BOAS PRÁTICAS DE MANEJO EM PISCICULTURA NA...

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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul BOAS PRÁTICAS DE MANEJO EM PISCICULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR Área Temática: Tecnologia e Produção Betina Muelbert (Coordenadora da Ação de Extensão) Betina Muelbert 1 , Maude Regina de Borba 2 , Sílvia Romão 2 , Bruno Fernandes de Oliveira 2 , Luisa Helena Cazarolli 2 , Josimeire Aparecida Leandrini 2 , Susanna Ziegler 3 , Clarice Antunes 3 , André Santos 4 , Leonardo Cararo 4 , Lucinha Santos 4 , Patrícia Welter 4 , Renato Glowka 4 , Ronaldo de Souza 4 . Palavras-chave: aquicultura, produção de peixes, Cantuquiriguaçu. Resumo: O projeto objetiva inserir boas práticas no cultivo de peixes na agricultura familiar, contribuir com a sustentabilidade econômica e elevar o nível de conhecimento técnico dos pequenos produtores rurais da região. Está sendo desenvolvido (fevereiro 2011 a abril 2012) com 11 agricultores dos municípios de Porto Barreiro e Laranjeiras do Sul (PR) que estão cultivando o jundiá com orientação através de visitas técnicas quinzenais e palestras mensais. Participam da equipe alunos do curso de Engenharia de Aquicultura, professores e técnicos da UFFS. Introdução O território da cidadania Cantuquiriguaçu, abrange 20 municípios do estado do Paraná e reúne cerca de 250 mil habitantes, sendo uma região extremamente carente de serviços públicos, apresentando baixos índices de desenvolvimento sociais e econômicos e altíssimos índices de concentração de renda. A inserção da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) nesta região tipicamente agrícola, caracterizada por pequenas propriedades e culturas de subsistência, encontra na agricultura familiar uma base estruturadora e dinamizadora do processo de desenvolvimento associado à valorização e proposição de novas alternativas para a atual matriz produtiva. O curso de Engenharia de Aquicultura da UFFS tem como objetivo formar profissionais de nível superior, conscientes e comprometidos com o desenvolvimento sustentável e capazes de atender as necessidades sócio- econômicas regionais e nacionais no domínio da Aquicultura. A universidade tem como funções a produção do conhecimento e a formação de recursos humanos qualificados. Este papel consubstancia-se na relação com a sociedade através da extensão como indutora de projetos que visem enfrentar problemas da sociedade. Neste contexto o projeto “Boas práticas de manejo em piscicultura na agricultura familiar” foi aprovado no PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – PROEXT 2010 – MEC/SESu, que abrange projetos de extensão universitária, com ênfase na 1 Doutora em Engenharia de Produção, Curso de Engenharia de Aquicultura, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), [email protected] . 2 Professores - Universidade Federal da Fronteira Sul. 3 Técnicos - Universidade Federal da Fronteira Sul; 4 Alunos bolsistas do Curso de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul.

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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

BOAS PRÁTICAS DE MANEJO EM PISCICULTURA NA AGRICULTURAFAMILIAR

Área Temática: Tecnologia e Produção

Betina Muelbert (Coordenadora da Ação de Extensão)

Betina Muelbert1, Maude Regina de Borba2, Sílvia Romão2, Bruno Fernandes deOliveira2, Luisa Helena Cazarolli2, Josimeire Aparecida Leandrini2, Susanna Ziegler3,

Clarice Antunes3, André Santos4, Leonardo Cararo4, Lucinha Santos4, PatríciaWelter4, Renato Glowka4, Ronaldo de Souza4.

Palavras-chave: aquicultura, produção de peixes, Cantuquiriguaçu.

Resumo:

O projeto objetiva inserir boas práticas no cultivo de peixes na agricultura familiar,contribuir com a sustentabilidade econômica e elevar o nível de conhecimentotécnico dos pequenos produtores rurais da região. Está sendo desenvolvido(fevereiro 2011 a abril 2012) com 11 agricultores dos municípios de Porto Barreiro eLaranjeiras do Sul (PR) que estão cultivando o jundiá com orientação através devisitas técnicas quinzenais e palestras mensais. Participam da equipe alunos docurso de Engenharia de Aquicultura, professores e técnicos da UFFS.

Introdução

O território da cidadania Cantuquiriguaçu, abrange 20 municípios do estadodo Paraná e reúne cerca de 250 mil habitantes, sendo uma região extremamentecarente de serviços públicos, apresentando baixos índices de desenvolvimentosociais e econômicos e altíssimos índices de concentração de renda. A inserção daUniversidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) nesta região tipicamente agrícola,caracterizada por pequenas propriedades e culturas de subsistência, encontra naagricultura familiar uma base estruturadora e dinamizadora do processo dedesenvolvimento associado à valorização e proposição de novas alternativas para aatual matriz produtiva. O curso de Engenharia de Aquicultura da UFFS tem comoobjetivo formar profissionais de nível superior, conscientes e comprometidos com odesenvolvimento sustentável e capazes de atender as necessidades sócio-econômicas regionais e nacionais no domínio da Aquicultura. A universidade temcomo funções a produção do conhecimento e a formação de recursos humanosqualificados. Este papel consubstancia-se na relação com a sociedade através daextensão como indutora de projetos que visem enfrentar problemas da sociedade.Neste contexto o projeto “Boas práticas de manejo em piscicultura na agriculturafamiliar” foi aprovado no PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA – PROEXT2010 – MEC/SESu, que abrange projetos de extensão universitária, com ênfase na

1Doutora em Engenharia de Produção, Curso de Engenharia de Aquicultura, Universidade Federal daFronteira Sul (UFFS), [email protected]. 2Professores - Universidade Federal da FronteiraSul. 3Técnicos - Universidade Federal da Fronteira Sul; 4Alunos bolsistas do Curso de Engenharia deAquicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul.

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inclusão social. A adoção de práticas na piscicultura baseadas na utilização deinsumos provenientes da região, pouca renovação de água e manejo ecológico dosefluentes são fundamentais para o desenvolvimento de uma piscicultura sustentávelque gera impactos positivos do ponto de vista social, ambiental e econômico. Acriação de peixes em pequenas propriedades rurais contribui para o melhoraproveitamento dos recursos disponíveis, incrementa a qualidade nutricional dadieta familiar e gera receita adicional com a comercialização de parte da produção(Kubitza, 2010). Muitos agricultores possuem viveiros escavados com peixes, poréma piscicultura não está inserida na agricultura familiar de maneira técnica esustentável na região. É notória a necessidade da busca de alternativas econômicaspara os agricultores familiares, aliada ao uso sustentável dos recursos naturais. O presente projeto contempla a capacitação e o desenvolvimento de tecnologiasvoltadas ao crescimento e à sustentabilidade ambiental e alimentar, visandocontribuir para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares doTerritório Cantuquiriguaçu.

Metodologia

O projeto está sendo desenvolvido nos municípios de Laranjeiras do Sul e PortoBarreiro (PR, no período de fevereiro de 2011 a abril de 2012) com utilização de3.000 m2 de lâmina de água de viveiros de 11 agricultores familiares (Tabela 1).

Tabela 1- Dados dos agricultores familiares envolvidos no projeto.

Município Localidade Nome do produtor Área decultivo

Laranjeiras do Sul Alto São João Vilmar Pedro e Salete 350 m2

Alto São João Sérgio e Salete 310 m2

Alto São João Mário Darci e Merces 160 m2

Vila Nogueira Damiano e Verônica 200 m2

Assentamento 8 dejunho

Ervino 170 m2

Assentamento 8 dejunho

Olímpio e Antônia 325 m2

Assentamento 8 dejunho

Vilmar e Marilda 550 m2

Porto Barreiro Km 13 (29/03) Francisco e Elza 240 m2

Km 13 (14/05) Everaldo 210 m2

Sede Celso 375m2

Rio Novo Pedro 150 m2

TOTAL 3.040 m2

Os produtores participam de todas as atividades realizadas durante o projeto:cultivo, monitoramento da qualidade da água, elaboração e formulação de rações,cursos e palestras. Os viveiros foram povoados na densidade de 1 peixe/m2 e o

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cultivo terá duração de 8 meses. Os peixes são alimentados com raçãoconsiderando o tamanho e a temperatura da água. A cada dois dias são registradasa temperatura da água pela manhã (07h00min) e a tarde (17h00min). A cada 30 diassão analisados transparência com disco de Secchi, pH, dureza, amônia e oxigêniodissolvido com kit de análise de água (Figura 1).

(a) (b)

(c) (d)Figura 1 - Povoamento do viveiro do Sr. Ervino (a); análise da água do viveiro doSr. Olímpio (b); medição do viveiro do Sr. Celso (c); povoamento do viveiro do Sr.Francisco (d).

O trabalho de campo está sendo acompanhado por 6 bolsistas acadêmicos do cursode engenharia de aquicultura e os produtores são visitados quinzenalmenteAo final do cultivo todos os peixes serão contados, pesados e medidos paraavaliação do crescimento, taxa de sobrevivência (%) e produtividade (kg/ha). Osparâmetros de crescimento a serem determinados para avaliação do cultivo serão:Ganho médio em peso diário (GPD) e Taxa de crescimento específico (TCE%).As rações fornecidas na fase inicial do cultivo são do tipo farelada. Na segunda fase do cultivo uma parte dos produtores (4) alimentará os peixes com uma raçãoartesanal confeccionada com ingredientes orgânicos e os demais (7) alimentarãocom ração comercial. Considerando uma conversão alimentar de 2:1; serãoutilizados 300 kg de ração para a fase inicial e 1.200 kg para a segunda fase de

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engorda. Os produtores aprenderão também a produzir sua própria ração, apóstreinamento, com máquinas moedora e peletizadora. Será adotado sistema de despesca parcial (seletiva), com redes próprias e retiradado peixe que atingir o peso superior a 500 g, aproximadamente após 6 meses decultivo. Para cada agricultor foi elaborada uma planilha contendo os dados: peso equantidade inicial de peixes, temperatura da água, peixes despescados e seudestino: consumo familiar; merenda, feira ou venda direta, que será preenchida aolongo do projeto. A análise de custos do cultivo será realizada com auxílio desoftware desenvolvido por Tomazelli e Casaca (2000).Como parte do projeto estão programadas palestras mensais para a capacitaçãodos agricultores. Um primeiro encontro foi realizado em junho, abordando o temaBoas Práticas de Manejo no cultivo de peixes (Figura 2). Este encontro foi utilizado,também, como momento para integração entre os produtores e levantamento dedados sobre as condições da atividade de piscicultura desenvolvida naspropriedades. O levantamento foi realizado na forma de questionamentos informaisutilizando-se um roteiro a ser seguido para a apresentação dos produtores. Foramcoletados dados sobre número de viveiros, tempo de construção dos viveiros, nívelde conhecimento dos agricultores sobre cultivo de peixe, tipo de alimentação emanejo utilizado em seus viveiros, existência de atividade de comercialização eprincipais dificuldades encontradas na atividade desempenhada até o momento.Estes dados serão utilizados para o planejamento de ações e das demaiscapacitações que serão realizadas ao longo do ano, abordando os temas: nutrição ealimentação, prevenção de doenças, qualidade da água, tratamento de efluentes etécnicas de despesca.

(e) (f)

Figura 2 - Capacitação dos produtores: boas práticas de manejo no cultivo depeixes, local: auditório da UFFS (e); (f).

Algumas instituições participam como parceiras entre elas a Companhia Paranaensede Energia (COPEL), com a doação de alevinos produzidos na Estação Ictiológicada Usina Hidrelétrica de Segredo; a Secretaria de Agricultura dos municípiosenvolvidos com o apoio na reforma dos viveiros de alguns produtores; o Movimento

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dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Centro de Desenvolvimento Sustentável eCapacitação em Agroecologia (CEAGRO) no auxíliio na seleção dos agricultores.

Conclusão

Ao término do projeto espera-se que cada produtor além de cultivar peixes adotandoboas práticas de manejo, seja um disseminador da piscicultura para outrosagricultores familiares na região, contribuindo para a sustentabilidade econômicadas famílias. Durante as disciplinas específicas do curso o aluno estuda parâmetrosde boas práticas em piscicultura e participando do projeto ele tem um contato diretocom a atividade na relação com a sociedade. A piscicultura sustentável é uma linhade pesquisa do curso de Engenharia de Aquicultura e dados do projeto servirão parasubsidiar novos elementos na pesquisa do curso. Vale ressaltar que emcontinuidade a este projeto foi aprovado um Programa no Edital 04 - PROEXT 2011intitulado Aquicultura Familiar em Sistema Orgânico: Processo Produtivo eViabilização Econômica Através de Cooperativismo e das Políticas Públicas.

Referências

ARANA, LUIS V. Aqüicultura e desenvolvimento sustentável. Subsídios para aformulação de políticas de desenvolvimento da aqüicultura brasileira. Florianópolis:Ed. da UFSC,1999.

BORBA M., ESQUIVEL GARCIA, J.R, ESQUIVEL, B., FRACALOSSI, B.,RODRIGUES FILHO, R. Growth response, feed utilization and body composition ofjundiá, Rhamdia quelen, fingerlings to varying protein concentration in practical dietsat field conditions. XIII International Symposium on fish nutrition and feeding.Florianópolis, jun 2008.

BRASIL. Instrução Normativa nº 64, de 18 de dezembro de 2008. Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.. Disponível em: <http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=19345>. Acesso em: 25 mar. 2011.

KUBITZA, F E ONO, F. Piscicultura familiar como ferramenta para odesenvolvimento e segurança alimentar no meio rural. Panorama da Aquicultura,Rio de Janeiro: v.117, jan/fev. 2010.

TOMAZELLI, O.; CASACA. J. Planilha para cálculos de custo de produção depeixes. EPAGRI: Documento 206. 2000.