoberta, mas sabe-se que alguns fatores podem interferir, como por
exemplo, a idade materna; entretanto, não há evidências definitivas que essa
situação tenha sido responsável pelo nascimento de uma pessoa com
síndrome de Down. Já a comprovação da síndrome de Down se dá apenas
com o exame de cariótipo, que constata a existência do cromossomo extra no
par 21.
Dados epidemiológicos brasileiros revelam incidência de 1:600 nascidos
vivos, o que torna a síndrome de Down uma das deficiências mais comuns a
nível genético18.
Dentre as características das pessoas com síndrome de Down, as mais
comuns são a deficiência intelectual, hipotonia, baixa estatura, o rosto com um
contorno achatado, as pálpebras estreitas e levemente oblíquas, cabelo
esparso e fino, boca pequena e pescoço com aparência larga e grossa,
também 40% das pessoas com síndrome de Down, desenvolvem doenças
cardíacas e apresentam maior risco de desenvolver leucemia17.
Outros problemas comuns são descritos abaixo como: no aparelho
gastrointestinal, ocasionados em decorrência da hipotonia muscular e que
podem ser controlados pela alimentação; doenças respiratórias; distúrbios
visuais; déficits auditivos; disfunção da glândula tireóide; epilepsia; doenças
relacionadas ao sistema nervoso central, como a doença de Alzheimer. Devido
à hiperflexibilidade e frouxidão de ligamentos podem surgir comprometimento
da articulação coxofemoral, nas articulações dos tornozelos, pés, joelhos e
quadris, o que podem ocasionar os atrasos na aquisição de habilidades
motoras19. Podem ocorrer também a obesidade e envelhecimento precoce20.
24
As pessoas com síndrome de Down apresentam outra característica
bastante comum, as anormalidades esqueléticas, como a instabilidade atlanto-
axial, que é a frouxidão dos ligamentos transversos entre o atlas e o áxis, que
são as duas primeiras vértebras cervicais14.
Além disso, possuem dificuldades de ajustes ou mudanças, relacionados
fundamentalmente com parâmetros do movimento. Eles possuem uma
dificuldade do controle postural, ocasionado por alterações no sistema
vestibular, o que resulta em uma forma de andar diferenciada21
Evidencia-se nas pessoas com síndrome de Down, um atraso na
aquisição de habilidades psicomotoras, como para engatinhar, sentar, andar,
enfim em todo o desenvolvimento neuropsicomotor.
Muitas pessoas com síndrome de Down apresentam deficiência
intelectual e por isso é de suma relevância que recebam os estímulos
necessários desde cedo.
Outro fator a ser ressaltado é que não existem graus maiores ou
menores de síndrome de Down, a presença de um cromossomo extra é a
mesma em todos os casos e que as diferenças de desenvolvimento decorrem
das oportunidades que cada pessoa teve de ser estimulada, assim como as
características individuais, tais como, herança genética, estímulos, educação e
meio ambiente. Por esse motivo é essencial que se inicie o mais breve a
estimulação e/ou intervenção da pessoa com síndrome de Down, auxiliando-a
no desenvolvimento de interesses e habilidades necessários para a realização
de atividades físicas, corporais, cognitivas, sociais, de autonomia e
independência.
25
1.2. Motricidade e desenvolvimento da consciência corporal em
síndrome de Down
A motricidade é a interação de diversas funções motoras. Considera-se
que a atividade motora é de suma importância para o desenvolvimento global
da criança e por meio da exploração motriz, ela desenvolve a consciência de si
e do mundo exterior, o que é percebido por meio do seu corpo. Assim, não será
diferente com as crianças com síndrome de Down.
A dissertação investiga as áreas psicomotoras por meio da Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco Rosa Neto, portanto há a
necessidade de compreender e descrever algumas definições do autor.
Resumidamente, os elementos básicos da motricidade, são: motricidade
fina, motricidade global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial,
organização temporal e lateralidade22.
Motricidade fina envolve a atividade manual guiada por meio da visão. A
coordenação visuomanual, representa a atividade mais frequente e mais
comum no homem e esta inclui uma fase de transporte da mão, seguida de
uma fase de agarre e manipulação, resultando em um conjunto com seus três
componentes: objeto, olho, mão. A motricidade fina tem um papel fundamental
no controle dos movimentos isolados das mãos e dedos para pegar algum
objeto ou alimento. Com isso, “a coordenação visuomotora é um processo de
ação em que existe coincidência entre o ato motor e uma estimulação visual
percebida” 22(2002, p.15).
O ato motor implica no funcionamento global dos mecanismos
reguladores do equilíbrio e da atitude. O movimento motor global, desde o mais
simples, é um movimento cinestésico, tátil, labiríntico, visual, espacial, temporal
e a criança vai descobrindo os ajustes, complexos e progressivos da atividade
motora, resultando em um conjunto de movimentos coordenados em função de
um fim a ser alcançado.
“O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos
segmentos corporais”22 e o esquema corporal “é a organização das sensações
26
relativas a seu próprio corpo em associação com os dados do mundo
exterior”22 e o mesmo desenvolve-se em três fases, a primeira fase é do corpo
vivido (até os 3 anos), a segunda fase do corpo percebido ou descoberto (3 - 7
anos) e a terceira fase do corpo representado (7-12 anos)23.
De acordo com autores pesquisados que discorrem sobre o esquema
corporal, o mesmo, refere-se a uma organização neurológica das diversas
áreas do corpo, de acordo com a importância de inervação somática que elas
recebem: sua formação inicia-se desde o nascimento, como um diagrama
construído no cérebro, que orienta o movimento das partes do corpo, e ainda,
está diretamente relacionado com a personalidade do indivíduo; o esquema
corporal é uma consciência global do indivíduo no mundo intersensorial, ou
ainda uma maneira de expressar que o seu corpo está no mundo; pode ser
considerado também como um alongamento entre a atividade psicomotora
elementar e as relações do indivíduo com o meio. Logo, pode-se considerar
que o esquema corporal é a base fundamental da função de ajustamento e o
ponto de partida necessário de qualquer movimento24,25.
Com a evolução do esquema corporal, surgem níveis mais elevados de
desenvolvimento e controle motor, e o esquema passa por um processo
contínuo de mudança durante toda a vida17. Desta forma, no início, a criança
trata seu corpo como um objeto, mas por meio de estímulos proprioceptores,
exteroceptores e cinestésicos, ela armazenará sensações e imagens,
reconhecendo que ela é diferente dos outros objetos.
Conforme descrito anteriormente, a estruturação do esquema corporal
na evolução psicomotora ocorre em três etapas: a fase do corpo vivido, em que
a criança identifica e diferencia seu corpo reconhecendo-se como objeto por
meio de experiências motoras vividas; a fase do corpo percebido ou
descoberto, considerando as experiências da fase anterior, a criança sofrerá
uma evolução no plano da percepção e a fase do corpo representado, que se
caracteriza pela estruturação do esquema corporal, ou seja, a criança já é
capaz de representar mentalmente seu corpo e de controlar voluntariamente
27
gestos desnecessários, dispondo de uma verdadeira imagem em
representação mental de seu corpo23.
A estimulação da formação psíquica do esquema corporal deve ser uma ação educativa que vise facilitar o desenvolvimento da personalidade da criança, a fim de conduzi-la à autonomia de atitudes, com isso, ela conseguirá viver em harmonia com o meio em que vive26.
Voltando aos conceitos de áreas psicomotoras, a noção de espaço é
ambivalente, por ser finita e infinita, concreta e abstrata, ao mesmo tempo.
Envolve o espaço do corpo, diretamente acessível como o espaço ao nosso
redor, finito quando nos é familiar e infinito se estendendo no universo,
perdendo-se no tempo. A evolução da noção espacial e sua organização se
apresentam em duas etapas: uma ligada à percepção imediata do ambiente
(caracterizada pelo espaço perceptivo ou sensório-motor) e outra baseada nas
operações mentais (saem do espaço representativo e intelectual)22.
A organização temporal apresenta dois componentes: a ordem
(sucessão existente entre os acontecimentos, em uma ordem física) e a
duração (o início e o fim de um acontecimento) que o ritmo reúne.
Finalizando, a lateralidade, que é a preferência da utilização de uma das
partes simétricas do corpo: mão, olho, ouvido, perna. A lateralização cortical é
a especialidade de um dos dois hemisférios quanto ao tratamento da
informação sensorial ou quanto ao controle de certas funções, organizando o
ato motor, o qual influenciará na aprendizagem e na consolidação das praxias.
Estudos mostram que a necessidade de um trabalho dirigido ao
desenvolvimento do esquema corporal tem sido apontada como relevante para
qualquer criança23,27. O conhecimento do corpo faz parte dos objetivos de um
programa de atividades para crianças com Síndrome de Down, autores propõe
em suas atividades muito contato corpóreo e movimentação consciente28.
Outros sugerem que crianças com síndrome de Down podem vir a ser
beneficiadas por programas de atividades físicas em grupo que enfoquem
28
aspectos apontados como deficitários no desenvolvimento destas crianças, e
citam o esquema corporal como um dos objetivos a serem trabalhados29.
Continuando essa questão do esquema corporal, “(...) quanto maior for à
experienciação do indivíduo, tanto motora quanto afetiva, concomitantemente,
mais ampliado será o esquema ou diagrama corporal”25. Para alcançar o
desenvolvimento da consciência corporal em crianças portadoras de deficiência
mental é necessário que elas passem por três etapas: movimentos simples,
movimentos combinados e consciência corporal. Os movimentos têm que ser
executados gradativa e progressivamente, começando pelos movimentos
básicos e simples, passando por movimentos combinados, até os movimentos
mais complicados, estimulando a consciência corporal26.
As crianças com síndrome de Down têm maior dificuldade em nomear o
corpo, suas articulações e suas partes, mas conseguem perceber o corpo,
mesmo com as diversidades. O importante é que cada criança tenha a
possibilidade de troca com outros seres, pois é por intermédio da experiência e
dessas trocas que se dá à consciência corporal. O trabalho com a consciência
corporal, através da educação motora estimula muito crianças com síndrome
de Down, pois contribui para uma melhor qualidade de vida e movimentação26.
A educação motora é o ponto principal de um desenvolvimento físico
satisfatório, permitindo que a pessoa possa se expressar através de
sentimentos e pensamentos, como um corpo completo. Todas as crianças,
incluindo as com necessidades especiais também têm direito a educação
motora, por isso elas devem ser estimuladas de forma adequada, partindo-se
de um princípio básico – a consciência corporal.
O esquema corporal sempre é analisado de forma especial nos
trabalhos de desenvolvimento psicomotor realizados nas pessoas com
síndrome de Down, visto que a estruturação adequada do mesmo conduz a um
desenvolvimento satisfatório para as demais habilidades referentes à área da
psicomotricidade24.
29
Percebe-se que a conscientização corporal destas crianças também é
de suma importância para o desenvolvimento corporal das áreas psicomotoras
e cognitivo.
As formas de avaliar o desenvolvimento motor de uma criança podem
ser diversas, como por meio de teste motor, prova motora, bateria motora e
escala de desenvolvimento. A seguir discorro sobre esses conceitos acima
citados, mas na dissertação, optou-se por avaliar o desenvolvimento motor das
crianças investigadas por meio de uma escala.
Os conceitos são: o teste motor é uma prova determinada que permite
medir, uma determinada característica, permitindo que os seus resultados
sejam comparados com os de outros indivíduos; a prova motora é um conjunto
de atividades marcadas por uma determinada idade, permitindo determinar o
avanço ou o atraso motor de uma criança, de acordo com os resultados obtidos
nas provas; a bateria motora compreende um conjunto de testes ou de provas
utilizadas para avaliar vários aspectos ou a totalidade da personalidade de um
indivíduo, e por fim, a escala de desenvolvimento, é um conjunto de provas
diversificadas e de dificuldade graduada, que conduz a uma exploração
minuciosa de diferentes áreas do desenvolvimento. A aplicação em um
indivíduo permite avaliar seu nível de desenvolvimento motor, considerando
êxitos e fracassos e as normas estabelecidas pelo autor da escala22.
1.3. Atividades expressivas para crianças com síndrome de Down
A Escala não oferece meios de aprimoramento nas áreas de
coordenação motora, esquema corporal, equilíbrio etc., apenas uma ferramenta
de avaliação, mas a realização de atividades expressivas como parte de um
programa de trabalho da terapia ocupacional, contribuem para a melhora da
funcionalidade motora, corporal e para o desenvolvimento global das pessoas
com síndrome de Down.
30
Minha experiência prática como terapeuta ocupacional e baseada em
autores que são citados abaixo, escolhi como outros recursos de avaliação das
áreas psicomotoras a dança (movimentos corporais) e o desenho.
Na presente pesquisa não tive o intuito de aprofundar os conhecimentos
nos diferentes modos e conceitos da dança e do desenho, mas sim de utilizá-
los como uma ferramenta de expressão da criança com síndrome de Down, de
modo a permitir que as áreas psicomotoras possam ser avaliadas de uma
maneira não formal como a escala, sendo uma complementar a outra.
O corpo humano permite uma variedade infinita de movimentos, que
brotam de impulsos interiores e exteriorizam-se pelo gesto, compondo uma
relação íntima com o ritmo, o espaço, o desenho das emoções, dos
sentimentos e das intenções. Entre as possibilidades de movimento que
expressam as intenções, impulsos, ideias e desejos, encontra um gênero
singular constituído nas sociedades desde sempre que é a dança30.
A dança é um modo de existir, cada um de nós desenvolve a sua dança,
o seu movimento, original, singular e diferenciado, e a partir disso, essa dança
e esse movimento evoluem para uma forma de expressão em que a busca da
individualidade possa ser entendida pela coletividade humana.
A essência corporal que a autora propõe é a busca de sintonia e da
harmonia com o nosso próprio corpo, o que possibilita chegar à elaboração de
uma dança singular, diferenciada e original, e por isso, rica em movimentos e
expressão.
O profissional deve servir de ponte para que as pessoas comecem a
expressar-se por meio de seu corpo, de acordo com a idade e possibilidades
de compreensão; a dança poderá ser um meio de vislumbrar o mundo interno,
como possibilidade de expressão por meio de criações próprias31.
Percebe-se que a dança é um instrumento de expressão e que na
mesma acontecem ações corporais significativas. Por esse motivo utilizei
alguns movimentos corporais/poses de dança com as crianças com síndrome
31
de Down, proporcionando que as mesmas se expressassem, desenvolvessem
e aprimorassem as áreas psicomotoras de maneira mais significativa e
relacionada às suas possibilidades e experiências de vida.
Existem diversas maneiras de expressão e de ver as coisas, no
desenho/representação gráfica, não é diferente. Há pessoas que têm olhos
para o mundo exterior e esperam da pintura ou do desenho cópias mais ou
menos aproximadas de pessoas ou de coisas da natureza externa e outros
como Kandinsky, que aceitam uma realidade interna mesmo mais ampla que a
externa, realidade que pode ser apreendida e expressada por meio da
linguagem visual. Também outros como Paul Klee que não tem a intenção de
refletir o visível e sim de tornar o invisível visível.
“A imagem não é a simples cópia psíquica de objetos externos, mas
uma representação imediata, produto da função imaginativa do inconsciente,
que se manifesta de maneira súbita, mas sem possuir caráter patológico,
desde que o individuo a distinga do real sensorial, percebendo-a como imagens
internas”6.
Com relação mais especificamente o desenho, é um tipo predominante
de criação na infância e divide esse processo em quatro estágios e está
intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da imaginação, a qual é valorizada
como função mental superior, tendo um papel importante nos processos de
transformação social32.
A criação infantil se processa em diferentes momentos e a criança cria
com base na experiência, reelabora a criação, recorre à dissociação para
quebrar sua experiência em partes fundamentais e lança mão delas para
compor algo novo. Existe um constante jogo entre imaginação e realidade, que
são interdependentes, com a mobilização da emoção, que tanto interfere na
imaginação quanto é provocada por ela. Também é no meio social, tendo por
base o trabalho e as ideias dos outros, que se inicia e se forja o novo32.
32
Cito autores para refletir e confirmar na teoria que a representação
gráfica por meio do desenho, a linguagem visual, é um modo de expressão,
seja de conteúdos internos e/ou externos.
De acordo com estas discussões, utilizei o desenho para que a criança
pudesse expressar-se e representar as vivências corporais experimentadas por
meio dos movimentos corporais da dança. Isso porque se percebe na avaliação
das áreas psicomotoras a existência das defasagens das crianças com
síndrome de Down; as quais ficam mais aparentes quando se trata de uma
prova motora, uma Escala, já nas atividades expressivas, seu desempenho
pode ser acolhido de forma mais plena, em se tratando de expressão humana.
33
CAPÍTULO 2 – MATERIAL E MÉTODO
A dissertação segue a abordagem qualitativa, portanto não se coloca a
constituição de hipóteses a serem confirmadas. A pesquisa qualitativa busca
responder a questões direcionadas à investigação das relações humanas, ou
seja, que não podem ser apenas quantificadas, uma vez que englobam um
universo dinâmico de significações, o que requer como técnicas apropriadas
para o tratamento de dados e informações: a análise de conteúdo, a análise de
discurso e a interpretação33.
Também pode ser entendida como uma relação entre sujeitos, que
promove desenvolvimento mediado pelo outro, considerando que todo
conhecimento é sempre construído na interrelação das pessoas34.
Com base nessas contribuições, esta pesquisa assume uma perspectiva
sociocultural, especialmente por duas razões que cooperam para caracterizar
esse enfoque: primeiro, porque tanto o pesquisador como os pesquisados
fazem parte da própria situação de pesquisa, ambos com oportunidade de
refletir, aprender e ressignificar-se nesse processo; segundo, porque “não se
cria artificialmente uma situação para ser pesquisada, mas se vai ao encontro
da situação no seu acontecer, no seu processo de desenvolvimento” 34.
Ainda que a pesquisa tenha uma preocupação qualitativa na análise, foi
realizado também uma etapa quantitativa de levantamento de desempenho
motor mensurado por meio de um instrumento, qual seja, a Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco Rosa Neto22.
O pesquisador deve sempre buscar novas respostas e indagações ao
longo do desenvolvimento de seu trabalho, fundamentando-se no pressuposto
de que o conhecimento é uma construção que se faz e refaz constantemente, e
não algo já acabado. Dessa forma, o quadro teórico inicial serviu de estrutura
básica a partir da qual novos aspectos puderam ser detectados, acrescentando
possíveis novos elementos. Assim, o objeto de pesquisa pôde ser redesenhado
de acordo com as necessidades que surgiram durante a pesquisa35.
34
A pesquisa também pode ser classificada como um estudo de caso,
consistindo no estudo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir seu
amplo e detalhado conhecimento. Em sua acepção clássica, a unidade-caso
refere-se a um indivíduo num contexto definido; este conceito de casos
ampliou-se podendo o mesmo ser entendido como qualquer grupo social,
pequeno grupo, uma organização, uma família, uma comunidade ou mesmo
uma cultura, uma nação. Os estudos de casos podem ser constituídos tanto de
um único, quanto de múltiplos casos; na presente dissertação foi utilizada a
opção de múltiplos casos, com intuito de proporcionar evidências inseridas em
diferentes contextos36.
Já a presente dissertação caracteriza-se como estudo de caso
intrínseco, no qual o caso constitui o próprio objeto da pesquisa e o
pesquisador tem como objetivo conhecê-lo profundamente, sem qualquer
preocupação com o desenvolvimento de alguma teoria37.
O estudo se realizou em três fases: a primeira fase consistiu na
aplicação individual da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) de Francisco
Rosa Neto22; na segunda fase foi proposta a realização de atividades de
observação de imagens fotográficas de crianças com síndrome de Down em
poses de balé, reprodução dos movimentos corporais observados na imagem e
representação gráfica da imagem observada; e a terceira fase foi à análise dos
dados.
A pesquisa foi realizada em uma instituição que atende pessoas com
síndrome de Down e suas famílias, desde o nascimento até a idade adulta, o
Centro de Educação Especial Síndrome de Down (CEESD), de Campinas.
Trata-se de uma instituição filantrópica, fundada em dois de Julho de
1981, por iniciativa de Benedito Vieira e Zuleika Santos Vieira, pais de uma
pessoa com síndrome de Down, que atende especificamente à síndrome de
Down, por meio de diferentes programas e projetos visando atender às
necessidades dos usuários, preocupados com o desenvolvimento global dos
mesmos, oferecendo suporte e estímulos necessários para inseri-los no
ambiente escolar e de trabalho.
35
O CEESD conta com o programa de Estimulação Precoce (0 a 3 anos),
Inclusão Escolar (3 a 12 anos), Intermediário (12 a 16 anos) e Programa de
Vida Adulta (a partir de 16 anos).
Esta instituição é um espaço de pesquisa propício para este trabalho,
considerando que a vasta e rica experiência de atendimento educacional e
terapêutico de pessoas com síndrome de Down. Ademais, é um espaço de
trabalho e experiência onde atuei como terapeuta ocupacional por oito anos.
Os participantes da pesquisa frequentam o programa de Inclusão
Escolar do CEESD, que atende a pessoas com síndrome de Down e suas
famílias na faixa etária de 3 a 12 anos, incluídos na rede regular de ensino. São
atendidos por 45 minutos, em duplas ou trios, pelas áreas de terapia
ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e pedagogia, de acordo
com a necessidade individual da criança; vale ressaltar que nem todos
necessitam de intervenção em todas as especialidades.
Sete crianças com síndrome de Down matriculados no programa
educacional da instituição foram os sujeitos da pesquisa, sendo dois
participantes do sexo masculino e cinco do sexo feminino, na faixa etária de 7 a
9 anos. Essa faixa etária foi selecionada por ser o período em que as crianças
já passaram pelas etapas do desenvolvimento das áreas psicomotoras,
principalmente das fases do esquema corporal, descritas anteriormente. Os
participantes foram escolhidos entre os usuários que atendiam ao critério de
idade conforme os horários compatíveis entre a presença dos usuários e da
pesquisadora na instituição durante a etapa de coleta dos dados.
Os participantes da pesquisa foram autorizados pela família, as quais
assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice I) e o
projeto foi submetido à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP e
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), sob o Parecer nº: 435.499 de 22/10/2013.
36
A avaliação do desempenho nas áreas motoras foi realizada
individualmente com as sete crianças, em contexto grupal, devido à dinâmica
de atendimentos da instituição, na sala de atendimento de Terapia Ocupacional
do programa de Inclusão Escolar do CEESD. Os participantes estavam em três
grupos, sendo um composto de três crianças e outros dois de duas crianças
em cada.
Como descrito anteriormente, a avaliação do desempenho nas áreas
psicomotoras foi realizada por meio de aplicação individual da Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM)22, pois esta é indicada para crianças com
deficiências intelectuais, atraso de desenvolvimento, dificuldades de
aprendizagem escolar, entre outras, portanto pode-se utilizá-la com crianças
com síndrome de Down, objeto deste estudo. Ressalta-se que todo o método
de avaliação das áreas psicomotoras da dissertação se baseia nesta escala e
nos conceitos e termos utilizados pelo autor, inclusive a descrição dos
resultados.
O período do estudo foi de fevereiro de 2014 a abril 2015 para a coleta
de dados, sendo que na avaliação do desempenho nas áreas motoras
utilizando a EDM, foi necessário o tempo máximo de aplicação proposto pelo
autor (em torno de 60 minutos para cada participante). Constatou-se, na
prática, que o tempo de aplicação foi maior devido às diferenças individuais das
crianças com síndrome de Down. Já a proposta da expressão gráfica
(desenho) e reprodução de movimentos corporais relacionados a figuras de
dança foi realizado durante uma sessão de terapia (tempo de 45 minutos) com
apenas uma criança com síndrome de Down, com 7 anos, do sexo feminino. A
participante foi escolhida por ser uma criança que não falta aos atendimentos,
por demonstrar interesse em atividades expressivas e por ser uma criança que
responde positivamente às propostas.
A Escala de Desenvolvimento Motor (EDM), consta nos anexos I, II, III e
IV.
37
2.1. Escala de Desenvolvimento Motor de Francisco Rosa Neto (EDM)
De acordo com os conceitos apresentados, para a dissertação optei pela
escala de desenvolvimento motor, mais especificamente a EDM, utilizando os
termos e conceitos pelo autor apresentados.
Ele conceitua1:
Prova motora - É uma prova de habilidade correspondente a uma idade motora específica (de motricidade fina, equilíbrio, etc.). A criança tem que solucionar um problema proposto pelo examinador.
Idade motora (IM) - É um procedimento aritmético para pontuar e avaliar os resultados dos testes. A pontuação assim obtida e expressa em meses indica a idade motora.
Idade cronológica (IC) - Se obtém por meio da data de nascimento da criança, geralmente dada em anos, meses e dias. Logo, transforma-se essa idade em meses. Ex: seis anos, dois meses e 15 dias, significa o mesmo que seis anos e três meses ou 75 meses. Quinze dias ou mais equivalem a um mês.
Idade motora geral (IMG) – Se obtém através da soma dos resultados positivos obtidos nas provas motoras expresso em meses. Os resultados positivos obtidos nos testes são representados pelo símbolo (1); os valores negativos (0); os valores parcialmente positivos são representados pelo símbolo (1/2).
IMG = IM1+IM2+IM3+IM4+IM5+IM6
___________________________________
6
Idade negativa ou positiva (IN/IP) – É a diferença entre a idade motora e a idade cronológica. Os valores serão positivos quando a idade motora geral apresentar valores numéricos superiores à idade cronológica, geralmente expressa em meses.
Idade motora 1 (IM1) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de motricidade fina – expressa em meses.
Idade motora 2 (IM2) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de coordenação global – expressa em meses22.
1 Foi preciso citar um trecho extenso devido ao processo de análise que requer conhecimento da forma de
cálculo dos itens.
38
Idade motora 3 (IM3) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de equilíbrio – expressa em meses.
Idade motora 4 (IM4) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de esquema corporal (controle do próprio corpo e rapidez) – expressa em meses.
Idade motora 5 (IM5) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de organização espacial – expressa em meses.
Idade motora 6 (IM6) – É a obtida através da soma dos valores positivos alcançados nos testes de organização temporal (linguagem e estruturação espaço temporal) – expressa em meses.
Quociente motor geral (QMG) – É obtida através da divisão entre a idade motora geral e idade cronológica multiplicado por 100.
QMC = IMG. 100
____________________
IC
Quociente motor 1 (QM1) – É obtido através da divisão entre a idade motora 1 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
Quociente motor 2 (QM2) – É obtido através da divisão entre a idade motora 2 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
Quociente motor 3 (QM3) – É obtido através da divisão entre a idade motora 3 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
Quociente motor 4 (QM4) – É obtido através da divisão entre a idade motora 4 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
Quociente motor 5 (QM5) – É obtido através da divisão entre a idade motora 5 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
Quociente motor 6 (QM6) – É obtido através da divisão entre a idade motora 6 e idade cronológica. O resultado é multiplicado por 100.
39
Os testes foram realizados de acordo com a ordem indicada pelo Manual
de avaliação motora, da EDM, sendo avaliados os seguintes itens e nesta
sequência:
motricidade fina;
motricidade global;
equilíbrio;
esquema corporal (imitação de posturas e rapidez);
organização espacial;
organização temporal (linguagem e estruturas
temporais);
lateralidade (mãos, olhos e pés)
Na escala, a faixa etária utilizada é de 2 a 11 anos, e os testes poderão
ser aplicados de acordo com a idade cronológica da criança ou inferior. No
caso deste estudo, optei que todos os participantes fossem testados nas
provas de todas as faixas etárias (2 a 11 anos) proposta na EDM, ou seja, as
sete crianças realizaram os testes das idades de 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11
anos.
Utilizou-se a escala como parâmetro para conhecer o desempenho de
cada participante e para se ter uma mensuração da idade motora, baseada em
uma escala existente e aplicável para as pessoas com síndrome de Down, bem
como, verificar qual é a defasagem na idade motora dessas crianças, se
comparado com a idade de crianças com desenvolvimento típico. Pretendia-se,
com os dados coletados, sistematizar as necessidades terapêuticas, para
auxiliar o programa de terapia ocupacional nos itens específicos das áreas
psicomotoras.
Como o objetivo não é “ensinar” psicomotricidade e sim avaliar as áreas
psicomotoras das sete crianças com síndrome de Down, utilizando-se um
instrumento existente, com provas definidas, validadas, e que fornece um
resultado concreto do perfil motor dessas crianças, não houve necessidade de
40
repetir a avaliação com este instrumento no final do processo para obter dados
comparativos.
Com a finalidade de propiciar situações onde as atividades de
descobertas referentes ao próprio corpo possam ocorrer, visando a favorecer o
conhecimento de si mesmo, do outro, da observação e da representação
corporal e gráfica, foi realizada a segunda fase do estudo, que consistiu na
escolha de uma das crianças para a representação gráfica de esquema
corporal, reprodução de pose/movimento de dança e representação dessa
experiência corporal por meio do desenho.
Penso que o estudo possibilitou refletir e discutir sobre outras
possibilidades de avaliação das áreas psicomotoras por meio de atividades
expressivas, e por isso foi realizada com uma das crianças do grupo, outra
proposta que contempla algumas das áreas psicomotoras (coordenação
motora fina, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial, equilíbrio).
Com essa atividade, procurou-se mostrar que é possível obter dados de
avaliação complementares por meio de atividades de observação e imitação de
imagens, e desenho e movimento, de tal forma a valorizar a expressividade e
participação numa perspectiva integrada à abordagem da terapia ocupacional,
que entende a atividade como um meio de expressão humana.
Primeiramente foi solicitado que a criança, sujeito dessa etapa da
pesquisa, realizasse um desenho de esquema corporal. Pedi a criança
“desenha uma pessoa, um corpo, pode ser o seu”. Em seguida, a criança viu
quatro imagens de pessoas com síndrome de Down executando um movimento
corporal ou uma pose de dança, sendo apresentada uma de cada vez (Fotos 1
a 4). As imagens foram coletadas na internet por meio de busca em sites
brasileiros com as palavras chaves: crianças com síndrome de Down e dança;
foram previamente selecionadas pela pesquisadora as imagens relacionadas
com movimentos já experimentados pela criança, sujeito da pesquisa, na
aplicação da escala. Foram escolhidas imagens de movimento de abrir e elevar
os braços, ficar na ponta dos pés, postura sentada e braços assimétricos.
41
Foto 1 - Menina com braços erguidos
Fonte: www.dgabc.com.br
42
Foto 2 - Menina em posição sentada com pés juntos
Foto: Alex Araújo/G1, Fonte: g1.globo.com
43
Foto 3 - Menina na ponta dos pés com braços esticados ao lado
Fonte: www.julianacastro.com.br
44
Foto 4 - Menino sentado com braço esquerdo erguido
Foto: Betina Valente. Fonte: atarde.uol.com.br
45
Após observar a imagem, foi solicitado que a criança reproduzisse
corporalmente o mesmo movimento da imagem e em seguida fizesse a
representação gráfica, por meio de desenho, usando lápis preto em papel
sulfite A4, do movimento experimentado corporalmente e por meio da
visão/observação da imagem.
Todos os dados foram coletados no momento em que a criança estava
em atendimento na instituição, conforme previamente combinado com as
famílias no Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).
O registro dos dados foi realizado por meio de anotações em caderno de
campo, fotografias e filmagens. Também foram valorizadas e anotadas as
enunciações verbais dos participantes durante o processo. Os desenhos
produzidos foram digitalizados, com numeração correspondente a cada
proposta.
A análise dos resultados considerou o parâmetro individual obtido no
teste, e as respostas expressivas (dança e desenho, bem como verbalizações)
foram descritas e discutidas considerando a manifestação (ou não) de
elementos da motricidade trabalhados nas propostas. Ou seja, as enunciações
corporais e de discurso verbal em resposta às propostas da pesquisadora são
analisadas como manifestações da conscientização corporal dos participantes.
46
CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referem-se à aplicação individual da Escala de
Desenvolvimento Motor (EDM) com sete participantes, utilizada para avaliar as
áreas psicomotoras de cada criança com síndrome de Down deste estudo e
permitiu traçar o seu perfil motor relacionando também com a idade
cronológica, bem como a proposta de observação da imagem de movimentos
corporais e sua representação por meio do desenho.
O tempo estimado para a aplicação de todas as provas da escala é de
aproximadamente 30 a 45 minutos. A duração pode alcançar, às vezes, 60
minutos, devido às diferenças individuais22.
No caso deste estudo, foi necessário o tempo de aplicação máximo
proposto pelo autor, em torno de 60 minutos para cada participante,
constatando-se na prática que o tempo de aplicação foi maior devido às
diferenças individuais das crianças com síndrome de Down.
Observou-se também que, em alguns testes, as instruções propostas em
cada prova exigiram alteração dos termos empregados, em função da não
compreensão do que estava sendo pedido. Foi preciso adaptar a maneira de
solicitar a execução das provas, para que os participantes pudessem ter
entendimento e realizar a ação. Neste sentido, o apêndice II, ilustra algumas
das provas pertinentes a EDM aplicadas com crianças, que foram adaptados
e/ou não chegaram a ser aplicados, visto que os participantes não conseguem
executar o que foi solicitado.
Das áreas psicomotoras avaliadas, farei um breve relato, daquelas nas
quais não houve êxitos por parte da maioria dos participantes.
Motricidade fina:
5 anos - fazer um nó
Os sete participantes tinham idade cronológica acima de 5 anos,
entretanto, para essa prova não houve êxito por parte de nenhum dos
participantes. Não executaram o nó, apenas cruzaram os cordões. A
47
pertinência deste dado reside na questão que o autor da Escala pensa que as
habilidades são consecutivas – se não há êxito nas mais simples, será
improvável o êxito nas seguintes. Isso não se mostrou verdadeiro para estes
usuários, já que alguns tinham sucesso em provas de idade mais elevada.
6 anos – labirinto
Dos sete participantes, quatro executaram a atividade sem cometer os
erros descritos; os outros três realizaram a prova, mas cometeram o erro de
levantar mais de uma vez o lápis do papel.
Todos os participantes executaram até a prova de 7 anos, sendo que
quatro participantes corresponderam com a idade cronológica e três crianças
não corresponderam à idade cronológica (8 e 9 anos), ficando abaixo da idade
real.
8 anos
Todos executaram o movimento corretamente, sem os erros descritos,
mas no tempo maior que 5 segundos e nenhum participante conseguiu falar a
sequência 5, 4, 3, 2, 1.
9, 10 e 11 anos, nenhum participante executou as provas acredito
devido ao grau de dificuldade das mesmas.
Vale ressaltar que apenas uma criança tem 9 anos, portanto as demais
não precisariam ter êxito na prova.
De acordo com as cinco provas aplicadas da EDM, para avaliar a área
da motricidade fina, acredito, a partir de minha experiência como terapeuta
ocupacional, que a maioria encontra-se adequada para avaliar essa área das
crianças com síndrome de Down. Apenas as quatro provas finais, apresentam
um grau de dificuldade geral para muitas pessoas, independentemente de
deficiência; com isso, seria necessário fazer uma adaptação das mesmas.
48
Motricidade global
5 anos – saltar uma altura de 20 cm
Nenhum participante executou essa prova, pois não conseguiam saltar
com os pés juntos, sendo assim, não foi proposta à altura de 20 cm, devido ao
risco de queda.
6anos – caminhar em linha reta
Todas as crianças balançaram um pouco o corpo; apenas um
participante não executou, pois afastou os pés e balançou demais o corpo.
7 anos – pé manco
Três participantes não executaram, pois não conseguiram executar o
movimento e realizaram os erros descritos na escala.
8, 9, 10 e 11 anos
Nenhum participante executou as provas, pois não conseguiram
executar.
8 anos – saltar a uma altura de 40 cm.
9 anos – saltar sobre o ar
10 anos – pé manco com uma caixa de fósforos
11 anos – saltar sobre uma cadeira de 45 cm a 50 cm a uma
distância de 50 cm do móvel. Não executaram devido ao risco e por não
terem conseguido executar algumas provas de grau menor de dificuldade.
Conclui-se que na avaliação da motricidade global as crianças não
conseguiram executar algumas provas, pois não têm habilidade para executar
os movimentos solicitados, principalmente devido à dificuldade de equilíbrio e a
hipotonia muscular.
49
Dos três participantes que não realizaram a prova dos 7 anos, dois
completaram até 6 anos e um até 5 anos, sendo diferente de suas idades
cronológicas (ficaram abaixo).
A maioria das crianças atingiu a idade cronológica.
De acordo com as provas aplicadas da escala utilizada para avaliar a
área da motricidade global, conclui-se que nesta área, as sete crianças não
apresentaram discrepância da idade cronológica com a idade motora, mas
percebe-se na prática de atuação que alguns desses participantes
apresentaram dificuldades motoras globais, como por exemplo, no saltar/pular,
correr, subir e descer escadas.
Equilíbrio
5 anos – equilíbrio nas pontas dos pés
Três participantes, de idade cronológica de 8 e 9 anos, não executaram,
por não conseguirem se manter na ponta dos pés.
6 anos – pé manco estático
Cinco participantes não executaram; duas crianças realizaram a tarefa,
sendo esta a última prova que uma delas conseguiu executar.
7 anos – equilíbrio de cócoras
Cinco participantes não executaram.
8 anos – equilíbrio com o tronco flexionado
Nenhum participante executou.
9 anos – fazer um quatro
Um participante executou, sendo a sua última prova realizada.
10 anos – equilíbrio na ponta dos pés – olhos fechados
Nenhum participante executou.
11anos – pé manco estático – olhos fechados
50
Nenhum participante executou.
De acordo com as provas da escala aplicada, na área do equilíbrio,
notou-se que as sete crianças com síndrome de Down apresentaram maior
dificuldade neste aspecto motor, principalmente devido à dificuldade de
equilíbrio, falta de habilidade/conhecimento do movimento, além da questão
muscular, a hipotonia e instabilidade dos ligamentos, que dificultam a
sustentação do corpo; além disso, muitas provas exigiam o equilíbrio sem o
apoio dos pés ao solo.
Esquema corporal (imitação de posturas e rapidez)
Dos dois aos cinco anos, com base na escala, avalia-se por meio da
prova de imitação de gestos simples - movimentos das mãos e dos braços,
conforme figuras 30 e 3122.
Figura 1 – Movimentos de mãos e braços (2002, p.59)
51
Na prova de imitação de gestos simples das mãos, as sete crianças
conseguiram executar até o gesto de número 6.
Figura 2 – Movimentos de braços
(2002, p.61)
Na prova de imitação de gestos simples dos braços, as sete crianças
conseguiram executar todos os movimentos.
Segue abaixo a pontuação utilizada na EDM relativa à avaliação da
imitação dos gestos simples de movimentos de mãos e dos braços22:
52
Tabela 1 – Pontuação de imitação de gestos simples de mãos e braços
(2002, p.62)
De acordo com a pontuação estabelecida, os sete participantes tiveram
16 acertos, portanto obtiveram o resultado da idade cronológica de 4 anos,
sendo que as crianças têm 7 anos ou mais.
Dos seis aos onze anos com base na escala, avalia-se por meio da
prova de rapidez22.
No anexo IV, encontra-se o modelo das folhas quadriculadas e abaixo
consta a pontuação da EDM para o teste de rapidez22:
Tabela 2 – Pontuação para teste de rapidez (2002, p.63)
Com base na pontuação estabelecida pela escala, seis participantes
fizeram menos de 57 traços, portanto obtiveram o resultado da idade
cronológica abaixo de 6 anos, sendo que as crianças têm 7 anos ou mais.
53
Conclui-se que baseado nas provas da escala aplicada para a área de
esquema corporal, os sete participantes tiveram dificuldades, atingindo idades
motoras um pouco abaixo da idade cronológica.
Enquanto terapeuta ocupacional penso que a área do esquema corporal
pode ser avaliada também de outras maneiras, além da imitação de gestos
simples de movimentos das mãos e dos braços e teste de rapidez.
Com base na minha prática de formação e atuação há quinze anos
(sendo oito anos com pessoas com síndrome de Down), entendo que é de
suma relevância na área do esquema corporal trabalhar e avaliar os conceitos,
verificar se os participantes conhecem as partes do corpo, se as reconhecem
neles próprios e no outro, se diferenciam a sexualidade das pessoas, e por fim,
se representam graficamente a figura desse corpo.
Como já discutido no primeiro capítulo, o esquema corporal, sua
imagem, conscientização e representação é importante para qualquer criança,
pois, essa conceituação, contribui para o desenvolvimento corporal das áreas
psicomotoras, principalmente a lateralidade, orientação e organização espacial
e o desenvolvimento cognitivo.
Por isso, na avaliação do esquema corporal avaliaria esses outros itens.
Organização espacial
4 anos – prova dos palitos
Todas as crianças realizaram essa prova, com a adaptação de trocar a
instrução. Foi dado o comando verbal de palito “maior” e não “mais longo”, pois
os participantes não demonstram entender o conceito “longo”.
6 anos – direita/esquerda – conhecimento sobre si
Quatro participantes executaram e três crianças não executaram com
êxito, pois não haviam adquirido o conceito de direita e esquerda.
54
7 anos – execução de movimentos – execução de movimentos na ordem
Nenhum participante executou, pois quando são dadas duas ordens,
eles se confundem. No exemplo: “coloque a mão direita na orelha esquerda”,
entendem os itens mãos, orelhas e olhos, mas não a instrução relacionando
lateralidade.
8 anos – direita/esquerda – reconhecimento sobre outro
Nenhum participante executou.
9 anos – reprodução de movimentos – representação humana Nenhum participante executou, pois não conhecem esses conceitos e
não atingiram seis acertos sobre oito tentativas.
10 anos – reprodução de movimentos – figura humana
Nenhum participante executou, pois não conhecem esses conceitos e
não atingiram seis acertos sobre oito tentativas.
11 anos – reconhecimento da posição relativa de três objetos
Nenhum participante executou, devido ao fato de os conceitos ainda não
terem sido adquiridos e por não atingirem cinco acertos sobre seis
tentativas.
Organização temporal (linguagem)
2 anos
Todas as crianças executaram a prova de 2 anos.
3 anos
Três participantes executaram essa prova.
4 anos
Um participante executou essa prova.
55
5 anos
Um participante executou essa prova.
Conclui-se que quatro participantes executaram apenas a prova de 2
anos no aspecto da linguagem, pois o êxito é dado pela repetição de ao menos
uma das frases sem erro.
Nas provas de 3, 4 e 5 anos as crianças repetiram de duas a três
palavras, não a frase inteira, como descrita na escala.
Organização temporal (estrutura espaço-temporal)
Na simbolização (desenho) de estruturas espaciais, os sete participantes
não executaram com êxito, pois falharam duas estruturas sucessivas.
Na simbolização de estruturas temporais – leitura (reprodução por meio
de golpes) e na transcrição de estruturas temporais (ditado), os sete
participantes não executaram com êxito, pois falharam duas estruturas
sucessivas.
Na reprodução por meio de golpes, duas crianças fizeram até o teste 5 e
cinco até o teste 2.
Os sete participantes tiveram a pontuação menor de 6 anos, pois os
números de traços foram menores que 6-13 acertos.
Lateralidade (mãos, olhos e pés)
A seguir o resumo do desempenho em lateralidade das sete crianças
com síndrome de Down avaliadas:
56
Tabela 3 – Resultados de Lateralidade dos participantes
Mãos – Escrita – Direita: 6 participantes; Esquerda: 1 participante
Bola – Direita: 5 participantes; Esquerda: 2 participantes
Objetos – Direita: 5 participantes; Esquerda: 2 participantes.
Olhos – Direita: 2 participantes;
Esquerda: 4 participantes.
Indefinido: 1 participante.
Pés – Direita: 5 participantes;
Esquerda: 2 participantes.
Na lateralidade dos pés, fiz uma adaptação, foi chute com a bola no
solo. Todos os participantes realizaram.
Os resultados de acordo com a Escala de Desenvolvimento Motor
(EDM) são22:
Tabela 4 – Lateralidade de mãos, olhos e pés
Lateralidade
Mãos
Olhos
Pés
D (direito)
3 provas com a
mão direita
2 provas com o
olho direito
2 chutes com o pé
direito
E (esquerdo)
3 provas com a
mão esquerda
2 provas com o
olho esquerdo
2 chutes com o pé
esquerdo
I (indefinido)
1 ou 2 provas com
a mão direita ou
com a mão
esquerda
1 prova com o olho
direito ou com o
olho esquerdo
1 chute com o pé
direito ou com o pé
esquerdo
(2002, p. 75)
57
Tabela 5 – Pontuação Geral da Lateralidade
PONTUAÇÃO GERAL
DDD Destro completo
EEE Sinistro completo
DED/EDE/DDE Lateralidade Cruzada
DDI/EEI/EID Lateralidade indefinida
(2002, p. 75)
De acordo com a pontuação descrita pelo autor, temos a seguinte
situação das sete crianças avaliadas:
Participante 1 - M – D; O – E; P – D = DED, portanto Lateralidade
cruzada
Participante 2 – M – D; O – I; P – D = DID, portanto Lateralidade
indefinida
Participante 3 – M – D; O – D; P – D = DDD, portanto Destro completo
Participante 4 – M – D; O – D; P – D = DDD, portanto Destro completo
Participante 5 – M – D; O – E; P – D = DED, portanto Lateralidade
cruzada
Participante 6 – M – E; O – E; P – E = EEE, portanto Sinistro completo
Participante 7 – M – D; O – E; P – E = DEE, portanto Lateralidade
cruzada
Das sete crianças avaliadas, temos dois destros completos, um sinistro
completo, dois com lateralidade cruzada e um com lateralidade indefinida. Os
resultados em negrito não se encontram na tabela.
58
A seguir, serão apresentados os testes dos sete participantes com
síndrome de Down, constando os resultados da prova do labirinto, o teste de
rapidez e por fim o resumo dos pontos obtidos nas provas de cada criança
participante, os resultados das idades motoras e o perfil motor da criança
avaliada.
Criança 1
Levantou o lápis do papel três vezes com a mão dominante e seis vezes com a
não-dominante.
59
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
60
Criança 2
Levantou o lápis do papel duas vezes com a mão dominante e três vezes com
a não-dominante.
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
61
Criança 2
62
Criança 3
Levantou o lápis do papel três vezes com a mão dominante e quatro
vezes com a não-dominante.
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
63
Criança 3
64
Criança 4
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
65
Criança 4
66
Criança 5
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
67
Criança 5
68
Criança 6
Teste de rapidez - não conseguiu os 57 traços (mínimo)
69
Criança 6
70
Criança 7
Teste de rapidez – fez 60 traços, obtendo 6 anos, sendo que na verdade
tem 8 anos.
71
Criança 7
72
A seguir serão apresentados os resultados obtidos seguido de algumas
considerações:
Dos sete participantes, quatro crianças obtiveram no item escala de
desenvolvimento a pontuação – “muito inferior” e três crianças a pontuação –
“inferior”.
Na área da motricidade fina quatro crianças correspondem à idade
cronológica, ou seja, o esperado na escala e três crianças estão abaixo da
idade cronológica, mas igualmente às demais, todas estão na faixa etária de
sete anos.
Na motricidade global, três crianças correspondem à idade cronológica,
ou seja, o esperado na escala e quatro estão abaixo da idade cronológica,
sendo que duas crianças estão um ano a menos de sua idade cronológica,
uma está três anos abaixo de sua idade cronológica e uma está quatro anos
abaixo de sua idade cronológica.
Na área do equilíbrio, uma criança corresponde à idade cronológica, ou
seja, o esperado na escala; uma está um ano acima da idade cronológica e
cinco estão abaixo da idade cronológica, sendo que duas crianças estão quatro
anos a menos, duas estão três anos abaixo de sua idade cronológica e uma
está dois anos abaixo de sua idade cronológica.
Com relação ao esquema corporal, seis crianças estão com a idade de
quatro anos nessa área, sendo de três a cinco anos abaixo da idade
cronológica e uma está dois anos abaixo de sua idade cronológica.
Na área da organização espacial, três crianças estão com a idade de
cinco anos e quatro crianças estão com a idade de seis anos, sendo todos
abaixo da idade cronológica e com uma diferença de um a quatro anos da
idade motora para a cronológica.
Por fim, na área da organização temporal, todas as crianças estão com a
idade motora, significativamente abaixo da idade cronológica, três crianças
com idade motora de dois anos, uma com idade motora de três anos, duas com
a diferença de três anos e uma com a idade motora de cinco anos.
73
Os resultados de cada área psicomotora avaliada na EDM22
apresentam-se na tabela a seguir:
Tabela 6 – Resultados Gerais de Áreas Psicomotoras
Áreas psicomotoras
Resultados
Motricidade fina
4 crianças - correspondem à idade cronológica
(esperado na escala)
3 crianças - abaixo da idade cronológica (todos
faixa etária de 7 anos).
Motricidade global
3 crianças - correspondem à idade cronológica
(esperado na escala)
4 crianças - abaixo da idade cronológica - 2 um
ano
1 três anos
1 quatro anos
Equilíbrio
1 criança - corresponde à idade cronológica
1 - está um ano acima da idade cronológica
5 - abaixo da idade cronológica - 2 quatro anos
2 três anos
1 dois anos
Esquema corporal
6 crianças - estão com a idade de quatro anos
5 três a cinco anos
1 dois anos
Organização espacial
3 crianças - estão com a idade de cinco anos
4 – com seis anos
7 – de um a quatro anos a diferença da idade
motora para a cronológica
Organização temporal
7 crianças - idade motora abaixo da idade
cronológica : 1 – idade motora cinco anos
3 - dois anos
1 - três anos
2 - com a diferença de três anos
Lateralidade
2 destros completos; 1 sinistro completo; 3
lateralidade cruzada; 1 lateralidade indefinida.
74
As crianças responderam bem à realização das provas descritas na
Escala, mesmo sendo rígida, com testes fechados; no geral, gostaram de
realizar as provas. Tive total participação das sete crianças nas áreas
psicomotoras avaliadas, responderam com alegria, como se tudo fosse uma
brincadeira, principalmente nas provas que envolviam a questão corporal, o
uso da bola, o equilíbrio; atribuo essa atitude positiva ao fato de não ficarem
sentadas executando testes. Percebeu-se que não gostaram de realizar as
provas de orientação temporal e espacial, talvez por não ser realmente
interessante, por estarem sentadas repetindo ações ou também por não
obterem êxito desde as primeiras testagens. Ainda outra hipótese é que, por
ser a última etapa das provas, o tempo de atenção e interesse poderia já ter se
esgotado.
Resume-se no quadro abaixo os pontos favoráveis e desfavoráveis da
aplicação da EDM com as sete crianças com síndrome de Down:
Tabela 7 – Pontos favoráveis e desfavoráveis a aplicação da EDM
Pontos favoráveis Pontos desfavoráveis
Ferramenta/instrumento para avaliar as áreas psicomotoras das crianças atendidas pelo T.O.
Há provas estabelecidas (fixas) para serem executadas conforme descrito no manual de aplicação
Parâmetro para se ter um resultado do perfil motor de cada criança com S. Down
Apresenta acertos, erros, enfim, resultados e pontuação
Evidencia quais as áreas que apresentam maior defasagem e discrepância da idade cronológica e a idade motora
Instrumento não flexível, é necessário que haja adaptação de algumas provas na maneira de solicitar a tarefa
Resultado concreto, não subjetivo, ou seja, uma mensuração mais sistemática
Não proporciona a expressão motora e corporal das pessoas com síndrome de Down
Nortear plano de ação – para estimular as áreas que necessitam aprimorar ou adquirir uma etapa que ainda não executa
75
Vale ressaltar que as pessoas com síndrome de Down, como já citado
na dissertação, tendem a apresentar um atraso no desenvolvimento motor,
portanto os resultados obtidos do atraso motor já eram esperados, mas com a
escala, constata-se em quais áreas especificamente há a necessidade de
maior ênfase do trabalho desenvolvido pela terapeuta ocupacional.
De acordo com a aplicação da EDM, constatou-se que os sete
participantes com síndrome de Down, apresentam idade cronológica diferente
da idade motora, resultado este que não foi surpreendente.
Com base nos dados obtidos no resumo dos pontos e no perfil motor de
cada criança com síndrome de Down avaliada, constata-se que os sete
participantes têm perfil motor inferior ao esperado para a idade cronológica, um
resultado esperado para a síndrome.
Sabe-se que “quanto mais cedo for iniciado um trabalho de estímulo e
aprendizagem, maior a independência das pessoas com Down”38.
Considerando o desenvolvimento da criança como um fenômeno que se
dá nas relações em que está inserida, faz-se necessário enfocar o papel do
terapeuta ocupacional como sujeito ativo na contribuição do desenvolvimento
das áreas psicomotoras das pessoas com síndrome de Down atendidas.
3.1. Sob o olhar expressivo
No decorrer do estudo, como já dito, com o olhar de terapeuta
ocupacional, senti a necessidade de complementar a avaliação das áreas
psicomotoras das crianças com síndrome de Down com a dimensão qualitativa
e expressiva, surgindo à proposta de atividade de expressão gráfica (desenho)
e movimentos corporais; e como descrito no método da pesquisa, foi solicitado
que a criança número 3, realizasse primeiramente o desenho de um corpo, a
representação gráfica do esquema corporal, utilizando lápis preto número 2 e
uma folha de sulfite. Além de constatar como estava no momento a
representação gráfica do corpo, dessa criança com síndrome de Down, com 7
76
anos, por meio do desenho, constata-se a orientação espacial desse corpo no
papel.
A criança desenhou a figura humana no canto superior da folha,
colocando as partes do corpo, como braços, pés, mãos, olhos, orelhas, nariz e
em seguida verbalizou e acrescentou os detalhes como cabelo e brincos,
conforme desenho a seguir:
Figura 3 – Desenho da figura humana
77
Em seguida, foi apresentado para a criança quatro imagens (pré
selecionadas) de pessoas com síndrome de Down, sendo uma por vez.
Primeiramente a criança olhou a figura, em seguida, solicitou-se que a
criança realizasse o mesmo movimento/pose da foto. Depois de realizar o
movimento, foi pedido que desenhasse (representação gráfica por meio de
desenho) a dançarina da fotografia, como nas figuras seguintes:
Foto 1
Figura 4 - Desenho referente pose da
foto 1
Com relação à foto 1, após a criança olhar a imagem, executou o
movimento corporal/pose, igualmente o da figura, com os braços elevados e
comentou “não estou de saia” ; logo após, como solicitado, representou
graficamente a posição observada e vivenciada por meio do desenho,
verbalizando que estava com braços levantados e com uma saia. A menina se
mostrou atenta aos detalhes da figura, mas nota-se a dificuldade da
representação no espaço do papel e de simetria.
78
Foto 2
Figura 5 - Desenho referente pose da
foto 2
Com relação à foto 2, a criança realizou o movimento corporal, sentada
no chão e juntando os pés e mãos, mas não executou a inclinação do corpo;
após observar a figura, na representação por meio do desenho fez o corpo
inclinado, mas não o representou sentado e nem as mãos nos pés; mas
quando olhou para a figura novamente, colocou uma extensão por meio da
linha para juntar as mãos aos pés.
Nota-se que a realização do movimento (vivência) e a observação da
imagem (apoio visual) facilitou a representação gráfica por meio do desenho.
79
Foto 3
Figura 6 - Desenho referente pose da
foto 3
Com relação à foto 3, a criança realizou o movimento corporal/pose com
dificuldade em manter os pés fora do chão (dificuldade de equilíbrio) e
verbalizou que ficou ainda mais difícil quando teve que abrir os braços ao
mesmo tempo. No desenho, representou a figura sem diferenciar os pés
elevados do solo; desenhou a saia e relatou esse detalhe para finalizar o
desenho.
80
Foto 4
Figura 7 – Desenho referente pose da
foto 4
Por fim, em relação à foto 4, executou o movimento/pose sem
dificuldades, mas na representação do desenho teve dificuldade de representar
a posição sentada e a assimetria de braços; não diferenciou o braço erguido do
abaixado.
A meu ver, desenhar é uma das maneiras mais expressivas que a
criança tem, uma linguagem gráfica que se inicia muitas vezes antes da
verbalização, e é por meio dos desenhos que ela busca representar as
pessoas,os objetos, os brinquedos, animais entre outros que fazem parte do
seu meio, ilustrado com a citação da autora abaixo:
81
“Ela tem muito a expressar e pode utilizar a
forma gráfica para lidar com suas emoções e com suas relações familiares, mesmo porque seu poder de linguagem verbal ainda não evoluiu para permitir-lhe expressar e elaborar verbalmente suas emoções. Dificilmente o adulto sabe o que se passa pela mente do pequeno desenhista, a não ser que durante a atividade verbalize alguma coisa espontaneamente”39.
Percebe-se que as atividades expressivas realizadas no estudo,
proporcionaram à criança com síndrome de Down outra forma de se colocar,
de ser avaliada quanto às áreas psicomotoras, no caso do movimento corporal
e da representação gráfica por meio do desenho, as áreas da motricidade fina,
global, equilíbrio, esquema corporal e orientação espacial.
Desse modo, observa-se também a defasagem motora e cognitiva dessa
criança, mas de uma forma livre, expressiva, que pode ser modificada, que
valoriza o que a criança consegue executar, por meio de suas habilidades já
adquiridas, sem necessariamente seguir etapas prescritas. Assim, a meu ver e
sob olhar de terapeuta ocupacional, que valoriza a expressão, a avaliação das
áreas psicomotoras na criança com síndrome de Down pode ser realizada por
meio de atividades expressivas.
3.1.1 Ilustrando as duas ferramentas de avaliação
A seguir serão apresentados e discutidos o teste de rapidez, o labirinto e
a avaliação completa das áreas psicomotoras pela EDM22, da criança que foi
objeto da segunda etapa da pesquisa e as atividades expressivas:
82
Dos seis aos onze anos com base na escala, avalia-se o esquema
corporal, por meio da prova de rapidez. Neste caso, o teste de rapidez à
esquerda, a criança executou no tempo solicitado, mas de acordo com a
pontuação estabelecida pela escala, fez menos de 57 traços, portanto obteve o
resultado da idade cronológica abaixo de 6 anos, sendo que essa criança tem 7
83
anos. Assim, conclui-se, que com base nas provas da escala aplicadas para a
área de esquema corporal, que ela teve dificuldades, atingindo idade motora
um pouco abaixo da idade cronológica. Portanto, segundo a escala a criança
apresenta dificuldade na área psicomotora do esquema corporal.
Já com relação ao labirinto à direita, o instrumento indica pontuação da
motricidade fina de uma criança de 6 anos; neste caso, ela tem 7 anos e
conseguiu executar a atividade sem cometer os erros descritos, a saber:
levantar mais de uma vez o lápis do papel. Com base na escala, a criança
apresenta uma motricidade fina adequada para a idade.
84
De acordo com a aplicação da escala, temos acima o resumo dos
pontos obtidos por essa criança com síndrome de Down, de 7 anos. Sua
pontuação na escala de desenvolvimento é “muito inferior”, ou seja, a idade
motora está muito abaixo da idade cronológica.
Nas áreas de motricidade fina e global, está adequada/esperado, pois o
nível de desempenho motor e o cronológico correspondem; nas áreas de
equilíbrio e esquema corporal, há defasagem, pois motoramente a menina se
enquadra na faixa de 4 anos; na área de organização espacial, corresponde à
idade de 6 anos, ou seja, há pouca diferença; já na área de organização
temporal, ocorre a sua maior defasagem, a idade correspondente de 3 anos.
Na segunda parte da pesquisa, que foi a avaliação das áreas
psicomotoras por meio de atividades expressivas, atividades vivenciadas da
observação da imagem, imitação do movimento corporal da figura e
representação gráfica por meio do desenho, pode-se concluir que a criança
não apresenta um esquema corporal com defasagem, considerando que a
mesma nomeia as partes do corpo, as reconhece nela e na figura e as
representa no todo; sua defasagem maior e sua dificuldade aparente nessa
etapa são com relação à organização espacial, principalmente na
representação do corpo no papel, como na figura 3.
A criança ampliou sua representação do esquema corporal após
executar os movimentos corporais e observar os detalhes das figuras.
Constata-se isso quando olhamos a primeira representação do corpo, que não
tinha a riqueza de detalhes no desenho e nem verbalizações, como após
vivenciar os movimentos e ter o apoio visual das figuras. Portanto a experiência
corporal por meio de movimentos/pose de dança, o apoio visual das figuras e o
comando verbal da terapeuta para executar as ações facilitaram e
proporcionaram a criança modos diferentes de expressão verbal, corporal e
gráfica.
85
A adaptação de um ato motor a um fim específico se identifica na
realização de uma praxia e de todas as formas de praxias, o movimento
intencional aparece como o mais significativo da vida humana22. Assim, o
terapeuta ocupacional, que tem um olhar valioso sobre as praxias, deve utilizar
destas atividades corporais e de representação gráfica, pois as mesmas
proporcionam que o ato motor seja desencadeado para um fim específico, pois
é por meio do fazer que o indivíduo consegue realizar suas ações diárias,
conquista sua autonomia e independência, aspectos estes, de suma relevância
para a maior funcionalidade e inserção das pessoas com síndrome de Down na
sociedade como um todo.
Com os resultados apresentados com a aplicação da escala EDM,
avaliando as áreas psicomotoras das sete crianças com síndrome de Down e
um estudo de caso envolvendo as atividades expressivas com o uso de
desenho e movimentos corporais/pose de dança e as discussões
apresentadas, conclui-se que a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) é
uma ferramenta para auxiliar o terapeuta ocupacional na avaliação das áreas
psicomotoras nas pessoas com síndrome de Down, mas é necessário que haja
adaptação de algumas provas, na maneira de solicitar, que foi uma das
maiores dificuldades apresentadas na escala.
Como já dito, a escala apresenta provas para serem executadas
conforme descrito no manual de aplicação, sem prever a possibilidade de
adaptações nos testes: ela apresenta acertos, erros, enfim, resultados e
pontuação.
A escala não é um instrumento flexível e também não proporciona a
expressão motora e corporal das pessoas com síndrome de Down. Mas
mesmo com essas limitações, ela permitiu algumas vivências e experiências
com esses sete participantes.
A meu ver e apoiada em teorias, também considero de suma relevância
o olhar qualitativo, no caso deste estudo, realizado por meio das atividades
expressivas (movimentos corporais, desenho). Trata-se de valorizar o fazer
86
humano, carregado de conteúdo simbólico: a atividade enquanto expressão4,5 e
também a atividade e o terapeuta entendidos como recursos terapêuticos com
os quais o paciente pode agir e reagir3. Ou seja, acredito que a criança e o
terapeuta fazem parte do processo, a criança não pode ser apenas um sujeito
passivo, como no caso da aplicação da escala, que executa ações previamente
estabelecidas, que demonstra os conceitos adquiridos, mas cujo desempenho
é quantificado pelos seus insucessos. Já na atividade expressiva, o terapeuta
pode valorizar as habilidades existentes.
Portanto, no presente estudo, a avaliação das áreas psicomotoras se
enriqueceu com as duas ferramentas de avaliação, a escala e atividades
expressivas.
87
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que há a necessidade de um instrumento para avaliar as
áreas psicomotoras das crianças atendidas pelo terapeuta ocupacional. No
caso de pessoas com síndrome de Down, a escala utilizada na pesquisa serviu
de parâmetro para se ter um resultado do perfil motor de cada criança, além de
constatar quais as áreas que apresentaram maior defasagem e discrepância da
idade cronológica e a idade motora, para que o terapeuta ocupacional possa
propor seu plano terapêutico individualizado.
Um resultado concreto, não subjetivo, ou seja, uma mensuração mais
sistemática, a meu ver, pode auxiliar o trabalho do terapeuta ocupacional, pois
pode nortear seu plano de ação, com o intuito de estimular as áreas que
necessitam aprimoramento ou mesmo na aquisição de uma etapa que ainda
não executa, visando obter maior desempenho funcional das pessoas
atendidas.
Contudo, acredito que as questões expressivas, como o que foi proposto
caso na presente dissertação, os movimentos corporais e poses de dança e o
desenho, são também de suma relevância, principalmente em se tratando do
olhar de um terapeuta ocupacional, que valoriza o uso da atividade, o fazer
humano e a expressão.
Pode-se concluir a análise dos dados coletados, ilustrada com a
experiência do caso, uma criança de sete anos com síndrome de Down que
passou pela aplicação de testes da Escala de Desenvolvimento Motor de
Francisco Rosa Neto (EDM, 2002) e pôde vivenciar experiências de
movimentos corporais, “imitação” e representação gráfica por meio do
desenho, que os movimentos corporais podem estimular a ampliação de
repertórios no desenho e o desenho ajuda/auxilia na conscientização corporal
em atividades corporais.
O terapeuta ocupacional pode avaliar as áreas psicomotoras das
crianças com síndrome de Down por meio de um instrumento validado,
objetivo, que apresenta resultados para se ter um parâmetro de como é o perfil
88
motor da pessoa avaliada, no caso o uso da EDM, desde que o terapeuta
pudesse realizar adaptações em algumas das provas. Entretanto, destaco que
a avaliação realizada se enriquece quando é integrada por atividades
expressivas como movimentos corporais e desenho, que acrescentam dados
complementares e expressivos, que a meu ver são de suma relevância para se
traçar um plano terapêutico. Portanto, as questões formais e expressivas se
complementam e as duas ferramentas podem ser utilizadas pelo terapeuta
ocupacional para a avaliação das áreas psicomotoras de pessoas com
síndrome de Down.
O terapeuta ocupacional, profissional que tem como base a tríade,
paciente, terapeuta e atividade, busca que todos esses elementos atuem e
interajam, fazendo parte do processo do fazer, seja ele humano ou não, com o
intuito primordial de estimular, proporcionar e aprimorar as habilidades
existentes ou não, a autonomia, independência e qualidade de vida das
pessoas atendidas, para que as mesmas possam buscar inserção na vida
escolar, de trabalho, lazer e social.
Espera-se que a presente pesquisa produza resultados que contribuam
para o conhecimento sobre as áreas psicomotoras nas pessoas com síndrome
de Down, por meio da avaliação e conhecimento das possibilidades e
necessidades dos usuários e da construção de propostas expressivas em
movimentos corporais/dança e desenho, sob um olhar da Terapia Ocupacional.
Tais resultados apontam para a melhoria na avaliação das áreas
psicomotoras das pessoas com síndrome de Down, no atendimento e para o
planejamento dos serviços de educação e saúde destinados a essa população
que consideram a importância das vivências culturais e do bem-estar social.
89
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39. Reily LH. Atividades de artes plásticas na escola. São Paulo:
Pioneira,1986.
94
APÊNDICE I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos convidando seu (sua) filho (a) para participar como voluntário da pesquisa “A dança e o desenho no desenvolvimento das áreas psicomotoras na síndrome de Down: contribuições da Terapia Ocupacional”,sob responsabilidade da
pesquisadora Carolina Cunha Barros Nobre, para obtenção do título de Mestre em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação, sob orientação da Profª. Drª. Lucia Helena
Reily.
A pesquisa tem como objetivo investigar os processos de conscientização e desenvolvimento das áreas psicomotoras para o processo educacional de pessoas com síndrome de Down de 8 a 15 anos por meio de atividades expressivas (dança e
desenho).
Este trabalho é importante, pois fornecerá dado que contribuam para o conhecimento sobre as áreas psicomotoras nas pessoas com síndrome de Down, através da dança e do desenho, sob um olhar da Terapia Ocupacional.
Para tanto, o projeto visa conduzir uma avaliação do desempenho em áreas psicomotoras e a elaboração de uma seqüência de propostas para mostrar de que modo à dança pode estimular a ampliação de repertórios no desenho e como o desenho ajuda a conscientização corporal em atividades de dança, nos momentos em que a criança está em atendimento na instituição. As atividades serão gravadas em forma de vídeos e, posteriormente, transcritas, para coleta de informações e dados.
Esses materiais decorrentes da pesquisa ficarão à disposição apenas dos responsáveis dos participantes e pesquisadores envolvidos. Os dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar o objetivo do trabalho, incluída sua publicação na literatura científica especializada.
A pesquisa e as atividades não possuem riscos previsíveis para os participantes, por se tratar de uma avaliação padronizada e atividades expressivas, envolvendo movimentos corporais e desenho, conteúdos estes do cotidiano dos sujeitos.
Os atendimentos à criança não serão prejudicados em virtude da coleta de dados, pois as mesmas já estarão neste horário sendo atendidas na instituição e o mesmo será
avisado com antecedência.
A participação é totalmente voluntária, não será remunerada, estará isenta de despesas, sendo que estas serão de responsabilidade das pesquisadoras. Fica assegurado a liberdade de recusar-se e/ou interromper a participação do seu (sua)
95
filho (a) na pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo na continuidade do
atendimento oferecido à criança.
Este termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá com o responsável do participante e outra com o pesquisador responsável.
Em caso de dúvidas, a qualquer momento os responsáveis pelos participantes poderão entrar em contato com a pesquisadora responsável ou com a orientadora da pesquisa que podem ser encontradas no CEPRE/FCM/UNICAMP ou pelo telefone (19) 3365-0856 ou por e-mail: [email protected]. Se tiver alguma dúvida quanto aos aspectos éticos da pesquisa, o Comitê de Ética em Pesquisa, órgão que garante e resguarda a integridade e os direitos dos voluntários participantes de pesquisas, pode ser contatado pelo telefone (019) 3521-8936 ou email:
Campinas, ______/______________/________
Declaração (menor de 18 anos)
Eu_________________________________________, RG:________________ responsável pelo menor, concordo que meu (minha) filho (a) _______________________________________________________ participe voluntariamente da pesquisa descrita acima e declaro que li e entendi todas as informações apresentadas, sendo os objetivos e procedimentos satisfatoriamente explicados. Entendo que a participação do meu (minha) filho (a) não será remunerada e que sou livre para interrompê-la a qualquer momento, sem que isso determine qualquer prejuízo. Concordo que meu (minha) filho (a) participe deste estudo e tenho o direito de agora ou mais tarde discutir qualquer outra dúvida que venha ter.
________________________ ________________________
Assinatura do responsável Assinatura do pesquisador
Pesquisador responsável
Eu, Carolina Cunha Barros Nobre, responsável pela pesquisa: “A dança e o desenho
no desenvolvimento das áreas psicomotoras na síndrome de Down:
contribuições da Terapia Ocupacional” declaro que obtive espontaneamente o
consentimento do responsável pelo sujeito para realizar este estudo.
________________________ ________________________
Assinatura do responsável Assinatura do pesquisador
96
APÊNDICE II
Nesse anexo estarão algumas das provas aplicadas nas sete crianças,
das quais foi necessária alguma descrição relevante.
Motricidade fina:
5 anos - fazer um nó
Material: um par de cordões de sapatos de 45 cm e um lápis. “Preste atenção no que faço”. Fazer um nó simples em um lápis (figura 5). “Com este cordão, você irá fazer um nó em meu dedo como eu fiz no lápis”. Aceita-se qualquer tipo de nó, desde que não se desmanche22.
Figura 4
(2002, p.45)
6 anos – labirinto
A criança deve estar sentada em uma mesa escolar diante de um lápis e de uma folha contendo os labirintos (Anexo IV). Traçar com um lápis uma linha contínua da entrada até a saída do primeiro labirinto e, imediatamente, iniciar o próximo. Após 30 segundos de repouso, começar o mesmo exercício com a mão esquerda (Figura 5)22.
97
Figura 5 (2002, p.46)
Erros: A linha ultrapassar o labirinto mais de duas vezes com a mão dominante e mais de três vezes com a mão não-dominante; o tempo máximo ser ultrapassado; levantar mais de uma vez o lápis do papel. Duração: 1 minuto e 20 segundos para a mão dominante (direita ou esquerda) e 1 minuto e 25 segundos para a mão não-dominante (direita ou
esquerda). Tentativas: duas tentativas com cada mão22.
Teste de 8 anos – ponta do polegar Com a ponta do polegar, tocar com a máxima velocidade possível os dedos da mão, um após o outro, sem repetir a sequência. Inicia-se do dedo menor para o polegar, retornando novamente para o menor (Figura 6)22.
Figura 6
O mesmo exercício deve ser realizado com a outra mão. Erros: Tocar várias vezes o mesmo dedo; tocar dois dedos ao mesmo tempo; esquecer de um dedo; ultrapassar o tempo
98
máximo. Duração: cinco segundos. Tentativas: duas para cada mão22.
(2002, p.47)
O resumo das provas de 9,10 e 11 anos:
9 anos - arremessar uma bola (6 cm de diâmetro)
acertando um alvo pequeno (25x25) com uma longa distância
(1,50m).
10 anos – círculo com polegar: a ponta do polegar
esquerdo deve estar sobre a ponta do índice direito e depois, ao
contrário. Realizar movimentos circulares, no tempo de,
aproximadamente, 10 segundos e de olhos fechados.
11 anos – agarrar uma bola: agarrar com uma mão uma
bola (6 cm de diâmetro), lançada de 3 metros de distância.
Motricidade global
5 anos – saltar uma altura de 20 cm
Com os pés juntos, saltar sem impulso uma altura de 20 cm (Figura 13). Material: dois suportes com uma fita elástica fixada nas extremidades deles a uma altura de 20 cm. Erros: tocar no elástico; cair (apesar de não ter tocado no elástico); tocar no chão com as mãos. Tentativa: três, sendo que duas deverão ser positivas22.
Figura 13
(2002, p.50)
99
6anos – caminhar em linha reta
Com os olhos abertos, percorrer 2 metros em linha reta, posicionando alternadamente o calcanhar de um pé contra a ponta do outro (Figura 14). Erros: afastar-se da linha; balançar; afastar um pé do outro; executar o procedimento de modo incorreto. Tentativa: três22.
Figura 14
(2002, p.51)
7 anos – pé manco
Com os olhos abertos, saltar ao longo de uma distância de 5 metros com a perna esquerda, à direita flexionada em ângulo reto com joelho, os braços relaxados ao longo do corpo (Figura 15). Após um descanso de 30 segundos, o mesmo exercício deve ser feito com a outra perna. Erros: distanciar-se mais de 50 cm da linha; tocar no chão com a outra perna; balançar os braços. Tentativa: duas para cada perna. Tempo
indeterminado22.
Figura 15
(2002, p.51)
100
8 anos – saltar a uma altura de 40 cm. Com os pés juntos,
saltar sem impulso uma altura de 40 cm. (Figura 16)
Figura 16
(2002, p.52)
9 anos – saltar sobre o ar
Para saltar no ar, deve-se flexionar os joelhos e tocar os calcanhares com as mãos (Figura 17). Erros: não tocar nos calcanhares. Tentativa: três22.
Figura 17
(2002, p.52)
10 anos – pé manco com uma caixa de fósforos
O joelho deve estar flexionado em ângulo reto, e os braços relaxados ao longo do corpo. A 25 cm do pé que repousa no
101
solo é colocada uma caixa de fósforos. A criança deve levá-la impulsionando-a com o pé até o ponto situado a 5 metros (Figura 18). Erros: tocar no chão (ainda que só uma vez) com o outro pé; exagerar o movimento com os braços; ultrapassar com a caixa em mais de 50 cm o ponto fixado; falhar no
deslocamento da caixa. Tentativa: três22.
Figura 18
(2002, p.53)
Equilíbrio
5 anos – equilíbrio nas pontas dos pés
Manter-se sobre a ponta dos pés, com os olhos abertos e com os braços ao longo do corpo, estando pés e pernas
juntos (Figura 23). Duração: 10 segundos. Tentativa: três22.
102
Figura 23
(2002, p.55)
6 anos – pé manco estático
Com olhos abertos, manter-se sobre a perna direita, enquanto a outra permanecerá flexionada em ângulo reto, com a coxa paralela à direita e ligeiramente em abdução e com os braços ao longo do corpo (Figura 24). Descansar por 30 segundos e fazer o mesmo exercício com a outra perna. Erros: baixar mais de três vezes a perna levantada; tocar com o outro pé o chão; saltar; elevar-se sobre a ponta do pé; balançar. Duração: 10 segundos. Tentativa: três”22.
Figura 24
(2002, p.56)
7 anos – equilíbrio de cócoras
103
Ficar de cócoras, com os braços estendidos lateralmente, com os olhos fechados e com calcanhares e pés juntos (Figura 25). Erros: cair; sentar-se sobre os calcanhares; tocar no chão com as mãos; deslizar-se; baixar os braços três
vezes. Duração: 10 segundos. Tentativa: três22.
Figura 25
(2002, p.56)
8 anos – equilíbrio com o tronco flexionado
Com os olhos abertos, com as mãos nas costas, elevar-se sobre as pontas dos pés e flexionar o tronco em ângulo reto (pernas retas). (Figura 26). Erros: flexionar as pernas mais de duas vezes; mover-se do lugar; tocar o chão com os
calcanhares. Duração: 10 segundos. Tentativa: duas22.
Figura 26
(2002, p.57)
9 anos – fazer um quatro
104
Manter-se sobre o pé esquerdo com a planta do pé direito apoiada na face interna do joelho esquerdo, com as mãos fixadas nas coxas e com os olhos abertos (Figura 27). Após um descanso de 30 segundos, executar o mesmo movimento com a outra perna. Erros: deixar cair uma perna; perder o equilíbrio; elevar-se sobre a ponta dos pés. Duração: 15 segundos. Tentativa: duas para cada perna22.
Figura 27
(2002, p.57)
10 anos – equilíbrio na ponta dos pés – olhos fechados
105
Figura 28
(2002, p.58)
11anos – pé manco estático – olhos fechados
Figura 29
(2002, p.58)
Esquema corporal:
Dos seis aos onze anos com base na escala, avalia-se por meio da
prova de rapidez22.
Material: folha de papel quadriculado com 25 cm x 18 cm quadrados (quadro de 1 cm de lado), lápis preto nº2 e cronômetro (Figura 32). A folha quadriculada deve estar em sentido longitudinal. “Pegue o lápis. Você vê estes quadrados? Faça um risco em cada um, o mais rápido que puder. Faça os riscos como desejar, mas apenas um risco em cada quadrado. Preste muita atenção e não salte nenhum quadrado, porque não poderá voltar atrás.” A criança toma o lápis com a mão que preferir (mão
dominante)22.
106
Figura 32
(2002, p.62)
Organização espacial
4 anos – prova dos palitos
Dois palitos de diferentes comprimentos: 5 e 6 cm. Colocar os palitos sobre a mesa em sentido paralelo, separados em
2,5 cm (Figura 35).
Figura 35
(2002, p.64)
“Qual é o palito mais longo? Coloque o dedo em cima do palito mais longo”. São três provas, trocando os palitos de posição. Se falhar em uma das três tentativas, fazer três mais, sempre trocando as posições dos palitos. O resultado é positivo quando a criança acerta três de três tentativas ou
cinco de seis tentativas22.
6 anos – direita/esquerda – conhecimento sobre si
Identificar em si mesmo a noção de direita e esquerda
(Figura 37).
O examinador não executará nenhum movimento, apenas o examinando. Total de três perguntas – todas deverão ser respondidas corretamente.
107
Figura 37
(2002, p.65)
Ex: “Mostre-me sua mão direita...” Êxito: três acertos sobre três tentativas22.
7 anos – execução de movimentos – execução de movimentos na ordem O examinador solicitará ao examinando que realize movimentos de acordo com a sequência a seguir. Ex: “Agora você irá colocar a mão direita na orelha esquerda...”.
Êxito: cinco acertos sobre seis tentativas22.
(2002, p.66)
8 anos – direita/esquerda – reconhecimento sobre outro
O examinador se colocará de frente ao examinando e dirá:
“Agora você irá identificar minha mão direita”. (Figura 38).
108
Figura 38
(2002, p.66)
O observador tem uma bola na mão direita. Êxito: três acertos
sobre três tentativas22.
9 anos – reprodução de movimentos – representação humana
Frente a frente, o examinador irá executar alguns movimentos, e o examinando irá prestar muita atenção nos
movimentos das mãos (Figura 39).
“Eu vou fazer certos movimentos que consistem em levar uma mão (direita ou esquerda) até um olho ou até uma orelha (direita ou esquerda) desta maneira” (demonstração rápida). “Você se fixará no que estou fazendo e irá fazer o mesmo, mas não poderá realizar movimentos de espelho.” Se a criança entendeu o teste através dos primeiros movimentos, ela deve prosseguir; caso contrário, será necessária uma segunda explicação. Êxitos: seis acertos sobre oito tentativas22.
109
Figura 39
(2002, p.67)
10 anos – reprodução de movimentos – figura humana
Frente a frente, o examinador mostrará algumas figuras esquematizadas, e o examinando prestará muita atenção nos desenhos, pois deverá reproduzir-los (Figura 40).
“Estes são os mesmos movimentos executados anteriormente (prova de 9 anos). Você fará os mesmos gestos, com a mesma mão do boneco esquematizado”. Êxitos: seis acertos sobre oito tentativas22.
110
Figura 40
(2002, p.68)
11 anos – reconhecimento da posição relativa de três objetos
Sentados, frente a frente, o examinador fará algumas perguntas para o examinando, o permanecerá com os braços
cruzados.
Material: três cubos ligeiramente separados (15 cm) colocados da esquerda para a direita sobre a mesa, como segue: azul, amarelo, vermelho.
“Veja os três objetos (cubos) que estão aqui na sua frente.
Você irá responder rapidamente as perguntas que irei fazer.”
O examinando terá como orientação espacial (ponto de
referência) o examinador.
O cubo azul está à direita ou à esquerda do vermelho?
O cubo azul está à direita ou à esquerda do amarelo?
O cubo amarelo está à direita ou à esquerda do azul?
O cubo amarelo está à direita ou à esquerda do vermelho?
O cubo vermelho está à direita ou à esquerda do amarelo?
O cubo vermelho está à direita ou à esquerda do azul?
Êxito: cinco acertos sobre seis tentativas22.
111
Organização temporal (linguagem)
2 anos Formar frases de duas palavras, observando-se a linguagem espontânea. A prova é considerada bem resolvida se a criança é capaz de expressar-se de outra forma que não seja com palavras isoladas, quer dizer, se ela sabe unir ao menos duas palavras; por exemplo: “Mamãe não está”, “está fora”, esses casos são considerados êxitos. Em contrapartida, “neném bobo” não tem valor. Êxitos: basta um só êxito. Será bem-resolvida a prova que a criança consegue repetir ao menos uma frase sem erro22.
(2002, p.69)
3 anos
Repetir uma frase de 6 a 7 sílabas: “Você sabe dizer mamãe?” Diga agora “gatinho pequeno”. Fazer,então, a criança repetir:
a) “Eu tenho um cachorrinho pequeno”. b) “O cachorro pega o gato”. c) “No verão faz calor”22.
(2002, p.69)
4 anos
Recorrer às frases: “Você vai repetir”:
a) “Vamos comprar pastéis para a mamãe. b) “O João gosta de jogar bola”.
Se a criança vacilar, animá-la a provar outra vez dizendo-lhe: “Vamos, fale”. A frase não pode ser repetida22.
(2002, p.70)
5 anos
Lembra as frases: “Bom, vamos continuar, você vai
repetir”.
a) “João vai fazer um castelo de areia”. b) “Luís se diverte jogando futebol com seu irmão”22.
(2002, p.70)
112
Organização temporal (estrutura espaço-temporal)
(2002, p.70)
O examinador e a criança ficam sentados frente a frente, com um lápis na mão cada um. “Você irá escutar diferentes sons
e, com o lápis, irá repeti-los. Escute com atenção.”
Tempo curto: em torno de um quarto de segundo (0 0), feito com o lápis sobre a mesa.
Tempo longo: em torno de 1 segundo (0 0 0), feito com o lápis
sobre a mesa.
O examinador dará golpes da primeira estrutura da prova, e a criança irá repeti-los. O examinador golpeia outras estruturas, e a criança continua repetindo. Enquanto os tempos curtos e longos são reproduzidos corretamente,
deve-se passar, de imediato, à prova.
Os movimentos (golpes com um lápis) não poderão ser vistos pelo examinando. Ensaios: Se a criança falhar, fazer nova demonstração e novo ensaio. Deve-se parar em definitivo quando a criança cometer três erros consecutivos. Esses períodos de tempo são difíceis de apreciar, mas o que
importa, na realidade, é que a sucessão seja correta22.
113
(2002, p.71)
As estruturas espaciais podem ser representadas com círculos (diâmetro de 3 cm) colados em um cartão. “Agora você irá desenhar umas esferas [sic] – aqui você tem um papel e um lápis – de acordo com as figuras que irei mostrar.”
Apresenta-se, então, a primeira estrutura de ensaio, explicando se for necessário. “Muito bem, vejo que você entendeu. Agora, você irá prestar bastante atenção às figuras que irei mostrar e irá desenhá-las no mais rápido possível neste papel”. A criança quase sempre e espontaneamente desenha já um círculo. Tentativa: parar a prova se a criança falhar duas estruturas sucessivas22.
Leitura – Reprodução por Meio de Golpes
(2002, p.72)
As estruturas simbolizadas serão representadas exatamente da mesma maneira que as estruturas espaciais (círculos colados sobre o cartão). “Vamos fazer algo melhor”. São representados, outra vez, os círculos no cartão, e, em vez de a criança desenhá-los, ela dará pequenos golpes com o lápis. Parar se houver falha em duas estruturas sucessivas22.
Transcrição de Estruturas Temporais – Ditado
(2002, p.72)
114
“Para finalizar as provas, será eu quem dará os golpes com o lápis, e você irá desenhá-los.” Parar após dois erros
sucessivos22.
RESULTADOS
Entendemos por êxitos as reproduções e as transcrições estruturadas com clareza.Concedemos 1 ponto por um golpe ou por desenho bem-resolvido e totalizamos os pontos obtidos nos diversos aspectos da prova. Em todos os casos convém anotar:
mão utilizada;
sentido das circunferências;
compreensão do simbolismo (com ou sem explicação)22.
PONTUAÇÃO
(2002, p.73)
Lateralidade das mãos22
(2002, p.73)
Lateralidade dos olhos
115
Cartão furado – cartão de 15 cm x 25 cm com um furo no
centro de 0,5 cm (de diâmetro).
Telescópio (tubo longo de cartão)22
(2002, p.74)
Lateralidade dos pés
Chutar uma bola – (bola de 6 cm de diâmetro) “Você irá segurar esta bola com uma das mãos, depois soltá-la e irá lhe dar um chute sem deixá-la tocar no chão.” Tentativa: duas22.
(2002, p.74)
116
ANEXO I
117
ANEXO II
118
ANEXO III
119
ANEXO IV