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    PISCICULTURA

    Manual Prtico

    Eng Agr Dcio Cotrim

    EMATER /RS

    Porto Alegre, 1995

    (revisada em 2002).

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    Associao Riograndense de Empreendimentos de Assistncia Tcnica e

    Extenso Rural - EMATER/RS

    Rua Botafogo, 1051

    Fone: (051) 3233-3144 - Fax: (051) 3233-9598

    Bairro Menino Deus - Porto Alegre - RS - CEP 90150-053

    2002

    Tiragem: 35.000 exemplares

    Revisado em 1997, em 1999, em 2000, em 2002.

    c845p COTRIM, Dcio. Piscicultura: manual prtico.

    Porto Alegre: EMATER-RS, 1995. 37 p.

    CDU 639.3

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    Sumrio

    Apresentao .............................................................................................................. 4 1 Introduo ................................................................................................................ 5 2 Tecnologia em Piscicultura ....................................................................................... 8 2.1 Construo de audes ........................................................................................... 8 2.2 Sistema de Controle de nvel .................................................................................. 11 3 Alimentao dos peixes ............................................................................................ 16 3.1 Adubao inicial.................................................................................................... 16 3.2 Adubao de manuteno ...................................................................................... 18 4 Espcies de peixes .................................................................................................... 22 4.1 Carpas Chinesas ................................................................................................... 22 4.1.1 Carpa Capim ...................................................................................................... 23 4.1.2 Carpa Prateada................................................................................................... 23 4.1.3 Carpa Cabea-Grande........................................................................................ 24 4.2 Carpa Hngara ....................................................................................................... 24 4.3 Outras espcies ...................................................................................................... 25 5 Sistema de criao ................................................................................................... 27 5.1 Dosagem ............................................................................................................... 27 5.2 Policultivo............................................................................................................... 28 5.3 Calendrio de trabalho ............................................................................................ 30 5.3.1 Ciclo de um ano ................................................................................................... 30 5.3.2 Ciclo de dois anos ................................................................................................ 31 6 Alevinos ................................................................................................................... 33 7 Despesca/armazenamento ........................................................................................ 35 8 Questo do mercado do peixe cultivado .................................................................... 37 9 Doenas ................................................................................................................... 39 9.1 Lernia .................................................................................................................... 39 9.2 Hidropisia infecciosa.............................................................................................. 40 9.3 Ictioftirase ............................................................................................................. 41 10 Bibliografia .............................................................................................................. 42 11Glossrio 44

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    Apresentao

    O presente material o resultado do trabalho desenvolvido pelo autor em conjunto

    com a equipe do escritrio municipal da EMATER/RS de Taquara na sistematizao dos

    conhecimentos construdo coletivamente com os agricultores familiares que desenvolvem

    atividades na rea da Piscicultura naquele municpio.

    Trata-se de um Manual Prtico que informa e aponta princpios para todas as fases

    da criao de peixes, desde a construo do aude at a comercializao. Embora concebi-

    do e preparado para uma determinada regio, as informaes, recomendaes e conceitos

    nele contidos representam um acervo de conhecimentos teis para os agricultores, extensi-

    onistas e pessoas nas diferentes regies do Estado.

    O material didtico foi escrito para ser manuseado por agricultores e, deste modo,

    trata os assuntos de forma prtica e direta, indicando alternativas para a implantao da ati-

    vidade pisccola nos mais variados sistemas de produo .

    Porto Alegre, novembro de 2002

    Eng. Agr. Dcio Cotrim

    Emater/RS.

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    1 Introduo

    A aquacultura teve seu inicio no oriente, sendo os chineses o primeiro povo a dedi-

    car-se a piscicultura atravs do monocultivo de carpas. Segundo a FAO, em 1996, a produ-

    o mundial de aquacultura encontra-se no patamar de 25 milhes de toneladas sendo que

    75% desta de carpa, sendo o peixe mais cultivado. No Brasil a piscicultura vem crescendo a

    um ritmo anual superior a 30% ao ano sendo superior aos ndices das grandes atividades

    rurais convencionais (OSTRENSKY,1998).

    No Brasil a produo da pesca extrativa, principal fonte de peixe, encontra-se estagna

    na casa das 650 mil toneladas anuais mais de dez anos. Isto ocorre devido principalmente

    a sobrepesca dos estoques dos peixes comerciais. Este fator gera uma demanda reprimida

    no consumidor sendo neste espao que desenvolvendo-se a piscicultura de guas internas

    (COTRIM, 1997).

    No existem dados estatsticos sobre a atividade pisccola no pas, porm estima-se

    a produo nacional em 27 mil toneladas anuais (BORGUETTI,1996). Dados das empresas

    de Extenso Rural do Brasil mostram que os trs estados sulistas so os maiores produto-

    res nacionais, sendo que Santa Catarina produz 6,5 mil toneladas de carpas, tilpias e mexi-

    lhes (atividade em amplo crescimento no estado), Paran produz 9 mil toneladas de tilpias

    e o Rio Grande do Sul 9 mil toneladas de carpas.

    A aquacultura no RS resume-se basicamente a piscicultura realizada por agricultores

    familiares em pequenos audes.

    O perfil bsico da piscicultura desenvolvida no RS foi apresentado por MARDINI, em

    1997, em trabalho escrito partir de entrevistas realizadas pela EMATER/RS . Neste o autor

    aponta que a piscicultura compem no sistema de produo da unidade familiar, no sendo

    a principal atividade. O policultivo de carpas o principal sistema de criao utilizado, sendo

    que em ndice superior a 90% dos audes, encontrou-se as carpas Hngara, Capim e Cabe-

    a-Grande. As espcies nativas so minoritrias destacando-se a ocorrncia de Jundi em

    2% dos audes. Os sistemas de criao extensivo (produtividade de peixe de at

    300kg/ha/ano) e semi-intensivo (produtividade de peixe de at 3000kg/ha/ano) so respons-

    veis respectivamente por 32,5% e 61% da totalidade das formas de criao do RS.

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    No Rio Grande do Sul a piscicultura parte do sistema de produo compondo com

    vrias atividades agrcolas e no-agrcolas na unidade familiar de produo. O baixo uso de

    mo de obra, a necessidade de baixos investimentos iniciais, a baixa dependncia de insu-

    mos externos e o manejo simples e rstico so atributos que favorecem o crescimento da

    atividade entre os agricultores familiares.

    Os primeiros eventos histricos no RS relacionados piscicultura remontam a dca-

    da de 40 quando da fundao da estao de piscicultura de Terra de Areia no Litoral Norte.

    Construda com o objetivo de promover o repovoamento da lagoas costeiras, esta estao

    foi importante entre os anos 50 e 70 para a popularizao das espcies nativas dos peixes

    cara-manteiga (Geophagus brasiliensis) e peixe-rei de gua doce (Odonthestes bonari-

    ensis), e das espcies exticas da tilpia (Tilapia rendalli) e da carpa comum (Cyprinus

    carpio) que tiveram papel fundamental na formao dos agricultores na atividade pisccola.

    Na dcada de 80 houve um trabalho inovador na regio norte do RS na difuso de um

    sistema de criao chamado Policultivo de Carpas. Este sistema incorporava as carpas

    hngara (Cyprinus carpio var hungara), capim (Ctenopharyngodon idella), cabea-grande

    (Aristichthys nobilis) e prateada (Hypophtalmicthys molitrix), utilizando um mtodo de cria-

    o rstico e bem adaptado as condies climticas do Sul do Brasil, espalhando-se por

    todo estado, sendo o embrio do atual estgio da piscicultura gacha.

    Em 1993 a Extenso Rural oficial do estado iniciou os trabalhos estruturados na pis-

    cicultura. Em anos anteriores muitos tcnicos fizeram experincias na rea, porm no ha-

    via um planejamento estratgico para a atividade.

    O modelo de orientao tcnica adotado pela EMATER/RS foi o Policultivo de Car-

    pas, com base alimentar planctonica, sendo um sistema sustentvel. O sistema prev o uso

    de subprodutos da propriedade rural para servirem de alimentao aos peixes, a dependn-

    cia externa de raes nula, no h o uso de medicamentos e agroqumicos sendo o produ-

    to final um peixe orgnico.

    Na dcada de 90 a piscicultura cresceu de forma consistente em todo o Rio Grande

    do Sul conforme mostra a tabela 1 :

    8

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    Tabela 1- Evoluo da Piscicultura do RS.

    Ano Nmero muni-

    cpios que pos-

    suem a ativida-

    de

    Nmero de produ-

    tores assistidos

    pela EMATER/RS

    rea total de audes

    (ha)

    Produo Total

    (ton)

    1990 248 315 18

    1991 377 402 39

    1992 1404 1618 304

    1993 4444 5592 1414

    1994 5584 3947 11030

    1995 8688 3478 8841

    1996 215 10124 4408 10077

    1997 223 10426 4010 9807

    1998 285 9755 4251 8892

    1999 290 10000 4500 9000

    Fonte: Emater/RS, 2000.

    No existem dados estatsticos oficiais para a piscicultura. O nico levantamento de

    mbito estadual foi realizado pela EMATER/RS at o ano de 1999. O crescimento do nmero

    de agricultores interessados em ter a criao de peixes como mais um componente em seu

    sistema de produo impar no rol das atividades agropecurias gachas.

    Uma percepo obtida dos tcnicos da extenso rural que cerca de 80% da produ-

    o comercializada de forma direta na propriedade ou nas feiras. O autoconsumo familiar

    tambm fator importante a ser considerado no destino da produo de peixes. O consumo

    per capita de carne de peixe no Rio Grande do Sul de aproximadamente 5 kg/ano sendo

    considerado muito baixo em comparao ao Japo com consumo anual per capita de

    50kg, Sucia com 35kg, Portugal e Noruega com 30kg e Chile com 10kg. Acreditamos que

    este consumo no cresce devido a dois fatores preponderantes: A baixa oferta de produto e

    o excessivo preo no mercado.

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    2 Tecnologia em Piscicultura

    2.1 Construo do aude

    So notrias as diferentes realidades encontradas em cada propriedade que geraro

    as mais diversas solues, dependendo do tcnico que esteja no comando da obra. Porm

    alguns detalhes devem ser levados em conta: a rea coberta pela gua do aude deve ser a

    maior possvel com menor movimento de terra. As encostas internas do local escolhido no

    devem possuir lavouras que recebam agrotxicos. As matas de pinheiros europeus (pnus)

    ou eucaliptos no devem dominar as encostas e margens, pois interferem na qualidade da

    gua. A rea inundada deve ser desmatada e livre de todos os restos como troncos, arbus-

    tos, pedras e cercas que no futuro podem dificultar a despesca.

    Na construo de taipa de terra, inicia-se por uma decapagem do local( retirada dos

    primeiros 20cm de solo para evitar o acumulo de material orgnico na base da taipa) onde

    ser realizada a obra. Esta providncia essencial pois se o material orgnico ficar sob a

    terra da barragem poder gerar canais de infiltrao causando a desestabilizao da obra.

    Na escolha do local da taipa, fundamental a sondagem do subsolo para a localiza-

    o de possveis lajes ou pedras soltas que impeam a compactao e possibilitem infiltra-

    o.

    Na anlise planialtimtrica do aude, deve-se optar por taipas de no mximo dois me-

    tros de altura gerando profundidade de gua em torno de 1,5 metro, lembrando-se sempre

    que os peixes necessitam de rea inundada e no de profundidade. Quando a altura da lmi-

    na de gua for superior a trs metros de altura pode haver problemas de formao de subs-

    tancias toxicas pelo ambiente sem oxignio.

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    Existem clculos definidos para construo de barragens de terra, porm como na

    piscicultura se utilizam microaudes com baixa movimentao da terra e moderado volume

    dgua acumulado, comum os projetos no serem completos, porm, na questo fsica de

    taipa, o tcnico deve exigir o mnimo de segurana da obra. O talude deve ser no mnimo de

    1:3 no talude molhado e 1:2 no talude seco. No caso de solos muito arenosos recomenda-

    do aumentar estes nmeros.

    A drenagem do aude deve ser completa e rpida. Recomenda-se que o fundo do

    aude seja plano sem lagoas e que no ponto da taipa de maior cota, lugar de maior profundi-

    dade, ser o local do dreno. Para isso utiliza-se normalmente canalizao de PVC colocada

    embaixo da taipa antes da construo da mesma. Uma dica importante a utilizao de ca-

    nos de PVC com bitolas de 100mm a 150mm, nunca a canalizao de 200mm que consi-

    derada de preciso e tem um custo incompatvel para a funo que desempenhar. Para

    facilitar o escoamento deve-se construir valos divergentes a partir do cano de esgoto at

    pontos mais distantes do aude, segundo esquema 1:

    Esquema 1- Vista superior de um aude modelo.

    Um importante cuidado na construo do aude a caixa de reteno ou piscina, que

    um aprofundamento abaixo do nvel do cano de esgoto. Esta piscina pode ser de paredes

    de pedra ou apenas um escavado no solo. Suas dimenses dependem do tamanho

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    do aude, mas normalmente esto em torno de 2x2 metros. Esta construo tem a funo

    de acumular o lodo precipitado e na hora do esgotamento do aude, serve como local de

    refgio dos peixes. A limpeza, com a retirada do lodo, deve ser feita a cada despesca evitan-

    do assim o entupimento do cano de esgoto.

    A entrada de gua no aude ocorre de vrias maneiras como chuva, nascentes ou

    captao de riachos. Neste ltimo caso, h grandes possibilidades de contaminao com

    peixes estranhos criao como lambaris e traras. Para evitar isto, recomenda-se o uso de

    filtros, que so sistemas simples, formado por telas grossas, britas grossas e finas, coloca-

    do em uma caixa na tomada dgua conforme o esquema 2.

    Esquema 2- Filtro de brita

    A entrada de gua, deve ser 0,50m acima do nvel dgua para a dissoluo

    natural do oxignio no aude, se no for possvel esta oxigenao natural recomenda-se o

    uso de aeradores. O volume de gua para correta oxigenao muito relativo em funo do

    sistema de criao dos peixes, posio do aude em relao a ventos, etc. Na bibliografia

    existem recomendaes de renovao de gua que vo de 5% por dia a audes totalmente

    sem renovao.

    Para a segurana do aude durante a sua utilizao, deve-se evitar que guas

    de enxurrada entrem diretamente recomendvel para isso a construo de canais diver-

    gentes desviando estas guas. Alm disso, necessria a construo de um vertedouro no

    barranco ao lado da barragem que retirar o excesso de gua de chuva sem haver o trans-

    bordamento da barragem o que pode causar o rompimento. Lembre-se que o vertedouro

    deve ter uma tela para evitar a sada de alevinos e peixes no caso de chuva forte. O

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    vertedouro por ser uma obra que exige clculos de capacidade de escoamento deve ter a

    superviso de um tcnico responsvel.

    2.2 Sistema de controle de nvel:

    A questo bsica, quando se trata de retirar excesso de gua do aude, qual a -

    gua ideal para os peixes?

    A profundidade ideal criao de peixe at 0,30m pois uma rea rica em oxignio

    dissolvido e plncton pela presena de luz e calor. A gua do fundo pobre em oxignio e

    devido ao acmulo de material orgnico no decomposto muitas vezes contm amnia dis-

    solvida o que pode intoxicar os peixes. Deste modo necessrio que toda a gua que saia

    naturalmente do aude seja da parte inferior e da resultam os sistemas utilizados com ca-

    nos de PVC e o monge de tijolos.

    O ponto inicial para o sistema de controle de nvel do aude a passagem da canali-

    zao de esgoto por baixo da taipa. Normalmente usa-se colocar a canalizao antes da

    construo da barragem. Apenas em casos extremos, abre-se um rasgo na taipa para colo-

    cao do cano, porm esse processo gera graves riscos de infiltrao neste local. A experi-

    ncia tem mostrado que os canos de PVC so os melhores para acomodao abaixo da

    barragem pois tem pequeno dimetro e possibilitam boa compactao da terra. Por outro

    lado, as canalizaes de cimento (0,25m; 0,30m) necessitam de uma base de concreto para

    assentamento dos canos pois, se estes deslocarem-se na compactao da taipa, geraro

    vazamentos e rompimento desta.

    Nas emendas dos canos de cimento exige-se uma cinta de concreto para vedao, e

    para evitar o movimento perpendicular do sistema com na taipa. Visto este quadro que

    recomenda-se o uso do PVC seja no sistema de curvas plsticas, e os canos de cimento,

    mais complexos a utilizao, apenas nos monges de concretos usados em obras de maior

    porte.

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    Esquema 2- Sistema de controle de nvel com canos de PVC

    Este o sistema mais simples a ser utilizado. No cano de esgoto, coloca-se

    uma curva de 90 e anexo um cano com a altura necessria ao nvel desejado. Para

    apoiar esta curva necessrio um brao de apoio que pode ser de madeira ou de fer-

    ro. Este brao evita que algum animal raspe na canalizao e solte a curva esvazian-

    do o aude.

    Brao de

    apoio

    Esquema 3-

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    Este sistema uma adaptao do anterior para que todos os canos plsticos fiquem

    dentro da gua evitando vandalismos que causam esvaziamento do aude. Alguns cuidados

    tm que ser respeitados para o ideal funcionamento. Um furo na parte superior da curva de

    90 graus fundamental para evitar que o sistema no se torne um sifo e esvazie o tanque.

    Os furos do final do cano podem ser feitos com furadeira eltrica e broca de 6mm.

    No manejo do sistema, se deitarmos a curva de 90 abaixo do nvel, comear a sair

    gua at que ela esteja fora da gua com o rebaixamento do nvel.

    Esquema 4 -Sistema de controle de nvel com monge de tijolos

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    O monge recomendado para audes maiores (> 1ha) onde o sistema de PVC se

    torne insuficiente. uma construo de tijolos e concreto que deve ter sua metade seca

    com as paredes rebocadas. No centro da construo, so colocadas duas fileiras de tbuas

    e entre elas argila que evitar vazamentos da rea molhada para a seca. As tbuas esto

    apoiadas nas paredes do monge atravs de esquadrias de ferro (cantoneiras) que so fixa-

    das nos tijolos. Tambm se utiliza no lugar das duas fileiras de tbuas uma parede de tijo-

    los central e traspassando-a canos de PVC com tampes plsticos. Estes canos per-

    manecem fechados durante o perodo de criao dos peixes e so abertos quando se quer

    rebaixar o nvel do aude.

    As dimenses do monge ( largura e comprimento) esto correlacionadas a dois fato-

    res: a canalizao de sada, onde a rea livre do lado alagado no pode ser gargalo para o

    volume de esgotamento do cano da sada de gua, e a possibilidade de uma pessoa entrar

    no lado seco, para manejo do esgotamento de gua. Grosso modo, os monges tem dimen-

    ses mdias que variam de 1,5x1,5 m a 2x2 m

    Normalmente quando opta-se pelo monge utiliza-se canalizao de cimento (0,25m;

    0,30m) para maior rapidez no esvaziamento do aude.

    Um cuidado especial a construo de uma base de concreto para as paredes de

    tijolos, caso contrrio poder ocorrer a desestabilizao da obra. Em monges com mais de

    dois metros de altura, recomendam-se paredes de tijolo deitado e cinta de ferro no concreto

    para manuteno da estrutura.

    Para o manejo do sistema retiram-se progressivamente as tbuas (duas a duas) para

    que uma camada de gua se esvazie do aude. No caso do sistema com parede central de

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    tijolos e canos de PVC devemos destampar os canos de cima para baixo at o total esvazi-

    amento.

    Utiliza-se uma tela na entrada do monge para evitar o arraste dos peixes no esvazia-

    mento.

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    3 Alimentao dos peixes

    Todos os organismos de um aude colaboram na formao da cadeia alimentar co-

    mo produtores de matrias orgnicas. A base para o crescimento dos peixes que criaremos

    so as fontes naturais de alimentos, que crescem dentro do aude. A fonte primordial de

    alimento o que definimos com PLANCTON. Plancton uma formao de algas simples,

    colnias agregada e pequenos animais como crustceos e rotferos que gera na gua uma

    colorao esverdeada de fcil identificao pelo produtor.

    Para formao deste alimento para os peixes devem ser considerados trs fatores

    bsicos:

    1. Luz Solar

    2 . Calor temperatura da gua acima 20C.

    3 . Nutrientes Bsicos Principalmente fsforo e nitrognio.

    Dos trs fatores bsicos de formao de plancton aquele que ns como pisciculto-

    res, podemos controlar so os nutrientes bsicos atravs da adubao.

    A adubao do aude se divide em duas etapas: a inicial quando o tanque est seco

    e a manuteno durante o perodo de criao.

    3.1 Adubao inicial:

    A adubao inicial realizada no mnimo 30 dias antes do povoamento do aude,

    deste modo, se faz a adubao, enche-se o aude de gua e espera-se um ms. Esta adu-

    bao deve ser orgnica buscando sempre um sistema de produo sustentvel.

    A adubao orgnica de base pode ser feita com inmeros subprodutos da proprie-

    dade como esterco de sunos, aves, bovinos e outros resduos orgnicos. A recomendao

    geral de 2.000kg/ha de esterco incorporado no fundo do aude.

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    Nesta fase de preparao do aude no se deve esquecer a colocao do calcrio. O

    objetivo desta ao a mineralizao do material orgnico do fundo do tanque, liberao de

    nutrientes das paredes do aude e nutrio do peixe com clcio essencial para formao de

    escamas e espinhas. A recomendao geral de 1.500kg de calcrio por hectare de rea

    inundada.

    Em alguns casos, quando no existe o esvaziamento total do aude sobrando poas

    que possibilitam a reteno de ovos de peixes indesejveis ou a presena de parasitas dos

    peixes como no caso de Lerneae. Recomenda-se para eliminao destes invasores a subs-

    tituio do calcrio pela cal virgem. A camada mxima de gua neste tratamento e de 20

    centmetros, cuidado com ferimentos nas mos do operador pois a cal queima a pele. A do-

    sagem deve ficar ao redor de 2000 kg por hectare.

    Muitos audes em seu primeiro ano de alagamento e cultivo de peixes tm uma gran-

    de produo planctnica, mesmo com adubaes prximas a zero. Isto explicvel pela

    dissoluo progressiva dos nutrientes que existem na estrutura dos solos e na matria org-

    nica contida neste. Porm em audes de segunda safra a adubao orgnica condio

    primordial para manuteno da produo planctonica e base da cadeia alimentar dos peixes.

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    3.2 Adubao de manuteno:

    esta adubao que far a manuteno do plncton durante a fase de crescimento

    do peixe. O crescimento do plncton funo direta da adubao e da luz e calor solar. Des-

    te modo, no inverno quando existe queda de temperatura deve-se suspender todo tipo de

    adubao. No vero, a otimizao regulada pela qualidade e quantidade de adubao.

    A colocao de material orgnico em um aude possui limites para evitar a poluio

    do ambiente e a causar morte dos peixes. Toda a adubao orgnica que for feita nos au-

    des deve ser com produtos compostados ou seja, esterco curtido .

    Para avaliao da qualidade da gua para criao de peixes, do ponto de vista da

    quantidade de plncton existente, utiliza-se o disco de Sechi que mede a turbidez causada

    pelos microorganismos. O disco de Sechi um aparelho que pode ser construdo pelo pr-

    prio produtor. Deve-se tomar um disco de plstico ou lata e dividi-lo em 4 partes, a partir da

    pintasse um quarto de preto e outra de branco para gerar diferenas. A este disco une-se um

    cordo com ns demarcando cada 10 centmetros. Quanto mais plncton mais esverdeada

    a gua, e o disco que mergulhado desaparece menor profundidade. A transparncia ide-

    al, utilizando-se o disco de Sechi como instrumento, deve ser entre 20 e 30 centmetros. Na

    prtica, muitos produtores mergulham o brao dentro da gua e quando esta atingir o cotove-

    lo, a ponta dos dedos deve estar invisvel, caso contrrio, a adubao de manuteno est

    fraca.

    Esquema 4- Disco de Sechi

    Disco para visualizao do plancton

    Cordo com ns de 10 em 10 cm

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    Em caso de excesso de adubao, seja por falta de luz e calor no inverno que no

    possibilite a formao de plncton ou pelo descontrole na colocao de material orgnico,

    haver rapidamente o consumo de oxignio dissolvido na gua. A principal caracterstica

    notada em tanques com deficincia de oxignio o aparecimento dos peixes na superfcie

    dgua abrindo e fechando a boca e o acmulo destes nos pontos de entrada de gua no

    aude. No caso de morte por asfixia, (causada pelo excesso de adubao) os peixes apre-

    sentam os oprculos levantados e as guelras afastadas. O tratamento curativo para a situa-

    o a suspenso total de adubao e manter um fluxo de gua o que aumentar o oxignio

    dissolvido. Utiliza-se normalmente bombas estacionrias de fluxo dgua aspergindo sobre o

    aude, para aumentar o contato gua/ar e aumentar consequentemente o teor de oxignio

    dissolvido.

    As adubaes de manuteno orgnicas nos audes de peixes reciclam no sistema

    cerca de 75% do nitrognio, 70% do fsforo e 85% do potssio existentes nas raes forne-

    cidas aos animais como sunos e aves, sendo um fator de complementariedade nos siste-

    mas de produo.

    A quantidade, composio e valor do esterco produzido variam de acordo com a es-

    pcie, teor de umidade, peso, classe e quantidade de alimento fornecido, segundo tabela 2:

    Tabela 2: Composio do esterco por espcie.

    Composio % % % %

    Esterco gua N (nitrognio) P (fsforo) K (potssio)

    Sunos 74 0,5 0,2 0,4

    Aves 76 1,1 0,4 0,4

    Bovinos 64 0,7 0,3 0,3

    Fonte: VeronezziI,1984.

    Para cada tonelada de peso vivo animal, obtm-se: 30 toneladas/ ano de esterco de

    bovinos, 36 toneladas/ ano de esterco de sunos e 9 toneladas/ ano de esterco de aves.

  • 22

    A dosagem de adubao orgnica por rea no espao de tempo extremamente va-

    rivel na bibliografia. Recomenda-se o uso de 500kg/ha/ms de esterco de suno, o equiva-

    lente de seis sunos adultos por ha ; o uso do resduo de 300 aves de corte por hectare ou

    o uso de 1.000kg/ha/ms de esterco bovino. O fator regulador desta quantidade de adubao

    a anlise da turbidez da gua agregada a temperatura e luz solar.

    No caso do esterco de aves cabe uma ressalva na compra de cama de avirio. Nor-

    malmente o esterco vem misturado maravalha que ainda no est decomposta. Este pro-

    duto pode causar intoxicao aos peixes. Recomenda-se fazer uma compostagem com

    este material antes da utilizao no aude.

    Normalmente, numa consorciao de sunos com peixes, a suinocultura montada

    ao lado do aude com uma vala de controle de colocao do esterco conforme o que indica

    o disco de Sechi. Toma-se muito cuidado no inverno, onde a mineralizao do material org-

    nico mais lenta, consequentemente deve-se reduzir a quantidade liberada no aude.

    Um sistema utilizado principalmente quando do uso de esterco bovino o acmulo do

    material em uma vala lateral ao aude e a liberao atravs de p diariamente segundo a

    necessidade.

    Como complementao adubao dos audes, existe a alimentao artificial com

    rao para os peixes. Na busca de um sistema sustentvel de produo fundamental

    um anlise em cada propriedade para formulao de uma rao caseira balanceada. Esta

    rao deve conter alto teor de protena (ao redor de 30%)

    A recomendao tcnica para manejo com rao o arraoamento de uma percen-

    tagem do peso vivo dos peixes do aude por dia, que varia de acordo com o peso corporal

    dos animais e a temperatura da gua (conforme tabela 3 "% de peso vivo para clculo de

    rao diria"). Para se obter a biomassa total em um aude necessrio saber, em dado

    momento, o peso mdio dos animais (atravs de biometrias) e multiplica-lo pelo nmero de

    alevinos colocados no tanque(descontada a mortalidade esperada). Do total da biomassa

    multiplica-se o percentual obtido na tabela e teremos o total de rao diria a ministrar. Com

    esta quantidade de rao devemos dividir em no mnimo 4 doses dirias para melhorar a

    converso alimentar.

  • 23

    Tabela 3- Percentual(%) de peso vivo para clculo da rao diria.

    Peso

    corporal

    em grama

    16C

    gua

    18C 20C 22C 24C 26C 28C 30C

    20 3,5 4,0 4,9 5,6 6,4 7,0 8,1 9,8

    40 2,9 3,4 4,0 4,5 5,1 5,8 6,8 8,0

    100 2,6 3,0 3,4 3,9 4,5 5,2 5,9 6,8

    160 2,3 2,6 3,0 3,4 3,9 4,6 5,2 6,1

    200 2,0 2,3 2,7 3,1 3,5 4,1 4,7 5,4

    250 2,9 2,2 2,5 2,9 3,3 3,9 4,5 5,1

    300 1,8 2,1 2,4 2,7 3,1 3,7 4,2 4,8

    400 1,6 1,9 2,1 2,3 2,7 3,3 3,6 4,2

    500 1,4 1,7 1,8 1,9 2,3 2,7 3,1 3,6

    600 1,2 1,5 1,5 1,6 1,9 2,3 2,5 3,1

    700 1,1 1,4 1,4 1,5 1,8 2,1 2,3 2,8

    >1000 0,8 1,0 1,1 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0

    Fonte: Anzuategui,1998.

    A alimentao artificial durante todo o ciclo mais utilizada em criaes intensivas.

    Utiliza-se em criaes semi-intensivas uma suplementao com rao na implantao dos

    alevinos e/ou na fase final de engorda.

    importante salientar que um pr requisito na utilizao de rao para os peixes a

    presena de bom teor de oxignio dissolvido. O ideal que este teor esteja ao redor de 5

    ppm. Deste modo, fundamental a presena de aeradores nestas situaes. Aeradores so

    equipamentos que promovem o movimento da gua para que como maior contato com o ar

    ocorra dissoluo de oxignio. Podem ser de ps, hlices ou na forma de chuveiros tocados

    por motores eltricos ou mesmo pela fora da gravidade.

  • 24

    4 Espcies de peixes

    A escolha das espcies de peixes a criar deve ser orientada pelo objetivo da criao.

    A pesca esportiva (pesque-pague) aponta para peixes prolferos, carnvoros ou no que cri-

    am uma dificuldade de retirada do aude, especialmente com linha e anzol (Black Bass, Ti-

    lpias, Pac, Traras, Jundias, etc.). Para produo de pescado tipo carne so indicados

    peixes planctfagos e ou onvoros que dem alto rendimento por rea (carpas-chinesas e

    hngara). O sistema que este trabalho descreve intitula-se POLICULTIVO DE CARPAS e

    tem o objetivo de produo de carne em um sistema semi-intensivo adaptado as condies

    atuais dos produtores riograndenses. Neste sistema utilizamos as carpas chinesas e a car-

    pa hngara.

    4.1 Carpas Chinesas

    Originrias da China, at a metade deste sculo, s foram criadas l em razo de

    no ter sido obtida sua reproduo em cativeiro. Atualmente utiliza-se a hipofisao (aplica-

    o de hormnio no macho e fmea que propiciam a maturao dos produtos existentes nos

    testculos e nos ovrios e a posterior eliminao destes: vulos e espermatozides) para

    reproduo e estas carpas se espalharam por diversas partes do mundo.

    As carpas-chinesas corrigiram uma caracterstica indesejvel das carpas comuns, o

    gosto desagradvel assemelhado ao barro. Devido ao hbito alimentar, as chinesas possu-

    em carne com bom sabor e qualidade superior. Recomenda-se tomar cuidado em relao

    presena de espinhos, que, quanto menor o peixe maior a dificuldade para o consumo da

    carne. Deste modo, o ideal so animais de peso acima de dois quilos.

  • 25

    4.1.1 Carpa-Capim (Ctenopharyngodon idella)

    Espcie de carpa-chinesa mais famosa devido ao seu hbito alimentar herbvoro (a-

    limenta-se de vegetais) e a qualidade de sua carne.

    Na fase larval de vida, alimenta-se de fitoplncton na razo de 40% de seu corpo por

    dia. Pra a alimentao quando a temperatura cai para abaixo de 14C. Com trs centme-

    tros de comprimento (alevino 01), passa a alimentar-se exclusivamente de vegetais.

    Quando adulta, pode chegar a um metro de comprimento e 32 quilos. A temperatura

    tima de alimentao est ao redor de 24C. Em regies frias, pode atingir um quilo de peso

    em um ano. O crescimento aumenta para 2 a 3kg/ano em regies temperadas e para

    4,5kg/ano em regies tropicais. Experincias demonstram que consome razo de 25% de

    seu peso em pastagem diariamente.

    O tubo digestivo curto, apenas duas a trs vezes o comprimento do corpo. Somen-

    te ao redor de 65% do material verde ingerido absorvido, o restante excretado sob a for-

    ma de peletes densos, o que contribui sobremaneira na adubao da gua. Uma vez adulta,

    sua dieta consiste de plantas superiores (azevm, milheto, sorgo, capim-elefante, alface;

    no aprecia o sabor da aveia) que mastiga facilmente com seus dentes faringeanos.

    4.1.2 Carpa-Prateada (Hypophthalmicthys molitrix)

    Alimenta-se principalmente de fitoplncton filtrando-o da gua atravs de estruturas

    especiais existentes nas brnquias. Um exemplar jovem pode ter no primeiro arco branquial

    ao redor de 1.700 espinhas branquiais (estruturas filtradoras). Assim um peixe de 250 gra-

    mas pode filtrar 32 litros de gua por dia. O alimento chega boca com a gua, as algas

    passam pelas estruturas filtradoras e ficam retidas nas malhas da rede.

    muito comum um exemplar de 500 gramas crescer 10 gramas por dia, ou mais.

    Pode alcanar adulta um metro e dez quilos. Seu hbito alimentar melhora as condies

    ambientais do tanque em razo do controle de florao das algas. Aps a florao estas al-

    gas morrem e em sua decomposio consomem em excesso o oxignio da gua ,o que

    pode matar os peixes por asfixia. Possui uma caracterstica de manejo interessante, que

  • 26

    de assustar-se facilmente saltando sobre redes de arrasto e muitas vezes atingindo os pes-

    cadores.

    Os alevinos de carpa-prateada possuem um ndice de mortalidade superior s de-

    mais carpas-chinesas.

    4.1.3 Carpa Cabea-Grande (Aristichthys nobilis)

    uma espcie de crescimento rpido. Mostra-se bastante relacionada com a carpa-

    prateada em seus hbitos alimentares. Isto , tambm filtra o alimento atravs das brn-

    quias. Entretanto, os organismos filtrados so de maior tamanho principalmente zooplncton

    e algas grandes.

    A temperatura ideal para o seu desenvolvimento de 24 graus. Sob regime alimentar

    favorvel, tem rendimento superior prateada atingindo na fase adulta em torno de 20kg.

    4.2 Carpa-Hngara (Cyprinus carpio)

    A carpa-hngara uma espcie melhorada geneticamente que tem como base a

    carpa comum.

    Seu hbito alimentar onvoro adaptando-se bem a sistemas intensivos e uso de

    rao. Adapta-se a colocao do alimento no fundo do tanque atravs de caixas de alimen-

    tao.

    Tem hbito de engolir o lodo do fundo do tanque e regurgitar aproveitando o alimento

    encontrado (bentos, insetos, sementes de plantas ) .Deste hbito surgem dois problemas, a

    turbidez da gua com argilas suspensas dificultando a formao de plncton e a destruio

    dos taludes das taipas especialmente em terrenos arenosos. Este hbito alimentar favor-

    vel ao ambiente do tanque mantendo-o mais limpo.

  • 27

    Morfologicamente, a carpa-hngara pode ter uma linha de grandes escamas sobre o

    dorso e o ventre liso com cor amarelada, como ser totalmente escamada. Isto depende da

    base gentica de que partiu a seleo de laboratrio. Mas a caracterstica marcante o cu-

    pim ou manta de carne que possui em seu dorso.

    De maneira geral, esta carpa se reproduz naturalmente no aude a partir de 18 me-

    ses de vida. Isto exige do piscicultor a despesca anual. O rendimento deste animal est em

    torno de dois quilos por ano em regies de clima temperado.

    4.3 OUTRAS ESPCIES

    Estas espcies no esto recomendadas para o sistema que chamamos Policultivo

    de Carpas mas citamos aqui para conhecimento geral do leitor, pois os sistemas mais in-

    tensivos aproveitaro este animais.

    Tilpias (Oreochromis niloticus, Oreochromis hornorum, Oreochromis mossambicus).

    Passados muitos anos desde a introduo no Brasil, e j ter sido considerada como

    o grande fracasso da piscicultura brasileira, a Tilpia reaparece no cenrio. Sistema intensi-

    vos com uso de tanques redes e animais revertidos sexualmente parecem apontar o futuro

    para esta espcie.

    As Tilpias tem algumas caractersticas que devem ser respeitadas para seu uso

    comercial. A temperatura fria da gua letal para esta espcie(abaixo de 10 centgrados).

    Em ambientes de engorda as Tilpias maturam sexualmente a partir de 30 gramas o que

    causa problemas de manejo (superpopulao), sendo necessrio a criao unicamente de

    machos(tamanho corporal maior que as fmeas). Na obteno de proles somente de ma-

    chos pode se realizar a reverso sexual ministrando hormnio masculinos em larvas recm

    eclodidas, o que transformara a funo das gnodas das fmeas para agirem como tecido

    testicular; ou atravs da hibridizao que o cruzamento do macho da O. hornorum com a

    fmea da O.niloticus .

  • 28

    Existem trabalhos de pesquisa da UFRGS que indicam para o RS a criao de Til-

    pias em tanque-redes com populao ao redor de 300 animais por metro cubico. Recomen-

    da-se o uso de somente tilpias machos(revertidos) em um sistema intensivo de arraoa-

    mento (alta percentual de protena), durante os perodos de outubro a maio. O resultado final

    so animais com aproximadamente 450 gramas e produo global de 100 kg por metro cu-

    bico cultivado.

  • 29

    5 Sistema de criao (Policultivo de carpas)

    O sistema de criao que ser descrito baseia-se na otimizao de audes na pro-

    duo de pescado para carne. O objetivo retirar peixes de porte superior a um quilo e meio

    com safras bianuais( dois veres de cultivo).

    A opo por pescado de tamanho maior (> 1,5kg) uma exigncia do mercado pois

    facilita a venda de peixes brutos diretos ao consumidor.

    Dois fatores so primordiais para a aplicao do sistema: A dosagem que nos dar a

    quantidade total de peixes que nosso aude suporta e o policultivo que nos dir quais os

    peixes e em que proporo deve-se povoar o tanque.

    5.1 Dosagem

    Todo meio aqutico tem uma capacidade mxima de produo de biomassa que po-

    de ser dividida em com muitos pequenos peixes ou poucos grandes, a opo deve levar em

    conta o exigncia do consumidor. Se tomarmos por base os pressupostos de que o aude

    est com as condies de circulao de gua corretas (bom teor de oxignio), adubao

    recomendada, uma criao semi-intensiva base de plancton e o objetivo obter um pes-

    cado tipo carne, recomendamos a dose de um peixe para cada quatro metros quadrados

    de rea superficial de aude.

    importante salientar que um aude tem uma certa capacidade de sustentar uma

    populao de peixes. Os fatores que influenciam nesta capacidade esto ligados alimenta-

    o e oxignio. Para se ter alta populao de peixes em um aude (20.000 peixes/ha por

    exemplo) obrigatrio a suplementao destes com rao diariamente e como conseqn

  • 30

    cia o uso de equipamentos de aerao para manter o teor de oxignio prximo 5 ppm. Es-

    tes processos caracterizam uma piscicultura intensiva. O sistema descrito neste trabalho

    utiliza menor dosagem de peixes, sem uso de rao e, somente em situaes emergncias,

    utilizao de aeradores. Deste modo, os custos de produo so menores o sistema sus-

    tentvel e com opo de ser orgnico, recomendvel para um produtor que inicia a atividade.

    Um dado que tem que ser agregado neste momento a taxa de mortalidade. co-

    mum que exista uma mortalidade natural de alevinos na fase de adaptao ao aude e uma

    mortalidade causada por predadores como aves ( martim-pescador, garas, etc),cobras de

    gua, peixes carnvoros, entre outros que ocorre em todo ciclo de criao. fundamental o

    piscicultor estar atento aos predadores evitando o seu ataque e escolher alevinos sadios e

    na poca correta de aquisio. Mesmo assim necessrio a colocao de uma percenta-

    gem maior de alevinos no lote que povoar o aude. Somente a experincia do produtor na

    sua regio poder definir com preciso esta taxa, mas deve-se considerar algo na faixa de

    20 a 50% de acrscimo na quantidade final de alevinos.

    5.2 Policultivo

    Em um aude adubado e preparado para receber os peixes, este possui alguns

    estratos de alimentos que devem ser explorados pelos peixes. Existem microalgas que so

    o fitoplncton, pequenos animais chamados zooplcton e os bentnicos de fundo do tanque.

    A mistura das carpas-prateadas (fitoplanctnica), a carpa hngara (onvoro, peixe de

    fundo), a carpa-capim (herbvora) e a carpa cabea-grande (zooplanctnica) tem sido um

    sistema testado e aprovado em vrios piscicultores profissionais. As propores destas qua-

    tro espcies de peixes so variveis de acordo com o tamanho do aude e caractersticas

    de manejo.

    Os audes grandes, acima de um hectare, que favorecem o deslocamento dos pei-

    xes em grandes distncias tm melhores resultados com as espcies filtradoras. Os au-

    des pequenos, at um hectare, devido ao manejo mais intenso do proprietrio e a maior

  • 31

    facilidade do fornecimento de alimento suplementar (rao e forrageira) obtm melho-

    res resultados com a carpa-capim e a hngara.

    No se deve esquecer que, no caso de taipas de formao arenosa, as carpas-

    hngaras no devem ter populao muito grande pois causam desbarrancamento devido

    seu modo alimentar.

    Propores das espcies:

    Tabela 4: Espcies e seus percentuais no policultivo de carpas.

    Capim Cab.Grande Prateada Hngara

    35% 15% 15% 35%

    Para exemplificar o clculo de um aude de meio hectare ou cinco mil metros qua-

    drados.

    a) Clculo do nmero de peixes:

    5.000m2 : 4 = 1.250 peixes

    b) Diviso das espcies:

    C. Cabea Grande ....... - 187

    C. Prateada ................ - 187

    C. Capim ......................- 438

    C. Hngara ...................- 438

    Recomenda-se aqui neste exemplo um acrscimo de 50% para o ndice de mortali-

    dade normal, porm isso depende da existncia de predadores no aude (aves, peixes car-

    nvoros), quando o aude no tem todas as condies para abrigar os alevinos (oxignio,

    alimento) e quando o transporte muito longo ou mal feito.

    c) Nmeros finais.

    C. Cabea Grande ....... - 281

    C. Prateada ................ - 281

    C. Capim ......................- 656

    C. Hngara ...................- 656

  • 32

    5.3 Calendrio de trabalho

    Para se ter uma noo de tempo das prticas descritas at agora no cultivo de pei-

    xes, colocar-se- um calendrio do cultivo anual e do cultivo de dois anos. No cultivo anual, o

    objetivo so animais de um quilo que tero seu perodo de crescimento em apenas um ve-

    ro. O cultivo de dois anos tem dois motivos: ou o piscicultor adquiriu os alevinos no meio do

    vero (janeiro/fevereiro) impossibilitando a despesca em abril optando por mais um ano de

    ciclo, ou se fez esta tcnica de propsito para se ter animais com maior peso.

    5.3.1 Ciclo de um ano

    Junho

    Julho

    Agosto

    - Preparo do aude

    - Adubao inicial

    - Enchimento do aude

    Setembro

    Outubro

    - Alevinagem

    - Cuidado predadores

    Novembro

    Dezembro

    Janeiro

    Fevereiro

    Maro

    Abril

    - Adubao manuteno

    Maio

    Despesca (normalmente aproveitando

    a Semana Santa).

  • 33

    5.3.2 Ciclo de dois anos

    Junho

    Julho

    Agosto

    - Preparo aude

    - Adubao inicial

    - Enchimento

    Junho

    Julho

    Agosto

    - Perigo na adubao

    devido ao frio

    - acompanhamento dirio

    Setembro

    Outubro

    Novembro

    Dezembro

    - Alevinagem

    - Cuidado predadores

    Setembro

    Outubro

    Novembro

    Dezembro

    Janeiro

    Fevereiro

    - Adubao manuteno

    Janeiro

    Fevereiro

    Maro

    Abril

    Maio

    - Adubao manuteno

    Maro

    Abril

    Maio

    - Antecipao da despesca

    - Despesca peixes maiores

    Faz-se uma ressalva no ciclo de dois anos que se refere aos meses de inverno do

    segundo ano, se os piscicultores mantiverem um nvel alto de adubao nestes meses, po-

    der ocorrer morte de peixes por asfixia, visto que a matria orgnica acumulada e no mi-

    neralizada, devido falta de calor, reduzir o oxignio dissolvido na gua.

    Estes ciclos fazem a despesca no ms de maio pois atualmente boa parte da co-

    mercializao ocorre na semana santa porm quando os produtores venderem peixe duran-

    te todo o ano poderemos alterar parte destas datas .

  • 34

    Uma tcnica usada por piscicultores mais experientes o Flushing de Vero. Nesta

    tcnica separa-se, no ms de dezembro, em um aude pequeno um lote de animais (princi-

    palmente carpa capim e hngara) com peso entre 500 e 700 gramas. Realiza-se um suple-

    mentao com rao durante 100 dias com base em uma converso alimentar mdia de

    2:1. Deste modo, cada quilograma de peixe vivo colocado neste aude receber em 100 dias

    o equivalente a dois quilogramas de rao objetivando a constituio de um quilograma de

    carne . Esta tcnica tem grandes vantagens pois facilita o manejo de rao( evita desperd-

    cio e maximiza converso alimentar) e propicia a oferta de animais com peso de abate pr-

    ximo a semana santa ( retorno rpido do investimento com rao).

  • 35

    6 Alevinos

    Normalmente nas produes comerciais de pescado os produtores fazem a aquisi-

    o anualmente de alevinos em laboratrios que executam a hipofisao, o cruzamento e a

    criao de larva.

    Os alevinos no tm uma norma rgida de tamanho para classificao, porm, condi-

    cionou-se a chamar de alevino 1 aquele com at 3cm de tamanho, alevino 2 com 3 a 6cm de

    tamanho e o alevino 3 acima de 6cm. Existe ainda o alevino juvenil que tem tamanho acima

    de 15cm, tendo a preferncia dos produtores porm um preo bem mais alto.

    O alevino mais utilizado pelos piscicultores o alevino 2, devido facilidade no trans-

    porte (maior nmero de filhotes por volume de gua) e preo mais acessvel. Recomenda-se

    de uma forma geral o acrscimo de 50% no total de alevinos devido de mortalidade, porm

    se o aude no tiver boa quantidade de plncton, se possuir predadores (aves, peixes noci-

    vos) e o transporte for incorreto (um dia muito quente ou distncia muito longa) deve-se ana-

    lisar o aumento deste percentual.

    O piscicultor deve estar atento a um fator fundamental na hora que pensar em alevi-

    nos, que a poca de aquisio. Naturalmente as matrizes que sero hipofisadas amadu-

    recem produtos hipofisarios no inicio da primavera e o produtor de alevinos procede a repro-

    duo nos meses de outubro e novembro (considerando o estado do RS ) .O tempo entre a

    desova e a venda do alevino 2 ao produtor de engorda leva em torno de 60 dias. Deste modo

    a poca de aquisio dos melhores alevinos para a criao comercial situa-se nos meses

    de dezembro e janeiro.

    Muitos produtores optam pela recria dos alevinos at a fase juvenil antes de coloc-

    los no aude definitivo isto ocorre normalmente quando se libera o aude definitivo criao

    apenas aps a semana santa, principal fase da comercializao. Esta prtica positiva

  • 36

    quando feita em audes com espao suficiente para o crescimento dos peixes (1m2/peixe no

    mnimo). O uso de pequenos audes e alta densidade populacional para a recria tem gerado

    insucessos com alta taxa de mortalidade de alevinos. Os tanques-redes colocados direta-

    mente sobre o aude definitivo tm a vantagem de proteger os alevinos de predadores, po-

    rm, experincias comprovaram que o crescimento de carpas em tanque-rede muito pe-

    queno ou por vezes nulo. A tcnica de recriar o alevino diretamente no aude definitivo em

    conjunto com animais de abate positiva. Deve-se soltar os alevinos, em dezembro, no a-

    ude de engorda e, na despesca, em abril, ter um bom manejo com redes para separ os

    peixes de abate e os recriados que permanecero no aude.

    O modo correto de transportar alevinos em sacos plsticos que contenham um

    tero de gua e dois teros de oxignio pressurizado. O recipiente no deve ficar exposto ao

    sol para evitar aquecimento da gua. Os alevinos devem ser preparados para o transporte

    com antecedncia sendo acondicionados em tanques menores e devem receber a ltima

    alimentao 5 horas antes da viagem para evitar excesso de fezes no saco plstico aumen-

    tando a chance de contaminao por bactrias.

    A liberao do alevino no lugar definitivo merece cuidados especficos. Escolhe-se

    uma margem espraiada com profundidade mxima de 0,30m, estando a gua calma e sem

    ondas. Coloca-se o saco plstico a flutuar, ainda fechado, durante no mnimo 15 minutos,

    para equilibrar a temperatura interna e externa. Aps este tempo abre-se o saco e inicia-se a

    mistura das guas lentamente durante 05 minutos, at os peixes assimilarem as diferenas

    de qualidade da gua. Finalmente, os peixes devem ser retirados do saco com um pu e

    soltos. Recomenda-se no colocar a gua da embalagem no aude para evitar contamina-

    o de doenas e parasitas.

    Nesta fase, o alevino tem uma taxa de crescimento muito grande compensando o

    investimento em arraoamento nos 90 primeiros dias. A rao com alto teor de protena (>

    30%) deve ser em forma de p e flutuar sobre a gua. Deve ser dada quatro vezes ao dia na

    proporo de 6% do peso corporal respeitando o mesmo local e horrio.

  • 37

    7 Despesca/Armazenamento:

    A retirada do peixe normalmente feita com o esvaziamento total do aude. Em al-

    guns casos, usa-se baixar o nvel e passar redes de arrasto. Este processo o mais acon-

    selhvel pois evita o estresse excessivo dos animais e o aspecto final da carne melhor e o

    tempo de preservao aps a despesca ampliado.

    No caso de esvaziamento do aude importante uma sistemtica de ir retirando os

    peixes medida que desce o nvel, pois se esperarmos o final haver muito lodo no fundo do

    tanque dificultando a captura e matando o pescado por asfixia no barro diminuindo o tempo

    de conservao.

    Quando o aude estiver com pouca gua, o melhor mtodo de capturar os pescados,

    no porte de 1,5 a 5kg, o pu com cabo que, munido de uma rede de pesca, imobiliza o

    peixe sem a necessidade de agarra-lo com a mo. Quando o piscicultor preciona um peixe

    na despesca provoca manchas de sangue no corpo e arranca escamas depreciando o pro-

    duto para o mercado.

    As redes de arrasto ideais so as utilizadas na pesca martima pois os animais cria-

    dos rasgam redes normais de pesca de rios. As fibras sintticas empregadas podem ser de

    poliamida (nylon), polipropileno (palhinha), polietileno (nylon azul) e poliester. Os fios se clas-

    sificam em monofilamentados que so fios nicos que vo do dimetro de 0,25 a 1,00mm, e

    multifilamentados que so fios torcidos ou tranados por um conjunto de fibras. Utiliza-se

    redes no formato de saco sem fundo em que os peixes no ficam enroscados nas malhas

    somente so conduzidos at o saco central e facilmente os retira da gua. O comprimento

    da rede de arrasto deve ser no mnimo 50% superior largura do tanque para esta formar

    um saco evitando o salto dos peixes sobre ela . Os peixes no devem se emaranhar na ma-

    lha pois causam arrancamento de escamas.

  • 38

    A horrio recomendado para realizao de despescas no inicio da manh, devido

    as temperaturas mais amenas, o que evita o estresse do animal e melhora a conservao

    da carne.

    O melhor mtodo de abate dos peixes por hipotermia. Logo aps a retirada dos a-

    nimais da rede estes devem ser colocados em gelo ou gua gelada para diminuir o metabo-

    lismo e morrer com menor estresse.

    O processamento do pescado deve ser imediato pois a degradao da carne muito

    rpida. Quando se quer guardar peixe bruto recomendvel eviscerar o animal e congela-lo

    com escamas, pois protegem a carne dando mais durabilidade ao pescado. Utiliza-se lavar

    os animais com esponja plstica e gua salgada para retirada do muco externo.

    O peixe deve estar totalmente congelado no mximo 12 horas aps colocado no free-

    zer. Para isso deve-se calcular a capacidade dos equipamentos e utilizar grades dentro do

    sistema para circulao do ar frio e congelamento homogneo. No caso de no existirem

    grades sugere-se como paliativo o giro dos peixes dentro do freezer para que os do centro

    entrem em contato com a parede mais fria.

    Como regra sanitria para transporte de pescado necessrio que este esteja em

    caixas plsticas e coberto com 30% do volume com gelo em escamas.

  • 39

    8 Questo do mercado de peixe cultivado.

    O mercado do peixe cultivado estruturou-se na diversas regies do RS atravs de uma

    seqncia comum. Descreveremos estas etapas em quatro fases de organizao da co-

    mercializao, buscando sintetizar os principais fatos :

    Em uma primeira fase normal que uma regio ou municpio inicie a criao de peixes

    cultivado atravs de polticas pblicas de construo de audes, obtendo uma produo

    pequena nos primeiros anos. Normalmente o comrcio direto entre produtor e consu-

    midor na propriedade rural. A venda de peixe para vizinhos da comunidade corriqueira.

    Nesta fase um fator importante o autoconsumo familiar. Observaes de campo de-

    monstram que as famlias que no possuam aude em suas propriedades consumiam

    em mdia uma vez por ms peixe em sua alimentao, com a criao estas passam a

    ter peixe a mesa de duas a trs vezes por semana. Estima-se que o consumo de peixe

    per capita por ano dos piscicultores seja de 50kg, comparvel aos pases mediterrneos.

    Para a populao gacha que consome menos que um quilograma per capita ano de

    peixe estes dados so importantes, do ponto de vista de diversificao protica e de se-

    gurana alimentar.

    Quando a produo aumenta seja pelo maior nmero de agricultores ou maior nmero

    de audes surge uma segunda fase. Muitos municpios organizam feiras de produtores,

    normalmente na sede do municpio ou comunidade e aproveitam o apelo da Semana

    Santa. Na semana santa existia nas cidades do interior uma oferta de peixes congelados

    oriundos do mar com preo muito alto e qualidade ruim, a feira de peixe cultivado ocupou

    este espao oferecendo como vantagem ao consumidor a compra um peixe fresco e por

    vezes vivo. A mstica da semana santa um fator fundamental na comercializao de

    peixe, os preos, na quinzena que antecede a sexta feira santa, duplicam e por vezes tri-

    plicam exigindo que esta data seja obrigatoriamente lembrada na formulao de um es-

    tratgia de comercializao. Alguns agricultores seguiram uma estratgia alternativas as

    feiras criando as festas da despesca. Nos finais de semana que antecedem a sexta feira

    10

  • 40

    santa existe a abertura de audes de mdio porte com uma divulgao para que as pes-

    soas da cidade se desloquem a propriedade e peguem seu peixe diretamente no aude.

    Esta festa da despesca um atrativo interessante e proporciona integrao com o espa-

    o rural.

    A industrializao do peixe cultivado em fil congelado, polpa de peixe, entre outros pro-

    dutos considerada uma terceira fase de comercializao. Para os agricultores pode-

    rem vender fil de peixe em todo RS necessrio uma agroindstria chamada entrepos-

    to de pescado. O entreposto uma unidade industrial que tem a funo de processar o

    pescado dando condies sanitrias de comercializao em grandes redes atingido os

    plos populacionais. No RS no ano de 2000 houve reviso das normas agroindustriais

    viabilizando-se plantas de entreposto adaptveis a realidade das associaes dos agri-

    cultores familiares. Esta fase ainda no uma realidade na cadeia do peixe cultivado do

    RS pois poucas regies do estado possuem produo concentrada e sem mercado defi-

    nido para implantao de agroindstrias .

    Existe um acessrio na cadeia do peixe cultivado chamado pesque-pague, que cresceu

    nos ltimos anos, caracterizando uma quarta fase na organizao do comrcio. O sis-

    tema pesque-pague um negcio que aproveita o apelo da pesca esportiva para o co-

    mrcio de alimentao, acessrios esportivos e pescarias. Para fornecer peixe a este

    comerciantes dos pesque-pague surgiu a figura do transportador de peixe, que um in-

    termedirio que compra o peixe do agricultor e vende ao pesque-pague. Normalmente o

    agricultor com volumes maiores de peixe utiliza o transportador para escoar sua produ-

    o com ganhos menores que na fase anterior. O pesque-pague exige um alto investi-

    mento inicial sendo invariavelmente excludente para os agricultores familiares.

    Estas quatro fases caracterizam bem a seqncia lgica na estruturao da comer-

    cializao do peixe cultivado e tem sido uma constantes nas regies produtoras. Atualmente

    a grande maioria dos municpios do estado esto na segunda fase, estruturando suas feiras

    municipais e abastecendo o mercado local. O pesque-pague tem uma abrangncia pequena

    e a agroindstria familiar inicia uma estruturao na lgica de processamento da produo

    de pequenos grupos de piscicultores, que alm de industrializar realizam tambm a comer-

    cializao direta dos produtos.

  • 41

    9 Doenas

    Os peixes criados em tanques e viveiros, principalmente quando se trata de piscicul-

    tura intensiva, sempre esto sujeitos ao ataque de doenas, embora no Brasil, devido s

    caractersticas de clima e das espcies cultivadas, a ocorrncia de enfermidades seja bem

    menor que em outros pases do mundo.

    Quando a produo de uma piscicultura pequena, a freqncia e a importncia de

    algumas doenas so limitadas e praticamente no so notadas. Com o aumento de produ-

    o e, principalmente, o aumento da densidade, as enfermidades comeam a colocar em

    risco toda a produo de determinados peixes.

    Citar-se-o as principais doenas e parasitas registradas ultimamente em nosso

    meio.

    9.1 Lernia

    A Lernia (Lernaea cyprinacea) um ectoparasita ou parasita externo de peixes que,

    fixando-se na musculatura causa leses, pontos hemorrgicos e necrose na pele, favore-

    cendo o aparecimento de infeces secundrias. Apenas a fema adulta de Lernia parasi-

    ta, sendo facilmente visvel a olho n . Tem o corpo alongado, possuindo na extremidade

    anterior, uma ncora de fixao e um saco ovgero na extremidade oposta. Nesta fase de

    vida hematfoga, produzindo anemia no peixe hospedeiro. Causa mortalidade intensa em

    alevinos e reduo da taxa de crescimento e reproduo em peixes adultos.

    Deve-se tomar um cuidado especial na aquisio de matrizes e alevinos que nor-

    malmente so a porta de entrada da infestao na criao. O alevino deve ser adquirido de

  • 42

    fornecedores idneos, onde se tenha garantia de que o problema no exista. Em caso de

    dvida , antes de colocar o alevino no aude definitivo recomenda-se quarentena em grandes

    caixas de gua com boa oxigenao.

    Em situaes de grandes infestaes, quando o parasitismo muito intenso, os pei-

    xes deixam de se alimentar e de ganhar peso. No caso recomenda-se a despesca total dos

    peixes. A carne pode ser usada no consumo humano, pois a leso externa . a comerciali-

    zao fica prejudicada pois o pescado no tem boa apresentao.

    Aps a despesca , esgotar completamente o aude fazendo a raspagem do lodo do

    fundo. Colocar este material no solo fora do aude e deixar secar ao sol. A gua deve ser

    colocada no solo tambm para ser absorvida evitando a infestaes de fontes naturais. Aps

    ,espalhar no leito do aude e nas paredes laterais cal vigem na dosagem de 2000 quilo-

    gramas por hectare. Deixar o aude sem gua , curando ao sol, por 40 dias. Aps esta pr-

    tica o tanque pode novamente receber gua e os novos alevinos para reiniciar a criao.

    A existncia de um tratamento curativo da Lernia ainda desconhecido. Muitas tenta-

    tivas esto em curso mas nenhuma delas validade pela pesquisa oficial.

    9.2 Hidropisia infecciosa

    Alguns autores consideram a causa primria da doena a bactria Aeroma punctata,

    e outros, um vrus. Admite-se que ocorra uma infeco viral primria acompanhada de ao

    bacteriana.

    Dentre as poucas doenas que atacam as carpas no Brasil, a hidropisia a mais

    temida. Os primeiros sintomas se manifestam na primavera (gua esquentando) e diminuem

    no vero (temperatura da gua estvel).

    A forma da hidropisia j identificada em carpas a forma intestinal tambm conheci-

    da como ascite. caracterizada por uma infeco da cavidade abdominal, devido ao acmu-

    lo de lquido. identificada com facilidade, uma vez que o ventre do peixe fica bem abaulado

    e deformado.

  • 43

    As medidas profilticas do bom resultado uma vez que esta doena causada por

    vrus e bactria. A adubao correta do tanque, especialmente no inverno, uma boa prtica.

    Em tanque em que ocorreu a doena, quando vazio, fazer a aplicao da cal virgem

    na base de 300 a 400g/m2 e exposio do fundo ao sol durante uma semana.

    9.3 Ictioftirase

    mais conhecido como ictio ou doena dos pontos brancos. O agente causal o

    Ichtyophthirius multifillis que parasita a pele e as brnquias.

    O parasito na forma jovem encontra o peixe fixando-se entre a derme e epiderme.

    Levanta as clulas epidrmicas e cresce rapidamente at o tamanho de 1mm, quando se

    torna visvel a olho nu. Quando adulto, o parasito abandona o hospedeiro caindo no fundo do

    tanque e enquista para multiplicar-se por diviso celular e liberar, posteriormente, os esporos

    e parasitos jovens que saem em busca de novos hospedeiros (formas livres).

    Em criaes intensivas, o ictio ataca principalmente larvas e alevinos.

    Os sintomas da doena so notados com facilidade. Sobre o corpo e as nadadeiras

    das larvas e alevinos aparecem pequenos pontos brancos de cerca de 1mm. Estes pontos

    tornam-se placas quando as infestaes so muito intensas.

    O tratamento pode ser feito de vrias maneiras mas restringe-se ao estado livre do

    parasito (pois enquistado ou fixo no peixe incuo). base de banhos semanais viveis

    apenas em alevinos restritos a pequenos tanques.

  • 44

    10 BIBLIOGRAFIA

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  • 46

    11. Glossrio

    Anlise planialtimtrica Anlise de um terreno a partir de um mapa de curvas de nvel.

    Arraoamento Ato de dar rao aos peixes.

    Biometria Ato de pesar e medir em determinados momentos os peixes para

    avaliao de seu desenvolvimento.

    Despesca Retirada dos peixes adultos aps o ciclo de criao.

    Hipofisao Ato de aplicar hormnio as matrizes de peixes no intuito de reali-

    zar a maturao dos folculos reprodutivos.

    Oprculo Osso que cobre as guelras dos peixes.

    Peixe planctofago Animal que se alimenta de plancton.

    Taipa de terra Barreira fsica para conter a gua do aude

    Talude Inclinao da parte superior da taipa at seu p.

    Turbidez Caracterstica fsica da gua que mede sua transparncia.