BEUYS, Joseph, A revolução somos nós, descrição da acção

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    11/01/23 16:51Conscincia na Rede: Joseph Beuys - "O homem um ser politico, capaz de autodeterminar-se"

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    TERA-FEIRA, 23 DE NOVEMBRO DE 2010

    Joseph Beuys - "O homem um ser politico, capaz deautodeterminar-se"

    Chega ao fim a exposio do artista alemo Joseph Beuys - A revoluosomos ns, que o Sesc Pompia abrigou desde setembro. Convido atodos os leitores para aproveitarem os dias que restam at domingo eprestigiar este importante artista. E vou fazer algo indito neste blog:dar a palavra a outra pessoa, neste caso, ao prprio Joseph Beuys. A

    revoluo somos ns!

    Boa noite senhoras e senhores! Sinto-me muito felizpor estar aqui junto com vocs, no tanto por meu prprioprazer quanto por considerar til e importante que todos nsaprendamos a falar dessas coisas.

    Alguns poderiam achar surpreendente que uma pessoacomo eu, geralmente dedicada ao campo artstico, enfrenteuma temtica de tipo poltico como esta que objeto denosso debate. Posso entender por que tanta gente no temmais confiana em conceitos desse tipo. Posso at mesmoimaginar os comentrios: L vem de novo a histria dademocracia, do socialismo e da liberdade. A mesma velhahistria!.

    Mas voltemos ao tema de nosso debate. Pergunto-mequanto tempo ainda pode durar tal jogo. Por quanto tempoas pessoas continuaro a votar em partidos e em seusrepresentantes, ou melhor, em conceitos vazios designificado e de contedo? Por quanto tempo as pessoascontinuaro a acreditar no chamado parlamentarismo?Estas so as questes cruciais. Gostaria de acrescentar queconceitos como democracia e socialismo so de extremaimportncia, pelo menos no plano terico, apesar de

    antipticos nos dias que correm, conscincia de pessoasque parecem ter perdido qualquer interesse mais profundopor slogans vazios de contedo.

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    Conscincia na Rede

    O novo paradigma de mundo em rede demonstra como as relaesbiolgicas, polticas, socioeconmicas e tecnolgicas tm sedesenvolvido e como tudo est conectado. Como cada um de ns temcontribudo para criar esta rede atravs das escolhas individuais eaes cotidianas e da escolha pela frequncia de ondas ondesintonizamos nossa conscincia?

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    Acredito contudo, que falta a um conceito fundamental:falta o conceito da liberdade. No que no se tenhadiscutido suficientemente sobre tal conceito. Isso j foi feitoat demais. Mas nunca no sentido em que o entendo e euexplicitarei a seguir.

    Tenho a impresso de que foi totalmente negligenciadoo fato de que democracia e socialismo s seriam realizveis apartir do conceito de liberdade.

    E em nome dessa liberdade, fato intelectual e depensamento, que me sinto autorizado a falar na presena devocs, reunindo tudo o que pude aprender e verificar atravsda minha experincia direta de trabalho. Falarei, portanto, demeus problemas de artista e professor. Do pensamentohumano, da criatividade e da economia.

    A liberdade concerne essencialmente ao campo dodireito e da constituio democrtica. Mas diz respeitotambm vida econmica como comportar-sefraternamente no campo econmico?

    Vou agora fixar estes conceitos no quadro-negro:

    democracia, fraternidade, socialismo, igualdade. A igualdade,esta o conceito justo do qual partir.Trata-se, na prtica, dos trs grandes ideais da

    Revoluo Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade. Trsconceitos que iro se conectar, segundo uma ordem deprioridades bem especfica, ao conceito de criatividadehumana no mbito da escola, da universidade e da culturaem geral. Gostaria de lembrar que falo essencialmente natica da minha experincia artstica, e portanto, da arte. Deresto, alis, no seria verdade que quando o homem querfazer uma revoluo, ou melhor, quando decide mudar ascondies de seu mal-estar, deve necessariamente dar incio

    s mudanas na esfera cultural, operando nas escolas, nasuniversidades, na cultura, na arte e, em termos gerais, emtudo aquilo que diz respeito criatividade? A mudana deveter incio no modo de pensar, e s a partir desse momento,desse momento de liberdade, ser possvel pensar em mudaro resto.

    no pensamento que reside o ncleo da mudana, apartir do qual pode brotar o eixo de democracia e daconstituio democrtica.

    Mas projetei-me muito frente no tempo: estoufalando de um futuro e de condies ainda absolutamenteinexistentes.

    J me referi ao verdadeiro significado do termodemocracia. No aquele usado pelos partidos polticos emsuas palavras de ordem propagandstica, mas a acepo maisreles do termo: poder ao povo.

    Devemos apontar para um sistema que permita aopovo, vale dizer a todos os indivduos residentes em umdeterminado pas, dar sua prpria contribuio para arealizao de uma constituio realmente democrtica. Estedeve ser o nosso objetivo. A democracia deve ser construdano pelos partidos, no pelo domnio prevaricante de umaminoria, mas pela contribuio e pela participao de todos

    os cidados.Estas linhas representam os direitos fundamentais. Umexemplo de direito fundamental so as leis que regem a

    Perfil

    Marlucia Aguiar escritora, artista econsultora. Vive em So Paulo.

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    propriedade da terra.O eixo democrtico muito importante. Toda

    reivindicao de liberdade deve ter limites a fim desalvaguardar e garantir a liberdade de toda a coletividade.

    Eu reivindico liberdade para a escola, liberdade para auniversidade, liberdade para os artistas, liberdade de opinio,liberdade de crtica, liberdade de imprensa, liberdade deantena etc. Todos esses so espaos que fazem parte no do

    mundo econmico, mas sim do mbito informativo e cultural-formativo de um pas.

    O povo deveria usar plenamente o poder que possui,mas do qual parece no ter conscincia, para construir umaverdadeira democracia. E chagamos ento ao tema centralde nosso encontro.

    O povo continua a agir segundo o sistema dedelegao: votando, como representante seu, em pessoaspropostas pelos partidos. E, assim fazendo, renunciavoluntariamente a seu direito de co-gesto poltica e a seudireito de autodeterminao.

    Se algum na sala tiver perguntas a fazer sobre o quefoi dito at agora, eu pediria que o fizesse logo para que notenha que voltar a estes pontos.

    Voz na sala: Gostaria de saber o que significam aquelaslinhas sobre o eixo central.

    Beuys: Ainda no falei delas, mas como j disse, esta a constituio que provem o povo, em conformidade com oprincpio que quer restituir ao povo todos os poderesatualmente detidos pelo Estado.

    A constituio se subdivide, por sua vez, em direitosfundamentais, estes tambm determinados pelo povo. Estalinha significa, justamente, um direito fundamental como, por

    exemplo, a liberdade de imprensa, etc. Ou o direito queregula a propriedade da terra. Ou a questo de propriedadedos meios de produo. Ou a questo da paridade entrehomem e mulher. Ou a questo do exrcito e dosarmamentos.

    Mas a questo fundamental em poucas palavras a gesto da renda nacional na sociedade democrtica. Este o ponto. Sabemos que uma larga fatia da renda nacionalpublica sugada por operaes desprovidas de sentido, queno jogam, decerto, a favor da coletividade.

    justo que uma minoria, um governo, decida comoadministrar o dinheiro pblico? Ou esta no seria umadeciso da qual toda a comunidade deveria participar?

    Mais ainda porque o dinheiro que constitui a rendanacional de um pas , de fato, fruto do trabalho de toda acoletividade. Logo, absurdo que uma minoria seja chamadaa decidir, sozinha, sobre a gesto econmica de um pas.

    Visto que estamos juntos, falando de economia, eisum smbolo que representa a unidade econmicafundamental: a empresa de produo.

    A renda nacional soma de tudo o que foi produzidopela coletividade no mbito do processo de produo. Odireito, por outro lado, no produz valores econmicos. E

    menos ainda o sistema escolar/educativo que, muito pelocontrrio, depende do sistema econmico para seu prpriosustento. A mais-valia nasce no que, em termos econmicos,

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    definido como unidade de produo.De onde se origina a mais-valia? Creio que posso

    afirmar que ela nasce da criatividade humana. Se quisermosrecorrer a uma frmula, poderamos escrever: mais-valia =criatividade, criatividade = renda nacional.

    Guttuso: A mais-valia aumentou os lucros, noaumentou a renda nacional.

    Beuys: Exato. J falei de minha tendncia a antecipar

    os tempos. Meu discurso referia-se a um sistema que aindano existe. Nunca se experimentou um conceito limpo dedemocracia, de socialismo e de liberdade, pois vivemos emEstados unitrios nos quais estes conceitos so malaplicados, e alm do mais em condies de poucatransparncia.

    Nos nossos ditos Estados Unitrios (e por issodesaprovo e creio que outros deveriam fazer os mesmo),estes conceitos so tratados de modo absolutamenteirracional. Mas este fenmeno no poder durar parasempre. A mais-valia ter de deixar de enriquecer apenas os

    capitalistas e voltar s origens, ou seja, ao povo, de cujacriatividade foi gerada.Obviamente, uma parte da mais-valia ter que ser

    reinvestida em virtude do rpido envelhecimento dasestruturas econmicas.

    Na seqncia da discusso, ficar claro por que, aofalar de revoluo, eu parti do conceito de criatividade. Omarxismo tentou, de modo extremamente unilateral, fazercom que a revoluo nascesse do sistema produtivo. Nstemos que modificar esta lgica fazendo com que omovimento revolucionrio nasa do pensamento, da arte e dacincia.

    No pretendo com isso diminuir a validade da anlisemarxista. Marx forneceu-nos uma anlise genial da situaodo seu tempo, ou seja, do existente. Sua anlise no tem,no entanto, um alcance prospectivo em relao a umasociedade nova, mesmo por que, se ele procedesse assim,poderia incorrer nos riscos da contradio.

    O jovem Marx, mesmo tendo partido o conceito deliberdade, descuidou-se em seguida de sua sucessivaevoluo analtica. Sua formao cultural, especialmenteeconmica, levou-o a dar respostas exclusivamenteeconmicas a todas as instncias revolucionrias. Noconseguiu, porm, sintetizar um modelo revolucionrio nemum modelo de transformao social.

    Neste ponto, voltando ao conceito de arte, queroafirmar, e em tons decididamente radicais, que somente aarte pode ser revolucionria, seguida, em segundo lugar,pela cincia.

    Retomando um conceito exposto precedentemente,posso afirmar que a revoluo s pode brotar da liberdade,de um modelo radical de liberdade, da arte. Mas queroexplicar por que, a meu ver, a cincia limita-se a ocupar osegundo lugar nesta escala de valores revolucionrios.

    Qual a relao que une a arte ao conceito de

    liberdade? Impe-se neste momento uma digresso sobreesttica.Tambm a cincia, obviamente, criativa. Mas vamos

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    dar um passo atrs e voltar ao conceito de liberdade. Ocientista livre na medida em que livre paraautodeterminar o seu pensamento. Mas tal liberdade acabano exato momento em que o pensamento deve subordinar-se s exigncias da lgica: o vnculo do pensamento lgicorepresenta, portanto, o limite intrnseco do conceitocientfico.

    Schiller, sendo um esteta, afirmou algo extremamente

    justo: a liberdade, em sua forma mais pura e absoluta, spode ser encontrada na atividade ldica.

    O ser humano , por sua natureza, sujeito a mltiploscondicionamentos externos: exemplo disso a prprianecessidade de assumir a posio ereta. As necessidades lheso impostas pelo ambiente mesmo que o circunda. Masgraas sua liberdade o homem tambm tem a capacidadede modificar as condies do mundo externo.

    Voltemos agora um pouquinho atrs e tentemoscompreender qual a essncia da liberdade humana. Parafaz-lo, temos que aprofundar nossa conscincia do conceito

    de arte e do conceito de cincia, pois ai, nestes doisconceitos, que residem s bases da criatividade humana.O cientista tem capacidade de intervir nas condies de

    um ambiente desfavorvel basta observer o que aconteceno campo tecnolgico e de modific-las. Foi assim queGalileu e Einstein contriburam para o crescimento doconhecimento humano. Ambos fizeram uso de sua liberdade.Mas no se tratava, em caso algum, de liberdade absoluta.

    A cincia, ao modificar as condies ambientais, coloca-se como elemento revolucionrio. Mas trata-se efetivamentede liberdade no sentido pleno da palavra? A liberdadecientfica tem seu limite na imprescindvel exigncia de

    pensamento lgico.Ns queremos um novo modo de intervir sobre o

    ambiente e modific-lo, um modo no qual o homem possavaler-se, de forma plena e radical, de sua liberdade.Exatamente como acontece no campo da arte. E a esterespeito gostaria de citar Schiller ainda mais uma vez,quando ele afirma: Apenas o homem que joga, livre dosvnculos da lgica, sensvel apenas as injunes do belo e daesttica, apenas o homem que se autodetermina umhomem livre. Esta , ao meu ver,a liberdade absoluta.

    Considero Schiller o representante mximo dos estetas.Ele afirma que o homem s homem ao jogar, e quesomente no jogar livre. E como tal, um verdadeiro homem!

    A arte entendida, portanto, em sentido ldico: esta aexpresso mais radical da liberdade humana.

    Amlio (da sala): Posso fazer uma pergunta? O senhorfala de cincia, mas talvez se refira a uma cincia emparticular? Existiria uma cincia de tipo capitalista?

    Beuys: Voltarei em seguida a este ponto. Antesgostaria de falar da cincia ocidental em geral. Em vez decincia poderia usar o termo conhecimento.

    Pretendo falar do conhecimento em geral, semnenhuma referncia cincia capitalista, medieval ou dos

    tempos modernos. Daquele conceito mesmo de cincia queremonta aos tempos de Plato e que se pode, sem dvidas,definir-se como de matriz ocidental.

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    No interior desta cincia, o cientista livre para decidirsobre seu pensamento e sobre o tipo de abordagem com aqual afrontar um determinado problema, mas sua liberdadepra diante das exigncias e dos vnculos da lgica.

    Da sala: No so as leis da lgica, mas a estruturaclassicista da sociedade que bloqueia a liberdade cientfica.

    Beuys: Esta uma limitao posterior.Gostaria de falar em primeiro lugar dos fundamentos

    tericos do conhecimento e apenas em um segundo tempoda classificao que nossa sociedade deu a cincia.Comecemos por analisar o conceito de liberdade! Eu j disseque necessidade e liberdade encontram-se toda vez queo cientista se v obrigado a confrontar-se com as leis danatureza. O cientista dispe, de fato, de um amplo potencialde liberdade e de autodeterminao que, normalmente, usaat o ponto de encontro-confronto com as exigncias dalgica. Pergunto-me se o cientista tem conscincia domtodo implcito no conceito da cincia.

    Gostaria agora de analisar em termos obviamente

    genricos, o conceito de conhecimento. Como j ouviafirmarem da sala, atualmente temos que lidar com umconceito muito preciso de cincia.

    Trata-se de um conceito extremamente limitado,referente unicamente as cincias naturais ou cinciasexatas. Ou seja, de um conceito positivista, materialista eatomista.

    Ao dizer isso, preciso acrescentar tambm que oconceito atual de cincia tem uma validade extremamenteparcial, que por certo no pode se referir a todos osproblemas do homem, porque est baseadopreponderantemente nas leis da matria. E aquilo que se

    refere matria no pode, necessariamente, referir-se vida.

    Tomo Plato como referncia, pois tudo aquilo que serefere ao conceito de conhecimento tem incio com Plato.

    Na filosofia ocidental, Plato assinala o incio doprocesso analtico.

    Da sala: Por que Plato e no os pr-socrticos?Beuys: Citei Plato intencionalmente, pois os pr-

    socrticos ainda eram muito ligados a premissas mitolgicas.Quero definir um conceito de cincia baseado no mtodoanaltico, orientado para o conhecimento com implicaesreligiosas, ainda fortemente ligado mitologia. Queroseparar o conceito de cincia moderna, assim como entendido hoje, de outras formas de conhecimento, como aclarividncia ou a mstica.

    Foi com Plato que, pela primeira vez, a razo,entendida como princpio supremo, assumiu a primazia sobreoutras formas de conhecimento.

    A razo respeita as leis da lgica. Na histria ocidentalfoi progressivamente afirmando-se um conceito de cinciaque abraa a compreenso dos fenmenos fsicos ematemticos.

    Gostaria que todos nos dssemos conta do longo

    percurso evolutivo que levou formao daquela que hojechamamos de nossa cultura, nossa civilizao.Considero que muito importante conseguir

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    desenvolver uma conscincia do mtodo, enquantoconhecimento da maneira como, no curso da histria, foi setransformando o conhecer humano.

    De Plato a Aristteles, atravs de Descartes, Kant,Hegel, Darwin, Marx, etc: este o percurso evolutivo quelevou a um conceito de cincia baseado essencialmente namatria.

    Vou escrever agora desenvolvimento do pensamento

    ocidental, pois um bom conceito: trata-se de um conceitode cincia que nasce inicialmente da filosofia, mas que sersucessivamente retomado por naturalistas etc, mais oumenos nos anos em que, com Darwin e Hegel, teve incio afsica moderna, determinando uma ciso cada vez mais ntidaem relao a disciplinas de inspirao religiosa ou, dequalquer forma em relao a dogmas ou ensinamentostransmitidos pela cultura da tradio.

    Assim, de um lado temos gente como Immanuel Kant,Hegel e mesmo Marx; e de outro, um naturalista comoHellholz. ()

    () Deixem-me apenas concluir o pensamento queestava expondo acerca do conceito atual da cincia. Umconceito que foi pouco a pouco se restringindo. O conceitoocidental de cincia foi se concentrando no mximo rigor daanlise e na mxima observncia das leis naturais, atadquirir um carter de extrema especificidade. Na prtica, oque restou de uma concepo abrangente, global de cinciafoi somente o estudo dos fenmenos referentes matria es leis naturais ().

    () Gostaria de insistir em um conceito: a cinciamoderna, assim como concebida na moderna civilizaoocidental, teve inicio com Plato para em seguida

    desenvolver-se e modificar-se at que se transformasse noque atualmente, um conceito com conotaesmarcadamente positivistas, atomistas e materialistas.

    Um conceito que se adapta perfeitamente ao estudo eao conhecimento da matria e, logo, ao estudo e aodesenvolvimento da tecnologia.

    Um conceito, portanto, que pode ser admiravelmenteaplicado evoluo tecnolgica. E evoluo das mquinas.E como as mquinas so de maneira intensiva das leisnaturais e da prpria matria, esta mesma cincia dispeassim dos melhores pressupostos para a criao de novastecnologias. No , porem, assim to evidente que ela sejacapaz de controlar suas implicaes de carter sociolgico.

    E agora vamos adiante, gostaria, de fato, de passar ()

    () sabemos que a contagem de nosso tempo partedaquele que historicamente definido como o Ano Zero. Masseria interessante que todos ns dssemos conta, de umavez por todas, de que todas as nossas datas partem do anodo nascimento de Jesus Cristo.

    Amlio: Mas o senhor no acabou de dizer que tudocomeava com Plato?

    Beuys: Plato remonta mais ou menos a mesma poca.

    E de resto no estou me referindo a um ano em particular,mas antes a uma poca histrica, a mesma em que teveincio o pensamento analtico da humanidade.

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    Gostaria de tentar fixar um conceito. No final destapoca evolutiva, o materialismo cientfico provocou aproduo de um novo conceito, o conceito de sociologia. Naprtica, foi o prprio Marx quem forjou este novo termo,mesmo se por sociologia entende-se tudo aquilo que dizrespeito ao interesse e ao cuidado com o prximo. Tanto queseria de se perguntar se tal conceito no estaria recolocando,de forma cientificamente revista e corrigida, as mesmas

    finalidades que foram antecipadas por aquele antigo autorque nasceu no Ano Zero e morreu 33 anos depois. Cristotambm disse: Eu vos tornarei livres! Gostaria deevidenciar o paralelismo que existe entre estes doisacontecimentos. Mas remonto agora ao conceito de cinciaque levou ao materialismo.

    Da sala: repita mais uma vez por favor.Beuys: eu disse que a origem do moderno pensamento

    cientfico aquele mesmo que de pensamento totalizante eabrangente foi se reduzindo progressivamente a uma simplessomatria de valores mensurveis (medir, pesar, contar so

    termos recorrentes) remonta, na prtica, a uma pocaparalela ao perodo compreendido entre o nascimento e amorte de Cristo. Foi naquela poca histrica, e de uma formageral, na mesma parte do mundo em que nasceu e sedifundiu o cristianismo, que teve inicio o longo processoevolutivo que levaria a consolidao do pensamento cientficoassim como ns o conhecemos hoje.

    Da sala: ento, se entendo bem, os dois processostiveram um caminho evolutivo paralelo.

    Beuys: supe-se, a bem dizer, que pode ter sido umnico processo. J expliquei como o pensamento cientficoocidental despiu-se de todas as implicaes de natureza

    mitolgica at alcanar as formas mais concisas e sintticasdo materialismo.

    Trata-se agora de estabelecer se este processo desucessiva reduo foi realmente um processo deemancipao, e portanto, de libertao de qualquer tipo desuperestrutura criada pelo esprito humano.

    Querendo aceitar a hiptese de que se tratavarealmente de um processo de libertao, vem-me a mentede imediato uma dupla ordem de interrogaes do tipo: comoteve lugar a libertao? E sobretudo, libertao de que?

    Se houver pontos pouco claros seria interessanteabord-los logo para esclarec-los. Caso contrrio, proponhoque continuemos, e passemos anlise do carteremancipatrio implcito no conceito moderno de cincia.Todos de acordo? Direi ento qual a minha opinio a esserespeito. Considero que o homem tenha se libertado do pesode tantas antigas superestruturas e, em particular, de velhasimplicaes de tipo religioso (o poder do grande sacerdote nombito da comunidade, o poder dos ancios no mbito dafamlia ou do grupo: poderes tais que anulavam qualquerliberdade de tipo individual).

    Tentarei fazer uma interpretao extremamentepragmtica daquilo que expus at agora. Outrora o homem

    era vinculado aos condicionamentos impostos pela tradio.A convico religiosa era um fator determinante nasociedade, que era ento dominada pelos sacerdotes e pelos

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    ancios. Uma sociedade, por conseguinte, baseada emvalores espirituais, uma sociedade fortemente coletivizada e,como tal, desprovida de qualquer forma de individualismo. Ocoletivo vivido, portanto, como aniquilao total da liberdadeindividual.

    Se nesse ponto algum quiser fazer alguma pergunta,estou pronto para responder.

    Eu disse, ento, que o homem liberou seu pensamento

    de qualquer patrimnio de espiritualidade e de transparnciaatravs de um mtodo de progressiva concentrao doprprio pensamento e do conhecimento na matria.

    Mas gostaria ainda de chamar a teno de todos para oparalelismo existente entre os acontecimentos do Ano Zero.E portanto para a figura de Cristo, pois Cristo tambm fez daliberdade do homem um dos pontos fortes de sua doutrina.

    Cristo dizia: Eu vos farei livres! Logo no posso deixarde considerar que, parte as afirmaes da Plato e asrepercusses de seu pensamento sobre a histria da filosofiaocidental, este princpio cristo teve, sobre a evoluo do

    conceito de cincia, uma incidncia maior do que aquela queteve sobre as igrejas.Digo isso porque as Igrejas so instituies que

    jogaram o homem em condies de no-liberdade, namedida em que repropem os antigos vnculos da tradiomitolgica. As igrejas marcaram tambm um retorno aocoletivo, ao antigo, ao velho mundo j ento superado. Nasigrejas no se encontra nenhuma correspondncia com oconceito de emancipao postulado pelo cristianismo,conceito que, ao contrario, encontrou uma realizao maispontual no mbito da cincia.

    claro, nesse ponto, o paralelismo de intenes entre

    o pensamento de Cristo e o pensamento cientfico: liberar ohomem e, sobretudo liberar-lhe o pensamento. Este Cristoe esta sua linha de ao. (desenho)

    Gostaria de retornar ao conceito de sociologia, isto ,de fraternidade. Uma outra analogia entre pensamentomaterialista, embora em termos cientficos ela se apresentecomo uma derivao direta da anlise econmica feita porMarx.

    J disse antes que o jovem Marx tomou como ponto departida, no incio de seus estudos, a doutrina crist. Suaateno de estudioso e pensador concentrava-se nos anosjuvenis, no conceito de liberdade.

    Mas como o passar dos anos, estando ele j imersonos estudos de tipo econmico, abandonou aquela linha depensamento para concentrar-se no aprofundamento daanlise das condies e relaes que governam a economia.Matria esta que nada mais tinha em comum com ocristianismo.

    Gattuso: Recuso-me a fazer esta distino, atualmenteusada abusivamente e tambm bastante superada, entre ojovem Marx e o Marx economista, pois claro que Marxchegou a estabelecer uma teoria econmica geral da histriada sociedade como luta de classe, uma teoria econmica

    baseada naquilo que todos conhecemos, atravs de seusestudos juvenis, voltados para a pessoa humana. Porque nose pode chegar a uma teoria geral da sociedade sem

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    conhecer a pessoa humana. Porque qualquer teoria que noparta da pessoa humana uma teoria abstrata que noserve a ningum e no pode levar ao grande resultado que omarxismo conseguiu, como o cristianismo. Porque ocristianismo justamente a mesma coisa. claro: estamosde acordo. Mas no vamos fazer distines excessivas entreo jovem Marx etc.

    Beuys: Estou de acordo com voc. Mas queria dizer

    outra coisa. No pretendia destacar tanto a distino entrejovem Marx e o Marx comunista, mas antes, ao contrrio,reforar a imagem daquele Marx to marcadamente dotadode capacidades analticas; daquele que soube analisar edescrever to especificamente as relaes econmicas e omecanismo que induz a maioria os homens a submeter-se aojogo do mundo capitalista. Ele foi genial ao elaborar estateoria analtica; esqueceu, porem, de traar um modelo deliberdade, e sua anlise foi sucessivamente focalizando-secada vez mais nas relaes de produo que regulam aeconomia.

    Devo precisar mais uma vez que Marx no fez doconceito de liberdade o seu ponto de fora, o conceitorevolucionrio dominante em sua filosofia.

    Amlio, gostaria e dar um passo atrs.Vimos que nos ensinamentos de Cristo so recorrentes

    as palavras: Eu vos farei livres!E demonstrei tambm como a evoluo do pensamento

    analtico ocidental restitui ao homem o livre individualismo. E apenas em virtude desta capacidade que o homem podecaracterizar-se hoje como um sujeito poltico, capaz deautodeterminar-se. Se a evoluo histrica no lhe tivesserestitudo a integridade do pensamento individual, o homem

    no estaria certamente em condies de fazer face autodeterminao.

    Mas repito ainda mais uma vez: o cristianismo no serealizou nas igrejas tanto quanto na evoluo do pensamentocientfico ocidental.

    O preo pago por este resultado foi o isolamentointelectual do homem.

    Pois a afirmao da autodeterminao e do livrepensamento se fez acompanhar por um crescimento doegosmo, um conceito que impede ou pelo menos torna difcila instaurao daquela ponte ideal que deveria unir osindivduos entre si.

    E neste contexto insere-se um homem que da cinciapositivista, ou seja, do estudo pragmtico da economiapoltica consegue elaborar e precisar o conceito de sociologia.

    Amlio: Quem? Que homem?Beuys: Marx! Ele desenvolveu, sob o nome de

    sociologia, aqueles mesmos postulados que Cristo, muitosanos antes, chamara de amor. Em outras palavras, diantede uma perigosa tendncia ao isolamento, ele conseguiuencontrar a nica liga que poderia tornar possvel onascimento e a consolidao das relaes inter-humanas.

    Terminada esta primeira enunciao dos princpios

    fundamentais que norteiam o conceito de pensamentocientfico, preciso repetir, de uma vez por todas, que asinstncias avanadas por homens que, como Marx, refletiram

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    e estudaram longamente sobre a relao do homem comooutro homem no encontram espao no pensamentocientfico positivista.

    As problemticas inerentes s relaes humanas e aoconceito de solidariedade no fazem parte da bagagem deinteresses do pensamento positivista, dedicadoexclusivamente ao estudo da matria inanimada e das leisfsicas que regulam seu comportamento.

    Isso um dado de fato. Mas as razes, as causas quedeterminam as condies atuais do indivduo remontam apocas muito anteriores quela da sociedade burguesa, frutoda estrutura social imposta pelo capitalismo. E esta ltima ,por sua vez, produto de condies histricas precedentes.

    A histria com efeito mostrou-nos que, por volta dofinal do sculo passado, no perodo compreendido entre 1860e 1880, teve lugar uma revoluo burguesa que, de fato,alargou a participao no processo criativo, estendendo-a aum nmero maior de indivduos. A revoluo burguesa foiuma revolta vencedora contra a preexistente sociedade

    feudal.Repito, portanto, para fixar o conceito: assistimos auma revoluo burguesa que permitiu a participao de ummaior nmero de indivduos nos processos criativos (cincia,arte etc.). Quais foram os instrumentos que tornarampossvel o sucesso da revoluo burguesa?

    A revoluo industrial , efetivamente, a seqncialgica da revoluo burguesa. Podemos, portanto, afirmartranqilamente que a poca da revoluo burguesa ainda noteve seu ocaso, pois prossegue na poca atual. Quando osburgueses tomaram conscincia do nascimento de uma novaclasse social, o proletariado, comportaram-se exatamente

    como senhores feudais antes deles, utilizando o conceitopositivista de cincia como instrumento de represso e demarginalizao de uma maioria de indivduos de um processode revoluo permanente.

    Notamos, de fato, que aquele mesmo movimentorevolucionrio que abrira para as massas a participao noprocesso criativo hoje exauriu o seu papel propulsor. Opensamento positivista burgus impede por exemplo, nasescolas a expanso do processo revolucionrio. Exatamentecomo o conceito positivista de cincia, que em um primeiromomento mostrara-se revolucionrio, impede hoje odesenvolvimento da sociologia.

    Hoje j estamos assistindo s tentativas do sistemacapitalista de instrumentalizar o conceito de cincia parareproduzir uma classe de tecnocratas que seja homognea efuncional em relao ao sistema.

    Guttuso: Que joga exatamente com o enormedesenvolvimento da cincia tecnolgica e com atraso dasconscincias, do desenvolvimento moral e social que havia.

    Amlio: Mas ele at usa isso, tenta aumentar adefasagem existente entre a tecnologia e a conscincia dosindivduos. Usa, portanto, o conceito de cincia paraincrementar a tecnologia s expensas da sociologia.

    Beuys: O conceito positivista de cincia antesrevolucionrio hoje voltou-se contra o homem. Isso nosignifica, obviamente, que queremos refutar ou renunciar ao

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    processo tecnolgico.Pois a sociedade, e logo todos os homens, ter

    necessidade, no futuro, de uma tecnologia mais avanada eportanto mais produtiva.

    Mas o desenvolvimento de uma tecnologia desse tipo,mais avanada e mais produtiva, que possa ser posta aservio de todos os homens, dificultado e desviado pelosistema capitalista, interessado unicamente na prpria auto-

    reproduo, ou seja, na satisfao de suas necessidades deauto-reproduo.

    Algum tem perguntas a fazer?Da sala: Queramos saber por que voc considera o

    mtodo positivista um mtodo revolucionrio.Beuys: J tentei explicar que o mtodo positivista foi

    revolucionrio no momento em que a burguesia serviu-sedele para insurgir-se contra o poder dos senhores feudais.Os propulsores e autores da revoluo antifeudal, aquelamesma que permitiu a ampliao da participao criativa,no eram aristocratas, mas burgueses como Faraday,

    Lavoisier etc. Eles serviram-se da cincia positivista paradesencadear a revoluo contra os privilgios criativos daaristocracia, e tiveram sucesso.

    (Pergunta da sala, no perfeitamente audvel aomicrofone. A voz do pblico no est de acordo com estainterpretao do positivismo. Considera que ele umamanifestao da realidade, enquanto o marxismo exprimeuma vontade de modificao da realidade.)

    Beuys: estou de acordo com a senhora. Mas continuo aquerer entender de que maneira, exatamente, formou-se oatual conceito de cincia.

    Voz da sala: talvez no tenha ficado claro o sentido da

    pergunta. O senhor afirmou que a cincia positivista, em umdeterminado perodo histrico, foi revolucionria, e a senhorano est de acordo com esta afirmao.

    Beuys: O conceito positivista de cincia no maisrevolucionrio, hoje, na medida em que est voltadoexclusivamente para o desenvolvimento da tecnologia e darevoluo industrial. Para o futuro, prev-se umaconsolidao do conceito positivista, atomista e materialista,na qual no haver mais espao para implicaes denatureza sociolgica e psicolgica, com um conseqenteaumento da alienao do homem, privado de suaespiritualidade e debilitado em sua vontade e em suacapacidade de autodeterminao.

    Voz do pblico: Mas para voltar pergunta, estemesmo conceito, quando surgiu, teve efeitos revolucionrios.

    Beuys: Certo, era revolucionrio. O desenvolvimentotecnolgico a que assistimos nesta nossa poca tornou-sepossvel graas vitria da revoluo burguesa.

    (Uma senhora do pblico rebate dizendo que o conceitode cincia nunca foi revolucionrio, pois desde sempre foiinstrumento da classe dominante.)

    Beuys: Sim, mas no se pode esquecer o poderabsoluto de que gozavam os senhores da nobreza em relao

    ao outros homens. Estes ltimos eram, por assim dizer,simples escravos. A revoluo burguesa fez, sim, com queum nmero sempre maior de indivduos se arrogasse o

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    direito de se apoderar dos instrumentos da cultura. E dequalquer forma a revoluo burguesa certamente fez comque uma ampla maioria comeasse a ter acesso aosprocessos de formao e de criao.

    Voz do pblico: O conceito de revoluo , portanto,relativo.

    Beuys: Relativo. A revoluo burguesa produziu estesefeitos.

    Pblico: Marx a chama de a grande revoluoBeuys: Eu tambm a chamo assim, pois ainda vivemos

    nesta fase revolucionria. Mas precisamos de uma revoluomuito, muito maior.

    Menna: O senhor falou ento da criatividade da artecomo de uma das formas fundamentais de libertao dohomem.

    Beuys: Sim, comecei afirmando este conceito.Menna: Depois falou do pensamento analtico como de

    um outro fator de libertao do homem. Ento eu gostaria desaber que relao existe entre criatividade e pensamento

    analtico; e quais so os modos, paralelos ou diversos, comque estas duas faculdades contribuem para a libertao dohomem.

    Beuys: J tentei explicar, anteriormente, que caminhospercorreu, no curso da histria, a criatividade humana ecomo mtodo analtico materialista foi visto como umprimeiro passo em direo a um processo mais amplo deemancipao do homem. E expliquei tambm como, em umdado momento da histria da civilizao ocidental moderna, omtodo analtico mostrou-se revolucionrio.

    Hoje assistimos a uma ntida inverso de tendnciadesta funo liberadora inicial, e o mtodo analtico, na falta

    de mtodos novos, tem resultado regressivo e anti-revolucionrio.

    Amlio: Mas quais so estes novos mtodos?Beuys: No tenho receitas a propor para a soluo

    desse problema. Considero que o primeiro passo consiste emtomar conscincia, de forma completa e exaustiva, dasituao atual, e para faz-lo necessrio relacionar todos osaspectos do presente com as indicaes que nos vem daevoluo histrica.

    Por uma questo de praticidade, responderei dizendoque devemos dedicar uma maior ateno analtica aopensamento poltico e aos vrios mbitos do social sobre oqual age tal pensamento e, em particular, ao mbito da arte,da cincia, da escola, dos mass media etc.

    E veremos, justo no mbito de nosso sistema, quopouco os governos, as instituies, em particular nos paseseuropeus, esto dispostos a conceder ao financiamento e renovao da escola e da cultura.

    Vivendo na Alemanha, no conheo a situao italiana eno me sinto, portanto, autorizado a expressar-me sobreesta realidade especfica.

    Gostaria agora de precisar que a vanguarda poltica nopode mais ser identificada com a classe operria, mas sim

    com os estudantes, pois so os estudantes que tomaramrealmente conscincia das contradies do sistema, quemostrou justamente nas escolas as suas falhas mais

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    evidentes, At mesmo o debate atual sobre o socialismo esobre uma sociedade nova e diversa no toma impulso naclasse operria, mas na vanguarda poltica dos estudantes.

    Amlio: Fale-nos da experincia da escola livre ealternativa que o senhor levou adiante em Dsseldorf.

    Beuys: No h escola que no tenha experimentado adificuldade de encontrar os meios de que necessita. A partirdessa constatao, os estudantes desenvolvem uma

    conscincia revolucionria que vem assumindo conotaes demovimento revolucionrio como j acontecia nos temposde Rudy Dutscheke.

    Os estudantes tomaram conscincia de como e quandoo homem esmagado pelo sistema, e de como a sociologia, no por acaso, a grande marginalizada entre todas asdisciplinas.

    Em uma primeira fase, o movimento estudantil valeu-sedo conceito burgus, tradicional, positivista de cincia paralevar adiante as transformaes e o desenvolvimento dasociologia. E foi um erro. Nesta primeira fase, os

    movimentos de esquerda nunca perderam a chance de seexpressar desfavoravelmente sobre a arte, considera umproduto suprfluo e secundrio em relao a outrosconsiderados prioritrios, em sentido revolucionrio.

    Trata-se, na prtica, da teoria das superestruturas.Mantenho desde o incio a opinio de que o conceito

    positivista, burgus de cincia, no pode representar ummtodos prtico para o desenvolvimento da sociologia, deque somente na arte e atravs da arte pode-se encontrar uminstrumento e um mtodo de realizao e dedesenvolvimento.

    A arte reprope, portanto, o problema da criatividade

    total.A revoluo pode nascer apenas da liberdade do

    homem.Pode nascer apenas de um novo modo de pensar, pois

    somente as novas idias podem levar realizao de umanova realidade.

    E segundo a frmula que tracei no incio, a criatividade parte da renda nacional de um pas.

    Voz da sala: Como se pode colocar tudo isso emprtica?

    Beuys: Eu me expressei em termos muito prticos.Falei do sistema escolar-educativo dos nossos pases e decomo nossos sistemas atuais negligenciam, intencionalmente,a escola. Mas, tendo que definir a ao concreta, diria quetodos temos que dar nossa contribuio para uma tomada deconscincia coletiva, tentando impedir que as pessoascontinuem a sustentar o sistema poltico atual.

    Mas quais seriam as causas de uma relao socialassim to negativa? O sistema! E qual sistema? Como definiro atual sistema dominante? Poderamos minimizar oproblema respondendo: o sistema capitalista. Mas a questono to simples assim, exige maior preciso. O sistemacapitalista tpico de um ordenamento poltico bem preciso

    que chamaremos de sistema dos partidos ou ditadura dospartidos.O termo democracia significa, ao contrrio, poder do

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    povo.No momento em que eu, escolhendo a via da

    delegao, voto por um partido poltico, no fao senorenunciar voluntariamente expresso da minha vontade, ouseja, renuncio minha prpria faculdade de voto.

    Como realizar, concretamente, uma democracia? Este o problema central.

    Temos que fazer com que os homens tomem

    conscincia do verdadeiro conceito de democracia. O sistemade partidos, o sistema capitalista, apoiado e sustentado porpartidos de todas as naturezas e de todas as tendncias, sejadireita, seja de esquerda. O nico objetivo dos partidos, detodos os partidos, de chagar ao poder. Quanto ao resto,nada os preocupa de verdade.

    As pessoas s parecem interessadas nos partidos nosmomentos eleitorais.

    Os indivduos que realmente querem uma democraciadiversa devem, portanto, organizar-se para realizar aquelaque eu chamo de democracia direta.

    difcil transmitir aos outros a minha intensaconscincia do exclusivo interesse cnico dos partidos emgovernar. E por isso digo basta aos governos!

    Para comunicar-me com meus semelhantes escolhi omtodo da arte, a nica maneira com a qual consigo ajudaros outros a libertarem-se da prpria alienao. Este o tipode organizao que, pessoalmente, dei a mim mesmo pararealizar a democracia direta. uma organizao que refutaos partidos, mas que desenvolve um trabalho extremamenteprtico e concreto.

    (Uma voz do pblico diz que os partidos, por maisimperfeitos que sejam, servem como instrumento, como

    meios de libertao. O orador acredita na exigncia dopartido como instrumento de libertao do homem. Declara-se de acordo com Beuys no juzo negativo que ele faz dospartidos, mas depois reafirma o papel insubstituvel dopartido como instrumento ativo no processo de libertao dohomem).

    Beuys: um direito seu; uma livre escolha. Eu noposso seno desejar o mximo crescimento dessa prtica deliberdade individual, que representa o princpio basilar domeu pensamento. Do meu canto, insisto em que soupessoalmente convencido de que os partidos esto voltadosexclusivamente para a obteno do poder e, coerentemente,recuso este domnio de uma minoria sobre a maioria doshomens.

    So conhecidas de todos, h muito tempo, as misriasdos partidos polticos.

    Amlio: Quero dizer justamente isso. Que existe umproblema muito importante, o da estrutura da fora agressivado homem contra o homem. Menna diz que em sua opinio,os prprios partidos so portadores dessa agressividade, oumelhor, que a agressividade do homem contra o homempassa atravs da estrutura dos partidos. E o senhor se rebelacontra esta tipo de estrutura.

    Beuys: Quero tomar como exemplo o pensamento do PartidoComunista Alemo, que age no sentido exatamente contrrioquele que so as minhas reivindicaes. L onde reivindico

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    uma maior liberdade criativa e uma maior possibilidade deautodeterminao, como por exemplo, no mbito da escola,da instruo, o Partido Comunista exige um controle aindamais severo por parte do Estado, prometendo controles maisrigorosos e diretos para quando finalmente tiver chegado aopoder. Na prtica, o significado dessas afirmaes que opartido no contrrio a uma escola programada econtrolada, mas apenas contra o atual governo; e que,

    uma vez no poder, o controle do sistema escolar ser aindamais rgido que o atual.

    Um exemplo que, mais uma vez, exprime apenaspreocupaes de tipo governativo. As pessoas noconseguem sequer conceber o verdadeiro conceito dedemocracia. Democracia significa literalmente, poder aopovo.

    Ento, evidente que o Partido Comunista Alemo condicionado por sua ideologia. Portanto, no momento emque tomar o poder, sua ideologia ir transformar-se em umfator coercitivo do mesmo tipo e da mesma virulncia que

    uma ideologia fascista. E isso negativo. No futuro, nopoder mais acontecer que uma minoria, seja ela aexpresso de um credo filosfico ou ideolgico, exercite oseu poder opressivo sobre os outros homens.

    Menna: A democracia direta um ponto de chegada,como a liberdade um ponto de chegada. Quando voc faloudas trs dimenses liberdade, democracia, socialismo no levou em conta o fato de que a palavra liberdade deviaser escrita sob democracia e sob socialismo, isto , aliberdade no , em si, um conceito que possa excluir asformas atravs das quais se realiza. A liberdade se realizaatravs de certas formas. A democracia socialismo,

    portanto, sob as palavras democracia e socialismo deve-seescrever liberdade. A liberdade uma conquista.

    Beuys: Concordo com voc acerca do fato de que aliberdade deve ser colocada em primeiro lugar. No estou,porm, de acordo sobre o fato de que se possa obterliberdade partindo de pressupostos e de condies denatureza econmica. Estes conceitos, conformes aoensinamento marxista foram aplicados durante toda aprimeira metade do sculo nos chamados Estadossocialistas.

    Hoje, somos obrigados a constatar que nesseschamados Estados socialistas e na Rssia Sovitica hmenos liberdade do que aquela que existe em nossos pases.()

    () Para concluir, gostaria de voltar a um ponto.Deixarei de falar dos pases em via de desenvolvimento evou me limitar aos pases industrializados em que existeideologia poltica sejam eles pases do bloco oriental oumesmo as chamadas democracias socialistas (um conceitoa meu ver, totalmente desprovido de significado, dada aausncia de liberdade) ou as chamadas democracias fictciasou democracias formais de nossos pases democraciasrepresentativas ou parlamentares. Em todos esses sistemas,

    assistiremos em um futuro prximo a um fenmeno deaumento do nvel de vida. Todos os sistemascompreenderam, de fato, que para manter a paz interna

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    basta elevar o nvel de vida das pessoas. E para fazer issobasta aumentar os salrios, no importa se custa dosaspectos humanos da sociedade!

    O problema que neste momento mais interessa aomundo no um problema de carter econmico, de meiosde produo ao nvel de vida (todos problemas que sereferem preponderantemente aos pases em via dedesenvolvimento); o problema dominante a falta de um

    modelo humano. Falta uma cincia sociolgica adequada sexigncias, falta uma discusso sobre o homem. No suficiente discutir sobre as necessidades econmicas dahumanidade, o mesmo interesse deve voltar-se para asatisfao de suas necessidades espirituais. Como realizar umprocesso de re-humanizao do homem?

    Menna: H o problema do mariner americano que tomabanho trs vezes por dia: vaio fazer um massacre no Vietne depois toma uma ducha; depois Na Amrica eles fazema revoluo do chuveiro, mas l eles fazem a revoluoporque no tem esgotos! Tentemos entender o que o

    homem e depois veremos o que lhe pode ser til; noliberdade e ponto. Porque isso no serve para nada!Guttuso: Mas voc esta fazendo justamente isso. Quer

    dizerBeuys: No entendi o que queria dizer.Tradutor: Disse que o homem tem necessidade de

    ajudas concretas, no bastam as palavras. , portanto,necessrio distinguir com exatido os desejos e asnecessidades.

    Beuys: Somos ns mesmos os melhores juzes denossas necessidades e de nossas aspiraes. Eu, porexemplo, quero um sistema, busco uma estrutura na qual o

    homem seja livre para dar sua prpria contribuio comformas diretas de participao.

    Guttuso: De fato, a participao no exclui o prprioponto de vista pessoal, critico e criativo, pois no hrenuncia.

    Beuys: isso mesmo, mas este primeiro contato com aliberdade, esta fase em que o homem tem plena faculdadede expressar seus desejos, suas necessidades e seuspensamentos, deve ser colocada na fase educativa doindivduo, ou seja, naquele lapso de tempo em que a criana adestrada para se tornar um homem; deve, portanto,encontrar sua sede natural no mbito escolar.

    Mas abstraindo-se o sistema escolar-educativo, todohomem deve ter condies de autodeterminar-se. Epoderamos tambm discutir como aumentar e afinal acriatividade, partindo de uma pequena predisposio inicial.Esta tambm poderia ser uma resposta sua pergunta. ()

    () A cada vez que se discutem temticas de toamplo flego, como criatividade, arte e cincia, recoloca-se oproblema da utilidade real que tais conceitos podem ter parao homem. Seriam estes conceitos realmente teis pra acomunidade, ou seriam conceitos destinados a satisfazerapenas parte mnima das necessidades, mais precisamente

    as referentes ao desenvolvimento tecnolgico?Eis ento que a arte seja no velho, seja no novoconceito a cincia desde que disposta a refletir sobre seu

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    modo de colocar-se conceitualmente procedem em duaslinhas paralelas e agem como estimulo para uma novatomada de conscincia. ()

    () Voz do pblico: parece indubitvel para ir aoencontro daquilo que, a um ver justamente, o prprioGuttuso disse que a estrutura da sociedade que deve serposta em crise. Este o problema que o senhor haviaproposto e que em um certo momento deveria ser

    desenvolvido: o problema da cultura hoje.Beuys: O verdadeiro problema que a cultura

    administrada pelo Estado.Pblico: Isso muito justo, mas no basta. E remeto-

    me tambm a Guttuso. Ento se dissermos que o Estado etudo bem, desde que isso seja verdadeiro, ou seja, que oestado se ope cultura. Eliminando-se ento este estadopor um instante, qual o problema da cultura? Quais so oslados negativos da cultura hoje?

    Beuys: eu j disse antes que a cultura administrada egerenciada pelo Estado, o mesmo Estado que se apropriou do

    conceito de positivismo cientfico, introduzindo-o nas escolascomo modelo educativo.Fabio Mauri: Gostaria de perguntar se Beuys pensa que

    a persuaso verbal um instrumento de luta e se uminstrumento de luta suficiente. Beuys prope um projeto; adidtica dessa escola na qual deveria ter incio a revoluo.Beuys prope que se ocupe as escolas para, em seguida,fazer uma escola livre. Ento eu pergunto: tudo isso podeser feito por meio unicamente da palavra?

    Beuys: Atravs da palavra? No! Atravs da ao. Esta uma batalha em que a persuaso verbal no poderiabastar. Determinante a realizao concreta das idias nas

    aes e nas obras. Com este objetivo, criei em Dsseldorfum verdadeiro escritrio, uma organizao qual aspessoas podem dirigir-se para ter notcias, informaes.

    Mauri: Beuys pensa que o conhecimento, isto , oexato conhecimento de um modo novo e verdadeiro deentender a histria e a prpria identidade atual seriam arevoluo em ao? Ou pensa que o mal existe? Ou seja,pensa que algum pode se opor verdade? Ou seja, pensaque anular um erro significa liberar o homem e que tudo issosignifica realizar esta nova verdade? Ou pode existir tambma possibilidade de no-adeso a esta verdade? Isto , decometer pecado por vontade prpria. E ento, como estasociedade muda ou redime? Pensa que existe apenas erro ouexiste tambm pecado?

    Beuys: claro que existe pecado, alm do erro. Edesse pecado todos ns somos responsveis, no apenas osistema capitalista.

    Mauri: As idias so coisas e devem ser tratadas comoso tratadas as coisas: so objetos que temos diante de ns.

    Beuys: Eu tento trat-las como trato as esculturas.Vejo as idias como uma nova forma de escultura. Creio quetodos ns aqui presentes estamos conscientes da importnciae da urgncia de dar um primeiro passo, de comear a fazer

    alguma coisa. E visto que, limitando-me ao que posso supor,a maior parte de ns pertence classe privilegiada, digo quea culpa nossa tambm e no somente do sistema

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    capitalista. Todos somos chamados, em primeira pessoa,para, engajando-nos, dar nossa contribuio.

    A questo principal consiste em acordar o homem dorefluxo individualista, subtraindo-o do privado. O presente caracterizado em toda parte por uma forte tendncia adespolitizao, privatizao, ao conformismo. tarefanossa fazer, por todos os meios possveis, com que aspessoas voltem a se interessar pelo social, a retomar o seu

    inato sentido coletivismo.Guttuso: acredito que antes de despolitizar-se preciso

    politizar-se. Isso o que penso. No fundo, o discurso comvoc vai muito bem, isto , o discurso com Beuys segue bemat um certo ponto, da em diante no continua bem. Porque? Porque o senhor no acredita em forma alguma. Euacredito nestas formas, em uma ao no interior destasformas.

    Beuys: verdade, no acredito mais nas velhas formas,mas acredito nas formas em geral e estou disposto a crer emnovas formas. No foi por acaso que at constru uma

    organizao.Bom, estupendo! Obrigado!Bibliografia: BEUYS, Joseph. A revoluo somos ns. In Escritos de

    Artisitas: anos 60/70. COTRIM, Cecilia; FERREIRA, Glria (org). Rio de Janeiro.

    Jorge Zahar, 2006

    Postado por Marlucia Aguiar s 06:30

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