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BOLETIM DO LEITE Uma publicação do CEPEA - ESALQ/USP Ano 26 nº 306 | DEZEMBRO - 2020 Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP DEZEMBRO 2020

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BOLETIM DO

LEITEUma publicação do CEPEA - ESALQ/USPAno 26 nº 306 | DEZEMBRO - 2020Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USP DEZEMBRO

2020

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BOLETIM DO LEITE | DEZEMBRO DE 2020 - ANO 26 - Nº 306

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

O ano de 2020 foi marcado por adversidades. Do lado da demanda, a pandemia de coronavírus resultou em mudanças bruscas no comportamento do con-

sumidor. Do lado da oferta, o clima prejudicou a atividade, devido às irregularidades das chuvas e às secas extremas, especialmente no Sul do País. Esses dois fatores, combinados, proporcionaram um ano de desequilíbrios entre a oferta e a demanda e de elevação substancial dos preços no campo. De acordo com pesquisas do Cepea, de janeiro a novembro, o preço do leite (“Média Brasil” líquida) acumu-lou forte alta de 47,7%, influenciado principalmente pe-las consecutivas elevações entre junho e outubro. O preço de outubroatingiu o recorde real da série histórica do Ce-pea, de R$ 2,1586/litro. Na média de 2020, o preço foi de R$ 1,7135/litro, 16,4% acima da registrada em 2019, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA). Os dados de dezembro (captação de novembro) serão divulgados no final deste mês, mas pesquisas preliminares do Cepea apontam para uma atípica alta de preços, já que a oferta não se elevou de forma substancial e a competição entre indústrias seguiu acirrada para a compra de matéria-prima. O isolamento social por conta da covid-19 ini-ciado no encerramento de março acabou interrompen-do parte dos serviços de alimentação, importante canal de distribuição de lácteos, gerando grandes incertezas no setor. Como consequência, as indústrias diminuíram a compra de leite e orientaram produtores a “segurarem” a produção em abril. Os preços do leite captado naque-le mês registraram queda pontual e isso teve efeitos sobre a produção, que permaneceu enxuta nos meses poste-riores – também influenciada negativamente pelo clima. No entanto, o consumo foi sustentado pelo auxí-lio emergencial. As vendas de lácteos passaram a registrar desempenhos positivos a partir de maio e os estoques de lácteos como o leite UHT, muçarela e leite em pó perma-neceram em volumes baixos. Isso manteve os preços dos lácteos em constante elevação, atingindo recordes sub-sequentes, até o maior patamar verificado, em setembro. Com isso, as cotações no campo se mantiveram

valorizadas e estimularam o aumento da produção, mas isso aconteceu de forma lenta. Assim, a competição entre indústrias para a compra de leite no campo continuou acir-rada, contexto que resultou em aumento das importações depois de julho. As importações significaram um aumento na disponibilidade de lácteos, sobretudo de leite em pó, o principal produto da pauta, e possibilitaram menor pres-são na concorrência entre as indústrias de laticínios para compra de matéria-prima. Contudo, as exportações tam-bém se elevaram em 2020, impulsionadas pelo dólar va-lorizado (ver seção Mercado Internacional, na página 6). Até agosto, as indústrias de laticínios não tiveram grandes dificuldades em repassar a alta da matéria-prima ao consumidor devido à demanda firme e aos estoques limitados de lácteos. Entretanto, isso foi se tornando mais difícil depois de setembro, à medida que os preços dos lácteos atingiram patamares recordes. A diminuição do auxílio emergencial, o aumento do desemprego e os elevados preços na pratelei-ra para o consumidor – não só de lácteos, mas também de outros produtos – enfraqueceram a demanda por derivados. A pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos foi mais intensa, o que motivou a queda nos preços ao pro-dutor em novembro (que se refere à captação de outubro). No entanto, esse movimento de desvalorização do leite no campo se deu ao mesmo tempo em que se intensifi-cou a alta nas cotações de grãos (ver seção Custos, na página 7). Além disso, a irregularidade de chuvas no final do ano, atribuída a La Niña, afetou tanto a produção dos grãos quan-to a disponibilidade de pastagens e deve segurar a oferta de leite neste final de ano. Vale lembrar, também, que a valori-zação da arroba em 2020 estimula produtores a descartar matrizes leiteiras. Por um lado, esse fato proporciona uma maior especialização do rebanho e contenção de custos ao produtor. Por outro, configura uma perda de ativos produtivos que, somada a falta de investimento na atividade, torna-se um elemento que diminui a capacidade de retomada da pro-dução, principalmente em bacias leiteiras menos tecnificadas.

RETROSPECTIVA LEITE: 2020, ano de preços recordes no campo

Equipe Leite: Natália Salaro Grigol, Juliana Cristina dos Santos, Rodolfo Jordão, Munira Nasrrallah, Beatriz Pina Batista e Débora Zanatta.

Equipe Grãos: Lucilio Alves - Pesquisador Projeto GrãosEquipe de Apoio | André Sanches, Débora Kelen Pereira da Silva, Carolina Sales, Natália Correr Ré, Thaís Bragion Bertoloti, Kaline Lacerda, Natália Guimarães Ribeiro e Maria Clara de Faveri.Editora Executiva e Pesquisadora: Natália Salaro Grigol

EXPEDIENTEEditor Científico: Prof. Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros

Jornalista Responsável: Alessandra da Paz - Mtb: 49.148

Revisão:Bruna Sampaio - Mtb: 79.466Flávia Gutierrez - Mtb: 53.681Nádia Zanirato - Mtb: 81.086

Contato:(19) 3429-8834 | [email protected]

Endereço para correspondência:Av. Centenário, 1080 | Cep: 13416-000 | Piracicaba/SP

O Boletim do Leite pertence ao CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - ESALQ/USPA reprodução de conteúdos publicados neste informativo é permitida desde que citados os nomes dos autores, a fonte Boletim do Leite/Cepea e a devida data de publicação.

LEIT

E AO

PRO

DUTO

R

Por Natália Grigol

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3CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

BOLETIM DO LEITE | DEZEMBRO DE 2020 - ANO 26 - Nº 306

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Tabela 1 - Índice de Captação do Leite do Cepea (ICAP-L)

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Gráfico 1 - Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquidos), em valores reais.

VARIAÇÃO MENSAL NA CAPTAÇÃO

out-19 0,55%

nov-19 2,25%

dez-19 -1,12%

jan-20 -3,70%

fev-20 -4,35%

mar-20 -4,35%

abr-20 -0,61%

mai-20 -0,23%

jun-20 4,55%

jul-20 5,94%

ago-20 3,88%

set-20 3,08%

out-20 -0,58%

Acumulado 4,73%

2017

2018

2019

Nov/20R$ 2,0434

0,90

1,10

1,30

1,50

1,70

1,90

2,10

2,30

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

R$/L

itro

MÉDIA BRASIL PONDERADA LÍQUIDA (BA, GO, MG, SP, PR, SC, RS)VALORES REAIS - R$/LITRO (Deflacionados pelo último IPCA disponível)

2016 2017 2018 2019 2020

2016

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BOLETIM DO LEITE | DEZEMBRO DE 2020 - ANO 26 - Nº 306

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

LEITE AO PRO

DUTOR

Tabela 2 - Preços recebidos pelos produtores (líquido) em NOVEMBRO/20 referentes ao leite entregue em OUTUBRO/20 - valores nominais

Tabela 3 - Preços em estados que não estão incluídos na “média Brasil” – RJ, MS, ES, CE e PE - valores nominais

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Mesorregião"Preço líquido médio do

menor estrato de produção (< 200 l/dia)"

Preço líquido médio"Preço líquido médio do maior

estrato de produção (> 2000 l/dia)"

Variação mensal do preço líquido médio

RS Média Rio Grande do Sul 1,8158 1,9947 2,1871 -4,14%

SC Média Santa Catarina 1,8961 2,0309 2,1699 -4,54%

PRCentro Oriental Paranaense 1,5648 1,8953 1,9376 -4,93%

Oeste Paranaense 1,8833 2,0922 2,1946 -6,15%

Média Paraná 1,7941 2,0171 2,1323 -6,11%

SPSão José do Rio Preto 1,8017 2,0418 2,2766 -6,52%

Campinas 1,6388 1,9394 2,0266 -7,95%

Média São Paulo 1,8101 2,0157 2,1781 -4,34%

MG

Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba 1,8688 2,0778 2,1653 -5,20%

Sul/Sudoeste de Minas 1,8292 2,0530 2,1439 -5,91%

Vale do Rio Doce 1,8449 1,9515 2,1041 -2,87%

Metropolitana de Belo Horizonte 1,6899 1,9797 2,1276 -7,31%

Zona da Mata 1,8348 1,9921 2,2099 -5,85%

Média Minas Gerais 1,8223 2,0272 2,1348 -5,98%

GOSul Goiano 1,9267 2,1322 2,2339 -5,05%

Média Goiás 1,9865 2,1478 2,2200 -4,84%

BA Média Bahia 1,9489 2,1445 2,3668 1,15%

MÉDIA BRASIL 1,8529 2,0434 2,1526 -5,34%

DERI

VADO

S

Mesorregião"Preço líquido médio do menor

estrato de produção (< 200 l/dia)"

Preço líquido médio"Preço líquido médio do

maior estrato de produção (> 2000 l/dia)"

Variação mensal do preço líquido médio

RJ Média Rio de Janeiro 1,9172 2,1625 2,3799 -0,35%

ES Média Espírito Santo 1,8117 1,8844 * -4,93%

MS Média Mato Grosso do Sul 1,6460 1,7420 - -9,19%

CE Média Ceará * * * -

PE Média Pernambuco * * * -

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5CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

BOLETIM DO LEITE | DEZEMBRO DE 2020 - ANO 26 - Nº 306

LEITE AO PRO

DUTOR

Pesquisas realizadas pelo Cepea, com o apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), mos-tram que as médias de preços do leite longa vida (UHT),

do leite em pó (400g) e do queijo muçarela em 2020 (de ja-neiro até a primeira quinzena de dezembro) negociados entre indústrias e mercado atacadista do estado de São Paulo foram de R$ 3,06/litro, R$ 20,79/kg e R$ 23,53/kg, respectivamen-te, altas de 19,3%, 20,8% e 27,4% em relação às de 2019 (em temos reais, deflacionados pelo IPCA de novembro/20). Os preços elevados em 2020 são consequência da oferta res-trita de matéria-prima (devido especialmente ao clima des-favorável e aos custos de produção elevados) e da demanda firme (sustentada pelo programa de auxílio emergencial). No início da pandemia de covid-19, em março, o receio de um possível desabastecimento elevou com for-ça a demanda por produtos essenciais e estocáveis, como o leite UHT e o pó. No entanto, as vendas de queijos foram abaladas pela interrupção dos serviços de alimentação em abril e as empresas tiveram que, rapidamente, redirecionar suas vendas ao varejo, mirando o consumo doméstico, o que causou excesso da produção e queda de preços em abril. A estabilização do consumo se deu a partir de

maio, com o auxílio emergencial. Com estoques enxutos e demanda firme, os preços dos derivados subiram continu-amente até setembro, quando registraram recordes reais, de R$ 3,62/litro para o UHT, de R$ 24,95/kg para o leite em pó e de R$ 29,91/kg para a muçarela. De maio a setem-bro, houve alta acumulada de 22,58% para os preços do UHT, de 36,3% para o pó e de 62,17% para a muçarela. Contudo, entre outubro e novembro, a maior pressão dos canais de distribuição por preços mais atrativos e a deman-da fragilizada por conta da diminuição do poder de compra do consumidor resultaram em queda nos preços. Assim, de outubro para novembro, o leite longa vida, o leite em pó e o queijo muça-rela se desvalorizaram 2,82%, 4,16% e 6,30, respectivamente. DEZEMBRO – Mesmo com a demanda por produtos lác-teos enfraquecida, os estoques limitados e a maior competição das indústrias para a compra de leite no campo podem elevar as cotações em dezembro. Segundo pesquisas do Cepea, as médias mensais parciais (até o dia 16) do leite UHT e do queijo muçarela foram de R$ 3,29/litro e R$ 26,46/kg, na sequência, sinalizando altas de 5,5% e de 3,1% frente a novembro. Já a média do leite em pó ainda registra queda, de 3,5%, chegando a R$ 22,68/kg.

Derivados lácteos atingem valores recordes em 2020

DERI

VADO

S

Por Débora Zanatta e Beatriz Pina

Fonte: Cepea-Esalq/USP e OCB.Nota: Médias mensais obtidas de cotações diárias.

Tabela 1 - Variações em termos reais (deflacionados pelo IPCA de novembro/2020) Cotação diária - atacado do estado de São Paulo

Média de preço em NOVEMBRO/20

Variação real (%) em relação a NOVEMBRO/19

Variação real (%) em relação a OUTUBRO/20

Leite UHT R$ 3,1205/litro 25,47% -2,82%

Queijo Muçarela R$ 25,6649/kg 36,23% -6,30%

Leite em pó R$ 23,5029 /kg 37,12% -4,16%

Fonte: Cepea-Esalq/USP. Nota: Valores reais, deflacionados pelo IPCA de novembro/2020.

Tabela 2 - Preços médios (R$/litro ou R$/kg) praticados no mercado atacadista e as variações no mês de novembro em relação a outubro de 2020

ProdutoGO MG PR RS SP Média Brasil

out nov % out nov % out nov % out nov % out nov % out nov %

Leite pasteurizado 3,23 3,04 -5,98% 2,86 2,84 -0,66% 2,70 2,67 -1,07% - - - 2,86 2,91 1,65% 2,74 2,70 -1,55%

Leite UHT 3,22 3,30 2,38% 3,31 3,07 -7,36% 3,29 3,43 4,20% 3,46 3,46 -0,02% 3,12 3,23 3,44% 3,28 3,30 0,47%

Queijo prato 30,24 30,12 -0,39% 29,41 29,50 0,28% 27,92 27,82 -0,39% 28,20 28,35 0,55% 28,45 28,40 -0,17% 28,84 28,84 -0,03%

Leite em pó int. (400 g)

21,41 21,23 -0,88% 23,00 22,80 -0,88% 23,08 23,35 1,17% 23,92 23,38 -2,26% 24,14 23,47 -2,80% 23,11 22,84 -1,16%

Manteiga (200 g) 30,96 31,45 1,58% 28,05 28,03 -0,07% 27,62 27,14 -1,73% 30,76 31,28 1,67% 28,30 27,85 -1,62% 29,14 29,15 0,03%

Queijo muçarela 27,76 26,32 -5,21% 29,02 27,91 -3,81% 25,54 25,67 0,48% 27,13 26,35 -2,88% 26,92 25,84 -4,01% 27,27 26,42 -3,15%

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BOLETIM DO LEITE | DEZEMBRO DE 2020 - ANO 26 - Nº 306

CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

MERCADO

INTERN

ACION

AL

Com oferta limitada e dólar elevado, importações voltam a crescer

Por Munira Nasrrallah e Juliana Santos

As importações de derivados lácteos voltaram a reagir em novembro, somando 23 mil tone-ladas, altas de 3,2% frente ao mês anterior e

de expressivos 105% em relação a novembro/19, segundo dados da Secex. Apesar do alto patamar do dólar no mês, de R$ 5,42, a moeda norte-ameri-cana ainda esteve 4% inferior à média de outubro, atraindo importadores brasileiros a realizarem novos negócios. Além disso, o cenário doméstico de ofer-ta de leite limitada e de demanda aquecida tam-bém influenciou as compras externas em novembro. Dados da Secex apontam que o volume de leite em pó, que representou 74,1% do total impor-tado no mês, aumentou 3,6% frente a outubro/20 e expressivos 166% em relação a novembro/19, to-talizando 17 mil toneladas. Ressalta-se que, em no-vembro/19, apenas 6,4 mil toneladas do derivado foram importadas. A Argentina e o Uruguai foram fornecedores de 97% do total adquirido pelo Brasil. Já as exportações caíram 17,4% de outubro para novembro, somando 2,9 mil toneladas de produ-tos lácteos. Os embarques de leite condensado dimi-nuíram 49% em relação aos do mês anterior, somando 776 toneladas. De outubro para novembro, o Chile reduziu em 64% as compras do derivado brasileiro. Com isso, a balança comercial registrou défi-cit de US$ 63,4 milhões em novembro, aumento de 6,3% frente ao de outubro/20 e expressiva alta de 102% em relação ao de novembro/19. Em volume, o déficit cresceu 7,2%, totalizando 20,1 mil toneladas. No balanço de 2020 (de janeiro a novembro), o volume importado de lácteos subiu 15% frente ao mesmo período do ano anterior, somando 151,7 mil toneladas, contra 132,1 mil t em 2019. As exporta-ções também alavancaram em 2020, registrando ele-vação de 32% em comparação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 29,8 mil toneladas, contra 22,5 mil toneladas embarcadas em 2019.

Gráfico 1 - Exportações e importações de lácteos (US$)

Tabela 1 - Volume importado de lácteos¹ - NOVEMBRO/20

Produto VOLUME

(tonelada)NOVEBRO/20 - OUTUBRO/20

Participação no total importado

em NOV/20

NOV/20 – NOV/19

Total 23.054 3,2% - 105,3%

Leite em pó (integral e desnatado)

17.094 3,8% 74,1% 166,3%

Queijos 3.139 -17,0% 13,6% 20,8%

Soro de leite 2.460 37,5% 10,7% 50,0%

Manteiga 210 181,5% 0,9% 74,2%

Tabela 2 - Volume exportado de lácteos¹ - NOVEMBRO/20

Produto VOLUME

(tonelada)NOVEMBRO/20 – OUTUBRO/20

Participação no total exportado

em NOV/20

NOV/20 – NOV/19

Total 2.954 -17,4% - 34,3%

Leite condensado 776 -49,0% 26,3% -15,7%

Creme de leite 753 75,6% 25,5% 23,1%

Queijos 352 13,0% 11,9% 42,7%

Leite fluido 373 104,4% 12,6% 175,8%

Leite em pó (integral e desnatado)

54 -0,7% 1,8% 360,1%

Notas: (1). Consideram-se os produtos do Capítulo 4 da NCM mais leite modificado e doce de leite. Fonte: Comex / Elaboração: Cepea.

Elaboração: Cepea-Esalq/USP.

CUST

OS

DE P

RODU

ÇÃO

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7CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ/USP

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MERCADO

INTERN

ACION

AL CUST

OS

DE P

RODU

ÇÃO

Valorização do concentrado em 2020 supera os 40%Por Rodolfo Jordão

O COE (Custo Operacional Efetivo) da pecu-ária leiteira subiu 5,39% em novembro na “média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e

SP). Com isso, o avanço nos custos no acumula-do de 2020 (até novembro) foi de 21,86%. O in-sumo que mais tem influenciado a elevação dos custos leiteiros é o concentrado. Nos 11 primeiros meses de 2020, este insumo registra expressiva va-lorização de 40,84%, também na “média Brasil”. Em novembro, especificamente, os preços dos alimentos concentrados aumentaram 8,88%, in-fluenciados pelos avanços nos valores da soja e do milho, matérias-primas para produção do insumo. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá (PR) da soja teve média de R$ 164,99 em novembro, sendo este recorde real da série do Cepea e com aumen-tos de 3,4% sobre outubro/20 e de expressivos 83,6%

em relação a novembro/19 (comparação em termos nominais). No caso do milho, o Indicador ESALQ/BM&-FBovespa (Campinas – SP) teve média de R$ 80,31 em novembro, aumento de 10,45% sobre o de outubro. Outro insumo que subiu com certa força em 2020 foi a suplementação mineral – em novembro, a elevação foi de 1,4% e no ano, de quase 12%, ambos na “média Brasil”. Dentre os estados acom-panhados, Goiás e São Paulo se destacam com as al-tas mais intensas nos preços da suplementação em novembro, de 7,04% e de 4,13%, respectivamente. Esse cenário atrelado à queda de 5,34% no preço do leite em novembro (média Brasil) resultaram em piora na relação de troca de produtores pelo se-gundo mês seguido. Em novembro, foram necessários 39,3 litros de leite para a compra de uma saca de mi-lho de 60 kg, contra 33,68 litros de leite em outubro.

Foto: Bento Viana/Senar.Foto: Bento Viana/Senar.

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MIL

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FAR

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SOJA

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MILHO: Com compradores ausentes, preços têm queda expressiva

A primeira quinzena de dezembro foi marcada pela baixa demanda de agentes por milho, tanto no merca-

do interno quanto para exportação, cenário que pressionou as cotações após os recor-des registrados em meses anteriores. No geral, a liquidez segue baixa, com agentes negociando apenas pequenas quantidades e postergando as aquisições para o pró-ximo ano, enquanto vendedores seguem atentos ao desenvolvimento das lavouras. Assim, na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, os valores ca-íram 7,6% no mercado de balcão (pago ao produtor) e 5,9% no de lotes (negociações entre empresas) na parcial de dezembro.

Quanto à região consumidora de Campi-nas (SP), referência para o Indicador ESALQ/BM&FBovespa, entre 30 de novembro e 15 de dezembro, o recuo foi de 5,7%, fechan-do a R$ 73,84/saca de 60 kg no dia 15. A redução na demanda por ex-portadores, por sua vez, foi influenciada pela desvalorização de 4,9% do dólar no acumulado de dezembro, fechando a R$ 5,089 no dia 15. Com isso, no porto de Pa-ranaguá (PR), a queda nos preços foi de 3,9% no mesmo comparativo, a R$ 69,42/saca de 60 kg, e de 1,3% em Santos (SP), a R$ 72,07/sc no dia 15.

FARELO DE SOJA: Demanda retraída pressiona cotações no BR

Por Carolina Camargo Nogueira Sales

MIL

HO E

FAR

ELO

DE

SOJA

Indicador - Campinas-SP, em R$/sc de 60 kg

Campinas - SP, em R$/tonelada

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Por Débora Kelen Pereira da Silva

janeiro 51,07

fevereiro 51,69

março 57,41

abril 52,92

maio 50,12

junho 47,76

julho 49,7

agosto 56,62

setembro 60,06

Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Após os preços de farelo de soja regis-trarem consecutivas altas no decorrer de 2020, chegando a recordes reais

em novembro, parte das indústrias elevou a importação da matéria-prima entre ou-tubro e novembro, abastecendo os consu-midores domésticos de farelo de soja para o restante do ano. Diante disso, a procura por este subproduto esteve baixa na pri-meira quinzena de dezembro no merca-do doméstico, pressionando as cotações. Na média das regiões acompanha-das pelo Cepea, os preços do farelo de soja caíram 4,3% entre novembro e a primeira quinzena de dezembro. Vale ressaltar, en-tretanto, que os atuais preços ainda estão significativos 94,6% superiores aos prati-

cados em dezembro de 2019. Na parcial deste ano, de janeiro a 15 de dezembro, os valores do farelo de soja estão 46,8% acima da média dos preços negociados em 2019. Indústrias brasileiras já começa-ram a encerrar o processamento deste ano. Uma parte das fábricas já está abastecida com soja para moagem no primeiro bimes-tre de 2021, e outra parcela tenta adquirir lotes para recebimento entre março e abril. A expectativa é de aumento de 2,8% na demanda doméstica por farelo de soja na temporada 2020/21, estimada pelo USDA em 18,5 milhões de toneladas, um recorde caso se confirme. Isso se deve às expectativas de crescimento nos setores de aves e suínos.

janeiro 1.346,85

fevereiro 1.360,06

março 1.539,37

abril 1.614,90

maio 1.684,58

junho 1.706,84

julho 1.752,20

agosto 1.885,29

setembro 2.053,72

outubro 72,71

novembro 80,31

1ª quinzena de dezembro

74,4

outubro 2.403,05

novembro 2.689,86

1ª quinzena de dezembro

2.658,04