BERLIN - Karl Marx (tradução)

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BERLIN, Isaiah.  Karl Mar x . Oxford University Press, 1ª ed., 1939. TR!U"#O (p. 06) NOT PRE$BULR Meus agradecimentos são devidos aos meus amigos e colegas que foram bons [generosos] o suficiente para ler este livro no manuscristo, contribuindo com valiosas sugestões, das quais me beneficiei enormemente em particular ao !r. ". #. "$er, !r. %an &ro'en, !r. . . *. +ilver, !r. !. -. ampsire e !r. !. /acmile'itc sou ainda mais agradecido ao !r. *rancis raamarrison pela compila1ão do 2ndice a !enora . ". 3. *iser e ao !r. 4avid !tepen s pela leitura das provas aos ! rs. Metuen pela  permissão de fa5er uso das passagen s citadas nas pginas 780%, e, acima de tudo, ao 4iretor e +onseleiros do +ol9gio de :odas as "lmas [;arden and *ello's of "ll !ouls +ollege] pela permissão de dedicar uma parte do tempo, durante o qual mantive uma bolsa estudo da institui1ão, para um assunto completamente fora dos escopos de meus pr<prios estudos. %. &. =>ford, Maio, 7?@?. (p. 08) %ONTE&!O %a'. Pa(. I %ntrodu1ão .............................................................................................................?  II %nfAncia e "dolescBn cia ......................................................................................C?  III " *ilos ofia do sp2rito ...... ..................................................................................D0  I) =s Eoven s ege lianos ....................................................................... ....................6D  ) Faris .....................................................................................................................GC  )I Materialismo ist<rico .................. ..................................................................... 778  )II 7GDG ...................................................................................................................7@?  )III >2lio em 3ondresH a primeira fase ........ ...........................................................7IG  I* " %nternacional ..................................................................................................7?D  * J= 4outor :errorista KermeloL .......................................................................C0?  *I ltimos anos ................................ ......................................................................C@@ &ibliografia .......................................................................................................CI7 Nndice ................................................................................................................CI@ (p. 0?)

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BERLIN, Isaiah. Karl Marx . Oxford University Press, 1ª ed.,1939.

TR!U"#O

(p. 06)

NOT PRE$BULR 

Meus agradecimentos são devidos aos meus amigos e colegas que foram bons[generosos] o suficiente para ler este livro no manuscristo, contribuindo com valiosassugestões, das quais me beneficiei enormemente em particular ao !r. ". #. "$er, !r. %an&ro'en, !r. . . *. +ilver, !r. !. -. ampsire e !r. !. /acmile'itc sou ainda

mais agradecido ao !r. *rancis raamarrison pela compila1ão do 2ndice a !enora. ". 3. *iser e ao !r. 4avid !tepens pela leitura das provas aos !rs. Metuen pela

 permissão de fa5er uso das passagens citadas nas pginas 780%, e, acima de tudo, ao4iretor e +onseleiros do +ol9gio de :odas as "lmas [;arden and *ello's of "ll!ouls +ollege] pela permissão de dedicar uma parte do tempo, durante o qual mantiveuma bolsa estudo da institui1ão, para um assunto completamente fora dos escopos demeus pr<prios estudos.

%. &.

=>ford, Maio, 7?@?.

(p. 08)

%ONTE&!O%a'. Pa(.

I  %ntrodu1ão .............................................................................................................?  II  %nfAncia e "dolescBncia ......................................................................................C?  III  " *ilosofia do sp2rito ........................................................................................D0  I)  =s Eovens egelianos ...........................................................................................6D  )  Faris .....................................................................................................................GC  )I  Materialismo ist<rico .......................................................................................778  )II  7GDG ...................................................................................................................7@?  )III  >2lio em 3ondresH a primeira fase ...................................................................7IG  I*  " %nternacional ..................................................................................................7?D  *  J= 4outor :errorista KermeloL .......................................................................C0?  *I  ltimos anos ......................................................................................................C@@

&ibliografia .......................................................................................................CI7Nndice ................................................................................................................CI@

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%P. 1 + INTRO!U"#O

+oisas e a1ões são o que são, e suas conseqOBncias serão o que delas se espera por que,então, insistirmos em ser enganadosP

&%!=F &Q:3/ 

 -enum pensador do s9culo R%R teve uma influBncia tão direta, deliberada e poderosa sobre a umanidade como Sarl Mar>. 4urante sua vida, e igualmente depoisdela, e>erceu sobre seus seguidores uma ascendBncia intelectual e moral que se podeconsiderar Tnica, mesmo naquela 9poca de ouro do nacionalismo democrtico, uma9poca que viu o surgimento de grandes er<is e mrtires populares, romAnticos, figurasquase legendrias, cuEas vidas e palavras dominaram a imagina1ão das massas e criaramuma nova tradi1ão revolucionria na uropa. :odavia, Mar> não podia, de formaalguma, ser camado de uma figura popular no sentido corrente do termoH certamente

ele não era, em nenum sentido, um escritor ou orador popular. le escreveue>tensivamente, mas suas obras não foram amplamente lidas durante sua vida equando, no final da d9cada de 7G80, come1aram a alcan1ar o imenso pTblico que vriasdentre elas depois obtiveram, o deseEo de lBlas decorria não tanto do reconecimento desuas qualidades intr2nsecas quanto do crescimento da fama e da notoriedade domovimento com o qual ele estava identificado.

Mar> carecia totalmente das qualidades de um grande l2der ou agitador popularnão era um publicista tão genial como o democrata russo "le>ander er5en, nem

 possu2a a eloqOBncia mal9vola de &aUunin a maior parte de sua vida de trabalo foigasta, em relativo anonimato, em 3ondres, na sua escrivanina e na sala de leitura doMuseu &ritAnico. ra pouco conecido do

(p. 70)

 pTblico comum, e muito embora, perto do fim da vida, viesse a se tornar o reconecidoe admirado l2der de um poderoso movimento internacional, nada em sua vida ou carteragitou a imagina1ão ou evocou a devo1ão sem limites, a intensa, e quase religiosa,idolatria, com a qual omens como Sossut, Ma55ini, e mesmo 3assalle em seusTltimos anos, foram considerados por seus seguidores.

!uas apresenta1ões pTblicas não eram nem freqOentes, nem notavelmente bemsucedidas. -as poucas ocasiões em que dirigiu encontros ou reuniões pTblicas, seusdiscursos foram sobrecarregados de informa1ões e proferidos com uma combina1ão demonotonia e rispide5, o que garantia o respeito, mas não o entusiasmo da audiBncia. Fortemperamento, era um te<rico e um intelectual, e instintivamente evitava contato diretocom as massas, de cuEos interesses devotou sua vida inteira ao estudo. Fara muitos deseus seguidores, ele assumia o papel de um professor alemão dogmtico e sentencioso,

 preparado para repetir suas teses indefinidamente, com crescente agude5a, at9 que seuconteTdo se tornasse aloEado, de modo irremov2vel, na mente de seus disc2pulos. "maior parte de sua doutrina econVmica foi dada, em primeira mão, em palestras paratrabaladoresH sua e>posi1ão, sob essas circunstAncias, era, sem dTvida, um modelo delucide5 e concisão. screvia, por9m, lenta e penosamente, como Ws ve5es acontece comos pensadores rpidos e f9rteis, aparentemente incapa5es de lidar com a velocidade de

suas pr<prias id9ias, impacientes por comunicar logo uma nova obra e anteciparse atodas as poss2veis obEe1ões as versões publicadas eram geralmente tTrgidas, confusas e

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obscuras nos detales, embora a tese central nunca fosse obEeto de dTvidas relevantes.Mar> tina plena consciBncia disso, e uma ve5 se comparou ao er<i de Obra-prima

 Ignorada, de &al5ac, o qual tenta pintar um quadro que se formou em sua mente, toca eretoca a tela interminavelmente, para produ5ir, ao final, uma massa amorfa de cores,que aos seus olos parecem e>pressar

(p. 77)

a visão de sua imagina1ão. le pertencia a uma gera1ão que cultivou a imagina1ão maisintensa e deliberadamente do que a de seus predecessores. *oi criado entre omens paraquem as id9ias eram, muitas ve5es, mais reais do que os fatos, e rela1ão pessoaissignificavam muito mais que meros eventos do mundo e>terior foi criado por quem, defato, entendia e interpretava a vida pTblica em termos do mundo rico e comple>o desuas e>periBncias particulares. Mar> não foi, por nature5a, um instrospectivo, e teve

 pouco interesse em pessoas ou estados de esp2rito ou alma a fala por parte de muitosde seus contemporAneos em avaliar a importAncia da transforma1ão revolucionria da

sociedade da 9poca, devida ao rpido avan1o da tecnologia combinado com o sTbitoaumento da rique5a, e, ao mesmo tempo, com o deslocamento e confusão sociais eculturais, apenas potenciali5ou sua raiva e despre5o.

Mar> era dotado de uma mente poderosa, ativa e nãosentimental, de um agudosenso da inEusti1a, e, e>cepcionalmente, de pouca sensibilidade. *oi reca1ado tanto

 pela ret<rica e sentimentalismo dos intelectuais quanto pela estupide5 e complacBnciada burguesia os primeiros le pareciam portadores de um palavr<rio sem rumo, distanteda realidade e, quer fosse sincero ou falso, igualmente irritante os segundos le

 pareciam, ao mesmo tempo, ip<critas e autoiludidos, cegos, visto que absorvidos na busca de rique5a e status social, para os aspectos mais evidentes de seu tempo.

ssa sensa1ão de viver em um mundo ostil e vulgar, intensificada talve5 peloseu desapre1o com o fato de que nasceu Eudeu, aumentou sua aspere5a e agressividadenaturais, produ5indo a formidvel figura do imaginrio popular. !eus maioresadmiradores acariam dif2cil sustentar que ele era um omem sens2vel ou afetuoso, oude qualquer modo preocupado com os sentimentos daqueles com quem travou contatoos omens que coneceu, em sua maioria, eram ou tolos ou sincofantas, em sua opinião,e, em rela1ão a eles, se com

(p. 7C)

 portou com aberta desconfian1a ou despre5o. Mas, se sua atitude em pTblico era

arrogante e ofensiva, na intimidade do c2rculo composto por sua fam2lia e amigos, noqual ele se sentia completamente seguro, mostravase atencioso e gentil seu casamentoera e>traordinariamente feli5, era calorosamente ligado aos seus filos, e tratava seuamigo de longa data e colaborador, ngels, com igual lealdade e devo1ão. ra umomem sem carme, e seu comportamento caia frequentemente na grosseria, masmesmo seus inimigos ficavam fascinados pela for1a e veemBncia de sua personalidade,

 pela potBncia de sua visão e pela amplitude e clare5a de suas anlises da situa1ãocontemporAnea.

Mar> permaneceu toda a sua vida na condi1ão de figura singularmente isoladaentre os revolucionrios de seu tempo, igualmente ostil a tais pessoas, a seus m9todos eseus fins. sse isolamento, por9m, não decorria simplesmente do temperamento ou de

circunstAncias de tempo e lugar. mbora a maioria dos democratas europeus diferisseem carter, obEetivos e ambiente ist<rico, eles se assemelavam em um atributo

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fundamental, o que garantia a coopera1ão entre si tanto quanto poss2vel, pelo menos em princ2pio. Xuer se acreditasse ou não numa revolu1ão violenta, a grande maioria delesera formada, em Tltima anlise, por reformistas liberais e recorria e>plicitamente a

 princ2pios morais comuns a toda a umanidade. +riticavam e condenavam as condi1õesde e>istBncia da umanidade a partir de algum ideal preconcebido, algum sistema de

cuEa conveniBncia, ao menos, não se necessitasse de demonstra1ão, sendo autoevidentea todos os omens possuidores de uma visão moral comum seus esquemas diferiam nograu em que poderiam ser reali5ados na prtica, de forma que poderiam serclassificados, consequentemente, em mais ou menos ut<picos, e>istindo, por9m, umconsenso geral entre todas as escolas do pensamento democrtico no que tange aos finsTltimos a serem perseguidos. 4iscordavam sobre a eficcia dos meios propostos, sobreat9 que ponto o compromisso com os pode

(p. 7@)

res estabelecidos era moral e praticamente aconselvel, sobre a nature5a e o valor de

institui1ões sociais espec2ficas, e, consequentemente, sobre a pol2tica a ser adotada emrela1ão a elas. ram, todavia, essencialmente reformistas no sentido de que acreditavamque avia muito pouco que não pudesse ser mudado pela for1a de vontade dosindiv2duos acreditavam tamb9m que fins morais poderosamente garantidos eram osTnicos fundamentos efica5es de a1ão, Eustificandose por um apelo, não aos fatos, mas aalguma escala de valores universalmente aceita. !eguiase, então, que era melor,

 primeiro, verificar o que se deseEava que o mundo fosse depois, era preciso considerar,W lu5 disso, quanto do tecido social e>istente deveria ser conservado, quanto e>igia serreca1ado finalmente, impunase investigar os meios mais efica5es de reali5ar atransforma1ão necessria.

+om essa atitude, comum W vasta maioria dos revolucionrios e reformistas detodas as 9pocas, Mar> estava longe de despertar simpatia. = alemão estava convencidode que a ist<ria umana 9 governada por leis que, tal como as que governam anature5a, não podem ser alteradas pela mera interven1ão de indiv2duos movidos por esteou aquele ideal. "creditava, com efeito, que a e>periBncia vivida, W qual os omensapelavam para Eustificar seus obEetivos, longe de revelar um tipo especial de verdadecamada de moral ou religiosa, não passa de uma faculdade que engendra mitos eilusões, individuais e coletivas. !endo condicionados pelas circunstAncias materiais nasquais surgem, os mitos encarnam, sob a aparBncia da verdade obEetiva, tudo aquilo queos omens, em sua mis9ria, deseEam acreditar sob a sua influBncia trai1oeira, osomens interpretam equivocadamente a nature5a do mundo no qual vivem, não

compreendem sua pr<pria posi1ão nele, e, desse modo, acabam calculando mal tanto oseu pr<prio poder e o poder de terceiros quanto as conseqOBncias de seus pr<prios atos edos atos dos seus oponentes. "o contrrio da maioria dos te<ricos democrticos de seutempo, Mar> não pensava que valores pudessem ser apre

(p. 7D)

endidos de forma isolada dos fatos, mas dependiam necessariamente do modo pelo qualestes Tltimos eram encarados. = verdadeiro mergulo na nature5a e nas leis do processoist<rico dei>ar claro, por si mesmo, ao ser racional, sem o au>2lio de padrões moraisconecidos independentemente, qual o passo mais apropriado a ser adotado, ou seEa,

qual dire1ão estaria mais sintoni5ada com os requisitos da ordem W qual pertencia.+onsequentemente, Mar> não tinam nenum ideal 9tico ou social a impor W

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umanidade não advogava por uma mudan1a de sentimentos uma mudan1a desentimentos seria necessariamente a troca de um conEunto de ilusões por outro. le sediferenciava dos outros grandes ide<logos de sua gera1ão por fa5er seu apelo, pelomenos do seu ponto de vista, unicamente W ra5ão, W inteligBncia prtica, denunciandoapenas os v2cios e cegueiras intelectuais, insistindo na id9ia de que, a fim de saber como

salvar a si mesmos do caos no qual estão envolvidos, tudo o que os omens precisam 9 procurar entender sua condi1ão atual, acreditando que uma estimativa correta da precisacorrela1ão de for1as da sociedade indicaria por si mesma a forma de vida racional a

 perseguir. Mar> denuncia a ordem estabelecida recorrendo não a ideais, mas W ist<riaHele a condena não como um mal, ou uma fatalidade, ou como algo devido W

 perversidade e insensate5 umanas, mas como sendo algo causado por leis dodesenvolvimento social, que tornam inevitvel que, num certo estgio da ist<ria, umaclasse espolie e e>plore outra. =s opressores são amea1ados não pela vingan1adeliberada de suas v2timas, mas pela inevitvel destrui1ão que a ist<ria les reserva,como uma classe condenada, em breve, a desaparecer do curso da ist<ria.

:odavia, ainda que seu prop<sito seEa recorrer ao intelecto, sua linguagem 9 a de

um mensageiro e profeta, falando em nome não de seres umanos, mas da pr<pria leiuniversal, procurando nem socorrer nem aperfei1oar, mas sim advertir e condenar,revelar a verdade, e, acima de tudo,

(p. 7I)

refutar a falsidade. Destruam et aedificabo (Ju destruirei e edificareiL), que Froudonusou como ep2grafe em uma de suas obras, descreve muito mais apropriadamente aconcep1ão do pr<prio proEeto tra1ado por Mar>. m 7GDI, E tina completado o

 primeiro estgio de seu programa, familiari5andose com a nature5a, a ist<ria e as leisda evolu1ão da sociedade na qual ele mesmo se encontrava. +oncluiu que a ist<ria dasociedade 9 a ist<ria da luta de classes opostas, uma das quais devendo emergirtriunfante, apesar das muitas varia1ões de formaH o progresso 9 constitu2do pelasucessão de vit<rias de uma classe sobre a outra, e o omem singular, que se identificacom a classe progressista da sociedade, se mostra racional, ou ao abandonardeliberadamente, se preciso for, seu passado e aliarse a ela, ou, se a ist<ria E o tiversituado nela, ao reconecer conscientemente sua situa1ão e atuar W lu5 desse fato.

:endo identificado, assim, a classe em ascensão, na luta de sua pr<pria 9poca,com o proletariado, Mar> devotou o resto de sua vida a planeEar a vit<ria daqueles emcuEa vanguarda se colocou. 4e um Eeito ou de outro, o processo ist<rico assegurariaessa vit<ria, todavia coragem, determina1ão e abilidade umanas poderiam dei>la

mais pr<>ima e tornar a transi1ão menos dolorosa, acompanada de menos conflitos emenos desperd2cio de material umano. !eu papel, doravante, 9 o de um comandante,atualmente engaEado em uma campana, que, por isso, não insiste continuamente emcamar a si mesmo e aos outros para mostrar motivos para se engaEar numa guerra total,ou para estar de um lado ao inv9s de outroH a situa1ão de guerra e seu pr<prio lugar nelasão coisas dadas, são fatos que não podem ser questionados, mas apenas aceitos ee>aminados o Tnico obEetivo 9 derrotar o inimigo todas as outras questões sãoacadBmicas, baseadas em condi1ões ipot9ticas irreali5veis, e se colocam fora do pontocentral. 4a2 a ausBncia quase total de discussões de princ2pios, de toda tentativa de

 Eustificar sua

(p. 76)

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oposi1ão W burguesia, nas obras de maturidade de Mar>. =s m9ritos ou dem9ritos doinimigo, ou o que poderia ter acontecido se não ouvesse nem guerra nem inimigo, nãotBm nenum interesse durante a batala. %ntrodu5ir esses assuntos irrelevantes durante o

 per2odo atual de lutas 9 desviar a aten1ão dos lutadores das questões cruciais que,reconecendoas ou não, estão enfrentando, e assim enfraquecer seu poder de

resistBncia.= mais importante durante a luta atual 9 o conecimento preciso de seus pr<prios recursos e dos recursos do adversrio e o conecimento da ist<ria passada dasociedade Y e das leis que a governam Y 9 indispensvel para essa finalidade. O Capital

consiste numa tentativa de fornecer semelante anlise. " ausBncia quase completa naobra do e>pl2cito argumento moral, de apelos W consciBncia ou a princ2pios, e aigualmente notvel ausBncia de predi1ões detaladas acerca do que aconteceria oudeveria acontecer depois da vitoria, decorre do acentuado enfoque sobre os problemas

 prticos da a1ão. "s concep1ões de direitos naturais, e de consciBncia, pertencentes atodos os omens, independentemente de sua posi1ão na luta de classes, são reEeitadascomo ilusões liberaisH o socialismo não pede, e>ige não fala de direitos, mas de uma

nova forma de vida, ante cuEa apro>ima1ão ine>orvel a vela estrutura social come1ouvisivelmente a se desintegrar. +oncep1ões e ideias morais, pol2ticas e econVmicasmodificamse não menos do que as condi1ões sociais das quais resultamH considerarqualquer uma delas como universais ou imutveis equivale a acreditar que a ordem Wqual pertencem Y a ordem burguesa, neste caso Y 9 eterna. ssa falcia subEa5 Wsdoutrinas 9ticas e psicol<gicas dos umanitaristas idealistas do s9culo RK%%% em diante.4a2 o despre5o e <dio derramados por Mar> sobre a suposi1ão comum, defendida porliberais e utilitaristas, de que, E que os interesses de todos os omens são e tBm sidofundamentalmente os mesmos, uma simples dose de boa vontade e benevolBncia da

 parte de

(p. 78)

cada um pode E tornar poss2vel construir algum tipo de compromisso geral. !e a luta 9real, tais interesses são totalmente incompat2veis. " nega1ão desse fato decorreunicamente da desconsidera1ão estTpida ou c2nica da verdade, de uma forma

 peculiarmente viciada de ipocrisia ou autoengano, repetidamente evidenciada pelaist<ria. ssa diferen1a fundamental de perspectiva, para al9m das dessemelan1as detemperamento ou de atributos naturais, 9 a propriedade que distingue nitidamente Mar>dos burgueses radicais e socialistas ut<picos que, com a sua pr<pria indigna1ãodesconcertante, ele combateu e inEuriou, selvagem e incessantemente, por mais de

quarenta anos.Mar> detestava todo tipo de romantismo, sentimentalismo e umanitarismo, e,na ansiedade de evitar qualquer apelo a sentimentos idealistas da parte de seu pTblico,removeu sistematicamente todo o tra1o do velo vocabulrio democrtico da literatura

 propagand2stica de seu movimento. -ão ofereceu ou encoraEou concessões em momentoalgum, e não entrou em qualquer alian1a pol2tica dTbia, declinando de todas as formasde compromisso. =s manuscritos dos inTmeros manifestos, profissões de f9 e programasde a1ão aos quais ane>ou seu nome, ainda carregam os golpes de caneta e doscomentrios marginais violentos, com os quais procurou obliterar todas as referBncias W

 Eusti1a eterna, W igualdade, aos direitos individuais ou nacionais, W liberdade deconsciBncia, W luta pela civili5a1ão, e a outras e>pressões semelantes que integravam o

arsenal (e tinam genuinamente encarnado os ideais) dos movimentos democrticos de

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seu tempo ele considerava tais e>pressões como uma grande fraseologia inTtil,geradora de confusão na consciBncia e ineficcia na a1ão.

" guerra deve ser travada em todas as frentes, e, uma ve5 que a sociedadecontemporAnea 9 organi5ada politicamente, um partido pol2tico deve ser formado a

 partir daqueles elementos que, de acordo com as leis do desenvolvimento ist<rico, são

destinados a emergir como classe conquistadora. " eles

(p. 7G)

se deve incessantemente ensinar que aquilo que parece tão permanente na sociedadee>istente est, na verdade, condenado W rpida e>tin1ão, um fato em que os omens

 podem encontrar dificuldades em acreditar, em ra5ão da imensa facada de prote1ãomoral, das suposi1ões e cren1as religiosas, pol2ticas e econVmicas, que a classemoribunda, consciente ou inconscientemente, cria, mascarando a si mesma e aos outroso seu destino pr<>imo. /equerse tanto coragem intelectual como agude5a de visão

 para penetrar essa cortinadefuma1a e compreender a estrutura real dos

acontecimentos. = espetculo do caos, e a iminBncia da crise na qual se est destinado aterminar, convencer, por si s<, a algu9m de visão limpa e a um observador interessado

 Y ningu9m, desde que não esteEa virtualmente morto ou morrendo, pode ser umespectador desinteressado do destino da sociedade com a qual sua pr<pria vida estconectada Y acerca do que se deve ser e fa5er para sobreviver. -ão uma escala subEetivade valores revelada diferentemente a diferentes omens, determinada pelo brilo de umavisão particular, mas o conecimento dos fatos, em si mesmos, deve determinar,segundo Mar>, o comportamento racional. " sociedade considerada progressista, e,

 portanto, digna de apoio, 9 aquela que 9 capa5 de um maior desenvolvimento em suadire1ão inicial sem subverter por inteiro sua pr<pria base. Qma sociedade 9 reacionriaquando est indo, inevitavelmente, em dire1ão a um beco sem sa2da, incapa5 de evitar ocaos interno e o colapso final, a despeito dos mais desesperados esfor1os parasobreviver, esfor1os esses que, por si mesmos, criam uma f9 irracional numa supostaestabilidade irrevogvel, o analg9sico com o qual todas as institui1ões moribundasnecessariamente se iludem. :odavia, o que a ist<ria Y uma esp9cie de suEeito ativo,

 para Mar> Y condenou ser inevitavelmente eliminadoH di5er que deve ser salvo, mesmoquando não 9 poss2vel, 9 negar o plano racional do universo. Fara Mar>, criticar os fatosem si mesmos foi uma forma de subEetivismo infantil, devido a uma concep1ão demundo patol<gica e superficial, a um preconceito irracional em favor deste ou daquele

(p. 7?)

valor ou institui1ão revelava cone>ão com o velo mundo, consistindo em sintoma deuma emancipa1ão incompleta ante tal visão. Fareciale que, sob a aparBncia dossinceros sentimentos filantr<picos, germinava ali, desapercebidas, as sementes dafraque5a ou da trai1ão, ligadas a um deseEo fundamental de entrar em acordo com area1ão, a um orror oculto da revolu1ão baseado no medo da intensa claridade daverdade. -ão podia aver ali, contudo, qualquer compromisso com a verdadeH oumanitarismo funcionou como um amortecedor, uma forma de compromisso para sesalvar, tendo em vista a ideia de evitar os perigos de uma luta aberta e, sobretudo, osriscos e responsabilidades da vit<ria. -ada e>citou tanto sua indigna1ão quanto acovardiaH por isso o tom furioso e não raro brutal com que se referia a ela Y o come1o

daquele spero estilo JmaterialistaL, que golpeou com uma nota inteiramente inusitada aliteratura do socialismo revolucionrio. ssa moda da JobEetividade puraL adquiriu o

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intento, particularmente entre os escritores russos da Tltima gera1ão, de uma busca pelaforma de afirma1ão mais n2tida, menos adornada e mais cocante com que vestir o queera, Ws ve5es, encarado como proposi1ões nem tão surpreendentes.

Mar>, por sua pr<pria conta, tina come1ado a construir seu novo instrumento a partir de origens quase casuaisH no curso de uma controv9rsia com o governo sobre uma

questão econVmica de importAncia puramente local, controv9rsia essa na qual esteveenvolvido na condi1ão de editor de um Eornal radical, Mar> tornouse consciente de suaquase total ignorAncia acerca da ist<ria e dos princ2pios do desenvolvimentoeconVmico. :al controv9rsia ocorreu em 7GD@. # em 7GDG, sua educa1ão como

 pensador pol2tico e econVmico era completa. +om uma profundidade prodigiosa,construiu uma teoria global da sociedade e de sua evolu1ão, que indicava, com precisãoabsoluta, onde e como as respostas de todas essas questões deveriam ser buscadas eencontradas. !ua originalidade tem sido frequentemente questionadaH 9, por9m, original,não, com efeito, no sentido em

(p. C0)

que as obras de arte são originais, quando encarnam alguma e>periBncia individual at9então não e>pressada, mas sim tal como as teorias cient2ficas são entendidas comooriginais, quando fornecem, para um problema at9 agora não resolvido, uma novasolu1ão, que pode ser feita pela modifica1ão e combina1ão de visões E e>istentes demodo a formar uma nova ip<tese. Mar> nunca tentou negar sua d2vida com outros

 pensadoresH Jstou reali5ando um ato de Eusti1a ist<rica, estou devolvendo a cadaomem o que le 9 devidoL, declarou altivamente. Mas alegou ter fornecido, pela

 primeira ve5, uma resposta completamente adequada a questões que tinam sidoincompreendidas anteriormente, ou mesmo respondidas errada, insuficiente ouobscuramente. " caracter2stica que Mar> procurava não era a novidade, mas a verdade,e quando a acou nas obras de outros pensadores, esfor1ouse em incorporla em suanova s2ntese, pelo menos durante os primeiros anos em Faris, nos quais seu pensamentoadquiriu sua forma final. = que 9 original, ao fim e ao cabo, não se encontra em nenumelemento de sua composi1ão, mas sim na ip<tese central, que conecta cada um delescom os outros, de modo que as partes parecer derivar umas das outras e sustentarseentre si num todo Tnico e sistemtico.

/astrear a fonte direta de qualquer t<pico singular desenvolvido por Mar> 9, portanto, uma tarefa relativamente simples que seus cr2ticos tBm buscado tãoansiosamente reali5ar. &em pode ser que não aEa nem mesmo uma, dentre suas id9ias,cuEo embrião não possa ser encontrado em algum autor precedente ou contemporAneo.

"ssim, a doutrina da propriedade comunal, fundada sobre a aboli1ão da propriedade privada, tem, provavelmente, de uma forma ou de outra, atra2do partidrios em vriosmomentos dos Tltimos dois mil anos. 4esse modo, a questão frequentemente discutidasobre se Mar> a incorporou diretamente dos escritos de Mabl$, ou de algum relatoalemão do comunismo francBs, 9 por demais acadBmica para almeEar grandeimportAncia. Xuanto Ws doutrinas mais espec2ficas, uma esp9cie de materialismoist<rico 9 encontrada plenamente desenvolvida num

(p. C7)

tratado de olbac, publicado um s9culo antes, o qual, por sua ve5, deve muito a

!pino5a uma forma modificada dele foi reapresentada, na pr<pria 9poca de Mar>, por*euerbac. " concep1ão da ist<ria umana como a ist<ria da luta entre classes sociais

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9 encontrada em !aint!imon, e foi, em larga medida, adotada por istoriadoresfranceses liberais contemporAneos, tais como :ierr$ e Mignet, e igualmente pelo maisconservador, ui5ot. " teoria cient2fica da inevitabilidade da recorrBncia regular decrises econVmicas foi, provavelmente, formulada originalmente por !ismondi a teoriada ascensão do Xuarto stado pode ser derivada de 3inguet, e foi certamente mantida

 pelos primeiros comunistas, sendo populari5ada na "lemana, na pr<pria 9poca deMar>, por von !tein e ess. " ditadura do proletariado foi esbo1ada por &abeuf naTltima d9cada do s9culo RK%%%, sendo e>plicitamente desenvolvida no s9culo R%R, dediferentes maneiras, por ;eitling e &lanqui a condi1ão presente e futura dostrabaladores, assim como sua importAncia na sociedade industrial, foi mais plenamentetrabalada por 3ouis &lanc e pelos socialistas franceses do que Mar> est disposto aadmitir. " teoria do valortrabalo prov9m de 3ocUe, "dam !mit e dos economistasclssicos a teoria da e>plora1ão e da maisvalia [maisvalor], e seu combate atrav9s dodeliberado controle estatal, est tanto em *ourier como nos escritos dos primeirossocialistas ingleses, a saber, &ra$, :ompson e odgsUin a lista poderia facilmentecontinuar mais al9m.

 -ão ouve escasse5 de tais doutrinas, particularmente no s9culo RK%%%. "lgumasmorreram ao nascer outras, quando o ambiente intelectual era favorvel, modificaramopiniões e influenciaram a a1ão. Mar> filtrou essa imensa massa de material ca<tico edestacou dela tudo aquilo que le parecia original, verdadeiro e importante W lu5 disso,construiu um novo instrumento de anlise social, cuEo m9rito consiste não em sua bele5aou consistBncia, muito menos em seu poder emocional

(p. CC)

ou intelectual Y os grandes sistemas ut<picos eram obras mais nobres da imagina1ãoespeculativa Y, mas na e>traordinria combina1ão de simples princ2pios fundamentaiscom abrangBncia, detale e realismo. = ambiente que atingia, de fato, correspondia We>periBncia pessoal, em primeira mão, do pTblico para o qual se endere1ava suasanlises, quando e>postas em suas formas mais simples, pareciam, de imediato,originais e penetrantes, e a nova ip<tese, que representa uma s2ntese peculiar doidealismo alemão, do racionalismo francBs e da economia pol2tica inglesa, conseguiagenuinamente articular e e>plicar uma massa de fenVmenos sociais at9 então pensados,em compara1ão, de forma isolada uns dos outros. %sso forneceu um significado concreto

 para as f<rmulas e slogans populares do novo movimento comunista. "cima de tudo, possibilitou fa5er mais do que estimular sentimentos gerais de rebelião edescontentamento, como o cartismo avia feito ao concederles uma cole1ão de fins

 pol2ticos e econVmicos espec2ficos, por9m fragilmente articulados. 4irigiu essessentimentos para obEetivos sistematicamente interconectados, imediatos e poss2veis,obEetivos esses considerados não como fins Tltimos vlidos para todos os omens detodas as 9pocas, mas como obEetivos pr<prios de um partido revolucionriorepresentando um estgio espec2fico do desenvolvimento social.

4ar respostas claras e unificadas, valendose de termos emp2ricos familiares, Wsquestões te<ricas que mais preocuparam o esp2rito dos omens da 9poca, e dedu5ir delasconsequBncias prticas diretas, sem criar, obviamente, ne>os artificiais entre teoria e

 prtica, foi a principal fa1ana da teoria de Mar>, dotandoa de uma vitalidade singularque a permitiu derrotar e sobreviver Ws rivais nas d9cadas seguintes. :al teoria foiconstitu2da, em larga medida, em Faris, nos atribulados anos compreendidos entre 7GD@

e 7GI0, quando, sob tensão de uma crise mundial, tendBncias econVmicas e pol2ticas,

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normalmente ocultas sob a superf2cie da vida social, aumentaram em escopo e emintensidade, at9

(p. C@)

quebrarem a estrutura que estava assegurada, em tempos normais, pelas institui1õesestabelecidas, revelando, por um breve instante, seus reais caracteres durante ointerlTdio luminoso que precedeu o coque final de for1as, a partir do qual todas asquestões foram mais uma ve5 obscurecidas. Mar> se beneficiou enormemente dessa raraoportunidade para a observa1ão cient2fica no campo da teoria social para ele, comefeito, ela parecia prover confirma1ão total a suas ip<teses.

= sistema, tal como finalmente emergiu, era uma estrutura maci1a, pesadamentefortificada em cada ponto estrat9gico, incapa5 de ser tomada de assalto, abrigando, nointerior de seus muros, recursos sofisticados para enfrentar qualquer contingBnciaimaginvel de guerra. !ua influBncia tem sido imensa, tanto sobre aliados quanto sobreadversrios, e em particular sobre cientistas sociais, istoriadores e cr2ticos. :em

alterado a ist<ria do pensamento umano no sentido de que, depois dele, certas coisas E não podem mais ser ditas. -enum assunto dei>a, pelo menos no longo pra5o, de setornar um campo de batala, e a Bnfase mar>ista sobre a prima5ia dos fatoreseconVmicos na determina1ão do comportamento umano levou diretamente a umaprofundamento dos estudos de ist<ria econVmica, os quais, embora não tenam sidointeiramente negligenciados no passado, não alcan1avam, na ocasião, uma posi1ão

 proeminente, at9 o surgimento do mar>ismo impulsionar o e>ato conecimentoist<rico nessa rea Y tanto quanto, na gera1ão precedente, as doutrinas egelianasagiram como um poderoso est2mulo aos estudos ist<ricos em geral. = tratamentosociol<gico de problemas ist<ricos, que +omte, e, depois dele, !pencer e :aine, tinaminvestigado e elaborado, s< se tornou um estudo preciso e concreto quando a ofensivado mar>ismo militante fe5 de suas pr<prias conclusões uma questão candente, tornandoa busca de evidBncia algo mais 5eloso, e o cuidado com o m9todo mais intenso.

m 7GD?, Mar> foi obrigado a dei>ar Faris, vindo a se fi>ar na %nglaterra. " vidaneste pa2s o afetou intensamente. Fara ele, 3ondres significava pouco mais que

(p. CD)

a biblioteca do Museu &ritAnico, Jo ponto ideal de vantagem estrat9gica para oinvestigador da sociedade burguesaL, um arsenal de muni1ão cuEa importAncia seus

 pr<prios frequentadores não percebiam. le permaneceu quase totalmente imune ao seu

entorno, vivendo encasulado em seu mundo, essencialmente alemão, formado por suafam2lia e um pequeno grupo de amigos 2ntimos e camaradas pol2ticos. +oneceu poucosingleses, e não procurou entendBlos nem interessarse por eles ou pelo seu estilo devida. ra um omem incomumente impermevel W influBncia do ambienteH para al9m doque estivesse publicado em Eornais ou livros, via muito pouco, permanecendo, at9 suamorte, relativamente desconecedor da qualidade de vida ao seu redor ou de suascondi1ões sociais e naturais. -o que se refere ao seu desenvolvimento intelectual,

 poderia muito bem ter desfrutado de seu e>2lio em Madagascar, desde que seassegurasse um abastecimento regular de livros e EornaisH se assim fosse, certamente osabitantes de 3ondres teriam ainda menos conecimento de sua e>istBncia.Fsicologicamente mais interessantes, os anos mais formativos de sua vida terminam em

7GD?H depois disso, ele estava, emocional e intelectualmente, estabili5ado eabsolutamente transformado. nquanto ainda estava em Faris, tina concebido a ideia

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de elaborar uma completa descri1ão e e>plica1ão da gBnese e queda iminente do sistemacapitalista. " obra come1ou na primavera de 7GI0, e continuou, com interrup1õescausadas pelas necessidades prticas do cotidiano e do Eornalismo por meio do qualtentava sustentar sua fam2lia, at9 sua morte em 7GG@.

4urante os pr<>imos trinta anos, seus panfletos, artigos e cartas formam um

comentrio coerente sobre os neg<cios pol2ticos contemporAneos, W lu5 de seu novom9todo de anlise. !ão n2tidos, lTcidos, realistas, espantosamente modernos no tom, edirecionados deliberadamente contra a dominante 2ndole otimista de seu tempo.

+omo revolucionrio, desaprovou m9todos conspirat<rios, considerandoosobsoletos e inefica5es,

(p. CI)

arquitetados para irritar a opinião pTblica, sem alterar seus alicerces, ao inv9s de pVrsea criar um partido pol2tico aberto, dominado pela nova visão da sociedade. !eus Tltimosanos foram gastos quase que e>clusivamente com a tarefa de coletar e disseminar

evidBncias das verdades que tina descoberto, at9 preencerem todo o ori5onte de seusseguidores, e tornaremse conscientemente inseridas no interior da te>tura de cada

 pensamento, palavra e a1ão. 4urante um quarto de s9culo, Mar> dedicou toda a sua vidaW consecu1ão desse prop<sito, que, no final de sua vida, alcan1ou.

= s9culo R%R abriga muitos cr2ticos sociais notveis, e revolucionrios nãomenos originais, não menos violentos, não menos dogmticos que Mar> mas nenumfoi tão rigorosamente determinado, tão absorvido em transformar cada palavra e cadaato de sua vida em meios para uma finalidade Tnica, imediata e prtica, ante a qual tudo

 poderia ser sacrificado. !e, num sentido, Mar> encontrase W frente de seu tempo,noutro, igualmente definido, ele encarna uma das mais velas tradi1ões europeias. !eurealismo, seu empirismo, seus ataques a princ2pios abstratos, sua e>igBncia de que cadasolu1ão seEa testada por sua aplicabilidade e correspondBncia W situa1ão atual, seumenospre5o pelo compromisso ou gradualismo, encarados como modos de fuga danecessidade de a1ões drsticas, sua cren1a de que as massas são infinitamente ingBnuase devem, a todo custo, ser resgatadas, se necessrio pela for1a, dos patifes e idiotas queas iludem, tornamno o precursor da gera1ão mais apurada de revolucionrios prticosdo pr<>imo s9culo sua r2gida cren1a na necessidade de uma ruptura total com o

 passado, na necessidade de um sistema social totalmente novo, como Tnico capa5 desalvar o indiv2duo, que, dei>ado a si pr<prio, perder o rumo e perecer, colocamnoentre os grandes fundadores autoritrios de novas cren1as, subversivos e inovadoresimplacveis que interpretam o mundo de acordo com um princ2pio Tnico,

(p. C6)

claro, apai>onadamente defendido, denunciando e destruindo tudo que se coca comele. !ua convic1ão em sua pr<pria visão sin<ptica de um mundo ordenado, disciplinado,destinado a brotar da inevitvel autodestrui1ão da ca<tica sociedade do presente, eradaquele tipo ilimitado, absoluto, que coloca um ponto final em todas as questões edissolve todas as dificuldades que tra5 consigo um sentido de liberdade semelanteWquele que, nos s9culos RK% e RK%%, os omens encontraram na nova religião

 protestante, e mais tarde nas verdades da ciBncia, nos princ2pios da grande /evolu1ão,nos sistemas dos metaf2sicos alemães. !e esses Eovens racionalistas são Eustamente

camados de fanticos, então Mar>, nesse sentido, tamb9m foi um fantico. !ua f9 nara5ão, por9m, não era cegaH se recorria W ra5ão, recorria igualmente W evidBncia

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emp2rica. "s leis da ist<ria eram, de fato, eternas e imutveis Y e para compreenderesse fato, uma intui1ão metaf2sica era requerida Y mas, Jquais eram elasPL era algo ques< poderia ser determinado pela evidBncia dos fatos emp2ricos. !eu sistema intelectualera um todo fecado, tudo o que nele entrava estava submetido a um modelo

 preestabelecido por9m, restava fundado sobre a observa1ão e a e>periBncia. -ão era

obcecado por ideias fi>as. -ão revelava tra1os dos not<rios sintomas que acompanamo fanatismo patol<gico, aquela altera1ão de Animo, que vai da e>alta1ão sTbita aosentimento de solidão e persegui1ão, que a vida em mundos totalmente privados, nãoraro, engendra em pessoas que estão apartadas da realidade.

"s ideiascave de sua principal obra parecem ter amadurecido por volta de7GD8. sbo1os preliminares tinam aparecido em 7GD?, e, de novo, de5 anos mais tardeMar>, por9m, era incapa5 de come1ar a escrever antes de adquirir a certe5a de quedominava toda a literatura relativa ao seu tema. sse fato, aliado W dificuldade deencontrar um editor e W necessidade de garantir o seu pr<prio sustento e o de suafam2lia, bem como o trabalo e>cessivo e as frequentes enfermi

(p. C8)

dades, protelou sua publica1ão por vrios anos. = primeiro volume finalmente veio Wlu5 vinte anos depois de sua concep1ão, em 7G68. %ndiscutivelmente, representa ocoroamento de sua vida. :ratase de uma tentativa de fornecer uma e>plica1ão unitria eintegrada do processo e das leis do desenvolvimento social, contendo uma teoriaeconVmica completa, tratada istoricamente, e, menos e>plicitamente, uma teoria daist<ria sob a determina1ão de fatores econVmicos. " teoria 9 interrompida pore>traordinrias digressões, consistentes de anlises e escor1os ist<ricos, acerca dacondi1ão do proletariado, em particular durante o per2odo de transi1ão da manufatura Wgrande indTstria capitalista, digressões essas introdu5idas para ilustrar a tese geral, mas,de fato, demonstrando um novo e revolucionrio m9todo de relato ist<ricoH tudo issoconstitui a mais formidvel, sustentada e elaborada acusa1ão E feita contra uma ordemsocial em sua totalidade, contra suas regras, seus sustentculos, seus ide<logos, seusescravos voluntrios, tudo aquilo cuEa vida depende de sua sobrevivBncia. !ua cr2tica Wsociedade burguesa foi feita no momento em que ela tina alcan1ado o ponto mais altode sua prosperidade material, no mesmo ano em que ladstone, em um discurso sobre oor1amento, parabeni5ou seus conterrAneos sobre o Jinebriante crescimento de suarique5a e de seu poderL, que os anos anteriores aviam testemunado, durante umestado de alegre otimismo e confian1a universal. -esse mundo, Mar> 9 uma figuraisolada e amargamente ostil, preparada, tal como os antigos cristãos, ou os franceses

revolucionrios, a reEeitar audaciosamente tudo o que ele tina a oferecer, denominandoseus ideais de despre52veis e suas virtudes de v2cios, condenando suas institui1ões, não porque fossem ruins, mas porque eram burguesas, porque pertenciam a uma sociedadecorrupta e tirAnica, que deve ser aniquilada totalmente e para sempre. -uma 9poca quedestruiu seus adversrios, porque eram dignos e lentos, por m9todos não menoseficientes, que for1ou +arl$le e !copenauer a buscarem refTgio numa civili5a1ão

(p. CG)

 remota ou num passado ideali5ado, e condu5iu seu arquiinimigo, -iet5sce, W isteria eloucura, somente Mar> permaneceu seguro e formidvel. :al como um velo profeta

reali5ando a missão que le foi imposta pelos c9us, com uma tranquilidade interior baseada sobre a f9 clara e certa na sociedade racional do futuro, ele testemunou os

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sinais de decadBncia e ru2na, que via por todos os lados. " vela ordem pareciale estarmanifestamente desintegrandose ante seus olos Mar> fe5 mais do que qualqueromem para acelerar o processo, buscando o encurtamento da agonia final que precedeo fim.

(p. C?)

%P. + IN-N%I E !OLE/%0N%I

 -immer Uann ic ruig treiben;as die !eele starU befasst -immer still beaglic bleibenQnd ic stOrme one /ast.7 

S"/3 M"/R, Juvenilia

S"/3 %-/%+ M"/R, filo mais velo de einric e enrietta Mar>,nasceu em I de maio de 7G7G, em :rier, na região da /enAnia, onde seu pai e>ercia a profissão de advogado. =utrora, o assento de Fr2ncipe"rcebispo tina sido ocupado Yem torno de quin5e anos antes Y pelos franceses, sendo incorporado por -apoleão na+onfedera1ão do /eno. 4epois da derrota napoleVnica, de5 anos mais tarde, a região foidestinada pelo +ongresso de Kiena ao reino da FrTssia, na 9poca em rpida e>pansão.

=s reis e pr2ncipes dos estados alemães, cuEas autoridades pessoais tinam sidocompletamente destru2das pelas sucessivas invasões francesas, estavam, nessa 9poca,ativamente envolvidos na repara1ão do tecido danificado da monarquia ereditria, um

 processo que e>igia a elimina1ão de qualquer vest2gio daquelas ideias perigosas quecome1avam a despertar at9 mesmo os plcidos abitantes das prov2ncias germAnicas de

sua tradicional letargia. " derrota e o e>2lio de -apoleão finalmente destru2ram asilusões dos alemães radicais que acreditavam que a centrali5a1ão pol2tica levada a cabo

 por ele traria, se não a liberdade, pelo menos a unifica1ão da "lemana. =  status quo

foi restabelecido onde quer que isso fosse poss2vel a "lemana foi, uma ve5

(p. @0)

mais, dividida em reinos e principados organi5ados de modo feudal, cuEos governantesrestaurados, dispostos a se autocompensarem pelos anos de derrota e umila1ão,come1aram a reviver o antigo regime em cada detale, ansiosos em e>orci5ar, de umave5 e para sempre, o espectro da revolu1ão democrtica, cuEa mem<ria era

insistentemente mantida viva pelos indiv2duos mais esclarecidos. = rei da FrTssia,*rederico ;illiam %%%, foi particularmente en9rgico a esse respeito. "u>iliado pelafidalguia rural feudal e pela aristocracia fundiria, tal como avia na FrTssia, e seguindoo e>emplo definido por Metternic em Kiena, ele conseguiu deter, por muitos anos, odesenvolvimento normal da maioria de seus compatriotas, indu5indo uma atmosfera deestagna1ão profunda e sem esperan1a, frente a qual mesmo *ran1a e %nglaterra, durante

 per2odos reacionrios, pareciam liberais e vigorosas. :al situa1ão era sentidaespecialmente pelos elementos mais progressistas da sociedade alemã Y não somente

 pelos intelectuais, mas tamb9m pelos setores da burguesia e da aristocracia liberal dascidades, particularmente as do oeste, que sempre preservaram algum contato com a

7 -unca posso prosseguir no silBncio que ret9m mina alma no encal1o, nunca descanso em pa5 contente,e eu esbraveEo sem cessar.

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cultura geral europeia. la tomou a forma de uma legisla1ão econVmica, social e pol2tica proEetada para conservar, e em alguns casos restabelecer, uma pluralidade de privil9gios, direitos e restri1ões, muitos deles datados da %dade M9dia, s<rdidasreminiscBnsias que muito dei>aram de ser mesmo algo pitoresco, e que, desde queentraram em conflito direto com as necessidades dos novos tempos, e>igiam e obtinam

uma complicada e desastrosa estrutura de tarifas para mantBlas de p9. %sso condu5iu auma pol2tica de desest2mulo sistemtico do com9rcio e da indTstria, e levou, E que aestrutura obsoleta tina que ser preservada contra a pressão popular, W cria1ão de uma

 burocracia desp<tica, cuEa missão era insular a sociedade alemã da influBnciacontaminadora das ideias e institui1ões liberais.

= aumento do poder da pol2cia, a introdu1ão

(p. @7)

de uma r2gida supervisão sobre todos os departamentos da vida pTblica e privada,geraram uma literatura de protesto que foi rigorosamente sufocada pelos censores do

governo. scritores e poetas alemães iam para o e>2lio voluntrio, e de Faris ou da !u21alideravam uma propaganda impetuosa contra o regime. " situa1ão geral se refletia demodo particularmente claro na condi1ão daquele segmento social que, do come1o aofim do s9culo R%R, tendeu a agir como o barVmetro mais sens2vel da dire1ão damudan1a social Y a pequena, porem dispersa, popula1ão Eudaica.

=s Eudeus tinam muitas ra5ões para se sentirem gratos a -apoleãoindependentemente de como se afigure, -apoleão se pVs a destruir o edif2cio tradicionalda classifica1ão e do privil9gio sociais, das barreiras raciais, pol2ticas e religiosas,colocando em seu lugar um c<digo legal promulgado recentemente, o qual reivindicavacomo fonte de sua autoridade os princ2pios da ra5ão e da igualdade umana. sse ato Yabrindo aos Eudeus as portas do com9rcio e das profissões, portas essas que, at9 aquelemomento, le tinam sido rigidamente bloqueadas Y teve o efeito de liberar uma massade energia e aspira1ões aprisionadas, e condu5iu W aceita1ão entusiasmada Y em muitoscasos JiperL entusiasmada Y da cultura geral europeia por uma comunidade at9 entãosegregada, que, daquele dia em diante, se tornou um fator novo e importante naevolu1ão da sociedade europeia.

  "lgumas dessas liberdades foram mais tarde retiradas pelo pr<prio -apoleão, eo que restou delas foi, na maior parte, revogada pelos pr2ncipes alemães restaurados, desorte que muitos Eudeus, os quais tinam avidamente se libertado de modos de vidatradicionais, legados por seus pais, para seguir em dire1ão a perspectivas de umae>istBncia mais ampla, agora descobriam que a avenida, a qual tina sido entreaberta tão

subitamente diante deles, subitamente voltava a se fecar consequentemente, os Eudeusse defrontavam com uma escola dif2cil. =u refa5iam seus passos e retornavam,dolorosamente, para o ueto no qual a maior

(p. @C)

 parte de seus familiares continuava a viver, ou então, alterando seus nomes e suareligião, come1avam novas vidas como alemães patriotas e membros da %greEa +ristã. =caso de erscel 3evi era t2pico de uma gera1ão inteira. !eu pai, Mar> 3evi, e seu avVantes dele, foram rabinos na /enAnia tal como a grande maioria de seus companeiros

 Eudeus, eles tinam passado toda a sua vida no interior dos limites de uma comunidade

religiosa, natural e apai>onadamente autosustentada, que, em face da ostilidade deseus vi5inos cristãos, se refugiou atrs de um muro protetor de orgulo e desconfian1a,

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 preservandoos quase completamente, durante s9culos, do contato com as mudan1as domundo e>terior. = iluminismo, não obstante, tina come1ado a penetrar mesmo nessesenclaves artificiais da %dade M9dia, e erscel, que tina recebido uma educa1ãosecular, se tornou um disc2pulo dos racionalistas franceses Y e os disc2pulos destes, osiluminati alemães Y, de forma que, muito cedo na vida, foi convertido W religião da

ra5ão e da umanidade. le a aceitou com franque5a e onestidade, e nem os longosanos de escuridão e rea1ão conseguiram abalar sua f9 em 4eus e seu umanitarismosimples e otimista. le se separou completamente de sua fam2lia, mudou seu nome paraeinric Mar>, e adquiriu novos amigos e interesses. !ua profissão legal eramoderadamente bem sucedida, de modo que come1ou a olar para um futuro estvel,como o cefe de uma respeitvel fam2lia burguesa alemã, quando as leis antiEudaicas de7G76 subitamente le cortaram os meios de subsistBncia.

einric provavelmente não sentia nenuma reverBncia e>cepcional pela igreEaestabelecida, mas era ainda menos ligado W !inagoga mantendo visões vagamentede2stas, não viu nenum obstculo moral ou social para completar sua vincula1ão ao3uteranismo levemente esclarecido de seus vi5inos prussianos. 4e qualquer forma, se

ele esitou, não foi por muito tempo. *oi oficialmente recebido na %greEa no in2cio de7G78, um ano antes do nascimento de seu filo mais velo,

(p. @@)

Sarl. " ostilidade deste Tltimo a tudo aquilo que se aca conectado W religião, em particular ao #uda2smo, bem pode ser devida, em parte, W situa1ão peculiar e embara1osana qual tais conversões Ws ve5es se encontram. "lguns escaparam tornandose devotosou ainda cristãos fanticos, outros, rebelandose contra toda a religião estabelecida.!ofreram na propor1ão de sua sensibilidade e inteligBncia. eine e 4israeli foram, portoda a vida, obcecados pelo problema pessoal de suas posi1ões sociais [status]

 peculiares ambos nem renunciaram a ela, nem a aceitaram completamente, mas,alternadamente, ridiculari5aram e defenderam a religião de seus pais, sendo incapa5esde uma atitude clara e obEetiva para suas posi1ões amb2guas, perpetuamente suspeitas dedespre5o latente ou condescendBncia oculta sob a fic1ão de sua completa aceita1ão pelasociedade na qual viviam.

= velo Mar> [einric Mar>] não sofria de nenuma dessas complica1ões. raum omem simples, s9rio e bemeducado entretanto, não era nem conspicuamenteinteligente, nem absurdamente sens2vel. 4isc2pulo de 3eibnit5 e Koltaire, 3essing eSant, ele possu2a tamb9m um temperamento brando, t2mido e amvel, e, por fim, setornou um veemente patriota prussiano e um monarquista, posi1ão essa que procurou

 Eustificar apontando a figura de *rederico, = rande Y em sua visão, um pr2ncipetolerante e esclarecido, comparado positivamente com -apoleão, com seu not<riodespre5o por ide<logos. 4epois do batismo, adotou o nome cristão de einric, eeducou sua fam2lia como protestantes liberais, sendo fiel W ordem e>istente e aoimperante /eino da FrTssia. "nsioso como estava para identificar aquele governantecom o pr2ncipe ideal retratado por seus fil<sofos favoritos, a figura repulsiva de*rederico ;illiam %%% derrotou at9 mesmo sua imagina1ão leal. +om efeito, a Tnicaocasião conecida em que este omem t2mido e reservado se comportou com coragemfoi num Eantar pTblico, na qual fe5 um discurso sobre o deseEo de reformas sociais

(p. @D)

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e pol2ticas moderadas, reformas essas dignas de um governante sbio e benevolente.%sso rapidamente atraiu sobre si a aten1ão da pol2cia prussiana. einric Mar>imediatamente se retratou sobre tudo, e convenceu a todos de sua completainofensividade. -ão 9 improvvel que esse pequeno, por9m umilante, entrevero, e em

 particular a atitude covarde e submissa de seu pai, tena causado uma impressão

definitiva sobre Mar>, então com 76 anos de idade, e dei>ado atrs de si um sentimentolatente de ressentimento que mais tarde se transformou em cama.!eu pai, desde muito cedo, tomou consciBncia de que, enquanto seus outros

filos não eram de modo algum e>cepcionais, em Sarl ele tina um filo incomum edif2cil com uma inteligBncia cortante e lTcida, o primogBnito combinava umtemperamento infle>2vel e dominador, um amor truculento da independBncia, umarestri1ão emocional e>cepcional e, acima de tudo, um apetite intelectual colossal,ingovernvel. = t2mido advogado, cuEa vida foi gasta em compromissos sociais e

 pessoais, ficava perple>o e assustado com a intransigBncia de seu filo, a qual, em suaopinião, se limitava a antagoni5ar pessoas importantes, e poderia, um dia, condu5ilo as9rios problemas. *requente e ansiosamente le suplicava em suas cartas para moderar

seus entusiasmos, impor algum tipo de disciplina sobre si mesmo, cultivar bitos polidos, civili5ados, não negligenciar poss2veis benfeitores, sobretudo não se afastar detodos pela recusa violenta em adaptarse, em resumo satisfa5er as e>igBnciaselementares da sociedade na qual estava vivendo. :ais cartas, mesmo as maisdesaprovadoras, permaneciam amveis e afetuosas. "pesar de sua preocupa1ãocrescente acerca do carter e da carreira do filo, einric Mar> o tratava com umadelicade5a indistinta, e nunca tentou contrarilo ou amea1lo em qualquer questãos9ria. +onsequentemente, suas rela1ões continuaram a ser calorosas, 2ntimas erespeitveis at9 a morte do velo Mar> em 7G@G.

Farece certo que o pai teve uma influBncia decisiva sobre o desenvolvimentointelectual de seu filo. = velo

(p. @I)

Mar> [o pai] acreditava, com +ondorcet, que o omem era, por nature5a, bom eracional, e que, para assegurar o triunfo dessas qualidades, bastava remover osobstculos nãonaturais de seu camino. sses obstculos E estavam desaparecendo Y edesaparecendo rpido Y, e E se estava apro>imando rapidamente do tempo em que asTltimas cidadelas da rea1ão, a %greEa +at<lica e a nobre5a feudal derreteriam antes damarca irresist2vel da ra5ão. &arreiras sociais, pol2ticas, religiosas, raciais consistiamem vrios dos produtos artificiais do obscurantismo deliberado de pr2ncipes e

eclesisticos com o desaparecimento dos obstculos, um novo dia despontaria para ara1a umana, quando todos os omens seriam iguais, não apenas pol2tica e legalmente,em suas rela1ões formais, e>ternas, mas tamb9m social e pessoalmente, em seus mais2ntimos relacionamentos dirios.

!ua pr<pria ist<ria le parecia confirmar isso triunfalmente. -ascido Eudeu, umcidadão de status legal e social inferior, einric tina alcan1ado a igualdade entre seusvi5inos mais esclarecidos, ganou o respeito destes como um ser umano, e assimilouse Wquilo que le parecia como o modo de vida mais racional e digno deles. "creditavaque um novo dia estava raiando na ist<ria da emancipa1ão umana, W lu5 do qual seusfilos viveriam suas vidas como cidadãoslivres num estado liberal e Eusto. lementosdessa cren1a são claramente percept2veis na doutrina social de seu filo. Sarl Mar>, de

fato, não acreditava no poder do argumento racional para influenciar a a1ão, mas, apesardisso, uma percep1ão precisa de que ele permaneceu tanto um racionalista como um

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 progressista at9 o fim da vida. Sarl acreditava na completa inteligibilidade do processode evolu1ão social acreditava que a sociedade anda inevitavelmente para o progresso,que seu movimento de um estgio a outro 9 um movimento para a frente, que cadaestgio sucessivo representa desenvolvimento est mais pr<>imo, pois, do idealracional que seu precursores. "bominava, tão apai>onadamente quanto qualquer

 pensador 

(p. @6)

do s9culo R%R, o sentimentalismo, a cren1a em causas sobrenaturais, as fantasiasvisionrias de todos os tipos, e sistematicamente subestimava a influBncia de for1as nãoracionais, tais como o nacionalismo e a solidariedade religiosa e racial. mbora,

 portanto, continue sendo verdade que a filosofia egeliana seEa a principal influBnciaformativa em sua vida, os princ2pios do racionalismo filos<fico, os quais foram

 plantados por seu pai e pelos amigos deste, reali5aram um trabalo preciso deinocula1ão, de modo que, quando encontrou mais tarde os sistemas metaf2sicos

romAnticos desenvolvidos por *icte e egel, Sarl estava salvo da rendi1ão total Wfascina1ão de ambos, fascina1ão essa que preEudicou muitos de seus contemporAneos.*oi esse gosto acentuado, adquirido cedo na vida, pelo argumento lTcido e umaabordagem emp2rica que le possibilitaram preservar uma medida de independBncia emface da filosofia dominante, e, depois, alterla em seu pr<prio modelo mais positivista.:alve5 isso possa ser debitado W sua pronunciada tendBncia antiromAntica, tãonitidamente diferente da perspectiva comum aos l2deres radicais de seu tempo, taiscomo &orne, eine ou 3assale, cuEas origens e forma1ões são, em muitos aspectos,estreitamente anlogas Ws de Mar>.

!abese pouco sobre sua infAncia e sobre os primeiros anos em :rier. !ua mãe Eogou um papel singularmente pequeno em sua vida ela pertencia a uma fam2lia de Eudeus Tngaros, situada na olanda, onde seu pai era rabino era uma muler forte esem instru1ão, inteiramente absorvida nos cuidados de sua grande fam2lia, que nuncademonstrou a menor compreensão acerca das capacidades e inclina1ões de seu filococavase com seu radicalismo, e, nos anos finais, parece ter perdido todo o interesseem sua e>istBncia. 4as oito crian1as de einric e enrietta, Sarl Mar> era o segundo

 para al9m de uma leve afei1ão, enquanto crian1a, por sua irmã mais vela, !opia, Sarlmostrou pouco interesse por seus irmãos e irmãs, mesmo agora ou depois. *oi mandado

 para o col9gio local, onde obteve elogios tanto por sua atividade e pensamento avan1adoquanto pelo

(p. @8)tom cuidadoso de seus ensaios sobre aspectos morais e religiosos. ra moderadamentecompetente em matemtica e teologia, mas seus principais interesses voltavamse para aliteratura e as artesH uma tendBncia devida sobretudo W influBncia dos dois omens comquem mais aprendeu e de quem falava, durante toda a sua vida, com afeto e respeito. =

 primeiro deles era seu pai o outro era *reierr 3ud'ig von ;estpalen, que morava namesma rua de einric Mar> e foi amigvel com seu vi5ino Eudeu agradvel.;estpalen pertencia Wquela fra1ão instru2da e liberal da classe alta alemã, cuEosrepresentantes podiam ser encontrados na vanguarda de todo movimento ilustrado e

 progressista de seu pa2s na primeira metade do s9culo R%R. ra um distinto funcionrio

do governo prussiano, e um omem cativante e culto. Fertencia W gera1ão dominada pelas grandes figuras de oete, !ciller e Zlderling, e sob tais influBncias, tina

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andado para al9m das fronteiras est9ticas tra1adas de modo estrito pelos mandarinsliterrios em Faris, compartilando a crescente pai>ão alemã pela redescoberta degBnios como 4ante, !aUespeare, omer e as trag9dias gregas. ;estpalen era atra2do

 pela capacidade impressionante e pela receptividade ansiosa do filo de einric Mar>,encoraEandoo a ler, emprestandole livros, levandoo para caminadas nos bosques da

vi5inan1a e falandole sobre squilo, +ervantes, !aUespeare, citando longas passagens para seu ouvinte entusiasmado. Sarl, que alcan1ou a maturidade precocemente, tornouse um leitor devotado da nova literatura romAnticaH o gostoadquirido durante esses anos impressionantes permaneceu inalterado at9 a sua morte.

 -o final da vida, gostava de recordar essas tardes com ;estpalen, durante o que le pareceu ter sido o per2odo mais feli5 de sua vida. :ina sido tratado por um omemmuito mais velo do que ele numa condi1ão de igualdade, no momento em quenecessitava, em particular, de simpatia e encoraEamento no tempo em que

(p. @G)

um ato indelicado ou insultante pode dei>ar uma marca duradoura, ele foi recebido comrara cortesia e ospitalidade. !ua tese de doutorado cont9m uma calorosa dedicat<ria a;estpalen, ceia de gratidão e admira1ão. m 7G@8, Mar> pediu a mão de sua fila emcasamento, e obteve o seu consentimento sem dificuldade um ato que, devido W grandediferen1a nas suas condi1ões sociais, parece ter assustado o c2rculo de relacionamentosdela. *alando de ;estpalen, no final de sua vida, Mar>, cuEas opiniões sobre osomens não eram conecidas pela generosidade, tornase quase sentimental.;estpalen umani5ou e fortificou aquela convic1ão em si mesmo e em seu pr<prio

 poder, convic1ão que foi, em todos os per2odos, a caracter2stica mais marcante de Mar>.Sarl Mar> 9 um dos raros revolucionrios que não foram frustrados nem perseguidosem seus primeiros anos de vida. +onsequentemente, a despeito de sua e>traordinriasensibilidade, amour-prope, vaidade, agressividade e arrogAncia, Mar> 9 uma figurasingularmente intacta, positiva e autoconfiante que nos enfrenta durante quarenta anosde enfermidades, pobre5a e guerra incessante.

Sarl Mar> terminou o col9gio em :rier aos de5essete anos, e, seguindo oconselo de seu pai, no outono de 7G@I se tornou um estudante da faculdade de direitoda Qniversidade de &onn. "qui, parece ter sido totalmente feli5H ele anunciou o planode assistir ao menos sete cursos de palestras semanalmente, dentre as quais constam

 palestras sobre omer condu5idas pelo celebrado !clegel, palestras sobre mitologia, poesia latina, arte moderna. Kiveu a vida Eovial e dispersa do estudante alemão comum,teve presen1a ativa nas sociedades universitrias, escreveu poemas b$ronianos, contraiu

d2vidas e, pelo menos em uma ocasião, foi preso pelas autoridades por comportamentodesordeiro. -o final do per2odo de verão de 7G@6, dei>ou &onn e, no outono, foitransferido para a Qniversidade de &erlim.

sse evento marca uma n2tida crise em sua vida. "s condi1ões sob as quais tinavivido at9 então eram

(p. @?)

relativamente provinciaisH :rier era uma pequena e agradvel cidade que provina davela ordem, intocada pela grande revolu1ão social e econVmica que estava mudando oscontornos do mundo civili5adoH o crescimento do desenvolvimento industrial de

+olVnia e 4Osseldorf parecia infinitamente distante nenuma problema urgente, social,intelectual ou material tina perturbado a pa5 do meio social leve e refinado dos amigos

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de seu pai, um plcido resqu2cio do s9culo RK%%% que artificialmente sobreviveu nos9culo seguinte. +omparada com :rier ou &onn, &erlim era uma cidade imensamentee>tensa e populosa, moderna, feia, pretensiosa e intensamente solene, ao mesmo tempoo centro da burocracia prussiana e o local de encontro dos intelectuais radicaisdescontentes, os quais formavam o nTcleo da crescente oposi1ão. Mar> conservou, por

toda a sua vida, uma considervel capacidade de divertimento e um forte, se bastante pesado, senso de umor, mas ningu9m poderia, mesmo naquela 9poca, descrevBlocomo superficial ou fr2volo. stava s<brio pela atmosfera tensa e trgica na qual sereconeceu, e com a sua energia abitual come1ou imediatamente a e>plorar e criticarseu novo ambiente.

(p. D0)

%P. 3 + -ILO/O-I !O E/PRITO

;as %r den eist der \eiten eisst

4as ist im rund des erren eigner eist%n dem die \eiten sic bespiegeln.

(= que se cama esp2rito do tempo 9, no fundo, o esp2rito do pr<prio !enor, noqual a 9poca 9 refletida)

=:

3a raison a touEours raison

(" ra5ão tem sempre ra5ão)

%

" influBncia intelectual dominante na Qniversidade de &erlim, como de fato emqualquer outra universidade alemã dessa 9poca, era a filosofia egeliana. = terreno paraisso foi preparado pela mudan1a gradual das cren1as e do idioma do per2odo clssico,mudan1a essa que come1ou no s9culo RK%%, e foi consolidada e redu5ida a um sistemano s9culo RK%%%. " maior e mais original figura desse movimento, entre os alemães, foiottfried ;ilem 3eibnit5, cuEas ideias foram desenvolvidas, por seus disc2pulos eint9rpretes, num coerente e dogmtico sistema metaf2sico, que, tal como seusdivulgadores alegaram, podia ser logicamente demonstrvel segundo etapas dedutivasderivadas de premissas simples Y sendo estas, por sua ve5, autoevidentes para aqueles

que podiam se valer daquela intui1ão intelectual infal2vel com a qual todos os seres pensantes foram agraciados no nascimento. sse r2gido intelectualismo foi atacado na%nglaterra, onde nenuma forma de racionalismo puro Eamais encontrou um solo

 prop2cio. 3ocUe, ume, e caminando para o final do

(p. D7)

s9culo, &entam e os radicais filos<ficos concordavam em negar a e>istBncia de talfaculdade, tida como uma intui1ão intelectual sobre a real nature5a das coisas. -enumaoutra faculdade, para al9m dos sentidos f2sicos familiares, poderia fornecer aquelainforma1ão emp2rica inicial, sobre a qual todo o conecimento do mundo est, em

Tltima anlise, fundado. # que toda informa1ão era transmitida pelos sentidos, a ra5ãonão poderia ser uma fonte independente de conecimento, sendo responsvel apenas

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 pela organi5a1ão, classifica1ão e arranEo da informa1ão, e>traindo dedu1ões dela,operando sobre o material obtido sem a sua aEuda. -a *ran1a, a posi1ão racionalista foiatacada pela escola materialista no s9culo RK%%% enquanto Koltaire e 4iderot, +ondillace elv9tius reconeciam espontaneamente sua d2vida para com o livrepensamentoinglBs, constru2am um sistema independente, cuEa influBncia sobre o pensamento e a

 pratica europeias continua at9 o presente. "lguns não cegaram ao ponto de negar ae>istBncia de conecimento obtido de outra forma que não atrav9s dos sentidos, masalegaram que, embora tal conecimento inato em si e>ista e revele de fato verdadesvlidas, ele não fornece nenuma evidBncia para as proposi1ões cuEa verdadeincontestvel os velos racionalistas afirmam saber, fato esse que um e>ame deconsciBncia cuidadoso e escrupuloso mostraria a qualquer omem de mente aberta e nãocega pelo dogmatismo religioso ou pelo preconceito pol2tico e 9tico. Muitos abusosforam defendidos por meio de apelos W autoridade ou a uma intui1ão especialH assim"rist<teles, apelando W ra5ão, sustentava que os omens eram desiguais por nature5a,que alguns eram naturalmente escravos, outros, omens livres e tamb9m a &2blia, aqual ensinava que a verdade poderia ser revelada por meios sobrenaturais, proporcionou

te>tos que podem ser invocados para provar que o omem 9 naturalmente perverso edeve ser controlado Y teses usadas por governos reacionrios para fundamentar asitua1ão e>istente de desigualdade pol2tica, social e at9 moral. ntretanto, e>

(p. DC)

 periBncia e ra5ão, devidamente compreendidas, Euntaramse para mostrar o e>ato opostodisso. "rgumentos poderiam ser apresentados para mostrar, acima de qualquer dTvida,que os omens são naturalmente bons, que a ra5ão e>iste igualmente em todo os seressens2veis, que a causa de toda opressão e sofrimento 9 a ignorAncia umana, produ5ida,em parte, por condi1ões sociais e materiais, que emergiram no curso natural dodesenvolvimento ist<rico, em parte, atrav9s da supressão deliberada da verdade portiranos ambiciosos e sacerdotes inescrupulosos, mais frequentemente pela a1ãorec2proca das duas coisas. :ais influBncias, no entanto, poderiam ser e>postas e assimaniquiladas pela a1ão de um governante esclarecido e benevolente. 4ei>ados a simesmos, sem obstculos para obscurecer suas vistas e frustrar seus esfor1os, os omens

 perseguiriam a virtude e o conecimento a Eusti1a e a igualdade tomariam o lugar daautoridade e do privil9gio a competi1ão redundaria em coopera1ão a felicidade e asabedoria se tornariam propriedades universais. = princ2pio central desse racionalismosemiemp2rico consistia na f9 ilimitada no poder da ra5ão para e>plicar e aperfei1oar omundo, com todo o fracasso anterior sendo então entendido como resultado da

ignorAncia das leis que regulam o comportamento da nature5a animada e inanimada. "mis9ria 9 resultado do desconecimento não s< das leis da nature5a, mas tamb9m dasleis do comportamento social. Fara abolila, uma medida 9 tão necessria quantosuficienteH o emprego da ra5ão, e tão somente da ra5ão, na condu1ão dos neg<ciosumanos.

/econecidamente, essa tarefa est longe de ser fcil os omens viveram muitotempo num mundo de escuridão intelectual para serem capa5es de retirar a venda dosolos de um dia para o outro. Qm processo de educa1ão gradual com base em princ2pioscient2ficos 9, portanto, requeridoH o crescimento da ra5ão e o avan1o da verdade, namedida em que são suficientes para dominar as for1as do preconceito e da ignorAncia,não podem ocorrer antes que os omens iluminados esteEam prontos a devotar suas

vidas W missão de educar a vasta massa ignorante da umanidade.

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(p. D@)

Mas aqui um novo obstculo surgeH considerando que a causa originria damis9ria umana, da negligBncia da ra5ão e da indolBncia intelectual não foideliberadamente provocada, e>iste em nossos dias, e tem e>istido s9culos, uma

classe de omens, os quais, compreendendo que seu pr<prio poder repousa sobre aignorAncia que cega os omens de suas inEusti1as, estimulamna por todas as mentiras emeios ao seu alcance. For nature5a, todos os omens são racionais, e todos os seresracionais tBm iguais direitos perante a lei natural da ra5ão. Mas as classes dominantes,os reis, a nobre5a, o clero, os generais perceberam muito bem que a difusão da ra5ãologo abriria os olos dos povos do mundo para a colossal fraude em fun1ão da qual seviam obrigados Y em nome de inven1ões ocas como a santidade da igreEa, o direitodivino dos soberanos, as pretensões do orgulo nacional ou de propriedade Y a desistirde suas reivindica1ões naturais, e trabalar sem reclamar para a manuten1ão de uma

 pequena classe que não tina qualquer sombra de direito para e>igir tal privil9gio. , portanto, do interesse direto da classe superior da ierarquia social impedir o

crescimento do conecimento natural, onde quer que se ameace e>por o carterautoritrio de sua autoridade, e, em seu lugar, colocar um c<digo dogmtico, umamontoado de mist9rios inintelig2veis, e>pressos em frases altissonantes com as quais seconfunde as frgeis inteligBncias de seus sTditos infeli5es, mantendoos em um estadode obediBncia cega. Mesmo que alguns indiv2duos dentre as classes dominantes possamestar genuinamente autoiludidos e venam, eles mesmos, a acreditar em suas pr<priasinven1ões, outros conscientes de que apenas pelo engano sistemtico, au>iliado pelouso ocasional da violBncia, poderseia preservar uma ordem tão corrupta e nãonatural." primeira obriga1ão, pois, de um governante esclarecido 9 quebrar o poder das classes

 privilegiadas, e permitir que a ra5ão natural, da qual todos os omens são dotados, sereafirme e E que a ra5ão não pode ser contrria W ra5ão, todo conflito privado ou

 pTblico est, em Tltima instancia, fundado em algum

(p. DD)

elemento irracional, uma mera fala em perceber como um aEuste armonioso deinteresses aparentemente opostos pode ser feito.

" ra5ão est sempre certa. Fara cada pergunta apenas uma Tnica respostaverdadeira, que, com assiduidade suficiente, pode ser infalivelmente descoberta e issonão se aplica menos em questões de 9tica ou pol2tica, de vida pessoal e social, do queem problemas de f2sica ou matemtica. Qma ve5 encontrada, a coloca1ão em prtica de

uma solu1ão 9 um problema de mera abilidade t9cnica todavia, os tradicionaisinimigos do progresso devem, primeiro, ser removidos, e os omens, ensinados acercada importAncia de agir em todas as questões com base no conselo dos e>pertscient2ficos desinteressados, cuEo conecimento se funda sobre a ra5ão e a e>periBncia.Qma ve5 alcan1ado isso, o camino est limpo para o milBnio.

" influBncia do meio ambiente, por9m, não 9 menos importante do que ae>ercida pela educa1ão. !e vocB quisesse predi5er o curso da vida de um omem, teriaque considerar alguns fatores, tais como o carter da região na qual vive, seu clima, afertilidade do solo, a distAncia do mar, al9m das suas caracter2sticas f2sicas e da nature5ade sua profissão cotidiana. = omem 9 um obEeto da nature5a, e a alma umana, comosubstAncia material, não sofre a influBncia de nenum elemento sobrenatural nem possui

 propriedades ocultas todo o seu comportamento pode ser adequadamente e>plicado pelos meios da simples ip<tese f2sica verificvel. = materialista francBs, 3a Mettrie,

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desenvolveu esse empirismo at9 os seus Tltimos limites num celebrado tratado, O

 Homem-Máquina, que causou um escAndalo imenso no tempo de sua publica1ão. !uavisão era compartilada em vrios graus pelos editores da nciclop9dia, 4iderot ed"lembert, por olbac, elv9tius e +ondillac, os quais, a despeito das diferen1as,concordavam que a principal diferen1a do omem em rela1ão Ws plantas e aos animais

inferiores reside na posse da autoconsciBncia, que 9 a consciBncia de alguns de seus pr<prios processos, em sua capacidade de usar a ra5ão e a imagi

(p. DI)

na1ão para conceber prop<sitos ideais e vincular valores morais a esta ou aquelaatividade ou caracter2stica, de acordo com a tendBncia em fa5er avan1ar ou retardar osfins deseEados a reali5ar. Qm s9rio parado>o que essa visão abrigava se manifestava noconflito entre livrearb2trio, de um lado, e a completa determina1ão pelo carter e peloambiente, de outro tratavase do velo conflito entre livrearb2trio e providBncia divinanuma nova forma, com a -ature5a no lugar de 4eus. !pino5a observou que se uma

 pedra, caindo pelo ar, pudesse pensar, bem se poderia imaginar que ela tina escolidolivremente sua pr<pria traEet<ria, sendo desconecidas as causas e>ternas, tais como oalvo e a for1a do atirador e o meio natural que determina sua queda. !imilarmente, 9 asimples ignorAncia das causas naturais de seu comportamento que fa5 o omemimaginarse de alguma maneira diferente da situa1ão da queda da pedraH a onisciBnciadissiparia rapidamente essa vã ilusão, mesmo que o sentimento de liberdade a que dorigem persista, tendo perdido o seu poder de enganar. 4o modo como o empirismoe>tremo 9 concebido, essa doutrina determinista 9 completamente compat2vel com oracionalismo otimista mas ela cont9m implica1ões e>tremamente opostas no que di5respeito W possibilidade de reformas nos neg<cios umanos. Fois, se os omens sãofeitos santos ou criminosos unicamente pelo movimento da mat9ria no espa1o, oseducadores são, com o mesmo rigor, determinados a agir como fa5em, como aqueles aquem cabe o dever de educar. :udo se passa como resultado de processos inalterveisda nature5a e nenum aperfei1oamento pode ser reali5ado pelas decisões livres deindiv2duos, por mais sbios, benevolentes e poderosos que seEam, uma ve5 que, nãomais do que qualquer outra entidade pode alterar a necessidade natural. sse c9lebre n<,despido de sua vela roupagem teol<gica, emergiu ainda mais claramente em sua formasecular apresentou as mesmas dificuldades em ambos os lados, mas se tornouobscurecido pela e>istBncia de maiores questões em Eogo. "teus,

(p. D6)

c9ticos, materialistas, racionalistas, utilitrios pertenciam a um campo de2stas,metaf2sicos, apoiadores e apologistas da ordem e>istente, a outro a fenda entreiluminismo e clericalismo era tão grande, e guerra entre eles, tão selvagem, quedificuldades doutrinais no interior de cada campo passavam relativamentedesapercebidas.

a primeira das duas teses que se tornaram a doutrina fundamental dosintelectuais radicais do pr<>imo s9culo. nfati5avam a bondade natural dos omens,intocada por um governo ruim ou ignorante, e ressaltavam o imenso poder da educa1ãoracional para resgatar as massas da umanidade de suas mis9rias vigentes, para instituiruma distribui1ão mais Eusta e cient2fica das rique5as do mundo, e, assim, levar a

umanidade aos limites da felicidade alcan1vel. " imagina1ão do s9culo RK%%% foidominada pelos avan1os fenomenais feitos pelas ciBncias matemticas e f2sicas durante

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o s9culo precedente, sendo um passo natural aplicar o m9todo que provou ser tão bemsucedido nas mãos de Sepler e alileo, 4escartes e -e'ton, W interpreta1ão dosfenVmenos sociais e W condu1ão da vida. !e de algum indiv2duo em particular pode serdito que criou esse movimento, esse 9, inquestionavelmente, Koltaire. !e não foi o seuiniciador, foi o seu maior e mais c9lebre protagonista por mais de meio s9culo. !eus

livros, seus panfletos, sua mera e>istBncia fi5eram incomparavelmente mais do quequalquer outro fator singular para destruir o porão do absolutismo e do catolicismo. -em a sua morte limitou sua influBncia. 3iberdade de pensamento foi identificada como seu nomeH suas batalas foram lutadas sob sua ins2gniaH nenuma revolu1ão popular,da sua 9poca W nossa, desapontouse ao absorver algumas de suas mais efica5es armasdo arsenal inesgotvel que dois s9culos não tornaram obsoleto. Mas se Koltaire criou areligião do omem, /ousseau foi o maior de seus

(p. D8)

 profetas. le era um pregador e um propagandista de talento, e forneceule uma nova

eloquBncia e ardor, uma linguagem mais rica, mais vaga e mais emocionalmentecarregada, que afetou profundamente os escritores e pensadores do s9culo R%R. +omefeito, dele se pode di5er que criou novos modos de pensar e sentir, um idiomacompletamente novo, que foi adotado como o ve2culo natural de autoe>pressão pelosrebeldes art2sticos e sociais do s9culo R%R, a primeira gera1ão de romAnticos que

 buscou inspira1ão na ist<ria revolucionria e na literatura da *ran1a, e, em nome dela,levantou a bandeira da revolta em suas pr<prias terras atrasadas.

Qm dos mais ardorosos, e certamente o mais efica5 dentre os defensores dessadoutrina em %nglaterra, foi o industrial galBs idealista, /obert ='en. !eu credo foisumari5ado em uma senten1a inscrita no cabe1alo de seu Eornal, The e! Moral

"orld#  JXualquer carter geral, do melor ao pior, do mais ignorante ao maisesclarecido, pode ser dado a qualquer comunidade, e at9 a todo o mundo, pela aplica1ãodos meios adequados, meios esses que estão em larga medida sob o comando e ocontrole daqueles que tBm influBncia nos assuntos dos omensL. le demonstrouadmiravelmente a veracidade de sua teoria ao estabelecer condi1ões modelo em sua

 pr<pria fbrica de algodão em -e' 3anarU, limitando as oras de trabalo e criando provisões para a saTde e fundos de poupan1a. For esses meios, aumentou a produtividade de sua fbrica e elevou enormemente o padrão de vida de seustrabaladores, e, o que 9 ainda mais impressionante ao mundo e>terior, triplicou suafortuna. -e' 3anarU se tornou um centro de peregrina1ão para reis e estadistas, e, comoo primeiro e>perimento bemsucedido de coopera1ão pacifica entre trabalo e capital,

teve uma influBncia considervel sobre a ist<ria tanto do socialismo quanto da classetrabaladora. !uas Tltimas tentativas de reforma tiveram menos sucesso. ='en, quemorreu E bem velo

(p. DG)

em meados do s9culo R%R, foi o Tltimo sobrevivente do per2odo clssico doracionalismo, e, com sua f9 inabalada por repetidos fracassos, acreditou, at9 o fim desua vida, na onipotBncia da educa1ão e na perfectibilidade do omem.

= efeito que o avan1o vitorioso das novas ideias teve sobre a cultura europeia 9dificilmente inferior Wquele do /enascimento %taliano. = esp2rito de livre investiga1ão

sobre assuntos individuais e sociais, de colocar todas as coisas em questão diante dotribunal da ra5ão, adquiriu uma disciplina formal e uma aceita1ão cada ve5 mais

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entusiasmada de amplos setores da sociedade. +oragem intelectual, e at9 mesmodesinteresse intelectual, tornaramse virtudes modernas. Koltaire e /ousseau foramuniversalmente festeEados e admirados, ume foi magnificamente recebido em Faris.ssa era a atmosfera de opinião que forEou o carter dos revolucionrios de 78G?, umagera1ão tempestuosa e eroica que não se rende a ningu9m na clare5a e pure5a de suas

convic1ões, na inteligBncia robusta e nãosentimental de seu umanismo Y acima detudo, na sua absoluta integridade moral e intelectual, seguramente fundada sobre acren1a de que a verdade deve, no final das contas, prevalecer, porque 9 a verdade, umacren1a que não foi enfraquecida por anos de e>2lio e persegui1ão. !uas ideias morais e

 pol2ticas, bem como suas palavras de elogio e censura, tornaramse, desde longa data, patrimVnio comum de democratas de todas as cores e mati5es socialistas e liberais,utilitaristas e Eusnaturalistas, falam suas l2nguas e professam suas cren1as, não tãoingenuamente, nem com uma tal confian1a absoluta, mas tamb9m o fa5em menoseloquente, simples e convincentemente.

%%

= contraataque veio na virada do s9culo. +resceu sobre o solo alemão, maslogo se espalou por todo o mundo civili5ado, bloqueando o avan1o do empirismovindo do ocidente, e colocando em seu lugar uma visão

(p. D?)

 profundamente metaf2sica da nature5a e do individuo, visão essa cuEos efeitos ainda permanecem entre n<s, crescendo com for1a e influBncia. 4estro1ada espiritual ematerialmente pela uerra dos :rinta "nos, a "lemana, ao final de um per2odo longo eest9ril, come1ava a produ5ir, uma ve5 mais, no final do s9culo RK%%%, uma culturanativa, pr<pria, influenciada, por9m fundamentalmente independente, pelos modelosfranceses com os quais a uropa inteira competia ao imitar. :anto na filosofia como nocriticismo, os alemães come1aram a produ5ir obras que eram mais desorgani5adas naforma, apesar de sentirem mais ardentemente, e>pressarem mais veementemente, eserem mais inquietantes do que qualquer escrito na *ran1a, para al9m das pginas de/ousseau os franceses viram nessa rica confusão apenas uma grotesca caricatura de seuestilo l2mpido e de sua simetria requintada. "s uerras -apoleVnicas, que ao feridoorgulo intelectual alemão acrescentaram a umila1ão da derrota militar, tornaram aracadura ainda mais ampla, e a forte rea1ão patri<tica, que come1ou durante essasguerras e elevouse a uma inunda1ão selvagem de sentimento nacional depois da queda

de -apoleão, tornouse identificada com a nova, assim camada filosofia romAntica dossucessores de Sant, *icte, !celling e egel, os quais, nessas condi1ões, obtiveramsignificAncia nacional e tornaramse difundidos e populari5ados em uma f9 alemã quaseoficial. +ontra o empirismo cient2fico dos franceses e ingleses, os alemãesimpulsionaram o istoricismo metaf2sico de erder e egel. *undado na cr2tica de seusrivais, ofereceuse uma alternativa ousada, cuEa influBncia alterou a ist<ria dacivili5a1ão na uropa e dei>ou uma indel9vel impressão em sua imagina1ão e modos desentir.

=s fil<sofos clssicos do s9culo RK%%% aviam perguntadoH 4ado que o omem9, nada mais nada menos, que um obEeto da nature5a, quais são as leis que governam oseu comportamentoP !e 9 poss2vel descobrir, por meios emp2ricos, sob quais condi1ões

corpos caem, planetas giram, rvores crescem, gelo se transforma em gua e gua emvapor,

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(p. I0)

não menos poss2vel deve ser revelar sob quais condi1ões os omens são levados acomer, beber, dormir, amar, odiar, lutar uns com os outros, constitu2remse em fam2lias,

tribos, na1ões, e depois em monarquias, oligarquias, democracias. "t9 que isso seEadescoberto por um -e'ton ou um alileo, nenuma verdadeira ciBncia da sociedade pode vir W tona. sse empirismo radical pareceu a egel como a encarna1ão de umdogmatismo cient2fico ainda mais desastroso que a teologia que deseEava substituir,envolvendo a falcia segundo a qual somente m9todos bemsucedidos nas ciBnciasnaturais podem ser vlidos em todos os outros departamentos da e>periBncia. egel erac9tico quanto ao novo m9todo mesmo no caso do mundo material, e muitoinfundadamente desconfiava de que os cientistas naturais arbitrariamente selecionavamos fenVmenos que investigavam e não menos arbitrariamente se limitavam a certos tiposde evidBncias isoladas. Mas se sua atitude, no tocante ao empirismo na ciBncia, eraostil, falava com ainda mais violBncia de suas conseqOBncias preEudiciais quando

aplicado a um assunto relativo W ist<ria umana. !e a ist<ria era escrita de acordo comregras cient2ficas, tal como o mundo era entendido por Koltaire ou por ume, umamonstruosa distor1ão dos fatos seria o resultado, coisa que os melores istoriados do

 passado Y de fato, os pr<prios Koltaire e ume Y tinam inconscientemente evitado poruma segura intui1ão ist<rica. egel concebeu a ist<ria a partir de duas dimensõesH aori5ontal, na qual os fenVmenos das diferentes esferas de atividade, ocorrendo entrediferentes pessoas, pertencentes ao mesmo estgio de desenvolvimento, são vistos comoamplamente interconectados em um mesmo padrão unitrio, que d a cada per2odo seucarter individual, imediatamente reconec2vel e a dimensão vertical, na qual a mesmaintersec1ão de eventos 9 encarada como parte de uma sucessão temporal, como umestgio necessrio em um processo de desenvolvimento, estgio esse de algum modoabrigado no seu predecessor no tempo, que E, em si, incorpora, embora em umacondi1ão menos desen

(p. I7)

volvida, aquelas tendBncias e for1as, cuEa total emergBncia estabelece a 9poca posteriorque, finalmente, vem W lu5. For isso, cada 9poca, se 9 para ser genuinamentecompreendida, deve ser considerada não s< em rela1ão e>clusiva com o passado poiscont9m em seu ventre sementes do futuro, prenunciando os contornos do que ainda est

 por vir e essa rela1ão, nenum istoriador, por mais escrupuloso, por mais deseEoso em

evitar se afastar da evidBncia nua dos fatos, pode se permitir ignorar. !< assim ele poderepresentar, em perspectiva correta, os elementos que compõem o per2odo com o qualest tratando, distinguindo o relevante e central do trivial, determinando ascaracter2sticas de uma 9poca a partir daqueles elementos seus acidentais, advent2cios,elementos que podem ocorrer em qualquer lugar e em qualquer tempo, e,consequentemente, não dispõem de ra25es profundas em seu pr<prio passado, nem deefeitos apreciveis sobre o seu pr<prio futuro.

" concep1ão de crescimento pela qual se di5 que a glande [o fruto do carvalo]cont9m potencialmente o carvalo, e pode ser descrita adequadamente tão s< em termosdesse desenvolvimento, 9 tão antiga quanto "rist<teles e, de fato, mais vela. -o/enascimento, veio W lu5 uma ve5 mais, e foi desenvolvida, em sua m>ima e>tensão,

 por 3eibnit5, que ensinou que o universo era composto de uma pluralidade desubstAncias individuais independentes, cada uma da quais sendo concebida como

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de seus descendentes italianos, e os omens do /enascimento apresentavam certascaracter2sticas marcantes, que a %tlia em decl2nio foi perdendo ou tina perdidocompletamente. Fortanto, não podem ser essas condi1ões relativamente invariveis, comas quais s< os cientistas naturais são competentes em maneEar, as responsveis pelofenVmeno da mudan1a ist<rica, pelo progresso e pela rea1ão, a gl<ria e o decl2nio.

"lgum fator dinAmico deve ser postulado para dar conta tanto da mudan1a como dadire1ão Tnica, claramente percept2vel, que assume. :al mudan1a manifestamente não 9repetitivaH cada 9poca erda algo novo de sua precedente, ra5ão pela qual se diferenciade todo o per2odo anterior o princ2pio de desenvolvimento e>clui o princ2pio derepeti1ão uniforme, que 9 o fundamento sobre o qual alileo e -e'ton constru2ram. !ea ist<ria possui leis, essas leis devem ser evidentemente diferentes em esp9cie do quese passou para o Tnico padrão poss2vel de lei cient2fica at9 agoraH e uma ve5 que tudoque 9, persiste, e tem alguma ist<ria, as leis da ist<ria devem,

(p. ID)

 por isso mesmo, ser identificadas com as leis do ser, de tudo que e>iste.=nde esse princ2pio do movimento ist<rico pode ser encontradoP uma

confissão de fala umana, de fracasso da ra5ão, declarar que esse princ2pio dinAmico 9aquele not<rio obEeto do escrnio dos empiristas, um poder misterioso e oculto que osomens não podem supor, mesmo detectar. !eria estrano se aquilo que governa nossasvidas normais não fosse mais percept2vel para n<s, não fosse uma e>periBncia maisfamiliar do que qualquer outra que temos. Fois precisamos apenas tomar nossas pr<priasvidas como o microcosmo e o padrão do universo. *alamos com suficientefamiliaridade do carter, ou do temperamento, de um omem como responsvel porseus atos e pensamentos, não como algo totalmente distinto deles, mas como o padrãocomum que e>pressam como a melor forma de di5ermos que conecemos um omem,o melor que pode ser dito para conecer sua moral e constitui1ão metal em sua rela1ãocom o mundo e>terior. egel transferiu o conceito de carter pessoal do indiv2duo, quegradualmente se manifestava ao longo da vida do omem, para o caso de culturas ena1ões inteirasH referiuse a ele, de modo variado, como a %deia ou o sp2rito